Finalmente tomei vergonha na cara e fui ver "São Paulo em Hi-Fi", que já está em cartaz há três semanas depois de passar dois anos rodando por festivais. É um documentário sobre a noite gay paulistana do final dos anos 60 até o começo dos 90. Nos primórdios dessa época, as bichas eram invisíveis. Os bares que elas frequentavam eram escondidos, não apareciam em guias e recebiam visitas frequentes da polícia. O primeiro a ganhar a notoriedade foi o K-7, que durou pouco - mas seus donos então abriram a primeira grande boate gay da cidade, a Medieval, que estava mais para um cabaré do que para os caldeirões tribais de hoje em dia. O diretor Lufe Steffen faz um ótimo uso do pouco material de arquivo que conseguiu: recortes de jornal, shows gravados em VHS, filipetas. Mas o filme ganha vida nos depoimentos dos sobreviventes dessa era, com destaque para Elisa Mascaro - dona do Medieval e depois da Corintho - e Kaká di Polly, uma drag queridíssima. A partir de certo ponto, eu me lembro de todas as casas citadas: HS, Val Improviso, Off... A Caneca de Prata, reduto dos cacuras, está lá até hoje. Há um certo clima de que "antigamente era muito melhor", o que é normal: as coisas sempre pareciam melhores quando éramos jovens. Muitos se queixam da falta de glamour dos tempos que correm, mas os espetáculos resgatados no filme não são muito diferentes dos da Blue Space - e ainda mais pobrinhos. Achei curioso ver aquele monte de travestis se levando tão a sério e achando que estavam em Paris, enquanto que no Rio os Dzi Croquettes faziam algo muito mais transgressivo e libertador. Mas não vou diminuir a coragem desses pioneiros, que deram a cara a tapa num período muito mais opressor do que o atual. Além do mais porque esta foi a geração sofreu um "strike" da AIDS, o que faz o filme terminar meio para baixo. Mas se hoje temos camarotes e bibas ressentidas, é bom lembrar que houve um tempo em que a área VIP era o camburão da PM. Todos nós temos uma dívida com essa turma, e "São Paulo em Hi-Fi" é um filme obrigatório para quem se interessa pela cultura gay brasileira.
Hoje só vejo carne de pescoço. Tudo muito cafona, muito classe média. Sem graça e sem glamour. Não entendo a necessidade de frequentar redutos gays. A debandada das phynas foi em massa. Na Europa, clubes e bares gays estão todos desaparecendo.
ResponderExcluirAmém
ExcluirAcho que vc perdeu o bonde, bee.
Excluirhttps://s-media-cache-ak0.pinimg.com/236x/63/c1/b3/63c1b35e41db68cf06eef035c7ab5c27.jpg
Um amigo tem a teoria de que os clubes gays estão acabando pelo mundo todo, por que o flerte/paquera/pegação/romance estão sendo tratados agora pelos celulares.
ExcluirOu seja, com Tinder e Grindrs e afins não existe mais a necessidade de ir fisicamente a algum lugar para conhecer alguém.
O que você acha, Tony?
Esta teoria é triste, mas será que procede?
Rs. A pessoa vai no club gay e encontra uma réplica dela mesma. Mesma atitude, mesmo rosto, mesmo corpo, mesma tatuagem, mesma roupa...melhor usar grindr.
ExcluirAo anônimo das 22:09: acho que procede um pouco. Na Europa e nos EUA, a noite gay entrou em retração já na época de sites como o Manhunt, antes dos aplicativos.
ExcluirTambém existe um lance generacional: os mais novinhos não fazem tanta separação entre gay e hétero. Muitos transam com tudo e todos. Então, para quê boate separada?
Mas aqui no Brasil gostamos de festa. A noite mudou muioto, mas continua cheia.
Tony, até os novos são saudosistas de um tempo que eles não viveram.
ResponderExcluirO mio babbino caro
ResponderExcluirRetrato de um tempo de sonho, amor e conquistas. A AIDS, sim. Mas não fiquemos espertos.
... tudo muito americanizado... me lembrou um pouco as boites de Sydney... que são americanizadas também, mas qdo. 'dublam' os discos, pelo menos sabem o que estão 'dublando'...
Excluiracho tudo muito sem graça, muito colonizado, infelizmente...
talvez eu esteja numa fase meio 'amarga', mas nada daquilo conseguiu me 'mexer'... frio como uma lápide de mármore...
sorry, darling...
(A)
O Instagram é a nova área VIP. E muito mais adequado ao bolso delas.
ResponderExcluirPapagaios no Rio.
ResponderExcluirIncontru's
ExcluirO mio babbino caro
ResponderExcluirQuando vamos marcar aquele chá das cinco no Caneca de Prata?
Chegou a nossa vez!!!
O mio babbino caro
ExcluirO ladrão pegou um pedaço de giz e fez uma cruz na porta. Depois, foi-se em direção à floresta.
A esposa de Cássim tinha uma criada de rara beleza e esperteza, Morjana. A moça, ao sair da casa, notou o sinal e desconfiou de alguma tramóia:
— Que será isso? Que coisa mais estranha! Certamente querem prejudicar meu patrão!
Pegou, então, um pedaço de giz e marcou com o mesmo sinal três portas à direita e mais três à esquerda.
Os ladrões foram até à cidade e pararam diante de uma das portas que tinham a marca de giz feita por Morjana. O ladrão que tinha estado ali no dia anterior disse:
— É esta!
O chefe, porém, notou que havia outras seis casas cujas portas traziam o mesmo sinal e perguntou-lhe qual era, de fato, a porta que ele tinha marcado. Confuso, o homem não soube o que responder. Voltaram todos para a floresta, e o ladrão que falhara em sua missão foi executado pelos colegas.
Só quem viveu sabe o que foi ,mas hoje o olhar é diferente .
ResponderExcluirO mio babbino caro
ResponderExcluir"Esta é a vida e a peleja
Que bela ela
Quisera
Fosse o que se foi ou o que seja
Vida ingrata, tristeza"
Transgressivo e libertador. http://flesh-mag.com/
ResponderExcluirBacana, mas elas vão dizer que essas pessoas não tomam banho, não cortam o cabelo, são militantes LGBT e são comunistas petralhas.
ExcluirFazendo a spoiler de um doc que todas as bibas com menos de 50 já viram, Tonny? Tudo que é veado já viu "São Paulo em Hi-Fi", só a sra que veio saber disso agora, se atualiza... Como bem disse o tio Caetano na falida MTV: "vergonha na cara, bee!"
ResponderExcluirComo diria a Septa Unella: "Shame! Shame! Shame!"
ExcluirAfff Tony como vc é chato eheheh
ExcluirVc viu Ralé?
Não.
ExcluirAdoraria ver seu comentário. Achei meio assim muito Oficina, com Daime então, virou um porre.
ExcluirVi o trailer. Não me interessei...
ExcluirEu estou super curioso para ver, e tenho que fazê-lo logo, antes que saia de cartaz, mas, para mim, nenhum outro filme sobre a cena gay paulistana vai causar mais impacto em mim do que o "Meu Amigo Cláudia" causou. O filme é um documentário sobre a Cláudia Wonder, travesti, atriz, cantora, performer transgressora que ousou em suas apresentações no Madame Satã na década de 80 (eu daria tudo para ter tido a chance de ver ao vivo!). Sou fã desde que vi o filme (que está no Youtube).
ResponderExcluirEu curzei muito com a Cláudia em festas, e acho que a vi num show uma vez.
ExcluirEla aparece no filme. E surge muito mais moderna e selvagem do que suas colegas, que ainda estavam naquela de imitar Liza Minelli.
Cláudia Wonder, um ser de luz!
ExcluirSaudades do tempo que não precisava treinar (sic) em academia nem aparar pentelhos.
ResponderExcluirSaudades do tempo que não tinha que fazer branqueamento dos dentes nem misturar whisky com energético.
ExcluirNem fazer anal bleaching ou cheirar muito para ser um passivo poderoso.
ExcluirNinguém é obrigado a fazer nada disso. O que parece é que vocês querem ser aceitos por determinados grupos sem ter que se submeter às convenções deles. Aí fica difícil. Não quer malhar, mas quer ser desejado e cortejado por um cara em forma. Como não rola, fica de mimimi e desfaz do sarado. O velho e eterno ressentimento de quem é rejeitado.
ExcluirNão fazer nada para ser aceito não é um problema. Mas sim o que vc faz pra não ser rejeitado. As pessoas entraram na onda de que estão rodeadas de inimigas recalcadas. Aliás, hoje, a crítica a sociedade parece ser sempre obra de ressentidos segundo os criticados. Pela sua teoria, Marx e Nietzsche seriam exemplos de pessoas mega-recalcadas.
ExcluirO problema é achar que todo mundo tem obrigação de te aceitar.
ExcluirNa real, quem se queixa de camarote? Quem não tá lá.
Ok, camarote é elitismo, é deslumbramento, é brochante. Mas se é isso tudo de ruim, por que vocês se importam? Deveriam ficar felizes de serem privados da convivência com os camaroteiros!
Mas não, passam a vida reclamando. Não tem como não pensar que na verdade vocês queriam é estar lá no camarote também.
Vocês não. Existe um anônimo que passa a vida reclamando de AA e camarotes porque jura que essas coisas têm alguma relevância. Sugiro a ele procurar diversão de verdade e parar de promover o que não vale a pena.
ExcluirNem ter que usar roupas da BCNU, AussieBum, ES Collection ou qualquer outro carimbo gay no seu corpo pra ser chamado de...AA
ResponderExcluir"Mas se hoje temos camarotes e bibas ressentidas, é bom lembrar que houve um tempo em que a área VIP era o camburão da PM." Tony te adoro kkkkkkkk
ResponderExcluirPois é Queiram ou não Queiram viveram suas "senzalas" e como todo camburão tem um pouco de navio negreiro...'Todos nós temos uma dívida com essa turma', a questão é de como é paga.
ExcluirA gente paga com a total rejeição, preconceito e esquecimento de quem ainda trabalha para fazer a noite gay algo vivo e divertido. Eu ando nas grandes boates e o que vejo são mortos vivos idênticos ao do seriado Walking Dead.
ExcluirExiste muita vida e diversão fora das grandes boates.
ExcluirSaudade das "ohanas"... Ninguém se depilava...
ResponderExcluirTony, apenas uma correção: A dona do Medieval chama-se Elisa Mascaro (não Luísa).
ResponderExcluirAbraços
Obrigado, já corrigi.
ExcluirAcho que vi este documentário na TV BRASIL já tem algum tempo.
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