O musical "Cinderella" tem um problema de origem: as canções do desenho da Disney. Claro que as músicas de Rodgers & Hammerstein são boas (afinal, os caras também compuseram "A Noviça Rebelde"). Mas não conseguem competir com pérolas como "Bibidi-Bóbidi-Bu", pirogravadas em noss'alma desde a mais tenra idade. Dito isto, a montagem que está em cartaz em SP é realmente espetacular. Com os mesmos efeitos especiais que assombraram a Broadway, como o vestido de trapos que se transforma num modelito de luxo diante dos olhos da plateia. Mas para mim o melhor de tudo foi uma atriz que eu ainda não conhecia: Giulia Nadruz, que faz uma das irmãs malvadas. A moça combina voz, beleza, timing cômico e star quality, e só posso apostar que ela ainda irá muito longe. Nem o libreto que anda em círculos conseguiu atrapalhá-la. Nessa versão para o teatro, Cinderela NÃO perde o sapatinho no baile do príncipe, que depois se vê obrigado a oferecer um banquete para rever a amada - e dá-lhe fada madrinha intervindo de novo, num recurso gratuito que só serve para garantir um segundo ato. E fazer com que as criancinhas presentes tombassem de sono, coitadinhas.
sábado, 30 de abril de 2016
sexta-feira, 29 de abril de 2016
MARISA AOS MONTES
Em quase 30 anos de carreira, Marisa Monte lançou apenas sete discos solo completos (dois deles ao mesmo tempo, em 2006), além de alguns outros ao vivo e da parceria com os Tribalistas. Uma das maiores cantoras da MPB, ela se faz rara, e cada produto novo vira um acontecimento. É o caso de "Coleção", sua 1a. coletânea, que no entanto não é um "greatest hits". Na verdade, é o proverbial compilado que ela ainda devia à gravadora para encerrar o contrato. Mas, ao invés de juntar sucessos óbvios, Marisa preferiu reunir faixas que saíram avulsas por aí, em discos de outros artistas ou em projetos tipo "Red Hot". Eu já conhecia muitas, mas também descobri raridades de cuja existência nem desconfiava. Só que mesmo esse montinho de inéditas (para mim) ainda é pouco. Marisa continua devendo mais.
INDECISÃO SUPREMA
Até entendo que o STF hesite em cassar Eduardo Cunha de uma vez por todas. Seria a intervenção de um poder sobre o outro, o que abalaria as nossas já frágeis instituições. Mas acho que s ficha dos magistrados está começando a cair: manter Cunha incólume é uma ameaça ainda maior à ordem democrática. O atual presidente da Câmara é um bandido notório. Só o episódio da advogada Beatriz Catta Preta, que, assustada com ameaças, fechou seu escritório e se mandou do país, já bastaria para ele ser defenestrado num país decente. E o futuro presidente Temer precisa entender que Cunha é uma chaga em seu governo. Se ele pretende um mínimo de credibilidade, precisa se livrar do aliado. Mas o Supremo parece mais interessado em votar se o espectador pode entrar num cinema trazendo pipoca de fora. E não percebe que cada dia a mais de demora para julgar o processo de Eduardo Cunha é um dia para trás no calendário.
quinta-feira, 28 de abril de 2016
QUANTOS ANTONIOS?
E também Aantonio, Antonhio, Antoniho e outras variantes que só podem ser sacanagem. Estão todas no site Nomes no Brasil do IBGE, que desde ontem se tornou modinha nas redes sociais. O meu nome, por exemplo, teve o auge de sua popularidade nos anos 1960, justamente a época em que eu nasci, quando ele batizou mais de meio milhão de meninos. Hoje este número é cinco vezes menor, mas ainda tá assim de Antonio por aí. É curioso ver a evolução de nomes que não eram comuns algum tempo atrás, como Thiago ou Jéssica, ou constatar o quase desaparecimento de outros, como Neusa ou Evaristo. Também dá para saber o estado onde o nome é mais popular, às vezes com algumas surpresas. Antonio, por exemplo, é mais comum no Ceará - e não é que meu pai era cearense?
quarta-feira, 27 de abril de 2016
MERYL VS. DUSTIN
Por incrível que pareça, houve um tempo em que Meryl Streep não tinha nenhum Oscar. Isto faz quase 40 anos, mas é verdade. Esse perído que parece tão remoto quanto a Era Mesozóica é lembrado no livro "Her Again: Becoming Meryl Streep". E a "Vanity Fair" deste mês traz um capítulo inteiro, justamente o que trata da relação complicada da atriz com Dustin Hoffman durante as filmagens de Kramer vs. Kramer. Ele era um adepto tão fervoroso do método Stanislawski que o usava até com seus colegas. O baixinho malvado não tinha o menor escrúpulo em lembrar Meryl de John Cazale, seu namorado recém-falecido, só para "ajudá-la" a atingir a emoção necessária para uma cena. Dizem que os dois não se falam até hoje... Claro que essa palhinha me deixou seco para mergulhar no livro todo. E quem quiser ler a matéria não precisa morrer nos 50 paus que a revista custa nas bancas brasileiras: ela pode ser lida aqui, online.
PARIAH IS A FISH
Todos sabem que eu sou obrigado por contrato espiritual a divulgar cada etapa do lançamento de "Absolutely Fabulous - The Movie". Hoje saiu o primeiro trailer completo do filme, que estreia em julho na Inglaterra e sabe-se lá quando por aqui. Mais detalhes do plot são revelados: Edina mata Kate Moss (o que não deve ser difícil, basta respirar mais forte perto dela) e foge para o sul da França com Patsy. Que, apesar de ser uns 10 anos mais velha que sua colega na vida real, parece uns 10 anos mais nova. Ou mais esticada, o que é quase o mesmo.
(Obrigado pela dica, Fernando Porto Ricardo)
terça-feira, 26 de abril de 2016
MEU LIMÃO, MEU LIMOEIRO
Há pouco mais de dois anos, Beyoncé subverteu as regras do mercado fonográfico ao lançar um álbum sem o menor aviso prévio. Agora ela quase repetiu a façanha - o trailer do especial "Lemonade", exibido pela HBO americana sábado passado, entregou que algo estava por vir. Mas a cantora inovou ao tornar este novo trabalho pouco acessível. Nos primeiros dias, "Lemonade" só podia ser encontrado no Tidal, a plataforma de streaming da qual Jay-Z é sócio. Hoje já pode ser comprado no iTunes e na Amazon, mas não aparece no Apple Music ou no Spotify. Como eu me recuso a gastar mais de 17 dólares em mp3 e já cancelei meu "trial run" no Tidal, só conseguiu ouvir um trechinho de cada faixa. Portanto, isso aqui não é uma crítica ao disco, mas sim a essa estratégia de marketing que me parece equivocada. O Tidal vem tendo problemas desde que surgiu, mas vai precisar de muito mais conteúdo exclusivo para se firmar num mercado que já está saturado. E Beyoncé, que tanto se gaba de ter feito limonada como os limões que a vida lhe deu, acabou servindo uma apetitosa torta de climão para seus fãs.
SEI QUE EU SOU BONITA E GOSTOSA
Tô quase com pena da Dilma. Quando ela parecia não poder ir mais baixo, eis que seu incomparável tino político indica para ministro do Turismo um sujeito casado com a Miss Bumbum Estados Unidos 2013. E os dois - não apenas ela, veja bem - posam para fotos beyond desfrutáveis, comprometendo ainda mais a credibilidade do pouco governo que nos resta. A presidente, pela enésima vez, está perdendo a chance de formar um ministério de notáveis, ou mesmo acabar com algumas dessas pastas inúteis. É ela a verdadeira perdedora desse caso, e não Milena Santos. Essa aí atingiu plenamente seu objetivo: tornou-se uma subcelebridade tipo A, e agora vai receber convites da "Sexy" e do "Superpop". Bonita, gostosa e enfim famosa.
ATUALIZAÇÃO: Opa, convite da "Sexy" a Milena já teve - e aceitou. Quem fizer muita questão de ver a primeira-dama do Turismo pelada pode clicar aqui.
segunda-feira, 25 de abril de 2016
SUSHI COM CUSPE
Não vou defender o José de Abreu. Cuspir em alguém é algo grave, ainda mais em lugar público, e não pode ser banalizado a ponto de se tornar a resposta-padrão a quem nos provoca. Mas também acho que o casal que o achacou num restaurante japonês está erradíssimo. Primeiro, porque não se ataca ninguém desse jeito só por causa das ideias. Segundo, porque o tal casal tem, como muita gente, uma ideia totalmente equivocada da Lei Rouanet e outras ferramentas de incentivo à cultura. Muitos países, inclusive os EUA, têm algum tipo de mecanismo. Sem eles a produção cultural pode simplesmente desaparecer, especialmente no caso das cinematografias nacionais versus o poderio de Hollywood (no caso americano, os incentivos vão para artes plásticas, teatro, ópera e outras atividades de menor apelo). Terceiro, não sei de absolutamente nenhum artista que viva no luxo às custas do dinheiro do povo. No caso específico do Zé de Abreu, a injustiça é até maior: ele não faz teatro ou cinema há muitos anos, e sua única fonte de renda é o salário que recebe da Globo - uma empresa privada, aliás. Mas entender as leis é algo que escapa a quase todos. Mais fácil xingar, ainda mais quando sentimos que estamos do lado vencedor.
PREGANDO AOS INVERTIDOS
É claro que a mensagem de "Amor por Direito" é importante. Mas isto não torna o filme automaticamente bom: as intenções podem ser ótimas, mas a realização é apenas mediana. E isto apesar do empenho de Ellen Page, que também é produtora e tem aqui seu primeiro grande papel depois de sair do armário. Ela conseguiu reunir um elenco classe A para o remake de um documentário em curta-metragem que ganhou o Oscar há alguns anos. A história se mantém atual: um casal de lésbicas luta na Justiça para que uma delas receba a pensão da outra, que está com câncer terminal. O caso delas abriu as portas para muitos outros nos EUA, e poderia servir para comover os nossos atrasados legisladores. Só que dificilmente eles se interessarão por este filme. Com cara de ter sido feito para a TV (mas não foi), "Amor por Direito" só vai atrair quem já está do seu lado. Nem como propaganda ele funciona.
domingo, 24 de abril de 2016
O MELHOR AMIGO DO MORTO
Um dos temas recorrentes da dramaturgia atual é a pessoa que sabe que vai morrer em breve. A protagonista de "The Big C" chutou o pau da barraca na primeira temporada da série, abrindo uma piscina em seu jardim e corneando o marido bundão. Em "Breaking Bad", Walter White usa a desculpa de deixar alguma coisa para a família para se afundar no submundo do tráfico. No filme espanhol "Truman", o objetivo do personagem principal é mais singelo: ele só quer arrumar um lar para seu cachorro. Claro que isto é só um pretexto. Durante os quatro dias da visita de um amigo que mora longe, ele irá passar a vida a limpo e amarrar alguns dos pouco fios soltos que ainda tem. "Truman" ganhou as principais categorias do Goya, o Oscar espanhol, mas um prêmio me pareceu especialmente merecido: o de melhor ator para Ricardo Darín. Muita tinta já se gastou sobre a onipresença do ator argentino nos filmes dos nossos hermanos, mas o fato é que o cara entrega. Mesmo interpretando um sujeito frágil, com olheiras e os dias contados, ele emana um carisma irrefreável, como só um autêntico astro do cinema consegue fazer. É a sua atuação que faz com que "Truman" seja um libelo sobre manter a dignidade quando o fim está próximo.
YOU KNOW NOTHING
Acho que todo mundo que eu conheço tem o mesmo programa para hoje à noite: a estreia da 6a. temporada de "Game of Thrones". Só espero que finalmente fiquemos sabendo, depois de um ano de suspense, se Jon Snow morreu mesmo, se vai ser ressuscitado por Melisandre, se vai reencarnar num corvo ou seja lá que caralho for. Só sei que eu não aguento mais ouvir as pessoas perguntando. O fato é que ninguém sabe - além do mais agora, que a série da HBO passou à frente dos livros de George R. T. Martin. A repercussão da possível morte do bastardo de Ned Stark é tão grande que vejo alguns neófitos se interessando, sem nunca ter visto antes uma temporada sequer. A estes, uma recomendação: NÃO assistam ao vídeo acima, criado por um fã. Em 360 graus, a geografia de Westeros e Essos fica mais difícil de entender do que a língua dos dothraki.
sábado, 23 de abril de 2016
ARMÊNIA NA CHÓN
Pouco se fala da Armênia. E quando se fala, geralmente é sobre um único assunto: o genocídio de 1915, até hoje negado pelos turcos. O país e sua diáspora são tão obcecados pelo assunto que chegam a ser... monotemáticos. É sobre esta obsessão de que trata "Uma História de Loucura", do cineasta francês de origem armênia Robert Guédiguian. O filme começa com um assassinato em Berlim nos anos 1920, e de lá dá um salto para a guerrilha armênia que treinava no Líbano nos anos 1980. Mas sua trama principal é a relação entre um terrorista armênio e a vítima inocente de um atentado cometido pelo primeiro. O rapaz fica paralítico, e faz da vontade de conhecer seu algoz sua maior razão de viver. "Uma História de Loucura" é interessante, mas poderia perder meia hora tranquilamente. Já não é um filme que atraia um público muito grande, e não precisava se fazer de ainda mais difícil.
sexta-feira, 22 de abril de 2016
VÍCIO PRESIDENTE
Ao longo de quase oito anos de governo, Barack Obama viajou para o exterior praticamente todo mês. Sabe quantas vezes o vice Joe Biden assumiu a presidência? Nenhuma. Nos Estados Unidos (e na maioria das nações civilizadas), vice só assume se o titular do cargo estiver impossibilitado - tipo doente ou morto. Mas aqui no Brasil mantemos uma prática do século 19, quando ia-se para a Europa de vapor e as comunicações eram precárias. Basta o presidente sair do nosso espaço aéreo para o vice assumir. Como se não existisse telefone, telegrama, fax, e-mail, Skype. E aí, em dias como hoje, o país fica com dois presidentes em exercício. Uma está lá em Nova York, onde mediu palavras no plenário da ONU e não causou o estrago esperado. O outro está escondido no Palácio do Jaburu, fugindo dos manifestantes que brotaram em frente à sua casa em São Paulo. E eu sinto que, na prática, não precisamos de nenhum dos dois.
O VAGALHÃO DA IRRESPONSABILIDADE
Durante milhares de anos, era uma fenda na pedra. Uma cortina rochosa que abria um vão atrás de si, por onde entrava o mar furioso. Quando construíram a avenida Niemeyer, há mais de 100 anos, aquele trecho precisou ser reforçado com arcos. Foi batizado como Viaduto Rei Alberto, em homenagem ao monarca belga que visitou o Rio de Janeiro em 1916. A Niemeyer logo se transformou num autódromo urbano: até os anos 1960, ali se disputavam corridas, que iam do Leblon ao que hoje é a Rocinha. Para facilitar a cobertura jornalística desses eventos, a prefeitura construiu uma plataforma sob os arcos do viaduto, e o lugar foi rebatizado como Gruta da Imprensa. Quando eu era pequeno, os repórteres só iam lá para cobrir tragédias. Porque a gruta se tranformou num dos points favoritos dos pescadores cariocas: uma espécie de puxadinho que avançava sobre as ondas bravias. Só que todo ano elas cobravam um tributo. Todo ano alguém era engolido pela água. A ressaca ali bate forte, muitas vezes cobrindo o asfalto da via. Mas parece que ninguém se lembrou disso quando a ciclovia Tim Maia foi (mal) planejada. O que importava era a beleza do lugar. Mais um cartão-postal para uma cidade tão rica deles, entregue antes das Olimpíadas para deslumbrar ainda mais os turistas. A ciclovia pegou, apesar dos evidentes problemas de acabamento, como bem reparou a jornalista Mariliz Pereira Jorge. Ontem, pouco mais de três meses depois de inaugurada, um vagalhão tragou-lhe um pedaço, e pelo menos duas pessoas que estavam nele. As autoridades prometem investigação rigorosa e punição aos culpados, mas alguém acredita nisto? Num país minimamente sério, o prefeito já teria renunciado. Mas Eduardo Paes é do PMDB, o partido irresponsável que está destruindo o estado do Rio há pelo menos 10 anos. Não há dinheiro para a folha de pagamentos, obras caríssimas desmoronam feito areia, a criminalidade voltou a crescer. Last but not least, essa mesma agremiação ainda brindou o país com Eduardo Cunha. O que mais precisa acontecer para que os cariocas e os fluminenses, tidos antigamente como o povo mais politizado do Brasil, parem de votar tão mal?
quinta-feira, 21 de abril de 2016
NOTHING COMPARES 2 U
Nunca comentei um único disco do Prince em quase nove anos de blog. A razão é simples: parei de acompanhá-lo no começo dos anos 1990, quando ele mudou seu nome para um símbolo impronunciável e passou a gravar tudo e qualquer coisa. Lançava músicas demais e nunca mais emplacou nenhum hit. E ainda se fazia de rogado: não há nada dele no Spotify ou no Apple Music. Mas a segunda metade da década de 80 foi dele. Todo ano ele soltava um trabalho surpreendente, misturando estilos e desafiando rótulos. "When Doves Cry", por exemplo, a primeira que me pegou, é fenomenal e inclassificável. Seu catálogo de sucessos não fica nada a dever para ninguém. Além de "Kiss", "If I Were Your Girlfriend", "1999" e muitas outras, ele ainda assinou as marcas registradas de Chaka Khan ("I Feel for You") e Sinéad O'Connor ("Nothing Compares 2 U"). Sem falar nas bandas femininas que produziu, ou na influência que teve sobre Madonna, Janet Jackson, Beyoncé e tantos mais. Mas um belo dia Prince pirou. Virou semi-recluso, brigou com as gravadoras, fazia shows erráticos. Eu tive a sorte de ainda vê-lo por inteiro, no Rock in Rio de 1991. Ano passado ele até lançou um álbum elogiado, mas me deu uma preguiiiça... Prefiro ficar com a sequência impecável que vai de "Purple Rain" a "Diamonds and Pearls". Prince é uma perda irreparável, mas meio que já o tínhamos perdido há algum tempo.
SIM EM IEMENITA
Já faz mais de ano que as três irmãs Haim bombam nas rádios do mundo árabe com sua mistura de folclore do Iêmen com batidas eletrônicas. Muitos de seus fãs não percebem um detalhe: elas são judias. Mais precisamente, descedentes de judeus iemenitas que migraram para Israel há mais de 50 anos. Uma comunidade que manteve suas tradições e que até já gerou uma diva em escala planetária - a finada Ofra Haza, uma das minhas primeiras paixões na world music. O trio formado pelas Haim se chama A-WA e deve muito ao pioneirismo de Ofra, que também gostava de cantar em trajes típicos do país de seus antepassados. Mas ela fez sucesso num momento em que a paz no Oriente Médio parecia menos impossível do que hoje: ninguém se escandalizava com suas letras em árabe, o que já não rola com o A-WA. Que se dane: a palavra significa "sim" em gíria iemenita. É o que eu digo para elas.
(Mais sobre o A-WA aqui; o primeiro álbum sai no final de maio)
quarta-feira, 20 de abril de 2016
EU SOU FORBES
Deixa eu me gabar um pouquinho, vá. Minha coluna de hoje no F5 (ou na Folha de São Paulo, "um jornal ainda mais mainstream" que a Veja) foi citada no site da Forbes. Pena que meu nome não surgiu em luzes, mas o dia há de chegar.
BELA, RECATADA E DO LAR
Pronto. Ninguém mais tem outro assunto. O título da malfadada matéria da "Veja" sobre Marcela Temer já rendeu milhares de memes, um Tumbl'r exclusivo, algumas variações, outras tantas reclamações e até a minha coluna de hoje no F5. É uma brincadeira, mas também é um papo sério. O machismo está presente no nosso dia-a-dia, escondido na linguagem e nos gestos. Ninguém está a salvo, todos cometemos deslizes. Mas rir dele é combater o bom combate. Sem o menor recato.
terça-feira, 19 de abril de 2016
TUDO A TEMER
Agora que a futura ex-presidente Dilma é, como ela mesma diz, carta fora do baralho, está na hora de voltarmos nossas baterias contra Michel Temer. "Ah, mas e o Cunha?", perguntarão alguns. Cunha já foi desmascarado: pessoas bem informadas não caem mais no engodo dele. Mas o futuro ex-vice presidente ainda é uma figura sem uma imagem pública constituída, apesar de estar por aí há quase 50 anos - e sempre perto do poder. Seu governo pode não durar muito: ele também está enrolado na Lava-Jato, e vai precisar fazer milagre para se tornar popular. No vídeo acima, Gregório Duvivier repassa o currículo do cosplay de Drácula. Claro que ele e toda a esquerda já podiam ter feito isto há seis anos, quando o PT se aliou ao PMDB. Agora querem dar a impressão de que Temer é um corpo estranho, mas esquecem que foi um casamento, não uma curra. Mas isto não mela a denúncia. A crise está lomge de acabar, e temos tudo a temer.
O GATO DO IMPEACHMENT
Meio Brasil se derreteu no domingo passado por Fabrício Oliveira, o suplente de deputado que não arredou pé do microfone mesmo sem ter direito a voto. O mancebo é pré-candidato pelo PSB a prefeito de Balneário Camboriú, e de fato não é de se jogar fora. Mas meu coração bateu mais forte por outro parlamentar: Daniel Vilela, deputado por Goiás. Ele é do PMDB, o partido mais amorfo e traiçoeiro do país, mas não é disso que estamos falando. No quesito gatice, Daniel leva o meu "sim". E o dos meus filhos. E o da nação Quadrangular.
segunda-feira, 18 de abril de 2016
ERA UMA VEZ EM HOLLYWOOD
Os irmãos Coen são mais conhecidos pelos filmes violentos, mas de vez em quando eles cometem comédias. Minha favorita é "The Hudsucker Proxy", lançada em 94 mas com ação se passando nos anos 1920. "Ave, César", pelo trailer, prometia se igualar. Mas, apesar dos muitos momentos bons, ela é meio frouxa - talvez pela falta de uma boa trama central. A que há é uma bobagem inconsequente: o sequestro de um grande astro por um bando de roteiristas assumidamente comunistas, uma tiração de sarro à caça as bruxas do macarthismo. O melhor mesmo são as cenas que reciram o esplendor clássico de Hollywood, como o balé aquático à la Esther Williams ou o sapateado deliciosamente gay com Channing Tatum (preste atenção na letra). Sem falar no Jesus Cristo loiro... "Ave, César" só vai agradar a quem manja um pouco da história do cinema. E a quem não esteja esperando rir sem parar, só um pouco.
CUSPINDO PARA CIMA
Mais uma vez, Jean Wyllys caiu feito um patinho na armadilha montada pelo Bolsonazi. Fez exatamente o que seu inimigo no. 1 pretendia: reagiu com grossura aos ataques e rendeu uma foto que, agora, os defensores do Bolso(vo)mito vão usar para se fazerem de vítimas. Por um lado, entendo perfeitamente o lado humano do Jean. Ele enfrenta pressões maiores do que qualquer outro deputado, e não tem o sangue de barata de um Eduardo Cunha. Mas até hoje ele não entendeu um detalhe significativo: enquanto que os apoiadores do Bolsonaro vão aplaudir de pé qualquer merda que seu ídolo fizer, o pessoal que poderia dar suporte ao Jean fica melindrado com esses destempérios. Já são muitos os gays que não o suportam, acho que mais por seu estilo do que por seua ideologia (tanto que não se vê gay criticando o Marcelo Freixo). Jean precisava contratar um assessor de imagem e controlar o próprio temperamento. Para deixar de cuspir em si mesmo.
domingo, 17 de abril de 2016
SURGIU UMA UNANIMIDADE
Pela Família Quadrangular. Pelo Bruno e o Felipe. Pela minha mãe negra Lucimar. Teve até deputado que voltou ao microfone, depois de seu seguinte já ter falado, só para mandar beijo para o filho. Parecia - não, era - um programa de auditório. Um retrato acabado do Brasil. Da nossa indigência política. Que parece só ter piorado com a democracia: eu assisti à votação do impeachment de Color em 1992, e não lembro de ver tantos deputados invocando Deus, a família e a parentada. Agora ainda falta o Senado, mas parece que la já são favas contadas. Dilma vai cair. E, apesar do baixíssimo nível dos que a derrubaram, ela merece cair. É uma péssima presidente, uma política inábil e, sim, desonesta. Ou alguém acredita que ela não sabia que Pasadena era um mau negócio? Mas os que vêm para o seu lugar também são sinistros. O que me consola é que, se ela ficasse, também seria cercada por outros sinistros. Este é o Brasil que fizemos. Que este longo espetáculo a que fomos submetidos neste domingo tenha servido para despertar nossa consciência. Porque, pelo menos, emergiu uma unanimidade entre tantas divisões: todo mundo achou esses deputados umas bostas.
SOMENTE O NECESSÁRIO
"Mogli, o Menino-Lobo" foi um dos desenhos da Disney que mais marcaram a minha infância, porque foi um dos poucos lançados enquanto eu era pequeno. Isto significa que fui atingido não só pelo filme, mas também por uma avalanche de histórias em quadrinhos com os personagens (que tinham vários de seus nomes trocados pela editora Abril, sabe-se lá por que), disquinhos, bonecos, o escambau. Sei até hoje a letra de várias das canções originais, e foi para o público da minha idade que os produtores incluíram duas delas, meio a fórceps, no remake semi-"live action" que acabou de estrear. Digo semi porque a única coisa realmente viva na tela é o ator mirirm Neel Seethi. Todo o resto, até a menor folhinha, é animação hiperrealista gerada por computador. O resultador é assombroso: os bichos são todos críveis, apesar de falarem em perfeito "lip synch" com as vozes de astros como Bill Murray, Scarlett Johansson e Lupita Nyong'o. Há algumas diferenças grandes em relação ao longa de 1967. Dessa vez os lobos aparecem bastante, justificando a alcunha do garoto. E o final é diferente, obviamente para garantir uma continuação. As críticas estão sendo excelentes, e eu fui ver esperando sair maravilhado. Não rolou totalmente: gostei, mas esse prodígio tecnológico tem, como canta o urso Balu, somente o necessário para ser bacana.
sábado, 16 de abril de 2016
APRÈS-SKI
"Voando Alto" entrou em cartaz em São Paulo há duas semanas e já sumiu sem deixar pistas. Eu vi o trailer, achei uma xaropada e nem me abalei. O filme conta a história "inspiradora" do esquiador inglês Eddie Edwards, que veio do nada e triunfou nos Jogos de Inverno de 1988zzzzz - só a palavra "inspiradora" já é o bastante para me induzir ao coma. Mas há dois dias descobri que essa história também "inspirou" - arre - uma trilha sonora alternativa, dessas que não tocam durante o filme (são mais comuns do que se pensam). E a ideia por trás é genial. Como a ação se passa nos anos 80, chamaram alguns dos maiores nomes do pop britânico da época para contribuir com canções 100% inéditas, mas no espírito de então. O resultado são novos singles de Paul Young, Nik Kershaw, Kim Wilde, Orchestral Manouevres in the Dark, ABC, Midge Ure... O único senão é que, por se tratar de um filme "inspirador", as letras também o são. Pequenos tratados de auto-ajuda e superação, enquanto que naquela década cantava-se sobre a euforia e a angústia. Mesmo assim, tenho minhas favoritas: "Out in the Sky", do imortal Marc Almond (a no. 3 acima) e "Pray", do Heaven 17 (a no. 11).
sexta-feira, 15 de abril de 2016
PARE DE TOMAR A PÍLULA
É totalmente compreensível o desespero de quem está doente, ou tem casos na família. Um amigo meu publicou um post exaltado no Facebook, dizendo que três parentes seus foram salvos do câncer pela fosfoetanolamina sintética. Até aí tudo bem. A coisa muda de figura quando surgem abaixo-assinados online, para forçar o governo a liberar a droga. Gentem, ciência não é democracia. Não basta que a maioria das pessoas ache que alguma coisa funcione para ela de fato funcionar. Mas nossos políticos, sempre de olho na reeleição, não têm o menor prurido em desrespeitar as regras da Anvisa e do bom senso, se isto lhes garantir votos. Esta é uma situação dramática, que jamais deveria ter chegado a esse ponto. Agora haverá dano qualquer que seja a solução - quer dizer, se houver solução. Estamos nos especializando nessas sinucas de bico, hein?
quinta-feira, 14 de abril de 2016
JÁ QUE É PRA TOMBAR...
Tombei. Estou derrubado por dentro. Apavorado com o day after de domingo próximo, porque não há final feliz à vista. Conseguimos nos enfiar numa situação lose-lose: não importa o resultado da votação do impeachment, quase todos perderemos. Vejamos, por exemplo, o que pode acontecer se Dilma conseguir os míseros 172 votos de que precisa. É uma hipótese cada vez mais remota, mas vai que? Muito bem. Os movimentos sociais irão comemorar, Chico Buarque e Letícia Sabatella ficarão felizes, o slogan "não vai ter golpe" vai sair do ar por um tempo (OK, isso até que é bom). Mas, se as promessas do balcão de negócios forem cumpridas, ministérios importantes serão ocupados por nulidades dos partidos pequenos. Não vai rolar "pacto" nenhum: a presidente prometeu diálogo outras vezes, mas nunca ouviu ninguém e sempre fez o que quis. Além do mais, Lula forçará a área econômica a soltar uma mágica instantânea, para que a massa ignara não sinta de imediato os efeitos da crise. Enquanto isso, no Congresso, tudo continuará difícil para o governo: nenhum projeto importante será aprovado. Em suma, a crise que vivemos desde a reeleição de Dilma prosseguirá, pois, mesmo se escapar da faca, ela não sairá fortalecida. Ou seja: uma merda.
E se o impeachment passar? Vai ter micareta na Av. Paulista, o dólar vai cair ainda mais, ficaremos livres dos discursos inflamados da presidente (ufa). Mas o governo Temer não vai ter um minuto de sossego. Os petistas cobrarão sua legitimidade o tempo todo, e ameaçam incitar greves e arruaças. Sem falar que é grande a possibilidade da Operação Lava-Jato ser melada ainda mais rápido do que sob o atual ministro da Justiça. Fala-se muito no tal do acordo para livrar Eduardo Cunha da cassação - e a perspectiva de uma turma ainda mais corrupta tomar o poder me dá vontade de morrer para sempre. Fora que, na melhor das hipóteses, a economia vai levar um certo tempo para se recuperar, o que pode pavimentar a estrada para Lula voltar triunfante ao Planalto em 2018 (se ele não for preso antes, é claro). Portanto, não me vejo torcendo para nenhum dos dois lados. Tombei, no meio do muro que divide a Esplanada dos Ministérios.
BOOM
O roteiro de "Zoom" se acha esperto, mas é só ruim mesmo. Para explicar por quê, eu vou ter que dar spoiler: se você ainda pretende ver o filme, que já está saindo de cartaz, pare de ler por aqui. Mas já fique avisado de que é a maior bomba do ano até agora. Esse pastiche de muitos gêneros, misturado com supremo mau gosto, conta três histórias diferentes, todas fracas. Uma moça canadense trabalha numa fábrica de bonecas eróticas e sonha em ter peitões. Um diretor de cinema tem o pau misteriosamente diminuído, e se desespera (esse plot é todo em animação). Uma modelo brasileira foge do marido violento e... bom, mais nada. O que eles têm uns a ver com os outros? Ahá, saca só que sacada. A canadense desenha uma HQ sobre o diretor. O diretor faz um filme sobre a modelo. A modelo escreve um livro sobre a canadense. Ponto. Nenhuma discussão mais profunda, só edição moderninha e música prafrentex. Nenhuma mensagem maior do que "meu, como eu sou incrível, bolei uma história dentro da outra dentro da outra dentro da outra". Salva-se o trio de atores principais, ótimos como de costume. Mas eles foram enganados. Acharam que se tratava de um filminho inovador. Eu também fui.
quarta-feira, 13 de abril de 2016
HAN, HON, HEN
Há 15 anos, os transexuais da Suécia inventaram um pronome neutro que não existia na língua de lá: "hen", que não quer dizer nem "ele" (han) nem "ela" (hon). A palavra pegou, e acaba de entrar para o dicionário oficial. Além do mais, é perfeitamente pronunciável. Fica a dica para xs ativistas brasileirxs.
NU COM MINHA MÚSICA
Falta um mês pro Eurovision!! Aaare yooou reaaady? Devo ser o único blogueiro brasileiro que presta atenção ao festival, pelo oitavo ano seguido. Mas as perspectivas não são boas. As concorrentes deste ano são piores do que fracas: são praticamente idênticas. É tanta "power ballad" e tanta letra cantada em inglês que fica impossível determinar o país de origem de quase todas as concorrentes. Uma pena que países como Portugal ou Turquia, que carregavam nas cores locais, não estejam participando de novo - o primeiro por falta de verba, o segundo porque quer fazer parte do grupo dos "5 Grandes" automaticamente classificados para a finalíssima. No meio desse marasmo, é preciso fazer alguma coisa para se destacar da manada. É o que está ameaçando um tal de Ivan, o representante de Belarus: o rapaz quer cantar pelado no palco, cercado por lobos. Um ensaio em seu país natal não foi muito bem, como você pode ver aí abaixo. Além do mais, o Eurovision proíbe tanto animais vivos como nudez nas performances. Agora vou ouvir as candidatas uma por uma e escolher alguma para torcer, mas duvido que haja algo que vá entrar para a história como Conchita Wurst ou as Buranovskye Babushki. É, esse ano não tá fásseo pra ninguém.
terça-feira, 12 de abril de 2016
RAINHA, SUA LOKA
Perdi o monólogo "Palavra de Rainha", que entrou e saiu de cartaz várias vezes no ano passado, onde Lu Grimaldi interpretava D. Maria I. Pelo menos agora pude ver a atriz encarnando a personagem num outro contexto: é ela quem faz uma das vilãs de "Liberdade, Liberdade", a novela das 23 horas que estreou ontem na Globo. Com um sotaque luso bastante apurado e um porte assustador, a monarca louca de Lu Grimaldi nem piscou ao mandar todos os incofidentes para a forca. A única coisa que me desagradou na cena em que ela surgiu foi ver seu filho D. João (que ainda não era VI) ao fundo, saboreando um frango assado. Esse clichê vai perseguir o pai de D. Pedro I por toda a eternidade: sim, ele era um comilão, mas também era um político hábil. Mas no Brasil não gostamos muito de nuances na nossa história, né? No mais, esse primeiro episódio da trama de época foi bastante bom, não obstante a canastrice de Thiago Lacerda. Locação no Forte São João, figurinos primorosos e uma dramática sequência do enforcamento, tão pouco explorado na nossa dramaturgia. Agora, por quê que o roteiro contou a Inconfidência em fast-forward? Deu a sensação de que Tiradentes foi preso num dia e executado no outro, quando na verdade ele padeceu três longos anos na prisão. Mas tudo bem, TV é síntese, e "Liberdade, Liberdade" promete ser boa. Pena que a rainha louca não deva aparecer mais.
segunda-feira, 11 de abril de 2016
MAIS FORTE QUE ISABELLE
Isabelle Huppert. Só ela já basta para me fazer sair de casa e morrer com o preço do ingresso. Mas, em "Mais Forte que Bombas", ela vale bem mais do que isso. Apesar do papel pequeno, a diva francesa passa com distinção naquela que eu acho que é a prova mais difícil para um ator: a cena muda. Sem dizer uma palavra, sem fazer uma careta, ele precisa passar a emoção que o momento exige. Isabelle consegue, confira no trailer acima. E ela não é a única qualidade deste primeiro filme em inglês do diretor norueguês Joachim Trier. O tom é totalmente europeu, o que até causa uma certa estranheza: boa parte da trama se passa em Nova York, com caras manjadíssimas do cinema americano. O tema nem é dos mais originais - uma família tem que lidar com a morte da mãe. Mas a execução é que são elas. O roteiro lembra esses livros em que cada capítulo é contado do ponto de vista de um personagem, e aos poucos esses fios semi-soltos compõem um mesmo tapete. O melhor papel acabou caindo para o mais novato do elenco, Devin Druid, que faz um adolescente revoltado sem se apoiar nos clichês. Intenso e bonito, "Mais Forte que Bombas" (que competiu em Cannes ano passado) é um filme diferentão para paladares peculiares. Eu gostei.
FOMOS DESCOBERTOS
Se até eu fui chamado de "comunista do diabo" num comentário, imagina o Porta dos Fundos, acusado de se refestelar com a Lei Rouanet (mais mal entendida que a Teoria da Relatividade) e mamar nas tetas do governo. Com seu vídeo-resposta postado hoje, o grupo mostra que, ao lado do Sensacionalista, ainda é um bastião de lucidez e acidez nesses tempos de obscurantismo cibernético.
domingo, 10 de abril de 2016
O NAUM NÃO
Naum Alves de Souza era o artista mais completo do Brasil. Autor, diretor, pintor, cenógrafo, criador de bonecos e universos: ele dominava praticamente tudo no teatro, além de ser a pessoa mais doce do mundo. Conheci-o pessoalmente nos anos 1980, quando fiquei amigo de uma turma de atores cariocas que fazia uma peça sua, a maravilhosa "A Aurora da Minha Vida". Nossos caminhos se cruzaram quinze anos depois, nas séries que a Columbia produziu para a Bandeirantes: eu era roteirista de "Santo de Casa" e ele dirigia "A Guerra dos Pintos". A era altura minha cunhada já fazia os cenários de todos seus espetáculos, e passei a vê-lo mais amiúde. Meu marido chegou a visitá-lo na UTI semana passada, e já sabíamos que ele se iria. Naum morreu sem que eu, eterno malcriado, retribuísse um livro que ele me presenteou no Natal de 2013. O Brasil também tem uma certa dívida com ele: seus textos precisam ser remontados, pois são dos nossos clássicos.
O VOO DO BESOURO
É aquela velha questão retórica: você mataria uma pessoa que está na sua frente para salvar outras 100 que você não vê? Esse dilema clássico se transforma num filme tenso em "Decisão de Risco". Que, se não fosse pelo elenco encabecado pela divina Helen Mirren, talvez não passasse de um episódio especial de "Homeland" (tem até uma atriz da série fazendo uma ponta). Verdade que ninguém brilha mais do que um microdrone em formato de besouro, que até bate as asinhas. É ele que entra numa casa no Quênia onde estão tramando um ataque terrorista. Oficiais britânicos e americanos que acompanham tudo à distância ficam com água na boca: têm a chance de eliminar alguns nomes da lista dos mais procurados, e ainda evitar um atentado colossal. Mas eis que surge uma doce menininha vendendo pão... "Decisão de Risco" é um filme para adultos, sem explosões a cada segundo e sem um final absurdamente feliz. Foi o último trabalho de Alan Rickman, com o vozeirão ainda intacto. E merece ser visto por quem gosta de política internacional e problemas morais. Será que a menina descobre se no céu tem pão?
sábado, 9 de abril de 2016
EU, CURADOR DE MIM
Já virou programinha anual. Todo mês de abril eu dou um pulo na SP-Arte, a grande feira de galerias que ocupa por quatro dias o Pavilhão da Bienal no Ibirapuera. Acho que esse tipo de evento abertamente comercial acaba apresentando arte mais interessante do que qualquer exposição, porque não há curadoria: o visitante faz a sua própria. Dessa vez descobri nomes importantes que eu ainda desconhecia, como o romeno Ciprian Muresan e seus desenhos a lápis que à primeira vista parecem rabiscos, mas são combinações complexas de imagens sobrepostas. Ou a brasileira Celina Portella, que teve sua instalação "Vídeo-Boleba" premiada. Mas também me chamou a atenção o número de obras repetidas do ano passado: é, não tá fácil para ninguém, apesar do quadro de Beatriz Milhazes vendido por quatro milhões de dólares. A feira acaba amanhã, mas quem não puder ir pode conferir o site oficial, ou apenas essas dez obras selecionadas. Atenção: com curadoria de outrem.
sexta-feira, 8 de abril de 2016
KEIKO TENHO A VER COM ISSO
Cinco anos atrás, Ollanta Humala foi eleito presidente do Peru e muita gente sentiu um frio na espinha. Inclusive eu: o candidato perigava instalar mais um regime bolivarianista na América do Sul, além de vir de uma família de militares homofóbicos. Mas Humala não cumpriu a profecia, e sumiu do noticiário brasileiro. Nossa imprensa presta muito mais atenção aos niños terribles Rafael Correa e Evo Morales, apesar de Equador e Bolívia serem países mais desimportantes que o Peru. Talvez porque Humala tenha feito um bom governo, sem grandes escândalos e sem interromper o ciclo de crescimento da economia peruana. Em breve ele deixará o poder: a lei de lá proíbe a reeleição, e o primeiro turno das presidenciales será disputado domingo. Keiko Fujimori está disparada na frente, mas sem os 50% dos votos necessários para vencer de cara. E provavelmente será derrotada no segundo turno, pois a rejeição ao seu nome é enorme. Pudera: ela é filha de Alberto Fujimori, que nos anos 90 dissolveu o Congresso para assumir poderes ditatoriais e acabou se afundando na corrupção. Hoje ele está na cadeia, mas teme-se que o primeiro ato de sua filha, se eleita, será libertá-lo. Mas quem enfrentará Keiko na segunda rodada? É bom prestar atenção, porque o Peru está em vias de se tornar uma potência regional. A esquerdista Veronika Mendoza vem crescendo nos últimos dias, e ia ser bacana ter duas mulheres chegando à etapa final. Mas eu ainda torço pelo liberal Pedro Pablo Kuczinsky, conhecido pela sigla PPK. Inclusive por que Peru e PPK juntos são uma piada pronta de dar inveja ao José Simão.
BOLACHA NA CARA
É comovente o despreparo dos nossos governantes para a era da internet. Não é por outra razão que circulam nesse momento pelo Congresso dezenas de projetos de lei que visam amordaçar os internautas. Se algum deles passar, é o caso de irmos para as ruas com tochas e ancinhos na mão. Enquanto isto, temos mais é que dar a maior força para páginas como o Diário da Merenda, que posta fotos do que vem sendo servido nas escolas públicas de norte a sul do país. Há alguns cardápios bem razoáveis, mas a maioria é uma desgraça como a do foto ao lado. E muitos são do rico estado de São Paulo, onde rola um imperdoável desvio de dinheiro da merenda escolar. Tudo indica que o chefe do esquema seja o tucano Fernando Capez, presidente da Assembleia Legislativa paulista: mais um caso de um político jovem que parecia promissor, mas que na verdade é tão podre como quase todos. Capez foi colega de escola do meu irmão, e minha mãe votou nele: não posso descrever o tamanho da decepção na família. Só é menor que a fome dos alunos das escolas estaduais. E o rombo nas contas públicas.
quinta-feira, 7 de abril de 2016
LES ADIEUX AUX MACARONS
Vai fechar a única filial brasileira da confeitaria francesa Ladurée, no shopping Iguatemi JK de São Paulo. Ela é especializada num único produto: macarons, aqueles docinhos que parecem uma versão aviadada dos alfajores argentinos, em cores fluorescentes e sabores exóticos como violeta com cassis. Vinha tudo de avião lááá da matriz, e o que não fosse vendido em três dias era jogado fora sem a menor cerimônia. Por isto os preços salgadíssimos, que começaram em 9 reais a unidade, em 2012, até chegar a 11 recentemente - o que simplesmente não paga mais os custos fixos do estabelecimento. Podemos tripudiar dizendo que macarons são o ápice do supérfluo coxinhístico, e que bem feito que mais esse símbolo do capitalismo selvagem foi escorraçado do Brasil varonil. Mas o fato é que a existência do comércio de luxo é um sintoma de saúde da economia como um todo. Se ele vai mal, é porque a base da pirâmide está corroída. Além da Ladurée, também está indo embora a rede de moda barata Topshop e muitas outras marcas que chegaram por aqui na virada da década. Sem falar nas centenas de lojas e restaurantes vazios, e nos milhares de empregos que vêm sendo perdidos só no varejo. Essa tristeza toda me faz sentir a necessidade de um shot de açúcar no sangue. Vou comer um Lajotinha, que é o que dá para pagar.
quarta-feira, 6 de abril de 2016
LIBERDADE PARA SER BABACA
O avanço dos direitos igualitários esbarra sempre num mesmo obstáculo: as religiões. Um estado democrático simplesmente não pode obrigar uma religião a mudar seus dogmas. Em países como o Canadá ou a Holanda, onde há um grande número de ateus declarados, isto não chega a ser um problema. Mas claro que está sendo nos Estados Unidos, onde a religião tem um peso na vida pública quase tão grande como na Itália. A aprovação do casamento gay pela Suprema Corte de lá fez com que pululassem projetos de lei garantindo "liberdade religiosa", principalmente nos estados mais atrasados do sul do país. E como liberdade religiosa entenda-se a possibilidade de discriminar alguém por causa de sua sexualidade. Um comerciante pode se recusar a atender um casal de bibas, uma médica pode se negar a salvar uma lésbica no pronto-socorro, um empregador pode mandar embora um empregado só porque descobriu que se trata de um homossexual. Ou seja, alguém que não se adequa aos preceitos sagrados de sua fé. Curioso que nunca propuseram lei nenhuma isentando pessoas religiosas de servir assassinos, pedófilos ou portadores de capanga. Pelo contrário: faz-se um carnaval quando, por exemplo, o papa visita um presídio. Mas os Estados Unidos, apesar de todo seu pioneirismo nos movimentos sociais, também é o maior ninho de babacas do mundo. Tanto que já estão usando algumas das leis recém-aprovadas para expulsar judeus e muçulmanos de lojas e restaurantes - afinal, eles também não seguem a fé de quem os expulsa. Pelo menos a reação está vindo a galope, com muitas empresas importantes ameaçando tirar seus negócios dos estados que fizeram legislação discriminatória. E no Brasil, será que vai demorar para a bancada teocrática propor coisas parecidas? Já devem até ter proposto, mas a conjuntura daqui é diferente. Nosso país se gaba de ser um oásis de tolerância, sem racismo nem homofobia, onde todas as religiões convivem em harmonia - pelo menos esta é a versão oficial. Uma lei que autorizasse um comerciante a tratar mal um cliente gay não cairia bem. Mas nunca se sabe: nossos parlamentares são hipócritas e despreparados, e farão leis parecidas se acharem que serão reeleitos.
INDIFERENÇA OLÍMPICA
Não sei como está no Rio, mas aqui em São Paulo as Olimpíadas são um não-assunto. Ninguém sequer diz que "não vai ter": está todo mundo discutindo golpe e impeachment e eleições gerais e Janaína Paschoal. Aquela que era para ser uma das grandes celebrações do lulopetismo (a outra era para ter sido a Copa) acontece num contexto ainda mais desfavorável que o de 2014, com a economia em frangalhos e a moral do povo ainda pior. Não sinto o menor clima para os Jogos Olímpicos; talvez ele pinte quando chegar mais perto, forçado pela mídia. Por enquanto só tenho vontade de cancelar tudo e de chorar atravessado na cama.
terça-feira, 5 de abril de 2016
DILDO BAGGINS
Uma mulher atirou um dildo de borracha na cara do primeiro-ministro da Nova Zelândia. O motivo é o de menos: todos os políticos, de todos os matizes, merecem pelo menos uma vez na vida levar um consolo na cara em público. O que importa é que a Nova Zelândia é um país tão civilizado que não aconteceu nada com a mulher. E o episódio ainda serviu de assunto para o programa do John Oliver, que tirou sarro à vontade sem medo de represálias. Quando eu digo "sarro à vontade", não passo uma ideia fiel do que ele fez: assista ao vídeo até o fim, mesmo que você não entenda inglês. E mais uma vez eu estou me coçando por ser praticamente impossível fazer um programa como esse no Brasil.
PANAMARAMA
A construção do Canal do Panamá teve tantas falcatruas que o nome do país (que até então era só uma província da Colômbia) virou sinônimo das próprias. Pois o que está acontecendo agora é um panamá ao quadrado: o vazamento dos "Panama Papers" pode até levar o mundo a uma boa D.R. com o capitalismo. Porque abrir offshore pode até ser legal, mas será que é moral? O objetivo no. 1 de quem guarda dinheiro em paraíso fiscal é, justamente, escapar dos impostos de seu país. E nessa conta meio que entrou todo mundo, da esquerda à direita, passando pelo megachefão mafioso que é Vladimir Putin. O escândalo já tem suas primeiras fatalidades: caiu hoje o governo da Islândia, apenas dois dias do povo de lá ficar sabendo que seu primeiro-ministro tinha uma empresinha criada pela Mossack Fonseca. E olha que era um governo não só democraticamente eleito como competente. Ah, as delícias do parlamentarismo... O sistema não é perfeito, claro. Haja vista a barafunda que reina na Espanha, incapaz de formar um governo novo. Mas me parece mil vezes preferível que esse vice-presidencialismo de coalização que vigora por aqui.
segunda-feira, 4 de abril de 2016
PORTA DO MEIO
Duas semanas atrás, o Porta dos Fundos postou o vídeo aí abaixo, "Reunião de Emergência 2". Já está com mais de dois milhões e meio de visualizações e apenas 4 mil e tantos dislikes. Apesar do sucesso, pouco se falou dele nas redes sociais. Sábado passado, o grupo divulgou o vídeo acima, "Delação". As visualizações já chegam a quase três milhões e meio (sendo que a audiência da internet cai bastante nos finais de semana), e os dislikes já passaram de 400 mil. Além do mais, já há dezenas de vídeos de "resposta" circulando por aí, e até uma campanha propondo boicote ao Porta. O que fez com que um de seus líderes, Antonio Tabet (mais conhecido como Kibe Loco), assinasse um desabafo no Facebook. Pois eu concordo com ele. Nenhum coletivo de humor precisa ter unanimidade política par ser contundente; aliás, essa contundência até aumenta se seus membros pensarem de maneira diferente. Porque aí a metralhadora gira para mais de um lado, e não existe nada mais sem graça do que o humor a favor (não é mesmo, Dilma Bolada?). O curioso é que "Delação" é estrelado por Gregório Duvivier, o saco de pancadas do Porta dos Fundos, mas foi escrito por Fábio Porchat - que também participa de "Reunião de Emergência 2" (mas cujo roteiro é do Tabet). Pessoalmente, eu achei mais graça neste vídeo, inclusive por causa das minhas opiniões. Mas defendo que o Porta faça piada com todo e qualquer político, de toda e qualquer tendência. Isso sim é democracia.
TODO MUNDO SE ARRANJANDO
Casamentos arranjados têm um índice de sucesso bem maior do que os casamentos por amor. Talvez seja por causa da cultura que os cerca: na Índia, onde eles ainda são bem comuns, o divórcio é um tabu relativo. Mas já existem relatos de jovens de famílias indianas no Ocidente que desistiram de procurar parceiros por conta própria e delegaram a tarefa aos pais. Resultado? Casaram-se com pessoas (indianas, é claro) muito mais compatíveis com seus valores, e dizem que estão sendo felizes para sempre. De fato, o amor entre opostos só costuma dar certo nas novelas. No mundo real, um certo alinhamento muitas vezes ajuda. Foi pensando em ajudar os gays da diáspora indiana que surgiu o site Arranged Gay Marriage. Não é o primeiro que procura juntar homossexuais em busca de relacionamento sério, mas talvez seja o único que assume - e de maneira positiva - que se trata do bom e velho casamento arranjado. Entre os conselheiros está nada menos que o príncipe Mavendra, o único nobre hindu que saiu do armário (e que veio prestigiar a Parada Gay de SP há alguns anos). O serviço é para poucos e bons: não basta se inscrever, tem que ser aprovado pelo comitê interno. Mas não está restrito aos indianos. Ou seja, ainda resta uma esperança para você.
domingo, 3 de abril de 2016
DIRETAS JÁ
O assunto do dia é o editorial da Folha de São Paulo pedindo a renúncia tanto de Dilma quanto de Temer. Na verdade, o texto está bombando desde a tarde de ontem, quando foi publicado online. E a repercussão foi tão grande que até o perfil da presidente no Facebook se viu instado a responder. Surpresa nenhuma: não é de hoje que sabemos que Dilma não tem a grandeza necessária para se desapegar do miasma que lhe resta de poder, nem a inteligência para salvar o que sobrou de sua biografia. Sua saída mais honrosa seria romper com o PT e formar um ministério de notáveis (inclusive petistas), ignorando alianças com partidecos e balcões de negócio. Só gente boa que entende da área cuidando de cada ministério. Verdade que Collor tentou algo parecido quando era tarde demais, e não se salvou do impeachment. Verdade também que o próprio PT pode resolver se vingar, e contar que Dilma sabia, por exemplo, que a refinaria de Pasadena era um ferro-velho que não valia o que a Petrobrás pagou por ela, e que tudo não passava de mais uma jogada para desviar dinheiro para o partido (e, dãã, é claro que Dilma sabia). Já que madame não renuncia nem compra uma bicicleta, vai ter que enfrentar a Câmara liderada pelo Chicuncunha votando seu impeachment talvez em apenas duas semanas - uma situação pela qual o Brasil não merecia passar. Eu concordo com cada palavra do editorial da Folha: só a saída de Dilma, Temer e Cunha é que pode limpar o ar, e só eleições diretas - inclusive para o Congresso - é que podem devolver a governabilidade. Diretas ontem.
sábado, 2 de abril de 2016
A CRISE GREGA
Na comédia, a grosso modo, os personagens não evoluem. Cometem erros, pagam por eles e não aprendem nada. Continuam os mesmos imbecis que eram no começo. Por isto há tantas continuações de comédias de sucesso. A exceção são as comédias românticas, porque elas têm um pezinho no drama. Uma vez que o casalzinho fica junto, é difícil criar novas situações engraçadas e plausíveis. Mas "Casamento Grego", a rom-com de maior bilheteria de todos os tempos - mais de 200 milhões de dólares só nos EUA - tem uma vantagem intrínseca. A fonte dos conflitos está fora do par central: é a família da noiva, agressivamente grega. Por isto, é de se admirar que tenham se passado longos 14 anos para que fizessem uma sequência. Talvez os produtores tenham ficado traumatizados com o fracasso da sitcom inspirada no primeiro filme, que durou só sete episódios. De lá para cá, a atriz e roteirista Nia Vardalos tentou outros caminhos, mas nenhum repetiu o fenômeno. Agora ela jogou a toalha. "Casamento Grego 2" traz todo o clã de volta, inclusive a avó, que deve estar com uns 200 anos de idade. Aliás, ela é um dos pontos fracos do filme: suas intervenções mudas tentam criar um clima à la Jacques Tati, mas são só despropositadas. Pena que haja muitos outros defeitos: personagens beyond estereotipados, atuações muito acima do tom, roteiro previsível e piadas aguadas. Nesse souvlaki mal passado, só se salva Andrea Martin, que faz a elegante tia Voula. Vi essa atriz fantástica fazendo a Frau Blücher (heeheehee) no musical "Young Frankenstein" há alguns anos em Nova York, e é um prazer reencontrá-la nesse papel pequeno porém marcante. Ela é uma das poucas razões que fazem desse "Casamento Grego 2" não um desastre colossal, mas uma bobaginha.
sexta-feira, 1 de abril de 2016
MARKETING ENEVOADO
Tem horas em que um marqueteiro faz falta. O PMDB achou que era uma ótima ideia romper com o governo pela TV, com Eduardo Cunha levantando os bracinhos. Deu no que deu: muita gente que era pelo impeachment agora está se questionando. Os taxistas cariocas são outro exemplo infeliz. Quiseram demonstrar que são capazes de parar a cidade numa demonstração contra o Uber. O que conseguiram até agora é uma campanha conclamando a população a NÃO pegar táxi por pelo menos três dias. Esses tiros pela culatra mostram como gritos e ameaças funcionam pouco em tempos de redes sociais. Que o diga o Lula, que se autoapelidou de Jararaca e depois teve que afinar o discurso.
GAROTOS PARA SEMPRE
Em 2012, os Pet Shop Boys lançaram um álbum com sabor de fim de carreira. "Elysium" trazia faixas lentas e letras que pareciam falar da morte. Mas não deu um ano e o relógio andou para trás: "Electric", de 2013, foi um retorno triunfal às pistas e uma banana solene para a ideia de que velho não pode ir à boate. Os rapazes seguem no mesmo pique com "Super", também produzido por Stuart Price (cuja obra-prima é o "Confessions on a Dancefloor" da Madonna). O disco saiu hoje e eu já estou ouvindo sem parar. Tem um sério candidato a clássico na autobiográfica "The Pop Kids", semi-instrumentais como "Inner Sanctum" que nem precisam de remix para tocar na rave, e nenhuma enrolação. O ritmo se ralenta mais para o final, mas a qualidade não. Pode-se até dizer que, a esta altura (Neil Tennant tem 61 anos e Chris Lowe, 56), os PSB se transformaram nos Rolling Stones do pop. Seus melhores trabalhos já têm quase 30 anos e eles nunca variaram muito de estilo, mas continuam insuperáveis no que se propõem a fazer. E cada vez mais jovens.
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