Westeros está dividido. Boa parte da população quer o impeachment do fraco rei Thommen, acusado de arruinar os Sete Reinos com pedaladas fiscais. Mas ainda lhe restam apoiadores. Eles defendem que a Rebelião de Robbert, que levou os Baratheon ao Trono de Ferro, foi uma carnificina perfeitamente legal, com apenas alguns milhares de mortos. Além do mais, se Thommen for destronado, quem assume é a impopular rainha Cersei. Cujo maior problema é a delação premiada feita por seu irmão Tyrion, que se juntou a Daenerys, a líder da oposição - chamada de Khaleesim por seus detratores, que espalharam que ela é viciada em pó de dragão. Enquanto isto, na fria república da Muralha, o juiz Jon Snow tem seus métodos questionados, apesar de pregar a luta contra os mortos-vivos. No final vai morrer todo mundo.
quinta-feira, 31 de março de 2016
MINHA ROLA, MINHAS REGRAS
Estou rindo há horas com o caso do "manja rola" do Mackenzie. Se você ainda não sabe do que se trata, leia essa matéria aqui. Se quiser ir direto ao post no Facebook, que já tem mais de DEZ MIL comentários, clique aqui. Este episódio é elucidativo de como a sociedade ainda é absurdamente machista, apesar de todos os avanços que as mulheres fizeram nos últimos séculos. Mas ainda bem que existe a internet, e ainda melhor que a mulherada reagiu com bom humor. É incrível como a masculinidade é delicada feito uma filigrana de madrepérola.
quarta-feira, 30 de março de 2016
ZONA DE REBAIXAMENTO
Sei que eu vou ser acusado de crime lesa-pátria, mas estou torcendo para o Brasil ficar fora da Copa de 2018. O vexame do 7 a 1 não foi o bastante para mudar a CBF, nem os escândalos envolvendo seus dirigentes passados e atuais. Dunga consegue ser um líder mais medíocre do que Dilma, e Neymar mostrou-se tão corrupto quanto um político do PP. Talvez só mesmo a ausência numa Copa para o nosso futebol tomar jeito. Sim, eu estou apelando até para o futebol para não ter que falar de política.
DIA DE MERCADO
Pressionado pela opinião pública, assustado com o índice de 80% de reprovação e desequilibrado pela traição do PMDB, o governo decidiu fazer a coisa certa. Dilma Rousseff está convidando especialistas de renome, com experiência e probidade, para ocupar as centenas de cargos federais abandonados pela gangue de Michel Temer. A presidente por fim se deu conta que a melhor maneira de recuperar o apoio popular é através de uma boa administração. Lógico que não é nada disso que está acontecendo. Depois da debandada das hienas, agremiações ainda mais fisiológicas estão sendo cotadíssimas para ocupar ministérios-chave (e ricos). Como o PP, que já abrigou Bolsonaro e onde até hoje desponta essa vestal que é Paulo Maluf. Sim, o PP - nada menos que o partido mais atingido pela Lava-Jato. Sem falar em PR, PTN, PHS e dezenas de outras legendas de aluguel. Todas neste momento negociando seus votos no balcão, em troca de sinecuras e orçamentos. Pois é, né, pessoal? Muito melhor "respeitar a legalidade" e manter um governo que não hesita em leiloar postos estratégicos para garantir sua eternização no poder. Isso é que é legal? Eu prefiro diretas já.
terça-feira, 29 de março de 2016
SÓ BOLLYWOOD SALVA
Não aguento mais postar sobre política. Tento mudar de assunto, mas o noticiário se impõe. Tento escapar, mas para onde? Donald Trump? Não, estou falando de escapismo mesmo. E ninguém faz isto melhor do que Bollywood. Houve um tempo em que os musicais indianos estavam na ordem do dia aqui no meu blog: ai que saudade dessa época, tão risonha e franca. Então vou apertar o rewind e homenagear o mais espetacular desses filmes, "Devdas", de 2002. A cena aí em cima é só uma entradinha - digamos, o pão naan. Quem tiver três horas livres e entender hindi, pode se deleitar com o banquete completo aqui.
HIENAS
Acabei de assistir pela TV à reunião-relâmpago onde o PMDB decidiu "por aclamação" sair do governo e abrir mão de todos os cargos federais. Todos menos um, é evidente: a vice-presidência continua nas mandíbulas de Michel Temer. Senti engulhos ao ver Romero Jucá conclamando as hostes do partido, ao lado de um Eduardo Cunha todo pimpão, sob um coro de "fora, PT!". Como assim, "fora, PT"? O que foi que o PT fez que deixou o PMDB tão magoado? Entregou ministérios estratégicos como a Saúde e mais uma montanha de cargos para quadros totalmente desqualificados, que só estão saqueando ainda mais as burras do Estado. Teria adiantado Dilma dividir com seus supostos aliados o comando da economia? Duvido, pois essas hienas iriam sempre querer mais e mais e mais e mais. Agora elas farejam o governo ferido de morte, e se aproximam para o bote final. A luta contra a corrupção terá sido em vão se recolhermos as panelas e acharmos que tudo está resolvido com a eventual posse de Temer (e atenção, petistas, foram vocês que o colocaram no Palácio do Jaburu - parem de choramingar!). A crise seguirá firme e forte enquanto continuarmos votando no PMDB e fazendo dele o maior partido do Brasil.
segunda-feira, 28 de março de 2016
NEM SEMPRE SE VÊ
Se não fosse por sua militância política, Lobão provavelmente estaria esquecido, como muitos de seus contemporâneos. Há algumas décadas que ele não emplaca um sucesso - para falar a verdade, eu me lembro de "Me Chama", gravada por Marina e que eu adoro, e mais nada. Sua estridência direitista, inusitada para um roqueiro brasileiro, lhe devolveu aos holofotes e o tornou uma das figuras de proa do movimento conservador que está perdendo a vergonha de se assumir. Acho tocante ele ter escrito uma carta aberta pedindo desculpas a Chico, Caetano e Gil; gostemos ou não de suas posições políticas, esses três estão entre os maiores artistas que o Brasil já produziu (o que não é, definitivamente, o caso de Lobão). E acho ótimo que não haja unanimidade ideológica entre a classe artística. Precisamos patrulhá-los menos, e eles uns aos outros. Dito isso, às vezes o Lobão enche o saco, hein?
NA BEIRADINHA
E de repente, o impeachment parece iminente. Eduardo Cunha, que fez tudo o que podia e nnao podia para ralentar ao máximo a aprovação de seu próprio processo no Conselho de Ética, agora conduz sessões a toque de caixa para acelear ao máximo a defenestração da presidente Dilma. Que parece não ter mais bala para gastar: o PMDB deve abandonar o barco esta semana. Afinal, para quê se contentar com carguinhos quando há um governo inteiro para ser abiscoitado? Eu fui às ruas no último dia 13 e não me arrependo, mas não fico nada contente com a maneira com que a crise política vai se encaminhando. Os petistas têm razão quando dizem que esse Congresso não tem autoridade moral para julgar ninguém, ainda mais sendo presidido pelo Chicuncunha. Além do mais, a aprovação do impeachment dará ao PT o manto do martírio, na qual o partido irá se enrolar para tentar uma volta triunfal em 2018. Inclusive porque um governo Temer, ou seja lá quem venha a assumir, nnao vai resolver os gravíssimos problemas da economia em pouco mais de dois anos. No fundo, eu queria que acontecesse um milagre: que o TSE resolvesse de uma vez cassar a chapa eleita em 2014, e convocar novas eleições. Ou que todo mundo renunciasse, inclusive deputados federais e senadores, para nos dar a chance de dar um "reboot" no país. Sei que nada disso irá acontecer, mas não custa sonhar.
domingo, 27 de março de 2016
DEZ, NOTA DEZ
Quando eu era pequeno, Carlos Imperial era uma presença constante na cultura popular brasileira. O cara estava na música, no cinema, na TV. Mais tarde eu descobri que ele também era atuante nos bastidores: foi fundamental para o lançamento das carreiras de Roberto Carlos, Wilson Simonal, Tim Maia, Elis Regina e muitos outros. Sem cantar nem tocar bem nenhum instrumento, Imperial sabia moldar os jovens talentos para que se tornassem ídolos. Escolhia do repertório ao figurino, e emplacava um sucesso atrás do outro. Mas tinha uma figura que foi se tornando cada vez mais grotesca com o tempo: gordíssimo, cafajeste, muitas vezes de aspecto asqueroso. Nos anos 1980 desandou a fazer os recém-liberados filmes pornôs, e depois se elegeu vereador pelo Rio de Janeiro. Morreu em 1992, com apenas 56 anos de idade, e hoje está praticamente esquecido. Por isto a importância do documentário "Eu Sou Carlos Imperial", que pode apresentá-lo às novas gerações. O filme não é preciso com datas nem explica como Imperial se tornou tão importante ainda jovem. Mas reúne cenas inacreditáveis e depoimentos hilários, e o resultado é que a plateia ri como se estivesse numa comédia. Imperial era um escroto que sacaneava seus contratados, mas que também os protegia. Todos falam bem dele, apesar de terem sido vítimas de suas mentiras e sacanagens. Tal criatura impossível no mundo politicamente correto de hoje ganhou tributo à altura: como o bordão que lançou nas apurações dos desfiles das escolas de samba, este filme é "dez, nota dez".
sábado, 26 de março de 2016
YO NO PUEDO OBTENER SATISFACCIÓN
Eles surgiram na mesma época, com poucos anos de diferença. Estão na ativa há mais de meio século. Sofreram mortes e defecções, mas a principal estrela de ambos continua entre nós (se bem que uma delas não rebola mais). Mudaram com o tempo, claro, mas nem tanto. Atingiram status de mito: seus admiradores não enxergam seus muitos defeitos. São tantos os paralelos entre os Rolling Stones e o regime cubano que é até surpreendente que seus caminhos só tenham se cruzado ontem. Nada contra: show de graça é sempre bom, ainda mais para uma população que não teria mesmo como pagar. Agora podemos esperar um DVD dessa apresentação histórica, que, pelo andar da carruagem, deve ser uma das últimas de Mick Jagger e sua turma. E não duvido nada que esse evento retumbante também marque o começo do fim da ditadura castrista.
sexta-feira, 25 de março de 2016
A BALA PASSOU
O Underworld é um dos poucos remanescentes da segunda geração de bandas 100% eletrônicas, que floresceu nos anos 1990. Essa dupla inglesa tem um único grande sucesso em seu currículo: "Born Slippy", popularizado pela trilha de "Trainspotting" e até hoje a melhor tradução musical da sensação de uma bala batendo. Desde então lançaram muitos álbuns consistentes, sem causar maior rebuliço. Este também parece ser o caso de "Barbara Barbara, We Face a Shining Future". São nove longas faixas que soam melhores quando ouvidas todas juntas, e que não dão mais vontade de se acabar nas pistas. Pudera: o tempo passou... Mesmo assim, sem inovar grande coisa, o Underworld tornou-se a trilha sonora desta minha Semana Santa.
quinta-feira, 24 de março de 2016
O ANTI-"SPOTLIGHT"
Eu lembro direitinho da campanha eleitoral americana de 2004. Foi a primeira que eu acompanhei a nível diário pela internet, porque queria ter certeza que meu odiado George W. Bush não seria reeleito. Não foi o que aconteceu, e o episódio narrado pelo filme "Conspiração e Poder" pode ter contribuído. Também me lembro dele: o âncora Dan Rather divulgou, pela rede CBS, documentos que indicavam que o jovem Bush havia gazeteado seu arremedo de serviço militar na Força Aérea. Mas logo surgiram indícios de que os documentos eram falsos, o que deixou Bush bem na foto - e Rather e boa parte de sua equipe no olho da rua. O filme reconstitui o caso com riqueza excessiva de detalhes, o que o torna meio aborrecido. E não esclarece se os tais documentos eram mesmo falsificados (na época, eu fiquei com a sensação de que eles haviam sido plantados justamente para provocar esse escândalo). Mas pelo menos Deus Cate Blanchett está majestosa como sempre, no papel da jornalista Mary Mapes. Ela teria sido indicada ao Oscar por esta performance, que acabou sendo ofuscada por seu outro grande desempenho do ano, em "Carol". Aliás, "Conspiração e Poder" como um todo foi eclipsado por "Spotlight", que ganhou prêmios e tem final feliz. Aqui, os jornalistas se dão mal.
A MÃE DE TODAS AS LISTAS
E a lista da Odebrecht, hein? Claro que eu estou achando a maior graça nos apelidos, mas também me sinto apreensivo. Este pode ter sido o primeiro golpe sério para melar a Lava-Jato, e desferido por alguém de dentro da própria PF (tanto que Sergio Moro correu para colocar a lista em sigilo, mas aí já era tarde). Explico: tem tanta gente nessa lista, de tantos partidos, que sua divulgação me cheira a uma tentativa de desmoralizar a classe política como um todo. Não que eles não mereçam, mas seria uma forma de deslegitimar o processo de impeachment. Como julgar a presidente, se seus juízes parecem tão culpados como ela? Eu digo "parecem" por que a inclusão na lista não prova nada, só que o tal político levou uma grana da Odebrérrrt (como diz o William Waack). Pode ter sido propina, pode ter sido doação legal. Mas moral, claro que não é: não é possível que uma empresa apoie os ideais de tantos partidos diferentes, do DEM ao PSOL. A lista, na verdade, é mais um atestado de que a política brasileira precisa urgente de uma reforma.
quarta-feira, 23 de março de 2016
A SOLIDÃO É-DIFÍCIO
E no meio dessa barafunda eu encontrei tempo para ver um filminho francês que está passando discretamente em São Paulo. "Fique Comigo" não é nenhuma obra-prima, mas mereceu sua indicação ao César de melhor roteiro adaptado e ainda traz a diva Isabelle Huppert no elenco. Num horrendo banlieu de Paris, um prédio caindo aos pedaços é habitado por pessoas solitárias. Algumas delas estabelecem relações com um vizinho - ou, no caso de uma senhora de origem argelina, com um astronauta que literalmente cai do céu. O ritmo minimalista e um leve humor negro lembram alguns filmes argentinos. Simpatiquinho.
TINTIN E O PAÍS DO OURO NEGRO
Era mais do que previsível. Depois da prisão de Salah Abdeslam na semana passada, os remanescentes de sua célula terrorista tentariam alguma represália. Principalmente para mostrar que o Estado Islâmico, que está perdendo terreno no Oriente Médio, ainda é capaz de causar um baita estrago na Europa. Também era previsível que os fiscais da solidariedade alheia viessem cobrar, nas redes sociais, a mesma comoção pelos mortos na Síria, no Iraque e na Turquia, em número muito maior. Acontece que os ataques são tão frequentes por lá que quase não são mais notícia. Também é bom lembrar que a causa de toda essa mortandade é a mesma: o radicalismo islâmico wahabbita, que também gerou a al-Qaeda, a Frente al-Nusra e quase todos os jihadistas que matam em nome de Alá. E onde fica o epicentro do wahabbismo? Na Arábia Saudita, o Estado Islâmico que deu certo. Enquanto esse país continuar sendo o maior exportador de petróleo do mundo, não adianta bombardear Raqqa ou apertar os controles sobre os imigrantes. A casa real saudita é a grande patrocinadora da expansão dessa ideologia alucinada, através da construção de mesquitas e escolas mundo afora. Mas quem se atreve a atacar os guardiães das cidades sagradas de Meca e Medina? A única coisa que me consola é saber que o "ouro negro" um dia acabará, e também o poder desse país que, sem ele, é um lixão. Mas até lá acho praticamente impossível evitar atentados suicidas. Lágrimas como as do Tintin vão correr não só na Bélgica, mas talvez - bate na madeira - até no Brasil, que vai sediar as Olimpíadas mas ainda finge que o terrorismo não é com ele.
terça-feira, 22 de março de 2016
COXINHA ROYALE
A crise federal ofuscou no noticiário o golpe de estado ocorrido no PSDB paulistano. O governador Geraldo Alckmin conseguiu impor seu candidato a prefeito, o coxinha royale deluxe com double catupiry João Doria Jr. O dublê de empresário e apresentador de TV jamais concorreu a nenhum cargo público e é uma aposta arriscadíssima para as eleições de outubro. Alckmin não é muito querido na capital: chegou em quarto lugar no pleito municipal de 2008, e sua imagem está desgastadíssima por causa do escândalo da merenda escolar e da ocupação das escolas. Além disso, a coroação de Doria fez com que o pré-candidato Andrea Matarazzo, o vereador mais votado da cidade, simplesmente se desligasse do partido. E dessa forma o páreo se embola ainda mais. Só voto em Doria - que promete liberar a velocidade nas marginais, uma medida assassina - se ele chegar ao segundo turno e seu opositor for o Russomano.
O SENHOR DAS ESPADAS
"O Tigre e o Dragão" causou comoção quinze anos atrás. O épico dirigido por Ang Lee transformou em cinema de arte os filminhos de kung fu produzidos à baciada em Hong Kong. Foi sucesso de crítica e bilheteria, levou o Oscar de melhor filme em língua estrangeira e ainda gerou uma dezena de filhotes. O começo da década passada foi farto em títulos do gênero, até que de repente o fluxo estancou. Mas agora ele ressurge, e via Netflix. Já está disponível desde o final de fevereiro "A Espada do Destino", aa continuação de "O Tigre e o Dragão". O roteiro é bem primário: um bando de gente disputa a posse da tal espada, que daria superpoderes a seu dono (quais poderes seriam esses, já que todo mundo sabe voar?). Esse "Senhor dos Anéis" oriental teve muitas cenas rodadas no mesmo país que a trilogia de Peter jackson, a Nova Zelândia, e os diálogos em inglês também atenuam o sabor local. Mas não faz mal: "A Espada do Destino" é tão espetacular que merecia ser visto numa sala IMAX. Lutas de tirar o fôlego, piadas aqui e ali, e - ainda bem - praticamente nenhuma pregação pseudo-espiritual fazem dessa sequel um programão para quem fica em casa, agora que entramos na entressafra pós-Oscar. Imperdível.
segunda-feira, 21 de março de 2016
OLIVER TWIST
Dilma Rousseff já é freguesa de John Oliver. O programa de sátira política apresentado pelo comediante inglês, exibido no domingo à noite pela HBO dos EUA (e na segunda-feira da semana seguinte pela HBO Brasil) tem tirado o sarro da nossa crise política que a TV de cá não consegue tirar, por medo de processos e queimadas de filme. Como sempre, acompanhar o que acontece aqui dentro pelo olhar de quem está de fora é estarrecedor: como é que a gente aguenta? E não, mortadelas de plantão, John Oliver está longe de ser um coxinho-fascista. Ele tem inegável tendência liberal (no sentido americano, de esquerda) e horror a Donald Trump, seu alvo principal nos tempos que correm. Mas de vez em quando o cara se lembra de nós, oba. Ah, como eu queria fazer um programa assim...
BOM PRA CACHORRO
De vez em quando surge um filme brasileiro sem a pretensão de virar blockbuster internacional, mas onde tudo funciona direitinho: roteiro, direção, elenco. Foi assim com "Estômago" alguns anos atrás, que levou uma penca de prêmios e me seduziu quando o vi na TV. Agora o diretor Marcos Jorge e o roteirista Lusa Silvestre repetem a parceria e o acerto: "Mundo Cão" não tem um fotograma sobrando, e prende a atenção do começo ao fim. A história tem um parentesco distante com o mexicano "Amores Perros", pois também inclui cães ferozes, bastante violência e um acidente de trânsito absolutamente pavoroso. Mas as semelhanças terminam por aí. Como o trabalho anterior da dupla, esta nova obra não tem similares no panorama nacional. E, por ironia do destino, foi lançada no exato momento em que o país está dividido e nenhum dos lados parece ter razão - igualzinho aos antagonistas da trama, muitíssimo bem vividos por Lázaro Ramos e Babu Santana (e que bom ver atores negros fazendo papéis que não foram necessariamente escritos para negros). Mas quem brilha mesmo é Adriana Esteves, num registro totalmente distinto das vilãs que ela vêm encarnando na TV. "Mundo Cão" poderá chocar as almas mais sensíveis, mas é entretenimento de primeiríssima linha. E é brasileiro feito todos nós, esquindô, esquindô.
domingo, 20 de março de 2016
PINGA PINGA
Obrigado, internet, por nos ajudar a atravessar este momento tão difícil. No final da semana passada surgiu o site Lula É Ministro?, que se propõe ser a maneira mais prática e rápida de sabermos se o Jararaca conta ou não com foro privilegiado. Mas aí o Gilmar Mendes impugnou a posse, e como o STF só tem reunião marcada para o dia 30 de março, até lá o site deve permanecer em modo "não". Mais divertida e interativa é a página LulaLeaks, criada pelo site O Implicante. Ali o internauta encontra, em módulos separados e acessíveis, os melhores momentos das gravações feitas pela Polícia Federal. Não sei qual é a minha favorita: se "achei o Osmar Prado velhinho" ou "OoOoOoOo". Amigos DJs, cadê o remix para as pistas que essas falas pingadas merecem?
sábado, 19 de março de 2016
MUD ON YO' FACE, YOU BIG DISGRACE
Tive algumas oportunidades de ver "We Will Rock You" no exterior. Sempre me deixei convencer a ver outra coisa, apesar do Queen ser a célula-tronco do meu gosto musical. Foi minha primeira paixão auditiva e a mais forte até hoje. Talvez por isto mesmo eu hesitasse em encontrar as canções que marcaram a minha adolescência cantadas por gente estranha num palco esquisito. Além do mais, a crítica especializada depredava o espetáculo. E não é que tinha razão? Fui a uma pré-estreia da versão brasileira, e fiquei boquiaberto com a ruindade. Deixa eu livrar a cara do elenco: são todos ótimos cantando (interpretando, nem tanto), principalmente Alírio Netto, o protagonista Mas o resto da montagem deve estar fazendo Freddie Mercury se revirar no paraíso zoroatrista onde ele se encontra agora. O musical é um insulto à memória do vocalista, que de fato adorava musicais (sua maior "ídala" era Liza). O libreto é, sem sombra de dúvida, o pior de todos os tempos: um arremedo de ficção científica e rebeldia juvenil que parece ter sido escrito por uma freirinha inocente para seus alunos "especiais". Os cenários são pobres (chega de tentar aparentar riqueza com telão!) e as coreografias... Só vou dizer que, para "We Are the Champions", ninguém pensou em nada melhor do que atores parados balançando os bracinhos erguidos. Brian May e Roger Taylor vêm se esforçando muito nas últimas décadas para sujar a memória do Queen, e "We Will Rock You" só não é pior que a encarnação da banda com Paul Rodgers nos vocais. Mas o público parece não ligar: a peça ficou 12 anos em cartaz em Londres, teve trocentas montagens ao redor do mundo e deve repetir o sucesso por aqui. Só desagrada mesmo aos fãs de raiz, tipo a rainha aqui.
sexta-feira, 18 de março de 2016
MASSA PARA MODELAR
Vamos falar de coisa boa? No meio da enxurrada de notícias políticas, eis que surge Zach Miko, aclamado como o primeiro modelo masculino plus size do mundo. Depois de estrelar uma campanha para a rede de lojas Target, o rapagão foi contratado pela agência IMG e escolhido como porta-estandarte da nova divisão Brawn (algo como "massa", no sentido de músculos). Miko certamente tem um tipo físico muito mais próximo ao dos americanos comuns, e aposto que faz mais sucesso com mulheres e gays do que os efebos que costumam povoar as passarelas. Eu não desgosto - mas acho que lhe falta um certo sal...
OBAAA, MAIS UM DIA DE DEBATES
Acordei de ressaca. Estou farto da situação política. Talvez seja crise de abstinência: as últimas 24 horas não nos brindaram com nenhum terremoto, só a suspensão (ou não) da posse de Lula. Mas também estou cansado de bater boca com estranhos, aqui e no Facebook. E enojado com a comissão que vai analisar o impeachment na Câmara, recheada de apaniguados das empreiteiras (sem falar da presença augusta de Paulo Maluf, que deve votar a favor do governo). Tenho medo que esse processo corra célere, e que um governo do PMDB enterre a Lava-Jato assim que se livrar do PT. Também me apavoro com a possibilidade do juiz Sergio Moro cometer uma falha fatal. A condução coercitiva e o vazamento do telefonema entre Dilma e o Jararaca geraram dúvidas desnecessárias. Receio que Moro esteja se acometendo do mesmo mal que Lula: achar que a popularidade lhe garante um salvo-conduto para acima do bem e do mal. Hoje ainda tem manifestações pró-governo, e Lula irá à Paulista. Rezo para que ninguém se machuque, porque aí vai ser um pega-pra-capar. Ai, hoje não, vai?
quinta-feira, 17 de março de 2016
BANG
O PT acredita em sua própria propaganda. A militância embarca sem reservas na lenda de que Lula é um líder impoluto e uma unanimidade nacional. As únicas resistências à sua canonização vêm de um grupelho insignificante de coxinhas, orquestrados e segmentados como imagina Jacques Wagner. Três milhões de pessoas na rua não querem dizer nada: é só uma marolinha, facilitada pelo metrô grátis (que não houve) e sem a menor representatividade popular. O autismo do governo fez com que ele embarcasse na arriscadíssima manobra de empossar o Jararaca na Casa Civil, um ministério crucial. Na verdade, bem mais do que isso: Dilma teria abdicado informalmente, deixando que seu caudilho assumisse as rédeas do Planalto. Ou seja, tudo o que as manifestações de domingo urraram que não queriam. O vazamento das gravações telefônicas, que só confirmam que Lula é um sujeitinho desclassificado, empurraram novas turbas para a Avenida Paulista, a frente do Palácio do Planalto e diversos outros pontos do país. Que, se fosse normal, estaria vendo agora a desistência de Lula virar superministro, pela total ausência de condições políticas. Só que a corja não está nem aí. De dentro de sua redoma, tapa os ouvidos e fala alto, feio criança birrenta. Estou triste, atônito e revoltado. Mas, que nem uma dolorosa bolha no pé, essa aí também tem que estourar para ser curada. Vem, na maldade, com vontade, chega, encosta em mim...
quarta-feira, 16 de março de 2016
ONDE JÁ CIVIL?
Eu já não acreditava mais que fosse acontecer. Achei que a delação de Delcídio do Amaral, homologada ontem pelo STF, tivesse gerado uma torta de climão. Também pensei que Lula fosse dar uma de Lula: só iria pensar em sua própria sobrevivência. E, na conjuntura atual, talvez fosse melhor, para seu plano de voltar ao poder, deixar que Dilma se estrepasse sozinha. Para só depois ressurgir montado num cavalo branco, dando uma de salvador da pátria. Mas o medo de uma prisão iminente e, principalmente, a tentação de assumir logo seu terceiro mandato, fez com que o Jararaca aceitasse o ministério da Casa Civil. Justo esse, que exige que seu ocupante leia e escreva um montão de documentos... Enfim, dizem que ele está fazendo um caminhão de exigências. Lula quer trocar todo mundo, da economia às relações exteriores. E Dilma, a durona, abriu as pernas e se deixou gostosamente penetrar. Não pelo clamor das ruas, para o qual ela continua surda: fez exatamente o contrário do que se pediu. Mas por seu próprio criador, o puto que a pariu. Eu já havia aventado a possibilidade da presidente se tornar uma rainha decorativa há alguns meses, neste post aqui. Só não imaginei que ela seria desautorizada dessa forma. O segundo mandato de Dilma morreu hoje, mas não descansaremos em paz.
EU SOU O BIGODON
Ei, eu sou o Bigodon
Te prepara, meu irmon
Se você aperta o on
Vai ouvir meu vozeiron
Ecoar na gravaçon
Que tá lá na delaçon
Eu já fui alopradon
Hoje sou um trapalhon
Quis fazer um acordon
Enfiei os pé pela mon
E a Dilma tá puton
Com razon
Hoje o clima não tá bon
Nem pra mim, nem pro Lulon
Que ia ser um ministron
Só que non
Se você aperta o on
Se você aperta o on
Te prepara, meu irmon
Se você aperta o on
Vai ouvir meu vozeiron
Ecoar na gravaçon
Que tá lá na delaçon
Eu já fui alopradon
Hoje sou um trapalhon
Quis fazer um acordon
Enfiei os pé pela mon
E a Dilma tá puton
Com razon
Hoje o clima não tá bon
Nem pra mim, nem pro Lulon
Que ia ser um ministron
Só que non
Se você aperta o on
Se você aperta o on
terça-feira, 15 de março de 2016
NÃO É A MAMÃE
O que há de errado com a Áustria? O país já produziu Adolf Hitler e pelo menos dois casos escabrosos de mulheres que passaram anos em cárcere privado. Também é de lá que vem Michael Haneke, que dirigiu filmes delicados como "Amour" e angustiantes como "Funny Game". É com este que tem parentesco "Boa Noite, Mamãe", o representante austríaco no Oscar deste ano. Até parece que a Academia ia gostar da história dos dois gêmeos que não reconhecem a mãe depois que ela volta de uma cirurgia plástica, e resolvem torturá-la com baratas, supercola e outras coisinhas mais. O ritmo se arrasta lá pela metade, e as muitas cenas à luz do dia fazem com que o espectador não sinta o menor medo. Mas uma revelação no final dá sentido àquela loucura toda, e eu mudei de opinião. Saí do cinema com a sensação de ter visto um filme ousado, que explora o lado ruim do ser humano - e que é pior ainda quando ele é criança.
JARARACA E RATINHA
Dilma ia aceitar o convite de Lula para ser presidente. Uma presidente ornamental, é claro. No momento em que o Jararaca pusesse o pé num ministério, ele se tornaria o líder de fato da república. E Dilma libertaria sua ratinha interior: um bichinho assustado, capaz de abrir mão do poder de fato para não perder o título e as honrarias. Claro que, ao aceitar uma possível Secretaria de Governo, Lula também estaria assinando sua confissão de culpa, por mais que alegasse que fosse "colaborar". Aí mora outro perigo: se ele exigir um cavalo-de-pau na condução da economia e der ouvidos ao PT, que acha que o crescimento só depende do pensamento mágico, aí nos fodemos de vez. Fora que transformar Lula num superministro é o extremo oposto do que clamaram as ruas neste domingo. Dilma está se fazendo de surda, mas não pode deixar de ouvir a delação premiada do futuro ex-senador Delcídio do Amaral. Homologada hoje pelo STF, ela traz acusações gravíssimas a Aloizio Mercadante, e pode descarrilar de vez o projeto petista de se eternizar no poder. E transformar Lula num ex-futuro superministro.
segunda-feira, 14 de março de 2016
THE 2016
1975 foi um bom ano para a música pop. Gerou clássicos que tocam por aí até hoje, de "Lady Marmalade" a "Bohemian Rhapsody". E marcou talvez o final de uma era em que as fronteiras entre os gêneros eram porosas. Todo mundo ouvia de tudo e as misturas eram frequentes. É nesse espírito que a banda inglesa The 1975 se inspirou para escolher seu nome. Mas o som dos caras não tem nada de nostálgico: ao contrário, é pra lá de atual. Eles acabam de lançar seu segundo álbum, com o título catita de "I Like It When You Sleep, For You Are So Beautiful Yet So Unaware of It".
Algumas faixas soam como versões modernas de grupos como INXS ou Duran Duran, que ainda não existiam em 1975; outras são delírios instrumentais que beiram o experimentalismo. E uma delas, "The Sound", já tem status de hino, pelo menos no meu hit parade pessoal. The 1975 está liderando as paradas lá fora, e seu som ecumênico é um bálsamo para esses dias em que andamos tão divididos.
WE MAKE THE TERROR
Terminei ontem a quarta temporada de "House of Cards", um programa mais do que apropriado para o momento turbulento que vivemos. E achei que dessa vez as aventuras de Frank e Claire Underwood foram as mais plausíveis desde o começo da série. Nenhum dos dois precisa matar mais ninguém com as próprias mãos. Agora as maquinações políticas vêm para o primeiro plano, e é nada menos que fascinante. Os Underwood são vilões por quem torcemos, além do mais porque não há bonzinhos ao redor deles. Cabe dizer também que, além de bem escritos, os episódios foram muito bem dirigidos (alguns deles pela própria Robin Wright): os enquadramentos são belíssimos, quase sempre com um abajur aceso num canto. E o que é a cena final, quando finalmente Claire quebra a quarta parede e se dirige, ela também, diretamente ao espectador? Só com o olhar, é verdade, logo depois de Frank soltar a frase que dá nome a este post. Terror vai ser esperar até o ano que vem.
domingo, 13 de março de 2016
FUI PRA RUA
Quando eu anunciei aqui e no Facebook que iria à Paulista neste domingo, muita gente boa me interpelou. Como que eu me atrevo a desfilar com gente que é pró-Bolsonaro, pró-Cunha e pró-regime militar? Ora, ora, ora. Eu sou antigo o suficiente para ter participado de comícios pelas Diretas-Já, em 1984. Aquelas manifestações eram salpicadas de bandeiras vermelhas, do PT e de partidos ainda mais à esquerda - alguns francamente alucinados. E nem por isto eu me preocupava em ser confundido com algum maluco que quisesse instalar uma ditadura de partido único no Brasil. Sim, havia um pessoal que alertava para o perigo do "cavalo de Tróia". A redemocratização do país abriria a porta aos comunistas! Mas eu não caí nessa, e a história me deu razão. Aliás, jamais me arrependi de voto algum. Não fui enganado pelo Collor (votei em branco no 2o. turno de 1989) e pintei a cara em 1992. Por tudo isto, fui sem conflitos internos à manifestação dessa tarde. Sabia que ia ter maluco, e na verdade não vi nenhum. Sim, tinha bobocas cantando "nossa bandeira jamais será vermelha", tirando o foco da luta contra a corrupção. Mas o fato é que você jamais irá concordar 100% com 100% de um milhão de pessoas. Hoje, praticamente um ano depois da primeira grande manifestação, havia ainda mais gente na rua. E o país está pior em vários sentidos: a economia foi pras picas e as denúncias da Lava-Jato se acumulam. Mas estamos mais amadurecidos, tanto que Alckmin e Aécio foram tão hostilizados ao chegar na Paulista que tiveram que fugir. Eu teria vaiado também.
MEU AMIGO AUTO-INDULGENTE
Hector Babenco é um baita diretor, menos quando o assunto do filme é sua própria vida. Até agora, o único título fraco de seu currículo era "Coração Iluminado", inspirado em sua juventude em Mar del Plata. A ele se junta "Meu Amigo Hindu", que fala do longo tratamento contra um câncer enfrentado por Babanco nos anos 1990. Trata-se de um roman à clef: Maria Fernanda Cândido faz Xuxa Lopes, Reynaldo Gianechini faz Dráuzio Varela, Bárbara Paz faz Bárbara Paz. E é quase tão chato quanto uma quimioterapia. Babanco fez um filme auto-indulgente, que no entanto não conduz o espectador ao processo interno por que ele deve ter passado. Mas será que passou mesmo? Não é visível nenhuma jornada: o personagem que termina curado é o mesmo que adoece no começo, só passou por um probleminha. Também não me ajudou ver os atores brasileiros falando inglês: todos falam bem, é verdade, mas soa falso. Pelo menos Willem Dafoe está fantástico, e "Meu Amigo Hindu" termina com uma cena maravilhosa, com Bárbara Paz dançando "Singin' in the Rain" nua, entregue e precisa.
sábado, 12 de março de 2016
ELLEN DE JANEIRO
Um dos assuntos da semana é o segundo episódio da série "Gaycation", que a atriz Ellen Page e seu amigo Ian Miller fazem para o canal Viceland sobre a viadagem ao redor do mundo. Aí em cima está só uma palhinha: por enquanto, a versão completa das aventuras da dupla no Brasil só pode ser vista aqui. Eles estiveram no Rio e em São Paulo no carnaval do ano passado, e conseguiram dar uma boa ideia do que é ser LGBT no nosso país. Claro que vai ter alguém reclamando que o vídeo não é representativo porque não entrevistaram uma trissexual manca de Alagoas, mas há dois momentos antológicos. Um é a cantada que o Bolsonazi passa em Ellen, que reage com uma cara digna de virar meme. O outro é o encontro com um ex-PM carioca, serial killer confesso de gays. É de gelar a espinha: quantos outros como ele não devem existir por aí?
(obrigado pela dica, Ali Bgs)
sexta-feira, 11 de março de 2016
TELL ME HOW DO I FEEL
Estou exausto. Cheguei ontem a SP tarde da noite, depois de dois dias muito intensos de networking no Rio Content Market. Também estou cansado de escrever sobre política e ter que bater boca com anônimos. Então encerro a semana com esse vídeo que está causando furor nas timelines dos finos e conectados: a clássica "Blue Monday", do New Order, tocada com instrumentos mais clássicos ainda, da década de 1930. Tem até o theramin, um dos meus sons favoritos. Amanhã eu comento o programa da Ellen Page no Brasil. Por hoje é só.
AGENTES DUPLOS
Jandira Feghali foi "acusada" pelo "Sensacionalista" de ser uma agente da PF infiltrada no apartamento de Lula. Pois eu já acho que infiltrados são os três promotores do Ministério Público de São Paulo que pediram a prisão preventiva do ex-presidente. Além de confundir Hegel com Engels e de usar um embasamento frágil, os valorosos homens da lei também têm um péssimo senso de timing. Na véspera de um fim de semana que terá grandes manifestações, eles podem estar fazendo um favor ao PT ainda maior do que a condução coercitiva ordenada pelo juiz Sergio Moro, que ajudou a transformar Lula em mártir. Eu não tenho a menor dúvida de que ele mereça ir para a cadeia, mas não dá para queimar etapas. E juro que não tenho mais saco para ouvir histórias como a de Marisa Letícia não saber usar um decanter, portanto ela tem todo o direito de ganhar imóveis reformados. Este atabalhoado pedido de prisão só vai reforçar o mito - e é exatamente este mito que precisa ser desmascarado.
quinta-feira, 10 de março de 2016
WACHOWSKI RELOADED
Um leitor me perguntou o que eu acho da transição de Lilly Wachowski, que até outro dia era conhecida como Andy. Ela e sua irmã Lana são as diretoras da franquia "Matrix" e da série "Sense8", entre muitos outros trabalhos. A homossexualidade é muito frequente entre irmãos: conheço famílias onde todo mundo é gay ou lésbica. Mas Lilly e Lana são o primeiro caso de irmãs trans de que eu ouço falar (elas não são gêmeas). E o que eu acho disso tudo? Acho ótimo. Good for them. Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. Mais não digo, porque cada vez que eu me atrevo a comentar qualquer coisa sobre os transgêneros, um fenômeno cuja nomenclatura correta para descrevê-lo muda todo mês e com o qual ainda estamos nos familiarizando, as portas do inferno se abrem nos comentários. Então fico por aqui mesmo. Passar bem.
quarta-feira, 9 de março de 2016
VELHO BENEDITO
Às armas, cidadãos! O grito de guerra ecoa pelas redes sociais. A bicharada está em polvorosa com Benedito Ruy Barbosa, que soltou declarações homofóbicas na festa de lançamento de sua novela "Velho Chico". O engraçado é que gay é o que não falta na Globo, principalmente entre os autores de dramaturgia. Benedito foi deselegante com seus colegas e com a própria linha editorial da emissora, que é a mais abertamente pró-LGBT da televisão brasileira. O criador de sucessos como "Pantanal" e "O Rei do Gado" (que, de fato, não tinham um único homossexual entre os personagens) deu aquela desculpa esfarrapada do "tem criança assistindo e os pais não sabem o que dizer", o que em bom português quer dizer homofobia. Mas eu acho o seguinte: não vamos gastar munição com velhinho. Benedito tem 85 anos e vem de uma geração que achava bicha o fim do mundo. Ele está na reta final, e dificilmente vai mudar de ideia. Só que agora manchou sua própria biografia.
CAI O REI DE COPAS...
Estou com uma sensação de fim do mundo. Do fim desse mundo que conhecemos: as notícias se sucedem como uma saraivada de metoros atingindo a Terra. A gente ainda está tonto pelo último que caiu e lá vem outro ainda maior, capaz de extinguir os dinossauros. A delação premiada de Marcelo Odebrecht pode arrastar toda a política brasileira para o ralo. Ele não tem por que proteger os poderosos e amargar quase 20 anos de cadeia, nem está interessado no dinheiro que poderia comprar seu silêncio. Ao mesmo tempo, surge a informação de que Aécio foi mencionado nas denúncias de Delcídio. Então agora essa delação existe, não é, petistas queridos? E Dilma cogita entregar um ministério a Lula para garantir foro privilegiado ao ex-presidente, o que equivale a uma confissão de culpa. Um passarinho cantarola: "Cai o rei de copas, cai o reu espadas, cai, não fica nada..."
terça-feira, 8 de março de 2016
CHEGA DE FLORES
O Dia da Mulher sempre teve um lado meio folclórico, que transforma a data numa versão ampliada do Dia da Secretária. Quem já trabalhou em firrrma sabe como é: em 30 de setembro, os escritórios se enchem de buquês e as personal assistants - que hoje em dia nem são mais só do sexo feminino - se sentem rainhas por 24 horas. Nada contra receber flores, mas o 8 de março não é para lembrar a mulher de como ela é cheirosa e delicada. Acho até que, infelizmente, o Dia da Mulher precisa ser mais politizado, porque nunca foi tão necessário. Nos últimos tempos eu percebi que ser mulher é ainda pior do que eu pensava. As redes sociais deram voz ao machismo presente em toda a sociedade (e não só nas classes mais baixas), e ele é enorme e apavorante. Também surgiram campanhas como a "Primeiro Assédio", e eu fiquei estarrecido em saber que todas as minhas amigas - TODAS - começaram a ser assediadas bem jovens, algumas ainda crianças. Sempre disse aqui no blog que o preconceito contra os gays era um dano colateral de um problema muito maior, a submissão forçada da mulher pelo homem em quase todas as culturas da Terra. Claro que muitos avanços foram feitos: hoje eu trabalho numa firrrma dominada pelo mulherio, em todos os escalões e países. Mas a violência, a desigualdade, a objetificação, tudo isso ainda está bem longe de acabar. Volto a repetir o título de um anúncio que eu escrevi para um concurso em 1993: o Dia da Mulher tem que acabar. Quando houver plena equiparação entre os sexos, ele não terá mais razão de ser. Porque todos os dias serão dias da mulher.
DISCO RISCADO
O que tem de errado com "Vinyl"? A nova série da HBO surgiu de uma ideia de Mick Jagger que foi encampada por Martin Scorsese, também diretor do primeiro episódio. O personagem principal é interpretado por Bobby Cannavale, um ator sensacional que finalmente encontrou um papel à sua altura. Os episódios desvendam os bastidores da música pop em 1973, quando ela ainda era um negócio bilionário - e é uma delícia ver as "participações" de figuraças como Robert Plant ou Alice Cooper, evidentemente vividos por atores. Além disso, a espinha dorsal do programa é a mesma de marcos como "Mad Men" ou "Breaking Bad": um "homem difícil", de moral dúbia e em plena crise de meia idade, se questionando sobre qual rumo a seguir. Mesmo com tantas qualidades, "Vinyl" não me pegou até agora, e já estamos na metade da temporada. Por mais divertidas ou impactantes que sejam algumas cenas, eu simplesmente não estou curioso para saber o que vai acontecer. talvez seja pela relativa falta de novidade: já vimos tanta droga e tanta violência na TV nesses últimos anos que elas não surtem mais o mesmo efeito de antes. Concebida como um longa-metragem para o cinema, "Vinyl" levou mais de dez anos para se concretizar como série. Pelo jeito, chegou tarde demais.
segunda-feira, 7 de março de 2016
VAI TER PAU?
Esta é a dúvida para o próximo domingo. Os manifestantes, pró e contra o governo, vão sair no tapa? A militância petista já mostrou que está a fim de pancadaria. Além disso, páginas não ligadas ao partido no Facebook estão convocando contra-passeatas na avenida Paulista para o próximo dia 13, com o claro intuito de sair na porrada com o pessoal da oposição. Os ânimos andam tão exaltados que Dilma convocou uma reunião de emergência - mais uma - com medo do acirramento. Pois é, quem mandou, não é mesmo? O PT só não gosta do ódio contra ele mesmo. Contra os outros, incentiva e distribui sanduíches. Mas quem ganha com a venezuelização do Brasil?
TERROR PARA EVANGÉLICOS
Eu costumo evitar os filmes de terror como um vampiro evita o alho. Eles simplesmente não me atingem. Parei de me assustar quando eu tinha uns 10 anos de idade, e fugi do gênero depois que ele se transformou num festim sanguinolento. Mas de vez em quando eu me deixo seduzir por alguma crítica boa, e vou conferir seja lá qual for o fenômeno que esteja fazendo as plateias urrarem. O deste momento é "A Bruxa", que tem produção e elenco bem acima do que seus similares. A história até que é engenhosa: a família de um pregador fanático é expulsa de uma comunidade da Nova Inglaterra no século 17. Eles têm tanto medo do demônio que obviamente o enxergam em todos os lugares e, quando vão morar isolados, começam a acontecer coisas estranhas. A ponto de todos se voltarem contra a filha mais velha, que está entrando na puberdade - uma metáfora meio óbvia para o poder da sexualidade feminina, aliás o tema subjacente de qualquer história de bruxaria. Até aí, OK. Mas, para dar saltos na cadeira a cada novo susto, o espectador precisa ser tão crente quanto os personagens na tela. Precisa acreditar que o mal existe à solta por aí, e que as bruxas são uma ameaça concreta. Como eu não creio em nada disto, não consegui embarcar na proposta do filme. Para mim já basta saber que existem fanáticos religiosos de verdade para que eu sinta calafrios.
domingo, 6 de março de 2016
SHOULD OLD ACQUAINTANCE BE FORGOT
A última temporada de "Downton Abbey" conseguiu que eu voltasse a fazer algo que saiu dos meus hábitos: sentar na frente da TV na mesma hora, no mesmo dia da semana, do começo ao fim. E não é que foi um prazer ver esses capítulos finais aos poucos, sem ser de enfiada? O derradeiro foi exibido ontem pelo GNT, e na verdade foi duplo - incorporou o especial de Natal, uma tradição da série. Desconfio que ela tenha se tornado o programa britânico de maior sucesso internacional de todos os tempos, apesar de falar de assuntos tão específicos a seu país. "Downton Abbey" influenciou até mesmo a TV aberta brasileira: a primeira fase da novela "Além do Tempo" tinha muito de sua dinâmica. E agora pare de ler, porque não sei continuar sem spoilers. A reta final foi bastante mansa, sem grandes tragédias ou reviravoltas. Ninguém morreu, nem mesmo lady Grantham, que já devia estar com 183 anos. Um monte de casais se formou na última hora, como nos nossos folhetins. E a história não acabou: simplesmente parou, deixando a porta escancarada para uma futura retomada. Mas será que queremos saber desse futuro? "Downton Abbey" foi um fenômeno porque falava de um tempo que parecia menos conturbado, apesar das guerras, das adversidades e da desigualdade social. A família rica era inacreditavelmente boazinha: a criadagem, fantasticamente submissa. Mesmo assim, o seriado tocou em temas como a emancipação da mulher, a luta de classes, a homossexualidade no começo do século 20 e o avanço inexorável do progresso. Foi uma delícia de se ver e ouvir, além do mais por causa das tiradas ferinas escritas pelo roteirista Julian Fellowes, que trabalhou sem assistentes. Agora ele prepara uma série sobre o mesmo período nos Estados Unidos, "The Gilded Age". Mesmo sabendo que nada acabou, fico cantando internamente como os personagens na última cena. Mas a minha versão é em português mesmo: "adeus, amor, eu vou partir..."
RELISCHISVAICEDSH
Radiância. Efervescência. Relischisvaicedsh. Todas essas qualidades inenarráveis estão em "Zoolander 2", a comédia mais engraçada do ano - pelo menos até que saia o filme do "Absolutely Fabulous". Aliás, a saga do modelo mais deslumbrante de todos os tempos é o mais próximo que a cultura pop americana chegou de "AbFab". Os alvos das risadas são os mesmos: o mundinho fashion, a obsessão por beleza e juventude, o consumismo desenfreado. Se você acha graça nessas coisas, então vá ver "Zoolander 2". Na dúvida, faça o teste e veja se você ri com o clipe acima, que nem está no filme. Eu me borro toda vez.
Cada vez menos gente concorda comigo. O primeiro "Zoolander", lançado em 2001, tornou-se um grande sucesso cult. Essa continuação quinze anos depois talvez tenha chegado tarde demais. O filme flopou nas bilheterias dos EUA, e deve passar batido por aqui. Vou arriscar um palpite para explicar esse fracasso: a moda saiu de moda. Confinada às blogueiras e "it girls", a indústria saiu do "mainstream" cultural e já não repercute mais como antes. Além do mais, futilidade e vaidade não são mais defeitinhos risíveis e comuns a todo mundo, mas pecados mortais que as almas puras devem evitar. Um sinal dos tempos é que o personagem All, umx modelx pansexual interpretadx magistralmente por Benedict Cumberbatch, causou uma pequena polêmica. Está rolando petição de protesto na internet, dizendo que é um desrespeito com as trans - e essa cambada não percebeu que a piada nem é com trans nenhuma, é com dois homens brancos e cis que só falam bobagem. Cumberbatch é só uma das muitas celebridades que fazem aparições-relâmpago em "Zoolander 2". Pisque e você pode perder Madonna, Bruce Springsteen, Susan Sarandon, Willie Nelson, Katy Perry, Ariana Grande e John Malkovich, além de toda a cúpula da moda universal.
Trata-se de uma digníssima continuação da obra-prima de Ben Stiller. Se você nunca viu o original, procure: tem no Netflix. Mas já vou avisando que é só para padalares refinados como meu. Ou como o de Sua Santidade David Bowie, que participou da melhor cena. Só uma palavra para descrevê-la: relischisvaicedsh.
sábado, 5 de março de 2016
JARARACA AOS GRITOS
Lula prega aos convertidos. Seus discursos não procuram convencer quem não o apoia. Ele só quer inflamar as bases. Essa tática dá certo quando se tem folgada maioria. Que o ex-presidente ainda acha que tem: por isto perdeu qualquer prurido em chamar pro pau. Lula, como é de seu feitio, usou termos fortes em sua fala pós-depoimento à PF. Disse que só acertaram no rabo da jararaca, não na cabeça, uma imagem que não é das mais elegantes para quem se quer um estadista de importância planetária. Também foi ridículo ao lembrar sua infância pobre, ou que d. Marisa já era empregada doméstica aos 11 anos de idade - como se isto credenciasse alguém a ter contas pessoais pagas por empreiteiras. O mais irônico é que não faz nem um mês que o PT veiculou uma propaganda clamando por paz e união. Quem se diz "vítima do ódio" porque é xingado em restaurantes não pode justificar que saiam por aí quebrando câmeras de TV. A condução coercitiva pode ter dado um gás à militância petista, mas o plano de poder do partido tem um inimigo muito mais poderoso do que o juiz Sergio Moro: a destroçada economia brasileira.
sexta-feira, 4 de março de 2016
ALETHEIA
Acordei pela primeira vez às seis e meia da manhã, como quase todo dia. Geralmente atendo ao chamado da natureza e volto a dormir. Mas também costumo espiar os e-mails e o noticiário no meu celular. Para quê, não é mesmo? Hoje não preguei mais olho, porque já se falava da Polícia Federal batendo à porta do Lula. Quando finalmente pulei da cama, mais de uma hora depois, o circo já estava armado. E quase pegando fogo.
Não, eu não fico feliz com o que está acontecendo. Pelo contrário: fico com medo. Muito medo. Não há precedente para a Lava-Jato, nem mesmo o impeachment do Collor. Porque naquela época o Brasil inteiro estava contra o presidente. Agora há um racha, mas ainda não dá para saber o tamanho. Imagino que muita gente que antes hesitava agora passou de vez para a oposição. Também imagino que os ânimos petistas estejam mais acirrados do que nunca - imagino nada, estou vendo pela TV que estão. Vai ter quebra-pau no meio da rua? Já está tendo?
Eu nunca votei no PT para a presidência, mas confesso que fico triste com o rumo que tomou o "storytelling" de Lula. Era uma narrativa bonita, apesar de eu jamais ter acreditado nela: o líder operário que veio do nada e atingiu o cargo mais alto da república, onde fez dois governos gloriosos e de lá saiu nos braços do povo. Lula jamais foi essa unanimidade toda - teve que enfrentar segundo turno nas duas vezes em que foi eleito - mas a história ressoava bem. Agora o manto diáfano da fantasia se rasgou, desvelando a nudez forte da verdade. Ou parte dela: nem tudo o que Delcídio do Amaral falou deve ser real, porque o cara é mesmo um falastrão e um bravateiro. Mas um belíssimo dum estrago já foi feito.
O que resta a Dilma? Até a semana passada, eu achava que a presidente poderia dar uma virada. Ela se desfiliaria do PT e convocaria um governo de salvação nacional, chamando luminares de todos os partidos para assumir os ministérios. Mas ela jamais faria isso, e não só porque não tem força política. Dilma tem certeza a-bis-so-lu-ta de que está certíssima. De que sua política econômica está correta, o mundo e a matemática é que estão errados. Agora vive um momento de miséria profunda, porque a merda caiu na água e a água lhe bateu na bunda. Fazer o quê, então? Resistir bravamente? Renunciar? Dar um tiro no coração?
Quero crer que o Brasil esteja sendo purificado pelo fogo. Tomara mesmo que ninguém seja poupado: consta que o PSDB está com o cu na mão por causa da delação de Delcídio, e então que também seja varrido do mapa. Claro que existe muita gente que não gosta do Lula por causa de sua origem e de suas políticas sociais, não dá para negar. Mas também existe quem esteja cansado da maneira brasileira de fazer política, que esteja farto de pagar impostos que viram propinas, que esteja fulo por receber serviços públicos tão ruins a preço de ouro. Há um país que quer nascer, e um outro que se recusa a morrer. Essa briga de foice não pode ser no escuro. Aletheia: que a verdade venha à luz.
quinta-feira, 3 de março de 2016
CHICUNCUNHA
O terremoto provocado pela revista "IstoÉ" ofuscou a que seria a grande notícia do dia: o STF aceitou por unanimidade a denúncia do PGR contra Eduardo Cunha, que agora se torna réu. E isto depois da Comissão de Justiça da Câmara também ter aceito abrir processo contra ele. O curioso é que a desgraça do autoproclamado inimigo no. 1 do governo pode ser péssima para o próprio governo. Sem Cunha a propô-lo, o processo de impeachment ganha legitimidade. Gente que estava meio assim (tipo eu) não vai estar mais. Especialmente se não houver mais o risco desse mosquito em forma de deputado assumir a presidência.
DESSA VEZ EU VOU PRA RUA
Acabei de comprar a "IstoÉ" desta semana, que saiu com dois dias de antecedência por causa da bomba que está na capa. Eu poderia ter lido a matéria no site da revista, mas preferi tê-la em papel. Porque esta edição periga se tornar histórica, como o "Charlie Hebdo" de logo depois dos atentados. A delação de Delcídio do Amaral pode ser a estaca no coração do governo. Eu duvidava que ele chegasse a este ponto, e a rigor não há nada lá de que muita gente já não desconfiasse. Mas essas denúncias, vindas na mesma semana em que o ministro da Justiça foi trocado de maneira atabalhoada e suspeitíssima, serviram como gota d'água no meu copo mental. Eu, que sempre me declarei contra o impeachment, dessa vez vou para a rua no próximo dia 13, e como manifestante. Fui algumas outras vezes, é verdade, mas mais por curiosidade do que convicção. Eu me recusava a fazer parte de um movimento que endeusava Eduardo Cunha e tinha o apoio do Bolsonazi. Também julgava que um processo de impeachment, longo e doloroso, seria um golpe nas nossas insituições. Acontece que as nossas instituicões já vêm sendo golpeadas por dentro, por uma quadrilha sofisticada que pretende se eternizar no poder. Agora ela nem tem mais a desculpa de estar conduzindo o país à bonança econômica: taí a maior recessão desde os ano 30, acompanhada por inflação, desemprego e desinvestimento. Também não cola a argumentacão frequente de que o outro lado também faz merda. Eu não apoio o outro lado: eu quero que todos se explodam, a começar por Geraldo Alckmin. Quero um Brasil mais limpo, que não seja refém de nenhuma corja. Se eu ficar em casa em 13 de março, minha ausência vai ser contablizada como pró-governo. Como eu sou contra, resolvi deixar bem claro de que lado estou. Vem pra rua você também.
ATUALIZAÇÃO: The plot thickens. Delcídio soltou uma nota agora à tarde "não cofirmando" o conteúdo da matéria publicada pela "IstoÉ". O curioso é que ele não repudia nada: apenas "não confirma". Diversas fontes dizem que o acordo de delação premiada existe e já foi assinado, só foi vazado antes de ser homologado. E aí surge a supseita: vazado por quê? Para melar a denúncia, ora esta. A reportagem é assinada pela amante de José Eduardo Cardozo, como afirmam os sites e blogs ligados ao PT. Então, ao contrário do que eles dizem - teria sido "vingança" de Cardozo por ter saído do ministério da Justiça, o que não faz sentido já que ele continua no governo - ela pode ter agido de acordo com seu namorado para, de maneira enviesada, desacreditar Delcídio e ajudar o PT. Hmmmm... Continuo indo para a rua no dia 13.
ATUALIZAÇÃO: The plot thickens. Delcídio soltou uma nota agora à tarde "não cofirmando" o conteúdo da matéria publicada pela "IstoÉ". O curioso é que ele não repudia nada: apenas "não confirma". Diversas fontes dizem que o acordo de delação premiada existe e já foi assinado, só foi vazado antes de ser homologado. E aí surge a supseita: vazado por quê? Para melar a denúncia, ora esta. A reportagem é assinada pela amante de José Eduardo Cardozo, como afirmam os sites e blogs ligados ao PT. Então, ao contrário do que eles dizem - teria sido "vingança" de Cardozo por ter saído do ministério da Justiça, o que não faz sentido já que ele continua no governo - ela pode ter agido de acordo com seu namorado para, de maneira enviesada, desacreditar Delcídio e ajudar o PT. Hmmmm... Continuo indo para a rua no dia 13.
quarta-feira, 2 de março de 2016
SAGRADA FAMÍLIA
Meu ídolo Dan Savage emplacou mais uma. Agora ele tem nada menos do que uma sitcom baseada em sua vida. "The Real O'Neals" estreia semana que vem na TV americana, e conta a história de uma família católica de origem irlandesa bem parecida com a de Savage. O protagonista é o garoto gay, interpretado por um ator idem e inspirado no escritor e ativista. Os conservadores já estão reclamando da série, que parece bem mais ou menos pelo trailer acima. Mas qualquer coisa que tire sarro de religião, seja qual for, já sai na vantagem comigo.
LIVRE, NASCI COMO A BRISA
Há mais de 30 anos que as pessoas bem informadas sabem que Paulo Maluf é ladrão. Há pelo menos uns dez que até seus eleitores também sabem. Isto não os comove, pois ainda caem na esparrela de segurança + grandes obras que o ladravaz divulga há décadas. Tampouco comove a Justiça brasileira, que mantém esse larápio livre como a leoa Elza, apesar das muitas provas em contrário e das condenações no exterior. Hoje a França sentenciou Maluf, sua mulher e um de seus filhos a três anos de prisão. Ninguém irá em cana, claro - este é só mais um vexame para o Brasil, o de hoje. O desta manhã. Mas por que o gatuno permanece intocável? Porque, bem ou mal, Maluf ainda comanda um grupo político. Cada vez menor, é verdade, mas que ainda tem peso suficiente para servir de fiel da balança. Ele já vendeu seu apoio aos tucanos, e hoje vende aos petistas. Em 2014, uma substituição de última hora feita por Dias Toffoli garantiu que Maluf não fosse enquadrado na Lei da Ficha LimpHAHAHAHAHA. Revendo outros posts antigos (como este ou este) que já fiz aqui no blog sobre o bandido, me bateu de novo aquele desânimo ensurdecedor. Um país que não consegue se livrar desse parasita não tem jeito.
(Para os menores de 50 anos: o título do post remete à versão brasileira do tema do filme "Born Free". Ouça aqui na interpretação magistral de Agnaldo Timóteo.)
(Para os menores de 50 anos: o título do post remete à versão brasileira do tema do filme "Born Free". Ouça aqui na interpretação magistral de Agnaldo Timóteo.)
terça-feira, 1 de março de 2016
BRILHA BRILHA ESTRELINHA
Quem é o sucessor de Lula no PT? Claro que não é a Dilma. A presidente só foi inventada para esquentar a cadeira enquanto seu mestre não vem. Mal tinha uma carreira política antes, e depois é que não vai ter mesmo. Por isto, a resposta mais simples para a minha pergunta é... ninguém. Como bom caudilho latino-americano, Lula não preparou ninguém para herdar seu partido. E nem o PT parece muito preocupado com isto, apurado que está com a sobrevivência imediata. Mas deveria pensar a longo prazo, além do mais porque Lula não é eterno. E investir em alguém com ficha limpa e boa aceitação. Em outras palavras, Fernando Haddad. Posso estar erradíssimo, mas não vejo nenhum outro nome se destacando no panorama atual. Só que o prefeito de São Paulo é uma espécie de corpo estranho: a própria Dilma não o recebe em audiência, e volta e meia surgem rumores de que ele estaria pensando em trocar de sigla. Mas, apesar de seus muitos detratores, Haddad parece ter futuro. Por enquanto, só parece: para brilhar ainda mais, ele precisa ser reeleito. Será?
A GLÓRIA DA ISLÂNDIA
Sou a anti-Glória Pires. Vejo quase todos os filmes que estão em cartaz, até mesmo os que vêm da Islândia. Ou principalmente os da Islândia: às vezes, basta uma origem exótica para que eu me interesse. Se vier com uns prêmios no currículo, melhor. É o caso de "A Ovelha Negra", que venceu a mostra "Un Certain Regard" (paralela ao festival de Cannes) do ano passado e representou seu país no Oscar. Trata-se de um longa austero, quase solene, que conta uma história de conotações bíblicas. Dois irmãos idosos criam carneiros em fazendas vizinhas, mas não se falam desde a juventude. Uma doença os obriga a sacrificar seus rebanhos, e acaba reaproximando-os. Contando assim parece a coisa mais chata do mundo, e é um pouco mesmo. Mas também é um filme bonito, muito bem atuado e sem momentos mortos, apesar da lentidão. Mesmo assim, fica o alerta: quem for tipo Glória Pires não vai achar bacana, tampouco acessível.
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