domingo, 31 de janeiro de 2016

NOME NA LISTA


É incrível pensar que os Estados Unidos, onde impera uma liberdade de expressão absoluta, perseguiram gente por causa de suas ideias há pouco mais de meio século. O estrago foi bastante visível em Hollywood: dezenas de atores, roteiristas e técnicos tiveram suas carreiras arruinadas. Um dos casos mais famosos é o de Dalton Trumbo, que chegou a ir em cana só por ser filiado ao partido Comunista. Quando saiu, ele e seus colegas de lista negra não conseguiam mais trabalho. Essa história é contada no filme "Trumbo" de maneira bem quadrada. Bruan Cranston foi indicado ao Oscar, mas faz um pouco de careta demais no esforço para se desvencilhar de Walter White. E Helen Mirren quase o foi, por transformar a colunista de fofocas Hedda Hopper numa versão florida da Bruxa Malvada do Oeste. Dalton Trumbo foi um roteirista genial, que ganhou dois Oscars (sob pseudônimos) e escreveu clássicos como o "Spartacus" de Stanley Kubrick. Ele provavelmente ficaria bem puto com o roteiro caretinha que sua cinebiografia ganhou.

HOW DO YOU SOLVE A PROBLEM LIKE MARIA?

A Virgem Maria é uma invenção relativamente tardia do cristianismo. Os textos originais em aramaico usam uma palavra que pode ser traduzida como "jovem", não necessariamente uma virgem. Além disso, a Bíblia fala em irmãos de Jesus: quem seria o pai deles? A própria Maria é citada poucas vezes nos evangelhos, e provavelmente se espantaria de ter se tornado uma espécie de deusa. O monólogo "O Testamento de Maria" é uma tentativa do dramaturgo irlandês Colm Tóibin, criado como católico, de explorar a mulher comum que pode estar por baixo da santa. A peça causou um certo escândalo quando estreou em Londres e Nova York, além do mais porque levava um abutre vivo para o palco. O diretor Ron Daniels dispensa esse requinte na montagem brasileira, e o substitui por alguns equívocos. Criou marcas inúteis, pôs um músico ao vivo para competir com as falas da atriz, e ainda a vestiu num horrendo macaquinho, digno de dona-de-casa suburbana em dia de calor. Ainda bem que essa atriz é Denise Weinberg. Eu nunca tinha a visto em cena, e fiquei arrepiado. A mulher é um assombro. Dicção perfeita, presença magnética, entrega absoluta. Sua Maria primeiro se irrita com os seguidores do filho, uns "desajustados", depois se horroriza e desespera com o suplício por que ele passa. Agora, vivendo no exílio em Éfeso como uma espécie de prisioneira dos apóstolos, ela desabafa e faz uma confissão de fé, Que não deixa de ser em algo que ela mesma irá se tornar... Mais não conto, tem que ver. Mas é bom ir preparado. Na sessão a que eu fui teve um cara que levantou e foi embora.

sábado, 30 de janeiro de 2016

O MENINO É O MUNDO


Depois que meus sobrinhos cresceram, quase não vejo mais cinema de animação. Nos últimos anos acho que foi só "Frozen" (em DVD), "Divertida Mente" e olhe lá. Por isto mesmo ignorei "O Menino e o Mundo", quando estreou em 2014. Foi preciso que o longa de Alê Abreu fosse indicado ao Oscar e voltasse ao cartaz para atiçar minha curiosidade. É mesmo um filme belíssimo: não há um único frame que não seja deslumbrante, ou que não atice a curiosidade para o que vem a seguir. As muitas técnicas utilizadas se misturam sem costuras aparentes, num fluxo incessante de imagens e sons. Mas não é um filme para crianças. Apesar da censura livre, é mesmo para adultos, e, de preferência, tendendo à esquerda. Porque há momentos bem tristes, denúncia social e um final bem cabeça. A gente basicamente descobre que o menino é o mundo. Não se iludam, não tem a menor chance no Oscar. Mas é um digno representante do Brasil, e um aperitivo do que Alê Abreu ainda fará.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

VENENO ANTIMONOTONIA

Rihanna deu um tapa na cara da sociedade. Depois de acostumar seus fãs com álbuns anuais recheados de hinos dance, ela primeiro ficou um bom tempo em silêncio. Depois, ao longo de 2015, lançou três singles bem diferentes de seu trabalho anterior. Nenhum deles foi incluído em "Anti", mas davam pistas do que estava por vir. E como veio: desde quarta-feira que as internets estão discutindo a estranheza do novo disco. Não tem hits contagiantes, nem beats acelerados. Dá para desconfiar que RiRi se inspirou em divas pós-modernas como FKA twigs ou Jhené Aiko, que constróem mais texturas do que melodias. Também é admirável o fato dela sequer aparecer na capa, desprezando a postura piranhesca comum a tantas cantoras e que ela mesma ajudou a disseminar. Rihanna está indo contra a própria imagem e frustrando expectativas, mas o fato é que "Anti" é muito bom. Tem ideias, tem climas, tem ousadia. Deve ser apreciado aos poucos, com fones de ouvido e mente aberta.

ESPERANDO PELO FILME

Às vezes tenho medo de manifestar entusiasmo excessivo por alguma coisa aqui no blog e acabar gerando a famosa dissonância cognitiva. O leitor vai ver o filme que eu amei de paixão e sai com aquela sensação de "esperávamos mais". Foi o que aconteceu comigo com o "Funny Girl" de Nick Hornby. O livro me foi recomendado por muita gente, e eu já tinha gostado de "Alta Fidelidade", do mesmo autor. O tema, então, não podia me ser mais atraente: os bastidores de uma sitcom inglesa nos anos 1960. Mas a leitura acabou me frustrando - um pouco. Achei tudo fácil demais para a protagonista: sem nenhuma experiência como atriz, ela faz um único teste e ganha de cara o papel principal de uma nova comédia da BBC. Depois disso, sua vida pessoal fica meio de lado, e o foco recai sobre os dois roteiristas da série. São personagens mais interessantes: ambos gays, mas um com mulher e filho, o outro ainda caçando nos banheiros públicos. O romance é todo ilustrado com fotos da época, e figuras reais como Lucille Ball ou o primeiro-ministro Harold Wilson fazem participações especiais. Material de sobra para um bom filme. Que ele venha logo, portanto.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

AS QUE COMANDAM VÃO NO TRÁ

"Metralhadora" é o "Lepo Lepo" deste ano: o provável maior sucesso do carnaval. Pena que a música não seja grande coisa (apesar do bom uso do violino) e o vídeo, uma tristeza. Tem até "prisioneiros" que lembram o Estado Islâmico. Mas talvez seja a tradução do momento que o Brasil atravessa: em conflito consigo mesmo, violento, baixo astral. Que é tão contagioso quanto uma marchinha.

TRIPLO X

A classificação etária de espetáculos nos Estados Unidos usa um sistema de letras: G quer dizer livre, NC-17 significa que menores de 17 anos só entram se acompanhados pelos pais e o raríssimo X indica que se trata de uma obra rigorosamente proibida para menores. Os filmes de Hollywood tentam escapar dessa categoria, que faz mal para as bilheterias. Mas a indústria pornográfica quer é mais, e com dois ovos em cima. Tanto que inventou o tal do "XXX" como chamariz de público. Minha mente é tão suja que eu juro que achei que era a isso que se referia a nova fase da operação Lava-Jato, "Triplo X". Meu marido precisou me explicar que não, o nome é só um joguinho com o apartamento triplex que Lula teria adquirido no Guarujá. Faz sentido, mas a minha interpretação também faz. Por causa da putaria que parece ter rolado na compra desse apê, com uma empresa no Panamá abrindo uma offshore em nome de um laranja. Ah, e a fachada do prédio é tão feia que merecia ser censurada.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

DIVINA DECADÊNCIA

As gerações mais novas não conhecem, mas Divine foi a drag queen mais selvagem de todos os tempos. Alçada à fama nos filmes underground do diretor John Waters, ela fazia coisas em frente à câmera que são difíceis de acreditar (na boa: cuidado ao abrir o link). Divine morreu em 1988 com apenas 42 anos por problemas cardíacos, mas tornou-se uma lenda em sua cidade natal, Baltimore. Agora existe um projeto de crowdfunding para erguer um monumento em sua homenagem. Uma espécie de altar que inclui uma foto da diva e uma pequena escultura de... cocô de cachorro. Coragem, abra o link para entender por quê. Blergh.

EU SOU FEITO PURPURINA

Claro que ver o Bolsonazi atingido por uma "glitterbomb" tem lá a sua graça. Mas fico com a sensação de que o ataque sofrido pelo deputado em Porto Alegre pode causar mais estragos para a própria causa LGBT. A razão é óbvia: agredir fisicamente um inimigo, mesmo com algo tão inócuo, é o mesmo que dar munição a ele. Os ativistas que cometeram o atentado já estão sendo chamados de intolerantes e até de terroristas, e aconteceria a mesma coisa se Jean Wyllys ou outro defensor dos gays tivesse passado por algo parecido. Sem falar que Bolsonaro estava fora da mídia há meses: esse episódio serviu para que ele voltasse resplandecente aos holofotes, e no papel de vítima. Como diz um antigo sucesso de Lucinha Lins, "se uma luz não ilumina não há jeito de brilhar".

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

A CONQUISTA DE TROYE


O som de Troye Sivan não traz grandes novidades. A persona de Troye Sivan traz: com apenas 20 aninhos de idade, esse cantor e ator australiano não só já se assumiu gay como não se furta de usar sua viadagem em canções e vídeos. Como, por exemplo, na trilogia publicada neste post, criada para divulgar seu álbum de estreia, "Blue Neighborhood". Deu certo: com bichice e tudo, o disco já é um grande sucesso internacional. Eu demorei um pouco para gostar, mas agora me rendi. A voz de Troye é agradável, suas músicas são boas e sua própria existência é importante, num cenário pop mais careta do que o de 40 anos atrás. Fora que ele é uma teteia.

THE JOY OF CAPITALISM


Jennifer Lawrence pode estar em vias de se tornar mais um caso de "too much, too soon": alguém que faz sucesso demais, cedo demais. Aos 25 anos de idade, ela já contabiliza uma franquia de sucesso planetário ("Jogos Vorazes"), um Oscar e outras três indicações ao prêmio da Academia. Quase sempre sob a direção de David O. Russell, que vive lhe dando papéis para os quais ela ainda não tem idade. A personagem-título de "Joy" é mais um deles. JLaw está bem, mas não convence totalmente como a mãe divorciada que enriqueceu graças a um esfregão revolucionário (você leu certo). A Joy verdadeira tinha 10 anos a mais quando se passaram os acontecimentos narrados pelo filme, e provavelmente uma carga de vida que Jennifer não consegue transmitir. Além do mais, o roteiro não ajuda muito. É corretinho, acadêmico, uma cena bem encadeada na outra. Mas nunca mergulhamos na cabeça da protagonista, que está em quase todas as cenas. Só ficamos sabendo que ela é "guerreira" e mais nada. O elenco cheio de caras conhecidas ajuda, e não há propriamente um momento chato. No entanto, mesmo com a presença luminosa de Isabella Rossellini, ficou faltando aquele algo mais. "Joy" não passa de um tratado sobre a alegria do capitalismo. A mensagem do filme é só "trabalhe bastante, acredite em si mesmo e fique bem rico". Ahã.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

METADE POR METADE

"Medida por Medida" é a mais escrachada das comédias escritas por Shakespeare. Tem puta, viado, bandido, bêbado, cafetão: é praticamente uma chanchada. Mas o diretor Ron Daniels não enxerga a peça assim. Sua montagem em cartaz em São Paulo desperdiça dezenas das piadas que já vem prontas no texto. Ele também não conseguiu limpar totalmente o vício recorrente dos atores brasileiros quando interpretam o bardo: a fala empolada, grandiloquente, como se as palavras fossem esculpidas em ouro. Mesmo assim metade do elenco está muito bem, como Luiza Thiré (bastante parecida com a avó Tônia Carrero), Silvio Zilber, Felipe Martins e uma irreconhecível Giulia Gam, hilária como a prostituta Bem-Passada. Mas os pontos altos são ofuscados não só pela direção frouxa como por, literalmente, luzes de neon que ficam acesas no palco durante boa parte do espetáculo. Essa "Medida" é boa só pela metade.

domingo, 24 de janeiro de 2016

DESGRAÇAS A DEUS


Se os teocráticos lessem os cadernos de cultura dos grandes jornais, talvez soubessem que "O Novíssimo Testamento" entrou em cartaz. E estariam em pé de guerra contra esse filme que representou a Bélgica no Oscar (e chegou entre os nove semifinalistas, mas não entre os cinco indicados). Porque se trata de uma obra verdadeiramente blasfema, muito mais que "A Última Tentação de Cristo" ou outras que causaram celeuma. Cata aí: Deus não só vive em Bruxelas com a mulher e a filha como é um escroto de marca maior. Sua diversão é ficar mandando desgraças para a humanidade. Até que a menina se revolta e "libera" a data da morte de toda a humanidade. Depois ela vai para o mundo atrás de discípulos, e o pai vai atrás. Mais não posso contar. Só que o diretor Jaco Van Dormael, que nunca fez filmes convencionais, dessa vez cometeu uma obra-prima. Com um roteiro matador, o uso inteligente de efeitos especiais e um elenco que inclui Catherine Deneuve, "O Novíssimo Testamento" é, à sua maneira, um filme profundamente religioso. Pois é nada menos que uma nova fé que o final propõe, baseada no único deus que de fato existe - o amor. 2016 mal começou, e já temos um sério candidato a melhor filme do ano.

sábado, 23 de janeiro de 2016

POR QUE NÃO EXPLODIR PARIS?


Paris escapou sem arranhões significativos da 2a. Guerra Mundial. Não foi bombardeada como Londres ou quase todas as grandes cidades alemãs, e preservou intacto todo seu esplendor. Mas foi por pouco: às vésperas da chegada das tropas aliadas, em agosto de 1944, os nazistas em retirada resolveram explodir tudo. Inclusive quase todas as pontes sobre o Sena, o que provocaria uma enorme inundação e milhares de vítimas. O que eu não sabia é que essa tragédia só foi abortada graças aos esforços de um diplomata sueco, que teve uma looonga conversa com o governador alemão da cidade, responsável por cumprir as ordens de Hitler. Essa conversa gerou uma peça de teatro que gerou um filme, "Diplomacia". O diretor Volker Schlondorff se esforça para tirar a ação de entre quatro paredes, mas nem precisava. O texto é tão bom e os atores tão críveis que eu nem senti o tempo passar (verdade que não dura nem uma hora e meia). "Diplomacia" até tem tiros e explosões, mas está mais para um thriller cerebral.


ATUALIZAÇÃO: Não, "Diplomacia" não retrata um incidente verídico. Os personagens do filme existiram mesmo, mas o diálogo entre eles é totalmente ficcional. Nem mesmo é certo que Hitler queria ter destruído Paris quando da retirada das tropas alemãs. Os nazistas sequer tinham o armamento necessário para isto. Mas "Diplomacia" sobrevive como uma grande peça de ficção que discute temas verdadeiros, como lealdade, obediência e caráter.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

COMO PERDER UM OSCAR


Ah, Charlotte, não faz isso comigo. Há anos que eu te endeuso aqui no blog, e fui dos que mais vibraram com sua indicação ao Oscar - a primeira, aos 69 anos de idade, depois de uma longa carreira cheia de triunfos. Mas agora você enterrou suas chances de ganhar o prêmio para todo sempre. Sua entrevista a uma rádio francesa na manhã de hoje foi desastrosa, com bobagens do tipo "talvez os atores negros não merecessem ser indicados" e um absurdo "no comment" no final. Você talvez tenha se expressado mal, vá lá. Vai ver que queria dizer ser contra qualquer sistema de cotas na votação do Oscar, e nisso estamos juntos. Não acho que um ator mereça ser indicado só por ser negro. Mas o fato é que este ano havia concorrentes negros à altura, você devia ter se informado melhor. Agora estou esperando um esclarecimento, para poder voltar a te adorar.

(Mais sobre este assunto na minha coluna de hoje no F5)

FRAGOROSO

Eu já tinha me espantado com o talento de Thiago Fragoso quatro anos atrás, quando o vi no musical "Xanadu". Nunca imaginei que aquele garoto bonito da TV também soubesse cantar e dançar tão bem, e em cima de patins. Algumas semanas depois ele sofreu aquele acidente horroroso que o deixou de molho por um tempo, mas voltou a brilhar com o histórico Carneirinho da novela "Amor à Vida". Ontem me convenci que Thiago é mesmo um dos grandes: seu desempenho no monólogo "As Benevolentes" é nada menos que sensacional. O texto, baseado num romance de 900 páginas, é dificílimo. O personagem é nada menos que um carrasco nazista, contando como foi capaz de cometer as maiores barbaridades - sem, no entanto, pedir desculpas por ela. A encenação de Ulysses Cruz tem tantas mudancas de tom que faz com que o ato único na verdade pareça vários, relaçados pela iluminação dramática de Caetano Vilela. A peça está em cartaz em SP no Teatro Arthur Rubinstein, que fica dentro do clube A Hebraica (uma locação cheia de simbolismo). Meu único senão é que se trata de um auditório grande demais para um espetáculo que pede uma certa proximidade entre ator e espectador. Escolha um lugar na frente.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

COLBY TUDO

O astro do pornô gay Colby Keller posou para a nova campanha de Vivienne Westwood. Quer ver mais fotos? Clique aqui. Mas já vou avisando: são SFW.

OSCARS SO WHITE

A coisa tá ficando preta para a Academia. A ausência de qualquer ator "de cor" (definição que nos EUA inclui os latinos de qualquer tom) entre os 20 indicados gerou um bafafá que pode ter repercussões no sistema de votação, e não necessariamente positivas. O problema se acentuou porque este é o segundo ano consecutivo onde só há brancos nas categorias de atuação. E não foi por falta de opção: Idris Elba merecia estar no lugar de Christian Bale, e este é só um exemplo. A presidente da Academia, Cheryl Boone Isaacs - que é negra - admitiu que os esforços para aumentar a diversidade entre o corpo votante precisam ser acelerados. Até aí, beleza, porque muito pouca gente é convidada a se juntar a cada ano, e os membros são vitalícios. O que me assusta é a possibilidade de aumentarem o número de indicados por categoria. "Melhor filme" já chegou a ter dez finalistas, e nem por isto a diversidade aumentou. Mais de cinco nominados entre os atores certamente corrigirá injustiças, mas tornará as indicações menos especiais. O Oscar não é um prêmio para crianças com deficiência: não dá para todo mundo ganhar. A graça é justamente ser altamente competitivo e, me atrevo a dizer, imperfeito. O problema é mais embaixo, pois não há espaço para atores "de cor" em filmes de qualidade - e também para diretores e técnicos em geral. Por isto mesmo, gente como Viola Davis migrou para a TV. Nos próximos anos, a Academia pode ter ainda menos escolhas se quiser diversificar seus votos.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

LUTA COMBINADA


Só assisti a uma das trocentas sequências de "Rocky": a primeira, "Rocky 2", numa época em que a franquia ainda era considerada bacana. Mas aquele segundo filme era péssimo, e os que vieram depois rolaram ladeira abaixo. Sylvester Stallone virou uma piada e uma máquina de fazer dinheiro, e seu lutador nunca mais me interessou. Mas agora fui ver "Creed", o spin-off da série, embalado pelas críticas boas e pela indicação ao Oscar de coadjuvante que Stallone recebeu. Bom... não é um filme ruim. Na verdade, ele entrega tudo o que os fãs esperam, assim como o novo "Star Wars" também entrega. Mas o problemas desses dois longas é o mesmo: não há surpresas. "Creed"não possui um único frame que não seja previsível. Além disso, a motivação do protagonista podia ser melhor construída. Filho bastardo de Apollo Creed, o amygo e ryval de Rocky, o pequeno Adonis (fala sério) é criado em orfanatos até a viúva de seu pai vir resgatá-lo e levá-lo para sua mansão. Mas ser criado no luxo não basta: ele ainda guarda um mar de revolta dentro de si e quer lutar, lutar, lutar, mas se recusa a usar o sobrenome paterno. Faz sentido? Não, mas as cenas de luta são bem filmadas, e Michael B. Jordan bem que podia ter sido indicado. Quanto a Stallone, continua canastrão como sempre, mas não dá para negar que se trata de um astro do cinema. Se ganhar esse Oscar, vai ser pelos serviços prestados. Só espero não ter que ver "Creed 2" daqui a alguns anos.

SCOLA DE CINEMA


Com a morte de Ettore Scola, termina a geração dos grandes diretores italianos. Agora já se foram todos: Fellini, De Sica, Antonioni, Pasolini... (Zeffirelli ainda está vivo, mas não acho que faça parte desse time). A longa filmografia de Scola tem pelo menos quatro obras-primas, todas lançadas entre o final dos anos 1970 e começo dos 1980. Duas são francesas: "Casanova e a Revolução", um mosaico da convulsão do final do século 18 vista pelas pessoas comuns, e "O Baile", que já era uma peça de teatro antes de ser filmado. Entre as italianas estão a inescapável "Um Dia Muito Especial", obrigatória para qualquer gay metido a fino, e o meu favorito pessoal, "Feijos, Sujos e Malvados". Curioso que, quando eu vi na adolescência, achei que se tratava de uma comédia de humor negro, cruel e engraçadíssima. Há alguns anos comprei em DVD e levei um susto: tem muita piada, mas no fundo trata-se de um drama engajado sobre uma favela nos arrabaldes de Roma. Como todo grande diretor, Scola fazia filmes complexos, que permitem diversas interpretações. Provavelmente alguns de seus títulos agora estarão disponíveis nos serviços on demand: não perca, fazem bem pro currículo.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

KATAGUIRI TEM CATEGORIA?

O Brasil está em chamas desde ontem, quando a "Folha de São Paulo" anunciou Kim Kataguiri como seu novo colunista na versão online. Respingou até aqui no meu blog: pelo tom dos comentários, tem gente que acha que eu deveria renunciar à minha humilde presença no F5 só para não estar na mesmo veículo que o rapaz, e, quem sabe, cavar uma boquinha nesse órgão pluralista que é o "Diário do Centro do Mundo". Acontece que "Folha" é o jornal brasileiro com maior diversidade entre seus colaboradores: lá escrevem de Reinaldo Azevedo a Guilherme Boulos, de Ronaldo Caiado a Marcelo Freixo. Mas quem gosta de uma ponta do espectro não gosta da outra, e acha que a "Folha" se bandeou totalmente para o lado "inimigo" quando, na verdade, lá tem vozes para todos os gostos. Fora que a maioria desses colunistas não é formada por funcionários do jornal, e sim por "astros especialmente convidados" que recebem por coluna, sem nenhum vínculo trabalhista. Ou seja, ninguém é pau mandado da família Frias ou de quem quer que seja. Agora, o que podemos discutir é se Kim tem katiguria (ai... perdão) para entrar nesse time. Achei bem marromeno seu texto de estreia, e não podemos esquecer que ele já falou barbaridades nas redes sociais. Afinal, é só um moleque de 19 anos. Tecnicamente, um adolescente. Ainda vai mudar muito, e suas posições políticas daqui a dez anos provavelmente não serão as mesmas de hoje. Será que vale a pena ouvi-lo, ou é perda de tempo?

ALÍVIO IMEDIATO

Cerca de 80% dos homens já tiveram vontade de se masturbar no trabalho (e 30% foram às vias de fato). Foi de posse desses dados que a Hot Octopuss, uma fabricante de produtos eróticos, inaugurou a primeira cabine masturbatória de Nova York. Por que, afinal, não fazer no meio da rua o que você pode fazer trancado no banheiro da firma, não é mesmo? A tal da "Guy-Fi" viria com um laptop para o usuário visualizar suas imagens favoritas, mas claro que tudo não passou de um golpe publicitário. Nova York, como qualquer outra grande cidade, já tem caras demais se exibindo em público.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

COITADINHA, PERDIDA

"The Voice" tem dessas coisas. Como na primeira fase os jurados só escutam a voz do candidato e não veem o pacote completo, volta e meia cometem injustiças. Foi que aconteceu com a drag queen Divina de Campo. Ela cantou a ária "Poor Wandering One" da opereta "The Pirates of Penzance" na versão britânica do programa. Ninguém virou a cadeira, nem mesmo Boy George. O júri inteiro achou que era uma interpretação apenas mediana (e era mesmo...). Depois do susto, todo mundo se arrependeu pelas redes sociais. Mas não devemos ter pena de Davina: ela viralizou, e agora está mais famosa do que se tivesse sido aprovada.

PERNAMBUCO É O NOVO IRÃ


E agora o mundo vai cair em cima de mim, porque eu não gostei de "Boi Neon". Devia ter imaginado: afinal, trata-se de mais um filme pernambucano, o Irã cinematográfico brasleiro. Como os longas daquele país oriental, os do estado nordestino costumam estrear cobertos de prêmios e críticas elogiosas. Aí eu vou ao cinema conferir, e quase sempre saio decepcionado. Dessa vez foi a mesma coisa. Apesar do argumento instigante - vaqueiro sonha em ser estilista - simplesmente não há história. Nada sai do lugar, ninguém evolui, zero, picas. Ah, picas tem: Juliano Cazarré jamais se faz de rogado em expor a dele, que aparece numa cena de banho coletivo, noutra onde ele simplesmente a põe para fora e rega o chão, e numa longa sequência de sexo com uma grávida, praticamente explícita. Também há o enorme membro de um cavalo, masturbado pelo ator num bizarro roubo de sêmen. Tirando esses momentos para chocar a burguesia, o que sobra é uma pasmaceira total. Poderia se dizer que o filme retrata a nova classe C, que já consome mais e sonha com mais ainda (o protagonista usa perfume Azzaro, por exemplo). Mas na vida real esse momento dá sinais de ter passado, e na tela ele não se mexe. Eu simplesmente não tenho o chip para gostar de filmes assim.

domingo, 17 de janeiro de 2016

NÃO SEI SE VOCÊ CONSEGUE ENGOLIR

O feio-bonito Adam Driver foi o anfitrião do "Saturday Night Live" exibido ontem pela rede americana NBC, e este esquete de que ele participou foi inspirado nos pornôs gays dos anos 90 . "Vou lhe dar um remédio que cura tudo, mas não sei se você consegue engolir". Dá para perceber que o roteirista pesquisou bastante.

A MARMOTA E A MAÇÃ


Uma das injustiças desse Oscar é a escassez de indicações para "Steve Jobs". A Academia lembrou de Michael Fassbender e Kate Winslet, mas esqueceu do roteiro de Aaron Sorkin, o melhor dialoguista em atividade. Também mereciam desatque a edição e, quem sabe, a direção de Danny Boyle. Esta cinebiogarfia do criador da Apple é muito melhor que o "Jobs" de 2013. Aquele era um filme convencional, que tentava contar todos os episódios importantes da vida de seu protagonista. Este aqui é bem mais ousado e teatral. Sorkin optou por focar em apenas três momentos da vida de seu personagem, sempre nos bastidores de grandes lançamentos: o Mac, em 84; o Next, em 88; e o iMac, em 98. O clima é sempre parecido, com muita tensão e as visitas do mesmo grupo de coadjuvantes. Lembra até o "Conto de Natal" de Charles Dickens, onde o velho Scrooge era visitado pelos espíritos do Natal passado, presente e futuro. Para marcar bem as épocas, Boyle filmou cada segmento de maneira diferente (16 mm, 35mm e digital) e usou trilhas sonoras de estilos também diversos. Tudo isso ajuda, porque de certo modo estamos numa espécie de Dia de Marmota, quando as qualidades e os defeitos de Jobs vêm à tona disparados pelos mesmos gatilhos. O cara era mesmo complicado, talvez mau caráter, e no entanto morreu como um santo que veio dos céus para tornar nossas vidas mais transadas. Mas o filme é mais arrojado do que seus "primos" dessa temporada, "Spotlight" e "A Grande Aposta". Com um trunfo a mais chamado Michael Fassbender. Ele não se parece nada com seu retratado, mas é um astro de cinema em todos os sentidos: bonito, carismático, excelente ator. Esse ano é do Leo, mas aguardemos os próximos.

sábado, 16 de janeiro de 2016

A BOLHA DA VEZ


"A Grande Aposta" surgiu meio que de repente como um forte candidato ao Oscar. O filme não constava em nenhuma lista de prognósticos até sua estreia nos EUA em dezembro. De lá para cá, vem colecionando elogios e indicações. Teve gente dizendo até que era um "Lobo de Wall Street" melhorado. Discordo: a influência de Martin Scorsese é nítida, do tema bem masculino à montagem frenética e descoladex. Mas falta uma certa dimensão humana, talvez pelo roteiro ter sido baseado num livro de não-ficção. A trama acompanha um grupo de investidores (nem todos conectados entre si) que começou a desconfiar que algo ia mal no mercado financeiro, bem antes do crack de 2008. Os caras tentam avisar as autoridades competentes, e ninguém os ouve; resolvem, então, lucrar com a crise. O desfecho não é uma surpresa, pois fala de fatos históricos e recentes. E nenhum personagem cativa a simpatia do espectador, por mais que se esforcem ao expressar dilemas morais. Christian Bale de fato está bem, embora beirando o over. Onde Steve Carell se joga com tudo: ele parecer interpretar o Michael Scott de "The Office" interpretando seu papel no filme. Melhores estão Brad Pitt, discreto e lindo mesmo com o rosto oculto por barba e óculos, e Ryan Gosling, que parece ter se divertido muito em todas as suas cenas. "A Grande Aposta" não deixa de ser militante e traz uma mensagem que não foi bem captada até hoje. Mas não é isso tudo: no quesito filme-testosterona-contra-o-sistema, "Spotlight" ainda é o melhor desta safra.

CINCO TONS DE CINZA

As cinco canções indicadas ao Oscar são plácidas, melancólicas, até tristes. Nenhuma é saltitante como "Happy", que concorreu ao prêmio antes de virar um hit intergalático. Mas é um grupo de qualidade excepcional, que não abre muita concessão ao gosto da patuleia. Só senti falta de "Cold One", do filme "Ricki and the Flash". Mas dificilmente Meryl Streep iria cantá-la no palco do Dolby Theatre: a diva já teve essa oportunidade antes, e recusou. Azar dela, não é mesmo?


Minha favorita, de longe, é "Simple Song #3", do maravilhoso "Youth". E nem é a minha favorita dessa trilha: a glória vai para "Just", composta pelo mesmo David Lang, mas não especialmente para o longa. Fazia muuuito tempo que a Academia não indicava uma canção com pegada erudita (acho que a última foi "Ave Satani", um cântico apavorante do terror "A Profecia", de 1976). O curioso é que esta é a única das cinco indicadas que é de fato interpretada durante o filme - mais do que isso, tem função na trama. E, no entanto, é a única que não tem clipe...

2015 foi o ano do The Weeknd, que explodiu com "I Can't Feel My Face" e ganhou várias indicacões ao Grammy. Mas antes esse canadense já havia emplacado "Earned It" na trilha de "50 Tons de Cinza", que agora também vai levá-lo ao Oscar. É a única sexy das cinco, e mesmo assim ainda é leeenta.
Agora, fúnebre mesmo é "Til It Happens to You". Eu sempre torci por Lady Gaga e fico feliz por ela ter sido indicada, mas esse tema do documentário "The Hunting Ground", sobre estupro nas faculdades, é de chorar. Fora que a performance de Gaga na cerimônia deve ser comedida: aposto que só ela ao piano e olhe lá.


Essa categoria está tão cult que coube até Antony Hegarty, ex-and the Johnsons. Ela também é a primeira pessoa trans a ser indicada depois da transição - antes houve um caso quando o indicado ainda era cis. Sua "Manta Ray", belíssima e de chorar na pia, é de um documentário do Discovery chamado "Racing Extinction". Havia outra concorrente pelo mesmo filme, bem mais animada e cantada por ninguém menos que Sia. Mas só essa tem clipe com fitoplâncton.

Antony bem que podia fazer um dueto com Sam Smith, para lacrar o sistema solar. Quem sabe os dois se cruzam nos bastidores e se animam, já que Smith irá defender "Writing's on the Wall", o tema de 007 mais deprê de todos os tempos. Esses meninos precisam soltar mais a franga, mas pelo visto não será no Oscar.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

FRANCAMENTE, QUERIDA

A revista "W" chamou 29 atores - inlcusive vários dos indicados de ontem - para recriar o diálogo da última cena de "E o Vento Levou". And the Oscar goes to...

MURO DAS LAMENTAÇÕES

Jean Wyllys é um corpo estranho na política brasileira. É um corpo estranho no Congresso, onde chegou por causa de sua fama como vencedor do “BBB” e onde ficou, principalmente, por ser o único deputado federal assumidamente gay do país. Também é um corpo estranho entre os LGBT (me recuso a escrever “comunidade”, tudo o que não somos), que racharam em relação a ele - apesar de Wyllys dar a cara para bater por nossa causa todo santo dia. E agora vemos que ele também é um corpo estranho dentro da própria esquerda brasileira, principalmente entre a ala mais radical onde pontifica seu partido, o PSOL.

A viagem do parlamentar a Israel, na semana passada, atraiu uma saraivada de críticas. Dessa vez elas vieram de seus próprios simpatizantes e correligionários, o que talvez tenha ferido a já calejada couraça de Jean. Mas, na maioria, são lamentações nascidas de uma visão maniqueísta e simplória do mundo.

Israel caminha a passos largos para se tornar a nova pária do mundo, assim como era a África do Sul na época do apartheid. Movimentos como o BDS, que pregam o boicote ao país, estão se tornando mais fortes e mais vocais. Existe, de fato, muita coisa de que reclamar: o governo Netanyahu se aliou a partidos ainda mais à sua direita, impossibilitando qualquer projeto de paz.

É um governo horrível, e também um governo eleito legitimamente. Só que não foi eleito por unanimidade, longe disso: o último pleito terminou sem um vencedor claro, pois a sociedade israelense é mais do que complexa, é complicada. Jean foi para lá consciente de tudo isso, e manteve os olhos e ouvidos abertos. Publicou, em seu perfil no Facebook, seis longos relatos sobre suas experiências, onde dá para perceber que ele voltou tão de esquerda quanto partiu - sem que isto o impedisse de conversar com quem quer que fosse.

Mas para muita gente isso nem interessa, porque a simples notícia da viagem já basta para fazer um escarcéu nas redes sociais. Essa turma já tem ideias impermeabilizadas sobre Israel, e não é uma reles reportagem “in loco” que vai abalar esse pavilhão mental. O próprio fato de Israel ser o único país do Oriente Médio onde os gays gozam de alguma liberdade serviu de munição, pois Jean foi acusado de se prestar ao “pink washing”. Teria ficado tão deslumbrado com a noite de Tel Aviv que não enxergou os horrores sofridos pelos palestinos.

Os textos de Jean sobre sua viagem são lúcidos e mostram que, sim, ele está super bem informado sobre o que se passa em Israel. Agora ainda mais, é claro. Eu estou longe de me alinhar 100% com tudo o que ele prega, mas acho que teria tido reações parecidas se tivesse feito o mesmo roteiro.

O curioso é que, há menos de dois anos, Jean Wyllys foi acusado de ter declarado apoio incondicional ao Hamas, um grupo que o executaria se pudesse. A história era falsa, mais uma, mas é impressionante como o deputado parece ser feito de anti-Tefal: tudo gruda nele.

Jean Wyllys é um corpo estranho, Israel também é. Não se encaixam nas ideias pré-concebidas de ninguém. Claro que esse encontro ia gerar faíscas, ainda que alheias e à distância. Mas a polêmica serviu para conhecermos mais de ambos, e eu gostei do que vi.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

RAINHA CHARLOTTE


Eu estava nervoso com as indicações ao Oscar, por uma única razão: Charlotte Rampling. Uma das minhas atrizes favoritas e uma das mulheres mais lindas de todos os tempos estava cotada para melhor atriz, mas vai saber. Dá que a Academia aceita o argumento de que Rooney Mara e Alicia Vikander são protagonistas e não coadjuvantes em seus respectivos filmes, e deixa a deusa de fora? Mas não. Ufa. Charlotte chegou entre as cinco finalistas, com a solitária indicacão para "45 Anos". Não vai ganhar, porque inglesas de uma certa idade só ganham alguma coisa nos EUA se se chamarem Maggie Smith. Mas uma estrela tão importante para a história do cinema tinha que ser indicada pelo menos uma vez na carreira, se não ia pegar mal para o próprio Oscar. De resto, nenhuma grande surpresa. Algumas alegrias, principalmente pelo brasileiro "O Menino e o Mundo" ter sido lembrado entre os longas de animação (tampouco tem chances, porque o troféu já está reservado para "Divertida Mente"). Também fiquei feliz por Jennifer Jason Leigh nas coadjuvantes, Lady Gaga e "Youth" nas canções, o gol duplo de Sandy Powell nos figurinos. E brochei um pouco com Jennifer Lawrence e Christian Bale, dois atores "overrated" que já foram indicados muito mais do que mereciam. Ah, e também a ausência inexplicável de Ridley Scott entre os diretores. Esta era a chance de finalmente premiar um nome fundamental para o entretenimento contemporâneo, que outro sucesso em 2015 com "Perdido em Marte". Mas acho que os membros da Academia são obrigados por contrato a cometer injustiças todo ano, para render assunto. Pois é, rendeu mais uma vez.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

OU UM MARTELO DE CROQUET

Não vi quase nada de Kate del Castillo, a atriz mexicana que é praticamente a presidente do fã-clube de "El Chapo". Perdi "La Reina del Sur", a novela onde ela fazia uma chefona do tráfico. Mas tem uma cena dela que me causou, aham, forte impacto. É essa aí, o final da 5a. temporada da ótima série "Weeds". Kate fazia - aham (2) - a mulher de um traficante, o tipo de papel que ela nasceu para fazer.

O TAMPINHA

A morte de David Bowie acabou atropelando a minha intenção de comentar no começo desta semana a entrevista de Sean Penn com "El Chapo" ("o baixinho" ou "o tampinha" em espanhol). Só hoje consegui ler o longo depoimento do ator à revista "Rolling Stone" e assistir ao traficante respondendo às perguntas. Penn foi se encontrar pessoalmente como Joaquín "El Chapo" Guzmán em algum lugar no meio do México, mas não participou da gravação do vídeo acima. Só deixou o questionário e se mandou; ainda teve que submeter o material à aprovação do próprio entrevistado, uma prática proibida no bom jornalismo. OK, Penn não é jornalista - só é metido a mais não poder. E a entrevista em si não traz nenhuma revelação nem nada de surpreendente. O chefão do tráfico conta sua infância pobre e diz que não se considera uma pessoa violenta ou má (alguém se considera?). Muito mais interessante que suas declarações anódinas é sua vontade de se expor. "El Chapo" quer produzir ele mesmo um filme sobre sua vida, e é por causa disso que aceitou se aproximar da atriz Kate del Castillo, uma das estrelas mais famosas do México. A moça manifestou pelo Twitter, alguns anos atrás, que confiava mais no bandido do que no governo. Acabou fazendo a intermediação da entrevista, e agora está sendo investigada. Entendo a fascinação tanto dela como a de Penn por um personagem tão sombrio, mas sinto que ambos extrapolaram bastante. "El Chapo" não é Robin Hood, nem a vítima de um sistema injusto. é o responsável por milhares de assassinatos, muitos deles executados a sangue frio por suas próprias mãos. Um vilão a nível global, apesar de ter razão quando diz que o tráfico e o consumo de drogas não precisam dele para acontecer. A ironia é que deve ter sido preso novamente porque a polícia estava vigiando cada passo de Kate del Castillo. Preferia ver um filme sobre essa história de vaidade, ambição e autoengano do que mais um narco-bang bang.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

A BELA E A FERA

Então o Rupert Murdoch vai se casar com a Jerry Hall. Hmmm. Minha primeira reação é, alá mais um véio sendo fisgado por uma modelo-e-atriz. Mas a ex de Mick Jagger não é nenhuma meninota: tem 59 anos, "apenas" 25 a menos que seu noivo. Mesmo assim, ela não deixa de ser um troféu. E ele também: Jerry levou "apenas" 15 milhões de dólares quando se separou do ex de Luciana Gimenez, e Murdoch tem algo como 11 bilhões. Dinheiro nunca é demais, não é mêsss? Fontes fidedignas, no entanto, garantem que os dois se gostam para valer, e quem sou eu para duvidar? O amor é lindo, Jerry Hall continua linda e Rupert Murdoch não deve durar muito. Chupa, Luciana.

NO ESCAPE FROM REALITY

Hoje explodiu uma bomba no coração de Istambul, matando dez turistas e ferindo outros tantos. "Tomara" (põe aspas nisso) que o autor do atentado seja mesmo do Estado Islâmico, para que o proto-ditador Erdogan pare de apoiar tacitamente esses celerados. Agora, se o infeliz for curdo, o Chávez da Turquia vai se sentir empoderado para fazer ainda mais merda. São notícias tão ruins que eu sinto a necessidade de fugir para, por exemplo, mais esse tributo aos 40 anos de "Bohemian Rhapsody". O grupo Shaping Sound criou a coreô há alguns anos e ela pode ser vista na íntegra aqui, com qualidade sofrível. Semana passada as zamigues mostraram essa versão encurtada no programa da Ellen DeGeneres, e lacraram. Eu, pessoalmente, achei melhor que a versão para balé clássico que surgiu em dezembro. Mas talvez o maior hit do Queen não seja mesmo indicado para quem quer fugir da realidade: afinal, a letra diz "mama, just killed a man".

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

ESTRELA SEM FIM


Preciso confessar: eu não estava interessadíssimo em "Blackstar", o último trabalho de David Bowie. O álbum já estava disponível desde sexta-feira passada, mas só hoje eu fui escutar - e apenas por causa da morte do artista. As duas músicas que haviam saído antes do lançamento, a faixa-título e "Lazarus", não me empolgaram muito. As críticas, apesar de positivas, diziam que o disco era basicamente de jazz, o que me dá um soninho incontrolável. Mas acabei sendo dominado pela emoção e finalmente encarei "Blackstar" inteiro. E não é que é uma beleza? Claro que o falecimento de Bowie põe tudo em perspectiva. Agora cada letra vai ser virada pelo avesso, e, como bem apontou o Daniel num comentário do meu outro post, a de "Lazarus" é um testamento e uma despedida (para os não-letrados na Bíblia: Lázaro é um morto que Jesus ressuscita com um milagre). O curioso é que o disco começa difícil e aos poucos vai ficando mais acessível. A última música, "I Can't Give Everything Away", tem uma melodia agradável e uma pegada alegre. Soa vintage, como se fosse do começo da carreira. Bowie já devia estar mais do que conformado: parecia decidido em incorporar sua morte à sua obra, e conseguiu. Agora quero só ver alguém superar uma performance como essa.

THERE'S A STARMAN WAITING IN THE SKY

Como quase todo mundo, acordei com a notícia. Eram quase sete e meia da manhã quando estiquei o braço para conferir o celular. Na tela ainda escura já estava uma notificação enviada pela "Folha". Como assim?? Mas o cara não acabou de lançar um disco? Não foi aniversário dele sexta-feira? Minha primeira sensação foi a de que 2015 não acabou mesmo, pois continua morrendo quem não devia. A segunda, claro - lá se foi um companheiro da vida inteira. Não, nunca conheci David Bowie pessoalmente, e o mais perto que cheguei dele foi num show no Parque Antártica em 1990. Mas ele já era um superstar quando comecei a me interessar por música, aos 13 anos de idade, e era impossível escapar de seu campo gravitacional. Bowie era o máximo dos máximos, numa época onde a experimentação corria solta e o conformismo não predominava no pop como agora. Usava batom e era casado com mulher; fazia música influenciada por negros, e era a pessoa mais branca de todos os tempos; enxergava o que ninguém mais via, apesar de ter um olho só. Influenciou quase todo mundo bacana que veio depois dele, e essa influência se manteve visível por décadas. No começo dos anos 1980, tornou-se um grande vendedor de discos a nível planetário, algo que ainda não era, apesar do imenso prestígio. Os tempos finalmente pareciam ter entrado em sincronia com sua arte. Mas esse período não durou muito. Bowie não embarcava em canoas comerciais, nem abria concessão. Gravou rock, pop, soul, techno, jazz, em parcerias com muita gente. Fazia o que queria, e por um longo tempo não fez nada. Sumiu de cena em 2003 e só reapareceu dez anos depois, com o festejado "The Next Day".  Com o lançamento de "Blackstar" na semana passada, parecia que sua carreira tinha recuperado o ritmo normal. Só que não. Sua morte foi uma surpresa, pois o público não sabia que estava doente. Mas David Bowie não morreu, é óbvio. Não vou resistir ao clichê: ele na verdade voltou para as galáxias. Foi visitar o Major Tom. Virou pó de estrelas. Foi das cinzas para as cinzas. Agora está lá no céu, esperando por nós.

domingo, 10 de janeiro de 2016

OH, CAROL


Está rolando uma ligeira polêmica quanto aos créditos de "Carol". Os produtores estão fazendo campanha para Rooney Mara ser indicada ao Oscar de atriz coadjuvante, e não de atriz principal. A explicação é simples: as chances de Rooney emplacar uma indicação e até faturar o prêmio são muito maiores se ela concorrer como coadjuvante. Só que premiações como o Globo de Ouro não compraram essa tática, e indicaram a moça como protagonista mesmo. Ela já havia ganho o prêmio de melhor atriz do festival de Cannes em maio passado, e muitos comentaristas defendem que ela é a co-protagonista do filme, ao lado da deusa Cate Blanchett. Faz sentido, em se tratando de uma história de amor lésbico. Mas, depois de ver "Carol", eu também fiquei na dúvida. Cate engole a colega em todas as cenas em que aparecem juntas, e é sua personagem quem tem os conflitos mais intensos. Talvez por isto mesmo o longa de Todda Haynes não se chame "Carol e Therese" ( já o nome do livro de Patricia Highsmith onde ele foi baseado é "O Preço do Sal"). Além disso, não me encantei com a atuação de Rooney Mara. Ela está lindinha e evocando Audrey Hepburn, mas não transmite muita emocão. Só fica de olho arregalado o tempo todo, observando e tirando fotos. Vai ver que foi essa relativa passividade que não me fez embarcar na trama. Os figurinos e a reconstrução da Nova York de 1953 são arrebatadores, mas o clima só esquenta no final - e sempre com Cate Blanchett. Saí meio desapontado, porque fui preparado para a-do-rar.

sábado, 9 de janeiro de 2016

ELES ESTÃO DO MESMO LADO

A quem interessa que haja confronto entre a polícia e os black blocs quando acontece uma manifestação? Bico: ao alvo dos protestos. Ao governo. Foi a violência dos black blocs que conseguiu esvaziar a onda de protestos de meados de 2013. O que começou com umas passeatinhas contra o aumento do preço da passagem de ônibus logo se expandiu para um movimento que parecia pré-revolucionário, com meio Brasil nas ruas exigindo mudanças para ontem. Aí, o que foi que aconteceu? Entraram em cena os black blocs, tacando tijolos, quebrando vidraças e atacando carros de TV. A população se assustou e voltou para casa. A mídia, que era simpática aos manifestantes, condenou com veemência. Um ano depois, todos os políticos atacados - Dilma, Alckmim, Haddad, Cabral - foram reeleitos ou viram seus herdeiros vencerem nas urnas. Ou seja, toda aquela energia gasta em 2013 não serviu para nada. Agora ninguém vai esperar o descontentamento do povo ganhar corpo e objetivos. Melhor partir logo pro quebra-quebra, como aconteceu ontem em São Paulo, Rio e BH. Aí fica clara a associação entre manifestantes e arruaceiros, com o apoio implícito de uma polícia obrigada a reagir com truculência. Pois esses black blocs, salvo alguns realmente trogloditas, estão todos a soldo dos poderosos. Todos do mesmo lado, - que não é o nosso.

A BIG CASE OF MISCASTING

Já caiu na rede a entrevista que Wagner Moura deu ontem a Jimmy Fallon. A versão integral pode ser vista aqui ou aqui, com péssima qualidade; no canal oficial do programa só tem o trecho acima, que é praticamente metade de toda a conversa entre os dois. Wagner estava soltinho, com um toque de malemolência baiana, e Jimmy bastante à vontade, o que não costuma acontecer quando ele recebe convidados que não conhece direito (veja, por exemplo, como foi dura a entrevista com a cantora francesa Mylène Farmer). Muito esperto nosso compatriota dizer que foi um erro ter sido escalado para o papel de Pablo Escobar na série "Narcos", pela qual ele concorre ao Globo de Ouro neste domingo. Sei não, mas acho bem possível que Wagner ganhe: a Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood adora surpreender, mesmo com pesos-pesados como Jon Hamm na mesma categoria. Mas o que realmente interessa a Wagner Moura é ficar mais conhecido do público americano, e isto ele já está conseguindo.

(leia também minha coluna de ontem no F5 sobre este assunto)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

LUZ NA SACRISTIA


"Spotlight" não tem firula. Nenhum rodopio de câmera, nenhum truque de edição, nenhuma imagem impactante. A trilha sonora é discreta e a fotografia é quase lavada. Predominam o cinza, o bege, o preto e o branco. O filme inteiro parece, na verdade, um episódio especial de alguma série de TV - daquela época em que série de TV ainda não era a coisa mais cool do universo. Aliás, "Spotlight" não faz a menor força para ser cool. Como diretor, Tom McCarthy é o contrário de Alejandro González Iñárritu; como roteirista, é o anti-Tarantino. Seu longa é mais do que quadrado, é cúbico. Mas é um cubo perfeito, e um digno recipiente do próximo Oscar. A trama não para um segundo, como uma locomotiva correndo nos trilhos. O elenco está majestoso: a imprensa tem falado mais de Mark Ruffalo e Michael Keaton, mas o melhor de todos é mesmo Stanley Tucci, um ator que merecia ser muito mais premiado do que é. E o assunto continua pertinente, mesmo em tempos de papa Francisco. Ou principalmente em tempos de papa Francisco. Um grupo de jornalistas investiga alguns casos de pedofilia em Boston pouco mais de uma década atrás, e acaba descobrindo - of course - que não são poucos nem isolados. Na verdade, não só o Vaticano sabia de tudo o tempo todo, como meio que todo mundo era cúmplice. Numa cidade de maioria católica, quase todo mundo mesmo. Eu, que já reneguei o catolicismo há tempos, saí do cinema ainda mais convencido da podridão da Igreja. Bom cinema serve para isto: primeiro te distrai por duas horas, depois te deixa pensando pelo resto da vida.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

POR QUE NÃO PODEMOS VIVER JUNTOS?

Tell me why, tell me why, tell me why: todo começo de ano é assim, as músicas novas demoram para aparecer. Acho que é culpa do Natal, que faz com que um monte de lançamentos se concentrem no final do ano - o que deixa o começo do ano seguinte à míngua. Então, preciso saciar minha sede por novidades descobrindo coisas que já foram lançadas há meses, mas me passaram despercebidas. Como, por exemplo, "Hotline Bling" do rapper canadense Drake, incluída pela revista "Time" em sua lista das melhores do ano. A faixa é mesmo boa e tem um clipe cheio de mulheres plus size. Mas a pegada é retrô, pois o arranjo nada mais é do que um sample acelerado de um clássico de 1972: "Why Can't We Live Together", do one-hit-wonder Timmy Thomas. Foi trilha da novela "Cavalo de Aço" e uma das primeiras músicas de que gostei na vida. Eu era um garoto da porra, para achar graça nessa combinação minimalista de percussão, órgão e vocal. Só que a letra engajada não combina muito com o clima de inferninho de Copacabana. Não importa: afinal, tudo isso pode viver junto.

DRAG PRINCESS

E lá vamos nós! Quem tá a fim da primeira polêmica trans do ano aqui no blog? O garotinho aí ao lado foi com a mãe a uma loja da M.A.C nos Estados Unidos e pediu para um dos maquiadores trazer à tona a drag queen que já existe dentro dele. O resultado foi beyond fabuloso, mas será que também foi... ético? Vamos por partes. Muitas drags e trans já sabem desde o útero o que são e o que deixam de ser, e é ótimo que esse menino conte com o apoio da mãe para explorar todas as possibilidades. Mas será que haveria tanta gente aplaudindo se fosse uma menina cis que tivesse pedido para ser maquiada? Não estaria meio mundo criticando a sexualização precoce, o mau gosto da mãe cafetina, a exposição desnecessária? Outro dia li um artigo de um psiquiatra que dizia que cerca de 80 ou 90% das crianças que manifestam o desejo de ser do sexo físico com que não nasceram esquecem desse desejo quando entram na adolescência. Ou seja, é preciso esperar pela puberdade para saber se Vavá é mesmo Vivi. Por outro lado... essa drag princess provavelmente crescerá com menos medos do que a maioria de nós, e só pela pose já dá para desconfiar que ele algum dia destronará RuPaul. Bora pros comentários?

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

SÓ EU QUE TENHO A BOMBA H?

Sim, só você
Diferentão
Líder Supremo
Marechal da República Democrática
Secretário-Geral do Partido
Presidente da Comissão de Defesa Nacional
Grande Sucessor
Pai da facção
Rei do camarote
Poderosa que desce, rebola
Afronta as fogosas
Pivô dos ciúmes de Veveta
Choderlos de Laclos
Jon Snow do Oriente
Gratidão

JAQUES VOCÊ ESTÁ DE PÉ

Convém prestar atenção em Jaques Wagner. O atual ministro da casa Civil e ex-governador da Bahia pode estar preparando o terreno para ser - gasp - o candidato do PT nas eleições presidenciais de 2018. Sua declaração de que o partido "se lambuzou" no poder gerou um puta mal-estar entre a companheirada, mas parece querer mostrar ao eleitorado que ele não tem nada a ver com petrolão, mensalão e outras maracutaias. De fato, Wagner desfruta a fama de ter sido um bom governador, e também a de ser um excelente coordenador político. Seu nome não está envolvido em nenhum grande escândalo. Seria um candidato natural... se não houvesse o Lula. Pois é, e o Lula?, pergunta toda a humanidade. O Lula está aí, e até já declarou sua candidatura para 2018. Mesmo que as pesquisas demonstrem sua queda de popularidade, duvido que ele desista só por causa disso. Mas há um outro obstáculo no horizonte: a Lava-Jato. Todos os federais envolvidos na operação não param de repetir que ela está apenas começando, como se soubessem de algo que ainda não pode ser dito. Se Lula for incriminado, ou se sua candidatura for inviablizada por qualquer motivo, o PT pode contar com bem poucos quadros além de Jaques Wagner. Um dos únicos que ainda está de pé.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

OS ROTOS E OS ENSAGUENTADOS

O Irã se revoltar por causa de uma execução na Arábia Saudita é o roto reclamando do esfarrapado. Os dois países estão entre os que mais aplicam a pena de morte, da qual não escapam menores de idade, ladrões de galinha e - dããã - inimigos políticos. Claro que os sauditas sabiam que a execução do clérigo xiita iria eriçar as penas do Irã. Foi um cálculo, para desviar a atenção do população dos muitos problemas internos. São os sauditas que estão inundando o mercado com petróleo barato, para inviabilizar, entre outras coisas, o xisto betuminoso americano e o pré-sal brasileiro. Mas, por causa disso, a renda do reino caiu, e terão que cortar benefícios sociais (como a famosa mesada milionária). A família real vai tentar se manter no poder de qualquer jeito, mesmo que isso provoque uma guerra no Oriente Médio. Dessa vez torço pelo Irã: o país dos aiatolás ainda é uma ditadura teocrática, mas está em vias de se liberalizar e tem uma classe média educada e uma elite sofisticada. Os sauditas não têm nada disso, e ainda são os grandes patrocinadores do wahabbismo, a doutrina que gerou a al-Qaeda e o EI. Podem ganhar essa partida, mas irão se foder totalmente quando o petróleo se esgotar.

(e por falar em Islã, gostou da coleção de véus de Dolce & Gabbana?)

QUEM QUE ELES PENSAM QUE ENGANAM?

Caiu a máscara do chavismo. Não dá mais para repetir que o governo venezuelano respeita a vontade do povo. Ou, como dizia Lula, que há "excesso" de democracia na Venezuela (o ex-presidente acha que basta haver eleições para que haja democracia, um erro primário que muita gente faz). Depois da reação ponderada à derrota nas urnas, Nicolás Maduro e sua turma vêm tentando de tudo para melar o resultado. Aposentaram juízes sem mais nem menos, convocaram um "parlamento comunal", impugnaram três eleitos da oposição para que esta não alcançasse a supermaioria de dois terços. Partiram até para as vias de fato, prometendo para hoje, o dia da posse, um forrobodó nos arredores da Assembleia. Assim como aconteceu outras vezes, dizem que o Exército interveio nos bastidores. Os novos parlamentares estão assumindo sob enorme tensão, mas sem maiores incidentes. Pelo menos o Brasil, que sempre passou a mão na cabecinha dos bolivarianos, dessa vez se manifestou. Ia ficar mal se continuasse calado: o chavismo não consegue mais esconder que é um projeto autoritário.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

EM SUAS PRÓPRIAS PALAVRAS


Assisti a exatamente três filmes de Ingrid Bergman em toda minha vida: "Casablanca", "Assassinato no Expresso do Oriente" e "Sonata de Outono". Foi mais do que suficiente para me dar vontade de ver "Eu Sou Ingrid Bergman", o documentário que acabou de entrar em cartaz. E saí do cinema maravilhado: não só com a vida de uma das maiores estrelas de todos os tempos, como também com a maneira como o longa foi feito. Sim, é uma biografia autorizada. Mas a família garantiu total acesso a seus arquivos pessoais, e olha que Ingrid deixou muita coisa para trás. Além de diários desde que era adolescente e cartas para amigos e parentes, também há léguas de filmes caseiros, registrando momentos importantes e banais. O documentário também inclui depoimentos dos quatro filhos, que foram praticamente abandonados pela mãe e mesmo assim não guardam mágoa dela. A mulher que emerge desse retrato é fascinante, mais ainda do que a atriz. Lindíssima, desafiadora, capaz de dizer a Ingmar Bergman onde ele deveria colocar a câmera. Agora preciso conhecer melhor sua vasta fimografia.

A VAQUINHA E O BREJO

A ideia é meio piada, como o próprio autor admite. Nem por isso deixa de ser um despautério. Para quem chegou agora: a coluna de Ancelmo Góis, no "O Globo", publicou na semana passada uma sugestão de Paulo Betti para ajudar o Brasil a se livrar desse "problema chato de caixa". Dois dias depois, veio esse esclarecimento do petista histórico aí ao lado. A proposta repercutiu negativamente nas redes sociais, claro, e vou repudiá-la aqui também. Essa vaquinha faria sentido se o Brasil tivesse sido atacado por um inimigo externo, ou vítima de uma catástrofe ainda maior que o lamaçal do Rio Doce. Mas dar dinheiro para um governo incompetente, que não sabe sequer fazer conta, é como dar cachaça a um alcóolatra para testar sua força de vontade. Dilma não merece um tostão a mais, porque já provou diversas vezes que não sabe gastar. É por isto que também sou contra a volta da CPMF: não votei na presidente e não vou ajudá-la a levar o país para um brejo ainda mais profundo. Agora, se o pessoal que a apoia quer colaborar com dim-dim, beleuza. Que o façam. Aposto que será um sucesso tão grande quanto o apelo de José de Abreu para que todos comprassem ações da Petrobrás e ajudassem a empresa a se recuperar. Nem o próprio ator comprou.

domingo, 3 de janeiro de 2016

MAIS PARA OITO QUE OITENTA


Tarantino finalmente tropeçou. "Os Oito Odiados" é o pior filme de sua carreira, apesar de ter muitos elementos em comum com os demais. Sangue à pampa, diálogos malandrinhos, reviravoltas mil. Mas dessa vez o diretor errou a mão. A começar pela duração: quase três horas, e os cinemas brasileiros não estão dando o mesmo intervalo que os americanos. Com uma hora e meia a menos, esse "Oito" talvez ficasse divertido e despretensioso como "À Prova de Morte". Mas do jeito que está é quase uma tortura. Porque não há um grande tema de fundo, como o nazismo ou a escravidão. Nem mesmo a cultura pop, como em "Pulp Fiction". Só a vontade de fazer os personagens se matarem entre si. Há boas cenas, é claro, e Jennifer Jason Leigh vai merecer a indicação ao Oscar de coadjuvante que talvez ganhe. Pena que Tarantino, um dos nomes mais influentes do cinema atual, tenha resvalado num pecado básico: o teatro filmado. Claustrofóbico, arrastado, gratuito e bem menos inteligente do que se acha, "Os Oito Odiados" tem jeito de autoparódia. Daquelas bem sem graça.

sábado, 2 de janeiro de 2016

NAT "QUEEN" COLE

Aretha Franklin tinha uma pinimba com Natalie Cole. Achava que a filha de Nat copiava seu jeito de cantar. Chegou até a brincar uma vez, dizendo que Natalie a imitava tanto que seria perfeita para interpretá-la num filme sobre sua vida. Isto não vai mais acontecer, claro: Natalie morreu anteontem, no último dia de 2015, enquanto que Aretha parece mais sólida que o Pão de Açúcar. Não cheguei a me surpreender, pois sabia dos problemas de saúde (alguns decorrentes do uso de drogas) que a moça enfrentava. Até poruqe ela havia sumido dos radares: seu último grande sucesso, um disco em espanhol que ganhou o Grammy Latino de melhor do ano, foi em 2013, e teve zero repercussão por aqui. Natalie meio que construiu sua carreira na sombra do pai, tanto que seu maior triunfo foi aquele dueto inesquecível (principalmente para quem viveu 1991, quando essa música tocava de cinco em cinco segundos). Mas era uma excelente vocalista e uma "entertainer" competente. Eu a vi na primeira vez que ela veio ao Brasil, no comecinho dos anos 80. Mas a imagem que vai ficar na minha memória é "This Will Be", seu single de estreia, uma das canções mais felizes de todos os tempos.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

O QUE EU ACHO QUE VAI ACONTECER

Já fiz uma coluna com previsões fake para 2016 lá no F5. Agora vou arriscar alguns palpites a sério. Respaldado pela minha experiência e sabedoria milenares, estas são algumas das coisas que eu acho que irão mesmo se passar no ano que começa hoje. Seguuura, peão:

- Dilma Rousseff não será impichada. Pelo menos não agora. O Senado vai barrar o processo no nascedouro.

- Por outro lado, a economia vai continuar a piorar. Mais inflação, mais recessão, mais desemprego. A popularidade da presidente vai despencar ainda mais, e isto pode lhe ser fatal.

- Eduardo Cunha será afastado da presidência da Câmara pelo Supremo e, possivelmente, preso pela PF. Sua carreira de improbidades chegará ao fim. Paradoxalmente, isso pode ser ruim para o governo, pois sua saída de cena abrirá caminho para um impeachment descontaminado. 

- As Olimpíadas serão um sucesso. Assim como foi com a Copa, os Jogos transcorrerão sem sem nenhum incidente grave. Mas o Brasil conquistará menos medalhas do que o esperado.

- Sei que vão me xingar de tucano, mas não é wishful thinking: o novo prefeito de São Paulo será do PSDB, qualquer que seja o candidato. Nenhum outro partido é mais forte na capital. Além disso, Datena e Russomano se destruirão mutuamente. E Haddad carrega o fardo do PT. Marta, no PMDB, será ridicularizada... Esta é a previsão da qual estou menos seguro, mas vou arriscar.

- Hillary Clinton será eleita nos Estados Unidos. Seu adversário será Marco Rubio, depois de Donald Trump tropeçar nas primárias. Será uma campanha feia e cheia de acusações, e a sra. Clinton ganhará por pouco. Mas ganhará.

- O Estado Islâmico sofrerá perdas de território consideráveis. Também não conseguirá repor militantes: hoje já perde cerca de mil combatentes por mês, e as adesões irão despencar. Mas isto não quer dizer que os atentados diminuirão. Cometidos pelos chamados "lobos solitários", sem ordens de cima, manterão a Europa em alerta e darão a sensação de que o EI é imbatível. Não é.

- Oscar de melhor filme: "Spotlight". Melhor ator: Leonardo Di Caprio. Melhor atriz: Brie Larson. No final do ano, Adele receberá uma tonelada de indicações ao Grammy. Já o próximo filme da série "Star Wars" não fará tanto sucesso.

Podem vir me cobrar depois.