quinta-feira, 22 de outubro de 2015

FORA DO CALENDÁRIO

A propaganda brasileira se acha muito moderninha e antenada, mas a verdade é que é extraordinariamente machista e homofóbica. Os departamentos de criação, o coração de qualquer agência, são dominados por homens héteros e brancos; mulheres são raras, gays ainda mais. E essa pouca diversidade ficou ainda pior desde que eu comecei minha carreira de publicitário, há mais de 30 anos. Por isto não me surpreende nada que o Clube de Criação de São Paulo tenha incluído em seu Anuário deste ano (a premiação mais importante da publicidade nacional) uma peça claramente transfóbica. Trabalhei com três membros do júri que premiou o "Shemale Calendar": um deles é simplesmente a pessoa de pior caráter com quem eu tive o azar de cruzar caminhos. Por outro lado, a bem da justiça, vale lembrar que as atitudes relativas à transexualidade vêm mudando rápido demais. Os homens da minha geração foram treinados para sentir horror de travestis: havia sempre o medo absurdo de pegar uma mulher e descobrir na hora H que ela tem pau. Mas essa é uma fobia antiga, que não vale mais para os dias de hoje. O CCSP teria a obrigação de ignorar uma peça como esse calendário (que, além do mais, tem toda a pinta de ser fantasma - ou seja, foi criado não para veicular, mas para atrair prêmios). Mas não: apesar de já terem cancelado esse prêmio despropositado e pedido desculpas, nossos publicitários mostraram mais uma vez que o calendário deles parou no século passado.

29 comentários:

  1. E agência e cliente soltando nota de que a inscrição foi um erro e/ou má intenção de alguém KKKKK.
    Como tudo nesse país, faz a cagada, pede desculpa e a vida continua linda.
    Não duvido que estão amando a exposição gratuita, mesmo que relativamente negativa (tenho dúvidas que o público em geral acha mesmo a peça ruim).

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  2. O mio babbino caro
    ...mas a verdade é que é extraordinariamente machista e homofóbica e absurdamente RACISTA, imagino que vc tenha esquecido esse escandaloso detalhe.

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  3. E o Marty Mcfly achando que ia ter skate voador em 2015...

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  4. As agências de publicidade do Brasil pararam no sec passado

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  5. Acho q eu conheço essa pessoa de pior caráter

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  6. Essas peças são a cara dos seus criativos. A maioria das agências não diferem em nada de "Mad Men", por isso não tem ninguém pra vetar esses absurdos.

    Essas peças fantasmas são a coisa mais bizarra. Deixam evidente que essa autoproclamada qualidade da publicidade brasileira só serve pra inflar ego de criativo.

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  7. http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,justica-condena-a-9-anos-de-prisao-jovem-que-agrediu-gays-na-paulista,1783616

    Por falar viu isso?

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    1. Vi e achei ótimo. Nove anos parece um pouco demais para um crime sem mortos nem aleijados, mas imagino que o juiz esteja contando que o réu cumpra apenas um sexto da pena e seja posto em condicional por causa do bom comportamento. E o melhor de tudo: fica o exemplo para os demais.

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  8. Honestamente? Achei o calendário meio tosco. Só isso.

    Por essas e outras que jamais teremos ambiente para uma crítica social mordaz (e genial!) no estilo de um South Park, ou de um Family Guy. Em Pindorama, ou seguimos a cartilha, ou enfrentamos a fúria dos censores de ocasião.

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    1. Censura é um veto governamental.

      Estamos só criticando algo tosco. Só isso.

      Tá adotando o discurso da "ditadura gay" e não percebeu ainda...

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    2. Sim, João, tosco. Fora a evidente leitura 'transfóbica'. A crítica é importante e não deve deixar de ser feita.

      Talvez o que realmente me incomode seja o "não foi bem isso que eu queria dizer", ou mesmo a perda do prêmio. Era isso mesmo que queriam dizer! Que digam para que possamos debater.

      O risco é, em nome do discurso "certo", descambarmos para o famigerado "controle social da mídia". Tem gente no governo que já esfrega as mãos por isso há um bom tempo...

      Sobre o tema:

      http://goo.gl/eW2r38

      (Uma das "vítimas" já fez até B.O. Infelizmente, o sentimento tratado no calendário está aí na sociedade)

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    3. "Limpam" a mídia, mas a sociedade continua doente, a esquerda sempre fingindo que vai mudar o mundo calando quem ela acha que é vilão. Enquanto isso, o foco do preconceito, das mazelas, continua lá, invisível, intocável, assim como o conserto, pois só importa punir a "elite branca" culpada de tudo. Haja compensação histórica pra saciar essa vingança.

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    4. De boa, qual a transfobia?

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    5. Anônimo 15:01,

      Ainda que o calendário não incite a transfobia, o mal gosto da peça está na forma de expô-la.

      Ademais, não acho que um eventual boicote vá mudar a realidade a que a propaganda faz menção. Também não acredito que as pessoas devam ser obrigadas a reconstruir o próprio desejo sexual em função do que diz qualquer militância. Eu, por exemplo, prefiro encarar o diabo a ter relações com mulheres (risos). Entretanto, não as desrespeito, ou agrido, por não se enquadrarem em minhas preferências. Já não podemos dizer o mesmo da maior parte dos homens héteros que se sentissem "enganados", capiche?

      Eis mais uma dessas questões sem resposta fácil. Na mesma medida em que um homossexual não deveria enganar um mulher para se fingir de hétero, uma mulher trans não deveria se passar por cis. Mas há de se levar em conta o sofrimento de assumir-se gay sem estar preparado, ou revelar-se trans a quem acabou de conhecer.

      Ninguém precisa aceitar nada nem ninguém, mas o respeito deve nortear as relações sociais de qualquer povo que se pretenda civilizado.

      Não é fácil, mas quem disse que seria, não é mesmo?

      ;-)

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    6. Também existe o cara que quer uma trans e depois diz que foi enganado, já que os amigos não podem saber.

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  9. Me parece que a publicidade representa para os heteros o que a moda (e nos últimos anos a tv representa para os gays). Também não me agrada a heterofobia do mundinho fashion (expressão mais datada, enfim) que procura deixar mais femininos indivíduos de feições rústicas, colocando saia no Mateus Verdelho ou entupindo de maquiagem o Mariano (da dupla com o Munhoz) até deixá-lo com cara de passiva de buatchy. Acho que os héteros devem sentir a mesma coisa que você sentiu ao se deparar com esse calendário, quando veem os exemplos citados.

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  10. Nao entendi o calendario #burra

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    1. Leia a matéria linkada (o link é a parte em roxo do texto). Lá você vai ver que as fotos do calendário são todas de travestis. O anunciante é um fabricante de autopeças e a assinatura da peça diz o seguinte: "Se não é original, mais cedo ou mais tarde você sente a diferença".

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    2. E tem os RGs das respectivas trans com seus nomes de batismo.
      Não sei nem se elas são parcialmente culpadas ou se realmente não tiveram muita escolha. Trans já é um grupo übermarginalizado e sem opções.

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    3. A possível resposta a isso está no artigo:

      "Segundo apurou o Buzzfeed, a modelo Rafaela Manfrini desconhecia o teor da campanha. Afirmou ainda que a foto do documento foi masculinizada e nome foi alterado.

      Realmente só descobrimos tudo quando o calendário saiu. No auge das emoções, não nos sentimos tão ofendidas! Estamos acostumadas com coisas piores”

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  11. Tony vc falou que os homens tem medo de descobrir que a mulher com quem ele saiu tem penis, so se for antigamente...pq atualmente por baixo dos panos e principalmente no interior os caras saem com gays ( a cultura do so é gay quem faz passivo) eles arriscam pegar no penis do passivo, beijam na boca ..mas fica bem definido quem sera o "homem" /macho da relacao... na minha cidade natal tem uma travesti jovem e bonita ( todos os caras da cidade ja fizeram ela, mas ninguem assume) AS PESSOAS FALAM O QUE PENSAM, MAS AGEM COMO SENTEM (e a uma disparidade muito grande entre uma coisa e outra)

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  12. Radicalismos à parte, acho o fim quererem enfiar goela abaixo que pessoa trans é igual a pessoa não trans (nem sei que termo usar ja que os ativistas se apropriaram de todos e decidiram o que é o que).
    Acho que trans que quer se passar por não trans tem sérios problemas inclusive de etica e caráter.

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    1. Mulher trans é mulher. Se não gostou, então procure outra pessoa.

      Pelo seu raciocínio, um cara com pau pequeno também é mau caráter. Uma pessoa infértil também. Ou até alguém que manda mal na cama.

      Pessoas são. São e ponto.

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    2. Sua linha de raciocínio é tão equivocada e infantiloide que dá pena de saber que uma pessoa pensa assim e ainda defende essa patetice.

      O seu mundo imaginário sem gêneros não passa de um delírio sem ética e com mentiras. Por ser viadinho, acha que o mundo inteiro tem que se pautar pela sua conveniente maneira de idealiza-lo.

      Por causa de asneiras assim que os evangélicos radicais estão se dando bem, porque é mole ridicularizar essas bobagens pelas quais uns perdem tempo e gastam dinheiro público.

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    3. Tony, acho que você não deveria aceitar comentários homofóbicos.

      Querido, argumentum ad hominem não é válido. Quando você discutir com alguém, traga argumentos racionais e não ofensas pessoais. Se eu sou viadinho, você deve ser mais um enrustido que toca uma bronha sonhando em ser comido, mas nunca vai fazer isso, porque tem medo. No fim, o medroso viadinho é você.

      Eu penso como qualquer liberal pensaria: isso não é assunto de Estado. Saiu com uma trans e não sabia? Bola para frente. Se tá ofendido, faz terapia.

      Beijão!

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  13. Tony, uma dúvida sobre algo que ninguém reparou ou tocou no assunto... Lá no cantinho inferior direito do calendário tem estampado o símbolo da ABGLT. Esse fato, pelo que sei, indica a que a associação apoiou (verdadeira ou forjadamente) esse calendário. De uma forma ou de outra, ela cometeu uma falha grave por não verificar o conteúdo do informe publicitário antes do mesmo sair em sua versão final ou por não processar o autor do informe por uso indevido de seu nome e símbolo.

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