domingo, 23 de agosto de 2015

NÃO ME CATIVOU


Saímos de casa com o firme intuito de ver "Linda de Morrer", a nova comédia boba da Glória Pires. Mas o meu Alzheimer está avançando e eu me confundi com os horários das sessões. Chegando ao cinema, o único filme que vagamente nos interessava e começava naquele horário era "O Pequeno Príncipe". Digo vagamente porque eu nunca li o clássico de Saint-Exupéry. Ele era conhecido como o favorito das misses quando eu era pequeno, e como miss era uma coisa beyond cafona, achei melhor não. Mas meu marido guarda uma boa lembrança, portanto lá fomos nós. E nos arrependemos amargamente. Sim, porque o que está em cartaz não é "O Pequeno Príncipe": é uma história chatíssima de uma menininha com uma mãe workaholic, que a obriga a estudar sem parar. O que a faz descobrir o personagem é um velho aviador que mora na casa ao lado, meio que o próprio Saint-Exupéry. Como se o escritor não tivesse desaparecido com seu avião no mar durante a 2a. Guerra. Aí entram cenas do principezinho em seu planeta, com uma técnica de computação tão sofisiticada que eu jurava que era stop motion. Mas é muito pouco e, para estragar de vez, o roteiro deturpa a mensagem original. Que não é sobre manter acesa a chama da infância dentro de nós: isto é "Peter Pan". "O Pequeno Príncipe" é muito mais complexo - é sobre a morte, a solidão, a sabedoria, as transformações (não, não li o livro, mas sei do que se trata, e sei citar muitas passagens). Como se não bastasse, a animação da história principal, que toma uns 80% da duração, segue o mesmo estilo de traço da Pixar, com pessoas de olhos enormes. Uma traição e tanto aos desenhos de Saint-Exupéry. Tu te tornas responsável por aquilo que cativas: como meus leitores se tornaram importantes para mim pelo tempo que gasto com eles, recomendo a todos que mantenham distância dessa joça. Ou deixem-se morder pela serpente.

9 comentários:

  1. O mio babbino caro
    Tá bom!

    ResponderExcluir
  2. Assisti na sexta e o maior problema é ele querer esmiuçar muito o que não precisa. Hoje em dia todo mundo precisa receber tudo mastigadinho não é mesmo? Mas quanto à técnica de animação, aquelas cenas são em stop motion sim, Tony. Salvo engano, estas foram animadas na França, enquanto as cenas em cgi, no Canadá. ;)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Mas ali tem CGI sim, porque stop motion não consegue fazer panos esvoaçantes como os que aparecem nas cenas.

      Excluir
    2. O que não quer dizer que o filme inteiro seja em cgi.

      Excluir
  3. Nos anos 80 teve um desenho animado japonês que também era mais sobre o Pequeno Príncipe viajando pelo espaço do que sobre a mensagem do livro. Também com os típicos olhos esbugalhados de animê.

    Aliás, aquele outro filme do Pequeno Príncipe dos anos 70 também era um desastre. O livro não tem história pra um filme de 2 horas. Deviam desistir de adapta-lo pro cinema.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O desenho animado fugia um bom tanto do livro mas era bem legal.

      O filme foi mesmo um desastre.

      Excluir
  4. a unica coisa positiva desse filme é que eles aproveitaram a a versão de Somewhere Only We Know da Lily Allen, que ficou bem mais suave do que a versão do Keane. ela cantou no Canal Plus e a apresentação é perfeita, eu preferiria ver um filme desse comercial do que esse filme, realmente não gostei, nem tanto pela sua critica,
    detalhe que o comercial e em stop motion e é bem bonito de se assistir https://youtu.be/mer6X7nOY_o

    ResponderExcluir
  5. Sou observador e uma só observação sua me convenceu e me representa também "a animação da história principal, que toma uns 80% da duração, segue o mesmo estilo de traço da Pixar, com pessoas de olhos enormes. Uma traição e tanto aos desenhos de Saint-Exupéry." OLHOS ENORMES diz tudo sobre essa grife PIXAR e acrescento mais: aqueles cabelos duramente crespos ou planamente lisos que não tem efeito que dê jeito ou maleabilidade, haja software de condicionador pr'aquilo parecer natural... Convenceste-me, sem mais.

    ResponderExcluir