sexta-feira, 31 de julho de 2015

HAVAS NAGILA HAVAS


Voltei a me encantar com uma voz feminina depois de um bom tempo só ouvindo marmanjos. A responsável pela minha cura gay auditiva é a britânica Lianne La Havas, filha de pai grego com mãe jamaicana. O som dela não traz novidades, mas é perfeito para se ouvir rolando entre lençóis. E o mais legal é que, apesar de possuir um vozeirão, a moça não é adepta da escola "The Voice". Não precisa urrar para mostrar que canta bem, o que já é um alívio.

TOCHAS E ANCINHOS VIRTUAIS

"So You've Been Publicly Shamed" é um dos livros mais importantes do ano, porque fala de um fenômeno típico da nossa era: o "tribunal da internet", um assunto recorrente na minha coluna no F5. O jornalista britânico Jon Ronson descreve com humor e leveza alguns casos que quase terminaram em tragédia. Como o de Justine Sacco, que tuitou uma piada que podia ser lida como racista antes de embarcar num voo para a África do Sul. Quando ela desembarcou 14 horas depois, seu nome era o "trending topic" no. 1 do planeta, e ela já havia perdido o emprego. Há também o cara que contou uma piada machista para um amigo e foi ouvido e fotografado por uma mulher. Ela postou a gracinha no Twitter; seguiu-se um furor sacrossanto e o tal do cara também foi demitido. Mas aí os amigos dele partiram para o ataque à mulher, e seguiu-se um novo furor e uma nova demissão. Ronson analisa os antecedentes dessa sanha moralista  e volta aos pelourinhos, usados até o século 19. Também entrevista gente que deu a volta por cima e profissionais de empresas especializadas em limpar reputações, um negócio que está bombando. Mas ele não chega a formular uma hipótese sobre esse comportamento de manada, que faz com que de repente todos nós nos sintamos autorizados a avancar com tochas e ancinhos virtuais sobre uma pessoa que nem conhecemos (o exemplo da semana é o dentista que matou o leão Cecil: pelo menos neste episódio há uma vítima concreta). Por outro lado, há uma informação interessante e que merece ser lembrada. Pessoas que alimentam fantasias assassinas (e quem não alimenta?) geralmente têm por suas vítimas imaginárias não ladrões ou estupradores, mas os malvados que as humilharam no passado - patrões, professores e "bulliers" em geral. De vez em quando alguém concretiza esses delírios, como o maluco que abriu fogo alguns anos atrás na escola carioca onde estudou. Então, cuidado na próxima vez que você for zoar alguém nas redes sociais. O recalque é a mamadeira dos "serial killers".

quinta-feira, 30 de julho de 2015

OS PALESTINOS DA TURQUIA

E do Iraque, do Irã e da Síria. Uma carta na "Folha" de hoje, assinada por um leitor de nome curdo, dizia isto. É verdade: o Curdistão é a maior nação sem estado próprio do mundo. Enquanto os árabes se dividem entre fronteiras inventadas como as de Jordânia ou Kuwait, sem o menor embasamento histórico, os curdos se espalham por quatro países que, em diferentes graus, são hostis a eles. A Turquia, por exemplo, está usando a desculpa do Estado Islâmico para bombardear os curdos que têm em seu sudeste. E quase ninguém reclama no Ocidente. Nenhum Roger Waters conclama boicote, nenhuma ONG moderninha fala em apartheid. Aliás, essa colher de chá é dada a quase todos os países muçulmanos, que têm carta branca para oprimir à vontade suas minorias. O Irã persegue curdos e azeris, o Qatar e a Arábia Saudita tratam mal seus xiitas, o Egito reprime os cristãos coptas, o Sudão mata seus negros animistas e assim por diante. Mas são causas sem o glamour de Israel versus Palestina. Ninguém está nem aí para elas. E é mais divertido encher o saco do Gil e do Caetano.

MANDA JEANS

A Calvin Klein chegou ao Brasil no final dos anos 80 com uma série de comerciais estilosíssimos, todos em preto-e-branco. Um deles foi tirado do ar porque o modelo dizia que, quando crescesse, queria ser vagabundo. Queria ver os censores terem um enfarte com essa nova campanha da marca. A verdade é que a Calvin Klein honra seu DNA: sua propaganda sempre desafiou os limites de cada época. E o próprio Calvin (que hoje não tem mais ligações com o império que fundou) sempre encarou a homossexualidade de frente, inclusive a própria. Fora que é bárbaro alguém celebrar o sexo casual e imediato, sem ter que lembrar que o amor é belo etc. etc.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

OS PRÓXIMOS FUMANTES

A morte do leão Cecil no Zimbabwe pode servir para alguma coisa: a estigmatização defintiva dos caçadores. Está mais do que na hora deles serem tratados com desprezo pelo resto da sociedade, mesmo aqueles que seguem a lei rigorosamente. Fumar também não é ilegal, e no entanto há décadas que os fumantes se tornaram uma espécie de párias. O resultado é que o fumo caiu drasticamente em todo o mundo ocidental, e hoje ninguém mais discute se ele é realmente tão nocivo assim. A caça é um bicho diferente. Acontece longe dos centros urbanos, é praticada por um número muito pequeno de pessoas e geralmente não "incomoda" ninguém. Só quando morre um animal carismático como Cecil. O simples fato dele ter um nome já muda tudo de figura: não é mais um leão qualquer, é um personagem, com história e personalidade. É um Simba, um Mufasa, alguém que a gente conhece desde que éramos pequenos, apesar de só termos ouvido falar dele esta semana. Para piorar, o dentista Walter Palmer caça grandes animais há muitos anos, e já gastou fortunas para liquisar leopardos e rioncerontes. O cara se tornou o novo inimigo no. 1 da humanidade e está sofrendo o diabo na internet, mas dessa vez acho bem feito. Não entendo o prazer da caçada e não acho que seja esporte. Creio que devia simplesmente ser proibida no mundo inteiro, ponto. Ah, e antes que me apontem o dedo: não, não sou vegetariano. Como carne e gosto. Mas matar um bicho para comer é totalmente diferente do que matar por prazer.  Já vai longe o tempo em que até meu adorado Tintin cometia barbaridades contra os animais, mas ainda falta muito a se fazer. Tomara que este episódio trágico marque uma mudança na opinião pública e que a caça, qualquer tipo de caça, seja vista com maus olhos.

ESTE ANO EU VOU SAIR DE BUDA


As animações e quadrinhos japoneses chegaram um pouco tarde na minha vida para que eu virasse fanático por eles. Mesmo assim, procuro ver todos os filmes importantes do gênero que estream por aqui, principalmente os do lendário Studio Ghibli. Agora está em cartaz "O Conto da Princesa Kaguya", que foi indicado ao Oscar da categoria. Não é um conto de fadas à moda ocidental, com curva dramática e final feliz. Mas é uma linda meditação sobre vida, morte e renascimento. Um filme profundo e religioso, mas sem proselitismo - o próprio Buda faz uma aparição deslumbrante, mas em nenhum momento os personagens se dizem budistas. Com duas horas e quinze minutos, "Princesa Kaguya" é longuíssimo para um desenho animado. Mas o ritmo não é lento: está sempre acontecendo alguma coisa. E as imagens, produzidas quase inteiramente a lápis e só com um tiquinho de computação, são de cair o queixo. Há uma cena de perseguição digna de entrar para a história. Analógico e delicado, o filme é um antídoto à maré de bichinhos histéricos e robotizados vindos de Hollywood. Encare como se fosse uma cerimônia do chá.

terça-feira, 28 de julho de 2015

PHYSIQUE DU RÔLE

Digamos que você seja o diretor de casting de um filme sobre um grande escândalo político e financeiro. Sua tarefa agora é encontrar o melhor ator para um dos papéis principais: o megaempresário poderoso e corruptor, um dos vilões da trama. Quem você escolheria? Reginaldo Faria, Hérson Capri, José de Abreu... Jamais que um personagem desses iria para alguém como Marcelo Odebrecht. O presidente de uma das maiores empreiteiras do mundo simplesmente não convence nessa função, porque não tem o physique du rôle. Ele tem é cara de professor de escola pública, de contínuo de repartição, até de militante sindical que sujaria a toalha de linho de sua mulher e pediria Marmitex. Em português claro: Marcelo Odebrecht tem cara de pobre.

DOIS CARINHAS

Tem gente que se irrita quando alguém recomenda uma música que descobriu online. Então eu vou seguir o exemplo da Preta Gil e fazer exatamente o que esse povo não gosta. Meu achado da semana é a dupla americana Ratatat, que faz pop instrumental com largas doses de eletrônica e guitarras que lembram o Queen. O álbum "Magnifique" faz jus ao nome. O clipe abaixo tem pouco mais de um minuto, mas você não é obrigado. Volta pro Candy Crush e desculpaê, foi mal.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

GOOGLE-

Os boatos sobre o fim do Google+ vem circulando desde o começo do ano. Hoje saiu a notícia de que o Google irá "migrar" todo o conteúdo de sua mal-sucedida rede social para outros produtos, o que significa que o Google+ já caiu do telhado. Por um lado, é uma pena. Quem usa costuma dizer que o Google+ é muito mais clean, prático, inteligente e melhor frequentado que o Facebook. Por outro, quem usa? Não conheço uma única alma que visite assiduamente essa mídia natimorta. Eu mesmo tenho perfil lá, mas até hoje só entrei para aceitar pedidos de amizade (não devo ter nem 100 amigos lá, enquanto que no Face já passam de três mil). O Google tentou de tudo para deslanchar sua rede. Obrigou os usuários de outros produtos a abrir conta lá e até matou o Orkut, na esperança de que seus órfãos buscassem guarida. Não rolou. Apesar do marketing maciço, o Google+ sempre pareceu uma festa onde os convidados não foram, mais flopada que a do Joe Jackson. Não vai fazer falta.

A GENTILEZA DE ESTRANHOS

Eu tinha uma lacuna no meu currículo de pessoa culta e cosmopolita. Nunca havia assistido a uma montagem de "Um Bonde Chamado Desejo", uma das peças mais importantes do século 20 - nem mesmo uma adaptação para o cinema. Este vácuo se fechou ontem, quando eu vi a incrível montagem em cartaz em São Paulo. O diretor Rafael Gomes (que também assinou uma nova tradução) fez um espetáculo intenso, cujas duas horas sem intervalo passam feito um bólido. O cenário engenhoso e o elenco competente também ajudam bastante (apesar de Du Moscovis não exalar a sexualidade brutal que Stanely Kowalski requer - imaginei Juliano Cazarré no papel). Mas quem brilha mais que tudo é Maria Luísa Mendonça, que nasceu para fazer Blanche Dubois. Agora que ela está na idade certa, é uma explosão. Loucura, tesão, fragilidade, esnobismo, todas as camadas da personagem estão lá. E a famosa frase que encerra o texto de Tennessee Williams - "eu sempre dependi da gentileza de estranhos" - é rebatida com um final angustiante e cheio de energia, que faz a plateia urrar. Quem quiser ver tem que correr: a temporada acaba no domingo que vem. É uma porrada.

domingo, 26 de julho de 2015

MULHERES SEM EIRA NEM BEIRA


O mais impressionante do filme francês "O que Querem as Mulheres" é o fato dele ter sido escrito e dirigido por uma mulher, Audrey Dana (que também faz parte do elenco). Se fosse por um homem, abririam-se as portas do inferno. Porque todas as personagens são histéricas, caricatas ou simplesmente mal-construídas. Talvez seja um pouco a lógica que diz que só judeu pode contar piada de judeu. Mas aqui as piadas não são boas, apesar da pretensão de ser uma comédia. E as historinhas, parbleu! Uma moça larga o marido, que é um santo, por uma aventura lésbica, só para ser perdoada quando leva um pé na bunda. Uma outra, gaga e cheia de tiques, vira um vulcão sexual ao dar com a cara num poste e - suprema fantasia feminina - "converte" um gay. Pelo menos não há tempos mortos, e o elenco de estrelas do cinema francês garante o interesse de "atrizsexuais" como eu. A mais vistosa é a diva Isabelle Adjani, que continua firme em seu propósito de se congelar em vida. Aos 60 anos de idade, ela mal aparenta ter 40. Mas o cabelo sempre cobre a orelha, provavelmente para esconder as cicatrizes, e ela praticamente não mexe mais o rosto. Completam o time nomes como Vanessa Paradis, Sylvie Testud, Laetitia Casta e Marina Hands, todas pouco conhecidas por aqui mas muito famosas lá na França. Essa bobajada culmina num flash mob digno de comercial de absorvente, com todas elas celebrando o prazer de se mexer, dançar e andar a cavalo mesmo naqueles dias.

sábado, 25 de julho de 2015

ÚTIL PAISAGEM

Lembro da primeira vez que eu vi uma tela de William Turner. Minha primeira reação foi, quem é esse cara? A arte inglesa sempre foi ofuscada pela francesa, e eu nunca tinha ouvido falar dele. Minha segunda reação: uau. A última fase de Turner anuncia os impressionistas e chega quase aos abstratos, com quadros que são só neblina e raios de sol. E passei a gostar dele ainda mais depois de ter assistido ao filme "Mr. Turner", que criminosamente ainda não estreou no Brasil. Por isto fiquei um teco decepcionado de ver que só vieram duas telas dele para a exposição "A Paisagem na Arte", em cartaz na Pinacoteca de São Paulo até 18/10. Ainda bem que o resto compensa: a mostra inclui obras desde o final do século 17, quando os pintores britânicos começaram a pintar paisagens como objeto e não apenas como fundo. Tem coisas de cair o queixo, como esse retrato de três meninas nobres que parece uma foto, tão espetacular que é a técnica, e algumas modernidades do século 20 que causam estranheza. Mas é tudo lindo.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

BOI DA CATTA PRETA

Não sei vocês, mas eu achei gravíssima essa história da advogada Beatriz Catta Preta abandonar de uma hora para a outra todos os clientes dela que estão envolvidos com a Operação Lava-Jato. Quem é o boi da Catta Preta? Quem foi que a assustou ao ponto de fazê-la jogar para o alto tantos clientes lucrativos, e que lhe abririam as portas para muitos outros? Dá para desconfiar que aí tem o dedinho de Eduardo Cunha, o cara mais interessado em frear as delações premiadas neste momento. Mas consta que a moça não é especialmente bem-quista no meio jurídico. Será que foi ameaçada? Ou chantageada? O que vocês acham?

SEM PRETOS DISPONÍVEIS

Alguém precisa contratar uma assessoria de marketing para os taxistas do mundo inteiro. O que estão fazendo contra o Uber só depõe contra a categoria. Em Paris, partiram para as agressões físicas no meio da rua. Em São Paulo, conseguiram aprovar medidas contra o aplicativo na Câmara Municipal. E hoje, no Rio, simplesmente estão tentando parar a cidade inteira com uma greve idiota. O Uber, mais do que rapidamente, contra-atacou oferecendo DUAS corridas grátis para seus usuários (e, mais rápido ainda, todos os carros do serviço carioca ficaram ocupados). Mas o mais interessante é ver a opinião pública se voltando contra os táxis. Que no Rio sempre foram um horror: desconfortáveis, barulhentos, com motoristas folgados e, muitas vezes, desonestos. Qual forasteiro nunca viveu uma história de horror ao sair do Santos Dumont? O Uber veio para chacoalhar essa turma, que vive uma relação simbiótica com o estado. Recebem bondades como isenções e incentivos, e em troca falam bem dos políticos de plantão (em SP até hoje tem taxista que defende o Maluf, que distribuiu carros de graça entre eles quando foi prefeito). Mas, com tantas ações impensadas, estão cavando um inimigo muito mais temível que o Uber: os próprios consumidores. Cuidado.

(Este texto de Gustavo Almeida é bastante esclarecedor, leia)

quinta-feira, 23 de julho de 2015

DRAGS VERSUS TRANS

Como qualquer cidade civilizada, Glasgow, na Escócia, tem sua parada gay há anos. Como ela é ainda mais civilizada que a maioria, por lá também existe uma programação paralela, o Free Pride, cheia de eventos gratuitos e alternativos. Mas não é que foi justamente essa turma odara que se meteu numa escaramuça de nível planetário? Talvez por excesso de odarice, veja só: para não agredir a delicada sensibilidade de algumas pessoas transgênero, a organização do Free Pride achou por bem proibir todo e qualquer show com drag queens. As drags em si não estavam proibidas de circular, só de fazer seus números. E muita gente veio defender a decisão, alegando que as malvadas fazem muitas trans se sentirem desconfortáveis ou ridicularizadas. Isto é só mais um exemplo da epidemia de mimimi que vem se espalhando pelo planeta. Principalmente entre os mais jovens que acham que o mundo nasceu com (e para) eles. A gritaria contra essa medida absurda foi tamanha que o Free Pride primeiro liberou o show das drags, contanto que elas fossem trans - nada de drags cis, que chegam em casa, se vestem de homem e desfrutam de tooodos os privilégios do sexo masculino. Mas como é que você diferencia uma drag trans de uma drag cis? Hoje em dia, nem apalpando as partes pudendas. Esse remendo também caiu, e o Free Pride finalmente liberou o show de todas as drags queens, sem mais. Fizeram muito bem. Se hoje elas parecem caricaturas para as trans mais radicais, as drags foram, desde sempre a linha de frente do movimento gay. Quando a imensa maioria das bibas morria de medo de ser flagrada, controlando trejeitos e até se casando com mulheres, lá estavam elas, dando a cara a tapa. Foram as primeiras a apanhar na revolta de Stonewall, as pioneiras das paradas gays do mundo inteiro, as mais corajosas entre todos nós. Discriminá-las agora, a essa altura do campeonato, quando tantos direitos estão sendo conquistados, é um despautério colossal. Ainda mais num EVENTO GAY!!! E justo as trans, que esquecem que muitas delas começaram a transição como drags. Esse conflito faz parte de um debate maior que vem acontecendo dentro do próprio movimento - que o Free Pride chega ao requinte de batizar de LGBTQIA+ (tô falando sério). Menos siglas, gente, e mais inclusão para valer. E menos mimimi, porfa.

PÔ MEU, ME AJUDA AÍ

Porque eu acho que tô tendo um treco. Datena, prefeito de São Paulo?? O pior é que este cenário é totalmente plausível. O PSDB não tem nenhum candidato forte para as eleições municipais do ano que vem (José Serra está se guardando para as presidenciais, hahaha). É mais do que natural que os tucanos, que estão perdendo credibilidade ao se deixarem penetrar pela extrema direita, apelem para este golpe baixo. Porque eu aposto que o Datena ganha. Talvez ocorra um duelo de titãs entre ele e o Russomano, e aí eu vou ficar bem na dúvida: me mudo para onde? O fato é que a candidatura do apresentador do "Brasil Urgente" pode reduzir a pó de traque qualquer pretensão mais à esquerda. Haddad vai ser atropelado feito um ciclista na Marginal. Marta, coitadinha, não está garantida nem pelo PSB (e se for para o PMDB eu nunca mais quero saber dela). Tá pintando que mais uma vez eu vou votar no candidato do PV ou coisa parecida, só para ter que anular. Por outro lado, é bem feito. Muita gente merece o Datena.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

AS KARDASHIANS EM DOWNTON ABBEY

"Os Flintstones" era engraçado porque mostrava uma família da pré-história vivendo com gadgets contemporâneos: carro, TV, batedeira de bolo. Uma ideia parecida está por trás de "Another Period", protagonizada por duas socialites desmioladas agindo como se já existissem selfies em 1902. Essa nova série do Comedy Central ainda não estreou no Brasil, mas muita coisa já está disponível no YouTube - aí acima, por exemplo, podem ser vistos em sequência 16 promos, trailers e até cenas completas. O melhor de todos? "Going Viral", evidentemente.

terça-feira, 21 de julho de 2015

BONDDAD OU MALDDAD?

Tenho amigos que são tietes do prefeito Fernando Haddad. Ovulam a cada ciclovia que ele tasca em São Paulo, que estaria em vias de se transmutar em Amsterdam. Outros lhe têm ojeriza e não veem a hora de defenestrá-lo. Eu confesso que tenho mixed feelings. Haddad me parece um sujeito decente, distante da ladrocracia que domina o PT. Também não duvido de suas boas intenções. Mas questiono bastante suas qualidades como administrador - posto, aliás, para o qual sua carreira de educador jamais o preparou. As famosas ciclovias me sugerem uma maneira rápida e relativamente barata de deixar uma marca na cidade, mais do que uma solução bem pensada para um problema urgente. A pichação que ele permitu nos "Arcos do Jânio" só emporcalhou um patrimônio histórico (e aquele não é Hugo Chávez tanto quanto o crucifxo que Evo Morales deu ao papa não é um símbolo comunista). Para completar, uma de suas políticas desastradas tem me atingido diretamente. Meu novo endereço é quase ideal: de um lado tenho a av. Paulista, os cinemas, o metrô, o agito todo. Do outro, ruas sinuosas quase sem movimento. Por isto mesmo, uma das esquinas da quadra onde eu moro (felizmente, do lado oposto ao meu prédio) costuma ser infestada por "noias" durante a noite. Nunca tive problemas com eles, mas sei de histórias de gente que foi assaltada e até agredida sem nenhum propósito. Isto é reflexo da (não) ação na Cracolândia, que espalhou os viciados por diversos pontos de SP. Entendo que eles são seres humanos, que merecem respeito, etc. etc. Por outro lado, tenho pensado em levar um tacape quando levo meu cachorro para passear depois que escurece.

RUMO À ESTAÇÃO FINLÂNDIA


Há um mês, quando estive em Genebra, comprei a revista "Les Inrockuptibles" - uma espécie de variante francesa da "Rolling Stone", sobre música, cultura e um pouco de política. A seção de crítica de discos estava de chorar de tão esnobe: só figuras das quais eu nunca tinha ouvido falar. Mas é para uma hora dessas que existe o Apple Music, n'est-ce pas? Encontrei lá todos os títulos que me interessaram, de Damily, um guitarrista cult de Madagascar, a Delia Gonzalez, uma pianista minimalista que só usa collant. Mas o melhor achado foi mesmo o finlandês Jaako Eino Kalevi, que tem cara de poste, canta em inglês e soa meio como David Bowie (ou melhor, como aquelas bandas dos anos 80 que soavam como David Bowie). Seu álbum homônimo, melodioso e relaxante, é difícil de classificar. Não é rock, não é eletrônico, não é dance. Acho que é pop para adultos. Só sei que eu não paro mais de ouvir.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

JOGA AS CASCAS PRA LÁ

O Brasil está sem nenhum problema sério, então boa parte da nossa energia para debates na internet foi gasta na semana passada com o tema transcendental da mexerica em gomos. A discussão logo descambou para o nome certo da fruta (como carioca, eu acho que é tangerina), mas a reação inicial de todo mundo foi a mesma: a que ponto chegamos! Olhaí o raio gourmetizador em ação! Surgiu até campanha da prefeitura de Curitiba em prol das frutas com casca, essa nova minoria discriminada. Mas hoje saiu na Folha uma matéria altamente educativa: comprar fruta descascada não só pode sair mais barato, como até ser socialmente melhor. Sim, há o custo da embalagem. Mas acontece que, se a loja descascar fruta a priori, estará aproveitando-as mais. Porque a clientela rejeita as frutas que vêm com machucados na casca, mesmo que o interior esteja ótimo (ou quase todo ótimo). Assim, as partes boas são postas à venda, ao invés da fruta ir inteira para o lixo. Em Portugal já existe até o movimento Fruta Feia, que estimula o consumo de frutas, legumes e verduras que não estejam deslumbrantes. É uma ideia sensacional, porque o desperdício de alimentos é um dos maiores absurdos da vida moderna. Fora que dá uma preguiça descascar...

domingo, 19 de julho de 2015

O PRAZER DE LER

O projeto "Hysterical Literature" existe há três anos, mas só fiquei sabendo dele agora ao ler a respeito na "Vantiy Fair" deste mês. A ideia é muito simples: uma mulher lê um livro em voz alta. De repente, começa a rir e a emitir sons bizarros... Sim, ela está sendo "estimulada" por baixo da mesa. E assim somos confrontados com um assunto tabu, o prazer feminino. Vamos criticar, ou vamos gozar junto?

sábado, 18 de julho de 2015

PAÍS MIMIZENTO

O que aconteceu com o Brasil? Éramos o país da tolerância, ou pelo menos dizíamos que éramos. Agora somos um amontoado de mal-entendidos e de gente reclamona. A internet deu voz a uma legião de anafabetos funcionais, que não sabem interpretar os textos que leem. E os séculos de escravidão, somados à desigualdade abissal que ainda está em vigor, geraram a cultura atual onde só existem direitos, nenhum dever, e onde todo mundo se ofende por qualquer coisa. Aí não partimos para o debate: nosso DNA autoritário quer mais é calar a boca de quem supostamente nos ofendeu, não sem antes arrancar um humilhante pedido de desculpas. O caso mais grave dos últimos tempos é o imbroglio Zeca Camargo/Cristiano Araújo, que acaba de render um processo absurdo contra o apresentador (e que é o tema da minha coluna de hoje no F5). Outro exemplo recente é o vídeo "Travesti" do Porta dos Fundos. Assisti com lupa e não consigo entender o que incomodou algumas pessoas. O roteiro tira sarro do machismo, não dos transexuais - aliás, o humor do Porta é conhecido por estar sempre do lado dos oprimidos. Mas a gritaria foi grande o suficiente para Gregório Duvivier, uma das figuras mais lúcidas desse tempo de trevas, pedir perdão. Acho que não carecia, mas ele sabe o que faz. Talvez seja mesmo a atitude correta para minimizar os danos nesse mimimi infinito que se tornou o Brasil contemporâneo.

A IMPERATRIZ DO BLUES


Bessie Smith foi a primeira cantora negra norte-americana a cantar para o público branco, na década de 20 do século passado. Seu estilo era o blues, um gênero musical que eu acho pobrinho - tem só três acordes básicos, e todas as canções soam iguais. Mas ela tinha um vozeirão e muita presença em cena, e abriu caminho para seguidoras como Billie Holiday. Sua vida tumultuada já deveria ter rendido filme há muito tempo. "Bessie", em cartaz na HBO, preenche essa lacuna com louvor. É o favorito para o próximo Emmy de melhor filme de TV, com nada menos que 12 indicações. Queen Latifah parece ter encontrado o papel de sua vida; dá até para imaginar que ela teria sido Bessie Smith se tivesse nascido naquela época. Pois são muitas as coincidências entre as duas, do temperamento explosivo à preferência por meninas. Bessie tinha um arranjo familiar moderno até para os padrões de hoje: vivia na mesma casa (ou trem, pois estava sempre em turnê) com o marido, seu empresário, e a namorada, uma das bailarinas de seu show. "Bessie" termina antes do acidente de carro que a vitimou (eu precisei googlar seu nome para saber o que lhe aconteceu), numa escolha ousada dos roteiristas. Talvez porque não seja a morte trágica o que define esta cantora fundamental para a cultura americana, e que influenciou por tabela a música do mundo inteiro.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

BARULHINHO BOM

É hoje, hein, galerinha? Não esqueça de fazer barulho entre 8:25 e 8:30 da noite, quando vai ao ar o pronunciamento de Eduardo Cunha. Se não me engano, é a primeira vez que um presidente da Câmara de Deputados convoca rede nacional para defender sua atuação. Cunha tem muito apoio entre a direita raivosa, mas sabe muito bem que está longe de ser uma unanimidade nacional. O programa de hoje, produzido por um marqueteiro que também está enrolado com a Justiça, almeja dourar sua imagem entre os menos informados. Mas o timing não poderia ser pior: o cacique do PMDB está em todas as manchetes, acusado na Operação Lava-Jato de ter recebido cinco milhões de propina. Some-se a isto os muitos processos e escândalos que ele tem nas costas, mais a homofobia, mais o oportunismo fundamentalista, mais a total falta de escrúpulos, e de repente me bateram saudades da Dilma. Eduardo Cunha é o maior perigo que ronda o Brasil neste momento, e ele está fazendo de tudo para ganhar a Presidência no tapetão. Precisamos cortar suas asinhas. Portanto, não se esqueça: mesmo se você não estiver diante de uma TV, bata panelas, buzine, grite. Mesmo que seja de pavor.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

QUEM ME EMPRESTA NUM PEN-DRIVE?

Uma amiga minha que vota nos Emmys ficou furiosa com as indicações reveladas hoje. "Cadê "The Affair" e "Jane the Virgin", duas séries novas que foram premiadas no Globo de Ouro? Cadê "The Americans", que melhora a cada temporada?" Como eu não vejo nenhum desses programas, pela primeira vez na vida fiquei bem contente com os indicados. Muitos fizeram parte do meu cardápio televisivo deste ano: Viola Davis por "How to Get Away with Murder", Lisa Kudrow por "The Comeback", Bob Odenkirk por "Better Call Saul"... Minha favorita a melhor drama, pra variar, é "Game of Thrones", apesar desta não ter sido a melhor temporada - mas acho que agora ela tem chances, já que "Breaking Bad" não está mais no páreo. Se bem que "Mad Men" ainda está, mas será que aquele final borocochô irá comover os eleitores? Mas as indicações que me deixaram mais feliz foram as de Tatiana Maslany, finalmente!, pela 3a. temporada de "Orphan Black", e as várias lembranças que a melhor comédia do ano recebeu, "Transparent". Ah, sim, fiquei triste pela Ellie Kempre, mas "Unbreakable Kimmy Schmidt" entrou. Também sinto pela Jane Fonda, que foi esnobada por "Grace and Frankie" (mas Lily Tomlin não foi). Ainda me falta ver "Empire", praticamente uma novela com elenco negro que está arrebentando na audiência e que conseguiu emplacar sua estrela Taraji P. Henson entre as finalistas. Estreia em agosto na Fox, a tempo da cerimônia, que acontece em 20 de setembro. E não, eu não vou baixar ilegalmente. Mas se alguém me emprestar num pen-drive...

(todas as indicações que interessam estão aqui)

NINGUÉM ESTÁ FICANDO MAIS JOVEM


Meu marido odeia o Ben Stiller. É uma implicância totalmente gratuita, como todas as implicâncias para valer. Foi um custo tirá-lo de casa e arrastá-lo para ver "Enquanto Somos Jovens". Mas eu bati o pé e prevaleci: adorei o trailer, e uma amiga havia me recomendado o filme. Infelizmente, o diretor e roteirista Noah Baumbach não desenvolve bem a ótima ideia que teve. Que não podia ser mais atual: um casal quarentão, que ainda se sente jovem, entra em crise existencial quando faz amizade com outro casal, vinte anos mais novo. A princípio tudo parece incrível, mas aos poucos o personagem de Stiller - que é um chato de galochas - começa a se sentir manipulado por seu amigo transadinho. Começa então uma história de detetive, onde o protagonista sai em busca de provas que comprovem o mau-caratismo do rival. Isso dilui a premissa inicial e desperdiça a chance de discutir os efeitos da passagem do tempo, a obsessão pela juventude e o que significa ser autêntico. Pelo menos o conflito culmina num confronto onde não há um vencedor claro. Mas logo em seguida o desfecho é o mais careta e conformista possível, numa cena que tem pinta de ter sido reescrita várias vezes. Para piorar, Stiller está mesmo irritante no papel. Acho que eu também comecei a implicar com ele.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

BACIO DI LATTE

Um meteoro incadescente se aproxima da Itália à toda velocidade. O choque deverá se dar nas próximas horas, e a devastação será absoluta. O Coliseu, as gôndolas venezianas, o presunto de Parma, o Berlusconi e a Sophia Loren: nada disso sobreviverá. E tudo culpa da revista "Sportweek", que estampou em sua capa um casal de jogadores do primeiro time gay de rúgbi do país. A publicação atiçou a ira divina ao romper um tabu na nação mais atrasada em direitos LGBT da Europa Ocidental, onde a Igreja Católica se imiscui na política e em todos os aspectos da vida cotidiana. Há pouco surgiu no Parlamento um projeto legalizando as uniões civis, enquanto quase toda a vizinhança já desfruta do casamento igualitário. Mas quem sou para criticar os italianos? Até parece que uma capa dessas por aqui, onde gays já podem se casar há anos, não causaria um furdunço até maior do que está rolando por lá.

PLUTÃO REDIMIDO

Sinto-me vingado com o rasante que a nave New Horizons deu sobre Plutão. Cresci aprendendo que esse pequeno astro era o último confim do Sistema Solar, e sofri por tabela quando ele foi rebaixado da categoria planeta. A verdade é que existem milhares de corpos celestes orbitando o Sol para além da órbita de Netuno, alguns deles maiores que Plutão. E quase todos bem estranhos, com formatos e comportamentos fora das normas. O que prova que o universo, que é dionisíaco, não está nem aí para as nossas classificações apolíneas. Fora que Plutão, descoberto em 1930, entrou para o imaginário popular. Foi naquela época que Walt Disney precisou batizar o cachorro do Mickey, cujo nome em inglês jamais foi traduzido no Brasil...

terça-feira, 14 de julho de 2015

HUMILHADO, TRALALALALA

Hoje tivemos uma pequena alegria. Qualquer dia em que Fernando Collor diga que foi humilhado é alegre por definição. Esse sacripanta já deveria ter escorrido pelo esgoto da história, mas foi reconduzido ao poder pelos mesmo ignorantes que reelegem Renan Calheiros há décadas. Os dois estão choramingando que a PF se excedeu, mas mais parecem o Elias Maluco reclamando que lhe pisaram no dedão. Que venham mais constrangimentos, que venham mais humilhações. Essas migalhas nos aquecem a alma.

GÉNÉRATIONS DE LA CHANSON


A chanson é uma espécie de MPB à francesa: não é exatamente um ritmo, mas o mainstream da música que se faz por lá. Um de seus maiores nomes foi Charles Trenet, que morreu com quase 100 anos sem parar de cantar e compor. Ele deixou clássicos como "La Mer", que curiosamente não foi incluído em "Trenet", o álbum-tributo que Benjamin Biolay acabou de lançar. Mas o repertório inclui outro de seus monumentos, "Que Reste-t-il de Nos Amours?", e pérolas menos conhecidas. Como "Revoir Paris", que abre o disco e ganhou o clipe acima. Acompanhado por um grupo de jazz, Biolay está cantando mais sexy do que nunca, o que o confirma no posto de meu marido secreto no. 1.

Um cantor que está seguindo o exemplo de Trenet é Charles Aznavour, que acaba de lançar um trabalho novo aos 91 anos de idade. Nunca fui muito fã dele, mas fiquei curioso para ouvir "Encores". Me arrependi: Aznavour, que já nasceu velho, agora está velho de verdade, com músicas melancólicas e a voz grave e enfraquecida. Sequer alcança a cafonice de seus antigos sucessos, como "She" ou "Dance in the Old Fashioned Way". Melhor abafar.
Ainda mais porque uma nova geração de chansonniers já está bombando. Um dos destaques é Thomas Dutronc, em cujas veias corre sangue azul: seu pai é o ator e cantor Jacques Dutronc, e sua mãe é a lenda viva Françoise Hardy. Garoto-propaganda dos perfumes Cerutti, ele também não faz feio no álbum "Eternels Jusqu'à Demain". A minha favorita é "Aragon", a faixa de abertura, mas o primeiro single, "Allongé dans l'Herbe", relembra os tempos do yé yé, a Jovem Guarda deles. E assim, entre auto-homenagens e passagens de bastão, a chanson française segue firme.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

HOJE EU QUERO BEBER COCA-COLA

O curta-metragem gay-friendly que Dustin Lance Black rodou no Brasil para a Coca-Cola tem aquela vibe fofinha do filme "Hoje Eu Não Quero Voltar Sozinho". Merece ser muito divulgado, até para que o Malafaia convoque mais um boicote mal-sucedido. Mas, e a pergunta que não quer calar: por que a Coca paga de moderna na América Latina, mas não boicotou os Jogos de Inverno na Rússia?

ATUALIZAÇÃO: A Coca-Cola também é uma das grandes financiadoras das campanhas eleitorais do Eduardo Cunha. Eu já sabia disto mas esqueci de incluir no post, e fui alertado por alguns leitores. É muita hipocrisia, né não? A mensagem do curta continua válida, mas agora me passou completamente a vontade de consumir qualquer produto fabricado pela Coca-Cola.  Eca.

QUASE NOVE


As montagens de "Nine" costumam ser bastante despojadas. Assisti a uma no Follies Bergère, em Paris, onde o único elemento cenográfico mais elaborado era um gigantesco espelho que descia no fundo do palco justamente durante o número - adivinha - "Follies Bergère". Por isto, o sucesso do espetáculo depende quase que só de seu elenco. Ainda mais porque "Nine" é pouco mais do que uma série de números individuais que dão chance para brilhar a atrizes de diversos temperamentos. Além de ter um único papel masculino, que necessita um ator sensacional. Este último quesito foi plenamente satisfeito na versão que está em cartaz em São Paulo. Apesar de desconhecido do grande público, Nicola Lama dá mais do que conta do recado de Guido Contini, um personagem que derrubou Daniel Day-Lewis no cinema. Pena que nem todas as moças estejam no mesmo nível. Entre as que se dão bem estão Totia Meirelles, sempre espetacular, Malu Rodrigues, efervescente como a amante, e Myra Ruiz como Saraghina, uma bofetada de talento (confira no vídeo acima). Mas Carol Castro não canta bem, apesar da boa presença cênica, e Leticia Birkheuer é um desastre. Sim, ela é bonita, elegante e nem passa vexame nos diálogos. Mas sua performance em "Cinema Italiano", a minha favorita, é digna de uma garrafa. Ainda bem que esses escorregões não são suficientes para comprometer a qualidade da peça, que é um hino ao sexo e  já virou um clássico da Broadway. Charles Moeller e Claudio Botelho acertaram mais uma. Nota oito.

domingo, 12 de julho de 2015

TELENOVELA EM ALEMÃO


Já fizeram tanto filme sobre a 2a. Guerra Mundial, mas TANTO filme, que parece que não há mais histórias para contar. Quem insiste acaba resvalando para a inverosimilhança: é o caso de "Phoenix", que se apresenta como um drama sério mas no fundo não passa de uma telenovela mexicana falada em alemão. O melodrama permite muitos descalabros, mas quando a chave é realista como aqui, o espectador simplesmente não compra o que está se passando na tela. E o que se passa? Logo depois da guerra, uma judia sai de um campo de concentração desfigurada. Um cirurgião plástico reconstitui seu rosto, e ela parte em busca do marido. Que não a reconhece... Até aí zuzo bem, se todo o resto da humanidade também não a reconhecesse. Acontece que até empregados de hotel a identificam de longe. Para piorar, o marido a convence a se passar por ela mesma, que ele julga morta, e assim por a mão no dinheiro da suposta falecida. Mas peraí, ele não seria o herdeiro? Nada faz o menor sentido. E, se havia alguma metáfora do tipo "os alemães não conseguem encarar o que fizeram com os judeus", ela ficou presa na alfândega.

sábado, 11 de julho de 2015

É DOCE MORRER OMAR

Dificilmente Omar Sharif faria hoje a carreira que fez. Apesar de parecer uma versão melhorada de Clark Gable, o simples fato dele ser egípcio o relegaria a papéis de vilões terroristas. Verdade que ele não tinha a cara que os ocidentais imaginam para os árabes: isso possibilitou que ele fizesse personagens de etnias variadas, do russo "Doutor Jivago" ao jogador judeu de "Funny Girl". O cinema mudou nos anos 70: deixou de ser internacionalista, com uma geração de novos cineastas falando apenas de seus quintais. Isso limitou os papéis que foram oferecidos a Omar Sharif, que enveredou uma segunda carreira como um dos maiores jogadores de bridge do mundo. Mas ele não foi esquecido: continuou filmando na Europa, e morreu reconhecido como um dos grandes astros masculinos da segunda metade do século 20 (no Egito, então, é praticamente um faraó). Também é doce saber que seu neto Omar Sharif Jr., que é gay assumido, continua a tradição de beleza da família.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

IT'S YOURS TO TRY

Marc Jacobs foi mandar um nude por mensagem direta no Instagram e apertou o botão errado. A foto de sua derrière, excepcional para um homem de 52 anos, foi logo apagada, mas claro que já era tarde demais. Foi capturada e eternizada na internet, e aí está ela em toda sua glória - incluindo o convite atrevidinho, "quer provar?". Mas 90% dos internautas são trolls tacanhos e covardes, e o estilista foi linchado moralmente. Como que ele se atreve? Um coroa, paquerando online? Cadê a barriga negativa? Agora já tem gente defendendo Jacobs, e eu estou entre eles. O fato dele gostar de sexo e correr atrás só me dá MAIS vontade de usar seus produtos. A bicharada precisa parar de ser tão má consigo mesma, e os anônimos que postam comentários escrotos merecem ser expostos em poses muito mais constrangedoras. Quero só ver se chegarão à meia-idade com a mesma fabulosidade de Marc Jacobs.

AI, SE EU TE PEGO

Tadinho do Michel Teló. Ele achou que estava abafando. Criou até o hashtag #pintesuacara, para lançar modinha nas redes sociais. O que o moço ganhou em troca foi uma enxurrada de críticas: como que ele se atreve a usar o "blackface", um dos instrumentos mais hediondos do racismo? No meio da pancadaria, um único internauta partiu em defesa do cantor: "Michel Teló representa o brasileiro médio, que nem sabe o que é blackface". Aí é que está o ponto. O "blackface" surgiu no showbiz americano da virada do século passado, quando artistas negros não podiam se apresentar para plateias brancas. A prática se popularizou com Al Jolson, um cantor judeu que pintava o rosto de preto, mas há tempos que é vista como uma relíquia medonha - lá nos Estados Unidos. No Brasil também se usou o "blackface", mas, por inúmeras razões, por aqui ele ainda não havia se tornado radioativo. Até outro dia: agora é, e ai do incauto que se maquiar desse jeito. O problema é que esse tabu foi criado por ativistas e ainda não penetrou na cultura geral. Não estou dizendo que eles estão errados, veja bem. Mas é preciso dar um tempo para que um novo conceito se espalhe. Xingar Michel Teló, que estava cheio de boas intenções, é contraproducente. É parecido com atacar quem chama uma mulher trans de drag queen, quando até outro dia ela mesma se apresentava como drag. E não adianta dizer que "o movimento decidiu assim", porque nem todo mundo recebeu a circular. Existe mais gente disposta a acabar com o racismo e a homofobia do que o contrário. Para quê, exatamente, vamos hostilizar quem já está do lado bom?

quinta-feira, 9 de julho de 2015

CARA DE QUEM COMEU E GOSTOU

Escrevo este blog há mais de oito anos, e me encho de desânimo ao perceber que algumas coisas não mudam - só para pior. Em 2007, sugeri que Renan Calheiros seguisse o exemplo dos políticos japoneses pegos no flagra e cometesse seppuku, o suicídio ritual. Em 2013, estendi esta recomendação a todos os eleitores alagoanos que o reconduziram ao Senado, onde ele reassumiu a presidência da casa e retomou seu reinado tenebroso. Agora, finalmente Renan é réu no processo relativo ao caso que provocou sua renúncia há quase uma década - aquele que o acusa de beneficiar a Mendes Júnior em troca do custeio da filha que ele teve com uma amante. Vai dar em alguma coisa? Duvido, ainda mais neste momento em que Renan parece mais forte do que nunca. Ele comeu, gostou, e continuamos pagando a conta. Nós é que temos que nos matar?

FORA DE ÉPOCA


João do Rio é um tesouro semi-oculto da cultura brasileira. Esse escritor gay, gordo e mulato deixou dezenas de contos, novelas e ensaios que revelam a sociedade carioca do começo do século passado, sempre com muito amor e uma certa dose de perversão. Era um crime o cinema ignorar sua obra. Infelizmente, "Muitos Homens num Só" - baseado em seu livro "Memórias de um Rato de Hotel" - não cumpre a missão a contento. O roteiro até incorpora algumas outras histórias de João do Rio, se bem que meio a fórceps. E toda a parte técnica está fenomenal: fotografia, figurinos e uma direção de arte que sabe tirar o máximo do que sobrou do Rio de Janeiro da belle époque. O ponto fraco, quem diria, é o elenco. Principalmente Alice Braga, uma decepção. Ela continua luminosa em cena (e não se parece com sua tia Sonia, mas com Regina Duarte), mas sua interpretação das falas que lhe deram (que já eram meio duras, vá lá) é simplesmente amadorística. Faltam filmes pequenos e elegantes no cinema brasileiro, ainda mais baseados na nossa literatura. "Muitos Homens num Só" bem que tentou, mas vai continuar faltando.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

SOMOS PRÉ-MESOPOTÂMICOS

O Código de Hamurábi foi um avanço para sua época. É nesse conjunto de leis elaborado na Mesopotâmia há mais de três mil anos  que se encontra o primeiro registro da chamada "lei de talião", aquela do olho por olho, dente por dente. Até então, um assassinato podia ser punido com a execução de toda a família do assassino, por exemplo. Dá para imaginar os reacionários da Babilônia criticando a nova legislação: "amiga dos bandidos", "leva pra casa", "direitos humanos para humanos direitos". Mas o código pegou, foi adotado por outras nações e, através do direito romano, evoluiu para todo o arcabouço legal do Ocidente, em cujas sociedades impera não o arbítrio do mandatário ou a pura barbárie, mas a lei. Por tudo isto, acho que o Brasil não faz parte do mundo civilizado. Concordo totalmente com este artigo do Sakamoto sobre o linchamento ocorrido anteontem no Maranhão. As imagens sugerem um suplício bíblico, e mostram como a mentalidade escravocrata continua entranhada na nossa psiquê: não custa muito para que os pelourinhos aflorem. A deseducação brasileira está borrando o pouco pacto social que tínhamos. Já estamos mais atrasados do que a Mesopotâmia.

terça-feira, 7 de julho de 2015

EU PRECISO DIZER QUE TE AMO

Abro o jornal e descubro que hoje é o 25o. aniversário da morte de Cazuza. Foi mais do que esperada: ele havia anunciado que estava com AIDS havia mais de dois anos, e, pouco mais de um ano antes, a revista "Veja" fez sua infame capa onde diz que ele "agoniza em praça pública". Por isto mesmo, sua morte não teve oito horas de cobertura non-stop na TV. Mas o buraco que ele deixou na nossa cultura não foi preenchido até hoje. Caju (para os íntimos) era ousado até para a época em que brilhou: o período logo após a ditadura, quando o Brasil liberou geral e quase tudo era permitido. Tremo em pensar como ele reagiria aos dias de hoje, em que a caretice absoluta voltou à moda. Será que ele levantaria bandeirinhas? A geração dele não costumava militar explicitamente, mas não dá para dizer que não agiam de maneira política. Agiam sim, e muitas liberdades de que desfrutamos hoje foram conquistadas por eles. Cazuza pagou um preço por isto, apesar de me contarem que ele era tão louco que dificilmente envelheceria - se não fosse a AIDS, outra coisa o levaria, e logo. Pelo menos ele teve a "sorte" (põe aspas nisso) de morrer no auge, antes que o acusassem de estar se repetindo. Houve quem dissesse que ele logo seria esquecido. Erraram. Cazuza faz mais falta do que nunca.

CROCODILO FAKE


O filme francês "Os Olhos Amarelos dos Crocodilos" parece uma telenovela requentada. O batido conflito central é entre duas irmãs, uma linda e desinibida, a outra tímida e mocoronga. Adivinha qual delas vai se dar bem? Também há tramas paralelas que só servem para esticar desnecessariamente a duração. Para piorar, a atriz Julie Depardieu é fraca e feiosa, um suplício de se ver. E a deusa Emmanuelle Béart, que já está com 50 anos mas quer aparentar 30, nem consegue esconder que entrou na faca. Não quero perder mais tempo com esse filme irrelevante. Não perca você também: tem coisa bem melhor em cartaz atualmente.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

TEORIA DA CO-PIRAÇÃO

Incrível a capacidade de algumas pessoas de enxergar conspirações em tudo. E nem estou falando de um certo comentarista frequente deste blog: me refiro a gente razoável, mas que acha que sempre existe algum complô misterioso por trás de qualquer coisa. Como a turma que está embarcando agora na história de que o ataque racista sofrido por Maria Julia Coutinho na última sexta só aconteceu para ofuscar que o marido dela trabalha numa empresa que está sendo investigada pela Operação Lava-Jato. Bom, eu nem sabia que a moça era casada, e agora não só sei como vi a cara do marido dela, aprendi seu nome e li até a razão social da tal empresa, exposta na internet. Ou seja, se o objetivo era esconder tudo isso, mas que complô português, hein? O pior é que o sujeito NÃO trabalha numa empresa envolvida na Lava-Jato e já saiu um desmentido, mas de quê adianta? O pessoal prefere acreditar na versão estapafúrdia, basicamente porque o pessoal quer se sentir espertíssimo. Engraçado como algumas das teorias recentes emanam da direita, que não consegue admitir que existe racismo no Brasil. Pergunte para um negro, qualquer um, se o racismo existe mesmo, e acredite no que ele responder. Garanto que ele sabe o que diz.

OXI OU NAI?

Oxi. Não (que eu achava que era o "nai", mas enfim, isto é grego para mim). Foi assim que votaram 60% dos gregos no plebiscito de ontem, talvez contra si mesmos. Agora ninguém sabe o que pode acontecer: a Grécia sai da zona do euro? Vai haver dinheiro no país até o fim desta semana? Vai faltar tudo, nos mercados e nas farmácias? A Grécia foi muito mal administrada, mas o problema também é cultural. A economia grega é feita de empresas de fundo de quintal, administradas por uma única família. Não possui grandes indústrias, tirando o turismo e as azeitonas - foi-se o tempo dos estaleiros poderosos de Niarchos e Onassis. E o povo se acostumou ao bem-estar social de padrão europeu, com aposentadorias precoces e centenas de outros benefícios. Agora pode vir o caos total. Curioso é que há décadas a Europa barra a entrada da Turquia, que vem crescendo em ritmo acelerado e já se tornou uma potência regional. Preferiu a Grécia, berço da civilização e blá-blá-blá. Alguém vai pagar a conta? Oxi ou nai?

domingo, 5 de julho de 2015

NEVE AVERMELHADA


Muita gente vai dizer que "O Cidadão do Ano" tem muito de Tarantino, e tem mesmo. Mas este filme norueguês também deve bastante ao estilo dos irmãos Coen, com personagens que são despachados sem a menor cerimônia. É quase uma comédia negra, que parte de uma imensa tragédia: um pai que procura vingar o filho, morto por engano por uma quadrilha de traficantes. Ele sai à caça de um por um, e acaba se metendo numa guerra entre gangues rivais. Há muita violência, mas várias das mortes são apenas sugeridas - só vemos o sangue espirrando na neve, ou apenas a cartela preta anunciando o nome do defunto, um toque macabro do diretor Hans Petter Moland. Este cara logo, logo vai estar dirigindo em Hollywood, porque sabe manter a tensão e o interesse num filme em que o mundo parece ser todo branco. "O Cidadão do Ano" causou uma certa polêmica e é um dos melhores lançamentos do ano, mas precisa conquistar um público maior que o das salas de arte. Procure assistir.

sábado, 4 de julho de 2015

MISS SIMONE GODDAMM


Fui ver Nina Simone logo na primeira vez em que ela esteve no Brasil, em 1988. A mulher era uma entidade. Um orixá, como disse Jorge Amado de Maria Bethânia. Mas não era uma divindade benfazeja: era torturada, instável, violenta. Suas três visitas ao ao nosso país contribuíram com várias anedotas ao seu vasto folclore. Consta até que, certa vez, ela reagiu a bala aos moleques que faziam algazarra na casa vizinha à sua, no sul da França. Agora todo esse gênio e loucura ressurge capturado no excelente documentário "What Happenned, Miss Simone", disponível no Netflix e desde já um dos favoritos ao próximo Oscar. Com depoimentos da filha e de muita gente que a conheceu, mais muito material de arquivo, a diretora Liz Garbus monta em menos de duas horas um retrato preciso de uma das maiores artistas do século 20. Nina era bipolar, e suas variações de humor punham tudo a perder mesmo quando as coisas iam bem. Seu engajamento político em prol dos direitos civis (i.e., contra as leis racistas americanas) custou-lhe um estrelato ainda maior e a tornou uma mulher amarga, com a vida pessoal despedaçada. Mas quando cantava e tocava piano, não tinha para ninguém. Os dedos voavam, a voz ia às profundezas e a plateia ficava hipnotizada (mesmo levando broncas de vez em quando, como o filme também mostra). Deixou clássicos absolutos como a deliciosa "My Baby Just Cares for Me" e a furiosamente ativista "Mississippi Goddamm" (essa última palavra era considerada palavrão na época). Nina Simone morreu relativamente cedo, em 2003, com apenas 70 anos de idade. Merece ser descoberta por quem ainda não a conhece. Nada contra Beyoncé e similares, mas isso é que era diva.

MISS BORRACHEI

Donald Trump não é nem de longe o megaempresário que tenta projetar. Já quebrou algumas vezes e hoje é apenas um personagem midiático, pouco mais que uma subcelebridade. Mas ele ainda se leva a sério: pela segunda vez, anunciou que vai disputar a indicação do partido Republicano para ser candidato à presidência nas eleições do ano que vem. O humorista Jon Stewart agradeceu, porque a presença de um pateta como Trump gera piadas nonstop. Mas o pseudo-magnata talvez não dure muito tempo no páreo. Para seduzir o (cada vez menor) eleitorado de extrema direita, ele propôs a construção de uma muralha na fronteira entre o México e os Estados Unidos. Ainda declarou que todos os mexicanos imigrantes são ladrões. Foi o que bastou para a rede de TV Univision, que transmite nos EUA programação em espanhol, cancelar a exibição do concurso Miss Universo, que é produzido por Trump. A rede anglófona NBC fez o mesmo na sequência, e agora já são três os países que irão boicotar o evento: o próprio México, a Costa Rica e o Panamá. Bee, para um país latino-americano não participar de um concurso de miss, é porque a coisa é séria mesmo. Pior que os EUA ficarem de fora das Olimpíadas. O mais engraçado é que Trump não pediu desculpas e ainda atacou seus detratores. Vai se esborrachar em chamas e sair da cena deste circo eleitoral.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

#SOMOSTODOSMAJÚ

O sorriso e a elegância de Maria Júlia Coutinho são um vrááá triunfal na cara dos racistas que emporcalharam a página no Facebook do "JN" durante o dia de hoje. O ataque foi tão escroto que a gente até duvida, pois não é tão difícil assim descobrir quem está por trás. Mas é o tal negócio: se esses babacas fossem inteligentes, não seriam racistas. E numa hora dessas não cabem críticas à "rédi" Globo nem aquela argumentação covarde de que a moça está aproveitando para se promover. Claro que o tiro saiu pela culatra e Majú está mais forte do que antes, mas o ponto aqui é outro: racismo é crime, racismo é horroroso, racismo, nem de brincadeira. Não se dialoga com racista, não se tenta entender os motivos, não se titubeia. Manda-se para a cadeia.

JARDIM NÃO-SECRETO


O título "Um Pouco de Caos" sugere uma comédia, mas este filme dirigido pelo ator Alan Rickman é um drama discreto com visual deslumbrante. A personagem principal é uma paisagista do século 17: se até hoje as mulheres enfrentam resistências no mercado de trabalho, imagine naquela época. Contratada para construir uma espécie de anfiteatro nos jardins do palácio de Versailles, então em obras, ela acaba cativando o rei Luís XIV com seu jeitão "no bullshit". A interepretação delicada de Kate Winslet serve como fio terra num universo onde as aparências e a ilusão de ordem davam a tônica - e não dá para não lembrar que, pouco mais de cem anos depois, aquele teatro todo seria varrido pela Revolução Francesa. "Um Pouco de Caos" não provoca grandes emoções nem é um filme para todos os públicos. Mas é uma versão agradável da vida privada num momento peculiar da história, além de contar com um grande elenco. O destaque vai para o ator belga Mathias Schonaerts, que está prestes a estrear em mais uma dezena de produções. Preste atenção nele.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

ESCOLHENDO MAÇÃS

Já usei o Spotify, mas só um par de vezes e jamais assinei o serviço. Mas, como eu recebo ordens de Steve Jobs do além-túmulo, não levei nem 24 horas para aderir ao Apple Music - e estou a-man-do. Para começar que é lindo, e bastante fácil de navegar. Adorei ter que bater duas vezes nas bolinhas dos gêneros que eu não gosto, para que eles fossem varridos da face da (minha) Terra. Fora, sertanejos! Fora, música gospel! Agora estou explorando as rádios, que por enquanto me soam todas muito parecidas. Muito pop/dance/eletrônica, e só para malhar na academia tem quatro. Cadê a de musicais da Broadway? Cadê a de hits de Bollywood? Tomara que venham com o tempo, assim como a minha habilidade de habitar esse admirável mundo novo. Eu, que ainda compro CD físico e não tenho mais onde enfiá-los. Eu, que ainda compro mp3 e não tenho mais onde enfiá-los. Será que o Apple Music vai dar conta da minha biblioteca e do meu gosto, tão específico e refinado? E como é que é esse tal de modo offline? De onde vêm as músicas? Onde elas ficam armazenadas? Tenho o resto da vida para descobrir. Ou até inventarem algo mais moderno.

O DONO DA BOLA

Não durou nem 24 horas. Eduardo Cunha usou seu truque que já virou clássico: mudou umas palavrinhas, acrescentou umas vírgulas e pôs a PEC que reduz a maioridade penal novamente em votação. Mas isto já era esperado. Triste mesmo foi ver deputados como a Mara Gabrilli, que prega a inclusão, virando casaca e votando no "sim". Ela deve ter ficado com medo de, na próxima campanha, ser acusada de ter CONTRIBUÍDO para o aumento da criminalidade por ter votado "não". Este é o Brasil de hoje: o reino da boçalidade, do medo e da ignorância. Um país como este merece um facínora como Eduardo Cunha, que anda tão saidinho que teve até a desfaçatez de anunciar seu próximo golpe: aprovar o parlamentarismo. Por que daí, quem seria o primeiro-ministro? Hein? Hein?

quarta-feira, 1 de julho de 2015

MEU OUVIDO NA FASE GAY


Sempre fui hétero de ouvido. Prefiro música com vocal feminino do que masculino (o que decerto quer dizer que NÃO sou hétero em tudo o mais). Por isto me surpreendi por não ter trazido um único disquinho de cantora deste meu recente bate-e-volta à Suíça. Só tem marmanjo! Se bem que não sei se o Mika se encaixa muito nessa categoria... Mas seu novo CD, "No Place in Heaven", é o melhor e mais consistente de sua carreira. Pop criativo, alegre quase o tempo todo, triste às vezes, mas nunca deprê. Com atenção especial aos backing vocals, esse discípulo de Freddie Mercury está mais maduro, mas não perdeu o frescor. E eu ainda tive a sorte de comprar a versão deluxe europeia, que tem quatro ótimas faixas em francês. Cherchez-las!

Outro que busca inspiração no passado é o americano Brandon Flowers, líder do The Killers. "The Desired Effect", seu novo disco solo, tem os dois pés firmemente plantados nos anos 80. Pena que a melhora faixa, "I Can Change", só tenha lyric video: o gay honorário Brandon (que é casado com mulher e tem filhos) sampleia o arranjo do hino bicha "Smalltown Boy", do Bronski Beat, e ainda tem Neil Tennant dos Pet Shop Boys no corinho. Hmm, significa?


Agora, moderno mesmo é o "In Colour" do Jamie xx. Membro e produtor do The xx, este rapazote de 26 anos lança um trabalho solo que não vai decepcionar quem gosta de sua banda, mas que também vai além das sonoridades etéreas que se tornaram sua marca registrada. Na boa: acho que já temos o melhor álbum de 2015. É para escutar com fones e se deixar levar, como se fosse rock progressivo dos anos 70 - só que é atual pacas. E agora estou me tocando que Jamie xx não é cantor. As poucas faixas com vocais são featuring convidados, inclusive a colega de grupo Romy. Ou seja, este disco tem mulher cantando. Ou seja, continuo hétero no ouvido. No resto...