terça-feira, 30 de junho de 2015

MANIFESTO DO NOJINHO

Estou com nojinho do momento em que estamos vivendo, tanto politica quanto culturalmente. Nojinho da Dilma dizer que "despreza" os delatores - justo ela, que sancionou a lei da delação premiada? E será que ela não percebe que, ao "desprezá-lo" e compará-lo a Joaquim Silvério dos Reis, ela está confirmando as denúncias do delator? Também estou com nojinho do Aécio, que procura manter acesa a chama do impeachment para agradar à neodireita selvagem, que o apoia "à faute de mieux". Nojinho, não, nojão, do Eduardo Cunha, um safado oportunista que está fazendo de tudo para o circo pegar fogo e ele se dar bem. Nojinho dos fãs da música sertaneja, que acham que é "descaso com a dor da família de Cristiano Araújo" dizer que o funeral do rapaz não merecia uma cobertura digna de um faraó. Nojinho dos babacas que não coloriram suas fotos no Facebook, alegando que a fome na África, sim, é que é uma causa justa. Quanto que esses tolinho doaram ao combate à fome? O Zuckeberg, dono do Facebook, doou milhões de dólares, e nem por isto deixou de apoiar os gays. Também estou com nojinho de quem não sabe interpretar o que lê, de quem não consegue manter na cabeça duas ideias contraditórias ao mesmo tempo, de quem se julga o dono da verdade e ainda não tem nem 30 anos, de quem exige "desculpas" porque alguém não seguiu à risca o cânone sagrado recém-lançado... Eu poderia ficar horas aumentando essa lista. Tenho até nojinho de mim mesmo, por ser tão complacente com essas coisas.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

FIM DE FESTA NO APÊ


Mas é óbvio que eu iria ver um filme estrelado por Maggie Smith e Kristin Scot-Thomas. Ainda mais porque "Minha Querida Dama" se passa em Paris. Mas, sinto dizer, não gostei muito. Boa parte do tempo é gasta com o stress de um americano que herda um apartamentaço na capital francesa, mas com um senão: ele precisa pagar 2.400 à antiga proprietária até ela morrer, um sistema local chamado viager. Para complicar, a velha ainda mora lá e não pretende se mudar. Problemas com transações imobiliárias não são exatamente um tema agradável, mas o elenco e a paisagem ajudam. Pena que também se gaste muito tempo com segredos de família dignos de novela mexicana.

MAUS FÍGADOS

A proibição do foie gras na cidade de São Paulo me destapa uma enxurrada de emoções contraditórias. A primeira é de revolta: como assim, não posso mais comer nem comprar foie gras no lugar onde eu vivo? A segunda é de indiferença. Acho que como foie gras menos do que uma vez por ano, apesar de gostar muito. Acontece que é caro pacas, e não tão fácil de encontrar. A terceira emoção é de despeito: tenho a sensação de que o prefeito Fernando Haddad só foi atrás do foie gras porque é uma iguaria das elites. A crueldade da "gavage", o método de alimentação forçada a que os gansos são submetidos para que seus fígados engordem, não é pior do que o que se faz com os frangos das megagranjas: confinados em espaços apertados, debaixo de luzes pernamentemente acesas, depois pendurados de cabeça para baixo numa roldana e decapitados numa linha de montagem. Mas frango é comida do povão, quase um artigo de primeira necessidade. A quarta emoção é a de um alívio civilizado. Os únicos países da Europa onde ainda se pratica a "gavage" são França, Espanha, Hungria e Bulgária. No resto já é proibido, e a tendência é que a proibição se espalhe pelo mundo. Essa questão, no entanto, levanta muitas outras. Por exemplo: e as lagostas, que costumam ser cozinhadas vivas? E as ostras, engolidas só com limão? E o bife koi, de gado confinado? E a carne de vitela, na verdade de bezerrinhos que ainda mamam? E os abatedouros em geral? Espiritualmente, eu queria ser vegetariano. Mas na prática não consigo...

domingo, 28 de junho de 2015

FALTOU CHAMPIGNON

Wilson Simonal ocupa um lugar bizarro no panteão da música brasileira. Foi maior ídolo do país na virada dos anos 60 para os 70 - maior até que Roberto Carlos, que naquela época vivia a ressaca da Jovem Guarda. Bonitão, seguro de si, esbanjando carisma e ainda com uma voz fenomenal, o cara comandou o Maracanãzinho e fez dueto com Sarah Vaughn. Aí mandou dar um "susto" no contador que suspeitava estar lhe roubando, foi em cana e caiu no ostracismo, incentivado pela esquerda que o acusava injustamente de dedo-duro. Nunca mais se reergueu e morreu, alcoólatra e semi-esquecido, quinze anos atrás. Não é uma história com final feliz, mas rendeu um excelente documentário em 2009 e agora chega aos palcos com o musical "S'imbora". Um espetáculo que, sinto dizer, não faz jus à sua grandeza. Talvez fosse melhor sem uma estrutura linear, pois perde-se muito tempo num desinteressante começo de carreira e termina-se com alegria forçada numa suposta festa no céu, onde Simonal é recebido por seu descobridor, o folclórico Carlos Imperial. Para piorar, assisti à peça com o stand-in no papel principal, e o rapaz não convence totalmente. Nelson Motta deu mais sorte com "Tim Maia", que revelou Tiago Abravanel e cujas músicas se eternizaram nos nossos corações. Não é o caso de Simonal: seus hits hoje soam datados, assim como a gíria que ele usava quando queria dizer veneno, pimenta, sacanagem - "champignon". Pois foi exatamente o que faltou nessa produção quase modesta.

FILME CABEÇA


Quando eu era pequeno, passava na televisão um programa chamado "Disneylândia", que reembalava antigos desenhos e curtas-metragens dos estúdios do Mickey. Um dos que mais me marcou foi "Razão e Emoção", onde essas duas entidades duelavam dentro da cabeça das pessoas para assumir o controle. Tenho certeza que este clássico (que está logo mais abaixo em todo seu esplendor original) serviu de inspiração para "Divertida Mente", desde já um dos melhores filmes da década. Esta nova obra-prima da Pixar é uma delícia do começo ao fim, com piadas sensacionais e um "insight" verdadeiro sobre como funciona o cérebro humano. Por isto, apesar de ser voltada para as crianças, só os adultos conseguirão usufruir totalmente. Fiz questão de assistir à versão original, porque queria escutar a voz de Phyllis Smith como a Tristeza. Lembra dela? A gorda de "The Office", um prodígio de under-acting naquela série e que aqui encontra o papel de sua vida. Só lamento que uma das minhas emoções favoritas, o Nojinho, apareça tão pouco. Quem sabe daqui a pouco ela ganha um filme só para ela?

sábado, 27 de junho de 2015

RAINBOW IS THE NEW BLACK

Pronto, o mundo inteiro é gay. Que delícia ver tantos amigos, principalmente os héteros, colorindo suas fotinhas no Facebook. A brincadeira se espalhou pelo mundo inteiro, e claro que alguns pareciam estar aderindo por puro oportunismo - desde quando que Lula e Dilma são paladinos da causa LGBT? Mas é melhor que adiram, claro, pois é sinal da força do movimento (Aécio e Marina, até agora, lhufas). Também senti que essa enviadação em massa faz parte da recente reação aos excessos dos fundamentalistas, juntando-se à campanha do Boticário e à procura por rola do Malafaia. E aqui vai um recado aos chatos de plantão que reclamam que, quatro anos atrás, não rolou uma onda dessas nas redes sociais quando o nosso STF fez o mesmo que a Suprema Corte americana: o momento era outro, os teocratas não estavam tããão pentelhos como estão agora, e tudo o que vem dos Estados Unidos tem repercussão mundial. Quem diria que veríamos o Jean Wyllys colocando a Casa Branca na foto de capa do perfil dele?... 

Um dia emocionante, que aliás ainda está sendo. E também divertido, porque the zoeira never stops. A Cleycianne se arcoirizou, mas disse que foi hackeada. Um engraçadinho hackeou pra valer o site Verdade Gospel e postou a imagem acima ao som de "YMACA". Sempre fico dividido com esse tipo de ação, porque dá pretexto para esses canalhas se fazerem de vítimas (e há uma injustiça na imagem: Aecim, pelo menos até o primeiro turno das eleições do ano passado, era declaradamente a favor do casamento igualitário, coisa que Dilmão jamais disse com todas as letras).

Quero muito acreditar que alguma coisa está mudando no Brasil (em boa parte do mndo civilizado já mudou). Que não vamos mais ficar calados enquanto que a bancada BBB (bíblia, bala e boi) faz o que quer no Congresso. Não vai ser fácil: ainda somos minoria, e tem muito brucutu por aí que acha que democracia é a ditadura da maioria e que devemos todos nos submeter à vontade deles. Mas essa gracinha promovida pelo Feice mostrou que não somos tão poucos assim, e que a tendência é crescermos. Raio enviadador, acionar!

sexta-feira, 26 de junho de 2015

EX-GAY E ANDEI

Na falta de louça para lavar, a bancada fundamentalista do Congresso tentou lançar luz a uma das minorias supostamente mais perseguidas do Brasil: os ex-gays. Não sei exatamente em qual instância da vida esses coitados sofrem restrições - na adoção de crianças? no plano de saúde? nas manifestações públicas de afeto? - mas agora já se fala até em "ex-gayfobia". Alguns deles contaram suas histórias aos parlamentares. Em comum, todos foram "salvos" por Jesus de uma vida de pecado. Faltou dizer que, para cada ex-gay que essas "igrejas" ostentam como troféus, existem dezenas, talvez centenas de pessoas traumatizadas que não conseguiram se "curar" da própria homossexualidade. Acho que está na hora de darmos mais voz aos ex-evangélicos, às vítimas da opressão religiosa, tanto física quanto psicológica. O pior é que o que está por trás nem é ideologia, é cobiça mesmo. Infeliciano e seus asseclas sonham em trazer para o Brasil "clínicas de reabilitação sexual" nos moldes das que existem nos Estados Unidos, com verniz científico e tudo. Ou existiam: estão fechando uma atrás da outra, depois que seus métodos se revelaram fraudulentos e que muitos ex-pacientes narraram o terror que viveram lá dentro. Por aqui existe um lobby para que possam ser instaladas, além dos trabalhos de descarrego e amarração que essas seitas mercenárias já fazem. O perigo é real e a meia dúzia de deputado abertamente pró-LGBT pouco consegue fazer. Precisa surgir uma mobilização como a de junho de 2013, quando a "cura gay" entrou no balaio das maldades a serem combatidas e foi rapidamente engavetada. Mas o momento político atual é totalmente diverso. Os próprios gays parecem mais divididos do que nunca, atacando seus poucos representantes no Congresso ou patrulhando-se uns aos outros. Tem até quem diga que deveríamos ignorar provocações como esta que a bancada BBB acabou de fazer, para não dar ibope para essa corja. Mas aí eu lembro do que disse a J. K. Rowling, a autora do "Harry Potter": a gente responde aos homofóbicos em prol dos jovens reprimidos, que não podem se defender. E são justamente eles os que mais irão sofrer se esses projetos se tornarem leis.

LOVE WINS


Mais um dia histórico. A Suprema Corte dos Estados Unidos acaba de decidir que as proibições estaduais ao casamento igualitário são inconstitucionais - na prática, isto quer dizer que o casamento gay está aprovado em todo o país. O placar foi apertado: 5 a 4, com os juízes liberais de um lado, os conservadores do outro e William Kennedy, que costuma pender para um lado ou para o outro, pendendo para o lado certo. Muitos políticos republicanos dizem que ainda vão lutar na justiça (em qual instância?), ou simplesmente ignorar a resolução. Talvez ainda haja alguns sobressaltos pela frente, mas o amor venceu. Como sempre.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

DEFINA HÉTERO

A notícia de quea drag queen Léo Áquila considera estar num relacionamento heterossexual me incomodou um tiquinho. Também fiquei incomodado por me incomodar. Vamos por partes. Léo é razoavelmente conhecida: já participou de "A Fazenda" e se candidatou uma pá de vezes a cargos políticos, sem jamais ter sido eleita para nada. Não é operada nem sei se pretende entrar na faca, mas se considera transexual: estas definições agora mudam o tempo todo, então basta alguém dizer que é alguma coisa para sê-la. Você é mulher se acha que é mulher, e eu sou a favor disto. Mas será que sou mesmo? Acho que não, porque fiquei bolado por Léo se dizer hétero. Preconceito dela? Preconceito meu? Mas, se a Caitlyn Jenner se diz lésbica... Também me mordi por ela dizer que quer casar na igreja católica e que até já teria encontrado uma "inclusiva". Oi? Então não é católica, né? Tenho medo que isto sirva de munição ao inimigo, que diz que os gays forçarão a passagem de leis obrigando todas as igrejas a casá-los. Por outro lado, quem é religioso e sempre sonhou se casar de véu e grinalda deve poder realizar este sonho de alguma maneira. E para terminar, chega de tanto rótulo. Cansei.

CRISTIANO QUEM?

Ontem foi um dia trágico para os milhões de fãs de Cristiano Araújo, que morreu ao lado da namorada num acidente de carro no interior de Goiás. Também foi um dia curioso nas redes sociais: em muitas timelines, o que não faltava era gente se perguntando quem era o falecido cantor sertanejo. Esse descompasso fez com que a Folha me sugerisse um texto para o F5, que acabou saindo também no caderno Cotidiano, na versão impressa do jornal. Tive que escrevê-lo correndo, em cima da hora do fechamento, pois passei quase a tarde toda numa reunião do trabalho. E acabei cometendo uns errinhos: alguns foram corrigidos a tempo, mas um outro permaneceu, bem na abertura da coluna. Hoje de manhã mandei uma nova versão para ser publicada online, e o resultado é que, neste momento, as duas estão no ar no F5: a primeira, igual à do jornal, está aqui, e a segunda, aqui, com alguns acréscimos. Mas o pensamento por trás de ambas é o mesmo: como é que pode, um sujeito se tornar um ídolo para tantas pessoas e passar batido para outras tantas? Politica e culturalmente, o Brasil está se tornando muitos países  num só - mas será que isto é necessariamente ruim? O que você acha?

ATUALIZAÇÃO: Agora só a versão mais recente do texto está no ar no F5. Mas a antiga ainda pode ser lida no site da Folha e na versão impressa do jornal.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

TRANSLUMBRANTE

Ainda nem chegamos à metade de 2015, mas já está claro qual é o tema dominante da cultura pop produzida este ano: a transexualidade. A capa da revista "Entertainment Weekly" confirma a minha tese, mas Laverne Cox (da série "Orange is the New Black") nem é a trans mais badalada do momento. Esta honra vai para Caitlyn Jenner, que está fazendo de sua transição um espetáculo, um negócio e um exemplo a ser seguido. O assunto está presente na TV e no cinema: "Transparent", "Glee", "Sense8", o filme francês "Une Nouvelle Amie" que eu acabei de ver no avião. Mas a onda não começou agora, óbvio, RuPaul está por aí há mais de 20 anos e, aqui no Brasil, Laerte não sai das manchetes desde que se assumiu crossdresser em 2010. Só que nossos transexuais ainda não chegaram ao mainstream. Sim, havia a Valéria do "Zorra Total", mas cadê o personagem numa novela? Não tão cedo, né? Ainda mais agora, depois da grita em torno de "Babilônia" (que, aliás, está retardando a entrada em cena de Rogéria). Pelo menos tivemos a performance de Viviany Beleboni, a trans crucificada da parada gay de SP, que trouxe a polêmica para a luz do dia. E o brilho de Nany People, uma das melhores atrizes com quem eu já trabalhei, period. Não tenha dúvida: mais cedo ou mais tarde, o Brasil também vai transicionar para este novo tempo.

terça-feira, 23 de junho de 2015

VOCÊ JÁ FOI A ISRAEL, NÊGA? NÃO?

Então vá. Há um nítido esforço de alguns setores da esquerda em demonizar Israel. A única democracia do Oriente Médio e um dos países mais gay-friendly do mundo vem sendo pintado, desde que a direita se aferrou ao poder, no maior vilão de uma vizinhança que inclui o Irã, a Arábia Saudita e o ISIS. Claro que o governo de Netanyahu não é flor que se cheire, e que injustiças terríveis são cometidas todos os dias contra os palestinos. Mas tocar num país não significa aderir ao regime que o governa. E Israel não é a África do Sul, onde o apartheid, com o perdão do trocadilho, deixava tudo preto no branco. Israel são 500 tons de cinza e, repito, uma democracia mais funcional que a maioria das que nos rodeiam. É por isto que Caetano Veloso e Gilberto Gil têm toda a razão em recusar polidamente o pedido de Roger Waters para que não se apresentassem em Tel Aviv. Adorei a carta aberta com que Caetano respondeu a Waters: quase tão boa quanto o pito que ele deu no funcionário que usou errado a crase numa de suas redes sociais. Acho que há muito que se pode fazer para que os israelenses retomem a ideia dos dois estados (ou, melhor ainda, um estado só, com plena cidadania para todos). Mas privar um público provavelmente mais liberal que a média de ver dois velhos baianos não me parece lá muito eficaz.

LOVE TO LOVE YOU GIORGIO


Giorgio Moroder foi crucial na formação do meu gosto musical. Aliás, não é só para mim que ele foi importante: leva a sua assinatura aquela que é, na minha opinião, a canção mais influente dos últimos 40 anos: "I Feel Love", da diva Donna Sumer. Um dos primeiros arranjos feitos apenas com sequências eletrônicas e um hit global, cujos ecos ainda se ouvem. Moroder diz que estava tentando capturar o som da luz estroboscópica. Conseguiu.
Esse produtor italiano de sobrenome alemão foi disputadíssimo pelas estrelas até meados dos anos 80, mas depois caiu no ostracismo. Voltou a ficar em evidência dois anos atrás, quando o Daft Punk dedicou a ele a faixa "Giorgio by Moroder" no álbum "Random Access Memories": na verdade, uma longa entrevista ilustrada com música. A repercussão foi tão grande que o cara passou a ser convidado para DJ sets ao redor do mundo (passou até pelo Brasil), algo que nunca foi sua especialidade. Agora ele surge fazendo o que melhor sabe, que é fabricar sucessos. Seu primeiro disco em décadas, "Déjà Vu", tem um elenco de grandes nomes nos vocais e parece uma compilação do tipo "Now That's What I Call Music". Tudo é animado, tudo soa clássico e moderno ao mesmo tempo.
Minha faixa favorita é o remake de "Tom's Diner" com Britney Spears, que ainda não tem seu vídeo. Mas Morodoer soa mais Moroder do que nunca nos temas instrumentais, com aquela pegada de ficção científica prateada misturada com o glamour de boates parisienses como o Chez Régine's. É o caso de "74 is the new 24", aí acima, que foi lançada como jingle do Google em 2013, mudou de nome algumas vezes e agora encontra sua encarnação definitiva. Ah, Giorgio, tantas lembranças... da gemeção de Donna Summer à trilha pioneira do "Expresso da Meia-Noite", passando pela fase mais radical do meu adorado Sparks. Que bom que chegou mais uma: "Déjà Vu" é um trabalho digno de quem não precisa provar mais nada, mas continua ótimo como sempre foi. Corre atrás que vale a pena.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

CAROUGE PARTOUT

Pronto, já estou fazendo a mala. Esses quatro dias em Genebra foram quase que só programas de família: almoço na casa de um, jantar na casa de outro, festa de casamento e umas comprinhas, bien sûr. Os dias estavam gloriosos e a cidade mudou de vibe. As praias às margens do lago estão lotadas, a garotada invadiu as ruas e chega até a fazer calor. Diria-se que o espírito de Carouge se espalhou por toda parte: o bairro boêmio de Genebra começou sua história como um vilarejo italiano vizinho à ultra-austera cidade dominada pelos calvinistas. Como aqui era proibido até cantar e dançar, era em Carouge que os genevoises iam festejar no século 17. Hoje é tudo uma coisa só, mas com arquiteura e ambiente bem distintos entre si. Ou nem tanto, nesse comecinho do verão setentrional.

domingo, 21 de junho de 2015

IT'S A SMALL, SMALL WORLD

"Há um mundo bem melhor / Todo feito pra vocês / É um mundo pequenino / Que a ternura fez". E a ternura fez mesmo, junto com a tecnologia. Não há mais distâncias, não há mais barreiras, ou quase não há. É o que possibilita a formação de casais como meu sobrinho Marc e sua noiva Nashe. Ele nasceu na Suíça, filho de pai brasileiro (meu irmão) e mãe americana de origem judia. Ela, filha de pai suíço-alemão e mãe tanzaniana (Flora, comigo na foto abaixo). Os dois se conheceram em Londres e se casaram ontem, na casa da mãe dele em Cologny, arredores de Genebra. É aqui onde estou hospedado, com direito a vista para o lago Léman.

Foi a festa com mais nacionalidades presentes a que eu já fui. O interessante é que todo mundo era meio conectado, quase uma imensa família. Sentei ao lado de uma moça tailandesa e, conversando, descobri que ela é casada com um primo 100% suíço e louro da noiva, com quem tem uma filhinha absolutamente linda. Os melhores amigos de Nashe são um gay iraniano fervidíssimo e uma filipina chamada Tosca, que mora em SP. Dá pra ser mais cool do que isto?

Não houve cerimônia religiosa, mas um discurso emocionante e engraçado feito pelos irmãos dos noivos, dois de cada lado. Depois teve troca de alianças e, seguindo a tradição judaica, um copo quebrado com os pés (mazel tov!). A área da garagem, nos fundos da casa, foi coberta por um toldo e ocupada por grandes mesas e bancos de piquenique, sem encosto. Um jantar bastante simples (salada, vitela, tiramisù) e, logo em seguida, as mesas afastadas para que surgisse uma pista de dança. Ao som de funk africano, duas revelações: o pai da noiva, o suíço mais groovy evah, e essa japonesa de quimono, que rodopiou nos tamancos sem jamais perder o rebolado. Uma festa divertida, que parecia a confraternização de final de ano dos funcionários da ONU. Que bom que eu vim.

sábado, 20 de junho de 2015

VAI PROCURAR ROLA, MALAFAIA

Ricardo Boechat me representa, e muito. Claro que ainda vivemos num mundo onde mandar alguém procurar rola ainda é considerado ofensivo, quando deveria ser elogio. Mas para o Malafaia é um insulto, e isto é o que importa. O jornalista foi agressivo? Claro que foi, e ainda bem. Esses pastores de merda precisam levar umas invertidas de vez em quando. E ganhamos a melhor frase do ano...

sexta-feira, 19 de junho de 2015

QUEER CINEMA A BORDO


Havia tantas opções no entretenimento de bordo do meu avião para Zürich que eu consegui fazer meu próprio festival de "queer cinema" nas alturas. Abri os trabalhos com "Der Kreis" ("O Círculo"), um docudrama que venceu o prêmio Teddy Bear no festival de Berlim do ano passado e ainda representou a Suíça nos Oscars deste ano. O círculo em questão era uma revista gay suíça publicada de 1932 a 1967, um recorde, que primava mais por ensaios intelectuais do que fotos eróticas (e parte do conteúdo em inglês para escapar da censura local). Os assinantes também tinham direito a frequentar uma secretíssima festa-baile semanal, muito mais bacana do que qualquer buatchy moderna. A dramatização do passado é entremeada por depoimentos reais de alguns dos sobreviventes, inclusive o casal que aparece no poster ao lado. E, se por um lado é reconfortante saber que muita coisa mudou - quase ninguém mais precisa de uma identidade secreta, sob o risco de perder família e trabalho se for descoberto  - pelo outro, claro, é chato perceber que ainda estamos nos anos 1950. Esta pequena pérola que merecia pelo menos vir ao próximo MixBrasil.


Meu festival particular prosseguiu com um dos melhores filmes que eu vi etse ano até agora, "Une Nouvelle Amie" ("Uma Nova Amiga"). É o trabalho mais almodovariano de um dos meus diretores predileitos, o francês François Ozon. E o tema não podia estar mais na ordem do dia: a transexualidade. Uma mulher descobre que o viúvo de sua melhor amiga gosta de se vestir de mulher. E aí... não posso contar muito mais sem estragar o filme. Não há nenhuma revelação retumbante nem uma virada surpreendente, mas sim uma história muito bem construída sobre identidades de gênero e preferências sexuais. Todas cambiantes, todas viáveis. E ainda há uma sequência inesquecível numa boate (também melhor do que todas que a gente conhece): primeiro com uma drag cantando "Une Femme... Avec Toi", um dos hits franceses mais cafonas da década de 70, depois com o casal sensualizando na peeshta ao som da icônica "Follow Me" da Amanda Lear. Como não amar? E assim desembarquei na Suíça ainda mais queer do que eu tinha embarcado, como se isto fosse possível.

PETIT SUISSE

Güten tag! Acabei de pousar em Zurique, na Suíça, e estou esperando minha conexão para Genebra. Quem acompanha este blog faz tempo sabe da minha conexão com a cidade: é lá que moram vários sobrinhos meus, filhos de diferentes irmãos, e um deles se casa neste sábado. Como eu fiz há cinco anos, aproveitei o ensejo para vir dar um beijo em todo mundo e dar uma passadinha no duty free. É bate-volta mesmo, só quatro dias. Descolei uma passagem num desses sites de viagens pela metade do preço habitual, para pagar em suaves prestações. Claro que fiz loucura, mas quem nunca? Além da família, tem tanta coisa para curtir aqui...  #chocolate #queijo #relógios #contasecreta #prisãoFIFA

quinta-feira, 18 de junho de 2015

ORGIA TELEPÁTICA


Se você não está acompanhando a série "Sense8", ou sequer assina o Netflix, eu vou ser suuuper legal e compartilhar a melhor cena da TV deste ano, pelo menos até agora (duvido que algo ultrapasse, até porque a temporada de "Game of Thrones" já acabou). Sim, é uma suruba entre homem hétero, homem gay, mulher hétero e mulher trans lésbica, um sonho de consumo. E eles nem estão no mesmo lugar: cada um no seu continente, trepando só com a força do pensamento. Falo mais sobre "Sense8" na minha coluna de hoje no F5: acho que matei a charada, que aliás nem chega bem a sê-lo. Você concorda?

INGLÊS NÍVEL BÁSICO


Os Estados Unidos podem ter mais estrelas de alcance planetário, mas a música pop avança mesmo é na Inglaterra e arredores. Só que às vezes até os artistas mais vanguardistas deixam de firula e voltam ao básico. É o caso de Florence + The Machine, que parece nome de banda mas na verdade é só o pseudônimo artítstico de Florence Welch. A moça confirma que é um major MAJOR talent com seu terceiro álbum, "How Big, How Blue, How Beautiful". A música fala por si: ela não precisa mais dos figurinos bizarros, nem da persona de sacerdotisa celta. As faixas ainda trazem uma harpa aqui ou ali, mas a pegada é mais pro rock mesmo. Como no excelente primeiro single, "Ship to Wreck", cujo vídeo está aí em cima. A qualidade das composições e das interpretações já fazem deste um dos melhores discos do ano. Recomendo.


Já a volta do Blur não é assim tão boa. O grupo foi um dos maiores da onda britpop dos anos 90, disputando pau a pau com o Oasis. Mas depois seus membros se dispersaram, e o líder Damon Albarn se envolveu em diversos outros projetos interessantes (teve até disco solo no ano passado). "The Miracle Whip" soa agradável e competente, mas não tem uma única música marcante nem nada de muito inovador. Pode ressuscitar os Gorillaz, Damon.

O terceiro nome inglês que completa este post é o Hot Chip, que lançou algumas coisas bacanas ao longo da última década mas vinha fazendo uns álbuns chatos de se ouvir do começo ao fim. Finalmente eles se redimem com "Why Make Sense", seu melhor trabalho ever, com melodias eletrônicas e samples de música soul. Não chega a ser um divisor de águas, mas é pop básico e bem construído. Perfeito para fones de ouvido.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

TODO MUNDO É MADONNA

Houve um princípio de pânico entre a bicharada na manhã desta quarta-feira, quando foi lançado um novo vídeo da Madonna feat. Beyoncé, Katy Perry, Miley Cyrus e mais uma porrada de famosos - mas APENAS e tão somente para os assinantes do Tidal, o serviço de streaming do qual Madge e seus amigos são sócios. Só que uma alma caridosa já disponibilizou "Bitch. I'm Madonna" no YouTube, se bem que com baixa qualidade e sem os segundos finais. O clipe é inspirado na performance que Madonna fez no programa do Jimmy Fallon algumas semanas atrás, e traz uma proposta democrática: todo mndo pode ser a rainha do pop. Assista logo, antes que tirem do ar, ou espere até amanhã.

ATUALIZAÇÃO: baubau, já tiraram do ar. Se aparecer de novo, eu posto.

ATUALIZAÇÃO 2: hahaha, o clipe já reapareceu no RuTube, um site russo de onde dicilmente Madonna e sua gang conseguirnao derrubá-lo. Spassiba!


ATUALIZAÇÃO 3: Pronto, o vídeo já está no YouTube. Ufa.

FORA DO ARMÁRIO, DENTRO DO GABINETE

Guardem este nome: Peter Buttigieg. Ele é o prefeito de South Bend, no estado americano de Indiana. Tomou posse em 2012 quando tinha apenas 28 anos de idade - tornando-se, assim, o mais jovem prefeito da história dos EUA de uma cidade com mais de 100.000 habitantes. Formado em história e literatura pela universidade de Harvard, Buttigieg também fez carreira no exército. E foi o primeiro prefeito americano a ir para guerra durante seu mandato: em 2014, ele passou sete meses no Afeganistão como tenente, deixando o vice em seu lugar. Tudo isso é admirável, mas ontem ele fez ainda mais. Buttigieg (que é do partido Democrata, o mesmo de Obama e Hillary Clinton) tornou-se o primeiro prefeito a sair do armário em pleno mandato, e ainda por cima disputando a campanha para a reeleição. Num editorial publicado num jornal de seu estado, o cara disse que ser gay é parte do que ele é, e foi coberto de elogios nas redes sociais. Mas ainda não saiu nenhum pesquisa indicando se esta revelação irá prejudicá-lo na eleição. Tomara que não: do jeito que a coisa vai, daqui a alguns anos Peter Buttigieg pode se tornar o primeiro presidente americano assumidamente homossexual.

terça-feira, 16 de junho de 2015

INFELICIANOFOBIA

Fui procurado semana passada, via Facebook, por uma produtora do "Superpop" da Luciana Gimenez. Acabamos nos desencontrando totalmente, e só sei que ela queria algo de mim para o programa que foi ao ar ontem. Não faço ideia se era para ir ao palco bater boca com o Infeliciano, ou se era só para dar algum palpite. Claro que hoje eu fui checar o que rolou, e não é que a Lu se portou bastante bem? Foi firme, defendeu o estado laico, usou argumentos sólidos. Foi até melhor que o Felipeh Campos, que não entendeu direito a mensagem da transexual crucificada e acabou concordando em parte com o descalabro da "cristofobia". Agora, interessante mesmo foi ver o Infeliciano afinar um pouco seu discurso. Disse que retira algumas coisas que disse e que eram só "provocações". Some-se a isto uma declaração dele da semana passada - de que o Malafaia teria dado um tiro no pé ao convocar um bociote a O Boticário - e começo a suspeitar que ele está tentando se tornar mais palatável a um público não tão fundamentalista como o que costuma aplaudi-lo. O que pode não ser tão bom quanto parece: e se ele estiver pensando em se candidatar a algum cargo no Executivo? Brrr, vade retro.

PIPOCA PROJETADA NA TELA


"Jurassic World" não é um filme. É um "ride" de parque temático - aliás, do próprio parque imaginário que lhe dá o nome. E por isto deve ser tratado como tal: nada de esperar personagens complexos ou densidade dramática. Tudo a que o diretor Colin Trevorrow se propõe é a dar alguns sustos e calafrios no público, exatamente como a Space Mountain da Disney. E consegue, como consegue. Para começar, o tal do parque - um versão upgraded do original dos anos 90 - é totalmente plausível, com suas lojinhas de suvenir e seus turistas boçalizados. Também tem sua lógica (capitalista, é claro) a criação em laboratório de um dinossauro que nunca existiu, o Indominus Rex. Até esse nome ridículo é jutificado: precisava ser assustador, mas fácil de pronunciar. Mais problemática é a aparência dos outros dinos. Todos têm aquele look clássico de lagartões que está incrustrado em nossas consciências, sem as penas coloridas que a ciência contemporânea descobriu que eles possuíam. Também tem aspecto artificial a protagonista feita por Bryce Dallas Howard. Mesmo suada e machucada, ela nunca perde o ar de manequim de vitrine. Mas nada disso importa: o que interessa mesmo é que "Jurassic World" é divertidíssimo do começo ao fim, gostoso e pouco nutritivo feito pipoca com manteiga. Houve até momentos em que eu senti o mesmo frisson de quando eu era pequeno e entrei num parque desses pela primeira vez, o que não é pouco. Pode ir sem medo.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

ENTENDERAM AGORA?

Rafael Barbosa de Melo tinha 14 anos, era afeminado e sonhava em ser estilista. Não será mais: o corpo de Rafael foi encontrado neste sábado em Cariacica, na região metropolitana de Vitória, com sinais de pauladas e pedradas. O único suspeito é o irmão de seu padrasto, de 26 anos. Mas o delegado que está cuidando do caso já descartou a homofobia: o assassino teria tentado abusar do garoto, portanto seria gay também. Como se muitas das vítimas LGBT não fossem mortas por homossexuais que não se assumem. Como se não existisse a auto-homofobia internalizada, insuflada pelo machismo e por muitas religiões.

Cadê a oração no Congresso pela alma de Rafael? Cadê as milhares de pessoas que se sentiram ofendidas com a trans crucificada da parada gay de SP? Foi por casos como o de Rafael que ela se desfilou daquele jeito. Não foi para ofender a religão de vocês, foi para chamar a atenção para a violência que gays e trans sofrem por todo o país. Para que casos como o deste menino não aconteçam mais. Deu para entender? Não, né? Vocês preferem que desenhe? Mas já houve a imagem da trans na cruz, agora há as fotos do garoto morto, e nem por isto vocês vão mudar de ideia. Preferem continuar dizendo que os símbolos religiosos não podem ser banalizados (como se milhões de pessoas não usassem crucifixos no pescoço como simples joias), ou que existe "cristofobia" no Brasil. Na boa: quantos cristãos foram mortos esta semana, só por serem cristãos?

A GENTE FOMOS NO SHOPPING

Hoje estreia o primeiro projeto em que eu mergulhei no meu novo emprego na Fremantle. "#Partiu Shopping" é uma sitcom estrelada por Tom Cavalcante, que vai ocupar aquela faixa diária do Multishow onde já estiveram "Vai Que Cola" e "Tudo pela Audiência". Tom é um gênio absoluto da comédia, e o elenco de apoio não fica atrás: Nany People, Danielle Winits, Alex Grulli, Monique Alfradique, Leo Castro e Camila Camargo. Na foto também aparecem o diretor Otávio Martins e o chefe dos roteiristas, Marcio Araújo. E eu fiz o quê? Bom, comecei apenas supervisionando os roteiros, mas acabei escrevendo alguns e colaborando com vários. Vamos precisar ter errado demais para não fazer sucesso. Partiu segunda temporada?

(na foto também aparece o convidado especial do último programa que gravamos, Carlos Alberto de Nóbrega. E ainda teve Ceará, Ratinho, Dedé Santana...)

domingo, 14 de junho de 2015

TERROR E ACONCHEGO

Já vi peças no meio da rua, dentro de uma igreja e seguindo os atores pelos cômodos de uma casa. A este currículo variado agora eu posso acrescentar o cemitério da Consolação, em cuja capela está em cartaz "Para Gelar a Alma". É bom reservar pela internet: os ingressos são gratuitos, mas há apenas 40 lugares e mais três finais de semana. O diretor e dramaturgo Márcio Araújo (que eu conheci fazendo um trabalho de teor oposto, a sitcom "Partiu Shopping") adaptou três contos de terror de Edgar Allan Poe que funcionam muito bem no espaço lúgubre de uma necrópole. As três atrizes em encenam seus maiores medos, mas a atmosfera é acolhedora. Além do espetáculo em si, passear à noite pelo cemitário mais tradicional de SP é uma experiência interessante. Minha família por lado de mãe está quase toda lá: talvez por isto eu tenha me sentido em casa.

"SCRUBS" À FRANCESA


"Hipócrates", outro filme que eu vi no Festival Varilux de Cinema Francês, me agradou bem menos que "Samba". O curioso é que eu esperava mais desta dramédia que foi indicada a vários prêmios César. Pelo trailer (que ainda não existe com legendas em português, apesar do filme em si já estar legendado), parece uma versão francesa da série "Scrubs", pois o portagonista é um médico recém-formado em seu primeiro ano de residência. Mas o tom aqui é mais sério, e chega a ser surpreendente a denúncia de que os hospitais públicos da França - teoricamente um país de primeiro mundo - sofrem de problemas parecidos com os daqui, como a falta de equipamento e pessoal qualificado. Meus amigos médicos provavelmente irão se identificar (e adorar), mas eu achei "Hipócrates" simplesmente razoável. Vou me dar alta.

sábado, 13 de junho de 2015

SAMBA DO CRIOULO TRISTE


"Intocáveis" foi o filme francês de maior sucesso dos últimos anos. Foi bem de bilheteria no mundo inteiro, ficou entre os nove pré-indicados ao Oscar em 2012 e bateu recorde audiência quando foi exibido pela TV aberta no Brasil, alguns meses atrás. Uma comédia dramática que virou peça de teatro (está em cartaz em SP) e lançou a carreira do negão-magia Omar Sy, que estava engraçadíssimo no papel de um cuidador sem a menor experiência. Agora o ator se reúne com a mesma dupla de diretores daquele filme, Eric Toledano e Olivier Nakache, para mais uma história sobre os excluídos da sociedade. Mas dessa vez o registro do personagem é outro, bem mais sóbrio que o anterior. "Samba" não é sobre o ritmo brasileiro, mas um imigrante do Senegal que tem esse prenome que remete à alegria. Só que o cara é cabisbaixo, e com boas razões para sê-lo: a vida de lavador de pratos não é mole, e a polícia vive em seus calcanhares para deportá-lo. Numa dessas escaramuças ele conhece uma assistente social com problemas de controle da raiva, feita pela feia-bonita mais interessante do cinema europeu: Charlotte Gainsbourg. E depois ele ainda fica amigo de um falso brasileiro, um papel cômico interpretado magnificamente por Tahar Rahim, que até o momento aparecia sempre sério na telona. Eu vi "Samba" no festival Varilux, que está acontecendo esta semana em muitas cidades brasileiras. Mas entra em cartaz em julho, e eu já estou recomendando.

AS FALAS DO TRONO

Como a Dilma é chata. Não que a gente já não soubesse disso, mas puta que o pariu - como a Dilma é chata. A entrevista da presidenta ao Jô Soares, exibida pela Globo na madrugada de sexta para sábado, foi um porre. A mulher fala pelos cotovelos, cheia de si mesma e com certezas absolutas. Não dá um respiro para seu interlocutor: foi por isto que William Bonner foi tachado de grosseiro pelos petistas, pois teve peito de cortar a fala de Dilma quando a entrevistou durante a campanha eleitoral do ano passado. Jô não teve esse peito. Ficou assentando com a cabeça, feito vaquinha de presépio. Não que eu esperasse alguma intervenção contundente, pois ele nunca encurralou nenhum de seus entrevistados. O cara não é jornalista: é um entertainer, e sua única função é entreter. O papo inteiro serviu unicamente como peça de propaganda do Planalto, mas eu defendo Jô por tê-lo aceitado - quem não aceitaria uma oferta dessas vinda de um presidente? Mas não sei se foi cumprida a missão de desanuviar a imagem de Dilma. Ela mais uma vez jogou a culpa na crise externa (que já acabou nos EUA e está diminuindo em muitos países da Europa), na seca (e chamou o Sudeste de "caixa d'água" do país, quando o Norte tem muito mais água) e no próprio tempo, que ainda não passou o suficiente para que colhêssemos os benefícios de seu novo mandato. Parece que ela se esqueceu do primeiro... Mas o que mais me marcou mesmo foi a chatice crônica da presidenta. Dilma Rousseff é uma chata de galochas, e só a perspectiva de ter que ouvi-la pelos próximos três anos e meio me dá vontade de pedir impeachment já.

Ainda pior que a entrevista de Dilma foi o discurso anti-imprensa de Lula no congresso do PT em Salvador. O ex-presidente disse que os cortes nas grandes empresas de mídia, como a Globo, a Abril, a Folha e o Estadão, estão acontecendo porque o povo está cansando de ouvir "mentiras". Foi uma fala nojenta, se regozijando da desgraça de centenas de profissionais e, mais uma vez, mentindo deslavadamente. Os militantes adoram esse tipo de discurso, mas quem está de fora tem razão em se sentir agredido. Não sei se foi uma tática muito inteligente.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

MEU CU É LAICO

Hoje eu acordei com a triste notícia de que Eduardo Cunha é favorável ao projeto da lei da "cristofobia", a última aberração inventada pela bancada da Bíblia. Além de perfeitamente inútil (pois a Constituição já garante liberdade de culto e respeito a todas as religiões), essa nova lei retira mais um tijolo do muro que separa Igreja e Estado. Tremo em pensar no que pode ser vir a ser enquadrado nesse descalabro, de boates gays (pois os gays "ofenderiam" a Jesus) a turistas fazendo caretas no Cristo Redentor. Minha esperança, mais uma vez, é que nosso Supremo entre em ação e acabe com o delírio dessa corja. Mas só isto não basta. Está mais do que na hora de surgir um movimento organizado, com slogan e adesivos, contra essa maré fundamentalista que quer nos engolir. Para começar, eles não são tantos assim, nem tão poderosos. Mas faz parte do marketing evangélico criar esta sensação de que são invencíveis, e que mais cedo ou mais tarde o Brasil inteiro estará sob o domínio deles. Nananina: fizeram o mesmo nos Estados Unidos, surfaram na crista da onda nos anos Bush, mas perderam feio com a ascensão do Obama (e a de toda uma nova geração de eleitores).

Aposto que o mesmo acontecerá por aqui, mas não podemos ficar de braços cruzados. Temos que nos mexer, como está fazendo a campanha Liberdade na Vida/na Arte, da revista de teatro Antro Positivo, que mostra diversos atores cariocas (inclusive muitos "globais") dando apaixonados beijos homossexuais. E talvez juntar iniciativas dispersas numa só bandeira. Num só logotipo, num só slogan, numa frente ampla contra os fiscais do cu alheio. Aliás, este poderia ser um dos motes da campanha, já popularizado em diversas paradas do orgulho LGBT: meu cu é laico. Achou feio? Muito agressivo? Então sugere algo melhor!

quinta-feira, 11 de junho de 2015

JUDICIÁRIO, NOVE...

Podemos não gostar deste ou daquele juiz do Supremo, por achá-lo truculento ou por não se alinhar conosco politicamente. Mas uma coisa é certa: o STF é um dos poucos aspectos do poder que funciona direitinho no Brasil. Tem muito juiz corrupto nas instâncias mais baixas, mas o time que chega à mais alta corte é quase sempre da mais alta qualidade, não importa o viés partidário. Ontem foi um dia de brilho, com a liberação por nove votos a zero das bografias não-autorizadas. Uma liberdade óbvia em qualquer nação civilizada, mas um pomo da discórdia persistente em terras tupiniquins. Se dependêssemos do Congresso, a matéria ainda estaria pendente e provavelmente acabaria dando a vitória a Roberto Carlos, Paula Lavigne e outros defensores do obscurantismo. Além do mais, porque é do interesse dos próprios deputados e senadores manter a mordaça sobre seus biógrafos. Com a antiga interpretação da constituição, até o Collor poderia proibir um livro que contasse seus podres mais do que comprovados. É gente como a juíza Carmen Lúcia que me dá um fiapinho de esperança neste país. Um só.

...LEGISLATIVO, ZERO

Enquanto o Supremo brilha, a Câmara de Deputados chafurda na escuridão. Ontem foi um dia de horror indescritível: teve até gás de pimenta atirado pela polícia nos manifestantes que foram acompanhar a votação da redução da maioridade penal. Como se não bastasse, nossos nobres parlamentares ainda prosseguiram na lambança da reforma política, mantendo o voto obrigatório - que força as massas ignaras e despolitzadas a votar, tornando-as facilmente manobráveis por espertalhões. Ainda fizeram um fuzuê com a duração dos mandatos, e coroaram a jornada com um estapafúrdio protesto anti-gay da bancada religiosa. Como é que podem irromper no plenário e puxar uma oração, em pleno estado laico? Podem porque o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, não só é evangélico como também um escroto de marca maior. Os políticos pastores precisam criar um clima de pânico moral para manter o rebanho feli$$, e estão, como nunca, tentando pintar os homossexuais como adeptos de Satanás. Precisa surgir ontem um movimento da sociedade civil contra essa quadrilha, que quer impor seus credos ao país inteiro e, por trás de tudo, multiplicar seus lucros (haja vista a nova isenção tributária aprovada em prol das "igrejas", na semana passada). Mentem descaradamente, misturam fotos de passeatas diferentes, confundem o público e ainda se dizem perseguidos. Você é a favor disso?

quarta-feira, 10 de junho de 2015

COLUNA SECRETA

Aqui não tem desperdício. Ontem eu mandei um texto para o F5 comentando a estreia de "Verdades Secretas" na segunda-feira passada. Mas, como muitos outros colunistas do UOL e da própria "Folha" fizeram o mesmo, me pediram para mudar de assunto. Hoje saiu uma coluna minha onde eu até falo da nova novela do Walcyr Carrasco. Mas o texto anterior (do qual eu aproveitei uns trechos para o novo) está aqui, em toda sua glória. Como a bunda do Rodrigo Lombardi.

Escaldada pelo quiproquó ao redor de “Babilônia”, a Globo foi cautelosa na campanha promocional de “Verdades Secretas”. A nova trama de Walcyr Carrasco seria o que os americanos chamam de “cautionary tale”: uma história que serve de alerta. Uma espécie de “Chapeuzinho Vermelho” para adultos.

O próprio autor saiu a campo para esvaziar qualquer tentativa de boicote. “Conservadores, vejam a novela até o final e vocês vão entender que, para mostrar a luz, tem que mostrar a escuridão”, declarou Carrasco à imprensa.

O primeiro capítulo, exibido na segunda-feira (8), até que foi bastante comedido. A única cena mais forte foi uma longa transa entre os personagens de Rodrigo Lombardi e Alessandra Ambrosio. Sim, havia nudez, mas nada de impróprio para o horário (por volta das 23 horas, quando crianças bem educadas já devem estar na cama). E parabéns para a ousadia de Alessandra, top model internacional que estreia como atriz de novelas justamente com uma cena dessas.

O que mais se destacou, na verdade, foi o conservadorismo narrativo do primeiro bloco. Carrasco, um roteirista tarimbado, estabeleceu de cara quem são as protagonistas, interpretadas por Drica Moraes e pela novata Camila Queiroz.

Com economia de diálogos e precisão dramatúrgica, em poucos minuto ele nos envolveu com o drama de uma família que se desfaz por causa da bigamia do marido (Tarcísio Filho, um ator excelente que deveria ser bem melhor aproveitado pela TV). Nenhuma pirueta, nenhum truque moderninho. Só o bom e velho novelão à moda antiga, gostoso feito um bolo caseiro.

O tom ficou um pouco menos realista e mais exagerado no segundo bloco, quando a mãe sofredora e a filha aspirante a modelo se mudam do interior de São Paulo para a capital. A menina sofre bullying no colégio de elite onde consegue bolsa, e suas algozes parecem saídas diretamente de um filme americano para adolescentes.

Logo depois, numa agência de modelos, somos apresentados ao “booker” Visky (Rainer Cadete), um gay rebolativo desses que só existem na ficção. E a dona do lugar (Marieta Severo, em seu primeiro papel dramático na TV depois de 14 anos) se chama Fanny Richard – um nome digno de cafetina de 1920.

Um detalhe me chamou a atenção nesta sequência. Grazi Massafera, que faz uma modelo que se envolverá com drogas, aparecia ao fundo da cena, mas sem o menor destaque. Uma escolha curiosa da direção: será que estão sinalizando que sua personagem já está em fim de carreira e não brilha mais como antes? Dali para a decadência moral e física são só alguns passos.

“Verdades Secretas” estreou bem, sem pressa de chocar o espectador. Foi um bom começo, desses que toda novela deve ter: deu vontade de ver mais.

CHOQUE DE GERAÇÕES


Colaborações entre artistas solo são frequentes: duetos, mash-ups, featuring, etc. Muito mais raros são os encontros entre bandas completas, descontando as jams sessions em festivais. E o que dizer quando mais de trinta anos separam esses grupos? O Sparks surgiu nos Estados Unidos no comecinho dos anos 70, e estourou na Europa alguns anos depois. Foi quando eu me apaixonei perdidamente pelo pop excêntrico dos irmãos Ron e Russell Mael, a quem permaneço fiel até hoje. Os escoceses do Franz Ferdinand só se juntaram em 2002, e eu nunca suspeitei que esse choque de gerações daria algo interessante. Mas deu: "FFS" já é um dos meus álbuns favoritos do ano. Para os meus ouvidos soa como um trabalho do S com vocais convidados, desacostumado que estou com o FF anda fazendo recentemente. O fato é que, apesar da diferença de idade, as duas bandas têm queda pelo melodrama e pelas letras irônicas. Agora eu torço para que a turnê conjunta passe pelo Brasil, onde o Franz Ferdinand já esteve várias vezes. Seria minha chance de ver o Sparks ao vivo, que nunca foi muito conhecido por aqui.

terça-feira, 9 de junho de 2015

SER GAY TE DÁ AAASAS

Assumir-se gay em carta aberta ao público, como Ricky Martin fez alguns anos atrás, é coisa do passado. A moda agora é namorar pelado - em seu próprio vídeoclipe, como fez o cantor norueguês Tooji. O rapaz, que representou seu país no Eurovision de 2012, saiu do armário em grandessíssimo estilo com "Father". Que deverá ser visto como blasfemo naquele rincão atrasado que é a Noruega.

BRASIL SAUDITA

Estamos vivendo o começo de uma nova Idade das Trevas? Um padre de Goiás assistiu no YouTube ao vídeo de uma peça que o Teatro Oficina encenou na PUC de São Paulo em 2012 e resolveu chamar a polícia. Isso porque no tal do espetáculo uma imagem do ex-papa Bento 16 era decapitada. É bom lembrar que o papa não é uma divindade digna de culto... Dificilmente Zé Celso Martinez Corrêa e sua trupe serão condenados, mas só o fato de um processo desses existir já me dá calafrios. Hoje saiu outra notícia assustadora: inspirado pela repercussão da trans crucificada na parada gay de SP, o deputado Rogerio Rosso (PSD - DF) quer propor uma lei criminalizando o que ele chama de "cristofobia". Ora, a nossa constituição já garante a plena liberdade de culto e o respeito a qualquer religião (esquecido pelos fundamentalistas que atacam terreiros afro-brasileiros). Atitudes como essas merecem uma resposta imediata. Nada de ignorar para "não dar cartaz" a esses cefalópodes. Se ninguém fizer nada, aí é que eles vão se sentir cada vez mais à vontade para fiscalizar a alma e o cu alheios. Do jeito que a coisa vai, daqui a pouco vão dizer que ser ateu é uma ofensa ao Altíssimo, e portanto, crime passível de cadeia. Vamos assistir calados à "saudização" do Brasil?

segunda-feira, 8 de junho de 2015

MINHA POUSSEY É O PODER

Chão, chão, chão. Pela primeira vez em muitos anos, assisti à parada day de São Paulo do chão, misturado aos simples mortais. Aquele meu amigo que abria todo ano seu terraço na esquina da Paulista com a Consolação este ano resolveu não abrir. Então peguei meu cachorro e enfrentei a turba insana. Claro que ele se assustou, mas também adorou as festinhas que recebeu de estranhos. Mas eu, que fui interessado em ver um único carro - o do Netflix - saí frustrado. Quando ele passou por mim não deu para ver nenhuma das atrizes que vieram promover a terceira temporada de "Orange Is the New Black", nem a Valesca Popozuda. Mas compartilho aí embaixo o vídeo que Valesca gravou para o marketing da série. E aplaudo que cada vez mais empresas usem a parada para anunciar seus produtos: isso é óteeemo, pessoal, é sinal da vitalidade do mercado gay. Na parada de Nova York você é coberto por apitos da Coca-Cola e ventarolas da General Motors. Aqui ainda falta muito, mas quanto mais propaganda, melhor.

Vi só uns quatro carros dos 19 que desfilaram, e acabei perdendo o mais polêmico de todos. Bendita polêmica, aliás: foi o que elevou essa parada ao nível de contestação política, que sem ela seria apenas um carnaval fora de época. Claro que eu estou falando da trans Viviany Beleboni, que surgiu crucificada e ensaguentada em protesto à homofobia. A ideia nem é original: Madonna, Vera Fischer e Neymar já apareceram "crucificados" antes, mas sem causar tanta controvérsia como agora. Eu, pessoalmente, adorei. E estou chocado com a reação de muitos gays, que acharam uma ofensa gratuita e um desrespeito à religião. Gentem, quem desrespeita a religião são os líderes que pregam o ódio e a discriminação. A imagem de uma trans crucificada é uma metáfora da violência a que todos os gays - e as trans especialmente - sofrem nesse país de merda, que se diz cordial mas no fundo é grosseiro e inculto. Sim, essa cruz foi feita mesmo para chocar. E o choque é uma arma política, uma maneira de desestabilizar as opiniões formadas. Fico triste de ver que tem muito LGBT que não entende isto, e que acha que temos que ser bonzinhos e inofensivos para sermos aceitos por todos. Gay careta é uma contrdição em termos! Mas somos todos brasileiros: é óbvio que existem grosseiros e incultos também entre nós.

domingo, 7 de junho de 2015

SORRIA, VOCÊ ESTÁ SENDO HACKEADO

Hackearam o site do Infeliciano. Claro que é engraçado - quem diria que Jesus é patrocinado por O Boticário? - mas talvez também seja contraproducente. Ele agora vai se fazer de vítima e dizer que os gays malvados o atacaram. E, como bem disse um leitor num comentário, imagina a gritaria se hackers evangélicos tivessem invadido um site gay. Esse tipo de ação me parece tão madura quanto disputar quem tem mais likes ou dislikes num vídeo do YouTube. Fazem parte da democracia, e eu prefiro viver num mundo onde os hackers possam cometer suas travessuras de vez em quando. Mas será que fez alguém mudar de ideia quanto à causa LGBT? Talvez para pior.

(no momento em que escrevo este post, o site do Infeliciano já voltou ao normal)

A - DÃÃ - LINE


Essa safra de meio de ano está mesmo ruizinha de doer. Faz não sei quanto tempo que eu não vejo um filme realmente bom. Até os médios estão em falta: aqueles dos quais você não espera muita coisa, só que distraiam um pouco. Mas nem isso "A Incrível História de Adaline" consegue. O pior é que podia ter saído coisa boa, porque a premissa é interessante: uma mulher que não envelhece, enquanto seus entes queridos crescem e morrem à sua volta. Mas, ao contrário de obras semelhantes como "Benjamin Button", aqui o roteiro se esforça para dar uma explicação idiota - os "telêmaros" ou coisa que o valha da moça teriam sido afetados de um jeito que só será explicado pela ciência em 2035. Tudo isso a bordo de uma loc. off que parece ter sido gravada para crianças com dificuldade de aprendizado, tamanho o didatismo. Este é o problema do cinema americano comercial: mastiga tudo e desconfia da capacidade de discernimento da plateia. E desperdiça o drama da personagem, que tem que lidar com os humanos como se fossem cães: apega-se a eles, mas está ciente de que duram pouco. Aí ela tem que arranjar outro.

sábado, 6 de junho de 2015

LEITE DE PEDRA

A internet deu mais um passinho adiante esta semana com a chegada dos vídeos em 360 graus. Um deles é o da música "Stonemilker", que assim me faz voltar a ter interesse pela Björk. Para admirar esse clipe em toda sua glória, encha a tela toda e mexa nas setas que vão aparecer no canto superior esquerdo. Não deve funcionar em alguns browsers mais antigos. É uma boa hora para atualizar.

AZUL DA COR DO MAR

"Sangue Azul" tem um montão de qualidades. Elenco pra lá de fabuloso, paisagens magníficas de Fernando de Noronha, longas tomadas submarinas e algumas das trepadas mais quentes do cinema brasileiro, inclusive entre rapazes. Mas fez falta um roteiro poderoso, capaz de juntar tanta coisa boa num todo coerente. A trama central fala do amor incestuoso entre um casal de irmãos, mas esse tema tão polêmico não rende mais do que alguns belos beijos dentro d'água. Também há uma comparação poética entre o circo e o cinema, mas eu não sou culto o suficiente para desfrutar de tanta sensibilidade. Pelo menos adorei ver o Daniel de Oliveira, que está se tornando o nosso protagonista no. 1 da telona. Muito bonito e ótimo ator, este já é seu terceiro filme só este ano. Em breve também irá pra Hollywood?

sexta-feira, 5 de junho de 2015

O PERFUME QUE ENVIADA

Reinaldo Azevedo, que muita gente acha que é inimigo mortal das bibas, assinou um post bastante simpático à campanha d'O Boticário em seu blog. Ele até vai contra os histéricos que acham que esse tipo de propaganda "incentiva o homossexualismo":

"É preciso parar com a tolice, que desafia qualquer saber firmado a respeito, de que esse tipo de mensagem incentiva a prática homossexual. Quem faz tal raciocínio teria de admitir que a esmagadora maioria de héteros no mundo também decorre do efeito-propaganda, o que é uma tolice até contra a biologia e a sobrevivência das espécies. A publicidade não torna gay o hétero nem hétero o gay."

Ele tem razão, claro. Tornar não torna - NADA torna alguém hétero ou gay, nem reza braba. Mas... - e é justamente esse "mas" que incomoda o Malafaia e sua corja - a propaganda tem sim, junto com outras manifestações culturais, o poder de estimular os que já são gays a assumir sua homossexualidade. A vivenciá-la plenamente, e a não sufocá-la num casamento de fachada com uma pessoa do sexo oposto. A sair do armário e a se expor à luz do dia, sem medo de qualquer represália. A escolher um estilo de vida plenamente alinhado com sua orientação sexual. Esta, sim, é a verdadeira e única escolha que um gay pode fazer.

E é provavelmente a ela, no fundo, que se referem os ignaros que ainda falam em "opção sexual". Porque, para a maioria deles, tudo bem a pessoa sentir desejo pelo mesmo sexo, CONTANTO que este desejo seja reprimido. É a posição oficial da Igreja Católica, que diz "amar" os homossexuais enquanto "odeia" a homossexualidade. E o que pregam todos esses pastores infernais que defendem a "cura gay", que nada mais é do que uma gigantesca opressão piscossocial.

A beleza de um comercial como o d'O Boticário é que ele está dizendo para a bichinha jovem do interior, que vive num ambiente que lhe é hostil, que é OK ser gay. Que ela também merece abraços e presente de Dia dos Namorados de uma pessoa de seu próprio sexo. Isso pira o cabeção dos guardiães do patriarcado. É muito mais subversivo do que uma personagem grotesca como a Valéria do "Zorra Total", que vivia marginalizada. Essas caricaturas servem como aviso: "Quer ser gay? Olha só como eles são zoados..." Mas homossexuais elegantes, bem de vida e "resolvidos" (não gosto muito dessa palavra) sinalizam que a felicidade é possível, sem abrir mão de nada. É por isto que o casal Teresa e Estela de "Babilônia" incomoda tanto. Como que os fundamentalistas podem ameaçar um gay com o fogo eterno, se as lésbicas da novela são ricas e felizes?

Apesar dos avanços inegáveis, esses jovens homossexuais precisam de todo o apoio que conseguirem. Da propaganda, das celebridades, do NOSSO apoio. Eu tenho um puta dum orgulho de já ter recebido mensagens e até sido parado na rua por garotos que me contam que este blog, ou o curta "Não Gosto dos Meninos", os ajudou de alguma forma. Na boa: para todo o resto existe MasterCard. Por isto que precisamos responder sempre aos ataques dos Infelicianos e Bolsonazis da vida. Eu mesmo já me questionei se essas respostas não davam ainda mais cartaz para os boçais, e a verdade é que dão mesmo. Mas um tuíte da J. K. Rowling, a autora da série "Harry Potter", me convenceu.


Ela retrucou a uma provocação da asquerosa Westboro Baptist Church, aquela que faz piquete em enterros com cartazes onde se lê que "God Hates Fags". Um fã disse que concordava com ela, mas que reagir a esses cretinos é fazer o jogo deles. E Rowling, do alto de seus bilhões de dólares, respondeu:

"Não estou nem aí para a WBC. Acho que é importante que os gays apavorados que ainda estão no armário vejam o discurso de ódio ser confrontado".


Mitou, divou, lacrou, quebrou a internet.