quinta-feira, 30 de abril de 2015

NÃO PARA NÃO PARA NÃO PARA

Um ano depois de ter vencido o Eurovision, Conchita Wurst finalmente lança seu primeiro álbum. "Conchita" sai no dai 18 de maio, puxado pelo single "You Are Unstoppable" - o terceiro baladão consecutivo da mulher barbada. Quem mais que acha que tá passando da hora dela gravar um hino para as peeshtas?

MATANDO AULA

O Brasil já gasta com educação um porcentual do PIB maior que o de muitos países avançados. No entanto, or problemas crônicos persistem: escolas públicas em estado precário, currículo falho e, principalmente, professores pessimamente remunerados. Já foi um escândalo a Assembleia do Paraná avançar sobre o fundo de pensão dos professores para equilibrar as contas do estado. Pior ainda foi a brutal repressão pela PM que, além dos 170 feridos, também fez uma vítima fatal: a carreira do governador Beto Richa, que está fazendo um dos piores começos de mandato de todos os tempos. Ele deve ter matado aula demais, pois não segue nem o básico. Este era o momento ideal para um governo da oposição dar um belo exemplo, e no entanto, eis aí a cagada. Episódios como este me fazem desconfiar que o problema não é com este ou aquele partido, mas com o Brasil como um todo. Com a nossa mentalidade pré-moderna, que elege as pessoas erradas e aceita que elas nos prejudiquem.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

VALAR MORGHULIS

UBER NICHTS

Nunca usei o Uber. Não sinto a menor vontade de pagar mais quando a maioria dos táxis de SP já é me é confortável o suficiente. Mas uma amiga minha viciou, e não quer saber de outra coisa. Na verdade, acho ótimo que o serviço exista: concorrência é sempre bom, e viva a liberdade de escolha. Mas o Uber arruma encrenca em quase todos os lugares onde se instala. Existem vários relatos de assaltos e até estupros pelos motoristas, e o aplicativo foi banido em países como Espanha e Alemanha. Ontem foi a vez do Brasil. Os taxistas (muitos deles também aglomerados em empresas) fizeram pressão, e os juízes se comoveram. O Uber está proibido por aqui, vamos ver por quanto tempo. Porque uma medida dessas me cheira um pouco à proibição da luz elétrica pelos fabricantes de velas. O Uber já está valendo mais que a Petrobras (o que talvez não queira dizer nada, já que hoje em dia quase tudo vale mais que a Petrobras), e é para a frente que o mundo anda. Se for em bancos de couro, com ar condicionado, revistas importadas e suco de caixinha, melhor ainda.

terça-feira, 28 de abril de 2015

INDONÉSIA DE MAL A PIOR

Para os que ainda insistem que a Indonésia não pode ser criticada poque se trata de uma nação soberana, recomendo a leitura do artigo de Carlos Eduardo Vasconcelos publicado hoje no UOL. Para quem acha que a pena de morte resolve o problema do tráfico, também. A Indonésia é um país brutal, nominalmente uma democracia, mais ainda longe de poder ser chamado de civilizado (nós também não podemos, mas estamos um pouco mais à frente). Hoje foi executada mais uma leva de estrangeiros, e de nada adiantaram não só os apelos do Brasil como também os de Holanda, Austrália e muitos outros países. Some-se a esta barbaridade o fato de que Rodrigo Gularte era, comprovadamente, doente mental: que merda de lugar é esse, que fuzila esquizofrênico? E não é só o Brasil que acha. O presidente recém-presidente Widodo, que não livrou a cara de ninguém, conseguiu se indispor com inúmeros países amigos, além de piorar muito a imagem de seu próprio país.

TRANSIRÃ

Já pensou, ter que fazer uma operação de mudança de sexo sem ser transexual? Isto é comum no Irã. A interpretação local da sharia é surpreendentemente simpática aos trans, inclusive porque eles não estavam previstos no Alcorão. E consta que o aiatolá Khomeini, o fundador da república islâmica, conheceu pessoalmente uma mulher trans e se compadeceu da história dela (o que prova, mais uma vez, que a ignorância é a raiz de todos os males). Então, quem nasce no "corpo errado" por lá tem todo o apoio da sociedade e do estado para se corrigir. Mas ai daqueles que não o quiserem: gays ou lésbicas que preferirem continuar com o corpo original de fábrica são chicoteados e, em última instância, enforcados. Isto tem feito com que muitos cis tenham encarado a faca, para não terem que encarar a forca. Uma situação bizarra que foi tema de um ótimo documentário da série "Vice", exibida pela HBO nas segundas à noite e depois disponível no Now. Dê uma olhada, e agradeça a Alá por ter nascido no Brasil.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

A TRANSIÇÃO DE TODOS NÓS

A entrevista da jornalista Diane Sawyer com o campeão olímpico Bruce Jenner vai entrar para a história. Exibida pela rede americana ABC na noite de sexta passada, ela foi vista por 17 milhões de pessoas (o que é muito para a audiência de lá) e está repercutindo até agora. Com quase duas horas de duração, é uma mistura de documentário sobre os transgêneros com programa de fofoca - parecido com os reality shows do canal E! estrelados pelas irmãs Kardashian, de quem Jenner é pai e padrasto. Hoje separado da mãe das moças, sua terceira mulher, ele finalmente tomou coragem para assumir o gênero feminino, do qual sempre sentiu fazer parte. Desde pequenininho, o cara sempre curtiu se vestir com as roupas da mãe e da irmã. Ao crescer, percebeu que era bem mais do que um crossdresser: era mulher mesmo, aprisionada num dos corpos masculinos mais belos dos anos 1970. Suas compreensivas esposas sempre souberam dessa peculiaridade, e, da segunda em diante, aceitaram que ele começasse a tomar hormônios femininos. O mais curioso é que Jenner nunca sentiu desejo por homens: ele jura para Diane Sawyer que sempre foi atraído por mulheres, e que continua sendo. Então, para quê mudar?, pergunta ela e a torcida do Flamengo. Porque orientação é uma coisa; identidade sexual é outra, e nem sempre elas coincidem. Jenner agora se prepara para fazer a operação de realinhamento genital, mas antes tem que viver pelo menos um ano dentro do gênero ao qual sente pertencer. Vai mudar de nome e começar a aparecer em público usando modelitos, coisa que ainda não faz (no vídeo ele só aparece mostrando um negligé pretinho para Diane). O especial é extraordinariamente instrutivo, e vai se tornar um marco no avanço da compreensão do que é transexualidade. Agora que uma celebridade se revelou trans, o caminho ficou um tiquinho mais fácil para as anônimas. E para todos nós, que seguimos aprendendo a lidar com essa realidade que ainda é tão desconhecida. Estamos todos transicionando.

(Quer ver a entrevista? Tem aqui, bloco a bloco, em inglês sem legendas).

VOCÊ VIU O CABEÇÃO POR AÍ?

Quem assistiu a "Gainsbourg (Vie Heroïque)" vai se lembrar de "La Gueule", o alter ego do famoso compositor francês, que se escondia debaixo de uma enorme cabeça de papel maché. O filme inglês "Frank" amplifica esta ideia bizarra: o personagem-título é o vocalista de uma banda beyond alternativa, e não tira o cabeção nem para tomar banho. Mas o verdadeiro protagonista da história é Jon, tecladista e aspirante a estrela do pop, que se junta por acaso a um grupo de músicos desequilibrados e tenta deixá-los um pouquinho mais comerciais. Sempre em vão, numa trajetória engraçada mas também trágica. Porque, no fundo, "Frank" fala sobre doença mental e a incapacidade crônica de se ajustar ao mundo. Mas é quase sempre uma comédia, e quase sempre de humor negro. Fazia tempo que não estreava um filme tão original e divertido.

domingo, 26 de abril de 2015

A GLOBO E EU

Hoje, 26 de abril, a TV Globo completa exatos 50 anos de idade. Sexta-feira passada eu escrevi uma coluna no F5 comentando a estranha relação de amor e ódio que os brasileiros têm com a emissora. Hoje vou falar da minha relação pessoal com ela, quase sempre de amor. Se bem que um pouco menos do que quando eu era adolescente, é verdade. Naquela época eu torcia pela Globo como outros meninos torciam por seus times de futebol. Cheguei a ficar triste quando Renée de Vielmond, então uma estrela em ascensão, trocou a Globo pela Tupi. Porque a emissora dos Marinho, que consolidou sua liderança por volta de 1970 graças à novela "Irmãos Coragem", realmente fazia uma televisão muito melhor que a da concorrência. A Tupi não tinha um comando claro; a Record não conseguia recuperar o brilho da era dos festivais; e a Excelsior, talvez a única que poderia fazer frente, havia sucumbido com um empurrãozinho do regime militar. Enquanto isto, a Globo se livrava de suas atrações mais popularescas (Dercy, Chacrinha), mesmo com elas dando muita audiência, e apostava numa sofisticação jamais vista em nossas telas. Deu certo: atraiu anunciantes e logo se firmou em primeiríssimo lugar, deixando as outras na poeira. Mas ao longo dos anos eu também fui me afastando do canal. Até "Avenida Brasil", a última novela que eu realmente tinha acompanhado havia sido "Vale Tudo", em 1988. Quase nada da dramaturgia feita lá nos anos 90 me interessou. Mas a esta altura eu já tinha alguns amigos "globais", e comecei a ter notícias dos bastidores. Até que, no final de 2013, fui chamado para trabalhar lá. Passei quase um ano e meio no "Vídeo Show". O novo formato não foi o sucesso que nós esperávamos, mas a experiência foi inesquecível. Aprendi muito, me diverti muito, conheci muita gente boa e vi a máquina funcionando por dentro. Descobri que ela é tão incrível quanto a gente imagina, mas que também tem restrições - como qualquer empresa, aliás. E, como empregador, é simplesmente o mais generoso para quem já trabalhei. Plano de saúde top, dois bônus por ano, cesta de Natal farta e, o melhor de tudo, dezenas de cursos inteiramente grátis sobre roteiros, tendências, o escambau. Aproveitei o máximo que pude, porque sabia que podia durar pouco. E durou: meu contrato venceu no final de 2014 e não foi renovado, assim como o de muita gente. Hoje estou na Fremantle, a maior produtora de TV do mundo, ganhando mais e fazendo o que eu gosto. Mas não guardo a menor mágoa da Globo: acho uma puta casa, e tenho a sensação de que algum dia os nossos caminhos irão se cruzar de novo. Plim plim.

sábado, 25 de abril de 2015

O ARMÁRIO E O ESCRITÓRIO

Nunca sofri com homofobia no trabalho. Não fui alvo de piadinhas, não perdi promoções, não precisei mentir. Todo mundo sempre soube que eu sou gay, em todas as agências e emissoras por onde passei. Essa transparência também ajudou alguns dos executivos que estão na capa da "Exame" desta semana. A matéria da revista está imperdível, mostrando como muitas empresas (a maioria multinacionais, é verdade) já oferecem planos de saúde aos cônjuges de seus funcionários homossecuais e muitos outros benefícios. Um panorama muito diferente do que acontecia há apenas dez anos. Mas ainda tem muita gente no armário, e não só no Brasil. Por isto eu queria saber: se você é gay, como é que é? Seu patrão e colegas sabem de você? Responde aí nos comentários.

MEL CRISTALIZADO


Não sei porque eu insisto. Eu já sabia que "As Maravilhas" ia ser meio chato por causa do trailer. Mas fui assim mesmo: o Grand Prix em Cannes no ano passado e a vontade de ver um filme italiano me convenceram. Só que eu simplesmente não consegui embarcar na história meio estranha de uma família de apicultores que se inscreve num bizarro reality show apresentado por Monica Bellucci fantasiada de etrusca. As quase duas horas escorreram feito aquele mel antigo que endureceu no pote. Havia títulos muito mais fortes competindo no festival de 2014, e eu nunca vou entender como esse aqui saiu premiado e o muito melhor "Relatos Selvagens", de mãos abanando.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

NÃO ACHO AGRADÁVEL

Bibi Ferreira nasceu numa família de artistas, e passou a vida inteira dentro do teatro. Ou seja, sempre conviveu com gays. Por isto mesmo que é um pouco chocante sua resposta ao jornal "O Globo", quando lhe fizeram a inevitável pergunta sobre as lésbicas idosas de "Babilônia": "Essas coisas assim... não acho agradáveis nem modernas. Não acho bom." Muita gente já está atacando a veneranda atriz, outras tantas assinam embaixo de seu suposto preconceito. Não vou fazer nem uma coisa nem outra. Bibi tem 92 anos, e, por mais liberal que tenha sido sua criação, ela ainda cresceu numa época em que a homossexualidade era tabu. Ou seja: ela é fruto de seu tempo - aliás, como cada um de nós. Por isto não acho agradável condená-la, e ainda menos endossá-la. A esta altura, Bibi já está acima do bem e do mal.

A MORAL E O MALA

Alguém aí conseguiu ficar acordado até a uma da manhã para ver o "Na Moral" especial dos 50 anos da Globo? Eu não, porque ando desmaiando por volta das onze. Mas assisti hoje de manhã, pela internet. Achei ótima a ideia de colocar uma família mediana no sofá do "BBB", para deixar implícito que eles estão sendo observados. E alguns comentários foram reveladores, como o da moça que não tem nada contra os parentes gays, contanto que eles não "afrontem" os demais. Mas claro que quem roubou os holofotes foi Silas Malafaia. Sempre aos berros, sua marca registrada, o pastor proferiu inverdades, outra de suas marcas. Disse que em nenhum país do mundo a TV aberta exibe cenas de sexo "explícito" (que ele parece não saber direito o que é) como no Brasil. Foi imediatamente rebatido por Silvio de Abreu, que lembrou que as soap operas americanas, que passam à tarde, trazem temáticas bem mais ousadas que as das nossas novelas. Beijo gay por lá é notícia velha... O pastor-mala também citou um estudo americano que fala sobre o "mal" que casais do mesmo sexo estariam fazendo a seus filhos adotados - estudo este que já foi desacreditado por toda a comunidade científica séria. Mas num ponto ele teve razão. Foi quando lembrou que todos esses episódios fazem parte de um embate maior, entre a cultura judaico-cristã e a humanista-ateísta. Só que quando ele dá um nome religioso para seu lado nesta batalha, na verdade está escondendo que se trata do mau e velho patriarcado, o alicerce das três religiões abrâmicas. As versões fundamentalistas do judaísmo, do cristianismo e do islamismo nada mais são do que instrumentos para o homem oprimir a mulher. Por isto que essa turma vê a homossexualidade como subversão: as bibas não estão interessadas em oprimir nenhuma mulher, nem as lésbicas em serem oprimidas por nenhum homem. Todo o edifício patriarcal cai por terra. No mais, o programa foi divertido e instrutivo como de costume, apesar de sempre se ressentir de sua curta duração. Mas se fosse mais longo não caberia na TV aberta, onde aliás já foi confinado para a madrugada. Tomara que venha mais uma temporada completa por aí, e não só esta edição especial.

(Para variar, não consigo embedar nenhum vídeo do Gshow aqui no blog: quem quiser ver trechos do programa tem que visitar o site)

quinta-feira, 23 de abril de 2015

CANALHA VS. CANALHA

O PMDB consegue ser um partido escroto até consigo mesmo. Agora Renan ameaça não colocar a lei da terceirização em votação no Senado, e Cunha, em retaliação, diz que vai barrar na Câmara todos os projetos oriundos do Senado. Super legal para o país, não é mesmo? O mais sensacional é que os presidentes das duas casas do Congresso são ambos do mesmo partido, ou seja lá que gaiola de urubus que é essa merda de PMDB. Não querem só foder com a Dilma: também querem se foder uns aos outros, e se o Brasil for no rolo, então foda-se o Brasil.

O SEXO FRÁGIL

Fui à missa de sétimo dia da mãe de um amigo meu. Ela teve talvez a sorte de morrer de repente, de um infarto fulminante - não ficou meses a fio numa cama de hospital, em lenta agonia. Apesar da surpresa, a família estava relativamente bem. Menos o pai: aos 88 anos de idade, ele se debulhava em lágrimas e repetia que queria "ir embora". Essa cena de cortar o coração me fez pensar em como os homens estão despreparados para a viuvez. É até raro que a esposa morra antes do marido, mas acontece. E aí eles ficam numa posição de extrema fragilidade, sem aquela presença feminina que os amparava. Isto raramente se passa com as mulheres. Viúvas dão a volta por cima bastante rápido, mesmo que nunca mais se casem. Essa dependência masculina pode ser observada também nas separações. É pra lá de comum que os homens arrumem outra já no dia seguinte, o que deixa furiosas suas ex-mulheres ou namoradas. Mal sabem elas que, para além da putaria, isto também é um sinal de fraqueza. Elas podem até viver muito bem sem eles, mas a recíproca não é verdadeira.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

IT'S RAINING WHATEVER

Chaka Khan foi ao programa do David Letterman cantar "It's Raining Men", mas nem com a ajuda de um papel no chão ela conseguiu lembrar a elaboradíssima letra. Não importa: negonas de cabelo gigante podem fazer o que quiserem, está na constituição. E quem aí sabia que um dos autores da música é o Paul Shaffer?

PANORAMA DA HISTÓRIA

Os elevadores do recém-inaugurado 1 World Trade Center, em Nova York, não correm por fora do edifício. E ainda assim são panorâmicos: uma projeção em 3D ocupa três das quatro paredes de cada carro durante a subida, mostrando a evolução da paisagem ao redor desde 1500. Começa embaixo da terra, porque a jornada começa no subsolo. E logo sai da água, porque toda essa pontinha da ilha de Manhattan é um aterro. Logo vemos a aldeia indígena se transformar no povoado holandês de nova Amsterdam, e de repente as construções explodem. Incrível pensar que os primeiros arranha-céus datam de 1823. Mas o momento mais pungente é quando a antiga Torre Norte do WTC surge do lado esquerdo, só para desaparecer alguns segundos depois. Houve um debate interno se ela deveria ser incluída ou não, para não chatear as famílias das vítimas. Mas no final o bom senso venceu. Afinal, a história tem que ser contada direito.

terça-feira, 21 de abril de 2015

O PAPA E O PÉDÉ

Conheço muitos gays que, assim comoeu, se afastaram da Igreja pela mais óbvia das razões: para quê que eu quero entrar prum clube que não me aceita como sócio? Daqui a uma geração este fenômeno vai se espalhar entre as famílias e os amigos dos gays, i.e., quase todo mundo. Prevendo esta evasão de fiéis no futuro, o papa Francisco vem acenando aqui e ali para os homossexuais. Mas, apesar de ser um monarca absoluto, ele não pode tudo. Não pode, por exemplo, aceitar o embaixador que a França indicou para o Vaticano. Laurent Stefanini é tão pédé quanto católico, mas tem nego na Curia que acha que essa combinação é letal - apesar dos inúmeros exemplos lá dentro mesmo. Hoje saiu a notícia de que o papa recebeu o diplomata para uma discreta audiência, onde disse que veja bem, não é você, sou eu, podemos continuar amigos, mas não dá. O governo François Hollande, por outro lado, bateu o pé e disse que não vai indicar outro para o cargo, como não houvesse mais ninguém qualificado. Acho admirável, mas será que teriam culhão para fazer o mesmo com a Arábia Saudita?

NÃO É FÁCIO SER AÉCIO

Tadim do Aecim. Preparou-se durante anos a fio para ser o presidente, resguardou-se em 2010 quando viu que as chances eram poucas, deu uma virada sensacional em sua campanha do ano passado e ainda assim bateu na trave. Agora ele se divide entre o oportunismo e a sabedoria: deve ou não apoiar o impeachment? Acossado a se posicionar pelas multidões que invadiram as ruas, o ex-governador mineiro está cada vez mais tendendo ao "sim". Dá até para entender: se continuar em cima do muro como costumam fazer os tucanos, Aécio se arrisca a perder o bonde da história e a avalanche da oposição. Mas, quando manifesta este apoio, também soa como esses imbecis desinformados que acham que é ele quem assume assim que Dilma for apeada do poder. Também corre o risco de ser visto como um aventureiro irresponsável - imagem, aliás, da qual já desfruta entre seus inúmeros detratores. Muito mais confortável é a posição de FHC e José Serra. Sem nenhuma pretensão à presidência neste momento, os decanos do PSDB podem se dar ao luxo de dizer a verdade: falar em impeachment é uma irresponsabilidade, pois (ainda) não há provas concretas que o justifiquem. E agora, a quem que o Aecim deve ouvir?

segunda-feira, 20 de abril de 2015

E LA NAVE AFFONDA

Pressionada por políticos de direita, a União Europeia eliminou seu programa de resgate das vítimas de naufrágios no Mediterrâneo. Deu "certo": nunca morreu tanta gente como neste ano. Já são 15 vezes mais do que no ano passado. E isto por acaso vai deter as ondas de imigrantes que vêm dos países mais conturbados da África? Claro que não. Melhor se arriscar num barco precário do que enfrentar a guerra, a miséria e a fome. Mas a combalida Europa tem condições de abosrver tanta gente? E se no meio dessa gente vierem radicais islâmicos, como os que atiraram 12 cristãos ao mar na semana passada? Não há respostas fáceis, nem soluções instantâneas. Mas há o esforço surpreendente da Itália, uma nação que sempre me pareceu meio mesquinha.

domingo, 19 de abril de 2015

TOCA PRA MIM

Hoje eu deveria estar fazendo um longo post sobre minhas crenças religiosas, ou talvez descrevendo como foi descer pela corredeira de um rio e depois lutar contra a correnteza par voltar à margem de onde eu saíra. Mas estou exausto por causa da viagem: foram quase oito horas de porta a porta, de Cavalcante a São Paulo via Brasília. Então só me restam forças para postar um dos vídeos virais do momento, o tal programa de karaokê japonês onde os calouros são masturbados enquanto cantam. Não sei quem é mais despudorado, se os próprios candidatos ou as mocinhas que os manipulam. Só sei que é melhor que o Eurovision.

sábado, 18 de abril de 2015

BATIZADO ALTERNATIVO

O batizado da Aurora acabou sendo parecido com as cerimônias primitivas de batismo. Foi numa cachoeira, oficiado por uma espécie de sacerdotisa vestida de branco que se auto-definiu como "alternativa". Só faltaram mulheres nuas agitando os cabelos para ficar igual ao do filme "A Última Tentação de Cristo". Eu não sou uma pessoa religiosa, mas não chego a ser ateu. Acredito em energias e no único deus que existe, o amor. Um ritual como o de hoje serve como boas-vindas para a criança no seio da família, e foi bonito a mais não poder. E eu adooooro ser apresentado aos amigos da minha enteada como "meu padrasto por parte de pai".

sexta-feira, 17 de abril de 2015

OUVINDO AS FONTES MURMURANTES

Esqueci a fonte do meu laptop no trabalho. Isto não seria tão grave se eu tivesse ido trabalhar hoje. Não fui. Negociei com a chefia e troquei a próxima terça por esta sexta, o que me permitiu acompanhar meu marido a Goiás, para o batizado e o aniversário da Aurora, a neta dele (e minha também). Minha enteada mora em Cavalcante, em plena Chapada dos Veadeiros. O lugar é lindo, mas bem isolado. Na casa dela não pega sinal de celular, e o wi-fi é oscilante. E a bateria do meu lap nas últimas... Já sei, tenho mais é que esquecer dos computadores e aproveitar as fontes de verdade, as cachoeiras, os cristais. Tentarei. Mas vai ser um teste de resistência, ora se vai.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

DÉJÀ VU DE NOVO OUTRA VEZ

Ocêis gosta de "Star Wars"? Eu devia até gostar, dada a minha idade provecta. Tinha só 17 anos quando o primeiro filme da série estreou, e assisti a todos no cinema. Acho legalzinho e tal, mas a força nunca esteve comigo pra valer. Quando parecia que finalmente nos veríamos livres de Han Solo e sua turma, a Disney comprou os direitos do George Lucas e agora vai fazer mais uns trocentos capítulos. O próximo entra em cartaz no Natal, e o primeiro teaser foi divulgado hoje. Bacana, joinha, mas não parece que já vimos esse filme milhões de vezes?

RESSACA POLÍTICA

Já faz mais de uma semana que eu não subo um único post sobre política aqui no blog, e alguns leitores estranharam. Confesso que eu também estranhei. Como é que eu não dou um pio sobre as manifestações de domingo passado, nem sobre a lei da terceirização, muito menos sobre a indicação do novo juiz para o STF? Quem me viu e quem me vê!

Mas acontece que eu ando meio de saco cheio de política, pelo menos da brasileira. Há meses que estamos batendo nas mesmas teclas: Dilma é incompetente, a economia vai pro caralho, as medidas do Levy vão doer pacas, Eduardo Cunha é um horror, Renan Calheiros é outro e um impeachment seria um desastre porque não sabemos o que vem a seguir. Tudo isto continua valendo.


Aconteceram algumas coisas nos últimos dias, mas nada que mudasse profundamente este quadro. Um sintoma disto foi o menor comparecimento às manifestações (eu fui, mais para dar uma olhada do que para protestar). Bom, e que já que entramos neste assunto, vamos lá. O que é que eu acho da terceirização? Ainda não sei. A legislação trabalhista brasileira, que já foi considerada exemplar, hoje é vista como entrave ao progresso. Como que funciona nos países que estão dando certo? (China não vale, lá vigora uma versão maquiada da escravidão). Como vai ser na prática por aqui? Ainda estou pesquisando os diferentes pontos de vista. Hmm, e o Fachin? Seus colegas estão se desmanchando em elogios a ele, mas claro que é preocupante sua ligação tão íntima com o PT. Mas era meio óbivo que Dilma iria indicar um mega simpatizante, ainda mais nesta hora de tormenta. Por outro lado, torço para que ele seja aprovado logo pelo Congresso e esta novela terminar, Ou seja, estou com dor de cabeça por causa da situação que vivemos. Será que em remédio?

(Mudando de assunto: acho que eu nunca mais vou pooder ver a Marina Abramovic sem lembrar dos memes que ilustram este post...)

quarta-feira, 15 de abril de 2015

ELA QUICA, ELA PARA, REBOLA, ELA TRAVA, ELA ABRE, ELA FECHA...

"Na Ponta Ela Fica" não sai da minha cabeça há dois dias. Jugez-moi.

ESPELHO EM PRETO E BRANCO


O rosto marcante de Sebastião Salgado emerge em preto e branco da escuridão. O fotógrafo fala com voz tranquila um francês gramaticalmente perfeito, mas com um perceptível sotaque brasileiro. E diz verdades que deveriam ser óbvias, tanto que me fizeram pensar: quem é que ele está me lembrando? Claro. O espelho mágico da madrasta de Branca de Neve. E de certa forma a obra de Salgado também é um espelho, que reflete o mundo em toda sua crueldade e beleza. “O Sal da Terra” reconstitui toda a trajetória do sujeito, tanto a profissional como a pessoal, e o impacto do filme só é ampliado pelo ritmo pausado e pela trilha sonora mixada bem baixo. Uma porrada em câmera lenta, que deixa o verdadeiro estrondo para as imagens cheias de drama que Salgado clicou nos quatro cantos do mundo ao longo dos últimos quarenta anos. “O Sal da Terra” foi indicado ao Oscar e venceu o César de melhor documentário. Um gênero que eu não costumo prestigiar, mas dessa vez me derreti todo. É para se ter em DVD.

terça-feira, 14 de abril de 2015

BAGUNÇA QUENTE


Conheço algumas pessoas que enfrentaram as duas horas e meia de "Vício Inerente", e nenhuma delas gostou. Eu também não caí de amores pelo novo filme do diretor Paul Thomas Anderson, mas confesso que estava esperando um desastre. Não é. Está mais para o que os americanos chamam de "hot mess", uma bagunça quente. A trama é o mais clássico film noir: detetive é contratado para encontrar garota desaparecida e acaba se emtendo em confusão. Mas a paleta de cores é forte, e os atores estão todos alguns graus acima. "Vício Inerente" recebeu indicações ao Oscar de roteiro adaptado e figurino (se passa em 1970), e a trilha está recheada de funks obscuros. No entanto, só dá para recomendar para quem fizer questão de ver as obras completas do PTA.

DA RÚSSIA SEM AMOR

Você Tchekhov como eu Tchekhov? Na verdade, ninguém precisa ser especialista no grande dramaturgo russo para apreciar "Vanya e Sonia e Masha e Spike". Verdade que três dos quatro nomes do título são personagens tchekhovianos (um blinis para quem adivinhar quais). Também há referências ao jardim das cerejeiras (curiosamente traduzido como "cerejal"), mas nada que assuste a um leigo. A peça foi um tremendo sucesso na Broadway, onde o papel que aqui é de Marília Gabriela foi feito por Sigourney Weaver. A história podia ser um drama realista sobre solidão, desamor, envelhecimento e vidas desperdiçadas. Só que o tom imposto pela direção não deixa dúvidas. "Vanya e Sonia e Masha e Spike" é uma comédia ácida, que ganhou produção requintada e elenco nos trinques nessa montagem brasileira. Como plus a mais, ainda tem o corpão de Bruno Narchi.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

PADRE-GATO

Sempre tive um pé atrás com Fábio de Mello, o inspirador do notório "padre-gato" do programa "Hermes & Renato" da MTV. Vaidoso, metido a galã e ainda por cima amigo do Gabriel Chalita: what's not to hate? Mas ontem o padre Fábio deu um show de civilidade no Twitter, numa sequência de dez tuítes que eu tive a pachorra de colocar na ordem (quem quiser ler no original deve clicar aqui):

"Não sou o professor Girafales, mas gostaria de fazer um apontamento. Já falei muito sobre o assunto, mas sempre volta como se fosse novidade. A união civil entre pessoas do mesmo sexo não é uma questão religiosa. Portanto, cabe ao Estado decidir. O Estado decide através dos que são democraticamente eleitos por nós. São eles que propõem, votam e aprovam as leis. Aos líderes religiosos reserva-se o direito de estabelecerem suas regras e ensiná-las aos seus fiéis. E isto o Estado também garante. Se sou cristão católico, devo observar o que prescreve a minha Igreja. Lembrando que o cristianismo é uma Lei inscrita na consciência. As igrejas não podem, por respeito ao direito de cidadania, privar as pessoas, que não optaram por uma pertença religiosa, de regularizarem suas necessidades civis. Se duas pessoas estabeleceram uma parceria, e querem proteger seus direitos, o Estado precisa dar o suporte legal. São situações que não nos competem. A questão só nos tocaria se viessem nos pedir o reconhecimento religioso e sacramental da união. Portanto, vale a regra de Jesus: "Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus!" Mc 12, 17. Para encerrar. O cristianismo nunca foi vivo e convincente como nos primeiros séculos, período em que vivia apartado do Estado."

O texto começa citando "Chaves" e termina com o Evangelho de São Marcos, uma mistura pop que é típica do cara. Também ressalta que católicos devem seguir o que prega a Igreja, o que é óbvio - mas que também funciona como salvaguarda do cerne da questã. Que é, simplesmente, a total aceitação da separação entre Igreja e Estado. Algo que o Vaticano abominou, quando a moda pegou no final do século 19. Inclusive com ataques ao casamento civil, que seria inválido aos olhos de Deus. A coragem do padre Fábio é ainda mais digna de nota à luz de dois acontecimentos recentes. O primeiro foi a excomunhão do padre Beto de Bauru, que começou a rezar missas gay-friendly. O segundo é a recusa do Vaticano em aceitar as credenciais do novo embaixador da França na Santa Sé, que é gay assumido. Qual será a reação da Igreja? Fábio de Mello é uma peça importante na resistência católica ao avanço evangélico no Brasil. Um pito em público pode prejudicar essa estratégia, e também a imagem de superlegal do papa Francisco. Mas seja lá o que acontecer, agora eu também acho que o padre Fábio de Mello é um gato - inclusive por dentro. Amém e miau.

WE ARE THE EUROVISION

Enquanto que aqui no Brasil a gente tem que se conformar com o "Superstar", a BBC exibiu neste final de semana um especial com uma hora e meia de duração celebrando o Eurovision. Apresentado por Graham Norton, este programa épico desenterrou vencedores das edições passadas do festival, e terminou com uma medley dos maiores sucessos que foi de arrancar lágrimas. Principalmente nos segundos finais, quando ninguém menos que Dana International e Conchita Wurst - as duas trans campeãs, respectivamente por Israel e Áustria - irromperam cantando "Waterloo", que venceu em 1974 e projetou a carreira do ABBA. Pena que durou tão pouco. Por outro lado, se o número das duas tivesse sido mais longo, a esta altura toda a humanidade teria se convertido ao homossexualismo.

domingo, 12 de abril de 2015

THE NIGHT IS DARK AND FULL OF SPOILERS

Já sei tudo o que vai acontecer em "Game of Thrones", porque li os livros 4 e 5 da série quando terminou a temporada do ano passado. Mesmo assim, estou about to lose control com a estreia de logo mais à noite na HBO, and I think I like it.

sábado, 11 de abril de 2015

BARBARA NÃO LHE ADORA

A morte de Barbara Heliodora deixa um buraco enorme no teatro brasileiro. Também marca o fim de uma era: simplesmente não existem mais críticos influentes como ela foi no Rio e Sábato Magaldi (ainda vivo, mas fora do ar) em São Paulo. Apaixonada, culta e sem a menor papa na língua, a maior especialista brasileira em Shakespeare acabou conquistando a admiração dos mesmos atores que destroçava nas páginas de "O Globo". Suas resenhas eram minuciosas, chamando pelo nome cada um dos coadjuvantes, o iluminador, o cenógrafo, até o pipoqueiro. Não livrava a cara de ninguém, nem de seus amigos, e sabia exatamente do que estava falando. Mas não tinha nada de mal-humorada: divertiu-se muito com a peça "Barbara Não lhe Adora", onde uma clone sua era sequestrada pelo diretor e obrigada a assistir amordaçada ao espetáculo que tanto odiara. Aqui em casa, não temos do que reclamar. Meu marido teve a honra de ser elogiado por ela duas vezes, e a sorte ainda maior de nunca ter sido espinafrado.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

EU NÃO NASCI PRA SOFRER

Essa polêmica do Ed Motta é um fenômeno típico da era da internet. Um sujeito que não é lá dos mais articulados expressa um incômodo verdadeiro numa rede social, mas com palavras inadequadas. Um segundo depois, o Brasil está em chamas. Muita gente se sente ofendidinha e o xinga de coisas mais pesadas que o próprio. Na verdade, há um debate interessante por baixo dessa polêmica, como bem reparou o jornalista Mauricio Gaia. O público pagante tem o direito de "exigir" o que quiser de um artista? Tem muito cantor que concorda, tanto nem pensa em variar o repertório. Canta as mesmas músicas durante séculos a fio, e apenas elas, porque são as que os fãs querem ouvir. Também tem espectador que só vai a um show para ouvir "aquela" música, e sai frustrado se ela não for tocada. Junte-se a isto os brazucas, que predominam na plateia das turnês de brasileiros no exterior. Um pessoal às vezes não muito refinado, que só quer matar as saudades de casa durante algumas horas. E coroe-se com a pretensão de Ed Motta de transcender a brasileirice e ser reconhecido internacionalmente como um grande nome do jazz. Todo mundo tem lá suas razões, mas a gritaria em torno do que não passou de uma gafe não deixa a discussão prosperar. Ed já pediu desculpas, e amanhã todo mundo vai se escandalizar com outra coisa. E continuar gritando "toca Raul" no lugar errado.

MANCHA INDELÉVEL

"O Homem de La Mancha" é mesmo tudo isso o que andam dizendo por aí: divertido, emocionante, inesquecível. O duro é conseguir ingresso. A peça está em cartaz no Teatro SESI em São Paulo, com entrada gratuita. É preciso reservar com antecedência pela internet, chegar cedo e enfrentar fila. Mas vale a pena. Miguel Falabella enxugou esse musical clássico da Broadway: cortou muita coisa, eliminou o intervalo e concentrou a ação em menos de duas horas. Também transferiu a locação original, uma prisão, para um manicômio - agora todos são loucos, não só o D. Quixote. E ainda acrescentou elementos visuais que remetem a Arthur Bispo do Rosário, uma sacada genial. Excelente também está o elenco, que se dá ao luxo de ter grandes nomes do musical brasileiro fazendo papéis pequenos. As marcações de cena são ótimas, mas há algumas bem óbvias. O final, por exemplo, me lembrou o encerramento dos antigos programas da Xuxa, com ela embarcando de volta na nave espacial. Deve ser de propósito: o público que frequenta o SESI tem muitos novatos em teatro, e é preciso seduzi-los para que sejam contaminados pelo vírus. Quem já estiver infectado deve ir sem medo.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

OLHANDO PRA FRENTE

Não estou muito triste com o fim da série "Looking", da HBO. Achei esta segunda temporada bem melhor que a primeira, verdade. Mas em nenhum momento fiquei enlouquecido como na época de "Queer as Folk", o primeiro seriado com protagonistas gays que faziam sexo (em "Will & Grace", que surgiu alguns anos antes, não rolava nem beijo). Talvez o estilo do criador de "Looking", Michael Lannan, seja mesmo mais adequado ao cinema do que à TV. Seu filme "Weekend", que contava uma história de amor entre dois homens que durava apenas um fim de semana, arrancou muito mais aplausos do que o programa jamais conseguiu. Lannan gosta de mostrar a vida como ela é, com tempos mortos e contemplação; isto costuma ser fatal na telinha. Muita gente achava que não acontecia nada em "Looking", e em parte isto é verdade. Um dos objetivos da série era mostrar que a vida dos gays é tão chata quanto a de qualquer um. Mas para mim houve pecados mais graves. A começar pelo protagonista: Patrick era muito "sissy" para ser o personagem principal, uma menina assustada e meio fraca de caráter. Fora que não era crível ele jamais ter visto um pau não-circuncidado aos 30 anos de idade, nem mesmo na internet. Viadices desse tipo compremeteram "Looking", apesar dos últimos episódios serem muito superiores aos primeiros. Por isto que há uma leve sensação de aborto, justo quando começava a ficar bom. Agora vai entrar em produção um longa que amarrará as diversas tramas, para ser exibido no começo do ano que vem. Verei, mas não estou ardendo de vontade.

I REMEMBER ALL MY LIFE

Liberace, um dos entertainers mais pintosos de todos os tempos, morreu de AIDS em 1987 sem jamais admitir que era gay. Sam Smith, o maior vendedor de discos da atualidade, nunca fez segredo de sua sexualidade. Desde o primeiro dia que o mundo sabia de sua preferência por rapazes. Entre os dois está Barry Manilow. O cara foi um dos maiores astros pop dos anos 70 e 80, e sua carreira prossegue até hoje graças a um público fiel composto basicamente por senhoras. Por isto, ele nunca teve coragem de sair do armário. Achava que elas iriam rejeitá-lo. Mas os rumores sempre o perseguiram, apesar de levar uma vida discretíssima. Discreto também foi seu casamento. Barry chamou 20 pessoas para um almoço, e chegando lá os convidados descobriram que ele iria formalizar sua união com Garry Kieff, seu empresário de muitos anos. A notícia repercutiu na mídia americana, mas não consta até o momento que alguma senhora tenha quebrado seus compactos de "Mandy", "I Write the Songs" ou "Copacabana". Todas meio que sabiam desde sempre, e ninguém está nem aí. Mas é o que eu digo aqui no blog, quando me pedem para dedurar famosos: cada um tem seu tempo. Cada um sabe onde lhe dói o calo.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

OS HOMENS PREFEREM AS GORDAS

Um dos assuntos que estão tacando fogo nas internets nesta quarta é a campanha "I'm No Angel", uma óbvia provocação à Victoria's Secret feita pela marca inglesa de lingerie plus size Lane Bryant. Campanhas que valorizam a "beleza real" não são novidade desde que a Natura empregou o conceito pela primeira vez (bem antes da Dove, aliás). Mas este comercial se destaca porque lingerie é produto erótico, e as modelos - todas lindas - são apresentadas como objetos de desejo. Para mim, o mais bacana são os comentários: tá assim de homem babando pelas cheinhas. É bom lembrar que, desde pelo menos a Vênus de Willemdorf, as mulheres roliças são o padrão de beleza da humanidade. O culto à magreza só surgiu no final do século 19 no Ocidente, de mãos dadas com a nascente indústria da moda. Mas homem gosta mesmo é de fartura. De qualquer orietação sexual, haja vista a popularidade cada vez maior dos ursos.

AMIGO, ASSIM FICA DIFÍCIL TE DEFENDER

Não sei se o Jean Wyllys está se deixando contaminar pelo radicalismo do PSOL. O deputado fluminense vem perdendo muitos fãs por causa de suas posições extremadas, mesmo entre o público gay. E ontem ele ainda engoliu uma bola muito fácil, ao se levantar do lugar onde estava num avião só porque o Bolsonazi ia sentar ao lado. O brucutu-mor do Brasil gravou a cena e a postou na internet, para gáudio de seus milhões de seguidores. Ainda encheu a boca para acusar o Jean de "heterofobia". Claro que viajar ao lado do Bolsossauro é um castigo dantesco, mas o Jean é político profissional - ou pelo menos deveria ser. Essa atitude infantil lembra o tuíte infeliz da Luciana Genro: agrada à base, mas não conquista um único voto novo. Amigo, chega de pregar aos convertidos.

ATUALIZAÇÃO: para variar, quem melhor descreveu este caso foi o Sensacionalista.

(assunto e título sugeridos pela Mariliz Pereira Jorge, uma amiga defensável)

terça-feira, 7 de abril de 2015

O CHANTAGISTA DANÇOU

Sabe o Jarec Wentworth? Sabe, né, seu safado? O ator pornô gay mais badalado do momento está a ponto de encerrar sua ilustre carreira e amargar alguns anos de cadeia. Só porque ele cometeu o erro clássico do chantagista: não soube quando parar de extorquir sua vítima. Jarec - ou Jarek, sem sobrenome, como ele era conhecido nos bons tempos em que trabalhava (sem camisinha) para o estúdio Sean Cody - também é michê, como quase todos os astros do chamado "cinema adulto". E vinha atendendo há dois anos um milionário chamado Donald Banks,  também doador habitual do partido republicano dos EUA. Chegou a agenciar outros garotos para o freguês, e recebia dois mil dólares por cada um. Até aí, beleza: adultos em plena posse de suas faculdades mentais podem fazer o que quiserem e na moita, sem dar satisfação para ninguém. Mas Jarec - ou Teofil Brank, seu nome de batismo - queria mais. Pediu carro, pediu moto, pediu apartamento, pediu meio milhão em cash, tudo para não contar para a imprensa que Banks é gay. Até que o cara acionou o FBI... Preferiu ser arrancado do armário do que ficar pobre. Tá certo ele. Mas fica a dúvida: gostamos menos do Jarec Wentworth porque ele é um bandido? Ou... gasp... gostamos mais?

(OK, vou acreditar que você não sabe quem é Jarec Wentworth. Então mate sua curiosidade aqui. Mas mate em casa, hein? É absolutamente NSFW. Eeebaaa.)

CURTA O CURTA

Os curta-metragens do Ricky Mastro vêm ganhando muitos prêmios no Brasil e no exterior, tanto em festivais de temática gay quanto nos ditos "normais". E agora VOCÊ tem a chance de participar do processo de elaboração do próximo. "Xavier" vai contar a história de Nicolas, um pai que descobre que tipo de garotos que seu filho Xavier, de 11 anos, prefere. Já está rolando uma campanha de crowdfunding para este novo curta, mas você pode contribuir com mais do que dinheiro. Envie para o e-mail curtaxavier@gmail.com um vídeo de até um minuto (em formato MOV ou MP4), contando como foi a descoberta da sua sexualidade, ou como seus pais reagiram, ou como você reagiu ao saber de um filho ou alguém próximo. Os vídeos podem ser mandados até o dia 15 de abril, e há mais informações na página www.facebook.com/curtaxavier. E então, curtiu?

segunda-feira, 6 de abril de 2015

O TRONO DE JESTEROS

Já é uma tradição. O programa infantil americano "Sesame Street" (que se chamou "Vila Sésamo" em sua versão brasileira) fez mais uma paródia de um seriado famoso. Depois de "Mad Men", "Downton Abbey" e "House of Cards", chegou a vez de "Game of Thrones". O curioso é que nenhuma criança pode assistir a estes programas. Mas a piada é voltada para os pais, claro, e para aficcionados como eu. Só espero que o vídeo acima não contenha spoilers...

MARAVILHA CURATIVA

Robin Wright está na capa da revista "Vanity Fair" deste mês, e também no começo da fila das mulheres que me converteriam. Ou talvez não seja ela, mas Claire Underwood. O poder de cura gay da primeira-dama do seriado "House of Cards" está demonstrado em seu marido Frank, que sem ela provavelmente usaria batom e salto agulha. Claire é chique, angulosa, e tem um caralho mental considerável - quase tudo o que uma biba deseja. Tanto que conheço outros homossexuais registrados em cartório que reveriam suas preferências se esta deusa lhes desse em cima. E você? Quem lhe faria mudar de time, nem que fosse só por uma partida?

domingo, 5 de abril de 2015

PETROLÃO OITENTISTA

Pode ir anotando o nome do diretor J. C. Chandor, porque ele vai ganhar um Oscar daqui a alguns anos. "O Ano Mais Violento" é só seu terceiro filme, mas ele já demonstra o domínio de um veterano. O ano em questão é 1981, tido como o de maior número de crimes da história de Nova York, mas a época nem importa muito. O que está em questão é a capacidade de alguém permanecer honesto mesmo quando o resto do mundo não o é. Uma discussão que nunca foi tão pertinente. O personagem do ator guatemalteco Oscar Isaac - que aqui parece uma mistura de Al Pacino com Aécio Neves - é um empresário do ramo do óleo para calefação, um produto vital para os países frios. Vários de seus caminhões-tanque são roubados, e qual de seus muitos concorrentes que está comprando as cargas? Falando assim soa meio chato, e no começo é mesmo. O filme padece um pouco por ter Chandor também como roteirista, o que significa que nenhuma cena foi cortada. Um pouco de tesoura ia fazer bem. Mas do meio para a metade a coisa engrena, num clima que lembra a trilogia do "Chefão" do Coppola. Jessica Chastain está ótima como a esposa que é mais do que aparenta, mas "O Ano Mais Violento" pertence mesmo ao guapo Oscar Isaac. Pode ir anotando o nome dele também.

sábado, 4 de abril de 2015

JOVEM, AO COMPLETAR 18 ANOS

Eu estava muito curioso par ver "Amor à Primeira Briga". O filme venceu a Quinzena dos Realizadores no Festival de Cannes do ano passado, e ainda ganhou os Césars de melhor primeiro longa, revelação masculina e melhor atriz. Adèle Haenel superou veteranas como Catherine Deneuve e Marion Cotillard, e é de fato ótima em todos os sentidos. Mas o filme entrega menos do que promete. O que no trailer parece ser uma comédia agitada, na verdade tem muitos momentos de lentidão. A historinha do amor entre uma "tomboy" que sonha em ser militar e um rapaz tímido porém determinado não rende duas horas de projeção, e se resolve bem antes do final. Pelo menos as paisagens são lindas, assim como um coadjuvante que parece ator de pornô gay.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

TUÍTE INFELIZ

Luciana Genro demonstrou que não tem o chip necessário para ser eleita para um cargo majoritário. Não chegará sequer a prefeita de Porto Alegre; jamais passará do legislativo, onde a votação é proporcional. Ela cometeu hoje uma das grandes gafes políticas do ano. Não resistiu a acenar para sua base, e não só não conseguiu um único voto de quem ainda não votava nela como alienou e irritou muita gente. É verdade que as mortes anônimas são muito menos lamentadas que as de celebridades ou seus parentes. Mas isto faz parte da natureza humana, pois nos identificamos muito mais com a dor de quem já conhecemos. E será que a Lu teria soltado este tuíte infeliz se tivesse morrido o filho do João Pedro Stédile ou da Marilena Chauí?

quinta-feira, 2 de abril de 2015

QUANDO PARIS ABORRECE


Hoje em dia chegam poucos filmes de Catherine Deneuve ao Brasil. Por isto, quando estreia algum, eu me apresso para ver. Não deveria. Ela até foi indicada ao César de melhor atriz por "Em um Pátio de Paris", mas o filme é chatinho que dói. O grande problema é que o verdadeiro protagonista, um loser gordo, drogado e deprimido, é um personagem desinteressantíssimo. Ele se torna zelador do prédio onde ela mora, e pouca coisa acontece. E Paris aparece tão pouco... Não matei as saudades, nem me engajei na história. Pelo menos Deneuve, aos 70 anos de idade, continua translumbrante.

CONTRA A MARÉ

Levei uns quatro anos para aderir aos CDs,e tenho até hoje algumas caixas com os meus LPs mais preciosos (mas não tenho onde tocá-los...). Também demorei para começar a baixar músicas. E acabei virando fanático pela iTunes Store na hora em que todo mundo está se mudando para o Spotify e outros serviços de streaming. Já abri minha conta lá, mas uso tão pouco que acho que esqueci minha senha. Já sei, já sei, devia frequentar mais para conhecer coisas mais novas que Bette Midler. Como cansei de ficar pra trás, hoje paguei de moderno e me inscrevi no Tidal, a nova plataforma endossada pelos maiores artistas pop do mundo. O treco ainda não está disponível no Brasil, e provavelmente será caríssimo quando estiver. Nos EUA estão cobrando 10 dólares mensais por assinatura, e 20 se o cliente quiser tudo com alta qualidade. Verdade que eu gasto mais do que isto numa simples visitinha às poucas lojas de CD físico que ainda existem, mas também achei salgado. E me incomoda depender de uma conexão wi-fi para ouvir minhas musiquinhas... Enfim, veja aqui mais detalhes da conferência de imprensa que lançou o Tidal. E delicie-se com o encontro awkward entre Madonna e Deadmau5, que já andaram se estranhando no passado.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

SÓ NOS RESTA PECAR

O pecado anda em falta no mundo, e por isto o Vaticano achou por bem criar uns novos. A lista com seis pecados "do capital" foi divulgada esta semana, e claro que já está sendo criticada. Para começar, por que só seis? Ninguém conseguiu pensar num sétimo, só por uma questão de simetria? E por que não bolaram nomes únicos, como "gula" ou "luxúria"? Desse jeito fica difícil decorar. Enquanto isto, devemos todos imprimir a lista abaixo e levá-la na carteira:

1. Fazer modificação genética
2. Poluir o meio ambiente
3. Causar injustiça social
4. Causar pobreza
5. Tornar-se extremamente rico
6. Usar drogas 

Hmm, os números 2, 3 e 4 são meio que indiscutíveis. O 5 peca pela formulação: acho que o errado seria manter uma grande fortuna, não conquistá-la. A moda atual entre os bilionários americanos é livrar-se dela, distribuindo-as por ONGs e diversas causas sociais. E bem que o riquíssimo Vaticano podia começar dando o exemplo... E o número 6? Se fosse para valer, deveriam abolir o vinho da Santa Missa. Mas o mais polêmico é, de longe, o número 1. Não há um único vegetal cultivado pelo homem, nem nenhum animal domesticado, que não tenha passado por modificações genéticas - seja em laboratório, seja através dos milênios. A própria hóstia é feita com farinha de trigo manipulado, completamente diferente do que existia na natureza. Mas há uma boa notícia: nenhum dos novos pecados tem conotação sexual. O Vaticano se furtou de incluir na lista modernices como "comparecer a um casamento gay" ou "assistir 'Babilônia'". Meno male, né não?

DIMENOR

Acho que o debate recomeçou para valer com o caso Champinha, no final de 2003. O rapaz, parte de uma gangue que sequestrou um casal de namorados, estuprou e matou a moça a facadas. Foi preso pouco depois, mas não pôde ser mandado para a cadeia: havia cometido o crime pouco antes de completar 18 anos.

De lá para cá houve mais alguns casos de delitos graves envolvendo adolescentes, mas bem menos do que os programas policiais querem nos fazer acreditar. Menos de 1% de todos os crimes são de autoria de menores de idade, e uma fração ainda menor pode ser considerada hedionda. Mas é fato que os "dimenor" são usados por traficantes, e que a cultura de violência predominante em algumas favelas e bairros da periferia estimula o ingresso cada vez mais cedo na vida de fora-da-lei.

Junte-se a isto o clima de terror existente na classe média, amplificado por um noticiário muitas vezes irresponsável, e o resultado é que a redução da idade penal tem amplo apoio popular no Brasil. Mas será que ela funciona de verdade?

Vamos tentar desideologizar o debate. Nessas horas eu evito as ideias preconcebidas e procuro ser pragmático: como é que é nos outros países? Meu critério é simples. O Brasil deveria adotar leis parecidas com a de países onde todo mundo, em sã consciência, gostaria de morar. Desse jeito já descartamos lugares como o Paquistão, a Arábia Saudita e quase toda a África. Em alguns deles a lei é tão rigorosa que permite a prisão de crianças de sete anos (!!). E sim, a criminalidade costuma ser baixa. Mas repito a pergunta: quem quer morar lá?

No mundo mais civilizado, a coisa varia muito. A maioridade penal na Inglaterra é surpreendente: apenas 10 anos de idade. Talvez um resquício da Idade Média, quando se enforcavam meninos que roubavam pão. Em alguns dos estados americanos tem neguinho (literalmente) cumprindo prisão perpétua por crimes cometidos aos 14 anos. Pelo menos não executam mais crianças...

E aí temos o caso de Cuba, onde a maioridade penal começa aos 16. Mas Cuba não vale: é um planeta paralelo, onde a gravidade é diferente da daqui. Sem falar que Japão ou Espanha baixaram a idade e depois voltaram aos 18 anos, ao perceberem que os problemas são maiores que os supostos benefícios.

Problemas estes que seriam terríveis no Brasil. Se nossos reformatórios já são um horror, o que dizer de uma penitenciária? Um moleque seria comido vivo, em vários sentidos. Fora que é imoral termos prisões para eles, mas não escolas.

Além do mais, quadrilhas seriam estimuladas a utilizar garotos ainda menores. E a criminalidade desceria algum pontinho? Nope. A sensação de segurança aumentaria? Só na cabeça dos reacionários. O Brasil seguiria igual, ou pior.

Qualquer coisa que surja na bancada BBB (boi, bala e bíblia) do Congresso e seja endossada pelo Eduardo Cunha merece o repúdio automático das pessoas de bem. Levando tudo isso em conta, acho que agora eu posso dizer que sou contra a redução da idade penal. Ela só vai causar mais sofrimento em quem já está frágil, e nenhuma vantagem para ninguém. Temos problemas maiores a resolver.