terça-feira, 31 de março de 2015

#AHOMOFOBIAÉ... RUIM PARA TODOS

O iGay, portal LGBT do iG, está comemorando dois anos sob o comando da minha querida Ana Ribeiro. E ela teve uma ideia ótima para celebrar a data: a exposição/campanha "A Homofobia É...", que abriu ontem na Prefeitura de São Paulo e em meados de abril será transferida para o Conjunto Nacional. São 50 fotos onde celebridades de todas áreas dão sua definição para esta praga contemporânea - nenhuma delas lisonjeadora, claro (confira todas aqui). O mais legal é que quem quiser também pode participar, tirando sua própria foto ou compartilhando sua frase nas redes sociais (não se esqueça de usar a hashtag #AHomofobiaÉ, assim mesmo, tudo junto e com acento). Qual é a minha? #AHomofobiaÉ ruim para todo mundo, assim como o racismo ou o machismo. Esses preconceitos visam apenas as minorias, mas acabam sendo maléficos para a sociedade como um todo - inclusive para os preconceituosos. E qual é a sua?

A TIA E AS SOBRINHAS

Não resisto a postar quase todas as performances de Madonna em cerimônias de entrega de prêmio, porque ela costuma inventar alguma novidade. Nos iHeart Radio Awards de domingo passado, ela se fez acompanhar por Taylor Swift no violão ao cantar seu novo single "Ghosttown". É um hábito recorrente de Sua Madgestade: aparecer ao lado de alguma cantora bem mais jovem e que esteja fazendo bem mais sucesso do que ela no momento, como que para dizer "são todas minhas súditas". Ela já fez isto com Britney Spears, Christina Aguilera, Katy Perry, Miley Cyrus e até com Lady Gaga num esquete do "SNL", antes das duas se desentenderem por causa de "Born This Way". O curioso é que Madonna jamais fez coisa parecida com suas colegas de geração, como Whitney Houston, Cyndi Lauper ou Mariah Carey. Talvez porque estas divas não devessem suas carreiras às trilhas desbravadas pela (ainda) rainha do pop? Comenta aê.

segunda-feira, 30 de março de 2015

A LIBERDADE DE SER IDIOTA

Apesar do avanço brutal dos direitos LGBT nos Estados Unidos, os reaças de lá não param de inventar maneiras criativas de legalizar o preconceito. Agora está na moda uma certa "liberdade religiosa": se a fé do sujeito condena o casamento gay (e quase todas condenam), então o cara está livre para até mesmo recusar serviço em restaurante a fregueses que aparentem viadagem. No ano passado os parlamentares do Arizona aprovaram uma lei nesse estilo, que foi vetada na última hora pela governadora Jan Brenner - a ameaça de bociote por grandes empresas e consequente perda de empregos no estado falou mais alto. Mas uma barbaridade parecida acaba de ser sancionada pelo governador de Indiana. A reação está sendo avassaladora: um número enorme de celebridades se pronunciou nas redes sociais, e a lei aberrante virou motivo de chacota nos programas de humor. Assustado com o desastre de relações-públicas, o governador Mike Pence já está dando entrevista dizendo que veja bem, não é bem assim, e que a lei não tem nada de discriminatória (só faltou dizer que tem muitos amigos gays). Mas é discriminatória, sim. Já se percebeu que havia vários lobistas anti-gay no momento da assinatura da nova lei, deixando claro de onde partiu a inspiração. E, para piorar encrenca ainda mais, a legislação pode abrir as portas para o antissemitismo e outros horrores. Sim, um lojista "cristão" pode se recusar a atender um cliente judeu, porque, afinal, ele não reconhece Jesus, néam? Vamos ver se Pence volta atrás, já que o custo político para ele está se revelando muito maior do que eventuais ganhos. E fiquemos alertas, porque daqui a pouco nossa querida bancada evangélica pode tentar introduzir essa excrescência por aqui. Com a Dilma enfraquecida, sei não...

BIBIDI-BÓBIDI-BU


Eu não estava muito animado para ver este remake de "Cinderela" com atores de carne e osso. As primeiras críticas diziam que a única coisa que valia a pena era a madrasta, feita por Cate Blanchett. Ela de fato está divina, mas o filme como um todo me surpreendeu. É uma releitura ortodoxa não do conto de Perrault, mas do desenho da Disney. A grande diferença é que quase não há canções - mas mantiveram os ratinhos e até mesmo o "bibidi-bóbidi-bu", a célebre palavra mágica da fada madrinha. Não houve nenhuma mudança no ponto de vista (como em "Malévola") ou tentativa de transformar a protagonista em guerreira feminista (como em "Branca de Neve e o Caçador). Os rasos não vão gostar, porque Cinderela continua sendo uma mocinha passiva que encontra a redenção através de um bom casamento. Mas quem leu Bruno Bethelhem sabe que o buraco é mais em baixo. Como nas outras histórias de princesa, o assunto aqui é a passagem da infância para a idade adulta (isto é, para a sexualidade), e a madrasta/bruxa nada mais é do que uma metáfora da mãe que não quer que seus filhos cresçam. Tudo isto foi respeitado, e o orçamento que permitiu efeitos especiais e figurinos deslumbrantes garantiu um bom resultado. O elenco é uma mistura de "Downton Abbey" com "Game of Thrones", mas quem brilha mesmo é Cate Blanchett (e Helena Bonham-Carter também, embora numa única cena). Gostei bem mais do que eu esperava desse "Cinderela", só que saí do cinema torcendo por uma versão onde a madrasta fosse a personagem principal.

domingo, 29 de março de 2015

A CALCADA DA FAMA


Julianne Moore teve um ano maravilhoso. Ganhou todos os prêmios por seu papel em "Para Sempre Alice", inclusive o Oscar. Foram tantos que ofuscaram o outro troféu importante que ela faturou em 2014: o de melhor atriz no Festival de Cannes por "Mapas para as Estrelas". O mesmo filme deu a ela uma inexplicável indicação para melhor atriz de comédia no Globo de Ouro. Porque essa nova doideira do diretor David Cronenberg tem lá sua acidez, mas está longe de provocar o mais tênue sorriso. A trama se passa em Hollywood e envolve uma atriz de meia-idade, um astro adolescente, um guru/massagista com clientela famosa e uma garota esquizofrênica e perigosa. Coisas estranhas acontecem por onde ela passa, até culminar numa sequência horripilante de cenas finais. Eu gostei, mas muita gente vai estranhar - o roteiro é uma alegoria sobre a busca pela fama a qualquer preço. Depois não diga que eu não avisei.

sábado, 28 de março de 2015

QUANDO TRÊS SÃO MENOS QUE UM

Paul Haggis é outro de quem eu gostava até ganhar um Oscar. Não foi bem ele quem ganhou, foi seu filme "Crash" - ótimo filme, aliás. Mas não melhor do que "Brokeback Mountain", talvez o título americano mais importante da década passada, de quem ele surrupiou o prêmio da Academia. Mas não dá para negar o talento do cara, tanto como diretor quanto como roteirista. Ou talvez dê, depois desse equivocado "Terceira Pessoa". Dessa vez são apenas três histórias, cada uma se passando num lugar diferente (Paris, Roma e Nova York). Elas demoram para se entrelaçar, e de uma maneira esquisita: um bilhete perdido num quarto de hotel numa cidade é encotrado num quarto de hotel em outra. Isto não seria probelma se as tais histórias fossem interessantes. Não são, nenhuma delas. Porque seus protagonistas são fracos. Liam Neeson faz um escritor adúltero, Adrien Brody, um vigarista que se deixa enganar por um golpe óbvio, e Mila Kunis, uma mãe problemática em busca da guarda do filho. Não dá para torcer por nenhum deles. Para piorar, a conclusão é pífia e pretensiosa. Dá para perceber que Haggis está crente de que fez um puta filme. Fez não. Fuja.

ITATIRA, CAPITAR DO POGRÉÇIO

A mídia, essa marvada, voltou seus holofotes para a pogreçista cidade cearense de Itatira, a 212 quilômetros de Fortaleza. Esta Atenas sertaneja é governada por um prefeito iluminista e uma não menos letrada Câmara de Vereadores. Juntos eles estão propondo uma sábia lei contra a ditadura gay, esse violento aparato militar que vêm promovendo atentados piores que o do Estado Islâmico. O documento que insitui a "Semana Municipal de Valorização da Família" é crivado de erros de ortografia e pontuação, sendo a prova definitiva da ignorância suprema de todos os envolvidos. E, não por coincidência, a cidade de Itatita também vem regisrando casos onde gays são agredidos na rua e têm suas casas apedrejadas. Ninguém evocou Deus explicitamente, mas tá meio óbvio que a influência das "igrejas" fundamentalistas deve ser brutal nesse lugar. O governo federal vai despachar uma comitiva do Conselho Nacional LGBT para lá, mas eu acho pouco. Em casos como esse, a minha constituição pessoal autoriza o bullying. Gente que se atreve a regulamentar a homofobia em pleno século 21 merece ser execrada em praça pública. Quem é burro tem que mais é que sentir vergonha de sê-lo. E antes que me acusem de preconceituoso: sou filho de cearense, com muito orgulho. Mas não tenho a menor tolerância com os intolerantes. Pau neles, no mau sentido.

(leia aqui a carta do Eli Vieira aos esclarecidos parlamentares itatiranos)

sexta-feira, 27 de março de 2015

VÁ TOMAR NO CUNHA

Vamos parar de mimimi. Fazer baderna nas galerias não é falta de educação. É parte da democracia. E quando se trata de uma manifestação contra o crápula do Eduardo Cunha, como a que aconteceu hoje de manhã na Assembleia Legislativa de São Paulo, o ato se reveste de dever cívico. O presidente da Câmara de Deputados acha que está surfando no movimento contra Dilma, mas os protestos só farão sentido se o incluírem (e ao Renan também). O cara é corrupto, homofóbico, inescrupuloso e algumas vezes pior que o Frank Uderwood de "House of Cards", com quem andou sendo comparado. Está mais que na hora dos setores esclarecidos da sociedade se levantarem contra ele. E Cunha só é a crista de uma onda obscurantista que se abateu sobre o legislativo brasileiro. Já tá assim de parlamentar querendo proibir a adoção por casais gays ou o uso do nome social por alunos trans nas escolas. Pelo menos o PSOL irá expulsar o Cabo Daciolo, autor de uma PEC dizendo que todo poder emana de Deus. Mas será que os demais partidos ditos progressistas - inclusive o PT - terão o mesmo culhão?

AS LOUCAS DO FAROESTE


Eu gostava da Hillary Swank até ela ganhar o segundo Oscar. Aí criei uma implicância eterna: como ousa essa sirigaita vencer a deusa Annette Benning duas vezes? Mas o fato é que a moça não fez uma carreira lá muito consistente. Afinal, são poucos os filmes que têm como protagonista uma mulher masculinizada que sofre pacas. Depois de alguns anos na moita, ela finalmente encontrou um personagem sob medida. A solteirona de "Dívida de Honra" parece ter sido escrita especialmente para ela, que realmente dá um show no papel. Tão bom quanto está Tommy Lee Jones, também diretor do filme, como um semi-fora-da-lei que ajuda a bruaca numa tarefa ingrata (veja o trailer acima). Além disso, o elenco é todo recheado de atores famosos em pequenas participações. Como Meryl Streep, que surge só no finalzinho - mas sua filha Mamie Gummer aparece o tempo todo, muda e intensa como uma das três mulheres loucas (veja o trailer!!). "Dívida de Honra" tem um reviravolta na última meia hora que me pegou de surpresa e me fez gostar ainda mais, mas preciso admitir que o filme me fisgou desde o começo. É uma boa reflexão sobre a barra de ser mulher num ambiente inóspito, ainda mais no século 19. Nada mau para um faroeste, um gênero que nunca fez meu gênero.

quinta-feira, 26 de março de 2015

MULHERES INQUEBRÁVEIS


Tem muito filme interessante em cartaz, mas tá difícil convencer o corpo exaurido depois de um dia de trabalho a encarar um cineminha. Ainda mais quando a TV está transbordando de ofertas. Toda semana surgem uns 47 seriados novos, e precisaríamos ter um dia mercuriano para dar conta de todos. Como nem tudo é bom, as dicas dos amigos são importantes. Essas são as minhas de hoje: no quesito comédia, a sensação do momento é "Unbreakable Kimmy Schmidt", a nova série escrita por Tina Fey. Traumatizada com a baixa audiência de "30 Rock", a rede americana NBC passou a bola para o Netflix. O que pode ser bom para a segunda temporada, para os roteiristas pirarem ainda mais. O estilo de Tina, cheio de referências pop e piadas sutis, não é para qualquer um. Mas é para mim. A cada novo episódio, estou gostando mais das desventuras da pobre coitada que passou 15 anos presa num culto apocalíptico. Ellie Kempner, que despontou em "The Office", já é a barbada do próximo Emmy de atriz de comédia.
E o Emmy de melhor atriz de drama dificilmente escapará de Viola Davis, que está tendo em "How to Get Away with Murder" o grande personagem que o cinema sempre lhe negou. Esse novelão policial é o mais novo sucesso da usina de Shonda Raines, a rainha negra da TV americana. Eu nunca tinha me rendido a nenhum programa dela, mas finalmente capitulei. Não é fácil misturar o estilo "procedural" (aquele em que um caso é resolvido a cada episódio) com o "serial" (uma trama mais longa que se prolonga por toda a temporada). Roteiro e direção são mais óbvios do que nas séries do cabo, mas o elenco é fortíssimo - e ainda tem cenas de sexo gay capazes de enfartar muito fundamentalista. "How to Get Away with Murder" está sendo exibida pelo canal Sony, mas eu tenho acompanhado pelo Now mesmo. Baixar de graça? Obrigado. Não estou disposto.

ARABIA INFELIX

O Iêmen costumava ser um país tão obscuro que foi para lá que o Chandler de "Friends" mentiu ter sido transferido, para se livrar da chata namorada Janice (oh... my... God). Mas nem sempre foi assim. Conhecida pelos romanos como "Arabia Felix", essa esquina da Península Arábica com a África é bem mais fértil que sua vizinhança, e ganhou renome no mundo antigo com as fragrâncias florais que produzia. Mas nada como um milênio depois do outro. Hoje o Iêmen é, de longe, o mais pobre dos países árabes. Com pouca água e nenhum petróleo, acabou se tornando um dos celeiros de jovens recrutas para a al-Qaeda e o ISIS. Um lugar que já era instável e perigoso antes da Primavera Árabe agora está em plena guerra civil, com pelo menos três facções diferentes se matando entre si. E o conflito acaba de se internacionalizar: a Arábia Saudita, a grande e rica vizinha do norte, invadiu o Iêmen, para retomar a captial das mãos da milícia xiita Houthi. O curioso é que quase metade do país já está nas mãos de filiais da al-Qaeda há um bom tempo - mas essas são sunitas como os sauditas, então tudo bem, né? Esse imbroglio mostra que, antes de ser com o Ocidente, o problema do Islã é consigo mesmo. As principais vítimas do terrorismo islâmico são os próprios muçulmanos. Mas como intervir nessa D.R. sangrenta? Que se explodam?

quarta-feira, 25 de março de 2015

FODEUS QUEM FEZ VOCÊ

A Suprema Corte americana irá julgar em breve se o veto que alguns estados ainda fazem ao casamento igualitário é constitucional ou não. Se decidirem que não, os gays poderão se casar em todos os 50 estados americanos, não importando se a população e o governo locais são contra ou a favor. Claro que o pau está comendo, e todos os lados da questão vêm se manifestando. Eu acho que todo mundo tem esse direito, mas não tenho um pingo de respeito pelos homofóbicos. Ainda mais quando publicam um anúncio babaca como este, veiculado esta semana no jornal "Washington Post": "Lemmbrem-se de quem foi a ideia original". Será que a AFA (Associação da Família Americana) acha mesmo que os juízes snao tementes ao Deus do Velho Testamento? E poucos argumentos são mais furados do que dizer que o casamento entre homem e mulher é o modelo "bíblico". E o filho bastardo que Abrãao teve com a escrava Agar, aos quais prontamente despachou para o deserto? E as milhares de esposas e concubinas do rei Salomão? A Bíblia é pródiga em exemplos desse tipo, que só têm uma coisa em comum - todas essa relações tem o homem como dominador e a mulher como submissa. Os fundamentalistas brasileiros estão copiando essa linguagem e muitos nem se preocupam em esconder que são machistas e chauvinistas. Mas era bom eles se darem conta que a estratégia não deu muito certo por lá - é provável que a Suprema Corte nos dê a vitória. Por quê daria certo por aqui?

RADIO GAY GAY

Desde quando que 25 de março é o Dia Nacional do Orgulho Gay? Alguém sabe me dizer por quê? Mas o que importa mesmo é que hoje está rolando a Parada Gay na Rádio, uma iniciativa da revista Billboard Brasil que teve a adesão de inúmeras emissoras país afora. Ao longo do dia, elas tocarão playlists de artistas LGBT ou simpatizantes - ou seja, só aquelas aberrações da música gospel é que devem ficar de fora. Também tem gente gravando seus próprios vídeos e enviando para a página da campanha no Facebook, onde também podem ser vistos os comerciais criados pela agência Ogilvy (mas quem foi o gênio que não incluiu o código para "embedar"? Amiga, assim fica difícil te defender). Ah, não esqueça de usar #‎CaleAHomofobia‬, OK?

terça-feira, 24 de março de 2015

TARDE ATÉ QUE ARDE

Quatro anos atrás, nada parecia deter Rafinha Bastos. Revelado para o público de todo o Brasil pelo "CQC", ele ganhou até matéria no "New York Times", onde dizia estar se preparando para conquistar o mercado americano. E aí veio a infame frase sobre Wanessa e o bebê, a demissão da Band e alguns anos na contramão. Que pareciam ter acabado quando ele voltou para sua antiga emissora e assumiu o lugar de Danilo Gentili no "Agora É Tarde". O programa nunca foi um estouro de audiência, mas tinha boas críticas e parecia estar indo bem - até ser sumariamente extinto ontem. A equipe perdeu seus empregos e Rafinha, ainda contratado, foi para a proverbial geladeira. Eu nunca fui fã incondicional do cara, mas o acho bem melhor que seus ex-colegas de bancada. Também creio que está na hora desta maldição que se abateu sobre ele terminar. Será que já não bastou o malfadado "Saturday Night Live" da RedeTV?

segunda-feira, 23 de março de 2015

VIVA LA BAD FRENCH HOUSE

A música eletrônica inspirou relativamente poucos filmes. Talvez porque evoque imagens abstratas, ou não conte histórias lineares. Por isto fiquei curioso para ver "Eden", ainda mais porque o filme foca na house music francesa. Até o surgimento dessa onda na metade dos anos 90, o pop produzido na França tinha pouco impacto no resto do mundo. Aí veio o Daft Punk e uma série de outras bandas e DJs, quase sempre com letras em inglês, e o resultado foi sucesso global e alguns Grammys. "Eden" conta a história de um rapaz que é amigo do Daft Punk (a dupla aparece em cena, representada por atores) e tenta emplacar nesta cena, mas não consegue ir muito longe. O roteiro semi-autobiográfico, do irmão da diretora Mia Hansen-Love, me lembrou "Boyhood": os anos vão se passando e nunca acontece nada de especialmente dramático, mas é a somatória de pequenos episódios que acaba formando uma narrativa maior. Há muita droga e muita, muita música - a trilha reúne os grandes nomes do estilo mais algumas de suas influências, e é tão boa que eu precisei comprá-la na iTunes Store assim que saí do cinema. Mas fica o aviso: só quem realmente gosta de dance music é que vai apreciar "Eden".

domingo, 22 de março de 2015

CESSAÇÃO DE TERAPIA

Achei que só ia ter bichas finas na plateia de "Consertando Frank". Afinal, o assunto aparente da peça é a infame "terapia de conversão", um assunto muito em voga. Mas as críticas andam tão boas que o teatro do MuBE estava lotado por um público bem variado, inclusive casais héteros de mais idade. Há inclusive relatos de que alguns espectadores saem indignados logo depois do primeiro beijo gay (essa gente não se informa sobre o que vai ver?). Mas o texto do americano, escrito em 1997, vai muito além da suposta cura gay. Ele fala basicamente sobre manipulação, e como as nossas identidades são construídas a partir do que os outros pensam de nós. O protagonista é um repórter homossexual que vive com o namorado. Ele resolve se passar por um paciente angustiado e assim desmascarar um psiquiatra que promete inverter a orientação sexual. Só que o rapaz tem uma personalidade frágil, e acaba se deixando influenciar pela lábia do charlatão. Segue-se um duelo a três muito bem defendido pelo ótimo elenco e pela direção sem firulas. Não se trata de um espetáculo abertamente militante, e isto faz com que "Consertando Frank" possa ser apreciado por um público mais amplo. Ainda bem.

sábado, 21 de março de 2015

CARÃO GLOBAL

Capa de revista com foto coletiva de estrelas do cinema ou da TV é uma coisa comum nos Estados Unidos, mas bem mais rara no Brasil. Comenta-se que as sessões de fotos são um terror, com as divas se engalfinhando para ver quem sai no meio, quem sai na ponta e quem sai na dobra. Depois começa uma outra discussão: quem não merecia estar ali? Quem tomou o lugar de quem? Esse debate já está rolando no Facebook, depois que a "Vogue" brasileira revelou sua capa de abril comemorando os 50 anos da Globo. Imagino a encrenca que deve ter sido escolher o elenco: da esquerda para a direita, Fernanda Lima, Renata Vasconcellos, Fernanda Montenegro, Camila Pitanga, Glória Pires, Glória Maria, Paolla Oliveira, Angélica, Malu Mader e Grazi Massafera (o rapaz é um modelo). É uma amostra do topo da cadeia alimentar na emissora, mas claro que muita gente ficou de fora. Cadê Adriana Esteves? E Regina Duarte? E a Xux... ops.

sexta-feira, 20 de março de 2015

SUSPENDERAM OS JARDINS DA BABILÔNIA

Na falta dde louça para lavar e querendo agradar a seus desinformados eleitores, a Frente Parlamentar Evangélica do Congresso resolveu convocar um boicote à novela "Babilônia". Deram um certo azar, porque o timing é dos mais infelizes: vários dos membros da Frente estão envolvidos em escândalos de corrupção, e é notório que são dos deputados mais ausentes e ineficazes do país. Também é chocante pensar que estão se eriçando por causa de um beijo entre duas senhoras, mas este horror é fundamentado: "Babilônia" quer mostrar que tudo bem ser gay, exatamente o oposto do que pregam os fundamentalistas. As religiões abrâmicas são os alicerces do patriarcado ociental, e qualquer coisa que o ponha em cheque é logo denunciado como sacrilégio. Uma novela de TV não vai transformar nenhum hétero em gay, mas pode dar coragem aos que já são homo para saírem do armário e viverem felizes. Esta mensagem é subversiva, sim (e é mais do que correta). Agora, duvido que esse bociote - que se estende até aos anunciantes do programa - dê certo. A trama é boa, o elenco é fantástico e o Brasil não tem nada melhor para fazer às nove da noite. Não se impressione com os relatos de que a audiência caiu desde a estreia. Isto é perfeitamente normal, ainda mais nesses tempos de declínio generalizado da TV aberta. "Babilônia" vai mesmo causar.

WILKER VIVE

Li "O Capitão de Longo Curso" em mil e novecentos e guaraná com rolha, e no entanto lembrava direitinho do desfecho dessa novela de Jorge Amado. Publicada originalmente junto com "A Morte e a Morte de Quincas Berro d'Água" no volume "Os Velhos Marinheiros", a história devia ser das poucas do autor baiano que ainda não tinha virado novela ou filme. Agora virou: "O Duelo" estreia hoje nos cinemas, e com um atrativo inesperado. Trata-se do último trabalho de José Wilker para a telona, e vê-lo novamente é reconfortante e aflitivo ao mesmo tempo. Lá está o Wilker que conhecemos tão bem, num papel relativamente pequeno mas em pleno domínio de seus talentos. Ainda custo a acreditar que faz quase um ano que ele se foi, no auge e de repente. Mas a verdadeira estrela do filme é Joaquim de Almeida, mais um ator português que aprendeu a falar com sotaque brasileiro. Ele está ótimo como o impostor boa-vida que é obrigado a demonstrar dotes de navegação que nunca teve (mais não posso contar). A produção luxuosa (quase dois anos só de finalização) talvez seja até demais para a singeleza da trama, mas "O Duelo" ficou mesmo lindo. E bem contado, que é mais importante.

quinta-feira, 19 de março de 2015

Ó QUERIDA, Ó QUERIDA...

...ó querida Clemen...OLÁÁÁ! Hoje eu encarnei a velha da "Praça É Nossa". Ainda não estou surdo, mas dei um mau jeito nas cadeiras que me deixou encarquilhado. A dor começou na segunda-feira, foi crescendo de mansinho e hoje eu precisei de ajuda para vestir as calças, que tal? Tampouco consegui dirigir, e dependi da caridade de estranhos durante todo o dia. Agora vou tomar alguma bomba analgésica e, se não estiver melhorzinho amanhã, terei que me entregar às mãos de um quiroprata fodão. Quem conhece algum? O pior é que ainda tenho muita coisa para arrumar na casa nova e preciso estar zero bala no fim de semana. Caso contrário, acho que teremos que me sacrificar. Bang!

NACIONAL CID

Nunca pensei que algum dia eu fosse dizer isto, mas Cid Gomes me representa. Pelo menos ontem ele me representou, ao se recusar a pedir desculpas aos "300, 400 achacadores" que de fato ocupam a Câmara de Deputados. Suas Excelências ficaram nervosinhas e xingaram de volta o ex-futuro ministro da Educação. Não perceberam que, sabendo que iria cair de qualquer jeito, Cid caiu atirando. Pelo menos ele sentiu para que lado o vento sopra. Eduardo Cunha fez mais uma vez o papel de paspalho, e tampouco percebeu que sua batata está esquentando. Ele e sua gangue não podem ser esquecidos nas próximas manifestações, porque não adianta nada criticar o Executivo e poupar esse Legislativo podre que temos aí. Cid Gomes restaurou, ainda que por poucos instantes, o orgulho nacional. Divou.

quarta-feira, 18 de março de 2015

PARTIU EUROVISION

Transmimento de pensação: entrei na web para procurar notícias do Eurovision, e eis que a alma boa do Daniel havia compartilhado este vídeo aí em cima na minha timeline do Facebook. Sim, ainda é março e o festival só rola em maio, mas já temos todos os concorrentes. A grande novidade de 2015 é a participação da Austrália, convidada especial para a celebração dos 60 anos do evento (a audiência do programa costuma bater recordes por lá). Mas de resto não há nada que realmente se destaque, como as Buranovskye Babushki (Rússia, 2012) ou Conchita Wurst (Áustria, 2014). Minhas favoritas por enquanto são as canções com puxada mais dance, como as de Israel ou da Sérvia. O candidato da Suécia já causou polêmica por ter dado declarações homofóbicas (e depois claro que se desculpou - bitch, puh-lease, isso aqui é o Eurobichion). Mas a mídia vai se interessar mesmo é pela banda finlandesa Pertti Kurikan Nimipäivät, formada por autistas e portadores da síndrome de Down. Não duvido nada que vençam.

A DILMA ISRAELENSE

Era uma vez um país cujo governo já estava desgastado depois de um certo tempo no poder. A economia não ia lá muito bem das pernas e havia um sentimento disseminado entre parte da população de que estava na hora de mudar. Vieram as eleições, e a campanha foi acirradíssima. O partido da situação usou uma estratégia arriscada: o medo. Conseguiu criar a impressão de que as coisas ficariam ainda piores sem ele. Resultado: ganhou raspando, e agora vai ter que administrar os problemas que ele mesmo criou. Esta história que nos é tão famiiar acaba de se repetir em Israel, onde o direitista Likud foi o partido que conquistou mais cadeiras no parlamento. Isto quer dizer que Benjamin Netanyahu continuará sendo o premiê, e que a paz no Oriente Médio ficou ainda mais distante. Justo no momento em que os Estados Unidos tentam costurar um acordo nuclear com o Irã, que "Bibi" já avisou que irá torpedear. Pois é, israelense não sabe votar. Pelo menos o sistema de lá é parlamentarista, e o governo pode ser trocado mais facilmente do que por aqui.

terça-feira, 17 de março de 2015

PELAS COSTAS

Ah, gente, que desânimo. Eu juro que estou cansado de repercutir aqui no blog os casos mais escabrosos de homofobia, mas fazer o quê? Quase toda semana tem algum, e não podemos ignorá-los. Desta vez é o caso do rapaz esfaqueado por um vizinho em seu próprio prédio. Nem o fato do atentado ter sido gravado pelas câmeras de segurança fez com que o agressor continuasse preso: ele foi solto depois de pagar fiança, enquanto que a vítima, que poderia ter ficado paraplégica, continua no hospital. Daqui a pouco vão dizer que a briga não tinha a nada a ver com homofobia, ou que o quase assassino tem problemas mentais. Enquanto isso, os gays continuam sendo vilipendiados por políticos corruptos, pastores gananciosos, estilistas imbecis ... A luta continua, mas hoje estou desanimado.

NÃO ESTOU DISPOSTA

Foi muito engraçado ver os amigos petistas vibrando com a estreia de "Babilônia" na minha timeline do Feice. Ué, mas não eram eles que gritavam que o povo não é bobo? Só que eu não lhes tiro a razão. O primeiro capítulo da nova novela de Gilberto Braga (sorry, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga, mas é assim que a trama vai ser lembrada) foi épico. Parece que alguém na Globo finalmente descobriu que existe a internet, porque não faltaram momentos "memezáveis". A começar pelo beijo histórico entre Fernanda Montenegro e Natália Thimberg logo no primeiro bloco, que já soterrou a cansativa polêmica do "será que algum dia elas vão se beijar?". Se bem que a frase que vai ficar, para além da cidra, é mesmo a que dá título a este post, proferida por Glória Pires em seu primeiro embate com Adriana Esteves. A verdade é que o duelo entre vilãs rivais é um dos poucos pontos originais do programa. Como todos os outros autores, Gilberto Braga também repete suas preferências: "Babilônia" tem grã-fina que pega proletário gostosão, manicure fofoqueira, marido banana, festa de arromba, Cristina Galvão como empregada e assim por diante. Mas longe de mim querer estragar a alegria da galera. "Babilônia" parece ser a primeira novela bacana de seu horário desde que acabou "Avenida Brasil", e isto não é pouco não.

segunda-feira, 16 de março de 2015

AMARGO & NÃO-BACANA

Tem coisa pior do que gay homofóbico? Nem o fato de serem italianos suaviza a cagada de Dolce & Gabbana. Explico: a influência da Igreja é avassaladora na Itália, e a maioria dos gays sofre muito por ser católica. O armário é generalizado, e os valores ditos "cristãos" costumam ser compartilhados pelas mais loucas das bichas. Ainda tem a cultura que põe a "mamma" em primeiríssimo lugar, e o resultado é o país mais atrasado da Europa Ocidental em direitos LGBT. Mas isto só explica as declarações desastradas dos estilistas, não as justifica. Agora eles estão comendo o caneloni que o diabo amassou, e é bem feito. Como digo na minha coluna de hoje no F5, deram um tiro na própria marca.

HOW IS IT TRANSITORY?

Faz muita falta na televisão brasileira um talk show sobre política. Talvez porque não tenhamos humoristas que realmente entendam do assunto. Nos Estados Unidos existem vários: Jon Stewart, Stephen Colbert e John Oliver são só alguns exemplos. Este último é um inglês que vem fazendo sucesso com seu programa semanal na HBO, "Last Week Tonight", onde comenta os fatos mais marcantes do noticiário mundial (ele arrasou com a FIFA durante a Copa, lembra?). Sempre com viés de sátira, mas com fundamentos perfeitamente racionais. Vejam como Oliver demole com poucas palavras a postura de Dilma Rousseff, que se gaba de investigar a corrupção na empresa da qual ela fez parte do board por muitos anos. Às vezes é preciso um olhar de fora para nos trazer um mínimo de lucidez.

domingo, 15 de março de 2015

EU VIM DE GRAÇA

Sinto informar que não havia distribuição de paletas mexicanas, nem garçom circulando com Aperol Spritz. A manifestação de hoje na Paulista reuniu gente de todos os tipos e bolsos - principalmente aqueles bolsos que estão cansados de serem saqueados. Sim, havia sujeitos gritando "Fora Dilma!", mas muito mais cartazes pedindo punição aos corruptos do que impeachment. O grito de guerra mais popular era "eu vim de graça", uma referência aos cachês e sanduíches recebidos por alguns participantes das manifestações de sexta-feira. No mais, um clima bastante pacífico, sem black blocs nem arruaceiros (a PM conseguiu deter o grupo "Carecas do Subúrbio", que carregava rojões, e foi aplaudida pela turba).

Eu sou um veterano da Paulista: fui às passeatas pelas Diretas Já, às contra o Collor, a dezenas de paradas gays e a três manifestações de junho de 2013. Confesso que nunca vi tanta gente como hoje, principalmente entre a Augusta e o MASP. Simplesmente não dá mais para ignorar essa massa humana, nem dizer que são apenas coxinhas e madames. Quem age assim lembra a Dilma da capa da "Veja" desta semana, vendada pela faixa presidencial. O jogo de forças no Brasil vem se modificando, e é bom ficar atento. Está mais que na hora de começarmos um diálogo a nível nacional. Aquele diálogo que a presidenta prometeu que faria quando comemorou a vitória no segundo turno, lembra?

sábado, 14 de março de 2015

HAPPY PI DAY

14 de março já é o Dia do Pi há muito tempo, por causa da maneira como se escreve a data em inglês (3.14). Mas o deste ano é mais Pi que o de outros, porque é 3.14.15. Só daqui a cem anos vai ter outro. Então vamos mentalizar coisas matematicamente maravilhosas ao longo do dia, especialmente quando o relógio der 9 horas, 26 minutos e 53 segundos (porque Pi é 3,141592653...). Vamos lá, gente, valendo!

sexta-feira, 13 de março de 2015

LES DEUX X

Esta semana eu descobri o Baden Baden, um trio parisiense que faz um som parecido com o do The xx. O segundo álbum dos rapazes se chama "Mille Éclairs" e já se encontra nas boas casas do ramo. Algumas das faixas são instrumentais, mas a maioria é cantada em francês. E todas têm uma textura suave e intricada ao mesmo tempo, perfeitas serem saboreadas com para fones de ouvido. Ou para impressionar as visitas.

A LINGUIÇA COM ALZHEIMER

"Para Sempre Alice" é um filme de terror, e dos mais apavorantes que eu já vi na vida. A degradação mental da personagem-título é progressiva e implacável. Vai ver que por isto mesmo a rodearam com todo o conforto material, uma família amorosa e um considerável legado intelectual; caso contrário, o filme seria francamente insuportável. A história é baseada em fatos reais, mas não sei a pprotagonista magnificamente vivida por Julianne Moore era mesmo uma linguista de renome. Parece uma invenção dos roteiristas para amplificar a ironia cruel de uma pessoa que está perdendo o controle sobre as próprias palavras. Aliás, nem é preciso sofrer do mal de Alzheimer para ser mal interpretado. Que o diga a Ana Paula Araújo, que viralizou no dia seguinte ao Oscar com este vídeo (repare que ela não fala errado, mas a gente entende o que quiser). "Para Sempre Alice" não tem um arco dramático convencional, porque não há uma resolução para o drama. Nem serve como alerta, porque ainda não há como prevenir o Alzheimer. Mas é um lembrete da nossa fragilidade inerente, e talvez um apelo para tirarmos o máximo de cada momento. Como fez o co-diretor Richard Glatzer, que morreu de esclerose lateral no começo desta semana. Enquanto podia, ele fez tudo o que podia.

quinta-feira, 12 de março de 2015

A COMISSÃO QUE SE DISPUTA

Pouca gente tinha ouvido falar da Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Deputados até 2013. Era um órgão tão inexpressivo que o PT abriu mão de comandá-lo – e assim também abriu caminho para que Marco Feliciano assumisse sua presidência. A gritaria foi imensa, mas o parlamentar pelo PSC aguentou o tranco e se tornou uma celebridade a nível nacional. Não admira que tenha sido reeleito com uma avalanche de votos. Por isto, a CDH agora é disputada por todos os políticos fundamentalistas: é o palanque perfeito para eles destilarem seu atraso mental e seduzirem a patuleia. Mas o PT acusou o golpe, e retomou a comissão no ano passado. Agora quase perdeu de novo, mas conseguiu costurar um acordo e excluir o celerado Sóstenes Cavalcante – que, como prêmio de consolação, ganhou a chefia da comissão que pretende “acelerar” a aprovação do famigerado Estatuto da Família. E como é que nós não estamos esfregando na cara desses bandidos a foto do Anderson, o filho de um casal gay espancado até a morte?

BIXA, PARE

Primeiro eu achei que era pegadinha. Que ia ter uma reviravolta no final. Afinal, o Rick Dourado fez parte do Põe na Roda, o grupo gay mais bacana do YouTube. Mas esse vídeo solo do rapaz é um bom exemplo de alguém que ouviu o galo cantar mas não sabe onde. É verdade que a bicharada é desunida e despolitizada, mas dizer que eles "só se preocupam com a homofobia" é injusto - muitos não se preocupam SEQUER com a homofobia. Também é equivocado achar que tínhamos que comprar lâmpadas para comunidades carentes depois dos ataques na Paulista. Os homossexuais não têm que provar para ninguém que são bonzinhos e portanto merecem respeito. Merecemos porque somos humanos, ponto. A intenção do Rick era boa, mas ele não conseguiu articular suas ideias num discurso minimamente coerente. Pelo menos ele continua bonitinho.

UAI NOT?

Entrei numa discussão civilizada no Facebook, com amigos de opiniões políticas diferentes das minhas. Lá pelas tantas um deles perguntou: mas então, qual é a solução para o Brasil? Um salvador da pátria? Eu respondi que não, porque o país apelou para salvadores duas vezes - Jânio e Collor - e nenhum deles completou o mandato (entenda-se como "salvador da pátria" alguém que venha das margens da política, prometendo moralizar "tudo o que está aí"). O que precisamos neste momento, disse para minha própria surpresa, é de um novo Itamar Franco. Quem tiver idade vai lembrar: Itamar era uma figura folclórica, cuja influência pouco escapava de Minas Gerais. Foi o vice de Collor e assumiu a presidência depois do impeachment. Ninguém punha fé naquele provinciano com fama de mulherengo e mal-humorado. Uai, e não é que o cara montou um ministério de notáveis, com nomes que iam de FHC a Luiza Erundina? Sem compromisso com nenhum partido, simplesmente deixou seus ministros trabalharem - e aprovou o Plano Real, que acabou com hiperinflação do dia para a noite. Como se fosse pouco, não se envolveu num único escândalo. Ou melhor, se envolveu, mas sem querer. Itamar foi o primeiro presidente a assistir ao desfile das escolas no Sambódromo carioca. E se deixou fotografar ao lado da modelo-e-atriz Lilian Ramos, que trajava apenas uma camiseta. A foto causou um forrobodó: era a primeira vez que se via o mais alto dignatário da república ao lado de uma xoxota. Uma bobagem inofensiva perto do petrolão. Ah, bons tempos aqueles.

quarta-feira, 11 de março de 2015

O PSOL NASCE PARA TODOS

Muitos políticos se dizem evangélicos por puro oportunismo. Sabem que basta dizer que "pertencem ao Senhor Jesus Cristo" para que uma malta ignara vote neles, sem que precisem seguir na vida privada absolutamente nada do que pregam os evangelhos. E, para agradar a este eleitorado, de vez em quando esses caras propõem leis e emendas que eles estão fartos de saber que não têm a menor chance de serem aprovadas. É só para poderem dizer na próxima campanha que tentaram instalar a "jesuscracia" no Brasil. Infelizmente, parece que este não é o caso do Cabo Daciolo. Este deputado federal pelo Rio de Janeiro ganhou notoriedade ao liderar uma greve (justíssima, aliás) dos bombeiros, e foi eleito ano passado mesmo sem aparecer no horário eleitoral de seu partido. Que é o PSOL. Pois é: uma das nossas agremiações mais à esquerda, e ardente defensora do estado laico, do aborto, do casamento igualitário e da liberação das drogas. Ainda não se sabe o que levou Daciolo a se filiar à legenda, ou se ele sequer sabia do que se tratava. Porque o sujeito é evangélico fervoroso. Esta semana ele disse em plenário que vai propor uma emenda à Constituição dizendo que "todo o poder emana de Deus". Em sua página no Facebook, o deputado ainda dá uma soberba demonstração de ignorância ao dizer que "independente de religião, todos os joelhos se dobram a Jesus Cristo",  omo se não existissem budistas ou ateus. Foi o que bastou para gerar um carnaval na internet e milhares de compartilhamentos, mas sempre em tom crítico. E aí o PSOL ficou com uma batata quente nas mãos. O que fazer com Daciolo? Se for expulso, ele não perde o mandato, só o leva para outro partido. E é impossível convencê-lo a trocar de legenda por conta própria (porque aí sim, ele teria que deixar a Câmara). Por enquanto, alguns figurões se reuniram com Daciolo para lhe dar noções básicas de cidadania. Segundo Jean Wyllys, parece que o cabo entendeu - tomara. Nessas horas que a gente vê como era necessária uma matéria escolar inventada pelo regime militar e hoje abolida do currículo, a educação moral e cívica.

terça-feira, 10 de março de 2015

MAIS UM

O caso do filho adotivo de um casal gay que foi espancado numa escola pública foi noticiado no final da semana passada, mas eu contive o meu impulso primário de comentá-lo aqui no blog. A diretoria da escola insistia que não havia registro de nenhuma briga no recinto, e depois foi dito que o garoto teria um aneurisma. Não quis sair apontando o dedo antes de ter certeza de que se tratava de mais um crime homofóbico. Mas hoje o menino morreu, e as peças começaram a se juntar na minha cabeça. Um dos pais insistiu desde o começo que o filho sofria bullying. Claro que o colégio iria negar: a maioria ignora o assédio que alguns alunos sofrem, e só tomam atitudes quando acontece uma tragédia. Agora aconteceu. Parece que os próprios agressores estão assustados; dois deles teriam ido à casa da vítima para pedir perdão. São moleques menores de idade, e claro que não podem ser totalmente responsabilizados. A culpa é da sociedade como um todo, mas não pode ser diluída igualmente entre cada um de nós. Figuras nefastas como Eduardo Cunha, que quer aprovar na Câmara o Estatuto da Família - aquele que define como núcleo familiar apenas os formados por homem e mulher - estão com as mãos manchadas de sangue. E que não venham com o papo de que "se os gays não tivessem adotado, nada disso teria acontecido". É o mesmo que culpar uma mulher de minissaia pelo seu estupro. A cultura da violência e da intolerância tem que acabar, e episódios horripilantes como este pelo menos servem para sensibilizar as pessoas. Que (mais) esta morte estúpida não tenha sido em vão.

LIGEIRA TORTURA


A fraude evidente nas eleições iranianas de 2009 propiciou o ponto mais baixo da política externa de Lula, quando ele comparou os manifestantes que foram às ruas reclamar de seus votos roubados a torcidas inconformadas de futebol. Mas o caso era grave mesmo: Moussavi, o candidato da oposição, liderava as pesquisas até a véspera do pleito, que no entanto foi "vencido" por Ahmadinejad já no primeiro turno. Esse período turbulento ganha agora um filme americano, com final feliz e um protagonista que mora no Ocidente. Escrito e dirigido pelo apresentador de talk show Jon Stewart, "118 Dias" já entrega no título brasileiro o período que seu personagem - um jornalista injustamente acusado de espião - passa na temida prisão de Evin. Mesmo sabendo que ele vai sair, é torturante acompanhar as sessões de tortura física e psicológica a que o cara é submetido. E ainda assim, quando acaba, fica aquele retrogosto de telefilme na boca. "118 Dias" é muito menor do que seu assunto.

segunda-feira, 9 de março de 2015

REBELDE PORQUE O MUNDO QUIS ASSIM

Beyoncé conseguiu lançar seu último disco de surpresa e todo de uma vez, incluindo os vídeos de cada uma das 13 músicas. Não houve vazamentos nem sequer notícias de que ela estaria preparando um novo trabalho - uma façanha e tanto se considerada a quantidade de pessoas envolvidas. Madonna não gozou da mesma sorte. Seu álbum "Rebel Heart" teve faixas inacabadas expostas na web no final do ano passado, e a resposta da diva foi liberá-las em três lotes distintos. O primeiro saiu antes do Natal, o segundo há cerca de um mês e o terceiro foi disponibilizado ontem no iTunes. Ainda faltam algumas faixas extras da versão super deluxe, que não sairá fisicamente no Brasil. E quem sabe mais uns demos, lados B, remixes, versões acústicas... Ou seja, "Rebel Heart" não tem hora para acabar. Também passa esta sensação durante a escuta: as 19 canções se sucedem ao longo de mais de uma hora, fazendo deste o mais longo CD de Madonna de todos os tempos. Também é, folgo em dizer, um dos melhores. Surpreendemente, o lado "rebel" está menos predominante que o lado "heart". Da metade em diante a pegada suaviza e o BPM diminui. Madonna cansou de dançar? É a idade, aham, que finalmente chegou? Mas há uma outra surpresa - as músicas são todas boas. E isto apesar do batalhão de produtores diferentes, que poderia ter gerado um balaio de gatos. Mas "Rebel Heart" é mais coeso que seu antecessor, "MDNA", e provavelmente vai deixar hits mais duradouros no catálogo de Madge. Ela pode não ser mais a imperatriz do universo - hoje em dia está mais para rainha-mãe - mas é admirável que ainda grave pop de alta qualidade. Nada de revolucionário (a mensagem de Madonna sempre foi mais ousada que sua música), mas nunca menos que bom.

"VOCÊ TEM O DIREITO DE SE IRRITAR"

Ah, Dilma, cêjura? Bom, agora eu acho que você já percebeu que tem muita gente irritada com o seu governo, mas muita mesmo. Seu discurso de ontem vai entrar para a história do Brasil como um dos mais mal-sucedidos de todos os tempos: a intenção era acalmar a população e criar um clima de união nacional, mas só serviu para exarcebar os ânimos. Como disse o Igor Gielow na "Folha" de hoje, perde apenas para a vez em que o Collor pediu que o povo usasse verde e amarelo para demonstrar apoio a ele, e o povo vestiu luto.

Eu perdi tanto a fala da presidenta como o panelaço. Ainda não ligaram o combo na minha nova casa, e eu estava enfiado num cinema na hora do barulho. Agora leio relatos conflitantes nas redes sociais: alguns dizem que foi ensurdecedor, outros garantem que só rolou nos bairros de classe média para cima. E se for isto mesmo? Alguém consegue governar o país sem o apoio da classe média? O pessoal que paga imposto e não depende do estado para comer está bravo de ver seu dinheiro suado ser gasto em propinas, e cansado de ver incompetência no poder. O que rolou ontem foi um aperitivo do que virá no domingo que vem.

Lula ameaçou colocar o "exército" do MST nas ruas para combater os manifestantes do 15 de março. Que exército? Aquelas mulheres corajosíssimas, que enfrentaram com galhardia uma milícia de mudas de eucalipto fortemente armadas? E vão arriscar virem mesmo pro pau, e gerar mártires? O Brasil não é a Venezuela, nem vamos deixar que seja. Por isto eu também vou sair nas passeatas, não para pedir impeachment, mas para mostrar que sou contra Dilma e Lula e Renan e Cunha e mais toda uma cambada que está aí. Panela neles.

domingo, 8 de março de 2015

TODA MULHER GOSTA DE ROSAS

Dê uma googlada em "Dia da Mulher" e veja o que aparece nas imagens: rosas, rosas e mais rosas. Sim, toda mulher gosta de rosas, mas será possível que ainda reduzimos metade da humanidade a uma flor? Talvez para justificar que elas ganhem menos, ou sejam tratadas como propriedade, ou ainda tenham poucos direitos em boa parte do mundo. O mais incrível é como "feminista" se tornou um palavrão: outro dia vi uma amiga minha, que trabalha e se sustenta, dizendo no Facebook que "não era feminista". Como não?? Isso é pior que gay que é contra o casamento igualitário. Aiás, volto a repetir: gays e mulheres tinham mais é que se unir, porque a homofobia é um derivado da opressão masculina sobre o sexo feminino. É um dano colateral, pois as maiores vítimas ainda são mesmo as mulheres (e por isto que eu também acho que mulher homofóbica é uma contradição). Sei que meu blog tem poucas leitoras, mas fica aqui o meu recado: tamo junto. A luta de vocês é a luta das bibas que é a luta dos bons.

sábado, 7 de março de 2015

HOMENS E CELULARES PRIMEIRO


Sabia que a maioria das vítimas dos naufrágios são mulheres e crianças? Na hora em que a coisa pega, os homens correm para salvar a si mesmos e o resto que se vire. O mito de que o macho protege a sua prole é um dos pilares do patriarcado que rege quase todas as sociedades humanas. Mas, se isto fosse sempre verdade, não precisariam ter inventado o exame de DNA. O premiado filme sueco "Força Maior" parte exatamente desta premissa. Durante uma temporada numa estação de esqui, uma família que almoça no terraço do hotel vê uma avalanche se aproximando. O pânico se instaura, e o pai só se lembra de pegar seu iPhone antes de fugir da mesa. No final ninguém se machuca, mas pinta uma gigantesca torta de climão entre marido e mulher. A DR é tão intensa que contamina até os casais que nem presenciaram a cena. Mas este começo promissor é estragado pelo ritmo arrastado imposto pelo diretor, apesar de algumas cenas realmente boas. E as duas sequências finais desmentem toda a tese que vinha sendo construída, enfraquecendo o que poderia ser um filme poderoso. Vai ver que por isto que "Força Maior" não foi indicado ao Oscar.

sexta-feira, 6 de março de 2015

FRANK UNDERWOLF

Sou antigo o suficiente para me lembrar da versão brasileira de "Sesame Street", a saudosa "Vila Sésamo", produzida nos anos 70 ainda em preto-e-branco e estrelada por ninguém menos que Sonia Braga. Mas nos Estados Unidos o programa nunca saiu do ar, e de vez em quando lança esquetes que são mais para agradar aos pais do que às crianças. É o caso desta paródia de "House of Cards', que jamais será plenamente apreciada pelo público que ainda precisa aprender subtração. Hoje eu termino a terceira temporada da série do Netflix, e, apesar de achar que ela perdeu um pouco de seu veneno, continuo fissurado.

ODEIO ME MUDAR

Odeio me mudar. Odeio me mudar. Odeio me mudar. E no entanto estou me mudando pela 12a. vez na vida. Meu apartamento está um caos desde ontem, com caixas para todo lado e o cachorro comendo objetos preciosos que caem no chão. Claro que há um lado bom: a gente joga fora uma tonelada de tralha. Porcarias que ninguém mais se lembra de onde surgiram nem por quê foram guardadas emergem do fundo das gavetas, só para serem lançadas ao lixo sem piedade. Também reaparecem documentos importantes, fotos antigas e um colar de pérolas de um milhão de dólares (OK, eu exagero). Amanhã vem o caminhão, e passaremos o final de semana tentando organizar a casa nova. De onde espero não sair tão cedo: pela primeira vez em meus 54 anos, estou me mudando para um lugar que é meu.

quinta-feira, 5 de março de 2015

GORILAS, GUERRILHA E GANÂNCIA


Todo mundo assina o Netflix para assistir "Breaking Bad", mas o serviço oferece muito mais do que séries badaladas. Como documentários que dificilmente chegariam ao Brasil de outra maneira: é o caso de "Virunga", indicado ao Oscar deste ano. Virunga é um parque nacional no nordeste no Congo, o último santuário dos cada vez mais raros gorilas da montanha. O lugar é deslumbrante, com um vulcão ativo e uma fauna de cair o queixo. Mas deu azar em dose dupla. A região é devastada por movimentos separatistas que no fundo só querem faturar um troco, e cobiçada por companhias inescurpulosas por causa do petróleo sob o lago Eduardo. Nesse fogo cruzado, sobra para os bichos e para a população. O documentário foca em alguns personagens do bem: um guarda florestal, um cuidador do orfanato dos gorilas, uma jornalista francesa. E termina com "disclaimers" legais da petroleira Soco, que, depois de anos trabalhando na surdina, foi desmascarada por causa do filme e agora se ve em palpos de aranha. A verdade é que precisamos prestar mais atenção no que se passa na África.

JE SUIS (ENCORE) CHARLIE

Ontem estive num debate sobre o atentado ao Charlie Hebdo na sede da Folha de São Paulo. Muito do que foi discutido pelo cartunista Caco Galhardo, o colunista Demetrio Magnoli e a jornalista Cleusa Turra já havia frequentado as páginas deste blog. Por exemplo: dizer "je suis Charlie" não implica em apoio irrestrito às charges subversivas do pasquim francês, mas sim à plena liberdade de expressão. Também se lamentou a ausência de manifestações oficiais no Brasil de repúdio aos terroristas. Mas Demetrio Magnoli trouxe uma perspectiva nova e interessante: o atentado "complementar", aquele que matou algumas pessoas num supermercado kosher em Paris, mostrou que não estamos assistindo a um "choque de civilizações", onde uma minoria supostamente reprimida (os muçulmanos) estaria se vingando da maioria opressora (o Ocidente). Ali ficou claro que a barbaridade é fruto de um pequeno grupo de extremistas, não do Islã como um todo. Os mortos no Charlie Hebdo eram alvos com nome e sobrenome: estavam marcados para morrer pelo que faziam, caricaturas contra o fundamentalismo islâmico. Já os mortos do supermercado, randômicos, foram mortos apenas por ser o que eram: judeus. Houve alguns momentos tensos na plateia, onde um senhor de idade volta e meia falava em voz alta "e os judeus?" - como se eles tivessem sido esquecidos na discussão. Outro sujeito se irritou muito quando o debate terminou sem que sua pergunta tivesse sido feita, por causa das limitações de tempo. Foi só um susto: ninguém soltou bombas. Mas talvez assim este assunto entrasse na ordem do dia no nosso país.

quarta-feira, 4 de março de 2015

ERAM DUAS CAVEIRAS QUE SE AMAVAM

O Ad Council é uma ONG americana voltada para campanhas de utilidade pública. A mais recente se chama "Love Has No Labels", e seu carro-chefe - o filme acima, com três minutos de duração - já acumula mais de um milhão e meio de visualizações desde qe foi postado ontem no YouTube. Acho que vai ganhar leão no próximo festival de Cannes de propaganda. Merecidíssimo, aliás: não é qualquer comercialzinho merreca que arranca lágrimas de um cínico como eu.

REINAÇÕES DE RENANZINHO

“Cría cuervos, que te sacan los ojos”. Este antigo provérbio espanhol cabe direitinho na situação atual entre o governo e o presidente do Senado. Tanto Lula quanto Dilma fizeram vista grossa às falcatruas de Renan Calheiros, pois o viam como um aliado no comando de uma das casas do Congresso. Sempre orientaram os parlamentares petistas a proteger o potentado alagoano. Eu cheguei a escrever ao então senador Eduardo Suplicy cobrando uma posição, e ele me respondeu saindo pela tangente. Portanto, bem feito. Renan só é aliado de si mesmo, e bastou que a água lhe espirrasse na bunda para ele mostrar suas garras. Recusou o ajuste fiscal, que é dolorosíssimo porém necessário, e agora ameaça rejeitar o próximo juiz indicado pela presidenta para o STF – quem quer que seja ele. Verdade que Dilma está há sete longos meses procurando (e não encontrando) um nome que seja simpaticíssimo ao PT, mas essa reinação de Renanzinho pode custar mais alguns impasses ao Supremo. O Executivo tolerou e até alimentou esse monstro: agora que não se faça de coitadinho. Ah, e antes que eu me esqueça: é igualmente horrível ver senadores do PSDB aplaudindo a atitude de Renan, quando eles sabem muito bem que as medidas propostas por Joaquim Levy são exatamente as mesmas que Aécio tomaria se tivesse sido eleito. Oposição se faz a quem está no poder, não ao país inteiro.

terça-feira, 3 de março de 2015

SEU NOME ESTÁ NA LISTA?

O Brasil pode estar horrível, mas vou te contar uma coisa: não está nada chato. Todo dia é um novo susto, um novo barata-voa, um novo frio na espinha. Dizem que as espinhas de Eduardo Cunha e Renan Calheiros estão congelando: os presidentes da Câmara e do Senado teriam sido avisados por um passarinho que seus nomes estariam na lista. Sim, A LISTA: mais aterradora que a dos aprovados no vestibular, mais selecionda que nas mãos da hostess na porta da boate. A lista dos políticos implicados no petrolão. Se os dois citados estiverem mesmo, quero só ver os petistas reclamarem do Sergio Moro ou do Rodrigo Janot, pois será uma chance de ouro de defenestrar esses dois desafetos do governo. Mas será que os nomes serão logo liberados? Será que algum dia serão punidos? Só não tenho uma dúvida: são todos culpados. Todos. Muito.

BEM LONGE DOS CINEMAS


Batsa um filme ser argentino para já me dar vontade de vê-lo. A produção dos nossos hermanos nos últimos quinze anos atingiu um nível tão alto que é raro topar com um título que seja menos do que regular. Mas hoje eu topei. "Bem Perto de Buenos Aires" concorreu no festival de Berlim do ano passado e agradou a boa parte da crítica - aquela que curte filme lento e sem história. Eu detesto. Tudo o que há é uma vaga ameaça que apavora os moradores de um condomínio. Nunca sabemos o que é. Para piorar, as cenas são desconexas e filmadas com câmera parada. Não há música, nem humor. O elenco é feio... Já deu para assustar? Então fuja, porque aqui a ameaça é real.

segunda-feira, 2 de março de 2015

LAÇOS DE AFETO

Os sites da Globo ainda são movidos a lenha. Além da navegação ser confusa, eles também não disponibilizam códigos para o "embedamento" dos vídeos. Por isto, quem quiser ver a entrevista que Gilberto Scofield e Rodrigo Barbosa deram hoje no programa da Fátima Bernardes vai ter que clicar aqui. Como algumas pessoas que estavam no estúdio, eu também quase fui às lágrimas. É importante repetir o que o atual casal-símbolo da adoção por gays disse no final da conversa: mais importantes que os laços biológicos são os laços de afeto, e as Varas de Família estão valorizando-os cada vez mais. Um argumento poderoso que pode ser útil na batalha contra o atraso, hoje personificado por Eduardo Cunha. O presidente da Câmara disse ontem num evento evangélico que as maiorias precisam impor sua vontade, um discurso pseudo-democrático que só cola entre os indigentes mentais. Pessoas sensatas sabem que os direitos das minorias não podem ser submetidos à aprovação de todos, justamente porque são de minorias. Hoje Cunha sofreu seu primeiro revés: precisou recuar na festança das passagens aéreas, depois de criticado na imprensa e brindado com uma petição do Avaaz. Outros reveses virão, mas para isto precisamos ter a coragem do Gilberto e do Rodrigo e mostrar para esta corja que a sociedade já mudou.

O ESTADO EVANGÉLICO

Os vídeos dos Gladiadores do Altar estão pipocando no YouTube desde o final do ano passado, mas neste fim de semana ganharam maior repercussão porque foram compartilhados pelo deputado Jean Wyllys. É uma iniciativa da Força Jovem Universal, ligada à IURD, e à primeira vista parece uma tentativa de emular a Juventude Hitlerista. O ridículo já começa pelo nome: gladiadores não eram soldados, eram lutadores que se matavam nas arenas para delírio das massas. Também acho que o passo marcial podia ter sido melhor ensaiado, porque os rapazes estão todos fora de sincro. Já tem gente nas redes sociais com medo de que isto seja o começo do equivalente brasileiro ao Estado Islâmico. Vamos ver: se forem só "pregar o evangelho" (i.e. conseguir novos clientes para a Universal, que atravessa uma crise brava), menos mal. O problema vai ser se começarem a destruir terreiros de candomblé e a agir como polícia religiosa em suas comunidades. Se isto acontecer, na boa: vou pegar em armas.

domingo, 1 de março de 2015

50 ANOS PASSAM LOGO

Um dos meus maiores orgulhos aos quatro anos de idade era saber desenhar direitinho o logo do IV Centenário do Rio de Janeiro. Criado por Aloísio Magalhães, o mais influente designer brasileiro de todos os tempos, aquele símbolo "clean" era moderníssimo para a época, e se mantém forte até hoje.

Mas é de uma rigidez incrível perto da marca polivalente escolhida para os 450 anos da cidade. Dá até para escolher novos olhos, penteados e acessórios para aquela carinha no site oficial da comemoração. Claro que eu me sinto antigo por lembrar tão bem daquele grande aniversário de meio século atrás. Mas quero estar firme e forte no quinhentão.