sábado, 28 de fevereiro de 2015

A INCOMPETENTA

Marlene Mattos foi a todo-poderosa diretora dos programas da Xuxa durante quase 20 anos. Gritava muito e tinha fama de super exigente. Tocava o terror por onde quer que passasse. Mas um belo dia Xuxa se encheu dela, e Marlene nunca mais se acertou. Foi dirigir outros programas e fracassou em todos. Ficou claro que quem fazia sucesso mesmo era a Xuxa. Marlene só sabia gritar.

Dilma Rousseff é a Marlene Mattos da política brasileira. A aura de gerentona e "mãe do PAC" vendida por Lula se evaporou. A presidenta conduziu tão mal a economia que agora não tem mais moral para gritar com ninguém. O resultado é que anda sendo desautorizada em público por seu próprio mentor, e está cada vez mais isolada. Mas também é vítima da estratégia equivocada escolhida por seu partido para "defender" a Petrobras. "A culpa é do FHC" voltou-se contra ela e virou motivo de chacota nas redes sociais. Que são um ambiente onde os petistas não aprenderam como agir: ainda não entenderam que o "nós contra eles" só funciona quando se dispõe de uma ampla maioria. Quando está pau a pau como agora - e isto a nível nacional, porque da classe média para cima o PT vem caindo feito meteoro - a tática simplesmente não funciona.

Estão sendo convocadas grandes manifestações para o dia 15 de março. Só irei se não forem todas pró-impeachment. Já expliquei porque sou contra que Dilma seja impedida, mas não custa lembrar: além da inevitável ruptura democrática, o substituto (Temer? Cunha?) pode ser ainda pior. Fora que o PT se tornará um mártir, voltando com mais força em 2018. Nananina: quem quebrou os cristais, que pague por eles. Dilma tem que consertar a merda que fez, não sair de fininho e deixar a bomba estourar na mão de outro. Mas como? Uma solução seria um governo de união nacional, reunindo no ministério experts de todos os partidos. Mas para isto Dilma teria que admitir erros, e isto ela nunca fez. Prefere que a conta de luz exploda a dizer que não deveria ter barateado a tarifa artificialmente. Vai continuar sendo Marlene Mattos. E por onde é mesmo que anda a Marlene?

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

O DIA DO ORGULHO BURRO

O Põe na Roda tirou uns 18 meses de férias, e agora que eles voltaram eu ando meio lerdo para me atualizar com as novidades do grupo. Só hoje que eu fui ver o vídeo lançado terça passada, mas é claro que esta pequena obra-prima ainda não perdeu a atualidade. Ainda mais porque ontem rolou na orla carioca uma minúscula Parada do Orgulho Hétero, reunindo vinte gatos pingados. Os caras dizem que estão só de zoação e coisa e tal, mas, ao passar pela altura da Farme, na praia de Ipanema - para quem não sabe, o maior point da bicharada - eles perguntaram aos frequentadores "de que lado eles estavam". Bixa, pare: nenhum gay é contra os héteros. Mas o que tem hétero contra os gays... E esses palhaços, infelizmente, se encaixam nessa categoria. Ainda bem que iniciativas como as do Põe na Roda servem para ridicularizar essa burrice, que pode virar lei graças ao Eduardo Cunha (o Frank Underwood brasileiro). Talvez eu nem devesse me preocupar: o pacote de mordomias implantado pelo novo presidente da Câmara agride a população como um todo, e eu não duvido nada que o nome do sacripanta seja lembrado nas passeatas que vão sacudir o Brasil em março.

KAPLANPLOFT

A comédia é o mais difícil dos gêneros. Tanto que tem muito diretor por aí jurando estar fazendo comédia, mas não está. Acabam estragando roteiros que até teriam potencial cômico. Foi o que aconteceu com "Sr. Kaplan", escolhido pelo Uruguai para representá-lo no último Oscar. Dá para perceber que a história do velho judeu que resolve caçar um suposto nazista só para dar algum sentido a seu final de vida poderia render algumas risadas. Mas a direção é frouxa e sem timing, e o elenco foi muito mal escalado. O ator que faz o papel-título não tem carisma nem empatia nem um pingo sequer de graça. Em nenhum o momento o espectador torce por ele: só para que este equívoco acabe logo, o que demora a acontecer. O Uruguai bem que se esforça, mas o nível dos poucos filmes que realiza por ano ainda está bem longe dos que se fazem na Argentina.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

TÔ FICANDO ATOLADINHA

Calma, gente. A capa da "Economist" com a passista afundando no pântano é só para a América Latina. No resto do mundo, a revista destaca uma reportagem sobre os novos telefones celulares. Ou seja, nosso vexame não é a nível planetário. Ufa. Obviamente isto não livra a cara do FHC, em cujo governo a inflação começou a sair do zero. Pois é: se ela tivesse se mantido nesta marca, obtida no primeiro dia do Plano Real, não estaríamos hoje nos aproximando dos 8% ao ano, já acima do teto estabelecido pelo Banco Central. Mas isso a mídia golpista finge que não vê, não é mesmo?

MICHELLE PFEIFFER, THAT WHITE GOLD

Mark Ronson é dos poucos produtores musicais que são conhecidos, se não pela sua mãe, pelo menos por um público maior do que só os executivos de gravadoras. Foi ele quem criou o new soul de Amy Winehouse, e, nos últimos anos, emprestou seu toque de Midas para nomes tão variados como Duran Duran e Paul McCartney. Mas é quando faz seus próprios discos que Ronson expõe melhor o próprio talento. Ontem ele ganhou o Brit Award de melhor single britânico por "Uptown Funk", esse petardo comandado por Bruno Mars onde só mesmo o produtor não é americano. Uma canção sem refrão definido, que no entanto grudou no meu ouvido há mais de um mês. É o carro-chefe de "Uptown Special", o novo CD, digamos, solo de Mark Ronson. Na verdade é um tributo à black music dos dois lados do Atlântico, com participações que vão do deus Stevie Wonder ao jovem rapper Mystikal, um clone de James Brown. Um disco que com certeza será lembrado nas indicações ao próximo Grammy, e que só tem pela frente a concorrência de outro trabalho autoral de produtor: o que Giorgio Moroder está terminando de gravar.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

LEVANTA, SACODE A POEIRA

Madonna se esborrachou agora há pouco durante sua apresentação na entrega dos Brit Awards, os Grammys britânicos. A queda foi épica, mas pelo menos vimos que ela estava mesmo cantando sem ajuda de playback. E vamos parar de acusar o coitado do bailarino que puxou a capa? É óbvio que a culpa foi do FHC.

ATUALIZAÇÃO: Eu me estendo mais sobre este tombo e a entrevista que Madonna deu à "Rolling Stone" na minha coluna desta quinta (26) no F5.

ODOR DE SANTIDADE


"Um Santo Vizinho" estava bem cotado para o Oscar. Mas, como não recebeu nenhuma indicação, estreou no Brasil sem fazer alarde. O que é uma pena: esta comédia agridoce traz o primeiro papel do injustiçado Bill Murray em muitos anos. Além disso, duas atrizes fazem personagens opostos ao que esperamos delas. A geralmente dramática Naomi Watts está engraçada como uma prostituta russa, e a espalhafatosa Melissa McCarthy aparece aqui num registro bem mais sério do que de costume. Mas a história é meio manjada. Um sujeito adulto e desesperançado recupera a alegria de viver depois de cuidar de uma criança... Um plot que já era velho na época de "Central do Brasil", e que tem lá sua cafonice - afinal, criança não é Prozac. Mesmo assim, um "Santo Vizinho" tem muitos bons momentos, apesar de descambar para o sentimentalismo na reta final. Mas a mensagem do filme não pode ser mais atual: qualquer arranjo familiar é válido, contanto que exista amor.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

#EMDEFESA DETODASASFAMILIAS

Se Eduardo Cunha fosse mesmo temente a Deus, seu nome não estaria envolvido em tantas maracutaias. O novo presidente da Câmara de Deputados já começou sua carreira na política enrolado, em escândalos na antiga Telerj e no governo Collor. Por isto que eu acredito que o fervor religioso do sujeito seja apenas da boca para fora (como, aliás, é o caso de quase todos os membros da bancada evangélica). No fundo, no fundo, Cunha deve saber que os homossexuais não são assim tão maus - e isto torna suas posições anti-LGBT ainda mais abomináveis, porque visam apenas o ganho político. Ele já avisou que vai por em votação o famigerado "Estatuto da Família", que define como núcleo familiar apenas aqueles formados a partir da união entre um homem e uma mulher - o que é um acinte perante as milhares de crianças abandonadas por casais héteros e adotadas por gays, solteiros ou não. Hoje o "Estado de São Paulo" publicou um artigo do jornalista Gilberto Scofield onde ele conta como adotou com seu marido um garoto que ninguém mais queria. Se dependesse da hipocrisia de Cunha, PH ainda estaria no orfanato. Felizmente, boa parte da população brasileira que se diz contra os direitos igualitários muda de ideia quando o destino de crianças está em jogo. Há tantos menores rejeitados no Brasil que acho que somos o único país onde o avanço da causa LGBT começou por onde ainda nem terminou em outros lugares mais evoluídos, a adoção. Mas nem por isto não iremos reagir. Hoje rolou um "tuitaço" e "facebookaço" sob a hashtag EmDefesaDeTodasAsFamílias, onde os internautas publicaram fotos de seus arranjos familiares, quaisquer que fossem eles. Uma política séria precisa, de fato, enxergar o óbvio, mas não duvido que nosso legislativo cada vez mais medieval aprove essa monstruosidade. E aí a Dilma vai ter que vetar. Mas será que ela tem força política para isto? Ou vai nos rifar, como todas as outras vezes?

O DEUS DA CARNIFICINA


Já vi todos os filmes do OScar que entraram em cartaz. Meio que por falta de opção, acabei assistindo a um longa que não me interessava muito: "Corações de Ferro". Antigamente (até o ano passado...) eu iria ver automaticamente qualquer coisa com o Brad Pitt. Mas encarar mais um filme sobre a 2a. Guerra, a essa altura da guerra? O fato é que "Fury" - este é o título original, obviamente intraduzível para o português - não tem muita razão de ser. É uma sucessão de cenas violentíssimas que se passam no último mês do conflito, numa Alemanha arrasada que no entanto ainda tema em não se render. Há momentos francamente desagradáveis, que insisitem naquela mensagem tão inédita de que a guerra é um horror. Brad, com aquele corte de cabelo que foi moda em 2014, ainda ostenta um corpaço totalmente inapropriado para a época - talvez para disfarçar que, aos 50 anos, ele está um pouco velho para fazer um soldado. Mas o pior é que ele está bastante inexpressivo no papel, comprovando mais uma vez que suas boas performances dependem mesmo do diretor e do montador. Lindo como um deus, ele até hoje não encontrou um poersonagem icônico que o eternize na história do cinema. Não foi dessa vez. "Corações em Fúria" até tenta inovar ao mostrar o massacre desenfreado de um período pouco explorado pelo cinema, mas não escapa do clichê. Corra para o abrigo antiaéreo, porque se trata de uma bomba.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

ESQUISITO E DIFERENTE

Quando Graham Moore subiu ao palco para aceitar seu Oscar pelo roteiro de "O Jogo da Imitação", eu corri pro Twitter: "esse aí tá com cara de que vai agradecer ao namorado". Não agradeceu, mas seu discurso não deixou muitas dúvidas. Eu e a torcida do Planeta Terra Futebol Clube tivemos certezíssima de que aquele rapaz imberbe de voz delicada era biba, e por que não deveríamos? O filme que ele escreveu fala de um dos homossexuais mais importantes do século 20, o matemático Alan Turing, que morreu justamente por causa da homofobia. Graham ainda contou que tentou o suicídio quando adolescente, e terminou seu agradecimento - o mais bacana da noite - com uma frase que já nasceu slogan, "continue esquisito, continue diferente". Mas, já nos bastidores, ele desmentiu a impressão que causou na humanidade. Disse que não é nem nunca foi gay, "apenas" deprimido. E eu me senti um poço de preconceitos, sempre pronto a colar uma etiqueta na testa de alguém só porque este alguém mia. Também preciso me acostumar às infinitas variações da esquisitice e da diferença nesse mundo onde cabe de um tudo.

THE HILLS ARE ALIVE

Hoje vai ser daqueles dias: o YouTube ficará removendo todos os vídeos de Lady Gaga no Oscar postados por espectadores, até que surja uma versão oficial. Portanto, se você ainda não viu, corra. Daqui a pouco esse que está aí em cima pode ter sido retirado, se é que já não foi. Mas vale muito a pena, porque a performance da Germanotta foi o ponto alto de uma cerimônia que priorizou a música ao invés do humor (quem quiser saber o que eu achei do resto da cerimônia deve ler minha coluna de hoje no F5). Houve mais decepções do que surpresas, como a derrota de "Relatos Selvagens" para "Ida" e o desempenho marromeno do Neil Patrick Harris. Mas foi uma noite mais animada do que de costume, com plateia e internet ensandecidas. Stay weird, stay different!

domingo, 22 de fevereiro de 2015

PALPITES DE OURO

Olá, amiguinhos, e bem-vindos a mais um post anual com previsões para o Oscar. Que rola HOJE À NOITE: então, tirem as peles do frigorífico da Madame Rosita e se empetequem para uma looonga noite diante da TV, porque hoje é o SuperBowl das bichas. Na TNT com tecla SAP, é claro: ninguém merece aquela tradução simultânea capenga. E a transmissão da Globo, além de começar no meio da cerimônia - porque, afinal de contas, é dia de formação de paredão no "BBB", olha só que excitante - é feita para leigos que não só nunca vão ao cinema como ainda têm que dormir cedo.

A disputa desse ano promete ser a mais acirrada em muito tempo. Para começo de conversa, não há um favorito para os troféus de mMELHOR FILME e MELHOR DIRETOR - há dois. A crítica se bandeou desde cedo para o lado de "Boyhood", mas os prêmios precursores deram a "Birdman" uma certa vantagem. Até mesmo o Spirit Awards, que só premia o cinema independente, deu a vitória a "Birdman", uma produção muito mais complicada tecnicamente do que o semi-caseiro "Boyhood". Por outro lado, o BAFTA - o Oscar britânico - preferiu o filme de Richard Linklater. E no entanto, Alejandro G. Iñárritu levou o DGA, do sindicato dos diretores, cujo resultado quase sempre coincide com o da Academia. Meu palpite pessoal é que "Boyhood" leva melhor filme e "Birdman", diretor. Mas qualquer uma das quatro combinações possíveis entre esses filmes para as duas categorias é plausível para logo mais.

Deixa eu me deter um pouco neles. Tanto "Boyhood" quanto "Birdman" são filmes importantes, porque ambos esticam para mais adiante as fronteiras do cinema. Talvez por isto mesmo tenham tantos fãs quando detratores. "Boyhood" encantou muita agente com seu estilo "mosca na parede", acumulando cenas do dia a dia de um garoto sem ter uma trama definida. Outros tanto se incomodaram justamente com essa falta de história: de fato, o roteiro não segue a clássica estrutra em três atos (apresentação do problema + agravamento do problema + resolução do problema), porque nem há exatamente um problema. Há vida.

"Birdman" é quase o oposto: enquanto "Boyhood" foi filmado ao longo de doze anos, a ponto do tempo ser quase o protagonista, o filme de Iñárritu foi editado para parecer ter sido feito num take só, sem cortes aparentes. Tudo ao mesmo tempo agora! Os filmes também são complementares em seus temas. Enquanto que "Boyhood" fala da gradativa transição da infância à idade adulta, "Birdman" é sobre a crise de um homem de meia-idade, que não tem mais tempo a perder e precisa recuperar a si mesmo. Pessoalmente, gostei mais de "Birdman". Mas acho que a proposta de "Boyhood" foi ainda mais ousada, e por isto, se eu fosse membro da Academia (serei, serei), daria a ele o Oscar de melhor filme.

Outra corrida que não está definida é a de MELHOR ATOR. Podem ganhar tanto Eddie Redmayne como Michael Keaton. O primeiro talvez tenha tido a tarefa mais difícil, ao incorporar a fisionomia retorcida de Stephen Hawking. Mas o segundo é um veterano adorado pela indústria num papel cheio de autorreferências. É provável que Keaton não tenha outra chance de vencer, e Redmayne ainda é bem jovem. Mas o inglês levou o prêmio do SAG, que nos últimos 0 anos se alinhou 100% com o Oscar. Minha aposta é que ele saia agraciado esta noite, mas vou ficar contente se seu rival o derrotar.

As outras categorias de atuação são todas barbadas. A MELHOR ATRIZ será Julianne Moore, o MELHOR ATOR COADJUVANTE será J. K. Simmons e a MELHOR ATRIZ COADJUVANTE será Patricia Arquette. Fim da discussão.

Agora, embolado mesmo está o páreo de MELHOR FILME EM LÍNGUA ESTRANGEIRA. Nada menos que quatro dos cinco concorrentes têm chances de ganhar. O polonês "Ida" estreou no meio do ano nos EUA e seduziu os críticos. É o único dessa categoria que tem uma indicação em outra (fotografia). Levou vários prêmios precursores e o BAFTA. Mas perdeu o rebolado quando o russo "Leviathan" faturou o Globo de Ouro. E ainda tem que enfrentar o mauritano "Timbuktu", que papou nada menos que sete Césars (o Oscar francês) anteontem e está fazendo uma campanha pesada pelo troféu. Correndo por fora, meu queridinho "Relatos Selvagens", que tem a vantagem de ser o único sem mensagem política explícita e ainda por cima fazer a plateia rir. Como os votantes nessa categoria precisam ver todos os cinco indicados no cinema, com mais gente em volta, o fator gargalhada pode garantir o terceiro Oscar à Argentina.

E o resto?

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL - "O Grande Hotel Budapeste"

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO - "O Jogo da Imitação"

MELHOR FOTOGRAFIA - "Birdman" (vai ser a segunda vitória consecutiva do fotógrafo mexicano Emanuel Lubizki, que ganhou ano passado por "Gravidade")

MELHOR EDIÇÃO - "Whiplash"

MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO - "O Grande Hotel Budapeste"

MELHOR FIGURINO - "O Grande Hotel Budapeste"

MELHOR MAQUIAGEM E CABELO - "O Grande Hotel Budapeste"

MELHORES EFEITOS VISUAIS - "Planeta dos Mcacaos: O Confronto"

MELHOR EDIÇÃO DE SOM - "Sniper Americano"

MELHOR MIXAGEM DE SOM - "Sniper Americano"

MELHOR TRILHA ORIGINAL - "A Teoria de Tudo"

MELHOR CANÇÃO - "Glory", de "Selma"

MELHOR DESENHO ANIMADO EM LONGA-METRAGEM - "Como Treinar seu Dragão 2" ou "Operação Big Hero" (o melhor mesmo era "Uma Aventura Lego", que não foi sequer indicado - talvez por ter sido visto como um longo comercial)

MELHOR DESENHO ANIMADO EM CURTA-METRAGEM - "Feast"

MELHOR DOCUMENTÁRIO EM EM LONGA-METRAGEM - "Citizenfour"

MELHOR DOCUMENTÁRIO EM EM CURTA-METRAGEM - "Crisis Hotline: Veterans Press 1"

MELHOR CURTA-METRAGEM DE FICÇÃO - "Boogaloo and Graham"

Reparou que todos os oito indicados a melhor filme devem ganhar alguma coisa? Isto é raríssimo. E o mais premiado de todos será... "O Grande Hotel Budapeste", de fato o meu filme predileto entre os finalistas. Iupiii.

E atenção, meus súditos: vou estar tuitando durante a cerimônia, e amanhã no F5 tem coluna minha comentando a cerimônia. Bom bolão para todos nós.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

A FALSA MAGRA

Sinto-me pessoalmente ofendido pelas declarações de Dilma sobre a corrupção na Petrobras. Ela está me chamando de burro quando diz que é tudo culpa de FHC, que não combateu o problema iniciado em seu governo. Na verdade, a roubalheira na estatal começou junto com ela, nos anos 1950. Os desvios dos anos 1990 foram acusados por Paulo Francis, não exatamente um jornalista de esquerda - e ele pagou com a vida por sua ousadia. FHC devia ter feito alguma coisa? É claro. Mas Dilma não pode pagar de gostosa neste momento, pois desde 2003 ela tem poder - e muito - sobre a Petrobras. Foi ministra de Minas e Energia, presidiu o conselho da empresa e nomeou inúmeros diretores, inclusive vários dos que agora estão presos. A presidenta emagreceu, mas mentiras são flácidas. Essa foi mais uma tentativa do PT de jogar a culpa em outrem (que até existe, não estou negando), e dar a impressão que está movendo mundos e fundos para eliminar a corrupção. Não está, haja vista a peregrinação de advogados da Odebrecht ao Instituto Lula. Neguinho deve estar ameaçando dar com a língua nos dentes, pois não é a ideologia o que motiva as empreiteiras.

CAINDO DE MADURO

Perdão pelo trocadilho óbvio e nada original, mas parece que é isto o que está acontecendo na Venezuela. O presidente Nicolás Maduro está tão desesperado que agora manda prender, com toda a truculência possível, um prefeito da oposição que não tinha grandes poderes reais. Enquanto isto, a inflação dispara, a violência aumenta e falta de tudo nos supermercados. Já faltava há cinco anos, quando estive em Caracas pela última vez. Naquela época Chávez ainda nem estava oficialmente doente, mas o clima de fim de festa já era palpável nas ruas. Aconteceu por lá algo parecido com o que se passou por aqui: Maduro foi eleito por uma margem estreita de votos, e provavelmente teria perdido se a eleição fosse um mês mais tarde. Sem real apoio popular e sem nenhum talento administrativo, o presidente ainda enfrenta a queda no valor do barril de petróleo e uma população cada vez mais descontente. No fim do ano ocorrerão eleições legislativas, mas o chavismo é pródigo em inventar manobras que garantam sua vitória no tapetão. Só que a política divisiva inventada pelo falecido caudilho, o popular "nós contra eles", só dá certo quando se dispõe de ampla maioria. Quando está pau a pau, como agora, o risco de explosão é enorme. Que o Brasil não siga pelo mesmo caminho.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

BURCA DOS FUNDOS

Os canais de humor na internet se espalham feito gripe. O de maior audiência no mundo ainda é o nosso Porta dos Fundos, mas agora já existem similares até na Índia e - pasmem - na Arábia Saudita. O Sa7i (sei lá como se pronuncia) está baseado na cidade litorânea de Jeddah, mais liberal que a capital Ryadh e uma espécie de versão saudita do Rio de Janeiro. Seus vídeos quase diários às vezes ultrapassam o meio milhão de visualizações, o que é muito para um país de apenas 28 milhões de habitantes. Um de seus grandes sucessos é este aí em cima, do qual eu não entendo uma única palavra. Só sei que mostra uma família (que inclui mulheres com o rosto descoberto, olha só que putaria) discutindo o que fazer com o bônus que está sendo dado pelo novo rei. Sua majestade Salman resolveu distribuir entre seus súditos nada menos que 32 bilhões de dólares - mais do que todo o PIB da Nigéria, a maior economia da África. Não admira que por lá quase todo mundo ame o governo. Desse jeito nego ri à toa.

ESTUPIDEZ AMERICANA


Muitos críticos estão maravilhados com a suposta ambiguidade de "Sniper Americano". O filme seria a favor ou contra a intervenção americana no Iraque? Seu protagonista, o mais bem-sucedido franco-atirador da história dos EUA - com pelo menos 160 mortes no currículo - é um herói ou um vilão? Pois eu não percebi nada disso. Em nenhum momento se discute a real necessidade de se derrubar Saddam Hussein, que o governo Bush pintou como o mandante dos atentados do 11 de setembro. Saddam era terrível e mereceu o fim que teve, mas não possuía as tão faladas armas de destruição de massa - e o Iraque talvez esteja ior hoje do que sob seu jugo, com o ISIS dominando boa parte do norte do país. Tudo isso passa batido pelo roteiro, que é dos mais simplórios que eu já vi. O personagem foi educado por um pai rigoroso, que o apresenta aos rifles ainda criança; é levado a acreditar numa baboseira de que o mundo se divide entre "ovelhas", "lobos" e "pastores", e que é seu dever pertencer à última categoria; fica horrorizado quando vê as Torres Gêmeas caírem. Tudo bem mastigadinho, que é para o americano médio entender direitinho. Não é por outra razão que "Sniper Americano" já acumulou mais de 300 milhões de dólares por lá, mais do que todos os demais indicados ao Oscar de melhor filme juntos. Além do mais, não existe exatamente dilema moral nem remorso. Todas vítimas que aparecem na tela sendo derrubadas pelo atirador são de fato culpadas, o que evidentemente não aconteceu na vida real. O único drama na vida do sujeito é seu medo de morrer. Depois de quatro turnos no Iraque, ele está tão apavorado que qualquer barulhinho o apavora. De volta em casa, ele vai ensinar tiro a veteranos de guerra tão traumatizados como ele - não exatamente a ocupação ideal para gente perturbada. De produto de um meio que glorifica as armas de fogo, ele acaba se tornando vítima. Mas essa é uma constatação minha, não a dos autores do filme, que o tratam como um ídolo. "Sniper Americano" é mais um título reacionário na extensa fimografia de Clint Eastwood, e não merece nenhuma das indicações ao Oscar que recebeu. Principalmente a de Bradley Cooper, cujo único mérito foi ter ficado bombado para o papel. Ele está apagado em cena, e tirou o lugar de atores que mereciam muito mais, como Ralph Fiennes ou Jake Gylenhaal. Enfim: eu meio que sabia que não ia gostar de "Sniper Americano", e só o assisti para completar minha tabelinha do Oscar. Tomara que esse manifesto pró-estupidez saia de mãos abanando.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

O CORTE DO CANTAGALO

Não sou judeu nem muçulmano, mas fui circuncidado assim que nasci. Era moda no Rio de Janeiro daquela época, importada dos Estados Unidos. Quase todos os meninos da minha geração entraram na faca. Hoje essa cirurgia já não é mais tão frequente no Brasil, e tem até inimigos. Muita gente alega que, além de não trazer nenhum benefício, a circuncisão diminui a sensibilidade e ainda deixa cicatrizes na alma (vai ver que é por isto que eu sou tão amargurado). Mas também há estudos modernos que apontam que ela reduz as chances do cara se contaminar com o HIV (mas isto não quer dizer que ele pode dispensar a camisinha, hein?). Seja como for, sempre ouvi dizer que essa pequena operação - que é feita SEM ANESTESIA nos bebês, aaaaaaiiii - facilita a higiene e blábláblá. Mas o vídeo acima explica que ela só se tornou comum nos EUA no final do século 19 pela mais tola das razões. Divulgada pelo dr. Kellogg, o mesmo dos flocos de milho, ela impediria a masturbação. Não impediu, é claro, mas esse papo colou. O mesmo doutor também defendia que se cortasse o clitóris das mulheres, como em alguns países árabes e africanos. Ainda bem que dessa elas escaparam.

CABRA OU CARNEIRO?

Está lançada a confusão. Nem os próprios chineses sabem se o ano novo que começa hoje é o do carneiro ou o da cabra. O ideograma para estes dois bichos é o mesmo, 羊 (pronuncia-se "yang"). Também há uma certa ambiguidade nos prospectos para este ano. Alguns dizem que não é um período propício para se ter bebês, tanto que milhares de grávidas na Ásia adiantaram seus partos. Outros garantem que é um ciclo de prosperidade e mudanças profundas. Oficialmente, 2015 - ou melhor, o período que começa hoje e ai até 7 de fevereiro do ano que vem - é o ano da cabra de madeira verde. Como eu não faço a puta ideia do que isto significa, vou ficar com os otimistas e acreditar que vai ser do caralho. Simples assim. Gung Hei Fat Cho para todo mundo.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

BEIJA-BOSTA

As escolas de samba cariocas nunca foram conventos de freiras. O dinheiro do jogo do bicho sempre rolou solto em quase todas as grandes (a Mangueira é uma exceção), assim como a politicagem. Havia até uma certa justiça poética: os banqueiros da contravenção doando parte de seus lucros, para que os pobres das comunidades se fantasiassem com luxo e riqueza... Claro que ali não tem inocentes. Mas o patrocínio da Guiné Equatorial à Beija-Flor atingiu um nível inédito de baixeza. Pois não se trata de uma reles quadrilha, mas de todo um regime: o ditador Teodoro Obiang desvia para si mesmo boa parte da renda do petróleo do país, enquanto quase todo seu povo vive na mais completa miséria. Sem falar nas violações aos direitos humanos, na censura à imprensa, na persguição aos gays... Achei que o escândalo seria tão grande que a escola de Nilópolis pagaria caro por ter feito este pacto com o capeta. Ainda mais depois de seu desfile não ter sido lá essas coisas: Portela, Salgueiro, Tijuca e Mocidade estavam nitidamente melhores. Mas eu sou um ingênuo que ainda acredita na bondade humana. Hoje a Beija-Flor sagrou-se campeã, e ainda levou três notas 10 no quesito enredo. É a desmoralização definitiva da LIESA, a Liga das Escolas de Samba, que ainda contou com o silêncio cúmplice da Globo. Uma vergonha. Mas também coerente com esses tempos horríveis que estamos vivendo.

BIBI SITTER

Israel terá eleições em março, e também a chance de varrer o Likud do poder. Esse partido de direita, aliado a outros menores ainda mais direitistas, é um dos principais entraves à paz no Oriente Médio hoje em dia, com sua política de construir assentamentos em territórios palestinos e sua inlfexibilidade na mesa de negociação. Não gosto do primeiro-ministro Benyamin Netanyahu, mas achei engraçado esse comercial que ele está veiculando na TV israelense. A peça faz piada com o apelido do cara, Bibi, e trata os eleitores como crianças precisando da vigilância de um adulto responsável. Mas é menos ofensiva à inteligência do que a comida desaparecendo da mesa do trabalhador, como tivemos na nossa campanha eleitoral do ano passado. Cheguei a esta propaganda através do blog do Diogo Bercito, da Folha, que por sua vez a encontrou no Conexão Israel. Para quem se interessar, lá tem mais comerciais legendados - alguns bem irônicos.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

ACUSANDO O ACUSADOR

O PT tem uma tática curiosa de se defender: ao invés de negar as acusações, prefere denegrir o acusador. É o que estão tentando fazer com o juiz Sérgio Moro, e o que já fazem há tempos com Joaquim Barbosa. Voltaram à carga este carnaval, depois que o ex-juiz do Supremo defendeu a demissão do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Em qualquer país civilizado, a conduta de Cardozo - que se reuniu com adovgados das empresas evolvidas na Lava Jato - seria caso de polícia, mas por aqui um episódio grave como esse rende discussões inócuas. Os petistas dizem que Barbosa "oculta" intenções políticas, como se isto fosse pecado. Se o algoz dos mensaleiros têm mesmo tais intenções, então fez a coisa certa ao pedir demissão. Fora que os partidários do governo não entendem que Barbosa só é um vilão para eles mesmos. Para boa parte do Brasil, é o magistrado íntegro que conseguiu colocar corruptos na cadeia, ainda que impetuoso e cheio de vaidades. Quem sabe um dia os petistas irão perceber que essa estratégia de difamação, que deu tão certo contra Marina Silva e outros menos cotados, não é infalível nem eterna.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

DILEMA DE CARNAVAL

Uma hora dessas ia acontecer. Um cara razoavelmente conhecido foi fotografado num camarote de cervejaria dando um beijo em outro cara. Os dois foram flagrados por um paparazzo e a foto foi parar na homepage de um dos maiores sites do Brasil. A legenda não faz julgamento moral nem nenhum tipo de gracinha, mas é óbvio que escolheram justamente esta foto para atrair mais cliques. E comentários ignorantes, é claro - se bem que o placar está até equilibrado, com muita gente aplaudindo a beleza e a disposição dos rapazes. Por um lado, acho até saudável que isto aconteça. O beijo gay faz parte da vida, e eu sou a favor de que as crianças sejam expostas a ele o mais cedo possível. Afinal, é só a visibilidade que pode trazer normalidade. Por outro lado, sinto que aquela pessoa teve sua intimidade invadida, apesar de estar num lugar público e ser perfeitamente ciente de que havia fotógrafos rondando. Mas como este cara não é "oficialmente" assumido, acho que houve, sim, um avançar de sinal vermelho. Como resolver este dilema? Aceito sugestões. Mas já vou avisando que não aceitarei comentários que revelem a identidade do sujeito, nem que deem qualquer dica sobre ele. Quem ainda não sabe de quem se trata, que dê uma googlada. Quero discutir a polêmica em si, e não a sexualidade alheia.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

O SAMBA DO DITADOR DOIDO

A imensa maioria dos brasileiros nunca ouviu falar na Guiné Equatorial. O nome deste pequeno país africano tampouco ajuda: é muito fácil confundi-lo com seus xarás, a Guiné propriamente dita e a antiga colônia portuguesa da Guiné-Bissau. A geografia da Guiné Equatorial também é bizarra, pois o país é constituído por territórios descontínuos. O maior dele é no continente, espremido entre Camarões e o Gabão. Mas a capital, Malabo, fica numa ilha relativamente distante. Ainda há muitas outras ilhas e um enclave no Gabão, uma cidade com o turístico nome de Cocobeach. Apesar da relativa obscuridade, a Guiné Equatorial tem hoje o maior PIB per capita de toda a África. Isto não quer dizer que seja um país rico: quase toda a fortuna gerada pela extração de petróleo (é o terceiro maior produtor africano, arás da Nigéria e de Angola) fica nas mãos da família do ditador Teodoro Obiang e seus comparsas. Nos últimos anos, a G. E. tem tentado se aproximar do Brasil. Lula esteve lá assinando tratados, e o país logrou se filiar à comunidade das nações de língua oficial portuguesa, apesar de apenas uma versão arcaica da língua de Camões ser falada numa única de suas ilhas. Além disso, o filho de Obiang tem apartamento em São Paulo, e o próprio ditador é frequentador assíduo do carnaval carioca. Gosta tanto da festa que resolveu financiar uma parte dela. A Guiné Equatorial deu nada menos que dez milhões de dólares para a Beija-Flor de Nilópolis cantar suas glórias no Sambódromo. Há muito tempo que as escolas de samba vendem seus enredos para quem pagar mais: a Nestlé e a P&G já patrocinaram desfiles, e a PDVSA, a petroleira estatal da Venezuela, garantiu o campeonato da Vila Isabel em 2006. Mas nunca ninguém foi tão baixo quanto a Beija-Flor ao aceitar essa granalhaça da Guiné Equatorial. Porque trata-se de uma ditadura sangrenta, que persegue e executa os opositores ao regime, e que mantém o povo na miséria enquanto a elite se refestela. Na verdade, esse patrocínio milionário pode estar saindo pela culatra. Ao invés de criar uma boa imagem para o país na cabeça dos brasileiros, a iniciativa desastrada do cruel Obiang está é gerando muitas reportagens na nossa mídia, atraindo a atenção para as mazelas de sua infeliz e oprimida nação.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

OS BRASILEIROS SÃO BONS

Felipe Hirsch teve a coragem de estrear seu novo espetáculo em São Paulo em plena sexta-feira de carnaval. "Puzzle (D)" é a quarta colagem de textos diversos encenada pelo diretor (que também fez a minissérie "A Menina Sem Qualidades", o canto do cisne da antiga MTV). Desta vez o tema é o ufanismo, o patriotismo irracional, que cai como uma luva para esse momento de desencanto que estamos vivendo. Um dos pontos altos é o monólogo "O Brasil É Bom" de André Sant'Anna, defendido com brio por Magali Biff. Mas não é só ela quem brilha: Guilherme Webber e Georgette Fadel também tem grandes momentos, numa prova cabal de que nós brasileiros somos mesmos bons. Os argentinos também, representados pelo excelente ator Javier Drolas. "Puzzle (D)" fica no SESC Vila Mariana até 8 de março e é ótimo para quem quer mesmo pular o carnaval.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

UMA IDEIA EM GESTAÇÃO

Acho fascinante uma mulher que é contra a descriminalização do aborto. É algo como um gay que é contra os direitos igualitários: nem deveriam existir, mas tem aos montes por aí. Ambos são frutos da lavagem cerebral que a sociedade patriarcal nos impõe, aham, desde o útero. Especialmente revoltantes são essas grávidas que estão postando fotos de si mesmas nas redes sociais como se fossem grandes exemplos para a humanidade, numa campanha contra o aborto das mais apelativas que eu já vi. Ainda não sei se elas surgiram antes ou depois do corajoso post de uma moça chamada Gabriela Moura, onde ela exibe o barrigão ao mesmo tempo em que faz uma defesa apaixonada do direito de escolher. Eu também defendo, porque acho que a mulher tem que ser 100% dona de seu corpo o tempo todo, e jamais ser obrigada a levar a cabo uma gravidez indesejada - mesmo que o marido, o padre, o pastor e todo o resto da sociedade queiram. Esta bem-vinda polêmica parece ter sido um efeito colateral imprevisto da declaração de Eduardo Cunha - o novo inimigo no. 1 dos brasileiros disse que só poria leis "abortistas" em votação na Câmara "por cima do meu cadáver". Bem feito: o debate está rolando solto, e ele nem morreu ainda.

JESUS, ME CHICOTEIA


Tentei a sessão das 19 horas, mas já estava esgotada. Só consegui ingressos para a das 21:30, e dos últimos. Um público diferente do habitual lotou a sala. O filme começou acompanhado por gritinhos infantis: parecia que íamos ver o novo desenho da Disney. Quando Christian Grey tirou a camisa pela primeira vez, mais gritinhos - e olha que o peito dele tem perebas! No final, a plateia 80% feminina parecia feliz. Algumas moças que não tinham lido o livro não sabiam que "Cinquenta Tons de Cinza" termina de maneira abrupta e inconclusiva, porque é só a primeira parte de uma trilogia. Ano que vem tem mais. Trata-se de um fenômeno cultural considerável, que no entanto vem sendo tratado com escárnio por boa parte da mídia. É verdade que, apesar das vendas e das algemas, o filme é literalmente pinto pequeno perto de outros clássicos do "soft porn", como "9 Semana e Meia de Amor". Não há sequer nu frontal da protagonista, e só vemos seus pelos púbicos numa tomada lateral muito rápida. Ele, então, só paga bunda numa única cena, e olhe lá. A produção chega ao ridículo de fazê-lo conduzir uma sessão sadomasô sem tirar os jeans. Claro que uma adaptação fiel do best-seller de E. L. James teria que ser hardcore, mas as fãs não parecem sentir falta. É uma geração que não teve "Emmanuelle" nem "O Império dos Sentidos", e se contenta com imagens em nada mais fortes do que as exibidas por uma minissérie de TV às onze horas da noite. Mas o buraco dos "Cinquenta Tons" é beeeem mais embaixo. Os personagens são completamente inverossímeis. Uma moça daquele estrato social, que chega naquela idade mais virgem que Nossa Senhora? Um cara de trinta e poucos anos que não só é bilionário como também pilota seu próprio helicóptero e ainda toca Debussy ao piano depois de transar? Bitch, puh-lease. Queria ver Anastasia gostar de um sádico que também fosse pobre. Mas seu amado tem todas as qualidades que uma fêmea procura num macho. É lindo, rico, bem-vestido, limpinho, educado, atencioso, intenso, viril. Só gosta de lhe dar umas chicotadas de vez em quando. Essa conto de fodas libera uma energia primordial mais forte que as quatro forças estudadas pela física: o tesão feminino. Tão poderosa que assusta o patriarcado (e não é por outra razão que representantes das religiões abrâmicas estão condenando o filme, dos imãs da Malásia ao Edir Macedo). Livro e filme também tratam da maior fantasia da mulher, e por isto merecem respeito. Afinal, ninguém tira sarro dos delírios masculinos, que incluem heróis mascarados e sabres de raio laser. Mas qual seria a fantasia da mulherada? Ser acorrentada à parede e apanhar até o tiso criar bico? Não, tolinho. Isto é o de menos. Reparou que, até chegar ao "quarto dos prazeres", Anastasia Steele é paparicada, idolatrada e endeusada sem parar por um dos homens mais cobiçados do planeta? Dakota Johnson está perfeita no papel: ela consegue exalar inocência sem nunca cair na palhaçada (já seu parceiro Jamie Dornan carece de borogodó). Só li o primeiro livro da série (sim, tive a pachorra), mas sei como acaba. Adivinha? É o sonho dourado de qualquer mulher. Ela muda o homem. E, ao mudá-lo, faz com que ele se adeque aos seus desejos. Quem é mesmo que está sendo dominado aqui?

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

A FLOR DO MEU SEGREDO

Você tem medo de soltar um barro na casa do namorado? Ou na festa da firma? Seus problemas acabaram: chegou Poo-Pourri, o spray que cria uma fina camada sobre a água da privada, prendendo os maus odores lá dentro e espalhando aroma de flores pelo ambiente. O produto é um sucesso na Amazon, mas para quê gastar dinheiro com ele? Já existem receitas caseiras!

ATO DE RESISTÊNCIA

Tremo só de pensar no retrocesso para a causa LGBT que pode vir com Eduardo Cunha na presidência da Câmara. Pelo menos o Jean Wyllys continua por lá - sim, o bom e velho Jean, que tantas bichas finas adoram espezinhar. É do gabinete dele que está saindo uma campanha pelo uso da camisinha neste carnaval, composta por cinco histórias em quadrinhos e três vídeos. O primeiro está aí em cima, os outros serão lançados até amanhã. Não sei vocês, mas eu apoio um deputado que produz vídeos com homens se beijando na boca.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

A IDADE PERFEITA

A contratação de Helen Mirren como garota-propaganda da L'Oréal causou tanta espécie que rendeu até uma coluna minha no F5. Alguns meses depois, aqui está o resultado: um comercial para o creme Age Perfect onde a estrela aparece surpreendentemente enrugada. Mas que ninguém tenha dúvidas. Anunciantes do tamanho da L'Oréal testam sua publicidade à exaustão, e só estão usando Helen Mirren porque ela foi aprovada pelo público-alvo da marca. Eu também aprovo. Quem me dera chegar aos 69 anos com o charme e veneno dessa atriz incrível.

IMPEÇAMOS O IMPEACHMENT

Digamos que Dilma Rousseff seja "impeachada". Digamos que nem Michel Temer nem Eduardo Cunha assumam no lugar dela. Digamos que haja uma nova eleição, e que Aécio Neves vença, agora de maneira consagradora. Nem por isto ele vai ter vida fácil: os problemas continuam todos ali, e ele não irá resolvê-los da noite para o dia. Além disso, o PT vai dizer que sofreu um golpe das elites em conluio com o PIG - aliás, já está dizendo. Posando como mártir da democracia, o partido poderá recuperar a aura de santo que jánnao tem mais. Pronto: está asfaltado o caminho para Lula retornar como o salvador da pátria, e com ele o aparelhamento do estado, a intervenção indevida na economia, a ameaça de censura à imprensa, a demagogia generalizada. Estas são algumas das razões pelas quais eu sou contra o impeachment da Dilma. Continuo achando a presidenta uma tremenda duma incompetente, e quiça desonesta. Mas ela (ainda) não foi pega com a boca na botija, como Collor o foi. Eu fui cara-pintada em 92, e saí às ruas com as passeatas que pediam a defenestração do primeiro presidente eleito democraticamente em mais de vinte anos. Mas a verdade é que o Brsil deu uma puta duma sorte. Coloor não tinha um partido de verdade por trás, e seus reais apoiadores caberiam todos numa Kombi. Foi sucedido por seu vice, o folclórico Itamar Franco, que no entanto se cercou de notáveis no ministério e fez um excelente governo. A garotada de hoje se esquece, mas foi com ele que o Brasil liquidou a hiperinflação - graças ao então ministro da Fazenda, um tal de Fernando Henrique Cardoso. Hoje esta transição não seria nada tranquila. Por isto, o menos ruim é deixar que Dilma conserte a barafunda que criou. Duvido que ela consiga, mas só assim acho que o Brasil estará pronto para virar a página.

(leia também estes dois ótimos textos, da Cora Rónai e do Alex Antunes)

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

SOMOS TODOS FLUIDOS

Lembra do Homem-Fluido do desenho animado "Os Impossíveis"? Não, né, porque você é jovem e eu sou velho e blábláblá. Não importa: o que interessa aqui é que ele é fluido, assim como a sexualidade humana. E este pequeno detalhe ainda é incompreensível para muita gente, inclusive entre os LGBT. Hoje se fala muito que os gays são "born this way", para estressar que a homossexualidade faz parte da natureza e também para mostrar que não existe esse papo de "opção" sexual. Ninguém escolhe ser gay ou hétero. O que existe é orientação sexual, e esta - tá-rá! - pode mudar com o passar do tempo. Não para todo mundo, talvez não para você nem para nenhum dos seus amigos, mas isto não quer dizer que ela não varie para ninguém. Temos que lidar com isto, até para entender melhor duas notícias que estão causando comoção nesta terça-feira. Numa delas, a atleta Laís Souza assumiu que "está" lésbica e que tem uma namorada há alguns anos. Além dos comentários boçais que costumam abrilhantar a internet, algumas bibas e sapatas ficaram nervosas pela moça ter usado o verbo "estar". Isto porque Laís namorou homens no passado, e quem sabe não venha a namorar de novo algum dia? Mas no momento ela não se acha sequer bissexual. Só não trancou a porta a chave. Lidem com isto! Especialmente entre a mulherada, é até comum trocar de preferência. Já vi acontecer várias vezes. A outra notícia foi que Regina Duarte declarou que seu próximo papel na TV, uma lésbica que irá se envolver com um homem, não está "condenada" à homossexualidade. A atriz foi infeliz na escolha das palavras, mas conheço muitos personagens assim na vida real. Meu marido foi casado anos a fio, tem filha e tem neta. Eu mesmo namorei meninas, e gostava bastante. Ah, quer saber? Ainda acho uma certa graça em mulher. Por isto, talvez o termo realmente infeliz seja "born this way": para alguns, ele implica num destino traçado e imutável, quando a realidade é bem mais complexa. E fluida.

O ESPINAFRE CINEMATOGRÁFICO


Há uma gritaria generalizada no showbiz americano pelo fato de "Selma" ter recebido apenas duas indicações ao Oscar. Apontado pela crítica como um dos melhores do ano passado, o longa - que conta um episódio decisivo na trajetória de Martin Luther King - foi lembrado pela Academia apenas nas categorias filme e canção original (e só tem chances de levar esta última). Se a diretora Ava DuVernay tivesse emplacado entre os finalistas, seria a primeira mulher negra a fazê-lo. Também causou celeuma o esquecimento de David Oyelowo no papel principal - para piorar, não há um único negro entre os 20 indicados nas categorias de atuação. Mas será que "Selma" é mesmo um puta filme, ou seu assunto é mais importante do que sua realização? Fico com a segunda hipótese. Assistindo-o de longe do conflito racial que ainda sobrevive nos EUA, dá para perceber que se trata de um trabalho bem cuidado e bem intencionado. Mas a trama demora muito a engrenar, com uma certa enrolação até a catarse final. Apesar de David Oyelowo estar com 38 anos, dois a mais do que King na época retratada, achei-o muito jovem para encarnar o grande líder - ou talvez ele não tenha mesmo a "gravitas" necessária. Como em "O Mordomo da Casa Branca", também produzido por Oprah Winfrey, há um desfile de famosos em papéis secundários. Quem está especialmente bem é Tom Wilkinson, como o presidente Lyndon Johnson (que, dizem seus asseclas, não foi tão hesitante na vida real como parece no filme)."Selma" tem interesse histórico e um desenlace emocionante. Mas é um espinafre cinematográfico: faz bem para a saúde, embora não seja lá muito gostoso.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

CULTO DOMINICAL

Ninguém assiste aos Grammys do começo ao fim gostando de tudo, nem com muita boa vontade. Porque a proposta do maior prêmio da música dos Estados Unidos é essa mesma: dar uma amostra de tudo que se ouve por lá, nem que seja o comportado colombiano Juanes. Da cerimônia de ontem, eu dispensaria todos os artistas country e alguns de rap. Mas gostei bem mais do que de costume, talvez porque este ano pareceu que deram mais importância à música do que às encenacções. Como eu digo na minha coluna no F5, os únicos que extrapolaram foram Madonna (imagina se não) e Pharrell. Os demais apresentaram números sem trezentos bailarinos no palco nem cenários virtuais em 3D pegando fogo com dois ovos em cima. Claro que não precisavam ter encerrado a noite com duas notas sombrias. Beyoncé, de camisolão branco, parecia estar no culto de uma igreja neopentecostal. E o final com "Gloria", tema de "Selma", soou como desagravo pelas poucas indicações ao Oscar que o filme recebeu, assim como uma forçada de barra para que ele leve pelo menos o troféu de melhor canção. Mas de resto a sobriedade até que me agradou. A única piranhosa foi mesmo Madonna, e ainda bem que ela continua fiel a si mesma. Mas endiabradas como Miley Cyrus ou Nicki Minaj foram apenas mestres de cerimônia, e periguetes confirmadas como Katy Perry ou Rihanna estavam cobertas e discretas (esta última, aliás, foi a mais elegante da noite). Sam Smith foi o campeão dessa edição, mas ainda acho que ele faz o gênero bicha-carente demais para o meu gosto. Pelo menos o Clean Bandit ganhou o prêmio de melhor canção dance/eletrônica por "Rather Be", a minha favorita do ano passado. Pena que não tocaram ao vivo, mas duvido que teriam sido melhores do que Annie Lennox e Hozier. A diva ex-Eurythmics mostrou que sabe dominar uma plateia com sua voz e carisma. E o rapaz é o responsável por "Take Me to Church", que eu só descobri agora mas que não sai mais dos meus ouvidos. Já viu o vídeo oficial? É homoerótico e profundamente perturbador. Não quero ver de novo.

PARLAMENTARISMO NELES

Perdemos a chance de virar a página no ano passado. Os brasileiros mantiveram Dilma Rousseff na presidência, e os paulistas deram a Geraldo Alckmin mais quatro anos no governo do estado. O resultado está aí: os dois já se enrolaram tanto nesse comecinho de segundo mandato que nem chega a ser surpreendente a pesquisa divulgada ontem. Ambos despencaram em seus índices de aprovação, assim como o prefeito Fernando Haddad. O caso deste nem acho tão grave: os paulistanos são sempre contra o prefeito de plantão, quem quer que seja ele, e geralmente escolhem alguém da oposição nas eleições seguintes. Mas Dilma e Alckmin estão em palpos de aranha, e nós também. Vamos ter que esperar quatro longos anos para nos livrarmos deles. Algo que não aconteceria se adotássemos o sistema parlamentarista, muito mais sensível às flutuações políticas. Nenhum país latino-americano implanta este regime, que vai contra nossa tradição imperial copiada dos Estados Unidos. Mas ele tem suas vantagens. Basta uma crise mais séria e vupt, o parlamento se dissolve e são convocadas novas eleições. Às vezes o resultado é uma instabilidade da porra, como a que vigorou na Itália durante muito tempo. Mas pelo menos existe a certeza de que o governante conta com o apoio da maioria, o que não é mais o caso no Brasil nem em São Paulo. O fato é que ambos os partidos, PT e PSDB, já haviam completado seus ciclos no poder. Vencido o prazo de validade, estava mais que na hora deles serem trocados. Só que não: ambos foram reeleitos, mais por falta de opção do que por méritos próprios. A melhor alternativa a Alckmin era o PMDB, olha só que merda. E Dilma não teve adversário à altura: Marina se mostrou fraca e sem recursos para montar uma campanha contundente, e Aécio será perseguido pelo resto da vida pela imagem de playboy inconsequente. Sou totalmente contra esse papo de impeachment, tanto para um como para o outro (parem de me mandar convites pelo Facebook!), embora eu adoraria que nenhum dos dois chegasse ao fim do mandato. Mas como? E para entrar quem no lugar? É aí que mora o perigo.

AMIGOS PARA SEMPRE?

Estou rindo alto com essa "versão 2015" de "Friends". Tem até lumbersexual! Ah, e assista até o final: a cena do piloto "rebooted" é ainda melhor que a abertura.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

O CÓDIGO DA DISCRIÇÃO


"O Jogo da Imitação" é o candidato que Harvey Weisntein emplacou entre os indicados a melhor filme no Oscar deste ano. E tem muitas das características que fizeram esse produtor vencer mais vezes do que qualquer outro: é de época, tem bons atores, é meio caretão na forma e fala de maneira delicada um tema com potencial explosivo. Mas esta também é a falha do filme. A homossexualidade de Alan Turing é tratada com total discrição, e a tragédia deste grande matemático inglês, ainda mais. O público é poupado da cena em que ele se mata comendo uma maça envenenada com cianureto, depois de ter se submetido a mais de um ano de castração química por imposição do governo. Isto não quer dizer que "O Jogo da Imitação" seja um filme homofóbico: muito pelo contrário, e os letreiros finais lembram que Turing foi só um dos 49 mil britânicos perseguidos por serem gays, de 1883 até 1967. Mas tudo neste longa parece ter sido calculado para não ofender ninguém e aumentar suas chances de prêmio. Não vai ter muita chance contra duas obras realmente inovadoras, "Boyhood" e "Birdman". Nem por isto "O Jogo da Imitação" deixa de ser um bom filme. Benedict Cumberbatch está sublime como o cientista antissocial, treinado a vida inteira para se conter - e sua explosão no final mostra que o Sherlock da TV também merecia o Oscar. Mas saí com a sensação de que Turing, um dos pais da computação e um dos gênios mais inustiçados de todos os tempos, merecia mais do que este semi-thriller de espionagem. O cara fez muito mais do que apenas decodificar as mensagens secretas dos alemães na 2a. Guerra Mundial e ajudar os aliados a vencer. mais rápido Ele é nada menos que um dos responsáveis por você estar lendo o que eu estou escrevendo agora, e por quase tudo o que acontece graças à internet. A rainha o perdoou há alguns anos, mas tem toda a razão o movimento que prega que não há o que perdoar, porque homossexualidade não é crime nem nunca deveria ter sido. Quem tem que pedir desculpas é o governo britânico, de joelhos, e trasladar os restos mortais de Turing para a abadia de Westminster - o lugar onde estão enterrados quase todos os grandes heróis e artistas da Grã-Bretanha.

BEL-AMI DA ONÇA

Tem muita biba que ainda acha que o papa Francisco é o máximo. Confesso que eu também, por um momento, me deixei seduzir pela simpatia e por algumas palavras do Bergoglio. Mas ele não é nenhum paladino da justiça, pessoár. É o líder da Igreja Católica, e foi eleito para estancar a sangria de fiéis. Como muita gente se afasta por causa das posições retrógradas do Vaticano, Francisco deu uma maneirada: falou que todos os gays são bem-vindos, e outro dia até recebeu em audiência um transexual espanhol. Mas é tudo perfumaria. Na hora do vamo vê, ele é tão homofóbico como o Ratzinger. Vejamos o referendo que aconteceu ontem na Eslováquia, por pressão de grupos ligados à Igreja. A população do país foi convocada a decidir sobre três pontos: o casamento igualitário, a adoção de crianças por casais do mesmo sexo e, para ninguém ter dúvida de que a idéia é voltar à Idade Média, a obrigatoriedade da educação sexual nas escolas. O papa permitiu que sua imagem fosse usada pela campanha do "sim" (sim à proibição de todos os três pontos) e ainda manifestou apoio durante uma aparição na Praça de São Pedro nesta semana que passou. Pois bem: o "sim" venceu entre os eleitores que foram às urnas, com acachapantes 94%. Só que só 21% dos eslovacos que podem votar se animaram a sair de casa. E, para resultar em alguma lei, o pleito precisava de um comparecimento de pelo menos 51%. Ou seja: não deu em nada, rárárá, e o papa Francisco ainda se queimou à toa. Pelo menos agora temos certeza de que se trata mesmo de um amigo da onça, como muitos argentinos já tinham avisado. Fora que tanto retrocesso cairia mesmo mal na Eslováquia, um país cujo mais célebre produto de exportação é a Bel-Ami.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

BITOQUINHA ANGOLANA

Angola está em chamas por causa do primeiro gay exibido por uma novela local. Os atores Pedro Rossi e Lialzio Almeida trocaram apenas um selinho numa cena de "Jikulumessu", mas foi o bastante para a emissora estatal tirar o programa do ar. É incrível como quase toda a África, com a honrosa exceção da África do Sul, está na idade das trevas quando o assunto é viadagem. Só imagino o fuzuê que vai ser quando "Amor à Vida" passar na TV angolana - quer dizer, se passar.

EU NUNCA QUIS TÊ-LA AO MEU LADO NUM FIM DE SEMANA


O Oscar perdeu algums chances de indicar Marion Coltillard novamente depois que ela venceu por "Piaf" em 2007. Trabalhos incríveis da atriz, como "Nine" ou "Ferrugem e Osso", foram solenemente ignorados pela Academia. E estes eram filmes de perfil mais elevado que o lacônico "Dois Dias, Uma Noite", dos irmãos Dardenne. Graças a este longa austero, sem música nem firulas, Marion está de volta às cinco finalistas para o prêmio de melhor atriz - sem a menor chance de ganhar, diga-se de passagem. Mas ela está realmente ótima como a operária demitida que passa um final de semana inteiro tentando convencer seus colegas a abrir de um bônus para que ela possa recuperar o emprego. O argumento é poderoso, pois propõe um dilema moral. E o desfecho é inteligente, pois faz com que esse dilema caia nas mãos da protagonista. Só que o estilo de direção da dupla belga não é para qualquer um. "Dois Dias, Uma Noite" é árido e até maçante algumas vezes, quando mostra cada passo da personagem até a casa de alguém que, no final das contas, nem está em casa. Mas eu sou vassalo de Marion Cotillard.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

LOVE'S GONNA LIFT ME UP

Instalei o Snapchat no meu telefone por influência da minha sobrinha, que só se comunica com os amigos através desse aplicativo. Como os meus amigos ainda preferem métodos antediluvianos como o Whatsapp, acabei deletando a novidade para não ficar ocupando memória à toa. E assim não estive entre os primeiros a ver o novo clipe da Madonna, que ela lançou ontem exclusivamente no Snapchat e só hoje surgiu no YouTube. "Living for Love" vem sendo saudado como o melhor dela em mais de dez anos, mas para mim não é mais do que bacaninha. Não tem grandes novidades, além da plataforma de lançamento. Neste domingo poderemos conferir a apresentação de Madge na entrega do Grammy. Se bem que eu queria mesmo era ver o encontro dela com Lady Gaga nos bastidores.

HELLOOO, PETROBRÁS

Brindemos à incrível capacidade deste governo de escolher uma solução medíocre. Aldemir Bedine, o futuro presidente da Petrobrás, não é um desastre completo. Mas tampouco tem a ficha imaculada: já foi investigado pela Receita Federal por ostentar um patrimônio incopmpatível com seus rendimentos. Também estará para sempre associado à sua amiga Val Marchiori, para quem conseguiu um empréstimo camarada enquanto presidente do Banco do Brasil. Bem longe da imagem de seriedade que a maior empresa do Brasil precisava neste momento. Dilma mostrou que só estea preocupada com o próprio rabo, mais nada. E o PT provou mais uma vez que não entende lhufas de marketing, embora contrate os mais caros marqueteiros. O presidente Rui Falcão disse que o estigma da corrupção não pode pegar no partido. Só que já pegou, e fundo. Seus próprios correligionários se encarregam disso, ao aplaudir João Vaccari na festa de aniversário da agremiação. Ninguém está nem aí para dar qualquer tipo de satisfação aos eleitores. Depois dizem que a Val que é alienada.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

INFINITO ENQUANTO DUROU


"A Teoria de Tudo" é um filme sobre pessoas normais. Uma delas é portadora de esclerose lateral e um dos maiores gênios contemporâneos, mas nem por isto deixa de ser normal. Também é uma linda história de amor com começo, meio e fim - ou não, pois dá para dizer que Stephen Hawking e sua primeira mulher, Jane, se amam até hoje. os dois se casaram no começo dos anos 60, logo depois dele ter sido diagnosticado com uma doença incurável. Teria dois anos de vida, no máximo. Hoje está com 72 anos, e parece claro que foi o casamento que o salvou. Mas Jane não aguentou o tranco para sempre: se mandou quando Hawking começou a se engraçar com uma enfermeira. E nem por isto deixa de ser uma mulher abnegada e um exemplo a ser seguido. Ele, por sua vez, não tem por quê ser censurado. É um homem como qualuer outro. Essa visão adulta do que é um amor de verdade faz com que "A Teoria de Tudo" seja mais do que uma fábula piedosa. Apesar da ambientação árida, o filme jamais aborrece o espectador. E Eddie Redmayne, que já levou o Globo de Ouro e o prêmio do SAG, justifica plenamente seu favoritismo ao Oscar (já Felicity Jones foi meio que indicada por tabela). Perdão, Michael Keaton: "Birdman" é muito bacana e você merecia ser reconhecido pela carreira, mas a melhor atuação masculina do ano está aqui.

MIGHTY THOR!

Depois de mais de mil anos, a Islândia vai construir um novo templo dedicado aos deuses nórdicos. É um sinal de vitalidade do movimento Ásatrú, que surgiu em 1973 e vem conquistando cada vez mais adeptos (inclusive no Brasil). Tenho a maior simpatia, ainda mais porque o sumo-sacerdote Hilmar Örn Hilmarsson já avisou que ninguém por lá acredita num homem com um olho só em cima de um cavalo com oito patas. O paganismo moderno entende os mitos como eles realmente são: mitos, fábulas, metáforas que descrevem a natureza e transmitem ensinamentos morais. O futuro templo irá realizar casamentos e festivais saudando a mudança das estações, e deve se tornar uma das atrações turísticas de Reykjavyk. O lado engraçado é que um dos deuses venerados, Thor, também é super-herói da Marvel e astro de sua própria franquia do cinema. Lide com isto, Iemanjá.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

JORNAL DE ONTEM

"A Entrevista" demorou demais para entrar em cartaz no Brasil. Já faz quase dois meses que hackers a soldo da Coreia do Norte invadiram os computadores da Sony Pictures, provocando o cancelamento temporário da estreia do filme e também um debate sobre a liberdade de expressão sob a ameaça de terroristas. Mas a polêmica foi ofuscada depois do atentado ao "Charlie Hebdo", e essa comédia porcalhona perdeu muito de sua relevância política. Não é nenhuma obra-prima, mas também não é o desastre que alguns críticos andam apregoando. Tem muitas piadas boas, algumas delas bem pesadas - e o trailer para maiores de idade aí em cima traz uma amostra. Ainda não decidi se James Franco está sublime ou irritante, e dava para cortar uns bons quinze minutos de enrolação. "A Entrevista" teve um destino curioso. Ganhou notoriedade depois que os imbecis dos norte-coreanos resolveram eliminá-lo. Mas agora já soa como notícia velha, atropelado pelo caminhão desgovernado dos acontecimentos.

NOS MÁXIMOS DETALHES

Conheci o trabalho de Ron Mueck na Bienal de Veneza de 2003, muito antes dele se tornar famoso no Brasil. É uma coisa impressionante: um artista plástico do qual poucos tinham ouvido falar há um ano agora é o recordista de público da Pinacoteca de São Paulo, repetindo o sucesso que já tinha feito no Rio e por onde quer que passe. Mueck é "fácil" de entender: figurativo, colorido, hiperrealista. Ou nem tanto. As proporções de seus gigantes não são perfeitas: rostos, pés e mãos são grandes demais, o que dá a essas figuras um sutil aspecto de bebês. Mas os detalhes são de arrepiar. A maneira como uma mão se dobra, os pelinhos das pernas, as unhas mal cortadas. Cada estátua conta uma história, como a do casal de velhinhos que ainda se ama curtindo um dia na praia. São só oito, além de um filme silencioso de 52 minutos que mostra o artista em seu ateliê. A mostra fica em cartaz em SP até o dia 22, e não há filas durante a semana no horário do almoço. Ótima para se levar crianças e iniciá-las nesse mistério que é a arte.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

NÃO VEJA ESTE VÍDEO

Só se você tiver curiosidade mórbida e algum estômago para suportar a náusea. Porque o clipe acima é de uma crueldade extrema - sim, é um clipe, com edição nervosa, trilha sonora e até efeitos especiais. Pelo menos termina antes que as chamas engolfem o piloto jordaniano. Esta barbárie vem do ISIS, claro, que esta semana também atirou um suposto homossexual do alto de um prédio na Síria. O infeliz sobreviveu à queda, só para ser apedrejado até a morte pela turba ensandecida. Não sei o que deve ser feito contra esses malucos. Guerra total? Campanhas de reeducação? Só sei que estou horrorizado, como qualquer um que se atrever a ver este vídeo. Mas depois não diga que eu não avisei.

CAÍDA EM DESGRAÇA

Não deu mais para segurar. O balanço capenga da Petrobrás pegou tão mal que Lula conseguiu convencer Dilma a tirar Graça Foster da Petrobrás. A "Dilma da Dilma" (daqui a pouco isto será considerado ofensa) fracassou em sua verdadeira missão: proteger Lula dos respingos do petrolão. Mas isto também não dá mais para segurar. O escândalo nunca dantes neste país começou durante a gestão do ex-presidente, não só para enriquecer alguns como também para fortalecer o projeto de poder eterno do PT. Graça, que tinha uma biografia impoluta até aceitar a tarefa, não segurou o rojão - talvez por honestidade, talvez por incompetência, talvez porque o rojão era mesmo insegurável. Ela deve estar mais do que aliviada. Agora vai curtir o carnaval numa boa, sem usar a máscara que punha todos os dias para ir trabalhar. E o governo está com um problemaço nas mãos: qual é o empresário com credibilidade que topa assumir a presidência da Petrobrás?

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

ISN'T IT RICH? ISN'T IT QUEER?


Assisti a pelo menos três musicais de Stephen Sondheim no teatro: "Into the Woods", "Follies" e "Company". Também vi alguns filmes adaptados de sua obra, como "West Side Story" (ele escreveu as letras), "Sweeney Todd" e "Caminhos da Floresta", a versão de "Into the Woods" atualmente em cartaz. Adoro algumas de suas músicas, como a pegada dance de "Losing My Mind" que Liza Minnelli gravou com os Pet Shop Boys ou "Sooner or Later" com Madonna, que levou o Oscar de melhor canção por "Dick Tracy" em 1991. Mas só me tornei seu fã para valer depois do documentário "Six by Sondheim", exibido pela HBO. Mais do que por seu enorme talento, me encantei com a articulação do cara: é incrível como seu discurso permanece o mesmo ao longo das décadas, coerente e bem-humorado. Hoje com 85 anos, Sondheim vive ao lado do segundo marido, 50 anos mais novo. Eu até me candidataria se o tivesse conhecido mais novo: ele nunca foi convencionalmente bonito, mas tem algo ali que me agrada, e muito.

DIAS PIORES VIRÃO

Ontem foi um dia negro para a política brasileira. E provavelmente apenas o primeiro de uma era mais negra ainda. Duas figuras de ficha imunda foram escolhidas para comandar o legislativo federal. Na Câmara, Eduardo Cunha parece ter sido criado em laboratório para reunir tudo de ruim num único parlamentar. É corrupto, fisiológico e contra todas as pautas de avanço social. Já avisou que vai combater os "abortistas, maconheiros e homossexuais". No Senado, o imperdoável Renan Calheiros foi reeleito para mais mandato na presidência da casa. O paradoxo é que o governo combateu o primeiro e apoiou o segundo, em mais uma demonstração de que uma reputação ilibada nunca esteve entre as preocupações do Planalto. A única coisa que interessa é se o cara facilita ou dificulta, mais nada. Há quem diga que Dilma até torce para que Renan seja tragado pelo petrolão, mas o fato é que a base aliada votou em peso no senador alagoano. Já a humilhante (para o PT) eleição de Cunha foi a prova cabal da incompetência de Aloisio Mercadante e sua turma na articulação política. Os novos presidentes da Câmara e do Senado são as pessoas erradas nos lugares errados na hora mais errada possível. Estou apavorado por ser brasileiro.

domingo, 1 de fevereiro de 2015

A MULHER QUE ABRIU OS OLHOS


"Grandes Olhos" não parece um filme de Tim Burton. O diretor nunca esteve tão comedido. A história também não parece digna de justificar um longa: uma pintora deixa que seu marido assuma a autoria de seus quadros, e depois se arrepende. Os quadros em questão são os responsáveis por metade da tralha que se vende nas feiras hippies e Praças da República de todo o Brasil: mostram crianças com olhos enormes, carentes, prestes a cair no choro. Um atentado à arte mais grave do que toda a obra de Romero Britto. Talvez seja esse lado kitsch que tenha atraído Tim Burton, caso contrário o que teríamos seria um draminha para a televisão. No fundo, "Grandes Olhos" é uma parábola feminista. A protagonista - feita por Amy Adams, que levou um Globo de Ouro meio que por default - se divorcia no final dos anos 50, e corre a se casar de novo para conseguir um mínimo de aceitação social e manter a filha consigo. Dócil, ela topa todas as pequenas falcatruas que o novo marido lhe propõe. Ele assume as glórias, e ela não pode contar nem para as amigas mais íntimas que é a verdadeira responsável por aquelas pinturas. Essa trama pouco envolvente ganha uma paleta de corres berrantes onde predomina o azul turquesa, talvez prenunciando o Havaí onde a personagem se refugia no final. Ela abre os olhos aos poucos para a situação em que vive, e finalmente consegue se libertar. Mas nem por isto "Grandes Olhos" é um filme memorável. Não teve nenhuma indicação ao Oscar, e nem merecia.