sábado, 27 de setembro de 2014

MIS ANTIPATIA

As redes sociais servem para dar vazão a um dos mais torpes sentimentos humanos: o ódio por quem tem mais do que a gente, hoje mais conhecido por recalque. Vai além da mera inveja: queremos que essa gente se foda. É a tal da Síndrome do Alá o Rico Idiota, uma maneira certeira de conseguir likes e cliques. E os ricos nem precisam falar bobagem para serem vítimas do escárnio generalizado. Vejamos o que acontece nas redondezas do Museu da Imagem e do Som em São Paulo. André Sturm, o atual diretor, tirou o MIS do marasmo em que permaneceu por mais de dez anos, promovendo incríveis exposições sobre Stanley Kubrick e David Bowie e franqueando os jardins para a festa mensal Green Party, ponto de encontro das bichas esclarecidas. Sucesso absoluto, com filas dobrando várias esquinas. Acontece que o MIS está encravado no Jardim Europa, o bairro com o IPTU mais caro de SP. E alguns vizinhos do museu tiveram a ideia de fazer um abaixo-assinado, pedindo mais organização nas filas (para a mostra do Castelo Rá-Tim-Bum ela começa a se formar às sete da manhã, muito antes dos portões se abrirem) e menos tumulto nos arredores. Para quê, não é mesmo? Já foi convocado mais um Churrascão da Gente Diferenciada na esquina das ruas Bucareste e Luxemburgo para a tarde de hoje, em repúdio aos moradores que só querem tranquilidade. Claro que irá muito menos gente do que os 8 mil que já confirmaram presença pelo Facebook, mas este não é o meu ponto. Ninguém está pedindo para o MIS sair dali nem nada, só um pouco de silêncio, mas nossa cultura atual não permite esse tipo de reclamação. "Que se fodam, eeeeeee".

16 comentários:

  1. Barulho e sujeira na porta de casa ninguém quer nao é? Ainda vivemos em um país democrático em que as pessoas podem reclamar por seus direitos ou iremos todos para o "paredón virtual" da internet?

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  2. aii tony goes, você é o típico ''Burguês Revolks"

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  3. https://br.noticias.yahoo.com/blogs/claudio-tognolli/exclusivo-jornalista-e-ex-oficial-de-inteligencia-da-122442862.html

    pq vc nunca comentou no seu blog (que fala sobre assuntos pertinentes ao momento) isso sobre a Marina ter laços com a CIA?
    Vale tudo pra tirar a Dilma mesmo que signifique a saída do Brasil do BRICS e se institucionalizar uma cultura norte americana?
    A emissora que vc trabalha não noticia isso, não noticia tbm sobre a existência da base da NASA na amazonia que mede cerca de 100km.
    então comece a repensar sobre seu apoio a dona Marina Malafaia
    e mais, a censura que os EUA e mtos veículos

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  4. Rindo alto na parte do Ponto de encontro das bichas esclarecidas!!!!
    Que cara é esse, véio? kkkkkkkkkkkkkkkkkkk

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  5. Não acredito que seja só recalque, não, Tony -- embora não descarte que muita gente fale por pura inveja. Do outro lado, acho que existe uma incompreensão sobre o que é viver numa cidade grande. Envolve barulhos e desconfortos de um lado, e rica oferta cultural de outro. Ônus e bônus. Aqui em Brasília, então, parece que as pessoas acreditam ter direito adquirido a viver no meio da mata virgem. Um evento que acontecia à beira do lago, num dos poucos trechos verdadeiramente públicos que sobraram da orla, gerou um abaixo assinado de moradores do outro lado. Isso que o evento acontece de vez em quando, sempre de dia. Mas um dos moradores mencionou expressamente que juntava uma "gente esquisita" no evento. Ou seja: pessoas jovens fazendo piquenique na beira de um lago, com alguma música -- coisa que acontece em que qualquer cidade que tenha o privilégio de ter um lago em sua zona urbana. Ter um equipamento cultural na porta de casa do porte do MIS ou do MuBE certamente valorizou muito o imóvel dessas pessoas. É um privilégio que poucas pessoas têm. Desse lado positivo eles certamente usufruem. Porém, qualquer desconforto gerado -- que, no caso, parece pequeno -- passa a ser rechaçado. Pense num Guggenheim, num Metropolitan, encrustrados numa das regiões mais caras de Nova Iorque. Certamente algumas exposições e eventos geram filas e um certo desconforto. Alguém já pensou em tirá-los dali? Quem não quer lidar com os problemas de uma cidade grande pode sempre mudar para o subúrbio ou para interior. Mas perder aquela exposição internacional, aquele festival de cinema que acontece a três quarteirões, ninguém quer. Pois é. Para essas pessoas, recomendo a leitura do livro da Jane Jacobs: Morte e Vida das Grandes Cidades.

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    1. Devem estar reclamando de uma simples fila organizada e ordeira, esses privilegiados ingratos.

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  6. O mio babbino caro
    Não me convidaram
    Pra essa festa pobre...

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  7. Tony, desculpe o off-topic, mas esta notícia parece feita para o seu blog:

    http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,onu-fara-raio-x-mundial-de-homofobia,1566888

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  8. Tony, curti seu texto! Só gostaria de dar um toque, a palavra Recalque, que se tornou "chulamente" popular com intuito errôneo de designar inveja, não deveria estar tomando espaço no seu texto super bacana! A palavra Recalque é um termo da Psicanálise para nomear um dos 5 mecanismos de defesa do inconsciente, e nada tem a ver com inveja segundo aquela vaca daquela funkeira! Também existem termos na enologia e na engenharia que utilizam a palavra, mas são termos técnicos que mesmo assim, elucidam a intenção freudiana da palavra!

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  9. http://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2014/09/indignado-com-homofobia-padeiro-divulga-mensagens-em-sacos-de-pao.html

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  10. O grande problema é que nós no Brasil ainda não aprendemos a reunir uma quantidade grande de pessoas em um mesmo local sem transformar a vida dos outros em um inferno. O problema não é a aglomeração, mas a falta de educação, de respeito, e de consideração generalizadas, que tendem a crescer ainda mais quando as pessoas se juntam, precisando transformar tudo em um grande rolezinho de baixarias. Se as pessoas fossem mais educadas seria possível ter as duas coisas: os eventos abertos ao público e o sossego de quem mora nas proximidades - ambas igualmente importantes.

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    1. Na mosca, Luciano. Ultimamente, confundem direitos com falta de educação, e como se os outros também não tivessem direitos. E claro, se não gostar de lixo e baderna na sua porta vc só pode ser um burguês reacionário. Tempos difíceis.

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  11. Concordo tanto com seu texto Tony, e adoro o blog da Camila que vc linkou. Nunca vi tanto "recalque" com rico como ocorreu com o Eike e as pessoas estão regojizando com a volta dele pra classe média.

    E a reclamação com as filas no MIS são justificáveis, tem barulho, atrapalha o trânsito... o diretor do museu pode fazer algo para atenuar o tempo de espera pra exposição mas em relação a educação dos frequentadores fica difícil.

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  12. Acho que a elite de São Paulo tinha que se preocupar com o "zebrado" nas guias...nenhuma cidade do mundo faz isso, mas São Paulo tem que gastar dinheiro e fazer.

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