segunda-feira, 4 de agosto de 2014

ISRATINA

Semana passada, um artigo de Ricardo Melo publicado na Folha causou indignação. O título era mesmo incendiário - "Israel é aberração; os judeus, não" - e quem não passou dos primeiros parágrafos teve a impressão de que o autor defendia simplesmente a pulverização do país, igualzinho ao Hamas. No entanto, Melo chega a uma conclusão que eu compartilho faz tempo: a melhor solução para este conflito que se arrasta há décadas é a criação de um estado único, onde israelenses e palestinos convivam lado a lado, desfrutem dos mesmos direitos e até se casem entre si. A ideia já existe há muitos anos e ganhou bastante repercussão quando ninguém menos que o falecido ditador Muammar Qaddafi a defendeu numa matéria incrivelmente bem embasada no New York Times, em 2009. Eu já acreditava nisto faz tempo: fui reler meus posts antigos sobre o assunto, e vi que minha opinião não mudou. Também fiquei meio deprimido ao constatar que, desde que tenho este blog, esta é pelo menos a terceira vez que Israel ataca a Faixa de Gaza de maneira cruel. Fica ainda mais claro que os objetivos dos líderes de ambos os lados são imediatistas: os partidos de direita israelenses só querem vencer as próximas eleições, e o Hamas só quer manter seu jugo perverso sobre os palestinos de Gaza. Ninguém busca de fato uma paz duradoura. Mas a proposta de um estado único, ainda que tenha pouco apoio, vem ganhando popularidade: já existe até um perfil do Twitter chamado "Isratine". E antes que alguém venha me dizer que um estado só é impossível, é bom lembrar que as alternativas de eliminação mútua são impensáveis, e que dois mini-estados seriam inviáveis. Melhor dar a descarga no ultrapassado conceito de estado-nação e pensar que em países modernos, como os EUA ou o Brasil, judeus e árabes vivem juntos sem conflitos.

(Se alguém tiver saco, aqui vão os links para meus posts antigos sobre as escaramuças no Oriente Médio: de 2008, "Israel is Real" e "Santa, Prometida, de Ninguém"; de 2009, "Um Estado Só", "Ainda a Guerra" e "Gaddafi e Eu".)

17 comentários:

  1. Mas os palestinos se tornariam maioria e efetivamente controlariam o novo Estado. Sabe quando os israelenses vao quer algo do tipo? Pois eh.
    As comunidades brasileiras estao muito afastadas do conflito e por isso eh mais facil aceitar tudo em paz. Para quem vive em Gaza a historia infelizmente eh outra.

    Ivan

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    1. Veja este artigo da "Veja":
      http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/reflexoes-de-um-pai-judeu-sobre-gaza
      não tem números absolutos, mas concorda comigo no fato que judeus ortodoxos e palestinos só tendem a crescer. A estratégia de um tentar eliminar o outro jamais funcionará (aliás, qualquer estratégia de eliminar os judeus será tão eficaz quanto eliminar os palestinos). E olha que ISSO É UM ARTIGO DA VEJA, MEU DEUS!!!
      O artigo vai ao encontro de muito do que o Tony disse e, fantasticamente, do ponto de vista de alguém que já se sentiu de um lado do confronto.
      To até gripado de ter concordado tanto com a VEJA.

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    2. Raro eu concordar com o Ioschpe, acho ele meio arrogante. Mas é tão lindo... ;P

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  2. uau, diria q isso sim é um pensamento romântico-otimista

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  3. Ótimo post, Tony. Uma feliz exposição depois do texto altamente criticável postado outro dia. Bj

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  4. Tony isso é uma utopia. Duvido que os palestinos (árabes) aceitem entrar no estilo de vida ocidentalizado dos habitantes de Israel. Boa parte deles iria querer viver sob os costumes culturais dos outros países do oriente médio. Além disso, muitos israelenses não iriam querer conviver com os "suburbanos". Ainda que acho que seria mais fácil para os israelenses aceitarem essa ideia do que o contrário.

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  5. Tony e como ficaria a democracia de Israel? Impossível isso. Já imaginou, você, como gay, dificilmente poderia andar de mãos dadas com o maridão como pode fazer hoje em dia em Israel. Com a sua solução, esqueça isso. Vai na ideia dos dois estados que é melhor, pelo menos em Israel você e o marido seriam bem-vindos.

    Abs,

    Felipe

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    1. Felipe, vários países ocidentais têm populações muçulmanas e essas pessoas têm de conviver. Leis anti discriminação, ponto. Valeriam para todos os lados.

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    2. Joaninha vivendo no mundo de faz de contas dela. Me cite um país de maioria muçulmana em que judeus e gays tenham seus direitos respeitados. Acorda, bee, o mundo já deu muitas voltas desde a queda do muro de Berlim.

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    3. Danny, obrigado pela lucudez.

      João, gostaria muito que pudesse acontecer o que você diz, mas acho impossível. Eu, como judeu, adoraria poder ir para o Líbano ou outro país que ainda não mantem acordo de paz com Israel e poder expressar a minha religião ou minha orientação sexual livremente. Impossível. Os judeus foram expulsos dos países árabes e por isso da imigração de judeus sefaradim na década de 70 aqui no Brasil. Não tem como. Realmente eu acho uma utopia, seria ótimo se fosse possível.

      Abs,

      Felipe

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    4. Felipe,

      Há vários países onde muçulmanos e judeus coexistem; este é o ponto. Dentro dessa proposta, seria um Estado único criado com fundamentos democráticos e que visasse a pluralidade. É utópico, mas até que ponto a existência de dois Estados também não é utópica?

      Não deixo de reconhecer, como já o fiz em outros momentos, que Israel é um país mais "ocidentalizado" que os outros na região. Importante frisar isso.

      Abs,
      João

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    5. João,

      Concordo com você, há países onde muçulmanos e judeus coexistem, Brasil é um exemplo, França, outro. Mas são países laicos. Israel tem um caráter judaico, não existe natal, os feriados são os do calendário judaico. Por isso acho utópico um só estado. Como ficariam as leis?

      Agora, dois Estados, não é utópico: Israel convive em paz com Egito e Jordânia, basta um acordo de paz, o que, para mim, tanto o Hamas quanto Netanyahu não querem!

      Abs,

      Felipe

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  6. João, concordo com você. O Brasil é um exemplo disso. Judeus e muçulmanos convivem bem. Mas ainda acho que a solução de dois estados é melhor. Eu realmente tenho medo de como ficariam as leis em "Isratina".

    Abs,

    Felipe

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  7. Seria a solução ideal, mas impossível de acontecer porque tanto os israelenses quanto os palestinos são incitados desde novos a odiarem um ao outro, essa desumanização do inimigo que faz com que os israelenses assistam e comemorem um bombardeio. Também tem a questão levantada nos outros comentários, Israel destoa dos outros países árabes sendo muito mais próximo das democracias ocidentais.

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  8. O mio babbino caro
    Eles não tem um inimigo em comum!

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  9. Parabéns! Concordo plenamente

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