É claro que eu estou horrorizado com o número elevadíssimo de mortes em Gaza. Também estou indignado com os erros cometidos por Israel, involuntários ou não. Mas não vou engrossar o coro dos que alegam ser "desproporcional" o embate entre o estado judaico e o Hamas. Israel está longe de usar toda sua força - e já pensou se os militantes islâmicos também tivessem a bomba atômica? E é beyond escandaloso o uso da população civil pelo Hamas como escudos humanos. Além do mais, nunca é demais lembrar que essa turma quer instalar uma teocracia medieval na região, bem parecida com o tal do Estado Islâmico que está surgindo entre a Síria e o Iraque. Outra coisa: andam pipocando pelo mundo inteiro manifestações contra Israel. Porque quase ninguém se manifesta contra o EI? Esses bárbaros já mataram muito mais gente do que morreu no atual conflito, usando métodos delicados como a decapitação e a crucificação (e há relatos de querem impor a mutilação genital feminina nos territórios que dominam). Sem falar na mortandade absurda da guerra civil síria, ou das vítimas do Taliban e da al-Qaeda, ou dos inúmeros focos violentos por todo o mundo muçulmano. Quando eles se matam entre si, pouca gente se importa no Ocidente. Está na hora de repensarmos nossos pesos e medidas.
(Se você lê inglês, respire fundo e enfrente estes dois longos artigos: "Why I Don't Criticize Israel", do filósofo ateísta Sam Harris, e "7 Things to Consider Before Choosing Sides in the Middle East Conflict", do escritor paquistanês Ali A. Rizvi. Extremamente esclarecedores.)
quinta-feira, 31 de julho de 2014
MIRA EN BARRANQUILLA SE BAILA ASÍ
E aí, quando você acha que já viu as coisas mais gays do mundo, surge este vídeo do Out of the Blue, um grupo de vocal a capella que existe há 14 anos na cidade universitária britânica de Oxford (os membros vão mudando à medida em que vão se formando na faculdade). A própria Shakira elogiou a performance dos rapazes, perto dos quais o elenco do "Glee" parece um campeonato de MMA.
quarta-feira, 30 de julho de 2014
LÁGRIMAS DE KROKODIL
"Krokodil" era uma revista de humor da extinta União Soviética. Surgida nos fervilhantes anos 20 como uma sátira impiedosa aos líderes da jovem nação, sofreu censura pesada e logo se transformou numa ferramenta do Partido Comunista. Também virou sinônimo de humor a favor, aquele que não existe: só falava bem do governo e mal de seus adversários. Ou seja, uma tristeza só. A "Krokodil" acabou junto com a URSS mas ressurgiu depois, com nova proposta editorial - mas ainda vigiada de perto, porque o regime de Vladimir Putin não é exatamente democrático.
A "krokodilização" avança no Brasil. O exemplo mais recente é o da Dilma Bolada, que agora é oficialmente parte da campanha pela reeleição da presidenta. O criador da personagem, Jefferson Monteiro, chegou a tirar a página do ar, alegando não querer suportar sozinho os ataques da oposição. Mas já está de volta, e, segundo informantes, a soldo do PT (ele nega isto em seu perfil no Facebook). No fundo, não importa muito se ele recebe ou não do partido. O fato é que a Dilma Bolada, que já tinha pouca graça, agora é totalmente chapa-branca.
Num contexto mais amplo, me assusta a reação do governo à mensagem que o Santander enviou para alguns clientes VIP. Claro que o banco foi inábil na escolha das palavras, mas o fato é incontestável: a Bolsa cai quando Dilma sobe nas pesquisas, e vice-versa. E também é claro que o PT está usando o episódio a seu favor, como fez no caso das vaias na abertura da Copa. Mas a ameaça de sanções ao banco soa mesmo venezuelana. Sim, tenho medo que, num segundo termo, Dilma se "bolivarianize" sem medo de ser feliz, com maior vigilância à imprensa e restrições aos opositores. O que não quer dizer que eu ache que vá ser uma maravilha com o Aécio. É notório que grande parte da imprensa mineira tem o rabo preso com o ex-governador, e ele já mostrou de que não sabe lidar bem com a liberdade de expressão que vigora em outros estados. Precisa mudar de atitude agora. Depois, não adianta chorar.
A "krokodilização" avança no Brasil. O exemplo mais recente é o da Dilma Bolada, que agora é oficialmente parte da campanha pela reeleição da presidenta. O criador da personagem, Jefferson Monteiro, chegou a tirar a página do ar, alegando não querer suportar sozinho os ataques da oposição. Mas já está de volta, e, segundo informantes, a soldo do PT (ele nega isto em seu perfil no Facebook). No fundo, não importa muito se ele recebe ou não do partido. O fato é que a Dilma Bolada, que já tinha pouca graça, agora é totalmente chapa-branca.
Num contexto mais amplo, me assusta a reação do governo à mensagem que o Santander enviou para alguns clientes VIP. Claro que o banco foi inábil na escolha das palavras, mas o fato é incontestável: a Bolsa cai quando Dilma sobe nas pesquisas, e vice-versa. E também é claro que o PT está usando o episódio a seu favor, como fez no caso das vaias na abertura da Copa. Mas a ameaça de sanções ao banco soa mesmo venezuelana. Sim, tenho medo que, num segundo termo, Dilma se "bolivarianize" sem medo de ser feliz, com maior vigilância à imprensa e restrições aos opositores. O que não quer dizer que eu ache que vá ser uma maravilha com o Aécio. É notório que grande parte da imprensa mineira tem o rabo preso com o ex-governador, e ele já mostrou de que não sabe lidar bem com a liberdade de expressão que vigora em outros estados. Precisa mudar de atitude agora. Depois, não adianta chorar.
FOTOS DO CARALHO
Já faz uns dez anos que existem blogs do tipo "Avalie Meu Pinto", onde internautas mostram fotos de suas joias da coroa para arrancar suspiros de admiração de outros internautas. A maioria desses sites logo descambou para a pornografia pura e simples, mas agora existe um Tumblr que vai na direção contrária: a advogada neozelandesa Madeleine Holder criou o "Critique My Dick Pic", onde ela analisa a qualidade da foto em si e não exatamente o dito cujo. A moça não está interessada apenas em arte. Também aprecia que as imagens enviadas por seus leitores sejam eróticas, mas implica com o que chama de "porky pigging" (o cara usando uma camisa e mais nada - o que há de errado com isto?). Por outro lado, é absolutamente democrática: aceita fotos de paus de todos os tamanhos (que ela promete nunca julgar), de transexuais e até de mulheres, com dildos ou sem. O anonimato é garantido, mas alguns comentários são implacáveis. Para quem quiser, aqui tem uma entrevista de Madeleine (em inglês). E aí, se animou a compartilhar com estranhos o seu selfie mais íntimo?
terça-feira, 29 de julho de 2014
CHER, É VOCÊ?
Lady Gaga só não desapontou os mais aguerridos little monsters com seu último disco. Não que "Artpop" fosse ruim: só não era a obra-prima grandiosa que ela vinha alardeando. Mas Gaga tem um talento inegável, e já tem um novo projeto na manga. Foi com ela que Tony Bennett gravou "The Lady is a Tramp", a melhor faixa do CD "Duets II" - sim, melhor até mesmo do que a que ele gravou com Amy Winehouse. E agora, dez anos depois de dividir um álbum inteiro com k. d. lang, o lendário cantor fará o mesmo com a Germanotta. "Cheek to Cheek" sai em setembro, a tempo de ser indicado aos Grammys do ano que vem (Bennett é um dos queridinhos do prêmio). A primeira amostra saiu hoje e, se não é exatamente inovadora, tampouco faz feio. Não se pode dizer o mesmo da peruca da Gaga.
OS ALBINOS EM SPRINGFIELD
"Os Simpsons" deve estrear em setembro nos EUA sua 387a. temporada, mas é impressionante a capacidade que a série ainda tem de gerar notícia. Os produtores já anunciaram que vão matar um personagem importante logo no primeiro episódio, e este nem é o maior trunfo. Ainda mais esperada é a visita que o "elenco" de "Family Guy" fará a Homer e sua turma. Um teaser de cinco minutos foi divulgado na Comic-Con, o bastante para deixar o sistema solar em chamas. Nada como um dia depois do outro: os criadores dos dois programas passaram anos se acusando mutuamente de plágio. $ó o amor con$trói, não é me$mo?
segunda-feira, 28 de julho de 2014
A FRAGILIDADE DO CASTELO DE CARTAS
Com apenas um ano e meio de atraso, eu finalmente me deixei abduzir por "House of Cards". Estou no meio da segunda temporada e me maravilhando com a qualidade da produção, dos roteiros e do elenco. Kevin Spacey tem uma das tarefas mais difíceis jamais dadas a um ator: Frank Underwood tem que deixar claro para o espectador quando está mentindo, ao mesmo tempo em que seu interlocutor precisa acreditar que ele diz a verdade. Talvez por isto mesmo o personagem quebre tantas vezes a quarta parede. Mesmo assim, tem algo em sua construção que me incomoda demais. Se você ainda pretende ver a série, é melhor parar de ler por aqui.
Parou? Não, né? Então segura porque lá vai: não gosto de Frank ser um assassino. Não é por moralismo, longe disto - afinal, estamos falando de ficção. Mas acho mais do que improvável que o vice-presidente dos Estados Unidos atire uma jornalista nos trilhos do metrô, quando um outro passageiro qualquer ou mesmo uma câmera de segurança poderiam flagrar sua peraltice. Não estou dizendo que um político inescrupuloso como ele seria incapaz de matar alguém. Mas com as próprias mãos? Gente assim tem quem faça este tipo de serviço. Entendo que os criadores da série pensam que deste jeito aumentam a carga dramática, mas para mim é um furo considerável num antiherói que, tirando este deslize, merece estar no mesmo panteão que Walter White, Don Draper e Tony Soprano.
OS SONHOS MAIS LINDOS SONHEI
E eles se realizaram: "Elis, a Musical" é o primeiro musical 100% brasileiro que não faria feio na Broadway. Sim, tivemos muita coisa boa produzida nos últimos anos, quase sempre na veia das biografias - de "Somos Irmãs", sobre Linda e Dircinha Batista, a "Tim Maia - Vale Tudo". Mas "Elis" está uma prateleira acima. Tudo funciona às mil maravilhas, do libreto de Nélson Motta (talvez a pessoa com mais gabarito para falar de Elis) e Patricia Andrade à direção de Dênis Carvalho, que faz sua estreia no teatro. E que elenco, meu. De onde desencavaram Laila Garin, que me deu a sensação de estar assistindo a uma sessão espírita em 3D? E por que Claudio Lins nunca estourou na TV, já que tem looks e atitude de protagonista? Tuca Andrada não me surpreendeu: sensacional como sempre. Surpresa mesmo eu tive com Danilo Timm, que já é um veterano de musicais mas a quem eu nunca tinha visto antes. Soluções cênicas inteligentes, efeitos multimídia que ajudam sem ofuscar e repertório a prova de bomba atômica completam o pacote luxuoso. Só me ressenti, mais uma vez, da morte da cantora ter ficado de fora. Não sei se é a família que implica ou se é a obrigação de terminar para cima. Como no especial "Por Toda a Minha Vida", no final parece que Elis foi morar numa fazenda.
domingo, 27 de julho de 2014
TO THE LEFT TO THE LEFT
A ideia não é nova: interpretar a letra de uma música como se ela fosse poesia, ou mesmo um texto teatral. Pedro Paulo Rangel fez até um espetáculo completo alguns anos atrás, usando apenas letras de clássicos da música brasileira. Agora a atriz americana Nina Millin está ficando conhecida na internet graças aos seus "Beyoncélogues". O que soava banal de repente ganha uma força inusitada, mais pela interpretação de Nina do que pela qualidade das palavras. Oh, oh, oh.
sábado, 26 de julho de 2014
O GIGANTE ABOBALHADO
Yigal Palmor, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, é um babaca. Onde já se viu xingar um país amigo de "anão diplomático", ou dizer que vergonha mesmo não é matar centenas de civis inocentes, mas sim perder de 7 a 1 para a Alemanha? O Brasil poderia ter dito que os judeus perderam de 6 milhões a zero para os alemães na 2a. Guerra, mas preferimos reagir com bom humor (já viu o tumblr Porta-Voz de Israel?). O fato é que a gafe do sujeito pegou tão mal que ele já veio com panos quentes, dizendo que o Brasil é incrível e que adora brigadeiro. Mas, má-criação à parte, Palmor tem razão: a política externa brasileira é uma mixórdia desde que o PT chegou ao poder. Comandada de fora do Itamaraty pela besta-fera do Marco Aurélio Garcia, as atuais diretrizes são ideologizadas ao extremo e prejudiciais aos interesses do país. Os diplomatas de carreira ficam putos quando veem o Brasil se calar diante das atrocidades russas na Ucrânia, ou dos abusos de regimes falidos de Cuba e da Venezuela. E o que dizer do apoio à admissão da Guiné Equatorial à Comunidades dos Países de Língua Portuguesa? Este pequeno arquipélago na costa ocidental da África foi colonizado pela Espanha e em apenas uma de suas ilhas se fala uma forma arcaica de português. Mas é rico em petróleo, então vamos fingir que não se trata de uma ditadura hereditária. O Brasil é um gigante sim, mas está mais para o Hodor de "Game of Thrones". Taí mais um bom motivo para não reeleger a Dilma.
sexta-feira, 25 de julho de 2014
SALVE GEORGE
Alain Resnais sabia que "Amar, Beber, Cantar" seria seu último filme? Provavelmente - aos 91 anos de idade, tudo o que se faz deve ter sabor de última vez. Talvez por isto mesmo ele tenha escolhido adaptar para o cinema a peça inglesa "Life of Riley". São seis personagens que parecem ter só uma preocupação na vida: falar de George, um amigo comum que foi desenganado pelos médicos. Mas o tom é de farsa, não de tragédia. Todos querem ligar para George, sair com George, convidar George para fazer teatro amador, fugir com George para Tenerife. Resnais optou por literalmente filmar a peça, com um cenário estilizado e assumidamente artificial. No começo é engraçado, mas lá pelas tantas fica monótono visualmente. Pelo menos os diálogos são fantásticos e os atores idem. E é irresistível pensar que Resnais gostaria de ser George: mesmo depois de sua morte em março, continuamos falando dele.
O TEMPLO E O VENTO
São misteriosas para mim as razões que levaram a Igreja Universal do Reino de Deus a construir uma réplica do Templo de Salomão na zona leste de São Paulo. Sim, entendo que seja uma demonstração de poder e prestígio - até a presidenta está sendo aguardada na inauguração, na próxima quinta-feira. Mas não é esquisito uma denominação que se diz cristã refazer um templo que não cultuava Jesus? Também acho bizarro os pastores celebrarem cultos fantasiados de rabinos. Além do mais, o Templo de Jerusalém era o único local onde os judeus da antiguidade podiam cultuar seu deus; não havia sinagogas naquele tempo. E lá dentro se acreditava que estava presente a própria divindade, um conceito que vai contra a proliferação de filiais da IURD por toda parte. Ainda pior que a mongonga teológica é a arquitetura anacronicamente medonha e a localização num bairro feioso onde nada ornaria de qualquer jeito. Mas para Edir Macedo e sua turma, nada disso importa; o Templo traz uma dose de glamour (ainda que equivocado) a uma organização que vem perdendo rebanho para a concorrência, ao mesmo tempo em que seu projeto televisivo vai mal das pernas. Vai virar o vento da mudança que sopra sobre a Universal?
quinta-feira, 24 de julho de 2014
MEU BRASIL NÃO-BRASILEIRO
O músico francês Sébastien Tellier acaba de lançar um disco sobre sua infância no Brasil. As músicas falam de suas lembranças do verde das florestas, da brisa marinha e dos pássaros coloridos. Só que não: Tellier cresceu mesmo na França, e só veio ao nosso país para gravar algumas faixas de "L'Aventura" e rodar o clipe acima. Até mesmo os ritmos supostamente brasileiros são imaginários. O cara não é nenhum grande conhecedor da MPB, pela qual diz ter se apaixonado dentro de um táxi. Portanto, há duas maneiras de lidar com este CD. Uma é desprezar o trabalho como um todo, tão autêntico como macumba para turista. A outra é embarcar na brincadeira e mergulhar nesse Brasil onírico, cheio de fontes murmurantes onde a lua vem brincar. Eu escolhi a segunda.
ROMEU E HASAN
Será que estamos assistindo a mais uma guerra inútil entre Israel e o Hamas? Nas duas últimas vezes, apesar do elevado número de mortos (mais ainda do lado palestino), o placar fechou em 0 a 0. Israel não conseguirá reduzir drasticamente o poder de fogo do Hamas, e o Hamas não conseguirá eliminar Israel da face da Terra. Tudo vai continuar mais ou menos igual, só com menos gente dos dois lados (menos ainda do lado palestino). Essa matança serve apenas aos objetivos políticos de quem a comanda: a direita israelense que quer se manter no poder, e o Hamas quer se firmar como defensor incontestável de uma população oprimida. Mas alguns fatos novos me dão um raiozinho de esperança. Para começar, a opinião pública do mundo inteiro se voltou contra Israel - inclusive dentro dos Estados Unidos, cujo governo insiste em defender o estado judeu a qualquer custo. Além disso, a proibição das companhias aéreas ocidentais de seus voos pousarem em Tel-Aviv está funcionando como uma pesada sanção diplomática. Também é inusitado o pouco apoio que o Hamas vem recebendo do mundo árabe. O Egito, que voltou para as mãos dos militares, não quer mais saber desses aliados da Irmandade Muçulmana. E o Hizbollah, que atua na Cisjordânia e no sul do Líbano, é xiita. Não vai socorrer um grupo sunita que tem muito em comum com o estado islâmico instalado por uma franquia da al-Qaeda entre a Síria e o Iraque. No meio desse imbroglio todo, é consolador encontrar um Tumbl'r como o PalesTinder, que exibe paqueras virtuais entre palestinos e israelenses de todas as orientações. Façam amor, não façam guerra!
quarta-feira, 23 de julho de 2014
MANIA DE PERSEGUIÇÃO
A moda já chegou por aqui, com fundamentalistas de diversos matizes se dizendo tolhidos em seus direitos à liberdade de expressão e de religião. Mas, num país onde se constróem Templos de Salomão e se distribuem folhetos pregando a "jesuscracia", ainda não dá para essa turma reclamar muito. Nos Estados Unidos dá: as igrejas evangélicas de lá vêm perdendo a passos largos o poder que tinham dez anos atrás, e claro que estão se fazendo de coitadas. Um dos sintomas mais agudos dessa paranoia é o filme "Persecuted" ("Perseguido"), que conta a história de um pastor acusado de um crime que não cometeu - só porque não endossou uma lei liberal que ia contra algum de seus credos (o teor da tal lei não é revelado, mas pelo jeito devia tornar obrigatórias aulas de evolucionismo por professores gays em pleno dia de Natal). O cara então vira um fugitivo, mas felizmente, como qualquer pastor que se preza, sabe lidar bem com armas de fogo. "Persecuted" é uma produção independente visando um público-alvo bastante reduzido. Mas é desanimador pensar que este público existe.
DOWN DOWN DOWN NO HIGH SOCIETY
Na primeira versão de "O Rebu", Tereza Rachel interpretava Lupe Garcez, uma personagem descaradamente inspirada numa pessoa real: Beki Klabin, a primeira socialite a desfilar numa escola de samba. Lupe foi transformada em Vic na versão atual da novela e agora é feita por Vera Holtz. Mas qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas será mera coincidência. Meu ponto: foi-se o tempo em que havia socialites famosas o suficiente para serem retratadas na TV. Porque não existe mais a alta sociedade, pelo menos como existiu até os anos 80. Claro que ainda tem gente rica que dá festas. Mas, como num remake, mudaram roteiro e elenco.
O que eu chamo de "alta sociedade" era um grupo de pessoas que tinha mais do que dinheiro: tinha "berço". Achavam-se "bem-nascidas" (até este termo sumiu de circulação). Iam aos mesmos colégios, namoravam entre si, casavam-se e reproduziam-se em cativeiro. Quase sempre de distante origem portuguesa ("quatrocentões", como se dizia em São Paulo), com um sobrenome francês ou inglês aqui e ali. Apesar deste encastelamento, foram mudando de perfil ao longo do século 20 à medida que algumas famílias de imigrantes iam enriquecendo: primeiro os italianos, depois os árabes e os judeus. Curiosamente, os japoneses nunca foram admitidos no clube - não sei se porque a própria comunidade se isolou até a terceira geração, não sei se por racismo dos demais. Os negros, então, nem passaram perto, por causa do apartheid social que perdura até hoje no Brasil.
O "high society" era um produto cultural influente. Um Olimpo jamais criticado e por todos almejado. Sambas populares falavam em Teresa (Sousa Campos) e Dolores (Guinle). As colunas sociais eram lidas por todas as classes. Nos anos 40 surgiu a revista "Sombra", antepassada do que hoje é a "Caras" - mas com um design gráfico tão avançado que sua descendente mais parece um catálogo de supemercado. Em SP havia o caretérrimo Tavares de Miranda, que escrevia coisas como "a noite transcorreu sobre carretéis". No Rio, firmaram-se o elegante Zózimo Barroso do Amaral - tão influente que ganhou até estátua no Leblon - e o folclórico Ibrahim Sued, que, mesmo cometendo erros atrozes de português, conseguia emplacar expressões como "geração pão com cocada".
A única jornalista que ainda segue este estilo antigo é Hildegard Angel, que saiu do que sobrou online do "Jornal do Brasil" e hoje tem seu próprio site. Nos grandes jornais do Rio e São Paulo, o que era o colunismo social hoje fala mais em política e economia, ou simplesmente desapareceu. As razões são inúmeras. Antes de mais nada, o dinheiro mudou de mãos. Muitos dos ricaços de antanho hoje são "nouveaux pauvres", enquanto que cantores sertanejos, jogadores de futebol e empresários de áreas inusitadas são os novos grã-finos (outra palavra que saiu de moda). A indústria das celebridades explodiu, e hoje qualquer um se acha no direito à fama instantânea.
Mas também mudou a cultura. Hoje somos um país mais democrático, e pega mal ostentar privilégios. Ainda assim, o colunismo social persiste nas capitais das províncias e pelo interior adentro, onde figuras como Lucas Celebridade cobrem a mais finíssima maionese ainda servida nos convescotes locais. Causam impacto regional, mas viram motivo de chacota nos grandes centros. Enquanto isto, proliferam as blogueiras de moda, os eventos corporativos e os shoppings de griffes. Estes são alguns vetores da elite atual. Porque o que era a alta sociedade, com suas senhas secretas ("cântri", não "cáuntri"), evaporou feito o gás de uma champagne esquecida aberta. Tim-tim.
O que eu chamo de "alta sociedade" era um grupo de pessoas que tinha mais do que dinheiro: tinha "berço". Achavam-se "bem-nascidas" (até este termo sumiu de circulação). Iam aos mesmos colégios, namoravam entre si, casavam-se e reproduziam-se em cativeiro. Quase sempre de distante origem portuguesa ("quatrocentões", como se dizia em São Paulo), com um sobrenome francês ou inglês aqui e ali. Apesar deste encastelamento, foram mudando de perfil ao longo do século 20 à medida que algumas famílias de imigrantes iam enriquecendo: primeiro os italianos, depois os árabes e os judeus. Curiosamente, os japoneses nunca foram admitidos no clube - não sei se porque a própria comunidade se isolou até a terceira geração, não sei se por racismo dos demais. Os negros, então, nem passaram perto, por causa do apartheid social que perdura até hoje no Brasil.
O "high society" era um produto cultural influente. Um Olimpo jamais criticado e por todos almejado. Sambas populares falavam em Teresa (Sousa Campos) e Dolores (Guinle). As colunas sociais eram lidas por todas as classes. Nos anos 40 surgiu a revista "Sombra", antepassada do que hoje é a "Caras" - mas com um design gráfico tão avançado que sua descendente mais parece um catálogo de supemercado. Em SP havia o caretérrimo Tavares de Miranda, que escrevia coisas como "a noite transcorreu sobre carretéis". No Rio, firmaram-se o elegante Zózimo Barroso do Amaral - tão influente que ganhou até estátua no Leblon - e o folclórico Ibrahim Sued, que, mesmo cometendo erros atrozes de português, conseguia emplacar expressões como "geração pão com cocada".
A única jornalista que ainda segue este estilo antigo é Hildegard Angel, que saiu do que sobrou online do "Jornal do Brasil" e hoje tem seu próprio site. Nos grandes jornais do Rio e São Paulo, o que era o colunismo social hoje fala mais em política e economia, ou simplesmente desapareceu. As razões são inúmeras. Antes de mais nada, o dinheiro mudou de mãos. Muitos dos ricaços de antanho hoje são "nouveaux pauvres", enquanto que cantores sertanejos, jogadores de futebol e empresários de áreas inusitadas são os novos grã-finos (outra palavra que saiu de moda). A indústria das celebridades explodiu, e hoje qualquer um se acha no direito à fama instantânea.
Mas também mudou a cultura. Hoje somos um país mais democrático, e pega mal ostentar privilégios. Ainda assim, o colunismo social persiste nas capitais das províncias e pelo interior adentro, onde figuras como Lucas Celebridade cobrem a mais finíssima maionese ainda servida nos convescotes locais. Causam impacto regional, mas viram motivo de chacota nos grandes centros. Enquanto isto, proliferam as blogueiras de moda, os eventos corporativos e os shoppings de griffes. Estes são alguns vetores da elite atual. Porque o que era a alta sociedade, com suas senhas secretas ("cântri", não "cáuntri"), evaporou feito o gás de uma champagne esquecida aberta. Tim-tim.
terça-feira, 22 de julho de 2014
PIRLIMPIMPIM
Podem me chamar de direitista, mas não estou especialmente triste com a prisão preventiva da Sininho e seus amiguinhos. Só de saber que esses pestinhas usam apelidos como "Punk" ou "Game Over" me dá vontade de encher a mamadeira deles com coquetel molotov. Podem me chamar de velhinha de Taubaté, mas tenho cá comigo que o governo realmente descobriu algo gravíssimo que os black blocs estariam tramando para o final da Copa. Mas por que não conta o que é? Para não causar pânico na população? Para não revelar a identidade dos agentes infiltrados? Ou para não revelar que quem está por trás desses vândalos, que diminuíram com sua violência a legitimidade das manifestações por todo o país, na verdade é o próprio governo? O ministro José Eduardo Cardozo, um homem respeiteavel, deu a entender que sabe mais do que diz. Mas o mistério continua suspenso no ar. Feito pó de pirlimpimpim.
BELAS DA TARDE
Aproveitei a tarde de folga para conhecer o novo Belas Artes. Logo de cara, uma surpresa: o saguão do cinema continua idêntico ao que era na época do fechamento, três anos atrás. A bombonière continua no mesmo lugar, a lojinha também e até as placas com os nomes das salas permanecem iguais. Superado este pequeno choque, me bateu uma espécie de alívio. A geografia familiar me deu a sensação de que o tempo não havia passado. E também a de que só esfregaram um pano úmido nas instalações que já existiam. O que não é totalmente verdade: nem todas as salas já foram reabertas, e as poltronas da que eu fui estão tinindo de novas (mas podiam ser melhores - esta parece ser a maldição do Belas Artes, que nunca primou pelo conforto). Toda essa experiência foi mais intensa que o filme em si, o argentino "Filha Distante". Adoro o estilo minimalista do diretor Carlos Sorín, mas dessa vez acho que ele exagerou um pouco. Na tentativa de não soar piegas com uma história potencialmente melodramática (pai arrependido parte em busca da filha magoada), o roteiro acaba fazendo elipses demais e poupando o espectador de qualquer emoção mais forte. Mas o que importa mesmo é que um dos cinemas mais tradicionais de São Paulo está de volta, no que parece ser um movimento maior de recuperação das salas de rua. O cine Leblon do Rio de Janeiro, também ameaçado de cerrar as portas, foi salvo por uma aliança entre a prefeitura e os moradores do bairro. São notícias surpreendentes nesta época de downloads e streaming.
segunda-feira, 21 de julho de 2014
MEU PRIMEIRO TURNO
Sou sempre "xingado" de tucano aqui no blog por petistas empedernidos, mas não me sinto ofendido porque ser peessedebista não é motivo de vergonha. Acontece que eu não sou. Sim, já votei várias vezes no PSDB, mas também no PT e no PV, além de ter anulado meu voto no 2o. turno de 1989. E não, não vou de Aécio no dia 5 de outubro. Primeiro turno é para a gente votar com o coração: naquele em quem realmente acreditamos, mesmo que ele não tenha a menor chance. E, em 2014, o candidato que preenche os meus requisitos é Eduardo Jorge, do Partido Verde. O cara é médico sanitarista, tem biografia ilibada e transita bem entre as ideologias: foi secretário da saúde de São Paulo quando Erundina e Marta foram prefeitas, e do Verde e Meio Mabiente quando Kassab. Também defende um programa que eu assino embaixo: pró- LGBT, pró-maconha, pró-aborto. Nenhum dos "três grandes" faz o mesmo, e os nanicos que o fazem são de extrema-esquerda demais para o meu gosto. Eduardo Jorge deverá chegar em quinto lugar, atrás do celerado pastor Everaldo, mas eu não estou nem aí. Para mim, isto é que é não desperdiçar o voto.
TOC DE CLASSE
Giuseppe Tornatore já ganhou um Oscar e seus filmes são realmente acima da média, mas eu não consigo colocá-lo na lista dos melhores diretores em atividade. E não mudei de ideia com "O Melhor Lance", totalmente rodado em inglês numa cidade europeia não identificada (desconfio que seja Viena, por causa de um ".at."que aparece numa vitrine). O protagonista, feito muito bem pelo competente Geoffrey Rush, é um leiloeiro que despreza a humanidade e tudo o que ela toca, tanto que usa luvas o tempo todo. Prefere a companhia de obras de arte, que avalia por preços irrisórios para ele mesmo comprá-las e mantê-las numa sala secreta de seu imenso apartamento. Um belo dia, o sujeito é procurado por uma herdeira que quer se desfazer da coleção de sua família. Detalhe: ela se recusa a aparecer pessoalmente, falando primeiro pelo telefone e depois atrás de portas, num jogo de esconde-esconde que deixa o pobre leiloeiro com a pulguíssima atrás da orelha. Claro que esses dois portadores de Transtorno Obsessivo-Compulsivo acabam se envolvendo, e lá pelas tantas eu achei que se tratava da clássica fantasia do velho gagá que seduz uma moça algumas gerações mais nova. Mas o final é surpreendente, e divide opiniões. "O Melhor Lance" é longo demais, mas pelo menos é lindo de se ver e a música é de Ennio Morricone. Sua mensagem final é a de que mesmo o olho mais treinado pode ser enganado por uma boa falsificação. Mas nem assim me convenceu de que Giuseppe Tornatore seja um verdadeiro mestre do cinema.
domingo, 20 de julho de 2014
DILMA BOLADA
A campanha eleitoral mal começou e já surgiu uma notícia explosiva: neste momento, Dilma está tecnicamente empatada tanto com Aécio quanto com Campos num eventual segundo turno. Isto significa que os marqueteiros da presidenta vão fazer de tudo para liquidar a fatura já na primeira rodada. Mas é improvável que consigam. O PT jamais elegeu um presidente num turno só (se bem que teria conseguido se Lula pudesse concorrer a um terceiro mandato em 2010, quando estava no auge da popularidade). Vem artilharia pesada por aí: preparem-se para ouvir boatos cada vez mais cabeludos sobre os vícios dos candidatos da oposição, a extinção do Bolsa-Família, a venda da Amazônia aos gringos... Isto se Dilma não tiver um mal súbito e Lula não for convocado no último segundo para concorrer no lugar dela. Os próximos meses prometem fortes emoções. Brace yourselves.
sábado, 19 de julho de 2014
A GUERRA DO BRIGADEIRO
Nem havíamos nos recuperado da derrota retumbante na Copa quando fomos submetidos a mais um insulto inenarrável ao orgulho nacional. O badalado chef Jamie Oliver não gostou do brigadeiro, nem do quindim e ainda menos do beijinho. A opinião foi emitida durante uma entrevista a Barbara Gancia para o programa "Saia Justa" onde ele precisou experimentar os doces em rápida sequência, além de caldo de cana e açaí. A grita foi tão grande que a própria Barbara teve que explicar no Feice que era de manhã muito cedo, a edição deixou muita coisa de fora e os doces brasileiros têm mesmo muitíssimo açúcar para o paladar europeu. Mas não adiantou. As redes sociais continuam em armas, pedindo a cabeça de Jamie. É isso aí, gente: vamos perder tempo com o que realmente tem importância, e não com bobaginhas como a queda do avião na Ucrânia.
(a entrevista de Jamie Oliver a Barbara Gancia pode ser vista aqui.)
(a entrevista de Jamie Oliver a Barbara Gancia pode ser vista aqui.)
sexta-feira, 18 de julho de 2014
FAMÍLIA REQUEIJÃO
Só hoje que eu fiquei sabendo que a Vigor postou anteontem este anúncio em sua página no Facebook. Claro que eu preferia que a direção de arte tivesse deixado mais claro que as mãos de cada lado da foto são do mesmo sexo, e ainda mais que o anúncio fosse publicado na "Veja" - fazer este tipo de ação na internet é mole. Também desconfio que a marca esteja moderando os comentários, porque todos os que aparecem na postagem são pra lá de positivos. Não tem nem aquele novo clássico que é "virou moda, só estão fazendo isto para vender mais". Sim, porque vender mais não deveria ser o objetivo de uma empresa capitalista, não é mesmo? Mas o que importa é que o anúncio existe e que muita gente está gostando. E, de repente, "família margarina" virou uma coisa do século passado.
RIO DEGENERADO
Tenho muito orgulho em ser carioca e penso em algum dia voltar para a minha cidade natal. Mas estou aliviado por não morar no Rio neste momento. Os quatro principais candidatos a governador são todos péssimos - principalmente o Garotinho (cujo ex-secretário de segurança era cúmplice da bandidagem) e o Crivella ("bispo" da "Igreja" Universal). A campanha mal começou e nenhum deles apresenta uma clara vantagem sobre os outros. Como os cariocas costumam ser do contra, não é impossível uma reviravolta até outubro. Mas por enquanto o cenário não poderia ser mais desolador. Cadê o Fernando Gabeira quando a gente mais precisa dele?
quinta-feira, 17 de julho de 2014
IMAGINA NA COPA (DE 2018)
Semana passada o maior telejornal da Rússia noticiou que tropas ucranianas haviam crucificado um garoto de três anos em praça pública, e em seguida arrastado a mãe dele amarrada a um tanque. Tudo balela. Agora este mesmo programa está dizendo que o verdadeiro alvo do míssil que derrubou o voo MH17 da Malaysian Airlines era o avião que trazia Putin do Brasil. Ahã. Ainda não há provas, mas, tirando os russos, o mundo inteiro suspeita que os culpados pelo atentado sejam os rebeldes separatistas da Ucrânia. Mas talvez essas provas não surjam nunca - há relatos de que a caixa-preta do Boeing 777 já foi despachada para Moscou. Essa tragédia pode se tornar um desastre de relações públicas para o expansionismo russo. A imagem de Putin está tão ficando tão suja que nem mesmo uma Copa das Copas daqui a quatro anos será capaz de limpar. Mas aguardemos o desenrolar dos acontecimentos. Por enquanto, só uma coisa é certa: jamais, em hipótese alguma, embarcar num avião da Malaysian Airlines.
REBULIÇO
E aí, vocês estão gostando do remake de "O Rebu"? Eu estou, mas preciso confessar uma coisa: vai ser difícil superar as lembranças que eu tenho do original. Eu tinha acabado de completar 14 anos quando estreou a primeira versão, e decidi que já estava grandinho para acompanhar uma novela das 10 (antes eu só via os capítulos de sexta-feira, porque não tinha aula no sábado - e adorava!). Como eu ainda não tinha vida social naquela época, "O Rebu" foi a primeira e única novela da qual eu vi absolutamente todos os capítulos. E foi uma porrada, porque a trama de Braulio Pedroso era moderna a mais não poder. Além da revolucionária narrativa em três tempos diferentes (antes, durante e depois da festa), deve ter sido a primeira novela brasileira onde a homossexualidade pôs um pezinho para fora do armário. Apesar da censura vigente, para mim ficou claríssimo que o anfitrião Conrad Mahler (hoje transformado em Ângela) matou a convidada Sílvia (feita por uma Bete Mendes ainda magérrima) porque ela ousou se engraçar com seu "sobrinho" Cauê. Ao contrário da versão atual, a identidade do morto só foi revelada no meio da história. Antes só víamos um corpo de terno na piscina. Para surpresa geral, era uma mulher - em dado momento da festa, a piração foi tão grande que todas as mulheres se travestiram de homens (ai, que saudades dos anos 70). E ainda teve lesbianismo: no final, a personagem de Isabel Ribeiro largava do marido para ficar com outra mulher. Tudo muito sutil, claro. Mas ao alcance de um adolescente que ainda nem sonhava em ser viado.
(além de algumas cenas avulsas, só sobraram dois capítulos completos da versão original: o primeiro e o de no. 92, que podem ser vistos no YouTube.)
(além de algumas cenas avulsas, só sobraram dois capítulos completos da versão original: o primeiro e o de no. 92, que podem ser vistos no YouTube.)
quarta-feira, 16 de julho de 2014
CALADA NOITE PRETA
Alguns leitores me cobraram um post sobre a Vange Leonel. Eu não me sinto autorizado a fazê-lo, porque não conheço direito o trabalho dela. Claro que eu sei cantar seu maior sucesso, "Noite Preta", o tema de abertura da novela "Vamp". E lia sempre sua coluna sobre assuntos GLS na extinta "Revista da Folha" (ela alternava com o André Fischer). Mas fazia algum tempo que Vange havia saído do meu radar - será que por ser uma militante lésbica? A possível muralha entre homossexuais masculinos e femininos é um assunto recorrente. Rendeu até um ótimo artigo no site da revista Out. Mas será que essa noite preta existe mesmo? Eu não me sinto afetado por ela - afinal, uma das melhores amigas é lésbica (se bem que ela está mais para bicha honorária, já que é fã de Julie Andrews). Mas também não visito sites de meninas, não frequento as baladas delas e não sei muito o que está na moda naquele mundinho. Isto é defeito?
AS VOZES DA VEZ
Não tenho a menor paciência para bicha que choraminga suas dores em canções lentíssimas, à la Anthony (and the Johnsons) Heggarty. Achei que o inglês Sam Smith se encaixava nessa categoria sofrida quando o ouvi pela primeira vez. Mas "In the Lonely Hour", seu CD de estreia, até que traz faixas animadas - apesar do título deprê e da lentidão predominante. O rapaz está vendendo bem dos dois lados do Atlântico e tem realmente uma voz excepcional. Como também compõe, periga até engatar uma carreira longa e se tornar uma versão masculina de Adele.
Sabe "Titanium", aquela música do David Guetta que toca há dois anos sem parar? Claro que sabe: "I'm bulletproof, fire away, fire away...". Pois bem: foi Sia quem compôs. Sabe o hino da Copa, "We Are One (Ole Ola)", massacrado por Pibtull, J. Lo e Claudjeenha? Foi Sia quem compôs. Sabe "Diamonds", da Rihanna? Sim, foi Sia. Aliás, este sucesso tem bastante parentesco com "Chandelier", a faixa que abre o novo CD da moça. O que vem a seguir são mais "power ballads", em graus diferentes de animação. Mas o que me chamou mais a atenção foi o fato de Sia deliberadamente se esconder. Não aparece na capa, nem no encarte, nem no clipe. Talvez porque não seja exatamente uma beldade... Mas claro que é refrescante termos pelo menos uma cantora no pop atual que não use a própria
terça-feira, 15 de julho de 2014
DOENTES DE AMOR
Levei mais de um mês para conseguir arrastar meu marido para ver "A Culpa É das Estrelas". Eu queria ir porque me interesso por artefatos culturais de grande impacto; ele se recusava porque não gosta de histórias de garotos com câncer. No final fomos juntos e tivemos a mesmíssima opinião: o filme começa muito bem, depois desanda. Sim, os garotos têm câncer, mas a atitude realista e bem-humorada com que eles encaram a doença é quase que divertida. Está certo que o rapaz é um pouco sensacional demais para ser verdade, mas pelo menos é um só - se o livro original tivesse sido escrito por uma mulher (como o foram outros fenômenos, como "Crepúsculo", "Jogos Vorazes" e "True Blood") - o coração da mocinha estaria dividido entre pelo menos dois rapazes fantásticos. Bom, depois de uma introdução bastante razoável, o casal de pombinhos parte para Amsterdam em busca do escritor recluso que ela venera. E aí a coisa degringola ladeira abaixo, com uma cena mais ridícula que a anterior. Depois de um encontro bastante desagradável com o tal autor, eles vão passear adivinha onde? Na casa de Anne Frank! Nada como distrair uma menina que está morrendo do que levá-la na casa de uma menina que já morreu, não é mesmo? Pelamordedeus, vão numa coffee shop fumar maconha, pois vocês já estão desenganados de qualquer jeito! E depois desse escorregão, "A Culpa É das Estrelas" nunca mais se recupera. Pior: se arrasta por mais de duas horas, a ponto de fazer o espectador torcer para todo mundo morrer logo. Ou ele mesmo morrer, o que vier primeiro.
BRÓCOLIS E CHOCOLATE
Depois do lado B que foi o vídeo "Afinal, o Que Há Dentro do Armário?", o Põe na Roda agora toca do lado A: "E Fora do Armário?" traz o depoimento de quatro rapazes lindos, leves e soltos, em paz com a vida e com a própria sexualidade. Faltou um pouquinho de diversidade às histórias, todas meio parecidas, e claro que não chega aos pés daquele magnum opus que é "Não Gosto dos Meninos" (inclusive no quesito elenco, hahaha). Mas é maravilhoso saber que existem pais tão cabeça aberta quanto os desses garotos, e que o mundo já está bem diferente do que na época em que eu me assumi. E ainda há uma pertinente comparação entre brócolis e chocolate digna de entrar para os, hmmm, anais da história.
segunda-feira, 14 de julho de 2014
TEVE COPA
E foi boa. Não importa o vexame dos dois últimos jogos da nossa seleção: o saldo do campeonato foi mais do que positivo para o Brasil. Claro que houve superfaturamento, exploração política, atrasos imperdoáveis, mortes inúteis e um sem número de problemas pontuais. Mas também houve festa, empolgação, contato com o mundo exterior e quase nenhuma falha grave na infraestrutura – a mancha negra foi a queda do viaduto em BH.
A marca Brasil sai da Copa mais forte do que nunca. O país consolidou sua imagem de caloroso e animado, e ainda provou que é capaz de organizar um evento de porte planetário. Turistas e jornalistas estão voltando para casa maravilhados com nossas praias, nossos sorrisos e nossa vontade de agradar, apesar de praticamente não falarmos nenhuma outra língua. Os brasileiros ficaram mais cosmopolitas e menos caipiras. Duvido que a Rússia faça melhor.
Já a FIFA sai chamuscada. Virou sinônimo de roubalheira e intromissão. Mas não está mais de todo impune: a Operação Jules Rimet deflagrada pela Polícia Civil do RJ revelou um esquema asqueroso de câmbio negro que chega aos mais altos escalões da organização. A gangue do Blatter merecia ser esvaziada. Bastavam uns quatro países importantes se retirarem e organizarem seu próprio torneio para muitos outros virem atrás. Mas cadê patrocínio e vontade política?
Outro saldo no azul é a consciência da necessidade de reformulação de todo o futebol brasileiro. Seria ótima a contratação de um técnico estrangeiro, ou de alguém mais jovem que os brontossauros que ainda se arrastam por aí – tipo o Leonardo, por exemplo. Uma faxina na cúpula da CBF é ainda mais urgente.
Mas o melhor de tudo foi essa imensa DR que a Copa nos proporcionou. Graças às redes sociais, o Brasil discutiu consigo mesmo o país que gostaria de ser. Foram elas que nos salvaram da chorumela que as televisões tentaram impor depois do “Mineiratzen”, explodindo em piadas e reflexões.
Queremos continuar emotivos, mas não à toa. Que não se repitam as patriotadas gratuitas, nem as lágrimas de crocodilo. Poucas coisas me irritam mais do que a imagem do Thiago Silva berrando o hino com os olhinhos fechados, ou ele tendo que ser amparado pelo Felipão porque teve um chilique em campo. Seja homem, moleque. Pare de nos lembrar a todo instante que você sobreviveu a uma tuberculose, e honre a sua camisa. Chega de pensamento mágico, como bem disse a Eliane Brum num ótimo artigo que assinou para a Folha.
Também queremos ser mais eficientes e produtivos, e já temos o exemplo da Alemanha para copiar. Os tetracampeões ainda deram um show de simpatia ao doar para uma ONG o centro de treinamento que construíram em Porto Seguro, ou ao dançar com os pataxós. Quem dera que os barra bravas argentinos tivessem um décimo dessa educação.
Como será que a Copa vai influenciar as eleições? Difícil dizer. A derrota acachapante sem dúvida que contribui para o mau humor generalizado, e isto nunca é bom para quem busca a reeleição. Mas é inegável dizer que o governo fez bem quase tudo que se dispôs a fazer. Aeroportos e estádios funcionaram direitinho. Não é culpa da Dilma o escrete canarinho ter jogado tão mal.
Agora a vida volta ao normal. Ou quase. Acho que o Brasil está como aquele adolescente que foi fazer intercâmbio no estrangeiro e voltou para casa mais maduro, mais safo. Vai questionar mais e exigir mais, de si mesmo e dos outros. Se isto acontecer mesmo, será uma vitória maior que um mero hexa.
A marca Brasil sai da Copa mais forte do que nunca. O país consolidou sua imagem de caloroso e animado, e ainda provou que é capaz de organizar um evento de porte planetário. Turistas e jornalistas estão voltando para casa maravilhados com nossas praias, nossos sorrisos e nossa vontade de agradar, apesar de praticamente não falarmos nenhuma outra língua. Os brasileiros ficaram mais cosmopolitas e menos caipiras. Duvido que a Rússia faça melhor.
Já a FIFA sai chamuscada. Virou sinônimo de roubalheira e intromissão. Mas não está mais de todo impune: a Operação Jules Rimet deflagrada pela Polícia Civil do RJ revelou um esquema asqueroso de câmbio negro que chega aos mais altos escalões da organização. A gangue do Blatter merecia ser esvaziada. Bastavam uns quatro países importantes se retirarem e organizarem seu próprio torneio para muitos outros virem atrás. Mas cadê patrocínio e vontade política?
Outro saldo no azul é a consciência da necessidade de reformulação de todo o futebol brasileiro. Seria ótima a contratação de um técnico estrangeiro, ou de alguém mais jovem que os brontossauros que ainda se arrastam por aí – tipo o Leonardo, por exemplo. Uma faxina na cúpula da CBF é ainda mais urgente.
Mas o melhor de tudo foi essa imensa DR que a Copa nos proporcionou. Graças às redes sociais, o Brasil discutiu consigo mesmo o país que gostaria de ser. Foram elas que nos salvaram da chorumela que as televisões tentaram impor depois do “Mineiratzen”, explodindo em piadas e reflexões.
Queremos continuar emotivos, mas não à toa. Que não se repitam as patriotadas gratuitas, nem as lágrimas de crocodilo. Poucas coisas me irritam mais do que a imagem do Thiago Silva berrando o hino com os olhinhos fechados, ou ele tendo que ser amparado pelo Felipão porque teve um chilique em campo. Seja homem, moleque. Pare de nos lembrar a todo instante que você sobreviveu a uma tuberculose, e honre a sua camisa. Chega de pensamento mágico, como bem disse a Eliane Brum num ótimo artigo que assinou para a Folha.
Também queremos ser mais eficientes e produtivos, e já temos o exemplo da Alemanha para copiar. Os tetracampeões ainda deram um show de simpatia ao doar para uma ONG o centro de treinamento que construíram em Porto Seguro, ou ao dançar com os pataxós. Quem dera que os barra bravas argentinos tivessem um décimo dessa educação.
Como será que a Copa vai influenciar as eleições? Difícil dizer. A derrota acachapante sem dúvida que contribui para o mau humor generalizado, e isto nunca é bom para quem busca a reeleição. Mas é inegável dizer que o governo fez bem quase tudo que se dispôs a fazer. Aeroportos e estádios funcionaram direitinho. Não é culpa da Dilma o escrete canarinho ter jogado tão mal.
Agora a vida volta ao normal. Ou quase. Acho que o Brasil está como aquele adolescente que foi fazer intercâmbio no estrangeiro e voltou para casa mais maduro, mais safo. Vai questionar mais e exigir mais, de si mesmo e dos outros. Se isto acontecer mesmo, será uma vitória maior que um mero hexa.
TENDE A ZERO
O Monty Python voltou a se reunir justamente no momento em que sai o novo filme de Terry Gilliam, o membro do grupo que se tornou um diretor renomado. Renome injustificado por este trabalho: "O Teorema Zero" se pretende moderninho, mas já nasce velho. Apesar da trama envolver hackers e sexo virtual, tanto a direção de arte à la "Blade Runner" como a mensagem central - "o mundo é controlado pelas corporações" - tem cheiro de anos 80. Isto nem seria tão grave se o roteiro não andasse em círculos, ou se Christoph Waltz, com os cabelos e as sobrancelhas raspadas, não doesse tanto nos olhos. A única coisa de que eu realmente gostei foi a pequena participação de Tilda Swinton, irreconhecível e engraçadíssima. O resto é quase um zero à esquerda.
domingo, 13 de julho de 2014
BRASIL, DECIME QUÉ SE SIENTE
Diga-me como você está se sentindo. Despesperado, por causa de mais uma derrota da seleção? Aliviado, porque essa porra de Copa tá acabando? Ou meio apático, como eu, porque esse timeco que está aí não merece choro nem vela? Minha preocupação agora é outra: por quem torcer na final de hoje?
Minhas razões para torcer pela Argentina:
1) Adoro o país. Já estive em Buenos Aires umas 25 vezes e me mudaria para lá amanhã se fosse preciso. Amo a comida, a música, o idioma, a Mafalda, a mentalidade tragicômica.
2) Bairrismo. A Europa jamais venceu uma Copa nas Américas, e não haveria de ser agora. Prefiro ver felizes meus hermanos amigos do que um bando de comedores de chucrute.
3) As chances da Dilma se reeleger diminuiriam!
4) Fernando Gago.
Minhas razões para torcer pela Alemanha:
1) O time deles realmente é melhor. Melhor preparado, mais entrosado, menos dependentes de estrelas individuais.
2) Ia ser bom para a alma ver os hermanos levarem uma goleada também, né não? Ainda mais depois deles nos insultarem com o hino "Brasil, Decime Qué Se Siente".
3) Sami Khedira.
E você, para que lado pende seu coração?
Minhas razões para torcer pela Argentina:
1) Adoro o país. Já estive em Buenos Aires umas 25 vezes e me mudaria para lá amanhã se fosse preciso. Amo a comida, a música, o idioma, a Mafalda, a mentalidade tragicômica.
2) Bairrismo. A Europa jamais venceu uma Copa nas Américas, e não haveria de ser agora. Prefiro ver felizes meus hermanos amigos do que um bando de comedores de chucrute.
3) As chances da Dilma se reeleger diminuiriam!
4) Fernando Gago.
Minhas razões para torcer pela Alemanha:
1) O time deles realmente é melhor. Melhor preparado, mais entrosado, menos dependentes de estrelas individuais.
2) Ia ser bom para a alma ver os hermanos levarem uma goleada também, né não? Ainda mais depois deles nos insultarem com o hino "Brasil, Decime Qué Se Siente".
3) Sami Khedira.
E você, para que lado pende seu coração?
EMERGINDO DAS ÁGUAS
Minha primeira reação ao saber que o nadador australiano Ian Thorpe tinha saído do armário foi quase que de raiva. O cara chegou a processar jornalistas e artistas que, segundo ele, o "difamavam". Também jurou de pés juntos que era hétero em sua autobiografia, lançada há apenas dois anos. Mas claro que Thorpe merece aplausos por finalmente ter encontrado a coragem de ser quem é. Aposto como agora suas crises depressivas irão diminuir, e que seu caso sirva como exemplo inspirador para quem ainda sofre no escuro.
Em tempo: não, o Neuer não é gay. O lindo goleiro da seleção alemã anda dizendo por aí que os atletas gays devem se assumir. Mas, segundo consta, ele ainda joga no time dos HTs. Ou então vai ver que só está precisando de mais um tempo, como o Ian Thorpe. Tomara...
Em tempo: não, o Neuer não é gay. O lindo goleiro da seleção alemã anda dizendo por aí que os atletas gays devem se assumir. Mas, segundo consta, ele ainda joga no time dos HTs. Ou então vai ver que só está precisando de mais um tempo, como o Ian Thorpe. Tomara...
sábado, 12 de julho de 2014
PELO RESTO DA VIDA
"Ou Você Poderia me Beijar" conta uma história banal: um casal se conhece, se apaixona e passa o resto da vida junto. O que os torna ligeiramente diferentes é o fato de serem dois homens, e por isto não contarem com o apoio legal que a sociedade oferece aos héteros. A romântica peça do sul-africano Neil Bartlett fez muito sucesso em São Paulo no começo deste ano, e agora voltou ao cartaz graças ao sistema de crowdfunding. A encenação no minúsculo Núcleo Experimental de Teatro dá ao espectador a sensação de estar mesmo no apartamento do tal casal, interpretado por três duplas de atores em três idades diferentes. Há um pouco de narração demais, e quem mais aparece em cena é a própria narradora - pelo menos a atriz Clara Carvalho é fantástica. Também há muita cantoria, tanta que a certa altura achei que o espetáculo tinha se transformado num tributo a Barbra Streisand. Mas não é ruim sair do teatro cantarolando "What Are You Doing the Rest of Your Life?".
sexta-feira, 11 de julho de 2014
TRABALHO DE HERCULES
Esta semana eu cismei com "I Try to Talk to You", a primeira música realmente boa do projeto Hercules & Love Affair desde o megahit "Blind" de 2008. A faixa nem é tão nova assim: já vem sendo tocada ao vivo faz dois anos, e o vídeo acima saiu há quase três meses. Não postei antes porque não achei os caras gatos o suficiente, mas só hoje fiquei sabendo que a letra foi escrita pelo vocalista John Grant quando ele se descobriu soropositivo. Isso muda o jogo.
quinta-feira, 10 de julho de 2014
REAGE, CERSEI
Saíram hoje as indicações ao Emmy. Como sempre, a Academia de Televisão foi extremamente conservadora e continuou nomeando séries e atores que não mereciam. A quarta temporada de "Downton Abbey" foi um ligeiro desastre, mas mesmo assim foi lembrada. E cadê Michael Sheen, por "Masters of Sex"? Cadê, ó Senhor, Tatiana Maslany, por seus trocentos personagens em "Orphan Black"? Pelo menos "Orange is the New Black" dominou a categoria "atriz convidada". E meu amado "Game of Thrones" recebeu nada menos que 19 indicações, mais que qualquer outro programa. Mesmo assim, o glorioso Charles Dance foi ignorado - e era sua última chance de concorrer como Tywin Lannister. Pelo menos seus filhos Tyrion (Peter Dinklage) e Cersei (Lena Headey) estarão lá, no dia 25 de agosto, quando os vencedores forem anunciados. Amei a reação dela...
O CRISTO É NOSSO
A arquidiocese do Rio de Janeiro acha que o Cristo Redentor é dela, mas não é. O Cristo é do Rio, do Brasil e do mundo. É inadmissível a censura ao segmento "Inútil Paisagem", um dos dez que compõem o filme "Rio Eu Te Amo". Dirigido por José Padilha, o curta mostra Wagner Moura voando de asa delta e dialogando com a estátua. Mas a Igreja achou-o "ofensivo", e a produtora Conspiração, com medo de um processo, deixou-o de fora do corte final do longa, que precisa estrear em setembro. Faltou-lhe o culhão da Bel-Ami, que rodou a abertura de um de seus pornôs gays em pleno Vaticano. Está mais do que na hora da prefeitura desapropriar o símbolo máximo dos cariocas. Fica a dica para o próximo alcaide.
quarta-feira, 9 de julho de 2014
ORANGE IS THE NEW YELLOW
Por que agora vou torcer para a Holanda?
- Porque ela já participou de três finais de Copa do Mundo e nunca levou. Uma injustiça histórica com um dos países de maior tradição no futebol.
- Porque não existe clima de rivalidade entre nós e eles. Os caras sabem se divertir, e foram recebidos com festa por aqui. Um pretexto para tormarmos um porre juntos.
- Porque a Holanda é sério candidato a país mais liberal do mundo. Lá pode tudo. Tem casamento gay, bar de maconha, aborto legalizado, rainha argentina e até um partido dos pedófilos (não estou brincando). É uma espécie de Uruguai do hemisfério norte.
- Ah, e tem também um povo bonito pacaray.
- Last but not least: porque meu sobrenome tem origem holandesa...
- Porque ela já participou de três finais de Copa do Mundo e nunca levou. Uma injustiça histórica com um dos países de maior tradição no futebol.
- Porque não existe clima de rivalidade entre nós e eles. Os caras sabem se divertir, e foram recebidos com festa por aqui. Um pretexto para tormarmos um porre juntos.
- Porque a Holanda é sério candidato a país mais liberal do mundo. Lá pode tudo. Tem casamento gay, bar de maconha, aborto legalizado, rainha argentina e até um partido dos pedófilos (não estou brincando). É uma espécie de Uruguai do hemisfério norte.
- Ah, e tem também um povo bonito pacaray.
- Last but not least: porque meu sobrenome tem origem holandesa...
HEPTACOMBE
7 a 1. O hexa tão sonhado pelo Brasil veio no saldo de gols – para a Alemanha. A “heptacombe” do Mineirão já entra para a história como o maior vexame de todos os tempos. Um grupo de moleques mimados e chorões, que achava ser possível ganhar o título apenas berrando o hino a capella, foi esmigalhada pela blitzkrieg teutônica na mais surreal meia hora que o futebol jamais presenciou.
Foi então que uma coisa curiosa aconteceu. Depois de sofrer com os quatro primeiros gols, ali pelo quinto eu desencanei. E me descolei. Da seleção, da Copa do Mundo, do Brasil. São esses jogadores mal treinados que estão perdendo, não eu. Que se fodam. Eu vou é zoar.
Parti para o bullying sem piedade, e me esbaldei nas redes sociais. Vi que não estava sozinho. Muita gente postava memes e piadas sobre o apagão canarinho. Até em site argentino eu entrei – e constatei que os memes deles são péssimos. Em campeonato de humor negro, nós ainda ganhamos de goleada.
O que vai se passar daqui para a frente é impossível dizer. Não há precedente, apesar de muitos países já terem perdido Copas em casa. Mas a expectativa por aqui era imensa. Gastamos fortunas com uma festa esplendorosa, e agora há um cadáver flutuando na piscina – o nosso. Parece o enredo de “O Rebu”.
Claro que ainda não dá para dizer que Dilma não será reeleita, e o histórico recente mostra que o desempenho do Brasil na Copa não afeta as eleições. Mas também é óbvio que esse fiasco não é bom para a presidenta. O mau humor nacional, aliviado por um instante pelo desenrolar tranquilo do torneio, acaba de ganhar um reforço considerável.
Mas esse mau humor é direcionado: ao governo, à FIFA, à CBF, ao Felipão. Na internet, estamos rindo a mais não poder (este é inclusive o tema da minha coluna de hoje no F5). Isso demonstra maturidade, e também que o Brasil é um país mais complexo do que se pensava.
Aprendemos o verdadeiro significado da expressão “se foder de verde e amarelo”. Mas agora chega. Vou torcer para a Holanda – além do mais, para termos a chance de vencer a Argentina no sábado. Bye bye Brasil, a última ficha caiu.
terça-feira, 8 de julho de 2014
NO ESCURO
O Põe na Roda é mais do que uma variante gay do Porta dos Fundos. Nem tudo é graça no canal do Pedro HMC e sua gangue. O vídeo que eles postaram hoje é de cortar o coração, mas também inspirador. É uma espécie de versão em negativo do célebre "Não Gosto dos Meninos", do qual eu tive a honra de participar três anos atrás. Lá contávamos como foi nosso processo de saída do armário; aqui, garotos que ainda estão trancafiados compartilham seus dramas. Quase todos vêm de famílias evangélicas, e nessa hora eu agradeço a Deus por não ter nascido numa. O que essa molecada sofre é escandaloso, ainda mais nos dias de hoje. "Afinal, O Que Há Dentro do Armário?" acaba funcionando como antídoto para o veneno homofóbico expelido por pastores e afins. É meio longo, mas tem um desfecho surpreendentemente feliz e corajoso. Assista até o fim!
CONDENADA A SER MÃE
Eu adoro uma comédia maluca, e se tiver humor negro, melhor ainda. "Uma Juíza Sem Juízo" parecia cumprir todos os requisitos. Um dos maiores sucessos do ano passado na França, o filme conta a história de uma juíza durona que se descobre grávida e não sabe como. Há muita violência deliciosamente gratuita, com membros decepados, olhos vazados e porradas na cabeça. Também há uma edição frenética e um bom elenco - Sandrine Kiberlain, inlcusive, ganhou o César de melhor atriz, derrotando divas como Catherine Deneuve e Fanny Ardant. Mas alguma coisa não funcionou para mim. Não sei se foi a investigação policial que toma conta da segunda parte do filme, com desfecho mais do que previsível. Ou a escura projeção digital da sala onde eu estava, tem que ver isso aí. "Uma Juíza Sem Juízo" vai sair de cartaz em breve. Não fique triste se você perder: quase todas as piadas estão no trailer acima.
segunda-feira, 7 de julho de 2014
DRAMATIS PERSONAE
Sei muito bem porque de repente fiquei tão interessado na Copa do Mundo. Não, não me entusiasmei pelo futebol - concordo com muitos americanos e continuo achando um saco ver um jogo onde não acontece nada a maior parte do tempo. Tampouco estou fascinado pela beleza escultural de alguns jogadores (e, entre as seleções semifinalistas, juro que ainda não vi ninguém que me fale ao pau). Nada disso: o que tem me feito ler os comentaristas esportivos é o bom e velho drama.
Todo esporte tem potencial dramático, mas acho que nenhum tem mais que o futebol. Talvez porque empurrar algo com os pés seja muito mais difícil do que com as mãos, quase antinatural. Abre-se uma janela para o imponderável, e de repente um time de várzea derrota um campeão. As súbitas viradas de placar e a instabilidade dos desempenhos individuais dão a sensação de que tudo é possível. Quem diria que a Costa Rica chegaria tão longe? Ou que Neymar seria abalroado aos 44 do segundo tempo de um jogo que já estava praticamente ganho pelo Brasil?
A tragédia pessoal do nosso maior jogador foi aliviada pela comédia que está se desenrolando até agora nas redes sociais. Num primeiro momento, quis-se o sangue de Zuñiga. Uma candidata a deputada do Rio Grande do Sul não conteve sua fúria assassina nem quando chamada à razão. A atriz Deborah Secco postou uma foto sua na praia e foi patrulhada por um maluco, que a criticou por estar sorridente num momento de luto nacional. Claro que a reação não se fez demorar: Galvão Bueno foi atacado por incitar o ódio ao jogador colombiano, e na sequência já tinha nego reclamando que se estava dando muito mais atenção à vértebra fraturada do que ao viaduto que desabou em BH. Vi até uma recalcada, para usar a palavra da moda, vociferando que importante mesmo eram os professores de tal estado que não receberam salários, ou as criancinhas, a fome, a corrupção, a violência, world peace. Uma demonstração interessantíssima de como as opiniões ricocheteiam feito balas perdidas na era da internet.
Agora Neymar está até ameaçando jogar no domingo se o Brasil for à final, e começamos a desconfiar que a grave lesão do maior fiteiro do futebol atual, inspirador do "Divo" dos Simpsons, talvez não seja tão grave assim. Já pipocam as primeiras piadas a respeito, como o meme que ilustra este post. Claro que ainda é cedo para dizer que o drama se esvaiu em risos: amanhã temos uma partida duríssima pela frente e, mais uma vez, tudo pode acontecer. Obaaa.
Todo esporte tem potencial dramático, mas acho que nenhum tem mais que o futebol. Talvez porque empurrar algo com os pés seja muito mais difícil do que com as mãos, quase antinatural. Abre-se uma janela para o imponderável, e de repente um time de várzea derrota um campeão. As súbitas viradas de placar e a instabilidade dos desempenhos individuais dão a sensação de que tudo é possível. Quem diria que a Costa Rica chegaria tão longe? Ou que Neymar seria abalroado aos 44 do segundo tempo de um jogo que já estava praticamente ganho pelo Brasil?
A tragédia pessoal do nosso maior jogador foi aliviada pela comédia que está se desenrolando até agora nas redes sociais. Num primeiro momento, quis-se o sangue de Zuñiga. Uma candidata a deputada do Rio Grande do Sul não conteve sua fúria assassina nem quando chamada à razão. A atriz Deborah Secco postou uma foto sua na praia e foi patrulhada por um maluco, que a criticou por estar sorridente num momento de luto nacional. Claro que a reação não se fez demorar: Galvão Bueno foi atacado por incitar o ódio ao jogador colombiano, e na sequência já tinha nego reclamando que se estava dando muito mais atenção à vértebra fraturada do que ao viaduto que desabou em BH. Vi até uma recalcada, para usar a palavra da moda, vociferando que importante mesmo eram os professores de tal estado que não receberam salários, ou as criancinhas, a fome, a corrupção, a violência, world peace. Uma demonstração interessantíssima de como as opiniões ricocheteiam feito balas perdidas na era da internet.
Agora Neymar está até ameaçando jogar no domingo se o Brasil for à final, e começamos a desconfiar que a grave lesão do maior fiteiro do futebol atual, inspirador do "Divo" dos Simpsons, talvez não seja tão grave assim. Já pipocam as primeiras piadas a respeito, como o meme que ilustra este post. Claro que ainda é cedo para dizer que o drama se esvaiu em risos: amanhã temos uma partida duríssima pela frente e, mais uma vez, tudo pode acontecer. Obaaa.
domingo, 6 de julho de 2014
PARA REFLETIR
O terror está voltando à moda no cinema. Depois de um longo período durante o qual o gênero foi dominado por filmes violentíssimos e sem qualquer suspense, produções com alguma sutileza vêm pipocando aqui e ali. Uma delas é "O Espelho", o primeiro longa de terror que me fez pagar ingresso em mais de dez anos. Rodado com atores pouco conhecidos e muito bem decupado, o filme é pródigo em sustos e consegue manter a dúvida até o final: afinal, o tal do espelho é mesmo o responsável por uma sangrenta tragédia familiar, ou é tudo loucura e/ou imaginação dos protagonistas? Assisti com olhar técnico, pois estou trabalhando num roteiro arrepiante há alguns meses (e não sou só eu: há um monte de projetos brasileiros retomando esse filão). Talvez por causa disso, não consegui me assustar em nenhum momento. Ou talvez eu estivesse no lugar errado. Para realmente se apavorar com um filme de terror, a gente precisa vê-lo na TV, à noite. Com mais ninguém em casa além de uma presença maligna à espreita.
sábado, 5 de julho de 2014
LIEBESTOD
A série "Penny Dreadful" mistura numa mesma história todos os clássicos do terror surgidos na Inglaterra no século 19, mas só conseguiu se tornar realmente fabulosa no capítulo quatro. Ao som do "Liebestod" da ópera "Tristão e Isolda", o cowboy interpretado por Josh Hartnett chamou na chincha ninguém menos que Dorian Gray. Com quase uma década de atraso, Josh enfim beijou um homem em frente às câmeras - ele fez teste para "Brokeback Mountain", sabia?
SANGUE AZUL
Foi a imagem mais bonita dessa Copa até agora. Um gesto de nobreza que me deu, sim, orgulho de ser brasileiro. E uma aula de civilidade aos brucutus que vaiam o hino dos adversários ou que criam comerciais de cerveja onde os torcedores estrangeiros são humilhados. David Luiz não só marcou um gol espetacular como pediu aplausos para James Rodríguez, que tombou com honra e glória - como, aliás, quase todas as seleções desclassificadas até o momento. A verdade é que esta Copa está equilibrada, sem fenômenos nem pernas-de-pau, resultado de quase todos os craques jogarem no futebol europeu. E vem cá, que é que deu em mim que agora estou lendo o caderno de esportes?
sexta-feira, 4 de julho de 2014
A COPA DO CÃO
Triumph the Insult Comic Dog é uma espécie de Louro José dos infernos. Personagem fixo do talk show de Conan O'Brien, ele não livra a cara de nenhum dos convidados do programa. E não poderia deixar essa Copa passar batida, talvez a primeira que realmente mexeu com os americanos. Por ser um escroto, Triumph compartilha da visão de Ann Coulter de que futebol é coisa de chicano, e vai tirar onda nos bares de Nova York onde as torcidas de expatriados de diversos países se reúnem para ver os jogos. Só quem entende inglês vai captar todas as nuances, mas dá para perceber a comparação genital que o totó faz entre as seleções do Japão e da Costa do Marfim. E no final ele vem ao Brasil em busca da única coisa que, segundo ele, nós temos melhor que os Estados Unidos...
quinta-feira, 3 de julho de 2014
AS GAROTAS DO VERÃO
Do hemisfério norte, que fique claro. Esta é a época do ano em que são lançados os hits mais saltitantes, e nenhum saltita mais do que "Something New". Foi produzido por Quincy Jones a partir de seu clásssico "Soul Bossa Nova" (que serviu de tema dos filmes do Austin Powers), para reembalar a cantora de jazz Nikki Yanofsky como uma versão reloaded de Amy Winehouse. A moça certamente canta bem, mas não tem uma voz inconfundível como o da diva do neo-soul, morta já faz três anos. Seu álbum "Little Secret" é agradável, só que não vai entrar para a história. Next!
Lana del Rey foi tão hypada em 2012, mas tão hypada, que a crítica caiu de pau em seu disco de estreia, o ótimo "Born to Die". Essa mesma crítica agora cai de amores por "Ultraviolence", mais sombrio e bem pouco apropriado para dias de calor. Ela continua soando dramática, com letras que beiram o pornô. As novidades são sua voz, mais encorpada, e os arranjos, mais etéreos - cortesia do produtor Dan Auerbach, da banda Black Keys. Para ouvir com atenção.
Não posso deixar de fora o que já é o maior sucesso do momento: "Problem", de Ariana Grande - a versão reloaded de Mariah Carey - e participação da hypada Iggy Azalea. A princípio achei sem melodia, depois viciei. Hits são assim mesmo.
IRANIAN FAMILY
Os Estados Unidos e o Irã não mantêm relações diplomáticas nem nenhum tipo de acordo comercial. Por isto, a televisão iraniana se sentiu à vontade para fazer um remake pirateado de "Modern Family", sem pagar um tostão de direitos autorais aos criadores da série original. O resultado é revelador, como se pode perceber no vídeo comparativo aí em cima. Apesar do abismo que separa as duas culturas, muitas piadas funcionam dos dois lados, o que prova que família é mais ou menos tudo igual. Quer dizer, mais para menos do que para mais: é claro que no Irã o casal gay foi substituído por um hétero. Pior ainda é o personagem da Sofía Vergara, que aparece embrulhada em véus da cabeça aos pés.
quarta-feira, 2 de julho de 2014
BANDEIRAS ARRIADAS
Há um trecho da praia de Ipanema onde todas as barracas da praia ostentam bandeiras do arco-íris. Ou pelo menos ostentavam: uma matéria de "O Globo" conta que muitos barraqueiros baixaram essas bandeiras durante a Copa, temerosos de espantar os turistas homofóbicos. Já tem bicha revoltada jurando que vai boicotar esses vira-casacas quando a Copa terminar, mas o quê que elas achavam? Que esses comerciantes da areia fossem mesmo paladinos da causa LGBT? O-bóvio que não: essa turma faz o que lhes parecer melhor para os negócios, doa a quem doer. Por isto mesmo, apoio o boicote. Já que o dinheiro fala, que o nosso fale mais alto.
(Obrigado ao Mauricio pela dica)
(Obrigado ao Mauricio pela dica)
Assinar:
Postagens (Atom)