segunda-feira, 30 de junho de 2014

A TARA VOLTOU

Engraçado, depois do capítulo de ontem voltei a gostar de "True Blood".

A ESCOLHA DE GRADY SMITH

Boa parte da estratégia do movimento LGBT consiste em apresentar gays e lésbicas como pessoas "normais". Bem ajustadas, felizes, inofensivas. Tem dado muito certo. Gente que era homofóbica de nascença muda de ideia quando descobre que aquele colega de trabalho, tão simpático e engraçado, gosta do mesmo sexo. Mas agora o outro lado começa a reagir com uma arma parecida. Está causando celeuma nos Estados Unidos o blog e o vídeo de Grady Smith, ex-jornalista da revista "Entertainment Weekly". Num primeiro post, ele saiu do armário como cristão - como se isto fosse algo passível de perseguição nos dias de hoje. Mas depois o rapaz chamou mesmo a atenção ao se declarar cristão e gay, e que isto não era mutuamente excludente. Porque ele simplesmente escolheu sufocar seus desejos por outros homens, já que a Bíblia, em seu entender, condena a homossexualidade. Grady repete muitas vezes que tem fé em Jesus como o salvador do mundo, mas baseia seu autossacrifício no Antigo Testamento - o mesmo que endossa a escravidão o mesmo tempo em que condena o consumo de crustáceos e carne de porco. É sempre bom lembrar que não há uma só palavra registrada de Jesus sobre a homossexualidade. Nem nos evangelhos oficiais, nem nos apócrifos. E a única passagem no Novo Testamento que é explicitamente contra os gays é assinada por Paulo, o apóstolo que não conheceu Jesus pessoalmente.

Mas chega de teologia. O que interessa aqui é o peso da mensagem de Grady. Claro que ele, enquanto adulto e vacinado, tem o direito de fazer o que quiser com sua sexualidade. Inclusive ignorá-la. Não é diferente de um padre que faz voto de castidade por vontade própria. Mas Grady diz que não quer convencer ninguém, nem condenar quem faz o contrário. Hmmm. Se não quisesse convencer, não teria escrito nada nem criado um canal próprio no YouTube. E já tem gente nos comentários (todos muito educados, obviamente moderados por ele) dizendo que vai mostrar o vídeo para o sobrinho que está "passando por uma fase difícil". Aí é que mora o perigo. Grady é bonito, bem-sucedido, quase hipster. Passa a sensação de estar de bem com a vida. E também pode passar o recado de que é perfeitamente possível sublimar o tesão e ser feliz. Olha, também não vou condenar: para ele vai ver que é mesmo. Mas seu jeitão afável pode ser usado para reprimir, de maneira aparentemente amigável, jovens que estejam tentando conciliar sua sexualidade com a formação religiosa que receberam.

Grady Smith está sendo criticado nos sites gays americanos. No Towleroad, já tem nêgo fazendo contagem regressiva para ele ser flagrado num bar de bichas. Bom, pelo menos o cara não se declara "curado", nem está namorando mulher. E seu público-alvo preferencial nem são os LGBT, mas os fundamentalistas. Dá para perceber que o que ele quer mesmo é ser recebido de braços abertos por esta turma, a sua turma, já que estaria "fazendo a sua parte". O que me dói é Grady Smith que vai ser, sim, usado como um exemplo a ser seguido. Tomara que não estrague a vida de muita gente. E o que me consola é que a pulsão erótica é o instinto mais básico de todos. Apesar de algumas derrotas aqui e ali, ela costuma vencer os embates que tem com a busca pelo divino. Amém.

(Para ler o post e assistir ao vídeo de Grady Smith, clique aqui.)

domingo, 29 de junho de 2014

45 DO PRIMEIRO TEMPO

Agora virou moda questionar a importância de Stonewall. Historiadores americanos dizem que a famosa revolta dos frequentadores de um bar gay em Nova York, que resistiram à força a mais uma blitz da polícia, não pode ser considerada o marco zero do movimento LGBT. Antes dela já existiam militantes, organizações e revistas - tudo meio por baixo do pano, mas existiam. Para mim não importa: quem realmente causou impacto, no noticiário e na cultura, foram aquelas bichas corajosas cansadas de ir em cana. É por causa delas que 28 de junho é o Dia do Orgulho Gay, e por causa delas que surgiu a parada gay de Nova York, alma mater de todas as outras paradas do planeta. A revolta de Stonewall completou ontem 45 anos, e é realmente impressionante o que se conquistou desde então. Mais de 20 países já reconhecem o casamento entre pessoas do mesmo sexo, e um rolo compressor está passando pelos estados americanos que ainda não o permitiam. Mas toda ação gera uma reação. No Brasil, os evangélicos se unem em torno do pastor Everaldo para exigir, em troca de apoio no segundo turno, não só cargos federais como também políticas públicas contra os homossexuais e as mulheres. No mundo, a ONU - cuja assembleia-geral está sendo presidida por um homofóbico de Uganda - acaba de aprovar uma resolução que não reconhece as famílias formadas por gays como dignas de proteção. Só quero lembrar que, apesar das cores no topo do Empire State Building, a luta continua. Pra variar.

O PAÍS DOS ORANGOTANGOS

Os deuses do joga-bonito foram impiedosos com os brasileiros. Tenho certeza de que eles tiveram sua fúria atiçada pela vaia que a torcida presente no Mineirão dedicou ao hino do Chile, mil vezes mais grave do que a que saudou a presidente na abertura da Copa. O Chile é nosso convidado, e um anfitrião tem um código de honra a cumprir. Mas dessa vez a tal da "elite branca" extrapolou, mostrando que somos mesmo um país de orangotangos. "Ah, mas não foi o hino que foi vaiado", alegam os babacas. "Foi porque os chilenos continuaram cantando a capella, copiando os brasileiros". Sim, claro, porque o hino a capella é registrado pelo Brasil no Fórum Universal de Marcas e Patentes, e ai daqueles que nos imitar, não é mesmo? Que vergonha... Essa manifestação simiesca contradisse um post meu da semana passada, onde eu dizia que estávamos ficando menos jecas graças ao contato com estrangeiros que a Copa está nos proporcionando. Pelo menos o castigo divino não se fez esperar: o Brasil fez uma péssima partida, com um time que não tem o menor gabarito para ser campeão do mundo. Vamos ver se aprendemos a lição e poupamos o hino dos colombianos na próxima sexta.

sábado, 28 de junho de 2014

EAU DE PANACHE


Nunca fui muito fã do cinema de Wes Anderson, mas dessa vez ele acertou na mosca - ou pelo menos me acertou. 'O Grande Hotel Budapeste" entrega tudo o que o trailer promete: é uma comédia destrambelhada com uma direção de arte deslumbrante e uma pá de atores famosos usando bigodinhos ridículos e/ou fazendo sotaques bizarros. Nenhum deles está melhor do que Ralph Fiennes, que demonstra com espantoso timing cômico a tremenda injustiça de jamais ter ganho um Oscar. A trama é meio sem pé na cabeça, mas isto é o que menos importa: num país imaginário da Europa Oriental, o gerente de um hotel de luxo herda uma fortuna de uma de suas clientes milionárias, durante uma invasão por tropas estrangeiras. Só que este país não é a Hungria (o Budapeste do nome do hotel é gloriosamente gratuito), as tropas não são exatamente nazistas e assim por diante. O filme é uma imagem da realidade distorcida por espelhos de parque de diversões, e também uma ode às boas maneiras. O protagonista exige se banhar com Eau de Panache, seu perfume predileto, mesmo quando está na cadeia, e solta mesuras e bon mots nas horas mais impróprias. Dá para perceber que todo o elenco se divertiu muito, e eu me diverti também. Viva a civilização.

ÁFRICA DO LESTE

Num mundo onde parece surgir pelo menos um país novo todo ano e onde até no Brasil sobrevivem movimentos separatistas, é de cair o queixo que cinco nações estejam pensando em se juntar numa só. O Quênia, a Tanzânia, Uganda, Ruanda e Burundi ressuscitaram a ideia da Federação da África Oriental, que no entanto ainda não tem data certa para acontecer. Primeiro vão unificar as moedas, depois verão como é que fica. A fusão faz todo sentido: apesar de serem compostos por tribos diversas, estes países compartilham muitos aspectos culturais. O swahili é falado em toda parte, a colonização britânica foi predominante (apear de alemães, belgas e franceses também terem passado por lá) e não existem graves conflitos religiosos. Juntos eles controlarão nada menos do que o conjunto de lagos que formam as nascentes do Nilo, e farão um país mais populoso que a Rússia, o Japão ou o México. Fértil, com paisagens sensacionais e fauna espetacular. Mas será apenas o quarto maior da África, e a 51a. economia do mundo.

Já existe até mesmo uma bandeira, e fala-se em Arusha, uma cidade na Tanzânia perto da fronteira com o Quênia, como capital.  Somália e Sudão do Sul também querem participar, mas a guerra civil que grassa nesses lugares faz com que sejam indesejáveis no momento. Torço para que dê certo: nenhum outro continente tem uma divisão política mais forçada do que a África. Mas tenho medo da miopia e das ambições políticas locais - não custa lembrar que o presidente de Uganda só aprovou uma lei criminalizando a homossexualidade para agradar ao seu ignorante eleitorado. Já pensou se esta barbaridade se multiplica por cinco?

sexta-feira, 27 de junho de 2014

O ENIGMA FRANCÊS

O diretor francês Cédric Klapisch faz filmes adoráveis, que no entanto evaporam da minha memória sem deixar muitas marcas. Assisti a "O Albergue Espanhol" e, alguns depois, a sua continuação, "Bonecas Russas", e lembro de bem pouca coisa. Quero dizer, lembro do elenco, sempre liderado pelo incrível Romain Duris - e que ele ficava se dividindo entre várias mulheres. Mais nada. Agora fui ver o filme que encerra a trilogia, "O Enigma Chinês", e não é que me diverti muito? É leve sem ser imbecil, e quem não viu os anteriores pode ver sem medo. Mas continuo não lembrando do resto...

CRISTÃO-NOVO

A política brasileira é uma enorme palhaçada, então não causa o menor espanto a filiação do Dr. Rey ao PSC. Mas deveria causar: Dr Rey? No Partido Social Cristão?? Difícil identificar o cristianismo no afeminado cirurgião da Rede TV!, especialista em apalpar bundas no vídeo. Mas seu ideário direitista soa sincero (e desinformado, claro), e ele pode provocar um arrastão de votos para o partido em outubro. Aliás, preparem-se para a campanha do pastor Everaldo, que periga chegar na frente do Eduardo Campos: os gays vão ser usados como pano de chão. E pensar que essa corja fazia parte da base do governo até anteontem... Só espero que Jean Wyllys e outros candidatos progressistas também cheguem ao Congresso, caso contrário o Brasil estará realmente andando para trás. Mas eu tenho esperança. Pouca, mas tenho.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

CARTÃO VERMELHO

As internets entraram em polvorosa por causa de um artigo da colunista americana de extrema direita Ann Coulter onde ela detona o futebol e a Copa do Mundo. Ann é uma palhaça muito inteligente, que escreve barbaridades com uma verve que seus similares brasileiros nem suspeitam que exista. Mas também é extraordinariamente ignorante, ou pelo menos se faz de. Na tal coluna (que pode ser lida aqui, em inglês), ela diz nada menos que gostar de futebol é um sintoma de decadência moral de um país. Ou seja: o mundo inteiro está indo para o brejo, menos os Estados Unidos. Ou melhor, os EUA também estão, por causa dos imigrantes que chegaram desde a decada de 1960 (basicamente latinos) e contaminaram o país com sua cultura estragada. Segundo Ann, futebol, não pode ser considerado esporte porque seus jogadores não se arriscam a humilhações nem a lesões sérias. E que também não existem talentos individuais, porque tudo é sempre feito em equipe. De onde foi que essa idiota tirou isso? Claro, ela só está fazendo uma bravata para ressaltar os valores da direita (individualismo, agressividade), sem tomar conhecimento de que a paixão pelo futebol ignora a política. Tem até comentarista da Fox News criticando o artigo, e Ann Coulter provou de uma vez por todas que é leviana e inconsequente. Mas ela não deve estar nem aí: nunca teve tamanha repercussão global, e esta é a única coisa que lhe importa.

TRUE BLOOD

O que leva uma pessoa a se autosabotar no melhor momento de sua carreira, quando todas as câmeras do mundo estão voltadas para ela? Luís Suárez não só vai deixar de jogar o resto da Copa como periga não ser mais contratado pelo Barcelona. Acho fascinante alguém que causa este tipo de dano a si mesmo. E também acho hilário: já viu os memes?

quarta-feira, 25 de junho de 2014

A ESPETACULAR MULHER-ARANHA

Se eu descobrisse que existe alguém exatamente igual a mim, acho que ficaria curioso. Mas o protagonista de "O Homem Duplicado" reage com pânico, e a trilha do filme reforça o clima de terror. Cada pista que o aproxima de seu sósia é recebida como um soco no estômago. Baseado num romance de José Saramago, este thriller psicológico foi rodado numa Toronto amarelada pela fotografia, onde a arquitetura impessoal é quase um personagem. Há uma aranha no começo e no final, e eu queria saber de quem leu o romance se lá também tem. Porque ela é a chave para descobrirmos o que tanto apavora o homem que encontra seu duplo: é o ciúme doentio que ele sente da mulher? É medo de mulher, de um modo geral? Jake Gylenhaal nunca esteve tão bem, e o diretor Denis Villenueve (do excelente "Incêndios") arrebata a atenção do espectador e desperta muitas perguntas. "O Homem Duplicado" é um dos filmes mais intrigantes do ano. Vá ver acompanhado, para ter com quem debater depois.

MÚSICA REPAGINADA


Este post musical de hoje traz estilos bem diferentes, mas com uma coisa em comum. Todos estão por aí há tempos, mas ressurgem agora em versões recauchutadas. O primeiro deles é nada menos que a obra de Johann Sebastian Bach, que serve de base para o primeiro álbum de inspiração clássica da Red Hot Organization. Esta ONG que combate a AIDS nos brinda desde 1990 com discos excelentes e inesperados, e "Red Hot + Bach" não foge à regra. Como todos os outros CDs resenhados aqui, este também está disponível na iTunes Store brasileira. Mas a renda deste vai para uma causa nobre - apesar do aplicativo, que permite mexer nos arranjos e produzir clipes, poder ser baixado inteiramente grátis.

"Stockholm" só tem esse nome porque foi gravado na capital da Suécia e é o primeiro álbum solo de Chrissie Hynde, a líder dos Pretenders. Ou melhor, é o primeiro trabalho que ela assina só com seu nome, já que nos últimos anos os Pretenders eram ela e um rodízio de músicos avulsos. "Stockholm" traz zero de novidades e soa exatamente como um disco dos Pretenders, ou seja: é bem bom. Aos 63 anos de idade, Chrissie só perde para Debbie Harry o título de diva new wave mais cool e influente de todos os tempos. Que bom que este ano marca a volta de ambas aos holofotes.

O francês Philippe Blanchard adotou o sobrenome artítstico de Katerine e muitas vezes é chamado apenas por este, o que faz com que muita gente o confunda com uma mulher. Não que não seja: uma das melhores faixas de seu álbum "Magnum" chama-se justamente "Effeminé", afeminado. Como também podemos conferir no clipe acima, desde já um dos melhores do ano. Aliás, o CD inteiro é genial, resgatando arranjos e melodias da era disco com sabor nitidamente francês. Katerine nunca foi um superstar em seu país natal e até que dava um caldo no começo da carreira, mas hoje em dia está uma pôia. Pelo menos ele sabe rir de si mesmo, como nos muitos vídeos de "Magnum" - que juntos compõem um filme para a TV, mas também podem ser saboreados em seu canal no YouTube.

terça-feira, 24 de junho de 2014

XAVE DE PEPECA

Existe uma única boa cena em todos os trocentos filmes da série X-Men. É no segundo deles, quando um jovem mutante revela sua condição aos pais. A reação destes é impagável: "Mas será que não é só uma fase?", "Você já tentou não ser mutante?", e por aí vai. Todo o resto - as continuações, os spin-offs, os reboots - é muito bem feito, mas sem a menor relevância. Sempre digo que filme de super-herói não me pega mais, mas volta e meia me deixo convencer. Fui ver "X-Men: Dias de um Futuro Esquecido". Efeitos impactantes, história com zero de impacto emocional. Só lembro da chave de pepeca (ou xave, já que ela é uma X) que a Mystique aplica em seus inimigos. O resto eu já esqueci.

FUGIU DA RAIA

Não chega a ser boa a notícia de que o senador José Sarney desistiu de tentar a reeleição em outubro. Melhor seria se ele fosse rechaçado nas urnas, fechando com chave de lata sua quase interminável carreira. O faraó do Maranhão alega que precisa passar mais tempo ao lado da mulher adoentada, mas sabe-se que as pesquisas no Amapá apontam para sua derrota no próximo pleito (aliás, ele ganhou por pouco da última vez). O próprio Sarney diz que não irá se afastar da política, e isto é péssimo. Mas seus herdeiros não possuem a mesma habilidade política, e portanto ainda resta a esperança de que o império erguido pelo clã desmorone aos poucos. O ex-presidente é o exemplo mais acabado do pior homem público brasileiro: afável no trato, agudo nas percepções, voraz por cargos e influências e totalmente podre por dentro. Ao longo de quase 60 anos, sempre aderiu ao governo, qualquer governo, e esse estilo fez escola - taí o Kassab e seu PSD seguindo a trilha. Sarney já vai mais do que tarde. Mas ainda faltam o Calheiros, o Collor, quase todo o PMDB, tantos e tantos outros...

segunda-feira, 23 de junho de 2014

NÃO QUERO SER GRANDE

Ontem assisti ao trailer de um filme chamado "Maze Runner". Nunca tinha ouvido falar nem do livro onde ele foi baseado, mas a história me pareceu o replay do déjà vu: num futuro não muito distante, a Terra é dominada por uma ditadura cruel que obriga os jovens a competirem entre si até a morte. Esta é a vertente mais fértil do segmento literário que os americanos chamam de young adult, com quase 300 títulos já lançados. Alguns deles já se tornaram filmes de sucesso global, como as séries "Jogos Vorazes" e "Divergente". E muitos têm em comum não só o fato de serem escritos por mulheres, como também terem protagonistas femininas. Isto é de fato curioso: a literatura de entretenimento escrita em inglês é hoje domínio feminino, de J. K. Rowling (criadora do Harry Potter) a E. L. James ("50 Tons de Cinza"). Mas o que mais me atrai a atenção nesses romances distópicos são as tramas semelhantes. Toda ficção científica é um reflexo dos anseios de sua época, e o apelo desses livros e filmes me sugere que os jovens de hoje veem o mundo como um arena sanguinária, onde bem poucos sobreviverão. Não que estejam errados, mas parece que essa molecada tem ainda mais medo de ficar adulta do que as gerações anteriores.

ACABOU-SE A TARA POR VOCÊ

Pessoár tão reclamâno que eu tô mais azedo que de costume, só porque eu detonei uma peça e um filme nos meus dois últimos posts. Então segura que lá vem mais detonação, dessa vez de um programa que eu já amei um dia: a série "True Blood", cuja sétima e última temporada estreou ontem na HBO. E ATENÇÃO: quem não quiser saber dada do que aconteceu no primeiro episódio, pode parar de ler por aqui. Porque eu não posso deixar de comentar algo que acontece logo antes dos créditos de abertura e que não faz o menor sentido. A morte de Tara. Pois é: a melhor amiga de Sookie, transformada em vampiro justamente no começo da quinta temporada porque corria sério risco de vida, foi despachada para o além sem mais nem menos. Sem nem ao menos vermos sua morte: ela e a mãe foram atacadas por um vampiro infectado com o vírus Hep V, a câmera cortou para outros ataques, e quando voltamos a pobre Tara já havia se transformado num monte de sangue e vísceras. Os produtores devem estar se achando ousadérrimos ao eliminar um personagem importante com tão pouca cerimônia. Mas só conseguiram frustrar ainda mais os fãs como eu, cada vez mais ex. Ainda faltam nove episódios para "True Blood" partir desta para melhor, mas minha vontade era enfiar logo uma estaca no coração dessa série. Blam!

domingo, 22 de junho de 2014

PELO MENOS MAMÃE PAGA MEIA

Um dia ainda vou escrever um guia especializado: "Filmes para Levar Sua Mãe". Já vou adiantando que esses filmes geralmente são falados em inglês e estrelados por atores que ela conheça - ou seja, de uma certa idade. Nada de Lupita Nyong'o ou Channing Tatum. Também são preferencialmente comédias românticas, se possível em cenários glamurosos onde as pessoas saibam a ordem correta dos talheres. "Um Plano Brilhante" preenche todos esses requisitos, e de fato mamãe adorou. Eu, mais ou menos. O roteiro é preguiçoso demais para ser chamado de absurdo, cheio de coincidências e soluções fáceis. Claro que a ideia de colocar um pacato casal inglês de meia-idade envolvido num plano para roubar um diamante em plena Côte d'Azur soa atraente, mas a execução é puro pastelão. Ah, na verdade eles são um ex-casal, mas adivinha se depois de tantas reviravoltas os dois não terminam juntos. "Um Plano Brilhante" nem é ruim o suficiente para ser considerado cult.

RITA LEE DO NAVIO

O musical-jukebox é um formato americano que está pegando no Brasil. Junta-se um punhado de canções famosas de um artista de sucesso e arma-se uma história em volta delas - talvez a do próprio artista, talvez uma outra. O catálogo de Rita Lee está sendo usado no momento para essas duas variantes: na versão teatral do filme "Se Eu Fosse Você", em cartaz no Rio, e no espetáculo biográfico "Rita Lee Mora ao Lado", que eu vi ontem em São Paulo. E que é simplesmente um desastre. É raro que uma produção de destaque como esta seja ruim em tantos aspectos diferentes, mas "Rita Lee..." consegue esta façanha. A começar pelo texto, adaptado de um livro do mesmo nome. O recurso utilizado pela narrativa é inútil e irritante: a trajetória da cantora é contada por uma fã enlouquecida ao segurança que quer impedi-la de entrar de graça no finalzinho de um show. Só que acaba fazendo muitos desvios para a própria história dessa fã imaginária, que não nos interessa um átomo. Essa estrutura pobre ainda foi piorada por cenários e figurinos abismais. O que é aquela colcha gigante esticada no fundo do palco? E cinza, ainda por cima. Por falar nisto, cadê as cores das roupas dos anos 70, as batas indianas, as fantasias de rockstar? A sensação é a de que o orçamento não passava de dois mil reais, e mesmo assim foi mal gasto. Como se não bastasse, uma direção ineficiente recheou o roteiro com aparições de grandes nomes da MPB - alguns sem muita importância para a carreira de Rita, como Tim Maia ou Gal Costa. E todos cantam pelo menos uma música, com resultados irregulares. O único que se sai bem é Fabiano Augusto - sim, o garoto-propaganda das casas Bahia - que faz um Ney Matogrosso surpreendente. Já Mel Lisboa captura bem o gestual de Rita Lee e não compromete cantando - ainda bem que a original nunca foi um vozeirão. Mas sua interpretação raramente sai do nível da caricatura, digna de um humorístico tipo "Zorra Total". Aliás, o espetáculo inteiro parece amador, desses de final de ano letivo em colégio de padres (inclusive porque muitas passagens escabrosas da vida da artista foram cortadas). Ou então desses que a gente vê na Disney, ou a bordo de um navio. Com bons atores no elenco, mas indigente de dar dó. Tadinha da Rita, merecia mais. "Rita Lee Mora ao Lado" é um naufrágio.

sábado, 21 de junho de 2014

AMOR APAGADO

Minha aversão às tatuagens está bem documentada. Já disse algumas vezes aqui no blog que jamais tatuaria o que quer que fosse na minha pele de cetim, e praticamente todas as tatoos do mundo me dão engulhos. Vem cá, você rabiscaria com caneta Pilot a sua mais fina chemise de seda? Então, porque fazer um desenho medonho e permanente na melhor roupa de todas? Por isto, tenho acessos de riso e schadenfreude toda vez que alguma celebridade se separa e precisa apagar a tatuagem com o nome do ex. A mais nova integrante dessa galeria é Melanie Griffith, que tapou com maquiagem o nome do meu xará Banderas dentro do coração em seu braço. Mas por quê ela não usou mangas compridas? Ora, porque queria que o mundo visse que ela apagou o nome do ex-marido. Uma declaração mais forte do que circular ao lado de um homem 20 anos mais novo ou uma lésbica confirmada. Agora, que continua medonho, ah, isso continua.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

HERÓIS DA IDADE MÍDIA

Apesar do Batman ter caputrado um ladrão em São Paulo, os super-heróis não são de verdade. Mas, e se fossem? A nossa cultura que mistura a devoção às celebridades com fofocas inventadas e invasão de privacidade não daria a eles um minuto de sossego. FUma artista americana chamada Kimbra McG criou o projeto MediAvengers, mostrando como os personagens da Marvel e da DC Comics seriam tratados pela mídia se existissem para valer. Confira aqui uma galeira de capas de revista e matérias fake desenhadas por ela.

AMOR SEM TAMANHO


Tenho alguns projetos de sitcom na gaveta. Entre eles está "Amor Sem Tamanho", sobre uma mulher de altura normal e um anão. Claro que eu me inspirei no caso do Peter Dinklage, o Tyrion de "Game of Thrones", que é casado com uma mulher não-anã e tem uma filha idem. Mas será que foi fácil para essa mulher se casar com ele? Será que ela não teve medo de ter filhos anões, e será que esse medo já não é um preconceito? Bom, essa ideia está no ar e também serviu de inspiração para o filme "Coração de Leão", a maior bilheteria da Argentina no ano passado. O protagonista é feito por um dos atores mais famosos de lá, Guillermo Francella, que não é anão na vida real - e que assim tirou um bom papel de um ator que fosse realmente anão... Mas o verdadeiro problema do filme, que na verdade é bem razoável, é o fato de seu personagem ser perfeito em tudo. Arquiteto de sucesso, pai dedicado, simpático com a ex-mulher, aventureiro, gentleman e ainda por cima milionário. Com tantas qualidades, é até de se estranhar que ele já não tenha uma penca de mulheres em cima. Inclusive porque, como diz o ditado maldito, quem gosta de homem bonito é viado, mulher gosta mesmo é de dinheiro. Enfim, tergiverso, mas dá para imaginar a situação oposta? Um homem de altura normal apaixonado por uma anã? Não, né?

A(Não conte para ninguém, mas o filme pode ser visto na íntegra no YouTube.)

quinta-feira, 19 de junho de 2014

AIRES DE PARIS


Plaza Francia é  uma das praças mais bonitas de Buenos Aires, no bairro da Recoleta. Também é o nome perfeito para o grupo formado pela francesa Catherine Ringer, o suíço Christoph H. Müller e o argentino Eduardo Makaroff, todos com currículos ilustres. Catherine foi a cantora da dupla Les Rita Mitsouko, uma das bandas francesas mais influentes de todos os tempos e que só acabou por causa da morte de seu companheiro Fred Chichin em 2007. E Müller & Makaroff (eles gostam de se apresentar assim) são co-fundadores do Gotan Project e co-inventores do que se convencionou chamar de tango eletrônico. Os três acabam de lançar um álbum chamado "A New Tango Songbook", que, apesar do título em inglês, é todinho cantado em espanhol. Catherine não faz feio: seu sotaque portenho é quase perfeito e sua voz, às vezes, lembra a de divas como Susana Rinaldi. A eletrônica tem presença discreta, mas as doze canções ganharam uma levada pop diferente da do tango tradicional.  Já é um dos melhores discos deste ano, mas, por alguma razão, não está disponível na iTunes Store brasileira. Pelo menos pode ser escutado na íntegra no canal do Plaza Francia no Youtube. Ou encomendado de Paris...

quarta-feira, 18 de junho de 2014

BARBA DE ARGANAZ

Quando eu era publicitário, trabalhei muito com marcas de barbeadores e de lâminas de barbear. De vez em quando elas faziam campanhas ressaltando a importância crucial de se ter um rosto lisinho: as mulheres gostam mais, as portas do sucesso profissional se abrem e assim por diante. Mas nenhuma delas jamais conseguiu influenciar na moda, contra ou a favor da barba. E de uns anos para cá estão vendo seus lucros diminuírem, porque os jovens de hoje são os mais barbudos desde o século 19. Por isto chega a ser patética a nova propaganda das lâminas Schick, que mostra esquilos e arganazes enrolados na cara de uns bonitos rapagões e usa o slogan "Free Your Face". É um dos photoshops mais bem feitos que eu já vi, mas duvido que convença alguém a se escanhoar.

REOS DE JANAEREOS

Tava demorando: "Game of Thrones" na Copa do Mundo. O anão é o Messi...

terça-feira, 17 de junho de 2014

À FRENTE DE SEU TEMPO

Jean Wyllys me representa. Houve um tempo em que, como todo suposto bem pensante, eu menosprezava o vencedor do BBB 5, mas hoje em dia sofro por não haver em São Paulo um candidato como ele para a gente eleger (se houver, alguém me avise, porfa). Eleito deputado federal pelo PSOL do Rio, Jean se mostrou incrivelmente atuante e corajoso. Mesmo assim, já existe um certo backlash contra ele, vindo inclusive de alguns gays. Acusam-no de ser "militante demais" ou até de mal vestido. Recomendo a essa galera a leitura de "Tempo Bom, Tempo Ruim", uma mistura de autobiografia com manifesto. Composto por ensaios curtos, o livro de Jean retraça sua trajetória e reafirma suas posições. Alguns textos são maravilhosamente didáticos, como o que explica os diversos sistemas de voto ou o que retrata o papa Francisco como um semi-aliado da causa LGBT e, antes de mais nada, uma criatura política. Também é esclarecedor o artigo em que ele defende que o casamento igualitário seja aprovado antes da lei anti-homofobia. Concordo com praticamente tudo o que Jean diz, e no fundo é pena que ele esteja pregando aos convertidos - difcilmente seus detratores passarão perto deste livro. Mas deviam.

A DESJEQUIZAÇÃO DO BRASIL

O Brasil é um país de proporções continentais, e a maioria das grandes cidades está muito longe das fronteiras. Até o advento do Mercosul, era super comum que os brasileiros achassem o espanhol tão difícil de entender quanto o tibetano. A globalização e uma política de integração com a América do Sul nos ajudaram um pouco a superar essa barreira, assim como o crescimento das viagens internacionais. Mas, de modo geral, ainda nos achamos um povo à parte, superior aos demais no que realmente interessa (samba, futebol, feijoada) e cercado por todos os lados por vizinhos energúmenos. Por isto, não deixa de ser comovente ver um rapaz carioca nos telejornais de ontem, dizendo que aderiu à farra que torcedores argentinos faziam no meio da rua porque "eles são parecidos com a gente". O cara estava até usando a camiseta celeste e branca, olha só que sacrilégio! E de norte a sul esta cena vem se repetindo: estamos embarcando na alegria dos turistas e esquecendo os preconceitos. Que, aliás, costumam ser reforçados pela propaganda estúpida de cerveja, que adora pintar nossos adversários no futebol como parvos (agora mesmo está no ar um comercial que trata os ingleses como se fôssemos nós o povo mais civilizado). Ou seja: como tudo na vida, nada como um contato direto para a gente ver que as coisas não são bem assim. Se esta Copa conseguir nos tornar um pouco menos jecas, já terá valido a pena.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

VERMELHO DE VERGONHA

O caso de amor entre a França e o Brasil começou no século 16, quando eles tentaram se estabelecer por aqui. É sobre a França Antártica, a colônia que Villegaignon tentou fundar onde hoje é o Rio de Janeiro, que versa "Vermelho Brasil", uma minissérie para a TV baseada no best-seller do mesmo nome que chega aqui em forma de filme. Temos uma enorme carência de obras de ficção sobre o período colonial, mas essa co-produção entre França, Brasil, Portugal e Canadá não faria a menor falta se não existisse. Pode ter custado milhões, mas o que se vê na tela é uma dúzia de soldados mal-ajambrados e olhe lá. As índias tupinambás fazem uma "dança da fertilidade" que parece ter sido coreografada para o cabaré Crazy Horse. Todos os atores falam inglês com sotaque, numa tentativa de conquistar o mercado internacional que acaba afastando o mercado local. Para piorar, os protagonistas são um casal de irmãos envolvidos numa trama tão descabelada que seria indigna do Walcyr Carrasco. É uma pena, porque esse período merecia uma abordagem mais sensível- afinal, hoje poderíamos todos estar falando francês. Mas esse esse filme é um vexame.

PODEROSA ISIS

Os Estados Unidos invadiram o Iraque sob a premissa de que Saddam Hussein estava por trás dos atentados do 11 de setembro. Balela: O finado ditador jamais teve laços com a al-Qaeda e, apesar de também ser sunita, não era religioso. Mas agora, onze anos depois dele ter sido deposto, uma franquia da turma de Osama bin Laden está tomando grande parte do país e tornando real a paranoia americana. A imprensa brasileira está chamando de EIIL, Estado Islâmico do Iraque e do Levante, mas eu prefiro a sigla em inglês porque é muito mais sexy: ISIS (Islamic State of Iraq and al-Sham). Apesar da ideologia alucinada de seus membros, o que eles estão fazendo é corrigindo o mapa do Oriente Médio. No final da 1a. Guerra Mundial, Grã-Bretanha e França redesenharam as fronteiras das províncias do Império Otomano, criando nações artificiais levando em conta apenas os poços de petróleo. Separaram amigos e juntaram inimigos, mas agora essa panela de pressão finalmente explodiu. Os EUA podem até abortar o surgimento de um califado entre Síria e Iraque com bombardeios, mas, se forem mantidos os estados atuais, a merda só estará sendo adiada. Será que existe uma maneira de se evitar uma carnificina e novas ditaduras? Ou é melhor deixar que se matem?

domingo, 15 de junho de 2014

بسم الل

Não sou muito chegado a graphic novels, mas estou parecendo a personagem aí em cima depois de ler "Habibi". O livro é um calhamaço mais grosso do que o Alcorão e entorpecente feito um narguilé recheado de ópio. São quase 700 páginas desenhadas a nanquim preto pelo americano Craig Thompson contando a história de Dodola e Zam, o menino que ela pega para criar. Uma variante moderna das "Mil e Uma Noites" que se passa nos dias de hoje em algum lugar do Oriente Médio, onde arranha-céus convivem com a escravidão. Também é um banho de cultura árabe: a narrativa é intercalada por lendas milenares, conceitos matemáticos e aulas de islamismo, sem jamais se tornar chata. Um tour de force de tirar o fôlego, "Habibi" só não serve como leitura de bordo. É pesado demais para ser levado na bagagem de mão.

Li a tradução brasileira, que há dois anos estava na minha fila de livros por ler. Quem quiser se deslumbrar com as imagens pode visitar o site oficial. Bismillah.

sábado, 14 de junho de 2014

A VAIA E O ECO

Lula levou um tremendo susto na abertura dos Jogos Panamericanos em 2007. Foi vaiado impiedosamente pela plateia, e isto num momento em que tudo ia de vento em popa para o Brasil. Nosso ex-presidente percebeu ali que estava longe de ser a unanimidade que se imaginava, apesar de jamais ter sido eleito num único turno. Pessoalmente, sempre acho divertido ver uma estratégia de marketing apresentar rachaduras, seja ela comercial ou política. A realidade nunca é fofa como pinta a propaganda.

Anteontem foi a vez de Dilma ser ofendida na abertura da Copa, e essa vaia ainda está ecoando. A presidenta acusou o golpe: disse que nem as torturas que sofreu a fizeram mudar de ideia, e ontem ainda juntou as mãos no gesto do coração consagrado por Xuxa. Se não tivesse ligado mesmo, estaria rindo e mudando de assunto. Mas mostrar-se sentida está dando mais certo. Surgiu uma onda de simpatia em torno dela, que fez até com que Aécio Neves - que inicialmente soltou um "colheu o que plantou" - agora manifeste solidariedade.

O que aconteceu no Itaquerão foi uma grosseria? Claro que foi - mas torcidas não costumam exatamente ser bem educadas. "Ah, mas foi a elite branca quem vaiou". E desde quando a elite branca não faz parte do Brasil? Faz e muito, especialmente qaundo paga impostos. "Uma ofensa imperdoável contra uma mãe e uma avó". Mas quem mandou essa mãe e avó ser presidenta da república?

Não é só o Lula. O Brasil inteiro está despertando da autohipnose a que se submeteu durante séculos. Estamos descobrindo que somos bem menos legais do que pensávamos. Não cola mais aquela de povo cortês, gentil e caloroso: somos um bando de filhos da puta, goste ou não a propaganda do governo. E alguém me aponte um político, unzinho só, que não mereça ser mandado a tomar no cu pelo menos uma vez por ano. Coitada da Dilma, pagou o pato por todos.

VARINHA NOVA

Vamos direto ao que interessa: Daniel Radcliffe beija e transa com homem em "Versos de um Crime". Ou seja, Harry Potter agora brinca com outro tipo de varinha mágica. Está tudo aí nos vídeos que ilustram este post, mas o filme tem outros encantos. O maior deles é o novato Dane DeHaan, que parece uma versão do Tintin para maiores de idade. O roteiro reconstitui o crime passional que marcou a juventude de Allen Ginsberg, o poeta gay da geração beat - a mesma de Jack Kerouak, que também aparece na história. Depois de ter estrelado um musical na Broaway, Radcliffe mostrou ousadia ao aceitar um papel como este. Está feinho que dói, mas já vai bem longe de Hogwarts.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

ELECTRONIC MUSIC IS BORING

Misturar instrumentos clássicos com batida dance não é novidade. A Electric Light Orchestra já fazia isto na década de 1970. Mesmo assim, o som do Clean Bandit tem um frescor que faz dele o mais moderno que eu ouvi este ano até agora. A banda nasceu do namoro entre um tecladista eletrônico e uma cellista: ele começou a remixar os concertos dela, e depois refinaram os resultados com um violinista, um baterista e uma pá de vocalistas convidados. O Clean Bandit acaba de emplacar seu primeiro 1o. lugar na parada inglesa com "Rather Be", mas para mim a melhor faixa do álbum de estreia - "New Eyes", já disponível no iTunes - é "Mozart's House", que incorpora trechos do Quarteto de Cordas no. 21 do próprio (e também uma fala de onde eu tirei o título deste post). O quarteto também produz seus próprios vídeos, quase todos gravados em locações internacionais. Estou vidrado nesses garotos: de repente, todo o resto me soa tããão 2013.

VICIADOS NO ÓDIO

Atenção, bicharada: alguns homofóbicos americanos estão testando uma nova estratégia contra nós. Eles finalmente admitem que a homossexualidade tem algum tipo de causa genética - assim como o alcoolismo e outros vícios. Portanto, pode e deve ser combatida com terapias. O maior proponente dessa estupidez é o notoriamente estúpido governador do Texas, Rick Perry. Um sujeito que foi péssimo aluno a vida inteira, mas que conseguiu brilhar na política graças a uma combinação de good looks e ideias péssimas. Perry é uma espécie de versão masculina de Selina Meyer, a vice-presidente imbecil do seriado "Veep", e protagonizou em 2012 uma série de fotos inesquecível enquanto caía de boca num corndog, que é como os americanos chamam a salsicha empanada no palito. Agora ele defende a inclusão da "cura gay" na plataforma do partido republicano de seu estado, dizendo que as pessoas com tendências homossexuais precisam conter seus impulsos e escolher outro tipo de vida. Exatamente o que pregam setores da Igreja, que disfarçam o discurso de ódio com chorumelas do tipo "somos todos filhos de Deus". O errado dessa posição é que não há nada de errado com a homossexualidade. Ela faz parte da natureza e está presente em absolutamente todas as culturas humanas, o que faz suspeitar que tenha alguma importante função evolutiva. Ninguém morre só por ser gay, ao contrário do que acontece com um alcoólatra ou um drogadicto. Nenhum cientista sério propõe mais a "conversão" dos homossexuais, nem faz juízo de valor. Mas Perry e outros canalhas tentam espalhar a noção de que a ciência os apoia, ou que no mínimo está dividida. Não está. É preciso ter isto em mente quando esta onda chegar com força por aqui, provavelmente a cavalo da campanha do "pastor" Everaldo.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

QUE BONITO É

Estou quase ficando com peninha de Daphné Cornez, a coereógrafa belga responsável pelo pífio show de abertura da Copa. Já estão dizendo que a verba destinada ao espetáculo foi gasta com o juiz japonês, mas também que eram 18 milhões de reais - mais do que o dobro do que custa um desfile da Unidos da Tijuca. Mas também quero agradecer a ela por ter me dado o passe para minha coluna no F5 com mais compartilhamentos até hoje: em menos de quatro horas, são quase cinco mil. E graças ao bom Deus que o Brasil ganhou, porque senão já estavam me acusando de ter dado azar com o título semi-profético da minha coluna. Serei o polvo Paul desta Copa?

IMAGINA É AGORA

Vi um bando de croatas croatando sua croatice em frente a um hotel da Paulista, e de repente o espírito da Copa desabou em mim feito um viga de monotrilho. Tive vontade de ir lá abraçá-los, agradecê-los por terem vindo de tão longe para gastar seus zvlotnyws no nosso triste país. Eles não têm culpa de estarmos com raiva da FIFA e do governo, nem merecem nossa infra-estrutura de merda. Ao vê-los tão felizes, cantado por estarem de férias num lugar tão exótico, me senti como o anfitrião que só lembra que ia dar uma festa quando começam a chegar os convidados. Não comprei bebida! Não instalei o toldo! Enfim, a Copa começa daqui a pouco, e estou sinceramente torcendo para que tudo corra às mil maravilhas. Não quero passar vergonha. E mesmo que tudo dê errado, pelo menos vamos nos ver livres da expressão "imagina na Copa".

Em tempo: ontem não teve coluna minha no F5 porque ela vai sair hoje à noite, comentando o show de abertura da Copa. J. Lo. já confirmou que vai. E a Dilma?

quarta-feira, 11 de junho de 2014

HOMEM COM H

Assistindo a "Olho Nu', o documentário sobre Ney Matogrosso, uma palavra me veio em mente para definir o cantor. Não é o que se costuma associar a ele: virilidade. Ney aparece incrivelmente sexy em cenas filmadas muitos anos atrás, e seu corpo peludo, seu olhar "de baixo para cima" (como ele mesmo diz) e sua atitude corajosa me passam nada menos do que um homem másculo. Entenda-se como másculo não o oposto de feminino, mas o de mariquinhas, de frágil, de covarde. Ney é sempre forte, mesmo coberto de plumas e maquiagem. O filme é quase impressionista, costurando imagens de arquivo e músicas soltas só com a voz do próprio Ney. Não há ordem cronológica nem uma análise profunda de sua carreira; quem já não tiver uma boa ideia vai continuar não tendo. Mas é uma experiência sensorial interessante, vemos Ney envelhecer sem perder o tesão, e não estou falando de um genérico tesão pela vida. Estou falando de pau duro mesmo, no palco e fora dele. Acho que Ney Matogrosso é o maior artista vivo da MPB, e sua vida riquíssima merece muitos outros filmes. Este é um bom começo.

GRAND DESASTRAGE

Acho fascinante como ainda tem gente que não sabe se comportar nos tempos modernos. Criminosos cometem seus crimes no meio da rua ou dentro de elevadores, esquecendo que há câmeras de vigilância por toda parte. E empresas acham que ainda não existe internet, que permite ao consumidor que sua queixa seja escutada por milhões de pessoas. É nessa categoria que se encaixa o spa Grand Village de Itaipava (RJ), que mandou a cartinha acima para uma hóspede que avaliou o estabelecimento como mediano no site Trip Advisor. Flavia Carvalho deu ao hotel três das cinco estrelas disponíveis; fez elogios à comida, mas criticou o atendimento. O bastante para os gênios do marketing que trabalham no spa ameaçarem-na com um processo por difamação, esquecendo que a moça podia publicar a missiva nas redes sociais e expô-los a um ridículo de proporções épicas. Foi exatamente o que aconteceu. Hoje o caso chegou à imprensa, e os resultados já começam a pipocar. O Trip Advisor disse que vai investigar, e, conforme for, excluir o Grand Village de sua lista. E a página do spa no Facebook desapareceu misteriosamente, talvez para evitar um tsunami de xingamentos. Tarde demais: o estrago já foi feito. O que era para ser uma avaliação perdida entre milhares virou manchete nacional, e agora o Brasil inteiro sabe que a comida do spa Grand Village dé boa mas o atendimento é marromeno. Além do mais, um dos sócios do lugar não ter a menor noção do ano em que vivemos.

terça-feira, 10 de junho de 2014

A FIFA SIFU

A Copa ainda nem começou e já tem uma grande derrotada: a FIFA. Claro que os cartolas que controlam o órgão máximo do futebol vão sair do torneio com o cu recheado de dinheiro, mas o prejuízo em termos de imagem é incomensurável. FIFA virou sinônimo de roubalheira. Já sabíamos que o ex-presidente João Havelange é um corrupto de marca maior, e tudo indica que a administração de Sepp Blatter é ainda pior. A implicância com a FIFA não se restringe ao Brasil. Esta semana o "New York Times" publicou um debate sobre para que ela serve, e já tem nêgo dizendo que a Copa precisa ser arrancada de mãos tão gananciosas. O assunto chegou até à TV americana, no talk show satírico apresentado pelo britânico John Oliver na HBO. Para entornar de vez o caldo, surgem notícias de que os grandes patrocinadores do evento - Sony, Coca-Cola, McDonald's e outros - exigem uma revisão do processo que escolheu o Qatar como sede da Copa de 2022. As acusações de que oficias da FIFA tiveram as mãos molhadas para apontar o escaldante emirado está pegando mal para essas megamarcas, que já enfrentam um ambiente semi-hostil nesses tempos de internet. Não seria incrível se acontecesse uma revolução e a FIFA fosse chutada para escanteio?

A FERA DA PENHA

A boa notícia é que o cinema nacional está se diversificando. Não fazemos mais só comédias bobas ou "favela-movies". A não tão boa é que, apesar das tentativas, ainda não dominamos gêneros como o suspense. "O Lobo Atrás da Porta" ilustra bem este fenômeno. O filme é baseado no caso real que abalou o Brasil em 1960, o da "Fera da Penha". O roteiro trouxe a história para os dias de hoje, mas manteve o bairro carioca e muitos detalhes do crime original. Talvez por isto o espectador não tenha muitas dúvidas sobre o que aconteceu. O que é uma pena: o início tenso, quando os pais se dão conta de que a filha foi levada do colégio por uma outra mulher, é de se prender a respiração. Mas aí entra uma série de flashbacks que mostram tudo o que gente já sabe , e algumas cenas são simplesmente longas demais. Mas um elemento se sobrepõe a todos os demais: Leandra Leal, numa interpretação soberba e cheia de nuances. Essa moça é uma fera.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

POR UMA POLEGADA A MAIS

No ano passado, Neil Patrick Harris foi o anfitrião da cerimônia de entrega dos prêmios Tony e estrelou o número mais sensacional de todos os tempos. Este ano ele se contentou em levar apenas o troféu de melhor ator de musical pelo revival de "Hedwig and the Angry Inch", além de barbarizar a plateia do Radio City Music Hall. E ainda terminou com um beijo no maridão! Não foi o único gesto político da noite: repare que o apresentador do número é RuPaul, em dia desmontado. A drag queen mais famosa do mundo saiu há pouco tempo em defesa da palavra tranny, o diminutivo de transexual que ativistas xiitas estão tentando transformar em ofensa nos EUA. Sua presença justamente no momento em que se celebra o espetáculo sobre uma trans que passou por uma operação falha de mudança de sexo é sinal de que ele não está sozinho nesta luta. Ou será que devo dizer ela?

domingo, 8 de junho de 2014

ROMPIENDO MALO

Nada mais é sagrado. Nada mesmo. "Breaking Bad" acaba de ganhar um remake colombiano. Walter White virou Walter Blanco, Skylar virou Cielo e assim por diante. Ah, e o título em espanhol virou "Metastasis", algumas vezes melhor do que o "Química do Mal" que a Record inventou. O seriado também virou uma mini-novela (ou uma máxi-série), com exibições diárias durante três meses. Pelo que dá para ver no trailer aí no alto, os valores de produção não estão ruins não. Mas como será que o Pollos Hermanos se chama agora? Chicken Brothers?

ANTEONTEM FEZ FRIO

No primeiro episódio da nova temporada de "Orange is the New Black", a protagonista Piper é levada de avião a uma prisão de segurança máxima para participar do julgamento do chefe da quadrilha de traficantes da qual participava. É um momento incrivelmente tenso e bastante fiel aos fatos reais, narrados no livro que deu origem à série. Muito bem escrito, bem filmado e bem interpretado. Mesmo assim, houve um momento em que me veio aquela sensação indisfarçável: eu não quero estar aqui. Não quero ficar nesta prisão, nem por uma hora. Nem de mentirinha. OK, esse desconforto é proposital. Passemos ao segundo episódio da 2a. temporada, desde sexta-feira disponibilizada na íntegra pelo Netflix. Num lance de extrema ousadia, os produtores focaram este capítulo nas demais prisioneiras de Lichtfield, a penitenciária light de onde Piper saiu, sem a presença da própria. Reencontramos antigos personagens e conhecemos alguns novos. Como sempre, roteiro, direção e atuação são soberbos. E no entanto... Me tira daqui. Não quero continuar preso. Como todo boa série, "OITNB" constrói um universo próprio. Um infinito particular para a gente se perder dentro. Com "Downton Abbey" ou "Game of Thrones", eu quero ficar lá para sempre. Com "Orange'- que foi um um dos meus programas favoritos de 2013 e em cuja nova temporada eu estava ansioso para mergulhar - está me acontecendo o oposto. Como se explica isto? É culpa da série ou do momento que eu estou vivendo? Claro que eu não desisti: vou ver mais capítulos para ver se passa. Mas, neste exato momento, eu quero fugir. "I Want to Break Free", como diz a música do Queen. Que, aliás, ganhou uma versão que está fazendo sucesso nas internets: "Anteontem Fez Frio". Fujam! Corram para as colinas!

sábado, 7 de junho de 2014

INUSITADA SURPRESA

Sem muita fanfarra, abriu ontem no MASP a exposição "A Inusitada Coleção de Sylvio Perlstein ", depois de passar dois meses no Rio. Trata-se de um recorte de 150 peças entre as mais de mil do acervo privado deste belgo-brasileiro, e é de cair o queixo. Quase todo o século 20 está representado: tem de Man Ray a Salvador Dalí, de Roy Liechtenstein a Tunga, além de vários Magrittes e fotografias vintage. É uma boa oportunidade para ver de perto obras que a gente conhece bem por fotografias, e outras das quais não tínhamos a menor suspeita. Fica em cartaz até dia 10 de agosto. E agora preciso dar um jeito de Perlstein me incluir em seu testamento.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

BLONDIE AMBITION

Chegou a hora de se fazer justiça ao Blondie. A banda new wave protagonizada por Deborah Harry fez muito sucesso na virada dos anos 70 para os 80. Os caras misturavam punk rock com disco music, foram os primeiros brancos a cantar rap e influenciaram quase tudo que veio depois - principalmente uma tal de Madonna, que roubartilhou muito da atitude e do visual de Debbie. Mas não duraram muito. Brigas e problemas de saúde desfizeram a banda, que ainda assim se reuniu duas vezes: em 1999 (quando emplacaram mais um hit mundial, "Maria") e em 2011(quando o disco "Panic of Girls" passou meio que em brancas nuvens).

Este ano o Blondie completa 40 anos, e resolveu comemorar em grande estilo. Acaba de sair o álbum "Blondie 4(0) Ever", com dois CDs bem distintos. O primeiro, "Greatest Hits Deluxe Redux", traz regravações de todos os clássicos da banda. São canções que tocam por aí até hoje ("Heart of Glass", por exemplo, aparece nos créditos de abertura do filme nacional "Os Homens São de Marte...").


Agora, bacana mesmo é "Ghosts of Download", o CD com inéditas. À beira dos 70 anos, Debbie e sua turma estão em plena ebulição, trabalhando com astros da cumbia colombiana ou fazendo uma versão surpreendente de "Relax", do Frankie Goes to Hollywood". E ainda tem o single "A Rose by Any Name", com a participação de Beth Ditto e que já está se tornando uma espécie de hino da comunidade trans. Como se não bastasse, o Blondie ameaça vir ao Brasil ainda este ano. Vou me prostar aos pés da deusa: Debbie Harry é a única lenda viva do pop que eu ainda quero ver em ação. Preciso ter no currículo.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

ONDE É A BOLA?

O que é gol? Eram essas as perguntas que fazia a personagem da Regina Casé num antigo esquete da "TV Pirata" sobre pessoas que não entendem nada de futebol. Podiam ter me chamado. Eu não estou nem aí para o esporte bretão. Nunca estive e nunca estarei, nem mesmo em tempo de Copa do Mundo. Simplesmente não me comove uma bola entrar por dentro de uma trave. Não muda em nada a minha vida - ou melhor, muda para pior. Fui exatas três vezes a um estádio ver um jogo, e prestei mais atenção no relógio do que no campo. Nas aulas de educação física do colégio, jamais marquei um único gol. Ficava andando de um lado para o outro, esperando pela hora de voltar à biblioteca. Agora os telejornais se enchem de notícias sobre a Granja Comary ou sobre o nascimento do filho de um jogador de quem nunca ouvi falar, e eu pergunto: cadê o Vladimir Putin? Cadê a crise na Tailândia? Só não me sinto mais por fora porque o Brasil não parece tomado pela febre das outras vezes. Nosso desencanto com a Copa me serve de consolo. Não sou tão aberrante assim.

DUE AMICI


Adoro Fellini, e fui ver "Que Estranho Chamar-se Federico" achando que se tratava de um documentário sobre o maestro desde um ponto de vista muito pessoal: seu amigo, o também diretor italiano Ettore Scola. De fato, o filme tem algumas surpresinhas e algum material inédito (para mim). Só que, lá pelas tantas, o foco desvia de Fellini para o próprio Scola. Os dois se conheceram quando trabalharam juntos num jornal satírico entre os anos 40 e 50, mas não foi para ver os apuros do jovem Ettore que eu paguei ingresso. Scola é o autor de obras-primas como "O Baile", "Casanova e a Revolução", "Um Dia Muito Especial" e um dos meus filmes favoritos evah, "Feios, Sujos e Malvados". Só que não está no patamar sublime que Fellini alcançou. De qualquer forma, "Que Estranho Chamar-se..." (uma citação de outro Federico, o García Lorca) tem seu interesse para quem gosta do assunto, dramatizando cenas da juventude de Fellini ou mostrando seu funeral. Só não é o documentário definitivo que ele merece.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

HE CAN FOLLOW BETTER THAN A GIRL

Cada vez mais, homos e héteros vão estar fazendo coisas juntos, eliminando qualquer tipo de gueto. John & Andrew são uma dupla de bailarinos de salsa onde cada um tem uma orientação sexual diferente. Claro que há uma certa tensão sexual em vê-los rodopiando juntos (o HT conduz, o gay segue), mas também há um lado não-erótico muito interessante. Estamos diante de um trailer do futuro?

O MIMIMI HOMOFÓBICO

Desde segunda-feira que vários amigos e leitores estão me mandando o looongo artigo que Felipe Moura Brasil publicou no site da Veja esta semana. A princípio eu não quis tomar conhecimento, mas a insistência foi tamanha que eu acabei tendo que ligar a pachorra na velocidade 20 e ler a catarata de asneiras que o sujeito cometeu. E aqui está o post que vocês queriam! Ah, meu público, o que é que vocês não me pedem chorando que eu não faço sorrindo?

Enfim, gente, nada de pânico. O texto do cara é cheio de meias verdades - por exemplo, os cientistas não "desistiram" de procurar o gene da homossexualidade porque ele simplesmente "inexiste". Como retrucou o biólogo Eli Vieira, a ciência atual tende a acreditar que pelo menos parte do comportamente homossexual seja causada por uma combinação de genes, e essas pesquisas estão só começando. É desinformação e/ou má fé, portanto, dizer que nada disso existe.

Moura Brasil também faz comparações disparatadas. Um comerciante "cristão" (põe aspas nisto) que se recusa a atender um cliente gay não é equivalente a um judeu que se recusa a atender um nazista, pelo meigo fato dos gays jamais terem mandado os "cristãos" (põe aspas nisto) para os campos de concentração. O colunista quer transformar os homofóbicos em vítimas de cruéis perseguições, mas este argumento não resiste dois segundos à luz do dia.

Por fim, há mentiras puras e simples. De onde foi que ele tirou que sacerdotes estão sendo presos e processados na Europa e no Canadá por "pregarem o que a Bíblia diz claramente"? Esses países garantem total liberdade de culto, e não consta que algum religioso tenha ido em cana por mal interpretar um texto considerado sagrado. Na boa: se alguém tiver tal notícia, por favor me mande. Mas antes cheque a fonte, OK?

Resumo da ópera: Moura Brasil adota um tom bem machão, cheio de verbos fortes, mas na verdade está descambando para o mais meloso mimimi. Um mimimi muito pior do que ele acusa seus detratores, porque revela um medo profundo - típico dos "bullys" quando são peitados. Medo do mundo novo que toma forma, tão diferente daquele para o qual foram preparados. Mas não adianta choramingar. A história vai para a frente, e ai de quem não consegue ir junto. Só não vamos tripudiar muito dele, genteee, porque é judiação. O cara é frágil feito uma miosótis. Pode ficar com sequelas.

Para terminar, é lamentável como a Veja caminha para a irrelevância, se não para a autodestruição. A marca, pelo menos, já foi para a cucuia. Não sobra quase nada da revista que desempenhou um papel fundamental nas Diretas Já e no impeachment do Collor. Ainda há grandes profissionais trabalhando lá dentro, mas não o suficiente para recuperar o antigo prestígio.

A Veja está se tornando a versão brasileira da Fox News, e periga cair na mesma armadilha que o canal de notícias do Murdoch: falar para um público cada vez mais velho - e, portanto, cada vez menor. As novas gerações são liberais. Não se assuste se milhares de jovens deram "like" para a revista ou para o colunista no Feice, porque eles não são representativos das tendências macro. Há cada vez menos o que temer desses reacionários.

Mesmo assim, nada de colocar azeitona na empada deles: quem tiver coragem de ler a coluna do Moura Brasil deve clicar aqui, para cair no site naofo.de e não dar audiência para a Veja. Ai, como eu tô bandida.

terça-feira, 3 de junho de 2014

SAUDADES DE JUNHO


Ontem fui à pré-estreia de "Junho", o primeiro longa-metragem produzido pela Folha de São Paulo. O diretor do filme, o fotógrafo João Wainer, combinou material jornalístico produzido para o programa "TV Folha" com depoimentos de alguns dos protagonistas das manifestações do ano passado e alguns colunistas do próprio jornal. O resultado é uma narrativa abrangente de um movimento que parecia que ia mudar o Brasil, mas não mudou. Não há locução em off explicando a cronologia, nem nenhuma grande conclusão final - e nem haveria de ter, pois acho que o fenômeno permanece inconcluso. Senti um foco excessivo em São Paulo e pouca presença dos outros estados na tela. Mas este viés é compensado pelos testemunhais, principalmente os de Sérgio Vaz (que aparece de camiseta azul no trailer aí em cima). Com lucidez e bom humor, o "poeta da periferia" compara junho de 2013 a uma ejaculação precoce.

Foi mesmo. Contaminadas por um número excessivo de reivindicações e pelos perniciosos black blocs, as passeatas primeiro incharam para depois minguarem. Algumas conquistas foram alcançadas no calor da hora: o Congresso repeliu a PEC 37 e o famigerado projeto da "cura gay" do Infeliciano, mas nenhuma mudança estrutural aconteceu. E isto apesar da própria Dilma ter proposto uma mais do que urgente reforma política, que foi abatida a tiros vindos de todos os lados. Um ano depois, a presidenta continua em primeiro nas pesquisas, e nenhum candidato da oposição conseguiu capitalizar o mal-estar que explodiu nas ruas. Pior: o Brasil parece ter se acomodado outra vez, com protestos violentos porém estéreis de vez em quando e uma terrível sensação de que nada tem jeito, portanto foda-se. Tenho saudade do espírito militante que levou tanta gente a reclamar, e também o medo desse junho tão agitado ter acontecido no ano errado. Mas não quero ser pessimista: ainda temos a Copa pela frente, e uma longa campanha antes das eleições de outubro. Alguma coisa precisa mudar.

DE BOY EM BOY COM DIREITO A SER GAY

Já que vai mesmo ter Copa, é mais do que pertinente o questionamento do Põe na Roda. Fora que nunca mais vou poder ouvir alguém gritar "penta campeão".

segunda-feira, 2 de junho de 2014

JUEGO DE TRONOS

Virou moda. Juan Carlos é o terceiro rei europeu a abdicar em menos de dois anos - ou quarto, se contarmos o papa Bento XVI, que era o chefe de estado e monarca absoluto do Vaticano. Assim como seu colega da Bélgica, o espanhol foi atingido pela crise econômica que assola seu país. Assim como sua colega da Holanda, ele também se viu às voltas com um escândalo de corrupção dentro do palácio - seu genro Iñáki Urdangarín, não contente em ter se casado com uma princesa real, achou que podia faturar uns trocados a mais num esquema que ficou conhecido como o caso Noos. Como o Santo Padre, Juan Carlos percebeu que precisava se imolar para dar sobrevida à instituição da qual faz parte.

Talvez seja tarde demais. O infante Felipe só tem um pecadilho no currículo: sua mulher Letizia, quando solteira, foi retratada de topless por um pintor (embora pareça foto...) para o poster que acompanhava um disco da banda mexicana Maná. Nada que se compare ao elefante morto por Juan Carlos numa caçada em Botsuana (e olha que ele é diretor do WWF!), ou à notória amante real Corinna zu Sayn-Wittgenstein, ou ao misterioso tiro que matou o irmão do rei na adolescência. Tenho a nítida impressão de que a Espanha está farta de sua família real. E eu, que sempre gostei de uma monarquia, não lhes tiro a razão.