sábado, 31 de maio de 2014
MAISOUMÉVOLA
Com um pouquinho mais de esmero no roteiro, "Malévola" poderia ter sido uma variação interessante da história da Bela Adormecida. Apesar da bruxa não ser mais tão malvada assim, o significado do conto de fadas não mudou. Que é o mesmo do de Branca de Neve: a inevitável passagem da infância à idade adulta, por mais que a geração anterior não goste de estar envelhecendo. A narrativa das duas princesas têm inúmeras semelhanças, e provavelmente uma origem comum. Ambas são perseguidas desde pequenas por uma mulher linda e má - que é a própria mãe, mas se esconde atrás dos títulos de madrasta ou madrinha. Ambas desmaiam num sono profundo e são despertadas por um beijo de amor. Com a Bela Adormecida, a metáfora é mais explícita: o dedo que sangra no fuso da roca é a primeira menstruação (sim, eu li Bruno Bettelheim). Mas a motivação da Rainha Má da Branca de Neve é mais forte: ela quer ser a mais bela do reino, period. No desenho animado de Walt Disney, Malévola só descontava o recalque de não ter sido convidada para o batizado de Aurora. Claro que dá vontade de matar o promoter quando a hostess não acha nosso nome na lista, mas daí a rogar uma praga é um pouco meio muito. Esta nova versão com atores tenta resolver este problema: Malévola e o rei Stefan tiveram um trelelê quando jovens mas ele a trocou pelo trono, e o céu não conhece fúria maior do que a de uma mulher desprezada. Agora, se ela era bacaninha, porque já se chama Malévola desde o primeiro frame? Também há uma gratuita cena de batalha depois da resolução (que é bastante inteligente), talvez para agradar aos meninos que foram arrastados ao cinema para ver um filme de princesinha. E porque caralhos a tradução respeitou o nome com que estamos acostumados, Malévola, sem tentar nos enfiar goela abaixo o globalizado Maleficent, mas se esqueceu de que no Brasil as fadinhas são Flora, Fauna e Primavera? Agora elas se chamam Whipfflith, Sbrrgllwows ou coisa que o valha. Pelo menos esses descuidos são compensados pela interpretação over de Angelina Jolie, que parece sempre estar esperando o diretor gritar "corta!" para explodir na gargalhada. E pela concepção moderna de que ninguém é todo mau ou todo bom. Somos todos mais ou menos.
sexta-feira, 30 de maio de 2014
O JUIZ FORA DA CURVA
O Brasil foi pego de surpresa com a notícia da aposentadoria precoce de Joaquim Barbosa. Como sempre, o futuro ex-ministro do STF agiu fora do script. Anunciou que vai deixar o tribunal quando não há mais tempo para se candidatar a nada, contrariando meses de especulação. Que agora se voltaram para as razões desta inesperada saída de cena: será que foi motivada apenas por suas crônicas dores nos quadris? "O Globo" de hoje diz que Barbosa não estava gostando das ameaças que vinha recebendo pela internet, e que teria ficado traumatizado com o achaque que sofreu de petralhas num restaurante em Brasília. Duvido que isto tenha sido o suficiente: um cara de veio de onde ele veio e chegou onde chegou não se assustaria com bravatas de moleques. Temo que o perigo tenha vindo de mais em cima, mas não quero ficar dando palpite à toa.
O fato é que Joaquim Barbosa é um ponto fora da curva entre as figuras públicas brasileiras. Com ele não existe jeitinho, conversinha e outros inhos tão caros à índole nacional. O cara é duro, para o bem e para o mal. Indispôs-se com praticamente todos os colegas de tribunal - todos, sem exceção, brancos e vindos da classe média para cima. Barbosa não reconhece a nossa cultura implícita de privilégios natos, tampouco a troca de favores e o apadrinhamento. Para espanto e horror de Lula, jamais se mostrou "agradecido" por ter sido alçado à corte suprema. Tem pavio curto e uma dificuldade enorme em dialogar, mas quem dera houvesse muitos outros como ele. Só espero que essa retirada seja temporária.
O fato é que Joaquim Barbosa é um ponto fora da curva entre as figuras públicas brasileiras. Com ele não existe jeitinho, conversinha e outros inhos tão caros à índole nacional. O cara é duro, para o bem e para o mal. Indispôs-se com praticamente todos os colegas de tribunal - todos, sem exceção, brancos e vindos da classe média para cima. Barbosa não reconhece a nossa cultura implícita de privilégios natos, tampouco a troca de favores e o apadrinhamento. Para espanto e horror de Lula, jamais se mostrou "agradecido" por ter sido alçado à corte suprema. Tem pavio curto e uma dificuldade enorme em dialogar, mas quem dera houvesse muitos outros como ele. Só espero que essa retirada seja temporária.
quinta-feira, 29 de maio de 2014
A FLECHA ENVENENADA
Estou adorando essa discussão bizantina que aparece nos jornais de hoje: arco e flecha é arma branca ou artefato cultural? Impressionante como tem gente defendendo o direito dos índios de saírem dando flechada por aí, ainda tratando-os como crianças retardadas (a Funai confirma que sim, índios podem ser presos e processados). O ferimento do PM em Brasília foi na perna e superficial, mas já pensou se não fosse? Estaríamos diante de um caso semelhante ao do rojão que matou o cinegrafista da Band, temperado com o cauim da questão indígena. O curioso é que, com essa flechada inoportuna, os índios mostraram que estão bastante integrados ao resto da sociedade brasileira: são tão selvagens e irresponsáveis quanto qualquer um de nós. Algum dia seremos civilizados?
RODÍZIO DE PIZZA
Absolutamente irresponsável a atitude da Câmara de Vereadores de São Paulo, que exitnguiu o rodízio de veículos numa votação simbólica de menos de um minuto. Os caras acham que assim estão agradando aos eleitores que têm carro, mas eu quero anotar o nome de cada um deles para nunca mais votar em nenhum. Muito fácil fazer este tipo de gracinha, sabendo que há 200% de chance do prefeito Haddad vetar a nova lei. SP precisa de menos carros nas ruas, é óbvio: precisa de dois dias de rodízio por semana, como na Cidade do México, talvez com os carros proibidos de circular durante todo o dia. Também precisa de pedágio urbano, transporte coleitvo de qualidade e menos individualismo. Enquanto isto não chega, vemos esses fanfarrões propondo leis inexequíveis, só para posarem de bonitas. Por que não aprovam logo o salário mínimo de 20 mil reais? Pizza neles!
FALASTRÕES
"O Que os Homens Falam" fez muito sucesso na Espanha e até ganhou alguns prêmios, explorando um tema cada vez mais frequente no cinema: a fragilidade masculina. O filme reúne cinco segmentos onde homens de classe média (todos sem nome) conversam entre si e com algumas mulheres de seu redor. Também junta algumas das maiores estrelas da língua espanhola, como o argentino Ricardo Darín e meu adorado Eduardo Noriega. Mas não é tão bacana quanto parece. Apesar de curtas, algumas das conversas soam arrastadas, e faltam piadas. Do jeito que está, muitas vezes tive a sensação de estar espionando a vida de vizinhos desinteressantes. Salva-se justamente a sequência estrelada pelo Noriega - se bem que é difícil engolir o desfecho, onde ele é desprezado por uma vingativa colega de escritório. Quem entende as mulheres?
quarta-feira, 28 de maio de 2014
ON S'EN VA, ON SAMBA
Os cartolas da FIFA são o alvo desta paródia no humorístico "Action Discrète", da TV francesa. Pelo jeito, não é só no Brasil que eles são vistos como parasitas.
(obrigado ao leitor anônimo que me deu esta dica)
(obrigado ao leitor anônimo que me deu esta dica)
CHAME O LADRÃO
Acredito na reabilitação das pessoas. Que a cadeia serve, além de punir, para reinserir o criminoso na sociedade. Mas não está fácil engolir um deputado que cometeu assaltos a mão armada, foi condeando a sete anos de prisão, cumpriu só um ano e meio e depois passou mais de uma década foragido. Como que para provar que ele jamais foi reabilitado, o cara foi flagrado numa reunião com integrantes do PCC. Ah, também há o fato dele ter emitido atestado de pobreza para não ressarcir os dois mil e poucos reais que roubou de uma empresa, e cinco anos depois exibir um patrimônio de mais de cinco milhões de reais... Claro que o site de Luiz Moura (PT-SP) omite todos esses detalhes, e o nobre parlamentar já tentou impedir judicialmente que a imprensa publicasse sua biografia. Agora foi pego com a boca se aproximando da botija, mas jura inocência e acusa de preconceito quem suspeita de seus antecedentes. Sua mera existência afunda ainda mais a confiança que temos nos políticos, mas essa desconfiança faz o jogo do inimigo. Se gente decente prefere não se candidatar a nada, o caminho fica aberto para figuras como esta. Periga até ele ser reeleito em outubro.
terça-feira, 27 de maio de 2014
FOME DE BOLA
Rindo alto até agora com a sensacional estratégia de marketing do Beato Salú Edir Macedo. Numa tentativa canhestra de prejudicar a concorrência da Record, o "bispo" conclama seus fiéis a fazerem 40 dias de "jejum de informação e diversão". Nada de notícias, nada de novelas, nada de Copa. Ahã: NADA DE COPA. Ele ressalta que o jejum não é obrigatório, já que a Igreja Universal "não proíbe nada" (menos não pagar o dízimo, é claro). Evidente que não haveria jejum algum se os direitos de transmissão do torneio pertencessem à sua emissora, mas deixa pra lá. Essa baboseira foi o suficiente para me deixar contra todas as manifestações que possam atrapalhar a Copa. Agora é que vai ter mesmo!
A GAIOLA DAS GATAS
Filmes de confinamento, onde poucos personagens estão o tempo todo num mesmo cenário, têm a obrigação de ser geniais. Além de atores fantásticos, os diálogos precisam ser esculpidos em mármore - ou então que não haja diálogo algum, como no recente "Até o Fim" com Robert Redford. "Gata Velha Ainda Mia" não chega a tanto, apesar de Regina Duarte e Bárbara Paz estarem muito bem. A primeira, inclusive, tem a chance de mostrar um leque de emoções que a TV raramente lhe permite, e a coragem de se despir de qualquer vaidade. Mas a situação proposta tem algo de artificial. No começo, parece que se trata de uma jornalista que vai entrevistar uma escritora há muitos anos reclusa. As duas se tratam como se não se conhecessem, mas logo depois descobrimos que a mais jovem é a atual mulher do ex-marido da mais velha e que moram no mesmo prédio. Oi? Este tipo de jogo precisa de um Abbas Kiarostami para dar certo. A sensação que eu tive é a de que o roteiro nasceu como peça de teatro mas que foi logo filmado, antes de estar totalmente pronto. Mesmo assim, "Gata Velha..." tem momentos intensos e interessantes, e é um tipo de filme raramente feito no Brasil. É a estreia do diretor Rafael Primot, e dá para adivinhar que o moço tem uma longa carreira pela frente.
segunda-feira, 26 de maio de 2014
A VANGUARDA DOS VETERANOS
Nenhum desses artistas é novo: todos eles dão pinta por aí há pelo menos uma década. Mas, mesmo com tanto tempo de estrada, ainda conseguem inovar e se renovar. Seus novos discos podem ser comprados online, e nenhum decepciona.
A cantora sueca Robyn já havia gravado os vocais de "The Girl and the Robot", um dos singles do álbum "Junior" da banda norueguesa Röyksopp. Agora eles se reúnem num EP, "Do It Again". O resultado é variado: "Sayit" soa como um remix do Kraftwerk, "Monument" resvala no ambient e "Inside the Idle Hour Club" é... instrumental. Pena que não tenham feito um CD completo, mas cinco músicas boas são melhores que 12 com encheção de linguiça.
Róisin Murphy, ex-vocalista do Moloko, também optou pelo formato de curta duração. Depois de se tornar uma diva dance com visual à la Gaga, ela surpreende cantando num italiano perfeito. "Mi Senti" traz cinco covers e uma inédita, todas com sofisticados arranjos eletrônicos. Róisin diz que o difícil não foi cantar numa língua estrangeira, mas sim alcançar as notas e a emoção que faixas como a sublime "Ancora Tu" exigem. Che brava ragazza.
É incrível pensar que, depois de mais 20 anos de carreira e participação em projetos tão diversos como Blur ou Gorillaz, só agora Damon Albarn lance seu primeiro trabalho solo. "Everyday Robots" não é tão melancólico como sugere sua capa, mas tem faixas tranquilas que revelam uma infinidade de detalhes quando ouvidas com atenção. Não vai vender milhões, mas confirma que Damon é um dos maiores talentos de sua geração.
A cantora sueca Robyn já havia gravado os vocais de "The Girl and the Robot", um dos singles do álbum "Junior" da banda norueguesa Röyksopp. Agora eles se reúnem num EP, "Do It Again". O resultado é variado: "Sayit" soa como um remix do Kraftwerk, "Monument" resvala no ambient e "Inside the Idle Hour Club" é... instrumental. Pena que não tenham feito um CD completo, mas cinco músicas boas são melhores que 12 com encheção de linguiça.
Róisin Murphy, ex-vocalista do Moloko, também optou pelo formato de curta duração. Depois de se tornar uma diva dance com visual à la Gaga, ela surpreende cantando num italiano perfeito. "Mi Senti" traz cinco covers e uma inédita, todas com sofisticados arranjos eletrônicos. Róisin diz que o difícil não foi cantar numa língua estrangeira, mas sim alcançar as notas e a emoção que faixas como a sublime "Ancora Tu" exigem. Che brava ragazza.
É incrível pensar que, depois de mais 20 anos de carreira e participação em projetos tão diversos como Blur ou Gorillaz, só agora Damon Albarn lance seu primeiro trabalho solo. "Everyday Robots" não é tão melancólico como sugere sua capa, mas tem faixas tranquilas que revelam uma infinidade de detalhes quando ouvidas com atenção. Não vai vender milhões, mas confirma que Damon é um dos maiores talentos de sua geração.
PERU EM CHAMAS
"Heli" levou o prêmio de melhor direção no festival de Cannes do ano passado e foi o representante do México no Oscar de filme estrangeiro. Mesmo com tanto pedigree, foi lançado sem estardalhaço no mercado brasileiro. Porque não é nada fácil: as paisagens são áridas, não há trilha sonora e o ritmo é quase contemplativo - a não ser por uma explosão de violência lá pelas tantas que é de embrulhar o estômago. Já que quase ninguém vai ver mesmo, vou contar aqui o que acontece: traficantes capturam um jovem cadete do exército que lhes roubou alguns pacotes de cocaína. A sessão de tortura a que submetem o coitado culmina com álcool sendo jogado sobre suas partes pudendas, onde depois ateiam fogo. Tudo filmado sem cortes e de frente para a câmera, resultando numa das sequências mais horripilantes de todos os tempos. Não sei como fizeram: só sei que me doeu na alma. Ainda bem que o pessoal que anda saindo no meio de "Praia do Futuro" ignore este filme. Talvez incendiassem a sala de cinema, desavisados que são.
domingo, 25 de maio de 2014
PARABÉNS ATRASADOOO
Sou um pai desnaturado: vivo esquecendo do aniversário do meu filho mais querido, este blog, que ontem completou sete aninhos de vida. Não fosse o Dani Hansa Bee, essa linda efeméride teria passado em brancas nuvens, preocupado que estou com a luta pelo Trono de Ferro. Mas um dia de atraso não é grave. Portanto ainda estou aceitando cumprimentos, presentes e doações em espécie.
QUEM TEM MEDO DO TEATRO SÉRIO?
Ontem fui assistir à mais recente montagem brasileira de "Quem Tem Medo de Virginia Woolf", estrelada por Zezé Polessa e Daniel Dantas. Foi curioso ver a reação do público. Logo antes do espetáculo começar, uma moça bem vestida dava mostras de que seu cérebro não era tão elegante assim, ao perguntar para a amiga se o que iam ver era uma comédia. No início da peça, até que o público riu para valer. Mas aos poucos as coisas vão pesando no palco, e vi uns dois casais se levantando e indo embora no meio. No final, aplausos em pé como sempre no Brasil, mas dava para perceber que vários espectadores não tinham se "divertido" como esperavam. É engraçado como tem gente que só vai ao teatro para ver de perto um ator famoso da TV e dar umas risadas antes da pizza. Um texto como este clássico de Edward Albee - que ganhou uma verão primorosa em Nova York há pouco mais de um ano - causa indigestão antes mesmo do jantar. E olha que o elenco está fabuloso, apesar do cenário não gerar a proximidade necessária com a ação e o som não ser nítido o tempo todo. "Quem Tem Medo..." é uma das obras-primas da dramaturgia do século 20, e quem não a conhece agora tem essa oportunidade em SP. Mas é preciso ter a cabeça apta para mais do que piadas com palavrões.
sábado, 24 de maio de 2014
WESTEROS, ESSOS, ETCETEROS
Gosto tanto de mapas que agora compro até de países que não existem. Chegou hoje minha encomenda de "The Lands of Ice and Fire", a mapoteca do mundo de "Game of Thrones". Sim, porque não basta eu estar revendo a série inteira desde a primeira temporada (e finalmente entendo tudo, amém). Nas horas em que não estou em frente à TV, preciso passear os olhos pelo Norte da Muralha ou pelo Mar dos Dothraki. Minha obsessão me fez até descobrir sem querer um MAJOR SPOILER do que deve acontecer no último episódio desta temporada: adivinha quem não morreu?
INFELIZ IRÃ
E depois dizem que o Brasil é que é o país da piada pronta. Um grupo de jovens iranianos postou no YouTube um vídeo caseiro deles dançando ao som de "Happy", para mostrar que sim, é possível ser feliz em Teerã. Logo em seguida foram todos presos, acusados de "pecar contra a castidade", e obrigados a se "arrepender" diante das câmeras da TV estatal. Ou seja, só conseguiram provar que não dá para ser feliz no Irã. Esta não foi a única má notícia vinda de lá no final da semana: a atriz Leila Hatami, a "Ingrid Bergman persa", corre o risco de ser condenada a 50 chicotadas assim que voltar do festival de Cannes, onde ela é uma das juradas. Só porque ela foi beijada no rosto pelo presidente do festival, Thierry Frémaux, que se esqueceu de que deveria apenas lhe apertar a mão. Os dois fatos não significam que a treva impera no Irã: na verdade, são reações da ala mais conservadora à atitude liberalizante do presidente Hassan Rouhani (que chegou a se manifestar a favor dos garotos pelo Twitter, em inglês). O Ocidente perdeu uma oportunidade de fazer as pazes e influenciar o Irã nos anos 90, quando o país foi governado pelo liberal Rafsanjani. Mas ele foi tratado na porrada pelos EUA, e o resultado foi o mal-ajambrado Ahmadinejad. Não dá para fazer a mesma cagada de novo. Rouhani merece o nosso apoio, porque as alternativas são muito piores.
sexta-feira, 23 de maio de 2014
A EX-PSICÓLOGA CRISTÃ
Até que enfim: Marisa Lobo, a autoproclamada "psicóloga cristã", vai ter mesmo o registro profissional cassado pelo Conselho Regional de Psicologia do Paraná. Claro que ela já está esperneando e se dizendo perseguida, como qualquer fundamentalista que vê contrariado seus planos de dominação do mundo. Mas é preciso deixar bem claro que não se está proibindo ninguém de procurar um charlatão que prometa a infame "cura gay". Só que esse charlatão não vai mais poder dizer que sua charlatanice está baseada em princípios científicos. O resto pode: em Jesus, no divino espírito santo, na Saravaca. Quem quiser rezar muito e dizer que foi curado da bichice vai continuar podendo fazer isto. Porque não há método cientificamente comprovado de reversão da orientação sexual, e olha que a própria Psicologia o procurou por décadas. Não cabe a qualquer religão dizer o que é ou não ciência; é só a ciência quem pode dizê-lo. É importante repetir isto quantas vezes for necessário, porque não há nenhum tipo de perseguição religiosa neste caso. O que há é um enorme interesse econômico em instalar no Brasil as "clínicas" (põe aspas nisso) de conversão que existem em alguns estados americanos (mas mesmo por lá elas vêm encontrando restrições). E quando alguém vier dizer que ex-gay é possível, não duvide - a sexualidade humana é fluida e cambiante. Mas para cada ex-gay arrependido existem uns dez que tentaram e não conseguiram, e que hoje se orgulham de serem o que são.
Agora, alguém sabe me explicar por que as evangélicas são tão mal vestidas?
Agora, alguém sabe me explicar por que as evangélicas são tão mal vestidas?
quinta-feira, 22 de maio de 2014
MONSTRO DE DEUS
Jurei que este ano não verei um único filme de super-herói. Fiquei na dúvida se essa nova versão de "Godzilla" se encaixava na categoria: não há nenhum vingador mascarado tentando derrotar o monstro, mas há longas sequências de destruição, efeitos especiais jogados fora e o óbvio final feliz. Acabei me deixando seduzir pelo elenco de inusitado prestígio - Juliette Binoche! David Strathairn! Bryan Cranston (o Walter White de "Breaking Bad", talvez o ator que melhor faça cara de pânico hoje em dia)! Mas quase todos morrem logo e/ou aparecem pouco. Aliás, o bicho do título também aparece pouco, só da metade para o final. E dessa vez não foi radicalmente redesenhado: ainda se parece com o jacaré gordo dos filmes da Togo, com boca relativamente pequena para o corpanzil e escamas dorsais que lembram montanhas escarpadas. Mas mudou de caráter. O novo "gojira" (o nome é a mistura de "baleia" com "gorila" em japonês) agora é do bem, um enviado divino para "restaurar o equilíbrio" destruído pelos MOTU, duas baratas gigantes que resolvem se acasalar em São Francisco porque sim. Esses novos monstros são uma versão meio mal acabada da antiga Mothra, a mariposa monstruosa que frequentava os filmes antigos. Fala sério: uma mariposa? Enfim, o novo "Godzilla" não é horrível, mas também não é sensacional. Talvez eu gostasse mais se ele atacasse alguma coisa com que eu realmente me importo, tipo a cerimônia de entrega do Oscar. Já pensou, o estrago no tapete vermelho?
NÃO HÁ BRASIL
Hoje saiu uma coluna do Contardo Calligaris na Folha de São Paulo que me deixou encafifado. Já no título o psicanalista se pergunta: "O Brasil existe?" E a resposta que seu texto dá é, talvez não. Que o ralo cimento que nos une está se esfarelando, e que é por isto que está tão difícil se entusiasmar com a Copa. Não temos por quem torcer; não temos do que nos orgulhar. Contardo dá como exemplo as cenas de barbárie ocorridas no Recife semana passada, durante uma greve da PM e dos bombeiros. Ele sempre achou que, na ausência do estado (e da imposição de uma força maior), a sociedade levaria umas três semanas para se dissolver. Mas não foi isto o que aconteceu: bastou a greve ser anunciada para o número de assassinatos disparar e lojas de eletrodomésticos serem saqueadas. A única coisa que mantém a ordem é a a ameaça da violiencia institucional; sem ela, revertemos instantaneamente à lei do mais forte e ao cada um por um si.
Tenho pensado nisso nos últimos dias. Parece que o traço que melhor define os brasileiros é o egoísmo. Que faz com que uma greve de ônibus paralise a maior cidade do país por dois dias, com parte da categoria exigindo irreais 13% de aumento - mais que o dobro da inflação. Que também faz com que alguém jogue privadas na cabeça dos outros, já que não há estado mesmo e educação nunca houve. O brasileiro malandro, do jeitinho, que sempre quer se dá bem, assume assim uma nova cara: a do filho da puta que não tá nem aí para nada nem ninguém. Dá aqui o meu e mais um pouco, e foda-se o mundo. Não, isso não é culpa do PT - é fruto de um processo centenário, que remonta aos tempos da colônia portuguesa, e que só foi exarcebado ao longo dos anos.
Nós, brasileiros, não sentimos que compartilhamos uma história comum. D. João VI, D. Pedro I e demais figuras da independência são vistos como forasteiros que vieram para cá, aprontaram das suas e se mandaram. A República também foi imposta de cima para baixo: o povo gostava do imperador, ou pelo menos não o odiava o suficiente para mandá-lo embora. Não nos vemos como atores de nossa própria história, sempre protagonizada pelos outros. E com isto acabamos tendo pouca coisa em comum: uma língua maltratada de norte a sul, a paixão pelo futebol, uns sambinhas e umas novelas. É pouco para dizer que somos um país.
Tenho pensado nisso nos últimos dias. Parece que o traço que melhor define os brasileiros é o egoísmo. Que faz com que uma greve de ônibus paralise a maior cidade do país por dois dias, com parte da categoria exigindo irreais 13% de aumento - mais que o dobro da inflação. Que também faz com que alguém jogue privadas na cabeça dos outros, já que não há estado mesmo e educação nunca houve. O brasileiro malandro, do jeitinho, que sempre quer se dá bem, assume assim uma nova cara: a do filho da puta que não tá nem aí para nada nem ninguém. Dá aqui o meu e mais um pouco, e foda-se o mundo. Não, isso não é culpa do PT - é fruto de um processo centenário, que remonta aos tempos da colônia portuguesa, e que só foi exarcebado ao longo dos anos.
Nós, brasileiros, não sentimos que compartilhamos uma história comum. D. João VI, D. Pedro I e demais figuras da independência são vistos como forasteiros que vieram para cá, aprontaram das suas e se mandaram. A República também foi imposta de cima para baixo: o povo gostava do imperador, ou pelo menos não o odiava o suficiente para mandá-lo embora. Não nos vemos como atores de nossa própria história, sempre protagonizada pelos outros. E com isto acabamos tendo pouca coisa em comum: uma língua maltratada de norte a sul, a paixão pelo futebol, uns sambinhas e umas novelas. É pouco para dizer que somos um país.
quarta-feira, 21 de maio de 2014
QUEM AVISA AMIGO É
Pronto: o universo está em polvorosa porque um cinema de João Pessoa está carimbando "avisado" nos ingressos dos espectadores de "Praia do Futuro", depois de alertá-los sobre as cenas de sexo gay do filme. "Mas por que não avisam quando há cenas de violência? Sexo hétero? Coprofilia? Zoofilia? Periquito-maracanã?" Porque o espectador desavisado não sai da sala quando vê este tipo de cena. É bom lembrar que muitos brasileiros (talvez a maioria) ainda preferem ter um filho ladrão do que viado...
Pelo menos a produção do filme está tirando partido desse bafafá. Este é o singelo aviso que publicaram hoje no Facebook. Talvez a propaganda tenha errado ao não enfatizar a viadagem do filme - e subestimado a homofobia do público - mas é claro que existe um segmento interessado em ver Wagner Moura atendendo por trás. Não sei se maior que os tais 30% da plateia que estão saindo e exigindo o dinheiro de volta, mas existe.
E também já existe um tumblr sensacional, o Tem que Avisar, que mostra os avisos que outros filmes deveriam fazer antes de admitir os incautos...
(obrigado pela dica, Leonardo Wandresen!)
ATUALIZAÇÃO: E já temos outro tumblr: Tá Avisado.
Pelo menos a produção do filme está tirando partido desse bafafá. Este é o singelo aviso que publicaram hoje no Facebook. Talvez a propaganda tenha errado ao não enfatizar a viadagem do filme - e subestimado a homofobia do público - mas é claro que existe um segmento interessado em ver Wagner Moura atendendo por trás. Não sei se maior que os tais 30% da plateia que estão saindo e exigindo o dinheiro de volta, mas existe.
E também já existe um tumblr sensacional, o Tem que Avisar, que mostra os avisos que outros filmes deveriam fazer antes de admitir os incautos...
(obrigado pela dica, Leonardo Wandresen!)
ATUALIZAÇÃO: E já temos outro tumblr: Tá Avisado.
OUTSIDER
2014 está sendo um ano pródigo para os gays no cinema brasileiro. O ano não está nem na metade e já entraram em cartaz dois badalados filmes de temática homossexual, com prêmios internacionais e bilheterias expressivas: "Praia do Futuro" e "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho". Também estreou sem alarde uma produção modesta em todos os sentidos, "Do Lado de Fora". A proposta é simpática, embora esquemática: quatro gays com problemas e idades diferentes combinam de sair do armário dentro do prazo de um ano (o filme começa e termina com a parada LGBT de São Paulo). Mas a realização escorrega várias vezes. Cenários e figurinos são pobrinhos de dar dó. O novato Luís Vaz consegue ser over no papel de uma quaquá que sonha em ser drag. E olha que eu idolatro a Silvetty Montilla, mas sua escalação como uma sogra homofóbica transforma em galhofa o drama mais pungente dos quatro - o do cara casado, cuja mulher espera o segundo filho. É claro que "Do Lado de Fora" merece aplausos pela coragem e dedicação de seus autores. Mas, mal comparando, está para os outros filmes gays deste ano assim como as boates do centrão estão para as áreas VIP das festas phynas. Ficou mesmo do lado de fora, porque não tem pulseirinha nem nome na lista.
terça-feira, 20 de maio de 2014
ALTO LÁ
Eu me borro de medo de altura, e talvez por isto mesmo eu não resista a postar vídeos de montanhas-russas que jamais encararei. Ou desses russos malucos que escalam arranha-céus sem a menor proteção. Dessa vez os caras foram plantar bananeira na estratosfera. Fiquei tão nervoso que precisei me levantar e assistir de longe, como se a minha respiração fosse capaz de derrubá-los. Aliás, se eles continuarem com essas gracinhas, não duvido que terminem mal.
PERGUNTAR NÃO OFENDE
Nos tempos do saudoso Orkut havia uma página chamada "Eles Perguntam Eles Respondem" que era o maior babado. Talvez para preencher esta lacuna que os meus protegidos do Põe na Roda fizeram o vídeo desta semana. Se bem que faltou a pergunta clássica: "na hora da cama, você faz o homem ou a mulher?"
segunda-feira, 19 de maio de 2014
DE ARRANCAR OS CABELOS
Embalado por uma dezena de prêmios internacionais, "Pelo Malo" é o primeiro filme venezuelano a estrear nos cinemas brasileiros. Como as críticas são pra lá de positivas e eu gosto de prestigiar nuestros hermanos, lá fui eu esperando uma pequena obra-prima. E ODIEI. Odiei os atores, odiei a história, odiei a Caracas miserável que aparece na tela. O draminha do garoto que quer alisar o cabelo para ficar "bonito" na foto do colégio - e que faz a mãe suspeitar que ele seja gay - simplesmente não meu pegou. A diretora Mariana Rondón não adota um tom politizado, mas mostra o tempo todo pichações e manifestações populares que misturam o chavismo com religião: dessa crítica velada eu gostei. Também gostei de saber que nosso clássico "Meu Limão, Meu Limoeiro" tem uma versão em espanhol que fez sucesso em toda a América Latina nos anos 60. Mais nada. Bem pouco para o tamanho da minha expectativa.
O FANTASMA QUE DANÇA
Hologramas de músicos mortos já não são novidade. Até brasileiros como Cazuza ou Renato Russo já ganharam os seus, e uma versão holográfica de Elvis Presley fez turnê mundo afora. Mas eu nunca tinha visto nada tão impressionante como essa performance de Michael Jackson no Billboard Music Awards, que aconteceu sábado passado em Las Vegas. Ele realmente parece de carne e osso, passando na frente dos bailarinos e "projetando" uma sombra no chão. A coisa só fica creepy quando há closes em seu rosto, que lembra aquelas animações japonesas dos anos 60. Michael nunca gravou em vida um clipe para "Slave to the Rhythm", faixa do novo álbum "Xscape", então dá para deduzir que cada gesto e expressão foram construídos com a mais avançada tecnologia. É bárbaro, mas também é meio incômodo. E quem será o próximo morto a ser holografado? Lady Gaga?
domingo, 18 de maio de 2014
WE CAN BE HEROES
O cinema de Karim Aïnouz nunca foi fácil. O diretor cearense gosta de longos planos-sequência onde a câmera permanece fixa enquanto, por exemplo, uma moto segue pela estrada até sumir no horizonte. Mas também abusa das elipses, sem explicitar como se chegou de um ponto a outro. Isto acontece no começo de "Praia do Futuro". Logo depois do salva-vidas interpretado por Wagner Moura comunicar a um turista alemão que o amigo deste morreu afogado, os dois já estão transando dentro de uma viatura oficial. Como é que uma notícia fúnebre se transformou num momento de sexo desenfreado? Aïnouz tampouco explica as razões que levam o brasileiro a abandonar tudo e a seguir o gringo até Berlim, onde se instala e perde contato com a família. Anos depois, seu irmão caçula, que ele não viu crescer, aparece para tomar satisfações. Jesuíta Barbosa, grande revelação do ano passado, está irreconhecível e fantástico no papel, mas o filme pertence a Wagner. Ele literalmente se joga num personagem difícil, cujas motivações não são claras, sem o menor medo de se expor pelado (está com um corpaço) ou de se esfregar em outro homem. "Praia do Futuro" é uma equação onde duas duplas masculinas - dois amigos, dois irmãos - se separam, para que uma outra - dois amantes - possa se juntar. Tenta transmitir só com imagens o conflito interno de seu protagonista, mas no final há uma locução em off que parece imposta pelos produtores para dar uma satisfação ao público. Funciona, pois deixa o filme mais redondo. E justifica os créditos finais ao som de "Heroes" do David Bowie, que está virando o equivalente berlinense de "Cidade Maravilhosa".
I CREATE THE GAME
Uma semana atrás só os illuminati como nós já tínhamos ouvido falar de Conchita Wurst. Agora a vencedora do Eurovision recebe tuítes da Cher, ganha flores do Elton John e é convidada para o talk show do Graham Norton, o mais badalado da Inglaterra. A dama barbada não só estreou uma peruca cacheada como disse coisas inteligentes: "Cansei de fazer o jogo dos outros. Eu crio meu próprio jogo". Acho que já podemos coroá-la como a celebridade mais inspiradora de 2014.
sábado, 17 de maio de 2014
OLA DE REPROVAÇÃO
Ontem foi divulgado o clipe oficial de "We Are One (Ole Ola)", e é nítido que a FIFA e demais partes interessadas estão em modo controle de danos. É sintomático que, para agradar aos brasileiros, tenham escolhido o remix do Olodum e aumentado a participação de Claudia Leitte (mesmo assim, ela ainda aparece como Pilatos no credo). Não adiantou: subiu uma ola de reprovação na internet, e "Waka Waka" - a odiada canção de Shakira para a Copa de 2010 - galgou os TT's do Twitter, graças a uma campanha que "pede" por sua volta. Pois eu vou ser do contra. Acredita que eu gosto da melodia de "We Are One"? Não sei se é empolgante o suficiente para agitar uma torcida, mas soa como um agradável hit de verão. Fora que eu acho o Pitbull um totoso... Mas a minha opinião não importa. Nosso mau humor anda tão exacerbado que, mesmo se o hino oficial
da Copa fosse composto por Villa-Lobos e Tom Jobim, produzido por Quincy Jones e cantado por
John Lennon & Tim Maia feat. Amy Winehouse & Elis Regina (Peter Rauhofer Remix), todo mundo ia achar uma bosta.
sexta-feira, 16 de maio de 2014
A FALTA QUE FAZ UM LIVRO
E quando a gente acha que o Brasil já está uma merda de proporções continentais, eis que surge um juiz federal no Rio de Janeiro decidindo que umbanda e macumba não são religiões. Essa catarata de ignorância jorrou de Eugênio Rosa de Araújo, da 17a. vara, que alegou que "as manifestações religiosas afro-brasileiras não constituem religiões" porque não têm um livro sagrado como a Bíblia ou o Alcorão nem veneram um deus único. Como é que é??? Isso parece papo de muçulmano fundamentalista, que só respeita "os povos do Livro" - e a verdade é os neopentecostais só diferem numa coisa desses muçulmanos: na ganância desenfreada, que é muito maior. Parece óbvio que esse incrível juiz-que-não-estudou (é ele quem precisa de livro!) pertence a alguma "igreja" inventada há menos de três décadas por algum "pastor" salafrário, com alguns milênios a menos de tradição do que o culto aos orixás. Felizmente o Ministério Público Federal já recorreu deste flagrante atentado à liberdade religiosa, e aposto que tudo será revertido nos próximos dias. Por outro lado...
A decisão do juiz-que-não-estudou veio em resposta a uma ação também do MPF que pedia a retirada do YouTube de vídeos onde pastores achincalham os seguidores das religiões afro-brasileiras. Acho esses vídeos ridículos, mas... sou a favor de que eles permaneçam online, por uma razão bem simples: para mim, é mais do que lícito ofender, xingar e avacalhar com qualquer religião que seja (ou com a falta dela). Não acho que nenhuma fé seja sagrada o suficiente a ponto de não merecer uma bela tiração de sarro. Fora que esses vídeos patéticos expõem ainda mais a miséria mental dos seguidores das "igrejas" caça-níqueis. Por mim continua tudo no ar, mas com direito a réplica e tréplica ad infinitum.
A decisão do juiz-que-não-estudou veio em resposta a uma ação também do MPF que pedia a retirada do YouTube de vídeos onde pastores achincalham os seguidores das religiões afro-brasileiras. Acho esses vídeos ridículos, mas... sou a favor de que eles permaneçam online, por uma razão bem simples: para mim, é mais do que lícito ofender, xingar e avacalhar com qualquer religião que seja (ou com a falta dela). Não acho que nenhuma fé seja sagrada o suficiente a ponto de não merecer uma bela tiração de sarro. Fora que esses vídeos patéticos expõem ainda mais a miséria mental dos seguidores das "igrejas" caça-níqueis. Por mim continua tudo no ar, mas com direito a réplica e tréplica ad infinitum.
VAI TER COPA, MAS...
Lembro da eletricidade que havia no ar logo antes da Copa de 82. O Brasil inteiro tinha certeza de que conquistaríamos o tetra naquele ano, com uma seleção que incluía Zico, Sócrates e Falcão – talvez a melhor desde a vitória no México.
O Rio de Janeiro tinha muitas ruas engalanadas. A propaganda lançava personagens que colavam - quem lembra do Pacheco, “o camisa 12 da Gillette”? O horrendo mascote Naranjito estava muito mais visível que o atual Fuleco. Havia até um hino não–oficial que todo mundo cantava, o “Voa, Canarinho, Voa” do jogador Júnior.
Era de se esperar que teríamos tudo isso multiplicado por muito numa Copa sediada aqui no Brasil. Lula achava que isso ia mesmo acontecer: tanto que se esforçou para termos 12 sedes para os jogos, muito distantes entre si. Algumas, inclusive, em cidades como Manaus, que não têm times expressivos – e portanto não terão como manter no futuro as “arenas” (por que quase não falamos mais “ estádios”?) que ganharam.
Faltam menos de quatro semanas para a Copa começar e o clima no país é quase fúnebre. Exatamente o oposto do almejado. Crimes bárbaros, inflação crescente, insatisfação generalizada. Reclamamos com manifestações e depois reclamamos das manifestações.
Cadê a corrente pra frente? Cadê o jingle na boca do povo? Cadê as ruas cobertas por bandeirinhas? Uma iniciativa de vestir pessoas carentes com roupas doadas e depois “customizadas” de verde e amarelo foi ridicularizada na internet. Simplesmente não há clima para esse tipo de patacoada.
Isso talvez seja sinal de maturidade. O brasileiro médio talvez não ache mais que o futebol é a coisa mais importante do mundo. Aprendemos na marra que gol não enche barriga: levantamos a taça cinco vezes, mais do que qualquer outra nação do planeta, e mesmo assim ainda nos falta saúde, educação, transporte, civilidade, civilização.
Não era este o sonho de Lula. O ex-presidente queria uma grande festa que celebrasse a entrada do Brasil no primeiro time, que mostrasse ao mundo como somos bacanas e que pavimentasse com tijolos de ouro a estrada para mais quatro anos (no mínimo) de PT na presidência.
Claro que nada disto está acontecendo. Não conheço uma única pessoa que esteja excitada com a proximidade da Copa. Muitos temem o caos puro e simples, outros pensam em tirar férias e mandar tudo para escanteio.
Quero deixar bem claro: não torço contra, não. Quero que o Brasil dê um show. Que ganhe nos gramados e fora dele. Pode ser até que isto aconteça: Atenas também estava uma bagunça às vésperas das Olimpíadas de 2004, que no entanto foram um enorme sucesso (melhores até que as de Atlanta, nos avançados Estados Unidos).
Será que vai acontecer o mesmo por aqui? Acho que não. E se não acontecer, vai ter reflexos negativos nas eleições de outubro? Acho que sim.
Mas o jogo ainda nem começou.
O Rio de Janeiro tinha muitas ruas engalanadas. A propaganda lançava personagens que colavam - quem lembra do Pacheco, “o camisa 12 da Gillette”? O horrendo mascote Naranjito estava muito mais visível que o atual Fuleco. Havia até um hino não–oficial que todo mundo cantava, o “Voa, Canarinho, Voa” do jogador Júnior.
Era de se esperar que teríamos tudo isso multiplicado por muito numa Copa sediada aqui no Brasil. Lula achava que isso ia mesmo acontecer: tanto que se esforçou para termos 12 sedes para os jogos, muito distantes entre si. Algumas, inclusive, em cidades como Manaus, que não têm times expressivos – e portanto não terão como manter no futuro as “arenas” (por que quase não falamos mais “ estádios”?) que ganharam.
Faltam menos de quatro semanas para a Copa começar e o clima no país é quase fúnebre. Exatamente o oposto do almejado. Crimes bárbaros, inflação crescente, insatisfação generalizada. Reclamamos com manifestações e depois reclamamos das manifestações.
Cadê a corrente pra frente? Cadê o jingle na boca do povo? Cadê as ruas cobertas por bandeirinhas? Uma iniciativa de vestir pessoas carentes com roupas doadas e depois “customizadas” de verde e amarelo foi ridicularizada na internet. Simplesmente não há clima para esse tipo de patacoada.
Isso talvez seja sinal de maturidade. O brasileiro médio talvez não ache mais que o futebol é a coisa mais importante do mundo. Aprendemos na marra que gol não enche barriga: levantamos a taça cinco vezes, mais do que qualquer outra nação do planeta, e mesmo assim ainda nos falta saúde, educação, transporte, civilidade, civilização.
Não era este o sonho de Lula. O ex-presidente queria uma grande festa que celebrasse a entrada do Brasil no primeiro time, que mostrasse ao mundo como somos bacanas e que pavimentasse com tijolos de ouro a estrada para mais quatro anos (no mínimo) de PT na presidência.
Claro que nada disto está acontecendo. Não conheço uma única pessoa que esteja excitada com a proximidade da Copa. Muitos temem o caos puro e simples, outros pensam em tirar férias e mandar tudo para escanteio.
Quero deixar bem claro: não torço contra, não. Quero que o Brasil dê um show. Que ganhe nos gramados e fora dele. Pode ser até que isto aconteça: Atenas também estava uma bagunça às vésperas das Olimpíadas de 2004, que no entanto foram um enorme sucesso (melhores até que as de Atlanta, nos avançados Estados Unidos).
Será que vai acontecer o mesmo por aqui? Acho que não. E se não acontecer, vai ter reflexos negativos nas eleições de outubro? Acho que sim.
Mas o jogo ainda nem começou.
quinta-feira, 15 de maio de 2014
A PELE QUE ELA HABITA
"Sob a Pele" nem estava na minha lista. Mas aí eu me vi com um par de horas livres, e a única sessão que se encaixava nelas era a desse filme esquisito com Scarlett Johansson. É mais do que louvável que uma atriz com a fama dela se preste a um trabalho de vanguarda, que provavelmente vai faturar uns 200 reais nas bilheterias. Talvez um pouco mais: afinal, depois de usar só a voz em "Ela". ScarJo aparece aqui nuinha em pelo, mostrando um corpo renascentista cheio de curvas e gordurinhas, de quem sabe que não precisa de academia para ser bonita. O filme em si tem sequências desconcertantes, design sonoro esmerado e quase nada de trama. É só uma alenígena vagando pela Escócia e dando carona para incautos, que ela afunda numa piscina escura para fazer não se sabe bem o quê. Isto se repete tantas vezes que a segunda metade de "Sob a Pele" me encheu bastante o saco. Com uma hora a menos, teríamos um belíssimo média-metragem "de arte". Dp jeito que está, só para quem gostar muito de piração e/ou for tarado pela Scarlett.
MICHAEL RESSUSCITADO
Sempre gostei muito de Michael Jackson, mas ignorei completamente seu primeiro disco póstumo, "Michael", lançado em 2010. Não gosto muito dessas gavetas reviradas após a morte do artista: o que está lá costuma ser rascunho, ou então trabalhos que ele achou que não mereciam a luz do dia. Fora que há a ganância dos herdeiros, sempre querendo faturar mais um trocado. Mas "Xscape" me chamou a atenção, talvez porque a Sony tenha cometido uma heresia ainda maior: trocou os arranjos originais gravados por Jackson por versões contemporâneas, orquestradas pelo mega-produtor Timbaland. A edição "deluxe" do disco traz as mixagens novas e as antigas, e sabe que não ficou ruim? É até plausível que "Xscape" poderia ser o disco lançado agora pelo falecido "rei do pop" se ainda estivesse vivo. Como se está comentando muito por aí, as oito faixas escolhidas são melhores do que 95% do que toca atualmente no rádio (e de 100% de "Invincible", o péssimo CD que foi o último lançado por Michael em vida). Uma delas traz o título de "Do You Know Where Your Children Are", bem infeliz de ser ouvida na boca de um possível pedófilo, e outra é uma releitura jacksoniana do clássico do America, que vuirou " A Place With No Name". Mas só uma canção é digna de entrar num "best of", e é a faixa de abertura "Love Never Felt So Good". Há uma variante com a participação de Justin Timberlake nos vocais, mas é totalmente dispensável: só serve para provar que Michael era muitíssimo melhor que seu suposto herdeiro.
quarta-feira, 14 de maio de 2014
DESINSERIDOS
Hoje cedo soltei a seguinte gracinha no Facebook:
Sabe aquele comercial do PT em que pessoas que agora estão bem veem seus "fantasmas", de quando estavam mal? Deviam mostrar um gay machucado vendo o fantasma de um gay machucado. Para os gays o PT não fez nada.
Ganhei um monte de likes, mas também alguns desmentidos. Simpatizantes foram rápidos em me lembrar que as prefeituras controladas pelo partido gastam fortunas com paradas gays, que a Advocacia Geral da União sempre apoiou o casamento entre pessoas do mesmo sexo, e que, por baixo dos panos, o governo federal já fez muita coisa para reduzir a violência homofóbica.
Mas aí é que mora parte do problema: por baixo dos panos! Cadê o discurso inequívoco de Dilma em prol da bicharada? Sei que ela é mulher educada e que pessoalmente é a favor dos direitos igualitários. Que já disse num "Roda Viva" em 2010 que era a favor da união civil, pois casamento seria restrito às religiões (o que não é verdade, pois existe o casamento civil). E que não é a única no PT, longe disso: Marta Suplicy e Maria do Rosário são só dois dos exemplos mais fulgurantes, mas existem muitos outros. Meno male.
Só que, na hora do vamovê, o PT jamais hesitou em rifar a causa LGBT em prol de algum ganho político. Não duvido que hoje a presidenta se arrependa de ter vetado o célebre kit anti-homofobia; além do mais, porque foi para conseguir o apoio dos fundamentalistas para salvar o Genoíno, que não adiantou de nada. E ela ainda soltou o infame "propaganda de opção sexual", uma barbaridade imperdoável para uma mulher educada.
Esse apoio envergonhado do PT aos gays me dá mais uma razão para votar na oposição em outubro. Em qual, não sei. Aécio já disse com todas as letras que apoia o casamento igualitário, mas o PSDB sempre se aliou aos piores pastores nas eleições presidenciais. Eduardo Campos aprovou leis anti-homofobia em Pernambuco, mas, depois de se declarar contra o aborto, para mim agora é uma incógnita. E Marina é evangélica...
Só sei que não sinto os gays mais inseridos na sociedade brasileira POR CAUSA do PT. Quero dizer com isto que esta inserção de fato existe, mas o partido pode se gabar bem pouco dela. Podia ter feito muito mais. E dito, com todas as letras.
ATUALIZAÇÃO: Para uma visão muito mais abrangente e informada do que a minha, recomendo a leitura deste artigo do Gunter Zibelli.
Sabe aquele comercial do PT em que pessoas que agora estão bem veem seus "fantasmas", de quando estavam mal? Deviam mostrar um gay machucado vendo o fantasma de um gay machucado. Para os gays o PT não fez nada.
Ganhei um monte de likes, mas também alguns desmentidos. Simpatizantes foram rápidos em me lembrar que as prefeituras controladas pelo partido gastam fortunas com paradas gays, que a Advocacia Geral da União sempre apoiou o casamento entre pessoas do mesmo sexo, e que, por baixo dos panos, o governo federal já fez muita coisa para reduzir a violência homofóbica.
Mas aí é que mora parte do problema: por baixo dos panos! Cadê o discurso inequívoco de Dilma em prol da bicharada? Sei que ela é mulher educada e que pessoalmente é a favor dos direitos igualitários. Que já disse num "Roda Viva" em 2010 que era a favor da união civil, pois casamento seria restrito às religiões (o que não é verdade, pois existe o casamento civil). E que não é a única no PT, longe disso: Marta Suplicy e Maria do Rosário são só dois dos exemplos mais fulgurantes, mas existem muitos outros. Meno male.
Só que, na hora do vamovê, o PT jamais hesitou em rifar a causa LGBT em prol de algum ganho político. Não duvido que hoje a presidenta se arrependa de ter vetado o célebre kit anti-homofobia; além do mais, porque foi para conseguir o apoio dos fundamentalistas para salvar o Genoíno, que não adiantou de nada. E ela ainda soltou o infame "propaganda de opção sexual", uma barbaridade imperdoável para uma mulher educada.
Esse apoio envergonhado do PT aos gays me dá mais uma razão para votar na oposição em outubro. Em qual, não sei. Aécio já disse com todas as letras que apoia o casamento igualitário, mas o PSDB sempre se aliou aos piores pastores nas eleições presidenciais. Eduardo Campos aprovou leis anti-homofobia em Pernambuco, mas, depois de se declarar contra o aborto, para mim agora é uma incógnita. E Marina é evangélica...
Só sei que não sinto os gays mais inseridos na sociedade brasileira POR CAUSA do PT. Quero dizer com isto que esta inserção de fato existe, mas o partido pode se gabar bem pouco dela. Podia ter feito muito mais. E dito, com todas as letras.
ATUALIZAÇÃO: Para uma visão muito mais abrangente e informada do que a minha, recomendo a leitura deste artigo do Gunter Zibelli.
DEPOIS DA SEPARAÇÃO
"O Passado" foi inteiramente rodado na França e é quase todo falado em francês. Mesmo assim, representou o Irã no último Oscar de filme estrangeiro. Não só o diretor Ashgar Farhadi vem de lá como a trama é iraniana até a medula: não existem vilões, só pessoas que cometem erros, e o ritmo é lento porém intenso. Estamos diante de uma espécie de continuação de "A Separação", o trabalho anterior de Farhadi, que levou uma penca de prêmios no mundo inteiro. Lá o drama se passava entre um casal que se divorciava porque ela queria ir embora para a Europa e ele, continuar no Irã. Aqui temos um casal já separado: uma francesa que permaneceu em Paris, enquanto que seu ex-marido iraniano preferiu voltar para casa. Quando o filme começa ele chega para assinar o divórcio, pois ela quer se casar de novo. Só que as coisas não são tão simples assim. A filha mais velha dela (que não é dele) odeia o namorado da mamãe, que por sua vez ainda quer se vingar do homem que a abandonou anos atrás. E assim as camadas de desgraças vão se revelando como numa cebola descascada: sempre há alguma coisa por trás daquela que acabou de ser revelada, num jogo onde todos são um pouco culpados mas ninguém fez de propósito. "O Passado" é um filme denso e adulto, e tenho certeza que muita gente vai achar chatíssimo. Tudo bem: para essa turma está passando "Homem-Aranha 12: o Retorno do Mais do Mesmo".
terça-feira, 13 de maio de 2014
RIGOROSAMENTE ULTRAJANTE
Tenho maior respeito pelo José de Abreu, tanto que o sigo no Twitter: acho saudável ler opiniões que não coincidam com as minhas. Mas de vez em quando, tipo todo dia, ele exagera na militância política, e acaba levando uma traulitada. Dessa vez foi do Roger, líder do Ultraje a Rigor. Num dos últimos shows da banda, o cantor reagiu publicamente a este tuíte do Zé que pode ser lido aí ao lado (os dois já haviam discutido antes, pela rede social). Disse que o dinheiro que recebe como patrocínio vem do povo, não do governo, no que tem toda razão. José de Abreu é vítima de uma confusão comum entre os brasileiros, que misturamos estado, governo e partido da situação como se fossem uma coisa só. Claro que não: o fato de um órgão ser público não significa que ele esteja a serviço dos poderosos de plantão. Mas o autoritarismo tupiniquim não percebe essa distinção, ainda mais borrada por tantos anos de PT na presidência. Dos canteiros do palácio podados em forma de estrela ao aparelhamento descarado de empresas como a Petrobras, o PT age como se fosse dono da res publica, e nos trata a todos como apaniguados que precisam demonstrar gratidão. Não pago meus impostos para dar força a um projeto político: pago para ter serviços, e para que outros também os tenham. É um ultraje o fato da esquerda não entender isto.
segunda-feira, 12 de maio de 2014
A BARRA DA TIJOUX
Não costumo gostar de rap, mas tenho que dar o braço a torcer: um dos melhores discos deste ano já é "Vengo", o quarto trabalho solo da rapper chilena Ana Tijoux. Porque vai muito além do rap: ela mistura ritmos de toda a América Latina numa colagem musical riquíssima, com folclore, efeitos sonoros e convidados especiais. O problema são as letras em si, ingênuas do tipo "abaixo o capitalismo". Talvez por isto Ana não tenha site nem clipes recentes, mas quem ficou curioso pode ouvir o álbum inteiro aqui. Que já está disponível na iTunes Store.
TOUCHDOWN
É um privilégio viver nos tempos que correm. Quase toda semana acontece alguma coisa importante na luta pelos direitos igualitários. Só nos últimos dias aconteceram duas. A primeira foi a vitória de Conchita Wurst no festival Eurovision, que teve inegável cunho político. A "mulher barbada" da Áustria foi clara em seu discurso de agradecimento: "we're unstoppable", ninguém pode nos parar (e você viu como a Rússia foi vaiada pela plateia em Copenhague?). O outro fato significativo foi o beijo em frente às câmeras da ESPN, que o jogador de futebol americano Michael Sam deu no namorado ao ser convocado para o St. Louis Rams - um time que também gosta de fazer história, já que, nos anos 40, foi o primeiro a incluir negros na equipe. Michael Sam se destacou nos campeonatos universitários, mas existia a dúvida de se ele seria capaz de transitar para a categoria profissional por ser abertamente gay. Não existe mais: in your face!
domingo, 11 de maio de 2014
TIRO CERTEIRO
Os americanos já fizeram filmes sobre a campanha que elegeu Obama. Por lá existe a cultura de dramatizar o poder, mesmo que quase sempre isto desagrade a algum dos lados envolvidos. Brasileiros gostam de consenso - talvez por isto quase não existam bons filmes (excluindo os documentários) ou séries sobre a nossa política. Outra razão é nosso autoritarismo atávico, reforçado por 21 anos de ditadura militar. Mesmo sabendo de tudo isto, é surpreendente pensar que o suicídio de Getúlio Vargas levou 60 anos para chegar às telas dos cinemas. Pelo menos chegou bem: "Getúlio" é um filmaço, reunindo na ficha técnica o crème de la crème do talento nacional. O roteiro de George Moura consegue não só ser fiel aos fatos como reproduzir diálogos inteiros sem resvalar na chatice: é enxuto, sem barriga, claro sem ser didático. A trilha sonora é melhor que a de muito vencedor do Oscar. O diretor João Jardim surpreende com planos detalhistas, como um close num prato de comida ou nos dedos que rodam um charuto. E só não digo que o elenco está perfeito porque Tony Ramos vai além. Ele é ajudado por uma caracterização esmerada, mas é seu trabalho como ator que nos faz esquecer de sua persona televisiva e acreditar que estamos mesmo vendo o caudilho. "Getúlio" é um filme grandioso que o cinema brasileiro devia ao país.
BOULES DE CIRE
Moro ao lado do hotel onde o One Direction está hospedado em São Paulo. A gritaria na porta começou na madrugada de sábado e não parou nem quando os garotos saíram para dar seu primeiro show. Hoje está frio e nublado, e nem por isto as meninas (e umas poucas bibas) arredam pé. A banda também não colabora: a toda hora um deles aparece na janela para dar tchauzinho, o que faz com que o berreiro ultrapasse o volume de decibéis de um avião supersônico. Existem muitas teses a respeito desse comportamento de manada da sexualidade feminina. As fãs são todas mocinhas de família, e muitas provavelmente ainda são virgens. Mesmo assim, acham perfeitamente normal vir para o meio da rua extravasar seu desejo (e os pais liberam, talvez para elas não ficarem enchendo o saco em casa). Deve haver algum componente biológico nessa exaltação, pois se algum dos integrantes do grupo quisesse comer todas de uma só vez, conseguiria. Só que, mais do que entender, o que eu preciso neste momento é das famosas boules de cire Quies para lacrar meus ouvidos. Mas não nas antissépticas embalagens modernas. Tinha que ser naquelas caixinhas egípcias, como as que minha avó usava.
sábado, 10 de maio de 2014
COMO UMA FÊNIX
Passei a semana achando que não ia dar. Um jornal inglês previu a vitória da Armênia - justo a Armênia, cujo representante fez uma piada de mau gosto com a nossa queridinha (mas depois pediu desculpas). Hoje o mesmo jornal já dizia que ela perigava chegar em segundo, depois da performance literalmente incendiária na semi-final de quinta que a classificou para a finalíssima de hoje. Mesmo assim, a dupla que representava a Holanda era considerada favorita. Mas. quando os votos começaram a ser apurados, não deu outra; Conchita Wurst renasceu das cinzas, bateu asas e alçou voo. Cravou quase 300 pontos - e uns 30 a mais que os holandeses, que amargaram placê. E ainda fez um discurso lindo em prol da igualdade. Agora Conchita virou superstar a nível planetário. E, graças a essa vitória, o Eurovision do ano que vem será em Viena: the wienner takes it all!
CHUPA, LADY GAGA
Enquanto esperamos pela performance de Conchita Wurst na final do Eurovision e o inevitável post que virá na sequência, permita-me voltar ao último assunto: La Tigresa del Oriente, que aqui faz cover de Lady Gaga e Christina Aguilera com sua amiga Berta. Repare que a mosca na câmera está de volta em alguns takes. Depois dessa, precisamos redefinir nosso conceito do que seja trash.
sexta-feira, 9 de maio de 2014
Y TENGO MIS PODERES
Enquanto Valesca Popozuda gastou fortunas com locações e bailarinas, sua similar peruana, La Tigresa del Oriente, gravou um clipe em casa, usando apenas sua fabulosidade. Além de uma sujeirinha na câmera que parece uma mosca.
RECEITA DE PEGADINHA
Se alguém sair por aí se autorpoclamando um gênio, 90% das pessoas vão acreditar - porque NINGUÉM sabe NADA de PORRA NENHUMA. Este fato da vida foi confirmado pelo pessoal do Found Footage Festival, uma trupe de vídeo-terroristas. Um deles se fez passar por um chef renomado, autor de um livro que ensina como reaproveitar os restos de comida. E foi a vários programas da TV americana, demonstrando receitas pavorosas como sorvete de purê de batata ou shake com tudo que houver na geladeira. Ninguém se deu ao trabalho de checar as credenciais do cara! A pegadinha só foi revelada quando o próprio grupo se denunciou. Aposto que ainda tem neguinho procurando pelo livro na Amazon.
quinta-feira, 8 de maio de 2014
DEGENERAÇÃO BRASIL
Um sujeito foi assaltado no Guarujá. Relatou o caso no Feice, ganhou um monte de likes e achou que tinha coisa aí. Criou uma página de vigilância, para monitorar os crimes de sua região, encontrar cachorros perdidos, mostrar buracos na rua... Só que o tal cara não é jornalista nem policial: nunca se preocupou em checar fontes ou ouvir o outro lado. E, na ânsia de conseguir ainda mais likes (e quem sabe um patrocinador), acabou publicando boatos. Como o do posto de saúde que estaria usando seringas contaminadas com o vírus HIV - uma denúncia gravíssima. Só que totalmente sem fundamento, tanto que lhe valeu um processo movido pela prefeitura. Isso não o desanimou, e a cagada seguinte foi a história da mulher que sequestrava crianças para rituais de magia negra. Deu no que deu. Não é a primeira vez nem a última que uma bobagem postada na rede vira uma bola de neve e prejudica alguém. Eu mesmo conheço gente que teve a carreira prejudicada por fofoca furada. Não, não vou reclamar da internet dar acesso a qualquer um que queira escrever - não vou cuspir no prato onde como todos os dias. Tampouco vou sugerir qualquer tipo de controle. Nem adiantaria: ainda vivemos numa Idade Média mental, cercados por bruxas e espíritos malignos. O pânico moral nasce na ignorância e é alimentado por quem lucra com ele, como pastores safados que criam inimigos imaginários para assustar seus fiéis. Tem solução para isto? Tem, Brasil: a educação. Mas leva algumas gerações.
MEUS OLHOS ANDAM CEGOS DE TE VER
Nunca houve um nome que sugerisse tanta delicadeza e violência quanto o de Florbela Espanca. A vida e a obra dessa poeta portuguesa fizeram jus a ele. Reza a lenda que a moça morreu de tristeza aos 36 anos, mas na verdade ela conseguiu se matar em sua terceira tentativa. O filme "Florbela" é uma adaptação livre de fatos reais, e foi a maior bilheteria de 2012 em Portugal. O que prova mais uma vez o quão diferentes somos dos tugas: o ritmo devagar-quase-parando não enche cinema por aqui (aliás, a sala onde eu fui estava quase vazia). Isso não quer dizer que "Florbela" não tenha momentos sublimes, ajudados pelo excelente elenco e pela direção de arte esmerada. Mas só quem for lusófilo como eu deve encarar - e ainda assim precisa ter pachorra, como eles dizem.
(o título do post vem de um dos mais famosos poemas de Florbela, "Fanatismo", que nos anos 80 ganhou música de ninguém menos que Raimundo Fagner)
(o título do post vem de um dos mais famosos poemas de Florbela, "Fanatismo", que nos anos 80 ganhou música de ninguém menos que Raimundo Fagner)
quarta-feira, 7 de maio de 2014
JOGA PEDRA NO BRUNEI
O Brunei é uma invenção britânica. Deveria ter se juntado aos outros pequenos sultanatos do sudeste da Ásia que formam a Federação da Malásia, quando eles deixaram de ser colônias em 1957. Mas esse paiseco encravado na costa norte da ilha de Bornéu é riquíssimo em petróleo, e ganhou a independência para ser manipulado mais facilmente. Quase nunca frequenta as manchetes, mas virou a bola da vez porque seu sultão resolveu aprovar a sharia - a lei islâmica que, entre outras coisinhas, prevê o apedrejamento para os homossexuais. Se fosse um rincão perdido na África talvez passasse desapercebido, mas Sua Majestade Hassanal Bolkiah tem participações em inúmeros negócios de abrangência global. Como a chiquérrima rede Dorchester, que inclui, entre muitos outros, do Beverly Hills Hotel. As bichas finas americanas já estão pregando um boicote ao estabelecimento, e conseguindo que vários eventos sejam cancelados. Tudo justíssimo, claro, mas a pressão pode ter o efeito contrário. O sultão está fazendo isso para agradar a seu público interno, e vai pegar mal se acharem que ele se dobrou aos protestos dos estrangeiros depravados. Que, aliás, não fazem o mesmo com a Arábia Saudita. Talvez porque ela seja dona de ainda mais coisas, e um boicote seria inviável.
APERTEM OS PINTOS
Muitas culturas fora do Ocidente têm um terceiro gênero - geralmente homens que se vestem de mulheres e assumem tarefas femininas. É o caso de algumas tribos indígenas da América do Norte, algumas ilhas do Pacífico e também da Índia. Lá existe a casta das "hijras", que são consideradas verdadeiros amuletos ambulantes. Essas trans indianas (que não cortam nada fora, só apertam) costumam ser convidadas para abençoar os recém-nascidos, e agora também fazer campanha em prol do cinto de segurança no trânsito. O vídeo acima nem é tão sensacional assim - mas dá para imaginar algo parecido sendo feito por aqui?
terça-feira, 6 de maio de 2014
MÃE NÃO É TUDO IGUAL
Hoje é terça-feira. Portanto é dia de vídeo novo do "Põe na Roda", e também do meu post obrigatório sobre ele. Dessa vez os garotos vêm numa chave um pouco mais séria, com depoimentos incríveis de mães de gays e lésbicas. Pelos bottons que algumas usam, dá para perceber que são militantes de ONGs pró-igualdade. Quem me dera que a minha mãe fosse assim... Apesar de ter me assumido para ela há mais de 30 anos (eu conto como foi no vídeo "Não Gosto dos Meninos") e dela ter respondido, como as fofas acima, que desconfiava desde sempre, o assunto não é bem resolvido até hoje. Sabe o que mamãe me disse outro dia? Que havia pedido a Deus para não passar por três provas nesta vida - divórcio, câncer e filho gay - e acabou passando por todas. Talvez seja por causa da geração dela, talvez soe como um exemplo de superação, mas o fato é que eu odiei ser incluído neste trio de desgraças. Ainda bem que tem mãe moderna que pensa diferente, desmentindo aquela velha piada do "só muda de endereço".
BABY COME BACK
Iuuupiii! Um dos melhores seriados de todos os tempos vai voltar a ser produzido. E não, não é "Friends"- não se deixe enganar pela foto aí em cima. É algo até melhor: "The Comeback", o primor de sitcom que Lisa Kudrow fez na HBO depois de enterrar a Phoebe. Era um programa à frente de seu tempo, e talvez por isto tenha durado uma mísera temporada. Contava a história de Valerie Cherish, uma estrela em decadência que se submetia a um reality show para recuperar a fama, e era assinado por um sangue-azul do gênero: Michael Patrick King, que foi showrunner de "Sex and the City". "The Comeback" deu pouca audiência quando foi ao ar, mas depois sua reputação cresceu feito bola de neve. Vendeu muito DVD, tornou-se cult e logo começaram os pedidos para que fosse retomada. Com apenas dez anos de atraso, a HBO cedeu: a produção de uma nova temporada começa esta semana, com a participação de praticamente todo o elenco original (a ausência notável é Ty Burrell, que fazia o marido de Valerie e hoje está em "Modern Family"). Você não faz a mais puta ideia do que eu esteja falando? Então procura "The Comeback" na internê, porque não é difícil achar.
ME LAMBE, DIGÃO
Fiqueio sabendo por um leitor do blog deste caso, que aconteceu durante um show dos Raimundos em Jaraguá do Sul (SC) na última sexta-feira. Hoje eu descobri que existe um vídeo, então merece post. Para quem ainda não sabe: um casal gay se beijou na boca e foi hostilizado por parte da plateia, que tentou expulsá-los da boate My Way. Mas o vocalista Digão percebeu a tempo e não só chamou os dois no palco como pediu para que eles se beijassem novamente. Depois avisou ao respeitável público que estamos no tempo da paz, não da agressão - e até admitiu que estava ficando com tesão, hehehe. Pois eu também estou ficando, e é pelo apoio desses aliados héteros em horas como esta.
segunda-feira, 5 de maio de 2014
MOSTRA TUA CARA
Sempre tive acessos de antipatriotismo, mas eles estão se tornando mais frequentes. Não é uma merda morar num país onde alguém joga dois vasos sanitários do alto de um estádio, só pela graça de matar alguém a esmo? Esse caso é umas 700 mil vezes pior que o da banana atirada em Daniel Alves, e no entanto a repercussão está sendo relativamente mais fraca. E, além do Guarujá, sabe em que outro lugar do mundo uma mulher foi linchada outro por uma multidão ensandecida, acusada de ser uma bruxa? Naquela potência emergente que é a Papua Nova Guiné. Atos como esses vão além da falta de acesso a uma educação de qualidade. Revelam uma absoluta falta de qualquer vestígio de civilização, e justo num país que se acha a terra natal de Deus. O excesso de autoestima de nós, brasileiros, insuflado pela publicidade e por todos os governos, sempre fez com fôssemos indulgentes com nós mesmos. Há alguma coisa de muitíssimo errada por aqui, mas eu não sei dizer bem o que é - e nem vai ser um post vagabundo como este que vai mudar um átomo que seja. Mas está cada vez mais difícil viver no Brasil, e ainda mais pensar num futuro melhor. Desculpem, mas hoje tá foda.
LOUVADO SEJA
A parada gay de São Paulo foi aberta ontem de maneira extra-oficial por um grupo de pessoas usando camisetas amarelas da Igreja Cristã Contemporânea. Na esquina da Paulista com a Consolação, bem debaixo da varanda onde eu estava, eles pararam e executaram uma coreografia simples - tipo um Village People de Deus. Também cantaram um hino conclamando os homossexuais a largarem a "promiscuidade" e a se casarem entre si. É a mesma posição da Igreja Cidade do Refúgio, que promoveu uma balada gospel gay na sexta passada com open-bar "santo" (sem álcool) e muito louvor. Olha, até aí nada contra: cada um que acredite no que quiser e siga as regras que lhe parecerem as mais corretas. O problema é quando os crentes tentam impingir seu sistema de valores naqueles que não acreditam, mas ainda não é o caso. Portanto, viva a diversidade.
domingo, 4 de maio de 2014
PARTE DA PAISAGEM
Pela quarta vez (não-consecutiva), assisti à parada gay de São Paulo do terraço de um amigo que mora bem na esquina da Paulista com a Consolação. Este ano os carros vieram tão homogêneos que era difícil distingui-los uns dos outros: todos com a bandeira oficial do evento, e nada de entidades como o sindicato dos enfermeiros. E também quase nada de celebridades: faltaram não só uma Daniela Mercury, a estrela do ano passado, como também políticos habitués como Marta Suplicy e Jean Willys. Pelo menos Salete Campari compareceu com seu carro, e o Netflix veio promover a segunda temporada de "Orange is the New Black" com a presença de uma das atrizes, a ultra-butch Lea De Laria. A falta de novidades foi mais do que compensada pelo povo: a Paulista mais uma vez submergiu sob um mar de gente, se bem com menos tipos bizarros do que em outras edições. Isto talvez seja um bom sinal. A Parada se incorporou à rotina da cidade, e acho que não há mais a necessidade de transigir a qualquer custo. Faz parte.
BELGA PORÉM ITALIANO
Eu nunca tinha ouvido falar em Rocco Granata, e olha que o pop eurotrash é uma das minhas especialidades. Talvez porque esse cantor e acordionista italiano tenha se radicado na Bélgica, um país sem muita tradição em estrelas internacionais. Granata estourou em 1959 com uma canção chamada "Marina", que também dá o nome do filme que cobre sua infância e juventude. É quase que uma versão flamenga de "Dois Filhos Francisco": família imigrante que passa por mil dificuldades, até que o filho com talento para a música redime a todos. A diferença é que o pai de Rocco é contra sua carreira artística, mas também não quer que o filho vá trabalhar na mesma mina de carvão que ele. Essa tensão varia de intensidade ao longo do roteiro e dá uma certa incoerência à trama. Mais interessante é o racismo pouco velado que os morenos calabreses sofrem na loura região belga de Flandres. "Marina" começa bem, mas não mantém o pique ao longo de mais de duas horas. E me decepcionou um pouco, que fui ao cinema basicamente por causa do poster aí em cima.
sábado, 3 de maio de 2014
NOTA AFINADA
A notícia mais surpreendente desta Semana do Orgulho LGBT em São Paulo é a nota emitida na quarta-feira passada pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese da cidade. É claro que a Igreja Católica está longe de ser um organismo homogêneo, e a arquidiocese de São Paulo é uma das mais progressistas do mundo. Mas é difícil imaginar que um texto desses, defendendo os LGBT da violência e da discriminação, viesse à tona durante o papado de Bento 16. Os tempos estão mudando, e a Igreja só conseguiu sobreviver por dois mil anos porque sempre soube se adaptar a eles. Deve vir mais por aí.
sexta-feira, 2 de maio de 2014
DOWNTOWN GRACHT
Fazia tempo que eu não lia um romance que me deixasse tão hipnotizado. Até me arrependo de ter deixado "History of a Pleasure Seeker" esperar tanto tempo na fila: comprei o livro no começo de 2012, logo depois de voltar da África do Sul. Queria ler algo que se passasse na Cidade do Cabo, e a Amazon me recomendou esta obra de Richard Mason. O autor é um sul-africano radicado em Londres que estourou aos 18 anos logo com sua estreia, "Drowned People", mas eu nunca tinha ouvido falar dele. Agora estou enfeitiçado: "Pleasure Seeker" é uma variante moderna da história de um empregado que afeta a vida de uma família inteira. A maior parte da ação se passa numa rica casa em Amsterdam, às margens do Herengracht, e lembra muito uma versão holandesa de "Downton Abbey" - se bem que com mais sexo, inclusive gay. Ao contrário do que eu esperava, quase não há África: o livro termina a bordo de um navio rumo à Cidade do Cabo, e a segunda parte se desenrolará em Johannesburgo. Não vejo a hora de ser lançada. Enquanto isto, vou ter que me entreter com a minissérie para a TV, que já entrou em produção.
quinta-feira, 1 de maio de 2014
VOZ DE BICHA
Nada denuncia mais um gay do que a voz. Héteros de carteirinha às vezes têm gestos delicados; mas aquela vozinha peculiar, talvez ciciosa, equivale a um comprovante autenticado em cartório. E a voz talvez seja o derradeiro baluarte da homofobia. Até viadaços assumidérrimos manifestam desconforto com quem soa afeminado, haja vista a preferência por másculos durões nos Grind'rs da vida. O preconceito ainda é tão grande que tem biba por aí fazendo aulas de fono, para ver se aprende a falar "feito homem". Este é o tema do documentário "Do I Sound Gay?", que acaba de ser rodado nos Estados Unidos. Ontem o diretor David Thorpe colocou o projeto num site de crowdfunding para conseguir os mais de 100 mil dólares que precisa para a finalização (em 24 horas já obteve 17 mil). E eu lanço a pergunta para os meus leitores gays: você se incomoda com a sua própria voz? Faz, ou já fez, algum esforço para soar mais macho? Antes que me devolvam a pergunta: sim, eu detesto a minha voz (acho que todo mundo, gay ou não, se incomoda quando ouve a própria voz gravada, porque ela é sempre diferente da que escutamos na nossa cabeça). E você, mia ou fala grosso?
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