domingo, 27 de abril de 2014
ENCAIXOTANDO O PARAGUAI
Eu nunca tinha visto nenhum filme paraguaio, e aposto que você também não. Nosso vizinho não tem nem fiapo de indústria cinematográfica. Por isto é surpreendente que um longa de lá chegue às telas brasileiras - e ainda mais com a qualidade de "7 Caixas", que vem sendo chamado de uma versão local de "Cidade de Deus". A comparação se justifica pela câmera nervosa, pela edição clipada e pela trama que se passa num mundo de crime e miséria. Aliás, miséria é o que não falta: sensibilidades mais frágeis talvez devam rever "Frozen" em DVD. O ponto de partida do roteiro é simples: um moleque que trabalha como carregador num mercado de Assunção recebe de dois açougueiros a tarefa de ficar zanzando a esmo com sete misteriosas caixas de madeira durante um dia inteiro. Se cumprir a missão, receberá a inimaginável fortuna de 100 dólares - o suficiente para comprar um celular usado com câmera de vídeo. A ação se passa em 2005, antes do advento ds smartphones, e o sonho do garoto é ser filmado e aparecer numa tela. Daí para a frente emerge um submundo povoado por policiais malandros, comerciantes coreanos e o inevitável travesti. Ninguém nasceu vilão, mas todos têm boas razões para cometer atos de vilania. "7 Caixas" seria melhor se o roteiro fosse mais enxuto: o ponto de chegada é vislumbrado várias vezes, mas demora para ser atingido. Para piorar, a única cópia em exibição em SP traz as legendas em português sobrepostas às legendas em espanhol (porque o filme é quase todo falado numa mistura peculiar de espanhol e guarani), causando dor de cabeça no espectador já nos primeiro cinco minutos. Mas vale muito a pena, ainda mais porque a mensagem é clara: assim como o protagonista do filme, o Paraguai quer ser filmado e aparecer na tela. Está começando a conseguir.
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Não acho que se encaixa no perfil do Cidade... de modo algum pelo q vc resenhou tah uma vibe mais p/ Slumdog Millionaire, vou assistir, muito lírico isso de no meio da imundície brilhar uma boa ação e como é difícil ser bom num meio hostil, o menino quer se ver e ser visto tb como tantos outros, fofo.
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