segunda-feira, 21 de abril de 2014

A BOSSA NOSSA E A DOS OUTROS

Um amigo gringo que havia acabado de se mudar para o Rio me perguntou qual era o melhor lugar para se ouvir bossa nova na cidade. E eu respondi... (grilos). Curioso como a música brasileira mais famosa do mundo virou quase que peça de museu por aqui. A bossa nova não gerou variantes: até existem versões eletrônicas dos clássicos, mas nada que se compare ao que aconteceu com o tango na Argentina. Mas não morreu para sempre. De vez em quando surge um bom disco novo do gênero, ainda que sem acrescentar muito ao que já existe. É o caso de "Gilbertos Samba": a releitura que Gilberto Gil faz de diversos temas gravados por João Gilberto (inclusive um co-escrito pelo próprio Gil). O ex-ministro da Cultura é excelente violonista, e sua voz tem mais alcance do que a do pai da bossa nova (se bem que eu nunca gostei muito de seu timbre). Com bom gosto e sobriedade, ele fez um álbum forte e delicado ao mesmo tempo, com uns toques moderninhos aqui e ali. Mas Gil acaba sendo reverente demais, aparentando medo de profanar um campo sagrado. Ou vai ver que ele sente que já profanou o suficiente com a Tropicália.

Mais interessante, para mim, é a bossa nova que os gringos fazem. Como a da dupla americana Thievery Corporation, que faz um som "lounge" assumidamente influenciado pelo Brasil. Agora eles lançam "Saudade", um CD inteirinho do que acham que seja bossa nova. Digo acham porque mesmo as faixas cantadas em português (há também em inglês, francês, espanhol e italiano) e acompanhadas por uma leve batucada não soam como standards de Tom Jobim. Há um certo excesso de melancolia. Outras estão mais para a praia de Henry Mancini do que qualquer outra coisa, sem o menor aroma de brasilidade. Mas tudo bem: o que importa é que o disco é um ótimo exemplar do estilo "rede sonora". É só ouvir para você se sentir balançando numa rede à beira-mar, com um drink na mão.

4 comentários:

  1. A bossa nova / new wave do Nouvelle Vague também é ótima, eles são meus preferidos nesse quesito

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  2. Vc nao gosta do timbre do joao gilberto ou do timbre do gilberto gil? nao entendi.

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  3. Lembrei de uma cena do filme "Olhos Azuis" em que o tiozão americano pergunta pra moça brasileira: "Vocês não ouvem bossa nova?"
    E ela responde "bossa nova? Isso é música de velho"

    É bem verdade que é um ritmo difícil de se reinventar além do banquinho e do violão. Nem o Nouvelle Vague está mais tão preso ao estilo. Quase vomitei quando vi o video da Bebel Gilberto apelando pra uma versão bossa novZZZZZZ de "Rio" do Duran Duran no Arpoador. Em tese parece uma boa ideia: Rio + show no Rio + bossa nova. Mas simplesmente não funcionou.

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