sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

TEORI DA CONSPIRAÇÃO

Muita decepção com a absolvição na prática de Zé Dirceu e Genoíno, mas zero de surpresa. Estava mais do que óbvio que Dilma nomeou Teori e Barroso para o Supremo com este único objetivo. Conseguiu. Não vou reclamar: foi tudo dentro do previsto pela constituição. Mas vou lamentar, principalmente por morarmos num país que não consegue manter um famoso na cadeia. Viram que o goleiro Bruno está assinando com um time mineiro para voltar a jogar?

CHUPA, UGANDA

A governadora Jan Brewer vetou a lei que permitiria ao comércio do Arizona discriminar clientes gays com base em preceitos religiosos. A grita foi ensurdecedora, e como sempre o dinheiro gritou mais alto: até o SuperBowl ameaçou não ser realizado naquele estado no ano que vem. Tomara que as pressões econômicas também prevaleçam em Uganda. Muitos países europeus já suspenderam sua ajuda ao país africano (que nem é dos mais pobres), e o Banco Mundial negou ontem um empréstimo de 90 milhões de dólares. O presidente Museveni pareceu titubear há alguns dias, quando disse que só assinaria a nova lei antigay se a ciência comprovasse que a homossexualidade é uma escolha. Imediatamente um grupo de renomadíssimos cientistas de Uganda produziu uma extensa pesquisa que prova, por A + B, que os gays escolhem ser gays naquele país só pela honra de ter seus nomes estampados nos tablóides sensacionalistas e depois serem perseguidos com tochas e ancinhos. Agora Uganda reclama de interferência cultural, desrespeito à soberania e até racismo, mas pau no cu deles. Toda medida que criminalize a viadagem precisa ser repudiada com veemência. Agora, a pergunta q. n. q. c.: por que só Uganda? Cadê as sanções a países como o badalado Qatar, que também prendem e matam seus homossexuais?

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

A CURA PELA DOENÇA

Os primeiros anos da epidemia da AIDS foram dos mais absoluto pânico. Não havia nenhum tratamento conhecido. Testar positivo era o mesmo que receber uma sentença de morte rápida e dolorosa (sem falar na carga de humilhação que vinha com o julgamento moral). Esse clima de terror é retratado em "Clube de Compras de Dallas" quando um sujeito não só hétero como homofóbico é diagnosticado com o vírus do HIV, em 1985. Já exibindo sintomas clássicos da doença, ele simplesmente se recusa a aceitar que não há tratamento, e parte em busca de alternativas. Acaba formando uma parceria inusitada com uma drag queen, o tipo de pessoa que antes desprezava, e montando um esquema de distribuição de remédios não-aprovados que ajuda a aumentar a sobrevida de muita gente. Neste processo, ele melhora como pessoa: passa de babaca egoísta a um ser humano cheio de compaixão. Se bem que também está interessado nos lucros ("isto aqui não é caridade", diz a certa altura do filme). Matthew McConnaughey está espetacular como o protagonista - sorry, DiCaprio, o Oscar vai mesmo para ele. Assim como também vai para Jared Leto, impecável como o travesti Rayon. Dá perfeitamente para entender porque sua ex-namorada Katy Perry se inspirou nele para escrever seu primeiro sucesso, "Ur So Gay". O diretor canandense Jean-Marc Vallé já tinha feito dois filmes muito diferentes entre si que encantaram o público gay: "A Jovem Rainha Vitória", que é a cara da riqueza, e o épico "C.R.A.Z.Y.", uma história de saída do armário com que milhões de bibas se identificaram. Agora assinou seu trabalho mais importante. "Clube de Compras de Dallas" merece os prêmios que vai ganhar.

ESTÁTUAS QUE SE MOVEM

Esculturas em papel do chinês Li Hongbo. Não me pergunte como são feitas.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

VITÓRIA DE PIRRO

Habemus novo presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara: é Assis do Couto, obscuro deputado petista pelo Paraná. Sim, o PT recuperou a presidência da CDH (vencendo a candidatura avulsa do Bolsonazi por 10 a 8, placar bastante apertado), mas o novo presidente é ligado à Igreja Católica e fervoroso militante antiaborto. Os evangélicos também continuam fortes na comissão e prometem melar qualquer iniciativa mais libertária. A nomeação de Assis do Couto foi mal recebida por setores do próprio PT e é só uma meia vitória para quem não suportava o Infeliciano. Ele já prometeu que vai separar suas convicções religiosas de sua atuação política, mas nunca se sabe. Vigia, irmão.

AT THE COPA, COPACABANA

Estou revoltado com essa história do Copacabana Palace mudar de nome. O hotel pertence há anos ao Orient-Express, que resolveu rebatizar sua rede hoteleira de Belmond. Assim, a partir de 10 de março, o nome oficial do Copa será Belmond Copacabana Palace. Graças a Deus que o prédio e sua fachada são tombados, caso contrário essa monstruosidade apareceria num luminoso à entrada. Mas papéis, anúncios e sites trarão o nove nome, num dos lances mais desastrados de marketing dos últimos tempos. Explico: o Copa é uma instituição carioca. Levou quase 100 anos para construir sua marca e é um ponto de referência da cidade. Já pensou se tivéssemos o Belmond Pão de Açúcar ou o Belmond Cristo Redentor? O que me consola é que, assim como Copa do Mundo FIFA, esse nome canhestro não vai pegar. Todo mundo vai continuar chamando o hotel de Copa. A não ser os turistas mais desavisados, que pedirão para o taxista levá-los ao Belmond e acabarão numa das filiais de uma rede de botecos.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

MAIS FINÍSSIMA MAIONESE AINDA

Não vai ter Copa, acabou black bloc, ninguém mais lembra o que é Friboi. Hoje as redes sociais não tiveram outro assunto: o jantar fino, chique, sofisticado e vip que a socyalite Karla Lima ofereceu ao high socyet de Miranorte. É o novo bons drink, gente! Depois a história ganha tons surrealistas: Karla foi esticar a festa no Carnacaxi e acabou sendo covardemente agredida por dois PMs. Ou será que isto tudo é um retrato fiel do Brasil de hoje? Ascensão social, inclusão digital e violência policial, tudo misturado com a mais fina maionese?

ARIZONA NUNCA MAIS

O Legislativo do estado americano do Arizona aprovou uma lei que permite a discriminação a homossexuais fundamentada em princípios religiosos. Uma loja ou um restaurante poderiam recusar clientes gays se o proprietário julgar que sua fé condena a homossexualidade - como se o simples fato de servir um hamburguer a um casal de lésbicas fosse suficiente para condenar um garçom ao inferno. A lei soa razoável a ouvidos conservadores, mas não resiste a um escrutínio mais amplo. Então qualquer comerciante pode se negar a atender um cliente que não siga sua religião? Sim, porque o cristianismo considera que judeus e muçulmanos são infiéis, e assim por diante. E tem mais: como ter certeza de que o freguês é de fato gay? Vão ser instalados "gaydares" nas portas dos estabelecimentos? Uma lei estúpida como esta é um convite a uma enxurrada de processos judiciais, e tem o potencial de afastar empresas importantes do Arizona (que oferecem cada vez mais benefícios a seus empregados homossexuais). A Apple, que está construindo uma fábrica no estado já avisou à governadora Jan Brewer que é melhor ela usar seu poder de veto. Os dois senadores federais do Arizona (entre eles o republicano John McCain, derrotado por Obama em 2008) se pronunciaram contra a lei. Três dos senadores estaduais que votaram por ela já viraram a casaca. Enquanto isto, o Human Rights Council distribui entre os simpatizantes o selo que ilustra este post, com a bandeira do estado e os dizeres "aberto para negócios com todo mundo". Brewer tem até sábado para vetar esse despautério, e vamos torcer para que ela faça a coisa certa. Inclusive porque há outros estados em vias de aprovar leis semelhantes Que lhes sirva de exemplo.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

TE PERDOO POR TE TRAIR

Entre os muitos crimes da Igreja Católica, alguns dos mais recentes foram cometidos por conventos na Irlanda. Até meados dos anos 70 era comum que meninas "transviadas" fossem mantidas intramuros em situação de semiescravidão, por terem pecado contra a castidade. E as que tinham filhos fora do casamento frequentemente viam seus bebês serem literalmente vendidos para casais estrangeiros, sem que pudessem fazer nada para impedir. Esta crueldade institucionalizada rendeu um filme excelente há pouco mais de dez anos, "The Magdalene Sisters", e agora rende o indicado ao Oscar "Philomena". A protagonista, apesar de tudo o que sofreu nas mãos das freiras, continua profundamente católica, e demora quase meio século para realizar que a punição que recebeu foi imensamente maior que seu "pecado". Mesmo assim, ela insiste no perdão. Com a ajuda de um jornalista, Philomena descobre já na metade do filme o que aconteceu com seu filho, adotado por um casal americano. Descobre também que as maldades do convento onde viveu foram muito piores do que imaginava, e no entanto continua a perdoar seus algozes. Só que, no meu entender, o perdão de Philomena não é tão amplo assim: ela faz questão que sua história seja publicada, e a revelação destes crimes da Igreja talvez seja pior que um processo judicial. "Philomena" é um filme pequeno que mexe com questões grandiosas.

O MUNDO COM A BOCA NO MUNDO

Ucrânia, Tailândia, Turquia, Brasil, e agora a Venezuela. Países tão distantes entre si e com história e cultura completamente diferentes se veem passando por processos semelhantes, e ao mesmo tempo. A grosso modo, o que está acontecendo nesses lugares é mais ou menos o seguinte: uma parcela considerável da população (quando não a maioria), que desfruta de renda mediana e acesso à internet, foi às ruas para reclamar da incompetência de governos eleitos democraticamente. É uma situação complicada, pois em todos os casos os governantes de plantão chegaram ao poder com o aval das urnas. Quem protesta, portanto, estaria indo contra a vontade soberana da maioria. Mas quando examinamos mais de perto cada um desses países, outros pontos em comum ficam claros. Estes governos eleitos negligenciaram quem não votou neles. Promoveram redistribuição de renda e reduziram a desigualdade, mas não investiram em infraestrutura nem fizeram com que o cidadão comum sentisse que seus impostos estavam revertendo em serviços públicos de qualidade. O resultado está aí, e causa espanto em quem se aferra aos antigos conceitos de esquerda e direita: uma massa onde há predominância de jovens bem informados, exigindo reformas profundas que o establishment não está disposto a fazer. Na Ucrânia, a oposição ganhou a rodada. Numa reedição da Revolução Laranja de dez anos atrás, Viktor Yanukovich foi defenestrado e Yulia Tymoshenko resgatada com loas (sim, exatamente os mesmos nomes). A diferença é que dessa vez há mais 80 mortos, o que talvez dê mais "leverage" para o pessoal pró-Europa. Mas como os russos irão reagir? Não duvido nada que a Ucrânia se parta, com a metade oriental e a península da Crimeia sendo anexadas pela Rússia, de quem sempre estiveram próximas historicamente. Enquanto isto, na Venezuela, o pau come solto. As alternativas parecem ser a truculência chavista e a extrema-direita que saqueou o país durante décadas. Já no Brasil o debate foi reduzido ao mínimo: a violência da PM versus o vandalismo dos black blocs. O buraco é bem maior, mais em baixo, mais acima, mais tudo. Mas a quem, fora essa parcela insatisfeita porém desorganizada, interessa que mude alguma coisa para valer? Ainda mais em ano de eleição presidencial?

domingo, 23 de fevereiro de 2014

ERUPÇÃO PLINIANA

"Pompéia" é um desastre de proporções épicas. É um fortíssimo candidato a pior filme do ano - e me dói pensar que, com o mesmo dinheiro e um roteiro melhor, a destruição da célebre cidade romana de veraneio poderia ter ganho a versão cinematográfica que nunca teve. Mas os produtores restringiram seu público-alvo a adolescentes que gostam de vídeogames, e rechearam o filme com cenas de violência grotesca. Há lutas de gladiadores, perseguições sangrentas, ataques de legionários e até mesmo uma briga numa taverna. Em troca, quase nada do dia-a-dia de Pompéia. O elenco vem quase todo de séries de TV ("Game of Thrones", "Lost", "Mad Men", "24") e está todo péssimo. Os erros históricos se acumulam: o Vesúvio é mostrado desde o começo com uma cratera borbulhante, quando naquela época seu cume era fechado, como o de uma montanha qualquer (os habitantes da região nem desconfiavam que se tratava de um vulcão). Um lutador é chamado de "O Celta" em Londinium (a atual Londres), uma cidade onde quase só havia celtas. A erupção provoca um tsunami que jamais aconteceu: só faltou a fúria das águas despertar Godzilla. A devastação causada pelo Vesúvio no ano de 79 foi tão grande (a própria montanha foi arrasada) que, depois de descrita pelo historiador romano Plínio, o Jovem, deu origem ao termo "erupção pliniana". "Pompéia", o filme, é seu equivalente na telona. Fujam!

sábado, 22 de fevereiro de 2014

CHICOTADA

Existem bem poucos filmes sobre a escravidão, acho que por duas razões. A primeira é que o assunto é por demais dolorido e vergonhoso. Custa crer que há pouco mais de cem anos se podia comprar, vender e dispor de um ser humano ao bel prazer. A segunda é que é difícil encontrar histórias com finais felizes, ou mesmo edificantes. A escravidão é o horror em estado puro, muito mais apavorante do que qualquer Freddy Kruger. "12 Anos de Escravidão" dá uma boa ideia da carga de sofrimento e crueldade à que os escravos eram submetidos e ainda assim, como o próprio título já entrega, termina bem. O roteiro é baseado no livro de Solomon Northrup, um negro nascido livre no norte dos Estados Unidos que foi sequestrado e vendido como escravo para fazendeiros do sul. Essa perspectiva é importante: o protagonista não vê os grilhões como seu destino natural. Com cenas de forca e chicotadas, o filme não é fácil de se ver, mas o drama é tão intenso que eu não consegui desgrudar os olhos da tela. O elenco fenomenal mal deixa perceber que se trata de uma obra de baixo orçamento, mas repare como os planos são fechados. É de longe o filme mais consequente entre os indicados ao Oscar, o que faz dele o favorito - se bem que "Gravidade" é muito mais inovador. Mas a escravidão é um assunto inescapável, cujas consequências vivemos até hoje. "12 Anos de Escravidão" chicoteia a audiência e a arranca do seu torpor. Dói pacas, e deixa cicatrizes.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

TAVA NA CARA

Muita gente tem dúvida se é realmente gay ou se só está atravessando uma fase, curável com porradas ou com a Scarlett Johansson. Também tem muita gente que acha que dá para sacar de longe se alguém é homossexual, só de olhar para a cara. Agora todas estas pessoas têm um site para visitar: é o Gay-Check Online, que pede para você abrir a câmera do seu computador para então escanear o seu rosto. Adivinha qual é sempre o resultado? Claro que é piada: acreditar que é possível detectar a homossexualidade pelos traços faciais é tão absurdo quanto achar que o mundo inteiro é gay. Mas quem vai resistir a fazer esse teste?

SOLTO O AVÔ NA ESTRADA

O Oscar resolveu que ama Alexander Payne. Já faz uns 10 anos que todos os filmes do diretor são soterrados de indicações, apesar de nunca terem levado os prêmios mais importantes. O mesmo deve acontecer com "Nebraska": esta comédia meio-amarga em preto-e-branco deu a Payne o lugar que estava prometido para Paul Greengrass por "Capitão Phillips", no meu entender um filme muito mais empolgante. Mas de uns tempos para cá as obras sobre a velhice entraram na moda, e neste quesito "Nebraska" não faz feio. Bruce Dern, que construiu uma longa carreira quase que só como conadjuvante, está de fato excepcional como o velho turrão que tem certeza de que ganhou um milhão de dólares numa promoção, e para isto está disposto a caminhar 1.200 km para retirar a grana. Seu filho resolve levá-lo de carro só para satisfazer suas vontades, e logo a mãe e outro irmão (o Saul de "Breaking Bad"!) se juntam à jornada. Sim, trata-se de um road movie: "Nebraska" percorre uma faixa desolada no meio dos Estados Unidos, sem um pingo de glamour e povoada por gente esquisita. O roteiro ama e tira sarro dessas pessoas ao mesmo tempo, sem a menor pressa de chegar ao destino final. O público americano deve se sentir retratado na tela; para nós, sobra um filme com boas interpretações e boas intenções, mas sem o impacto ou a grandiosidade que se espera de um candudato a melhor do ano.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

PÉRSIA RARA

Googoosh é a cantora de maior sucesso da história do Irã. Mas sua carreira foi interrompida pela revolução islâmica, que proíbe que mulheres cantem profissionalmente. Durante 20 anos, ela ficou quietinha em casa, até se mudar para os Estados Unidos em 2000. Googoosh então voltou a gravar e recuperou rapidamente o trono de maior voz feminina em persa. Hoje vivendo em Los Angeles, a diva aproveitou o Valentine's Day para lançar um vídeo que está repercutindo bem além da comunidade de expatriados onde ela costuma circular. "Behest" ("Paraíso") conta uma história de amor onde um dos lados só é revelado no final, mas não é difícil imaginar do que se trata. Quem quiser acompanhar a letra em inglês deve apertar a tecla "Show More" na barra inferior do vídeo.

BRIGA DE CINEMA

Uma DR onde os diálogos são títulos de filmes (154 ao todo). Te amo, internet.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

RITIBA = DO BRASIL

Ia ser um vexame histórico. Acho que nunca, na história das Copas, uma cidade-sede foi desclassificada pouco antes da competição começar. Mas o custo político seria alto demais, tanto para a FIFA como para o governo. Sem falar, é claro, no custo propriamente dito: deslocar os jogos para outras cidades, indenizar os torcedores que já compraram ingressos, repensar uma logística que já é complicada. Curitiba foi salva pelo gongo, com a promessa da Arena da Baixada ficar pronta a apenas um mês da abertura da Copa. Não é grave: as obras das Olimpíadas de Atenas foram entregues na véspera dos Jogos, que transcorreram sem problemas. Mas o imbroglio paranaense está longe de ser o único, e muita coisa ainda pode dar errado por esse Brasil afora. Tenho medo, mas não torço contra não.

KHMER NO VENTILADOR

Documentários raramente são indicados ao Oscar de filme estrangeiro. Documentários onde cenas dramáticas são recriadas com bonequinhos, então, jamais o foram - até que "A Imagem que Faltava" conseguiu tal façanha. O diretor Rithy Pahn passou parte da adolescência nos campos de concentração do Khmer Rouge, a delirante facção ultracomunista que tomou o poder no Cambodja no final dos anos 70. Toda a família de Pahn foi morta (assim como milhões de cambodjanos) e ele quis contar num documentário o horror que viveu. Mas como? Sobraram pouquíssimas imagens dos tais campos, registradas por um cinegrafista que depois foi torturado e assassinado. A solução original foi usar bonecos de madeira (que lembram, no estilo, os do nordeste brasileiro), sem nenhum efeito de animação. O resultado é desconcertante a princípio, mas curiosamente... humano. A devastação sofrida pelo Cambodja talvez só seja comparável à que vive hoje a Coreia do Norte, a última ditadura stalinista que restou na Ásia, e "A Imagem que Falta" consegue dar uma noção do sofrimento de todo um país. Só não explica as origens do Khmer Rouge, nem como ele foi escorraçado depois de quatro anos de barbárie. Mesmo assim, é um filme interessante, ainda que por demais exótico para ser premiado pela Academia.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

RALA, SUA MANDADA

Ufa: Bolsonazi não vai presidir a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (onde ele prometeu que iria proteger "a maioria", numa total inversão do propósito da CDH). Não devemos achar que essa vitória se deva ao abaixo-assinado que circulou na rede, mas claro que a grita ajudou. Agora, decisivo mesmo deve ter sido o vídeo onde o deputado gaúcho Luís Carlos Heinze, gravado em dezembro mas só divulgado semana passada, chama quilombolas, índios, gays e lésbicas de "tudo que não presta". Heinze é do PP, assim como Bolsonazi. Tá na cara que o partido não quis ficar marcado como homofóbico e racista. Já basta abrigar Paulo Maluf, foragido da Interpol.

ALTO EM CIMA ALTO EM CIMA

Nunca tive o menor medo de avião, mas basta um terracinho no sétimo andar para eu me borrar nas calças. E olha que eu morei em apartamento quase que a vida inteira... Meu pânico de alturas quase estourou o medidor com o vídeo acima, atual sensação das internets: dois moleques (russos?) que conseguiram burlar a rígida vigilância chinesa e escalar o mais alto prédio em construção do mundo, o Shanghai Tower. Os caras ainda sobem numa antena sem escadas, só para ter o prazer de se equilibrar lá em cima sem nenhum parapeito onde se apoiar. Sério, precisei interromper o vídeo algumas vezes para tomar ar. Aff.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

ELA, EU VIVO O TEMPO TODO PRA ELA

Mulher é tudo igual. Preta, branca, amarela, virtual. O que elas querem mesmo é falar e falar e falar e falar. E discutir a relação: "Ela", o filme de Spike Jonze indicado ao Oscar, é uma das mais longas DRs da história do cinema. A esta altura todo mundo já sabe que o protagonista se apaixona pelo sistema operacional de seu computador, que seria uma versão mais avançada do Siri da Apple. Existe uma longa tradição na ficção científica de inteligências artificiais que passam a se comportar como humanos, desde o computador Hal de "2001: uma Odisseia no Espaço". Em "Ela" este ghost in the machine ganha a voz esfumaçada de Scarlett Johansson - um acréscimo de última hora, substituindo todas as falas já gravadas pela atriz inglesa Samantha Morton. A princípio ela parece a namorada ideal: ri de todas as piadas do solitário redator vivido por Joaquin Phoenix, que vive de escrever cartas de amor manuscritas (num computador, por comando de voz) para clientes que não conhece pessoalmente. A trama se passa num futuro próximo, quando se relacionar com alguém será ainda mais difícil do que hoje. Mas o filme não é bem uma crítica aos tempos modernos: é mais um comentário sobre a impossibilidade da relação perfeita com que sempre sonhamos. Não acho que "Ela" merecesse a indicação a melhor filme, mas sem dúvida de que é um projeto original (ou talvez nem tanto - Jonze está sendo processado por dois roteiristas que o acusam de ter roubado suas ideias). E não é engraçado que um filme com um título tão feminino tenha um bigodudo no poster?

CARACAS INDO AO CARALHO

Disse algumas vezes aqui no blog que o regime chavista da Venezuela iria desaguar em sangue. Parece que a previsão está se cumprindo: desde a semana passada já houve alguns mortos nos protestos de rua, além de prisões políticas e censura disfarçada aos meios de comunicação. Sim, há setores irresponsáveis da oposição que, se aproveitando da incompetência e da fragilidade do presidente Nicolás Maduro, estão insuflando seus seguidores a pegar pesado. Mas também há inegável repressão, tanto por parte da polícia como das milícias patrocinadas pelo governo. Não tenho como não pensar que algo parecido estaria acontecendo também no Brasil, caso setores radicais do PT tivessem o poder de polarizar a sociedade como Hugo Chávez fez por lá. Torço pelo moderado Capriles, que quer esperar pelas próximas eleições, mas o desabastecimento e a inflação podem fazer que boa parte da classe média se volte contra os pobres que dependem dos programas assistenciais. Ou seja, há perigo de guerra civil. Ou seja, uma merda.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

ARTE QUE NÃO VALE A PENA

"Caçadores de Obras-Primas" estava posicionado para ser um dos grandes concorrentes aos próximos Oscars. Elenco estreladíssimo, dirigido por um ator venerado em Hollywood e com lançamento previsto para o Natal do ano passado. Que acabou sendo adiado na última hora, e por uma ótima razão: o filme é ruim. Não faria muito sentido gastar uma fortuna numa campanha de marketing para sensibilizar os membros da Academia. Assim ele acabou estreando em fevereiro, tanto lá como cá, e nem agora é digno de muita atenção. O livro que George Clooney adaptou para o cinema conta a história real de um grupo de curadores de museus e especialistas em artes plásticas que se "embedou" às tropas aliadas que expulsavam os nazistas da Franca a parti de 1943, com o nobre intuito de resgatar as milhares de obras de arte saqueadas pelo invasor. Mas o roteiro não só não tem suspense nem bons personagens como também não se decide se é uma comédia à la "11 Homens e um Segredo" ou um drama pesado sobre o horror da guerra. Com papéis tão mal escritos, nenhum ator está particularmente bem - a exceção que confirma a regra é Cate Blanchett, falando inglês com o sotaque exato com que uma francesa falaria. Pelo menos a mensagem central é passada: a arte vale, sim, algumas vidas, pois conta a história e dá a identidade a um povo. Mas isto poderia ser resumido numa apresentação em power point. "Caçadores de Obras-Primas" é cinemão convencional sem ser clássico, com direção pesada e nenhum momento memorável. Não chega a ser horrível, mas, com tanta coisa boa em cartaz, simplesmente não vale a pena.

A FILA DA MAÇÃ

Acho fascinante a imprensa brasileira repercutir a fila que se formou para a inauguração da primeira Apple Store do Brasil, num shopping do Rio de Janeiro, sem ninguém se perguntar de onde vieram aquelas mais de 1.700 pessoas. Claro que existem muitos applemaníacos por aqui (eu sou um deles), mas daí a passar a noite esperando a abertura de uma loja que não traz novidades nem preços mais em conta? Não tenho provas, mas esta empolgação toda me parece um golpe de marketing relativamente barato. E também antigo: consta que o próprio Elvis pagava para que meninas se descabelassem em seus shows.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

VIRANDO A PAGE

Agora que a Ellen Page saiu do armário, eu estou batendo a mão na testa: como é que eu não percebi antes? A atriz de "Juno" tem aquele jeito de sapatinha fofa de muitas amigas minhas. Fico feliz pelas jovens bolachas, que agora têm mais um role model em quem se espelhar. Ou melhor, fico feliz por todo mundo.

GÊNERO, NÚMERO E GRAU

Até ontem, o Facebook oferecia exatamente duas opções de gênero para quem estivesse se cadastrando: masculino e feminino. Hoje são cinquenta e uma. CINQUENTA E UMA. Num esforço para a rede ser o mais abrangente possível, ela agora permite que seus usuários se identifiquem como "neutrois" ou "genderqueer". Lembrei na hora dos 700 tons que surgiram depois que o IBGE permitiu que os brasileiros dissessem qual era a cor de suas peles no último recenseamento, sem ter que escolher de uma lista prévia. Como muita gente ainda confunde sexo, gênero e orientação sexual, eu mais do que recomendo este artigo ultra didático do Daily Beast. Para ler e decorar.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

UMA SURPRESA INESPERADA

Gentem! Jamais na minha vida que eu poderia imaginar que o Infeliciano fosse capaz de mentir. Estou passado na margarina sem sal depois de ler as declarações de Wellington de Oliveira, que era assessor do deputado-pastor até ser demitido em dezembro passado. Quer dizer então que era mesmo o Infeliciano por trás daquele vídeo que difamava o Jean Wyllys e outros parlamentares? Que 11 funcionários fantasmas assombravam mesmo o gabinete do Infelix? No lo puedo creer. Jarbas! Meus sais!

EU CONTRA O JEAN

Fui convidado pelo site Opera Mundi, especializado em política internacional, a escrever um artigo sobre os Jogos de Inverno de Sochi para a seção "Duelo de Opiniões". É um espaço semelhante ao "Tendência / Debates" da Folha de São Paulo: alguém se posiciona contra alguma coisa, outro alguém se posiciona a favor. A pergunta que eu deveria responder era "os atletas devem boicotar os Jogos"? Minha primeira reação foi responder que sim, claro, óbvio, evidente. Ai daquele que pisar em Sochi: estará avalizando toda a absurda legislação antigay aprovada pelo governo Putin. Mas a pergunta era específica: os atletas devem boicotar os Jogos? Aí eu pensei melhor. O boicote deveria ser feito ao nível de estados, de patrocinadores corporativos, e não ao dos indivíduos que se prepararam uma vida inteira para um evento esportivo. É uma posição matizada, sem um contraste absoluto entre o bem e o mal. Combinei então com o Opera Mundi que eu escreveria um artigo para o lado do "Não", mas deixando explícito que eu sou contra as homofóbicas leis russas. O texto foi publicado hoje e pode ser lido aqui. E adivinha quem assina o texto do "Sim"? Ninguém menos que meu representante no Congresso, o deputado Jean Wyllys. O engraçado é que só na última semana eu entrei em duas brigas virtuais no Facebook defendendo o Jean. Briguei com desconhecidos que acham-no "chato" (também é super chato ser morto a pontapés no meio da rua, mas enfim), e agora me vejo do outro lado de um debate com ele. Menos mal: pelo menos não chamaram o Infeliciano para dizer que na Rússia não existe homofobia, mas sim uma ditadura gayzista. Ah, nem poderiam. O futuro ex-presidente da CDH mostrou outro dia que é um analfabeto funcional.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

DONADINHOS

Tem como não amar os nossos nobres deputados? Sem a proteção do voto secreto, quase todos votaram pela cassação de Natan Donadon. O único que se absteve mostrou que existe honra entre bandidos: Asdrubal Bentes, do PMDB baiano, admitiu que se sente desconfortável em condenar Donadon porque ele também foi condenado (por ter torcado laqueaduras de votos). Mas o fato é que honra é algo praticamente inexistente nas duas casas do Congresso. Para mim a imagem do Lesgislativo não melhorou nada. Esses danadinhos dos parlamentares só fizeram a coisa certa porque o Brasil está de olho neles e este ano é de eleição. Vigia, irmão!

TODO MUNDO LEVA A VIDA NO ARAME

Uma escritora inglesa (não vou lembrar o nome nem a pau) disse certa vez que não se incomodaria de morrer naquele instante se seu corpo pudesse ser sepultado no Taj Mahal. Eu também acho que não me incomodaria de cair fulminado agora se fosse para ter um funeral tão esplêndido como o de Virgínia Lane: maquiada, vestida de vedete, num caixão florido que mais parece uma pintura de Klimt, com o povo cantando "Sassaricando". Existe glória maior?

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

O CÉU, A LARANJA E A ESTUDANTE

Uma nova leva de discos moderninhos frequenta meus ouvidos. Vamos por partes. Sky Ferreira tem ascendência brasileira e peito suficiente para exibi-lo na capa de "Night Time, My Time", seu primeiro álbum. Aqui ela faz um pop de arranjos densos, bem mais que os do EP "Ghost" - lançado há mais de um ano mas incluído na versão deluxe, e que traz "Everything's Embarrassing", ainda sua melhor música. Entre o cult e o chiclete, sinto que Sky Ferreira ainda vai render muito assunto.
Ela já teve faixas produzidas pelo britânico Devonté Hynes, também conhecido como Blood Orange. O disco "Cupid Deluxe" é um dos mais inovadores dos últimos tempos: Hynes talvez seja o Prince do século 21, desafiando rótulos e misturando influências (confira aí embaixo a elegância quase minimalista "Chamakay"). O título remete ao cachorrinho que ele perdeu no incêndio que destruiu seu apartamento em Nova York no final de 2013. Bola pra frente. Cachorros melhores virão.
A dupla AlunaGeorge (sim, ela se chama Aluna e ele George) vem causando sensação nas paradas inglesas há quase dois anos, lançando singles e remixando Lana Del Rey. São a combinação ideal de uma mulata gostosa de voz afinadinha com um nerd branquela nos teclados e computadores. Fazem um som para dançar miudinho: o disco "Body Music" é todo animado, mas não vai incendiar as pistas. Exatamente o tipo de música que eu quero ouvir agora.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

LIBERDADE PARA SANGRAR

Já existe há algum tempo um movimento contra qualquer tipo de fralda, descartável ou não. Segundo seus adeptos, as crianças podem ser treinadas a avisar que estão apertadas muito mais cedo do que os dois anos recomendados pelos fabricantes de fraldas. Afinal, só no Ocidente elas são usadas: na China as crianças estão peladinhas debaixo de seus camisolões, e as mães ficam de olho em qualquer vazamento. Não consta que ninguém tenha crescido traumatizado por ter aprendido logo a se segurar. Agora surgiu uma proposta ainda mais radical: que as mulheres simplesmente parem de usar absorventes íntimos. Afinal, só a fêmea humana é que esconde as próprias regras, não é mesmo? A ideia horrorizou até sites feministas, porque, vamos combinar, haja grana para a conta da lavanderia. Mas o bafafá durou pouco. Logo foi revelado que tudo não passava de uma pegadinha elaborada. Ou seja, o sangue não será derramado em vão. Em vãos?

AZUL É A COR MAIS ROSA

Os prêmios Goya são o Oscar da Espanha, e a cerimônia de entrega deste ano aconteceu no domingo passado. Pela primeira vez, o troféu para o melhor filme estrangeiro em língua espanhola foi para a Venezuela. E justo para um filme de temática gay: "Azul y No Tan Rosa", a obra de estreia do diretor Miguel Ferrari. Pelo que eu andei lendo por aí, o roteiro abarca vários temas que afligem a bicharada. O fotógrafo Diego vive feliz com o namorado Fabrizio, quando este sofre um ataque homofóbico e vai parar no hospital, em coma. Nisto, chega da Espanha o filho adolescente que Diego teve uma vida atrás, trazendo uma mala cheia de problemas para o pai. E a melhor amiga do protagonista é uma drag queen... Desse jeito parece um samba do viado doido, mas "Azul y No Tan Rosa" venceu concorrentes mais badalados como argentino "Wakolda" ou o chileno "Gloria". Fica a dica para os distribuidores brasileiros que visam o mercado gay.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

BAL MASQUÉ

Sempre fui contra qualquer tipo de manifestação violenta. Desde que a onda de protestos começou em junho do ano passado, eu me opus ao quebra-quebra de vitrines e bancas de jornal. Muita gente me criticou: "imagine se a Bastilha teria caído só com gentilezas", me diziam. Logo em seguida surgiram os black blocs, e eu fiquei mais contra ainda. Acho que eles são um bando de babacas brincando de super-herói. Adolescentes revoltadinhos que não sabem o que fazer com seus hormônios. E não só são irresponsáveis como também insensíveis: foda-se o que estiver pela frente, o que importa é destruir. O capitalismo, a desigualdade, o carro da emissora de TV, o prédio histórico, as lojas de quem não tem nada a ver com o pato. Assim chegamos rapidamente ao ponto em que manifestação virou sinônimo de baderna. Os black blocs sequestraram e deturparam um movimento que nunca teve um foco muito definido, mas que era legítimo. Dizem que os mascarados também são difusos e desorganizados: entre eles haveria tanto gente sincerinha (mas para lá de equivocada) como infiltrados a mando de forças ocultas. De quem? A quem será que interessa que as passeatas terminem em merda? A que aconteceu no Rio na semana passada, contra o aumento das passagens de ônibus, terminou, com a morte do cinegrafista da Band. Agora todo mundo se volta contra esses bandidinhos, e com razão. Mas corremos o enorme risco de jogar fora o bebê com a água do banho. Se ninguém mais for para as ruas reclamar, então os black blocs terão vencido. Os infiltrados terão vencido. Seus financiadores terão vencido. E tudo continuará indo a mil no Brasil varonil.

O ZOOLÓGICO AUTISTA

Será possível que o zoológico de Copenhague não conte com uma assessoria de imprensa? Que sua diretoria seja composta apenas por cientistas portadores daquele tipo de autismo que faz com que a pessoa seja perfeitamente racional, mas totalmente insensível às emoções dos outros? Só isto explica o desastre de relações públicas que foi a execução da girafa macho Marius. A morte do bicho, que gozava de plena saúde, foi anunciada com antecedência e gerou um abaixo-assinado com mais de 20 mil nomes, além de protestos na frente do zoo e propostas de adoção por outros países. Nada disso sensibilizou os malvados, pelo contrário: Marius ainda foi dissecado em público, na frente das crianças, e fotos de seus flancos sendo devorados pelos leões estão causando furor na internet. Entendo perfeitamente as razões que levaram ao sacrifício da girafa: pool genético, sobrevivência da espécie em cativeiro, etc. etc. Mas zoológicos são parques temáticos que dependem do apoio do público. Não é à toa que suas lojas oferecem versões em pelúcia de suas principais atrações. O zoológico de Copenhague merece o anti-Top de Marketing de 2014.

ANNE FRANK PARA OS FRACOS

Os filmes sobre a 2a. Guerra Mundial estão perdendo prestígio. Antigamente eram ímãs de prêmios e aplausos. Agora, um projeto badalado como "Caçadores de Obras-Primas" tem sua estreia adiada em dois meses, perdendo toda a chamada "temporada do tapete vermelho" em Hollywood e ganhando um pau da crítica especializada. Já a a adaptação para o cinema de "A Menina que Roubava Livros", tremendo best-seller munidal, foi indicada só para o Oscar de melhor trilha sonora, e não merecia nem isso. A música de John Williams é melosa como sempre, mas este é o menor dos problemas do filme. A trama parece uma versão sanitizada do "Diário de Anne Frank", só que dessa vez a heroína é uma garota alemã e a violência acontece quase toda bem longe das câmeras. A atriz canadense Sophie Nélisse, que na época das filmagens tinhas 12 anos de idade, convence plenamente tanto como criancinha quanto como adolescente, e os veteranos Geoffrey Rush e Emily Watson mandam bem como sempre. Mas uma fofura descabida permeia toda a história, inclusive na voz do narrador - ninguém menos que a própria Morte. Não li o livro, mas o que vi na tela me pareceu mais autoajuda do que um relato contundente sobre os horrores do nazismo (suspiro).

domingo, 9 de fevereiro de 2014

PEARLS NEGRAS TE AMO TE AMO

Trios femininos são o seguinte: uma diva na frente (Beyoncé, Diana Ross), duas backing vocals atrás (aquela que ninguém lembra o nome, aquela outra que morreu). Claaaro que há exceções, mas a distibuição de star quality não costuma ser equilibrada entre todas as integrantes. Daí surge o Pearls Negras, e eu não sei de qual delas gosto mais. São três adolescentes da favela do Vidigal, no Rio, que estão prontas para serem exportadas - já tem gringo babando por elas. O nome do grupo parece ter sido criado com o firme intuito de ser ruim em qualquer língua, e vamos combinar que a música "Pensando em Você" está mais para pentelha do que para divertida. Mas Alice Coelho, Jeni Loyola e Mariana Alves concentram tanta atitude e glamour que eu já virei súdito. Caíram do céu?

sábado, 8 de fevereiro de 2014

SOCHI FOR AGORA


Ainda não vi nem o compacto da cerimônia de abertura dos Jogos de Sochi, mas já soube que foi uma autêntica peça de propaganda gay: coreografias esplêndias, figurinos dignos do Follies Bergère e luzes faiscantes. Qué dizê, quase todas as luzes - o quinto anel do logo olímpico deu chabu e não acendeu. Um símbolo potente dessa Olimpíada que já nasce amaldiçoada, tanto pelas ameaças de bomba como pelas leis draconianas da Rússia. Leis, aliás, que não brotaram no vácuo. A cultura homofóbica de lá é tão forte que bandos de arruaceiros (usando nomes moderninhos como "Occupy Pedophilia") agem livremente na perseguição à bicharada, sem o menor problema com a polícia. Este lado negro do país é exibido no documentário "Hunted", produzido pelo Channel Four britânico e já disponível no YouTube. Vi algumas cenas de violência extrema, e agora estou criando coragem para ver tudo. Mas tenho que ver. Todo mundo tem.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

DERRAPADA

Os Jogos de Inverno de Sochi começaram hoje, e claro que nem tudo é festa. Os protestos se avolumam pelo mundo afora, e as ameaças de terrorismo também: um avião que estava sendo sequestrado para lá conseguiu pousar na Turquia. Mas fiquemos nos protestos. Desde ontem que o Google mudou seu logo. A equipe Lotus, da Fórmula 1, também arriscou uma provocação pelo Twitter hoje cedo. Postou no Twitter essa foto caliente aí ao lado, junto com uma mensagem desejando sucesso a todos os participantes dos Jogos. Mas a ironia durou pouco: o tuíte não só foi apagado, como também publicaram um pedido de desculpas. Não admira: a Lotus tem o rabo preso com a Rússia (parte dela acabou de ser comprada pela telefônica Yotaphone. Fora que a F1 nunca aderiu a nenhum boicote político: continuou realizando seu Grande Prêmio em Kyalami mesmo durante o auge do apartheid na África do Sul (como informa o blog do Vítor Martins, fonte deste post). E o primeiro GP da Rússia acontece ainda este ano. Adivinha onde?

(obrigado pela dica, Breno Romanini!)

A MARCA DA MALDADE

Rachel Sheherazade está em modo de controle de danos. Sempre testando os limites do aceitável em seus comentários na TV, dessa vez ela foi longe demais. Sua própria emissora se assustou e apresesentou, na edição de ontem do "Jornal do SBT", não a retratação esperada - mas uma ensaboada genérica onde a Sheyrazeda insistiu ser "do bem". Mas quem que ela pensa que engana? "Adotar um marginalzinho" é exatamente o que Jesus Cristo gostaria que seus seguidores fizessem, e a moça passou recibo provando que não está entre eles. O perigo que ela corre agora não é perder audiência, mas os patrocinadores de seu programa. Por mais que todos os comentaristas jurem que suas opiniões sejam só deles, quem os patrocina também está assinando embaixo. E qual marca famosa vai querer se associar a esta apóstola da barbárie?

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

TORTO E DESUMANO

É simplesmente apavorante a possibilidade do Bolsonazi assumir a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Consta que ele já está se articulando com a bancada fundamentalista para pegar o lugar do Infeliciano. Mas será que o governo vai topar mais esse desgaste? Aposto que muita gente no PT se arrepende amargamente de ter entregue a CDH ao PP no ano passado. Vão deixar acontecer de novo, ainda mais em ano de eleição? Acho que o beijo gay na TV serviu para alguma coisa: mostrou que boa parte do Brasil (talvez a maior) já não se incomoda com o amor entre duas pessoas do mesmo sexo. Políticos prestam atenção a esses sinais. Mas num país onde uma pseudo-jornalista que se diz cristã defende o pelourinho para menores de idade, tudo sempre pode ficar pior.

É PROMESSA DE VIDA NO SEU CORAÇÃO

Há um novo tipo de personagem pintando no cinema: a mulher de meia idade cheia de amor para dar. Ignorada pela sociedade e pela cultura há atee pouco tempo, ela agora é retratada em filmes como o italiano "Io Sono l'Amore" e o chileno "Gloria", que tentou ser indicado ao Oscar pelo seu país. Não conseguiu, mas a crítica americana caiu de amores pela atriz Paulina Garcia. Aos 53 anos de idade, ela não se furta a aparecer nua em pelo nem a participar de cenas de sexo bastante ousadas. Sua Gloria é uma senhora divorciada que ainda vai às boates e ainda fuma baseados; simplesmente não está pronta para se aposentar do prazer. Mas claro que não é fácil. A esta altura da guerra, não existem homens bacanas disponíveis. Todos têm bagagem, o que dificulta novos relacionamentos. "Gloria" não tem um plot fortíssimo nem o ritmo de comédia que o trailer sugere, mas é um filme simpático. E quem mais achou que ela lembra Tootsie com esses óclões?

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

DE BUNDA NO CHÃO

A língua portuguesa é rica em sinônimos para os restos de um cigarro fumado: ponta, guimba, bituca... Mas como a moda atual na propaganda brasileira é inventar palavras ("sapecar"?), o pessoal responsável pela campanha "Rio Eu Amo Eu Cuido" resolveu chamar de bunda o que nunca o foi. O resultado foi uma tempestade de reclamações na página do movimento no Facebook, o que obrigou os publicitários a remover o termo dos materiais. As críticas não foram por moralismo: neguinho simplesmente estava convocando o repúdio à "bunda caída", ofendendo a mulherada e tornando incompreensível uma mensagem mais do que importante. Muito dinheiro foi jogado fora. E dinheiro público, o que é pior. Não amaram nem cuidaram.

FORREST PUNK

Talvez seja por despeito, mas tenho achado abismal o nível da propaganda que se faz atualmente. Não só no Brasil: dentre toda as superproduções exibidas nos intervalos do SuperBowl, o único comercial de que eu gostei foi este. Mas genial mesmo é este filme do novo suplemento de cultura do jornal britânico Sunday Times, realizado num único take. O resto é varejo, com ofertas só até sábado.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

A NOVA CARA DA DIREITA

Pela primeira vez em décadas, a direita brasileira está sem medo de se chamar de direita. Isto é ótimo: não existe democracia para valer sem a representação de todo o espectro político, e o Brasil pós-ditadura passou anos em que todo mundo era mais ou menos obrigado a se declarar no mínimo de centro-esquerda. O epicentro deste fenômeno, claro, é a revista "Veja", principalmente em sua versão online. Lá pontificam, ao lado de veteranos como Reinaldo Azevedo, caras novas como Rodrigo Constantino e Felipe Moura Brasil, "Pim" para os íntimos. Também há a nefasta Rachel Sheherazade no SBT, de quem muitos amigos meus têm compartilhado os vídeos - e alguns nem tiram da timeline quando descobrem que se trata de uma homofóbica de carteirinha, só porque ela fala mal do governo. Sem esquecer do curioso caso do Lobão, que de roqueiro rebelde passou a doidão conservador. Ele e o filósofo Luiz Felipe Pondé talvez sejam os únicos libertários dessa turma toda (libertário, para quem não está familiarizado com o termo, é quem acha que cada um deve levar a vida como bem entender). O resto se faz de moderninho e antenado, mas é quase tão careta e reacionário quanto a TFP. Este é o problema da nova direita brasileira: de nova só tem a cara.

SANDY, JUNIOR & SENIOR

Um filho transtornado atormenta o próprio pai. Em linhas pra lá de gerais, esta é a trama de "Quando Eu Era Vivo": um filme que podia ter estreado em qualquer época do ano, mas chegou às telas justo na semana do assassinato de Eduardo Coutinho. A tragédia deste domingo ficou na minha cabeça o tempo todo enquanto eu via a história de Junior (o sempre ótimo Marat Descartes), que volta para a casa do pai Senior (Antonio Fagundes) em busca de segredos da mãe morta e do irmão internado. E nisto tudo ele conta com a ajuda da inquilina do pai, uma estudante de música feita por ninguém menos do que Sandy - um papel para ela só menos bizarro que o de Bruna Surfistinha. Aliás, o filme todo é esquistíssimo. O diretor Marco Dutra consegue evocar o horror dos distúrbios mentais, numa chave a anos-luz de distância do sangrento cinema americano do gênero. "Quando Eu Era Vivo" não é para qualquer gosto, mas tem lá seu interesse. Pena que foi lançado numa semana em que os demônios parecem estar à solta.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

EM FAMÍLIA

Mia Farrow se casou com Frank Sinatra em 1966, quando ela tinha 21 anos e ele 50. Três anos depois, já divorciada, ela engravidou de um homem casado, o maestro André Previn - 16 anos mais velho do que ela. Ou seja, Mia entende bem de mocinhas que se interessam por homens maduros. Imagino o terror que ela sentiu ao ver o feitiço se virar contra o feiticeiro, quando sua filha adotiva Soon-Yi Previn - que na época tinha algo entre 19 e 21 anos (a data exata do nascimento dela é incerta) - se engraçou com seu namorado Woody Allen, então com 55. Claro que é creepy pra caralho um homem dessa idade garfar uma garota recém-saída da adolescência, e ainda mais sendo filha de sua namorada. Mas Mia tampouco era santa: ela mesma admitiu que andou sapecando com o ex- Frank Sinatra, àquela altura já casado com outra. Tanto que Ronan, seu suposto filho com Woody, "pode" ser filho do cantor (claro que é, basta olhar as fotos). Mas o inferno não conhece fúria maior do que o de uma mulher desprezada, e eu não me surpreenderia se Mia envenenou mesmo os próprios filhos contra Woody. Veja bem, não estou dizendo que foi isto o que aconteceu: provavelmente nunca saberemos quem diz a verdade nesse imbroglio todo. Só sei que Dylan Farrow é sem dúvida uma vítima, pois tem sequelas até hoje do que acredita ter acontecido em sua infância. Mas de quem é a culpa?

DOIS DE UMA VEZ

Duas mortes chocantes no mesmo dia. Dois artistas incríveis que morreram de maneira estúpida. Eu fico me perguntando: há um sentido nisso tudo? Alguma lição a ser aprendida? O caso de Eduardo Coutinho é o mais próximo à minha experiência. Há casos de esquizofrenia nos dois lados da minha família. Um primo esquizofrênico se matou. Outro já ameaçou matar a própria mãe, mas nem por isto foi internado. O dilema é complexo: esta pessoa consegue viver bem se estiver sendo vigiada, ou é melhor para todos se for trancada numa clínica? Imagino que Coutinho tenha passado por esta dúvida infinitas vezes, e acabou escolhendo a opção errada. Curioso como a esquizofrenia ainda é relativamente tabu. Mais comum do que o autismo, que no entanto vem sendo discutido com mais frequência. Enfim, não entendo quase nada do assunto e não vou dar palpite algum. Também não vou bancar o moralista e dizer que Philip Seymour Hoffman é o culpado por sua própria morte. Nunca experimentei heroína nem sei se teria coragem - mas, pelo que já li e ouvi, a sensação das primeiras doses é absolutamente deliciosa. Hoffman tentou se livrar do vício e não conseguiu. Não cabe a mim julgar. Só expressar o pasmo e a dor por essas mortes brutais. E festejar os legados fantásticos que ambos nos deixaram.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

O ÓDIO QUE NÃO DIZ SEU NOME

Não existe maior ofensa no Brasil do que ser chamado de preconceituoso. Nosso passado de escravidão e nosso presente de desigualdade fazem com que todo mundo rejeite o rótulo com horror - inclusive os preconceituosos. Já virou clichê ouvir algum babaca dizer "não tenho nada contra os gays, mas...". Agora a moda é se fazer de vítima e acusar as minorias perseguidas de "intolerantes". O mais recente exemplo deste fenômeno vem de Rodrigo Constantino, novo colunista-sensação da Veja online. As ideias ultrapassadas e o estilo sensaborão do sujeito me confirmam que eu estava certo quando deixei de ler a revista, mais de um ano atrás. Num texto publicado neste fim de semana, Constantino diz que deve ter assistido a uns 15 minutos de toda a novela "Amor à Vida" - e depois se dedica a analisar em detalhes cada subplot da trama. Isto em si é até engraçado: só expõe um traço antigo da cultura brasileira, que achava que novela era um subproduto indigno de atenção. Mas, alguns parágrafos depois, Constantino revela o homofóbico que realmente é:

"...os “tolerantes” querem impor, de qualquer jeito, suas preferências aos demais, sem tolerar de fato o que pensam ou sentem. Por que digo isso? Porque algumas pessoas podem, simplesmente, sentir aversão natural à imagem de dois homens barbados se beijando. É um direito deles.

Ninguém deve ser obrigado a achar “lindo” um beijo entre dois homens. Não são pela “diversidade”? Então que aceitem a verdadeira diversidade, inclusive com pessoas que não apreciam esteticamente um beijo entre machos. Ou não? Ou vão tirar a máscara e admitir que são autoritários, intolerantes, e querem um mundo onde todos pensem como vocês?"


Ora, ora, ora. Para começar, não existe "aversão natural" a dois homens barbados se beijando. Ninguém nasce assim. Isto sim é um aprendizado cultural e, em última análise, uma escolha. Veja o caso dos meus sobrinhos: desde que nasceram eles me veem beijando meu marido, e jamais tiveram o menor problema com isto.

Também não se exige de ninguém que "aprecie esteticamente um beijo entre dois machos". Gosto estético não se discute (mas claro que se lamenta). O buraco é infinitamente mais embaixo: o que se cobra são direitos iguais. Nem mais, nem menos. Quem acha que os homossexuais não são cidadãos plenos merece ser criticado sim, do mesmo jeito que um racista ou um machista.

Constantino faz parte do imenso contingente que foi pego de calças curtas pelo avanço do movimento LGBT. Agora esperneiam pelo "direito" de continuarem sendo homofóbicos. Quem negar esse direito a eles é que seria o verdadeiro intolerante, ao tolher as liberdades de opinião e expressão alheias. Aham. Sugiro que ele leve umas lampadadas na Paulista - ou simplesmente se veja impedido de incluir a esposa num plano de saúde - antes de sair dizendo por aí que o oprimido é ele.

No mesmo texto, Constantino ainda comete outro descalabro: "Não vou negar que representa uma conquista sob o ponto de vista do movimento gay (longe de ser, então, uma conquista dos brasileiros)." Ora, ora, ora. QUALQUER conquista dos direitos humanos é uma conquista de TODOS. Quando um homossexual brasileiro tem sua cidadania mais reconhecida, a cidadania de todos os brasileiros se fortifica. Devia ser óbvio, mas não é. Gente como ele não faz a puta ideia do que seja uma verdadeira democracia, que protege as minorias mesmo que a esmagadora maioria seja contra.

Fora que Constantino ainda trata os gays como uma espécie de outro. Fala como se fôssemos os exóticos habitantes de uma região remota, brigando pela demarcação de nossas terras. Não, bobinho: nós estamos em toda parte, em todas as famílias. Mais do que provavelmente, até na sua. Portanto, o beijo gay entre Félix e Niko também foi uma vitória - ainda simbólica, mas nem por isto menos vitória - para algum parente seu. Por isto, lutar pelos gays é lutar por si mesmo. Sempre.

SCORSESE SEM GLÚTEN

Tem um ótimo filme de Martin Scorsese em cartaz. Também já está em pré-estreia um bom filme que faz uma puta força para ser de Martin Scorsese, e quase consegue. Quase. "Trapaça" abusa da narração em off e dos movimentos de câmera que fizeram a fama do maior diretor vivo. Também estão lá os vigaristas meia-boca, as femmes fatales do subúrbio e até mesmo Robert De Niro. O roteiro, semi-baseado em fatos reais, é daqueles que arma pegadinhas o tempo todo, até a surpresa final. É divertido e conta com um elenco excepcional: eu não teria indicado Christian Bale ao Oscar simplesmente porque não o reconheci, tão diferente que ele está. Amy Adams nunca esteve tão sexy e Jennifer Lawrence, mais uma vez com um papel para o qual ainda não tem idade, mostra que vai reinar no cinema americano durante muito tempo. E a trilha sonora, recheada de hits dos anos 70? Mas tudo isso não faz com que "Trapaça" ultrapasse o nível de um bom entretenimento. Até "O Lobo de Wall Street", com seus excessos e palavrões, é mais profundo. O filme de David O. Russell é um grande sucesso de bilheteria e recebeu nada menos que 10 indicações oa Oscar deste ano. Mas não duvido nada de que volte para casa com as mãos abanando. É levinho demais.

O EXPRESSO DA MEIA-NOITE

"Fruitvale Station - A Última Estação" venceu o festival de Sundance do ano passado e chegou a ser cogitado para o Oscar. Não foi indicado a nada, mas mesmo assim estreia no Brasil em plena temporada de prêmios. É um bom filme, que conta a história real do assassinato sem razão de um jovem negro pela polícia numa estação do metrô de São Francisco, na virada do ano de 2008 para 2009. Aí é que mora o problema para nós, brasileiros: o que nos EUA foi um acontecimento tão raro que gerou comoção nacional, por aqui acontece todos os dias. Assistimos a "Fruitvale Station" com arzinho de superioridade: "ah, mas a nossa PM é muito mais despreparada e brutal... esses gringos estão reclamando de barriga cheia". O diretor Ryan Coogler, no entanto, acertou ao escolher contar as últimas 24 horas de vida do rapaz. Dessa forma o ex-presidiário Oscar Grant renasce como um cara imperfeito, lutando para fazer a coisa certa. Deixa de ser uma estatística e volta a ser humano. "Fruitvale Station" vai passar meio batido nessa época de grandes lançamentos, mas não deixa de ser interessante. E comovente, é claro.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

SORRY, COKE AND PEPSI

Então é assim que se faz para que o seu comercial viralize: inclua uma fala polêmica, deixe que a emissora reclame e então mande uma versão editada para ir ao ar. Mas coloque no YouTube o original sem cortes, pois todo mundo quer ver o que foi proibido. A Sodastream - uma marca de máquinas para fazer refrigerante em casa) - repetiu este ano a mesmíssima estratégia do ano passado, quando a rede CBS não deixou que este comercial fosse veiculado durante o SuperBowl. Chucharam outra vez com vara curta os gigantes do refri, colocando um "sorry, Coke and Pepsi" nos lábios angelicais de Scarlett Johansson. A atriz já havia se metido em outra polêmica por causa desta propaganda: perdeu o cargo de embaixadora da ONG Oxfam, que não gostou dela anunciar um produto que é fabricado nos territórios palestinos ocupados por Israel. Mas agora é tarde. Todo mundo viu o filme. E nem com tanto bafafá eu fiquei com vontade de provar essa gororoba com corante caseira.

URUGUAIEMO-NOS

Na boa: o que é que está impedindo a gente de se mudar em massa para o Uruguai? A pergunta é mais pertinente do que nunca, agora que o governo Mujica resolveu facilitar para os cidadãos do Mercosul que quiserem viver lá. O país é lindo, apresenta baixos índices de criminalidade e a economia está crescendo. Tem a melhor carne do mundo, muito doce de leite, jarras e mais jarras de clericó. Montevidéu oferece quase o mesmo que qualquer cidade grande, menos o trânsito estupefaciente. Fica a duas horas de voo de São Paulo e a meia de Buenos Aires. A língua é fácil e o povo é simpaticíssimo. Ah, sim, os uruguaios também já legalizaram a maconha, o aborto e o casamento gay. Na boa: o que é que nos prende no Brasil, onde se queimam quatro ônibus por dia porque sim?