sábado, 30 de novembro de 2013

DESCARRILAMENTO

Bille August ganhou duas Palmas de Ouro no Festival de Cannes e um Oscar de melhor filme estrangeiro, e mesmo assim não entrou para o panteão dos grandes diretores contemporâneos. Seu novo filme, "Trem Noturno para Lisboa", mostra bem por quê: o estilo de August é burocrático, antiquado, pesado até. Seus roteiros em inglês sempre soam falsos (ele é dinamarquês), e mais uma vez ele coloca atores de aparência nórdica para inerpretar personagens latinos. Foi o que afundou sua versão para "A Casa dos Espíritos" e é um dos grandes problemas deste novo trabalho, quase todo ambientado em Portugal. Mas o maior é mesmo a matéria-prima, o best-seller de Pascal Mercier. A trama é cheia de coincidências absurdas, além de não fazer muito sentido - quem é que larga o emprego no meio do dia e embarca sem bagagem para um outro país, só porque salvou uma suicida alguns minutos antes? Pois é. Nenhum dos atores está bem, muito por culpa dos diálogos canhestros, e as frases do escritor fictício que deslancham a história não são dignas do mais raso livro de auto-ajuda. "Trem Noturno..." sai bonito da estação, mas escorrega dos trilhos já na primeira curva.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

FACE IT, YOU'RE A LITTLE BIT GAY


Bem antes que James Franco trombeteasse ao mundo sua possível homossexualidade, Robbie Williams já fazia a mesma coisa. Suspeito até que pela mesma razão: narcisismo. Franco e Williams gostariam de ser gays para poderem transar com si mesmos. Esse leitmotiv na obra do cantor inglês fica evidente mais uma vez em “Swings Both Ways”, seu novo disco de standards gravado com orquestra e convidados especiais (o primeiro foi “Swing When You’re Winning”, de dez anos atrás). O próprio título já entrega: “corta dos dois lados”, em tradução livre. Também é o nome da melhor faixa de todas, um dueto com o assumidérrimo Rufus Wainwright, que também rendeu a chamada deste post. Mas o CD inteiro é ryqueza, ressuscitando o estilo de Sinatra com mais deboche e tesão do que se fazia nos anos 50. Esqueça aquelas cabras humanas que andam berrando por aí: assim é que se canta.

PARALÍTICO PERO CUMPLIDOR

Dá para imaginar um presidente na cadeira de rodas? Dificilmente um PPD teria essa chance nos dias de hoje. Mas Franklin Delano Roosevelt governou os Estados Unidos por quatro mandatos seguidos (morreu antes de terminar o último), e sua saúde delicada não o impediu de tirar o país da Depressão nem de abrir caminho para a vitória na 2a. Guerra Mundial. Tampouco o manteve longe da cama de uma infinidade de primas e secretárias, como mostra “Um Final de Semana em Hyde Park”. Sua mulher Eleanor não era muito chegada ao esporte: além de feíssima na vida real, preferia a companhia de outras moças. O filme foca na visita que o rei George VII e sua mulher (pais da atual rainha Elizabeth) fizeram à casa de campo da família de Roosevelt, na primeira vez que um monarca britânico pisou em solo americano. Por causa do trailer eu esperava uma comédia maluca, mas o ritmo é meio lento e o contraste entre as duas culturas nunca sai do ponto morto. Salvam-se as interpretações e a reconstituição de época, que ajudam a penetrar na intimidade de um homem frágil que chegou a ser o mais poderoso do mundo.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

BLACK FRAUDE

Este texto acima é para valer. Veio num e-mail que as Americanas mandaram para sua lista de cadastrados. E é a prova cabal de como uma marca pode levar décadas para ser construída, mas pulverizada num piscar de olhos. Estou falando da expressão "Black Friday", usada há tempos nos Estados Unidos para denominar a última sexta-feira de novembro. É o dia depois do Thanksgiving, o feriado mais importante do calendário americano (porque é mais universal do que o Natal), e marca o início da temporada de compras de final de ano. O comércio brasileiro importou a ideia há um par de anos e desde então só cagou em cima. Expressões como "tudo pelo dobro do triplo" já se popularizaram, dada a desfaçatez com que lojistas e sites maquiam seus preços na véspera só para oferecer falsos descontos no dia. Agora está todo mundo com o pé atrás, e duvido que as vendas de 2013 sejam grande coisa. Bem feito. E fica a sugestão para os estudiosos do marketing e do planejamento: ó como é fácil fazer cagada.

(O descalabro brasileiro é tamanho que gerou até matéria na Forbes)

FOFA & PUTA

Isabelle é linda, leva uma vida confortável e não tem nenhum grande problema aparente. O que a leva, então, a se prostituir logo depois de perder a virgindade? O diretor François Ozon desmonta uma a uma as expectativas do espectador em "Jovem & Bela". Não, ela não precisa do dinheiro - tanto que nem o gasta, escondendo tudo o que ganha num envelope dentro do armário. Sim, os pais são separados, mas ela se dá bem com ambos e não está procurando preencher nenhuma carência desse tipo. Mas há uma resposta para o comportamento da garota, e ela vem na sequência final, quando Charlotte Rampling irrompe poderosa na tela. A novata Marine Vacth já tem 24 anos, mas convence plenamente como uma ninfeta de 17: há momentos em que ela está um mulherão, outros em que não passa de uma menininha. O filme não é nada moralista, mas retrata o terror justificado da mãe ao descobrir as atividades extracurriculares da filha. E confirma mais uma vez que Ozon é o maior nome do cinema francês da atualidade. Seu trabalho nunca é menos do que interessante, e este aqui já figura entre seus melhores.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

CONCORDANDO EM DISCORDAR

Sou um eterno otimista. Por isto, estou pondo a maior fé nesse acordo que o Irã acabou de fechar com as grandes potências para limitar sua capacidade nuclear. Acho que o recém-eleito presidente Rowhani é mesmo bem-intencionado, e um milhão de vezes melhor que o Ahmadinejad. Também está na cara que o aiatolá Khamenei e toda a cúpula da república islâmica perceberam que o regime precisa se abrir, para não ser derrubado nos próximos anos. Mas é curioso como esse acordo de agora é mais leniente com os iranianos do que o que Brasil e Turquia tentaram validar três anos atrás. Na época os Estados Unidos conseguiram melar este bravo esforço da nossa diplomacia, e, entre as muitas razões para isto, aposto que está o interesse em não facilitar a ascensão brasileira no cenário mundial. Um acordo bem-sucedido em 2010 teria nos dado cacife até para um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, o que certamente não é do agrado de muito peixe graúdo por aí.

(Clovis Rossi e o ministro Celso Amorim (hoje na Defesa, em 2010 no Itamaraty) concordam comigo; Matias Spektor, não)

CHUTANDO CACHORRO MORTO


Por quê, meu Deus, por quê? Por que será que Seth MacFarlane, o criador de "Family Guy", achou que seria uma boa ideia matar Brian, o cachorro da família Griffin? E justo por atropelamento, uma maneira horrivelmente comum. Perdi uma cadela que eu amava desse jeito, e, 16 anos depois, eu ainda não me recuperei. Por isto foi horrível ver estas cenas que foram ao ar nos EUA no último domingo, e que estão causando enorme comoção nas internês. Bom, se o objetivo era este, foi plenamente atingido: já existe uma petição online pedindo para o personagem ser ressuscitado (afinal, o Stewie tem uma máquina do tempo!) e até uma declaração de uma associação de veterinários afirmando que Brian poderia ter sido salvo. Também já chegou um novo cão para os Griffin, mas será que vai durar? Não duvido que tudo não passe de golpe publicitário. Mas ô ideiazinha marvada, sô. Precisava?

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

WORTH A THOUSAND BITCHES

E a pegadinha que James Franco está pregando na humanidade continua. O ator não perde uma chance de nos provocar com sua suposta homossexualidade. Este semana ele parodia o novo clipe de Kanye West, "Bound 2". Pena que com a ajuda de Seth Rogen - talvez o menos atraente entre todos os seus amigos.

O FANTASMINHA NÃO-CAMARADA

O Uruguai foi um dos últimos países a se classificar para a Copa do ano que vem. Este comercial da Puma provavelmente já estava filmado e editado, prontinho para ir ao ar. Ele explora com humor a maior glória da seleção de lá e o maior trauma brasileiro de todos os tempos. Claro que achar que estamos com medo da Celeste é um pouco demais, mas a ideia é ótima para o mercado de lá. Buuuu.

domingo, 24 de novembro de 2013

MYRIAN REDIVIVA

Myrian Muniz não se tornou mega famosa porque fez trabalhos esporádicos na TV. Foi a malvada Tia Patrocínio na minissérie "Os Maias" e a ainda pior dona Miloca em "Dona Flor e seus Dois Maridos" (no final da vida, sua especialidade eram as velhas chatas). Mas isto não diminui sua importância na história do teatro brasileiro. Foi atriz, diretora e professora, e suas tiradas sarcásticas entraram para o folclore da classe artística. Este talvez seja o único problema da peça "Eu Não Dava Praquilo": só quem conheceu Myrian, ainda que ligeiramente, pode desfrutar plenamente da impressionante interpretação de Cássio Scapin. O ator (e também um dos autores do roteiro, junto com Cássio Junqueira) usa só um xale preto, uma tiara nos cabelos e um cigarro nas mãos para evocar a presença de Myrian. Os gestos e, principalmente, a voz rouca, fazem com que o espetáculo seja quase que uma sessão espírita. Pena que o texto não inclui uma das melhores anedotas myrianescas que eu já ouvi (e que provavelmente é apócrifa, porque ela respeitava o trabalho de qualquer ator). Reza a lenda que Myrian foi assistir a um monólogo e, lá pelas tantas, enfastiou-se e resolveu ir embora. Levantou-se de sua poltrona e procurou a saída do teatro, mas não a encontrou. Aí não teve dúvidas. Subiu no palco e interpelou o ator em cena aberta: "Nego, como é que faz para sair daqui?"

sábado, 23 de novembro de 2013

OS NOIVOS


Quando o vídeo "It Could Happen to You" viralizou, em meados do ano passado, eu não tive coragem de assistir. Sabia que era a história triste de um casal de namorados separado pela morte acidental de um deles e que estava comovendo até mesmo os homofóbicos mais empedernidos, mas simplesmente não encontrei forças. Este mesmo caso também é contado num documentário de longa-metragem chamado "Bridegroom", que eu acabei de ver no Netflix. O amor de Tom e Shane é incrivelmente banal, e por isto mesmo extraordinário. Tom era lindo, carismático e seguro de si; Shane também é bonito, mas cresceu cheio de medo e encucações. O curioso é que a família do forte não o aceitava, e não deixou que o namorado fosse ao seu funeral. Mais irônico ainda é o fraco ter sobrevivido, e hoje ter se tornado um líder da causa gay (que provavelmente não encontrará um casal mais fofo e atraente para mostrar ao resto da humanidade que nós também somos parte dela). Tom e Shane não chegaram a se casar, mas na prática eram noivos. Achei que este era o signifcado do título do filme - "bridegroom" quer dizer noivo em inglês - e só no finalzinho saquei que também é o sobrenome de Tom. Claro que fui às lágrimas. Agora só me falta ver o vídeo original. Quem sabe outro dia.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

CHUPA, YOUTUBE

O YouTube levou quase 24 horas para descobrir que havia uma cena de fellatio no trailer de "Ninfomaníaca" e finalmente retirá-lo do ar. Ainda bem que a internet é grande. O filme de Lars Von Trier quer muito épater les bourgeois, mas suas cenas de sexo explícito são médio para valer: as caras são de estrelas de cinema, mas pepeus e pepecas são de atores pornô, inseridos (hmm...) digitalmente.

DOR GENOÍNA

Até eu, que nunca duvidei da culpa dos mensaleiros, me condoo com o calvário do ex-presidente do PT na cadeia. E acabo caindo na mesma armadilha sentimental que está seduzindo muita gente boa. José Genoíno é simpático e não enriqueceu um centavo, è vero, mas isto não o exime de suas responsabilidades. Fora que ninguém está se comovendo com a prisão de Marcos Valério, dos banqueiros, dos políticos dos partidecos ou com a de Roberto Jefferson - que, vítma de um letal câncer no pâncreas, está ainda mais doente do que Genoíno. Petistas e simpatizantes, fiquem espertos: ou são todos inocentes e merecem a liberdade imediata, ou são mesmo culpados como julgou o STF. Não dá para selecionar mártires por simpatia ou ideologia. O barco é um só.

REPLICANTE

E aí, tá sem nada fazer? Que tal transformar seu filme predileto em milhares de aquarelas? Foi o que fez o artista plástico Andres Ramsell. Ele replicou "Blade Runner" em 12.597 nada menos que imagens pintadas à mão e depois animou-as ao som da trilha original. Tem pouco mais de meia hora de duração, mas eu não consegui ver mais do que alguns trechinhos. Dá uma puta dor de cabeça.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

NO SAMBÓDROMO DE PANEM

Gostei tanto do primeiro filme da série "Jogos Vorazes" que resolvi ler os dois livros seguintes antes que suas adaptações chegassem às telas. Não porque eu goste muito da ideia de adolescentes matando uns aos outros, mas porque me interessei pela história de Panem, o estado totalitário que surge nos escombros dos Estados Unidos depois de uma guerra nuclear no final deste século. Frustrei-me um pouco: a autora Suzanne Collins gasta boa parte de seu texto explorando a dúvida da heroína Katniss entre seus dois pretês, Peeta e Gale. Claro que é daí que advém boa parte do sucesso da história. Ontem fui ver "Em Chamas", o segundo filme, que consegue ser fiel ao livro sem se tornar aborrecido. Suas quase três de duração trazem um certo repeteco ao encenar uma competição ainda mais acirrada que a da primeira vez, mas a miséria e a glória de Panem aparecem com mais detalhes. Katniss desfila em carro aberto pelo equivalente ao sambódromo na capital do país, e conhece uma turma de adversários muito mais interessantes que os que enfrentou antes. "Em Chamas" deve ser o auge da série "Jogos Vorazes". Daqui para a frente, duvido que a qualidade se mantenha: os gananciosos produtores irão transformar o último livro em dois filmes distintos, só para arrancar dinheiro de trouxas como eu.

DO OUTRO LADO DA LINHA

Quem viu "Gravidade" certamente se lembra da cena em que Sandra Bullock, no auge do desespero, consegue contatar pelo rádio alguém da Terra. Só que esse alguém fala uma língua incompreensível e não tem como ajudar a astronauta em perigo. Mesmo assim, os sons de cães e de um bebê trazem algum conforto para ela. Quando vi o filme achei que o cara falava chinês, mas agora descobri que se trata de um esquimó (ou, para usar o termo correto, um innuit). Jonás Cuarón, co-roteirista de "Gravidade" e filho de Alfonso, o diretor do filme, dirigiu ele mesmo o curta-metragem "Aningaaq", que revela o outro da conversa. Rodado na Groenlândia e com sete minutos de duração, o que era para ser um extra para o DVD ficou tão popular que será inscrito no próximo Oscar. Se tanto o longa quanto o curta forem indicados, será um fato histórico e sem precedentes.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

O DIA DA INCONSCIÊNCIA

O Infeliciano aproveitou mais uma vez que o Brsil estava distraído e conseguiu que a CDH aprovasse hoje, em pleno feriado, dois projetos contra os gays e rejeitasse um a favor. Ah, e não me venham dizer que o tal plebiscito é democrático e blábláblá porque não é: direitos são direitos e pronto, não precisam ser submetidos a votação. Fora que direitos de minorias não costumam ser aprovados em votações majoritárias, a não ser que a população seja educada e esclarecida - o que obviamente não é o caso da nossa. Mas não há muito a temer: passar pela CDH não significa que o projeto se tornará lei, e o Congresso rejeitou fragorosamente as últims estripulias desse vendilhão do templo. Mas a marola desejada por ele foi provocada: num dia de pouca notícias, o sacripanta conseguiu voltar às manchetes, e assim garantir uma reeleição por um número absurdo de votos no ano que vem. E pensar que eu reclamava do Tiririca...

FLAMENCO NEGRO

Eu não sabia que ia gostar tanto do show de Concha Buika em São Paulo. A mulher é ainda mais intensa ao vivo do que nos discos. Ela sorri muito entre um número e outro, mas se entrega com tal paixão a cada música que eu até fiquei com medo de sair arranhado (estava sentado bem perto do palco). O pequeno Tom Jazz estava abarrotado, apesar dessa espanhola de origem africana ainda ser pouco conhecida no Brasil. Se bem que leitores habituais do meu blog não têm desculpa: já falei de Buika aqui, aqui e aqui. Buika ao vivo é uma experiência trasncendental: séculos de história e dor se revelam na mistura de flamenco (na intenção da voz, no gestual) com África, Cuba e Chavela Vargas. Próxima parada: um DVD gravado ao vivo, porfa.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

TÁ OLHANDO O QUÊ?

"Se eu não quisesse ter vida, não morava em São Francisco, morava em Los Angeles". Ouch. Só esta alfinetada que abre o trailer de "Looking" mostra que estamos bem longe do dramalhão que às vezes impregnava "Queer as Folk", a icônica série gay de uma década atrás. Agora é a vez da HBO se arriscar no assunt, pelo jeito com mais leveza. Estrelado pelo translumbrante Jonathan Groff (que aparecia em "Glee" e é gay assumido), "Looking" estreia nos EUA em janeiro de 2014, e torço que logo depois por aqui. Estou louco para dar uma olhada.

VELHINHOS SACUDIDOS

Fazia tempo que Paul McCartney era carta fora do meu baralho. Comprei muitos de seus discos depois que os Beatles acabaram, mas desisti ali pela metade dos anos 80. Achava tudo mais do mesmo, sem consistência nem relevância. Zuzo bem: o cara é simplesmente o músico mais bem-sucedido de todos os tempos, e o que ele fez nos primeiros 20 anos de carreira é melhor e mais importante do que toda a indústria pop asiática, por exemplo. Mas o fato é que nem me abalei quando ele visitou o Brasil umas 300 vezes nos últimos anos. Tenho pouco de nostálgico, geralmente prefiro o som que está se fazendo agora. Pois não é que o velho Macca se modernizou? "New" é seu melhor trabalho desde sei lá quando, gravado com a ajuda de jovens produtores como Mark Ronson (que meio que inventou Amy Winehouse). Vai agradar tanto a beatlmeaníacos idosos quanto a quem gosta de novidade. Toda a primeira metade de "New" soa como um disco clássico dos Fab Four, com melodias assobiáveis e climão de anos 60. Mas depois surgem faixas como "Appreciate", que não chega a ser vanguarda mas é bem prafrentex. Aos 71 anos de idade, Sir Paul conseguiu não só sair de sua zona de conforto como nos presentear com aquilo que sempre fez de melhor. "New" é um puta disco.

Ney Matogrosso é outro artista de quem eu fui muito fã e depois me afastei, só para voltar a me apaixonar outra vez. Fiquei muito impressionado com seu show "Beijo Bandido", em 2009, e ainda mais com o novo "Atento aos Sinais", que vi em março deste ano. Agora as músicas que faziam o grosso do repertório daquele espetáculo saíram num CD do mesmo nome, e lá vou eu me maravilhar com outro septuagenário do babado. As músicas estão mais agressivas e ásperas do que na fase anterior, mesmo as baladas, e são tão boas que ainda não tenho uma clara favorita. Por enquanto meu destaque vai para "Rua da Passagem", a faixa de abertura - que puta ideia do Lenine, uma canção sobre a cortesia que falta no trânsito! Paul e Ney são a prova viva de que idade e juventude são dois conceitos independentes. Você só começa a envelhecer quado se desinteressa do mundo à sua volta.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

ESTREAMOS HOJE

Não, não tenho outro assunto, e você também não teria se tivesse estreado hoje na Globo. Modéstia às favas, foi um frisson ver meu nome nos créditos de abertura, como se alguém mais além de mim mesmo e minha mãe tivesse reparado. Também confesso que adorei o programa: tínhamos mais de 45 minutos gravados com Susana Vieira, e não senti falta de nenhum grande momento na edição que foi ao ar. A mulher é um bicho de TV, sempre sabe qual a câmera que a está focalizando. Fora que tem aquela mesma qualidade de buraco negro que a Hebe tinha- a capacidade de atrair para si todas as atenções num raio de 10 quilômetros. Virei súdito! Susana é intensa, e Zeca teve que aumentar o volume também. Mas deixou-a roubar a cena, como disseram alguns sites. Afinal, quem mais tem que brilhar é o convidado. Ah, e para quem comparou o novo "Vídeo Show" ao "Encontro com Fátima Bernardes": vocês não perdem por esperar. Todo o respeito à Fátima, mas o nosso programa é bem diferente do dela - e dele mesmo também, já que todo dia vai rolar algo novo. Amanhã tem mais!

Em tempo: quem quiser falar mal do programa tem a internet inteira para fazer isto. Não venham aqui estragar minha alegria. Tô nem aí para a credibilidade.

ESTREIA HOJE

Daqui a pouco, às 13:50, o mundo finalmente vai ver o que andamos aprontando nos últimos três meses. Ou melhor, começar a ver: cada programa do novo "Vídeo Show" é completamente diferente do outro, o que dá um trabalho do cão e uma satisfação imensa de ver como ficou legal. O Zeca conta alguns detalhes desta experiência neste vídeo aqui, que também mostra um pouquinho do cenário e das novidades que vêm por aí. Quem não conseguir ver a estreia pode assistir a trechos mais tarde na Globo.com (na íntegra, só para assinantes). Depois me conta o que você achou, mas já vou avisando: hoje só quero saber de elogios.

domingo, 17 de novembro de 2013

UM BONDE CHAMADO WOODY ALLEN

Praticamente só faltou o grito de "Stellaaaa!". Quase todo o resto de "Um Bonde Chamado Desejo" está lá: a dama fragilizada que conheceu dias melhores, a irmã prática que namora um brutamontes, o desequilíbrio mental da protagonista. Sim, "Blue Jasmine" é a variante que Woody Allen fez em cima da famosa peça de Tennessee Williams, mas isto não diminui em nada o brilho do filme. Cate Blanchett está soberba no papel-título, a ex-socialite de Nova York cujo marido escroque a traía com tdoas as amigas antes de ir para a cadeia. Sem um tostão nem a quem mais recorrer, ela vai bater na porta da irmã que mora em São Francisco, do outro lado do país - e também de sua vida de dondoca deslumbrada. Confrontada com a dura realidade, Jasmine até que não se dá mal: em pouco tempo está trabalhando, estudando e até mesmo namorando um sujeito bem bacana. Mas suas fraquezas logo põem tudo a perder, pois ela não fez as pazes com as burradas que cometeu no passado. "Blue Jasmine" é um drama pesado disfarçado de comédia, com um toque de luta de classes. Também vai para a prateleira dos bons Woodys.

ASTERIX ENTRE OS PINTADOS

Hergé deixou ordens expressas para ninguém meter a mão no Tintin depois que ele morresse. Deixou até mesmo um álbum quase completo, "Tintin et l'Alph-Art", que no entanto nunca foi terminado oficialmente (mas existem várias versões apócrifas). Por um lado, dá para entender: Tintin era mais que um filho, era o próprio Hergé, e ele não queria que estranhos lhe pusessem palavras na boca depois que se fosse. Por outro, é uma pena. Os estúdios Hergé tinham dezenas de ilustradores e roteiristas mais do que capazes de continuar o personagem, sem que o público se desse conta da menor diferença. Os criadores do Astérix escolheram este segundo caminho. Ou melhor, O criador, o desenhista Albert Uderzo, já que o escritor René Goscinny morreu em 1977. Desde então, Uderzo assumiu textos e imagens do pequeno herói gaulês, e, por Tutatis, a qualidade despencou. Astérix chegou a ter até memso um contato imediato e 3o. grau com um extraterrestre, numa descaracterização completa do espírito original da série. Agora Uderzo está velhinho e, provavelmente insuflado por seus editores, concordou em passar o bastão adiante. "Asterix entre os Pictos" é o primeiro álbum escrito por Jean-Yves Ferri e desenhado por Didier Conrad, e não é que se parece com as aventuras clássicas dos anos 60? Os pictos eram os antigos habitantes da Caledônia, hoje conhecida por Escócia, chamados assim pelos romanos (picti) porque pintavam rostos e corpos. Tudo o que amamos está lá: os menirs do Obelix, a poção mágica, os romanos, esses neuróticos, o ataque do navio pirata, o banquete final regado a javali. Não, não está no mesmo nível de obras-primas como "...entre os Bretões" ou "...e Cleópatra", mas é muito melhor que qualquer história dos útimos 20 anos. Longa vida para Asterix.

sábado, 16 de novembro de 2013

PORQUE HOJE É SÁBADO

Um beijo para você que não teve feriado ontem e também está trabalhando neste lindo sábado de sol. Para lhe dar coragem de enfrentar mais este dia, recomendo um Tumbl'r hilário, o Ataque de Estrelismo. São basicamente manchetes e fotos da antiga revista "Amiga" e outras publicações da extinta editora Bloch. Os redatores de então não tinham o menor prurido em misturar atores e personagens, produzindo chamadas impagáveis como "Renata Sorrah quer transar com Tarcísio Meira (Eva Wilma não deixa)" ou "Suzana Vieira não é traficante de maconha". Também há outras que são sacanagem em estado puro, como "Elke Maravilha solta pum no elevador" ou a que ilustra este post.

Outro Tumbl'r engraçado é o Monica Plesa, assinado por ninguém menos que o Cebolinha. Assim como as centenas de memes que pipocaram nas redes, só vai ter graça este fim de semana, enquanto durar o impacto do sequestro-relâmpago sofrido pela imortal criação de Maurício de Souza. Côlam!

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

PIRATAS DA CARÊNCIA

Só há um jeito de acabar com a pirataria, garantiam os experts do século 19: acabar com os próprios piratas. Capturem-nos e enforquem-nos em alto mar, sem direito a julgamento nem a nenhuma dessas frescuras modernas. Parece brutal, mas deu certo. Os ataques de corsários e bucaneiros a navios mercantes praticamente desapareceram durante o século 20. Mas ressurgiram nas últimas décadas, primeiro no Sudeste Asiático e depois, com força total, nas águas que rodeiam o Chifre da África. A guerra civil na Somália, seguida pela falência quase total do estado, tornou desesperadora uma situação que nunca foi fácil para os habitantes das regiões costeiras do país. Petroleiros e cargueiros vindos do Golfo Pérsico começaram a ser vítimas de sequestros-relâmpago, dando origem a organizações criminosas que lembram as dos narcotraficantes. Todo esse contexto aparece em “Capitão Phillips”, e isto é uma das melhores coisas do filme. O roteiro foge da patriotada óbvia, americanos bonzinhos x escurinhos malvados. O imenso navio comandado pelo personagem-título é inacreditavelmente abordado por quatro figuras esquálidas, que parecem zumbis depois de um prolongado banho de sol. A câmera nervosa do diretor Paul Greengrass não é mais novidade, mas esse “approach” dialético é: há seres humanos dos dois lados do conflito. Lembro que na época do acontecido (sim, o caso é real) eu vibrei com o desenlace, mas agora já não sei mais. “Capitão Phillips” não propõe respostas óbvias para um dilema complexo, e a atuação de Tom Hanks mais do que merece a indicação ao Oscar que fatalmente virá. Quem gosta de ficar na dúvida quando o assunto é sério não pode perder.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

SINTA MUITO, BRASIL

O ator e roteirista Aloisio de Abreu conseguiu que alguns amigos famosos gravassem uma série de comerciais contundentes pedindo a criminalização da homofobia, uma pauta urgente que no entanto anda meio esquecida. Gentem, até o ultraconservador Chile passou à frente do Brasil nesse quesito! Vergooonhaa.

VOZ DE PRISÃO

Dá para acreditar que acabou o julgamento do mensalão? Que finalmente os condenados irão cumprir suas penas, ainda que alternativas? Fico feliz que essa novela tenha chegado ao fim - e aposto que setores do PT também ficaram, pois terminou bem antes das eleições do ano que vem. Mas também fico meio desesperançado. Já pensou se os parlamentares condenados não perderem os mandatos? Vão passar o dia na Câmara e a noite na cadeia. Fora que essa condenação generalizada não serviu de exemplo para ninguém. Haja vista o caso Alstom, que assombra o governo do estado de São Paulo, ou o escândalo dos fiscais, que emprocalha diversas prefeituras da capital paulista. Na boa, não tenho muita fé nesse país. Tomara que eu esteja errado.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

I KNOW, I SAID THAT I WAS LEAVING

Menos de três meses depois de ter feito uma despedida melodramática e agradecido a todo mundo como se estivesse ganhando um Oscar, eis-me de volta ao F5. Mas não soltem fogos, suas invejosas: continuo na Globo, trabalhando no novo "Vídeo Show" (que estreia nesta segunda, dia 18!). A emissora me autorizou a voltar a escrever no site de entretenimento da Folha. Claro que não posso ser funcionário de uma TV e crítico de TV ao mesmo tempo, por isto não vou mais falar deste assunto. Mas o resto da cultura pop está liberado, então lá vou eu. Minha coluna agora será semanal, todas as quartas-feiras, e a primeira dessa reestreia já está no ar. Bora compartilhar, galera!

SALVOS PELO GONGO

A crise que vinha se avizinhando ao Show do Gongo quase que despencou feito um meteoro nas nossa cabeças, inclusive na da Marisa Orth. Nos últimos anos, tanto a quantidade como a qualidade dos vídeos inscritos na "amateur night" do Festival Mix Brasil rolou ladeira abaixo. Os vencedores das edições mais recentes já eram manjados pelo público, pois circulavam há tempos pela internet, e meio que venceram porque não tinham concorrentes à altura. Ontem houve um momento em que pareceu que o prêmio ia acumular para o ano que vem. Só dois candidatos conseguiram ser exibidos até o fim, e isto porque a apresentadora não deu ouvidos aos urros da plateia. Mas aí rolou um lance cinematográfico: um jovem diretor de origem coreana, Pyong Lee, implorou para que seu vídeo fosse exibido (quando ele chegou ao CCSP, as inscrições já estavam encerradas). André Fischer consultou júri e público, e concordamos em dar uma chance ao rapaz. E não é que "Ai, Caralho" é um digno vencedor do Coelho de Prata? Tem qualidade técnica a anos-luz dos demais inscritos, e acima de tudo tem ideia - e bem engraçada. Pyong é carismático e talentoso, e seu canal Cubo X no YouTube (sim, mais uma variação do Porta dos Fundos) merece ser conferido. A versão que está aí embaixo não é a que foi exibida ontem, que era mais longa, mas serve como palhinha. E no final tudo acabou bem e fomos felizes para sempre.



ATUALIZAÇÃO: A versão completa já foi postada no YouTube e aí em cima.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

ENTRE A LOURA E A MORENA

Agora que os dois discos estão entre nós, quem foi que se deu melhor? Quem é a maior cantora branca americana da atualidade? A legítima herdeira ao torno ainda não vago de Madonna? Sorry, haters: sou Gaga desde criancinha, e continuo sendo. "Artpop" (me recuso a escrever em caixa alta, como ela exige) é ótimo. Melhor do que o tumultuado "Born This Way" e quase do nível de "The Fame Monster", a pequena obra-prima da Germanotta. Só não é - aham - arte. Alguém precisava dizer a ela que essa insistência em tratar cada novo single como a descoberta da pedra filosofal não é uma boa estratégia para conquistar novos fãs. Já há algum tempo que Lady Gaga parece se preocupar apenas como seus "lírou", e suas pretensões à grande arte são cada vez mais ridículas. Além de servirem como sangue no mar para os tubarões da crítica, que a esquartejam alegremente sempre que ela trombeteia sua arrogância. Se ignorarmos tudo isto, "Artpop" emerge como realmente é: um disco alegre, quase sempre dançante, empolgante até. Ainda não estou super familiarizado, mas faixas como "Do What U Want" e "Swine" estão frequentando meus tímpanos sem parar. Go, Gaga, go!

E a Kátia Perez, hein? Bom, "Prism" é de longe seu melhor CD (sim, também tenho todos). Cada música parece ter sido geneticamente desenhada para virar hit, e não duvido que todas virem. Ela passeia à vontade por todos os gêneros do mainstream, do rock à disco. Mas também é aí que mora o problema. Katy Perry se tornou mainstream demais. Curioso pensar que a cantora que surgiu em 2008 acusando o o ex-namorado de ser "so gay" e dizendo que tinha beijado uma garota e gostado agora seja tão certinha, tão Rádio Disney. Ela perdeu qualquer resquício de vanguarda, rebelião ou mesmo modismo. Agora é uma espécie de irmã mais velha da molecada, cantando letras repletas de frases feitas e hinos de superação de fazer Whitney Houston se morder no céu. "Prism" é um disco agradável, mas tão inofensivo como uma balada evangélica. Katy talvez esteja voltando às raízes; será que ano que vem a veremos no Festival Promessas?

THIS IS THE RHYTHM OF THE NIGHT

Agregando!

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

YVES, YVES, PRO CÉU, PRO CÉU

A vida de Yves Saint-Laurent já rendeu um ótimo documentário, "O Louco Amor de YSL". Em janeiro estreia na França uma dramatização cinematográfica. Como eu o acho o melhor estilista do século 20 (atenção, não disse o mais influente, que na minha humilde opinião é Chanel), já estou na fissura. E tem beijo gay!

VOCÊ PINTA COMO EU PINTO?


Quer aumentar o movimento do seu museu? Promova uma exposição de nus masculinos! É o que está fazendo o Musée d'Orsay com "Masculin / Masculin: o Homem Nu na Arte de 1800 até Hoje", que fica em cartaz até 14 de janeiro do ano que vem. Adoro esses truques de curadoria que atraem público para obras que já estão há séculos no acervo (verdade que também há quadros de outros lugares, como esse incrível "Mercúrio" de Pierre et Gilles aí do lado). Como dificilmente passarei por Paris nos próximos meses, vou ter que me contentar com o vídeo acima - e resmungar que podiam ter escolhido um cara mais bonito para estrelá-lo. Mas quem sou para reclamar? Já tem nudez masculina até nas fotos dos membros (aham) deste blog!

domingo, 10 de novembro de 2013

HAVIA UM FIO NO MEIO DO CAMINHO

No meio do caminho havia um fio. De aço, estendido de um lado a outro da estrada para cortar a cabeça do primeiro motoqueiro que passasse. E é exatamente isto o que acontece: boa parte da primeira metade de "O Conselheiro do Crime" é dedicada à preparação deste assassinato bizarro (que aliás está no trailer, portanto não estou entregando nenhum grande segredo). As mortes violentas por métodos pouco usuais são a especialidade do escritor Cormac McCarthy, que teve seu livro "Onde os Fracos Não Têm Vez" adaptado pelos irmãos Coen num filme que venceu o Oscar. Quem não lembra de Javier Bardem matando um motorista inocente com uma pistola de abater gado? Bardem também está neste filme, novamente com um penteado exótico, ao lado de um elenco peso-pesado que inclui sua mulher Penélope Cruz, Brad Pitt e Michael Fassbender. Além de Cameron Diaz, que consegue superar sua cena com "gel" (ahã) em "Quem Vai Ficar com Mary?" com uma uma sequência de masturbação em cima do vidro de um carro que é ainda mis grotesca. "O Conselheiro do Crime" não tem propriamente um plot, mas sim uma série de cenas fortes sem uma conexão clara entre si. É o primeiro roteiro original de McCarthy, e dá para perceber que ele não é do ramo. Ridley Scott filma tudo com a competência habitual, mas o espectador não se envolve nem quando grandes desgraças acometem os protagonistas.

sábado, 9 de novembro de 2013

QUARTEIRÃO ARRASADO

Há quanto tempo você não aluga um vídeo? Eu nem me lembro quando foi a minha última vez. Por isto, o anúncio do fechamento da Blockbuster nos Estados Unidos tem um ligeiro sabor de notícia velha - não parece que isto aconteceu já faz alguns anos? A última loja da rede por lá fecha as portas em dezembro. Mas a marca sobrevive no Brasil, onde pertence a outro grupo e tornou-se basicamente um revendedor de guloseimas com uns DVDs antigos ali no canto. Engraçado como não é necessário muito tempo para uma mudança de hábito se enraizar. Hoje me soa estranhíssimo ter que sair de casa e enfrentar os elementos para alugar um filme.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

GAME OXENTE

Capitais do Nordeste no estilo "Game of Thrones", por Raphael Goettenauer. Faltou o elenco: Elba Ramalho como Cersei? Ivete Sangalo como a Khaleesi?

DANDO NO COURO


Joaquin Phoenix se fez de louco durante mais de um ano, babando em talk shows e dizendo que ia abandonar a carreira. Era pegadinha - quer dizer, oficialmente era um projeto de documentário, que mediria a reação do público a essa performance inspirada. Tenho cá comigo que James Franco está fazendo algo parecido: há pelo menos três anos que o ator de "127 Horas" faz fotos montados, grava vídeos beijando outros homens e jamais aparece em público com uma namorada a tiracolo. Ele quer deixar o mundo inteiro na dúvida - talvez como provocação artística, talvez como zoação pura e simples. Esta possível "practical joke" tem seu lance mais elaborado no filme "Interior. Leather Bar." A ideia era bem provocante: recriar os 40 minutos de material perdido do clássico "Parfceiros da Noite", que o diretor William Firedkin precisou cortar em 1980 para apaziguar a censura americana. O filme, para quem não viu, é uma das primeiras incursões de Hollywood no universo gay. Al Pacino faz um policial que precisa se infiltrar entre os frequentadores dos antros de pegação de Nova York para pegar um "serial killer" e acaba descobrindo algumas coisinhas sobre si mesmo. Foi um escândalo na época. Pois bem: Franco e o diretor Matthew Travis resolveram reunir um bando de atores - anônimos, famosos, gays, héteros e até um astro pornô - para uma longa cena semi-explícita, que reimagina o que seriam os tais 40 minutos deletados (que ainda devem existir em algum rolo arquivado). O resultado é bem menos excitante do que parece, até porque a dramaturgia é misturada com making of, makinf of do making of, depoimentos autênticos e diálogos que parecem reais mas são totalmente encenados. Há bons momentos, mas a verdade é que a única hora que dura o filme custa um pouco a passar. De qualquer forma, não deixa de ser interessante: o filme está em cartaz no Festival MixBrasil, que estreou ontem em São Paulo, semana que vem no Rio e depois percorre muitas cidades brasileiras.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

PERDI VOCÊ, NÃO TENTE ENTENDER

Eu estava trabalhando neste roteiro já há alguns dias. Hoje ele finalmente ficou pronto, e o que foi que o imbecil aqui fez? Não, não transformei em pdf nem mandei por e-mail para alguém. Simplesmente joguei no lixo, que esvaziei em seguida. "Mas nem tudo está perdido!", pensei em pânico. "Mac tem Time Machine!" Tem mesmo, mas ninguém me avisou que eu precisava tê-lo ativado. Então corri para a internet para descobrir como recuperar arquivos deletados. Baixei dois programas, um grátis, o outro por 99 dólares. Recuperei milhares de coisas inúteis, mas cadê a porra do roteiro? Socorro!

RUÍDO BRANCO




Adoro meu endereço em São Paulo, a uma quadra da Paulista e pertinho de cinemas, livrarias e restaurantes. Mas há uma desvantagem em se viver no meio do furdunço: o barulho. Minha rua é movimentadíssima durante o dia, e por aqui não existe a tal "calada da noite". Mesmo de madrugada tem carro passando, gente falando alto e até mesmo alguma obra a pleno vapor, em total desrespeito às leis do silêncio. Por isto me encantei com este aparelhinho desnvolvido por cientistas australianos. Ele não só neutraliza os ruídos que vêm de fora como deixa você escolher qual gostaria de ouvir. Ou seja: adeus, britadeiras, olá, sabiá-laranjeira. Será que a versão 2.0 virá com a opção "música new age"?

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

CÁRCERE PRIVADO

O diretor canadense Dennis Villeneuve foi indicado ao Oscar de filme estrangeiro pelo barra-pesada "Incêndios", uma das maiores porradas no estômago que já levei no cinema. Agora ele está de volta com "Os Suspeitos", que só pelo poster já dá para sacar que não se trata exatamente de um passeio no parque. Duas famílias têm as filhinhas sequestradas em pleno Dia de Ação de Graças; a polícia logo encontra um suspeito, que no entanto é solto por falta de provas. Aí um dos pais (Hugh Jackman, mais intenso do que nunca) resolve manter o sujeito em cárcere privado e torturá-lo até que ele conte a verdade. Há cenas dificílimas de se ver e um monte de fios paralelos que acabam tecendo uma trama sórdida, mas os personagens nunca saem do raso. O resultado fica longe do trabalho anterior - que nasceu como uma peça de teatro - e perto de um episódio de "CSI" com elenco de luxo. Achei médio, mas quem curte procedurals tem que ver.

THE CANDY MONSTER STRIKES AGAIN

Agora que todo mundo já se enterneceu vendo como as crianças reagem ao casamento gay, vamos vê-las agindo como os pestinhas mal-criados que realmente são. Pelo terceiro ano consecutivo, o apresentador americano Jimmy Kimmel convocou os espectadores de seu talk show a dizer para os bacuris que comeram todos os doces que eles iam ganhar de Halloween. A produção do programa recebeu tantos vídeos de moleques se esgoelando que precisou de uma semana para compilar os melhores, finalmente divulgados ontem. Ah, como é tranquilizante ver essas coisas: assim eu não me arrependo de não ter filhos.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

UMA QUESTÃO DE STATS

Existem tantas camadas a serem analisadas nesse imbroglio do Rei do Camarote que eu nem sei por onde começar. O caroço desta cebola é a vaidade sem-noção de Alexander de Almeida: caras que realmente são "alguém na noite" (na imortal expressão do MM) costumam ser safos, não caipiras deslumbrados. Não há melhores roupas das melhores grifes que consertem aquela carinha de pamonha de anteontem, tadinho. Aos feios não se perdoa nada: Val Marchiori só está viva até hoje porque é tida por gostosa por alguns (fora que ela é mil vezes mais esperta do que o Rei). Mais comovente ainda é o fato de Alex achar que ia a-ha-zar com o vídeo publicado pela Vejinha. Como é que o sujeito não se tocou de que o mundo lhe iria despencar na cabeça? Agora está correndo atrás do prejuízo, pois perdeu clientes (de sua glamurosa empresa de recuperação de carros não-quitados) e periga até mesmo ser processado. Já está em curso uma operação-abafa, com a ajuda de seus amigos famosos do "Pânico" (que promete exibir uma looonga reportagem "reveladora" no próximo domingo). Quer dizer então que foi mesmo uma grande pegadinha, à la enterro do Bentley do Chiquinho Scarpa? Nope. Rosana Hermann esclarece em seu blog que "a verdade é que é tudo verdade", outra frase que é forte candidata à imortalidade. Ela também toca o dedo numa ferida mais profunda: ficamos todos revoltadinhos quando alguém desperdiça O PRÓPRIO DINHEIRO, mas muito menos do que quando políticos corruptos roubam dinheiro público (ou seja, nosso). Este caso vai durar tanto quanto o de Luiza, que está no Canadá, ou o da blogueira da "Capricho". Mas será estudado no futuro como um retrato fiel da nossa época, onde ostentação e recalque se chocam e soltam faíscas nas redes sociais. Pelo menos rendeu bons memes.

SAMBA DE UM NOME SÓ

Toda vez que eu falo do Goldfrapp aqui no blog é a mesma coisa: eles são uma banda versátil, mudam de estilo de um disco para o outro, blábláblá. O que não muda é esse meu papinho, e agora não há de ser diferente. O recém-lançado "Tales of Us" mostra mais uma encarnação da dupla. Que não chega a ser exatamente nova, já que o som deles é reconhecível de cara. Por outro lado, é nítido que houve uma depuração e que o foco está mais preciso do que nunca. "Tales of Us" é um álbum coeso, quase conceitual, bastante suave e quase sempre tristonho. Todas as faixas têm nome de pessoas (a exceção é "Stranger", ainda assim um nome só) e arranjos minimalistas. Mas o prazer da audição é enorme: este é, de longe, o melhor trabalho ever de Allison Goldfrapp e seu companheiro, aquele de quem ninguém nunca lembra o nome.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

RINDO DA NOSSA CARA

Paulo Maluf já passou mais de um mês na cadeia. Está há anos na lista dos procurados pela Interpol. Seu nome virou sinônimo de ladrão há pelo menos três décadas. E, ainda assim, sua carreira política não acabou. É certo que ele não tem mais a menor chance de se eleger governador, prefeito ou nem mesmo senador por São Paulo. Mas provavelmente permanecerá deputado federal pelo tempo que quiser - ou até quando conseguir concorrer. Hoje foi finalmente enquadrado na Lei da Ficha Limpa e periga ter os direitos políticos suspensos por cinco anos. Vai recorrer, mas no fundo deve estar dando risada. Mesmo que não possa se candidatar no ano que vem, ainda comanda um grupo cujo apoio é disputado por todos os partidos. Talvez não esteja no ringue, mas não vai estar fora de combate. E enquanto ele tiver um miasma de influência, o Brasil continuará sendo a merda que sempre foi.

O MORDOMO SEM CULPA

"O Mordomo da Casa Branca" fez um enorme sucesso de bilheteria nos Estados Unidos. Some-se a isto o tema de agrado da Academia e temos um favorito aos próximos Oscars. É um painel histórico que atravessa várias décadas recentes, executado da maneira mais careta possível. O diretor Lee Daniels - que usou linguagem moderninha em "Precious", vencedor do festival de Sundance em 2009 - parece ter sucumbido à pressão do estúdio e abandonado qualquer tentativa de experimentação. Sua câmera convencional telegrafa tudo o que vai acontecer: não há surpresa alguma, nem mesmo grandes impactos. Ainda assim, o filme entretém ao mostrar os bastidores da sede do poder americano, além de contrastar a história do pai semi-conformista (o tal mordomo do título) com a do filho ativista. As melhores cenas mostram a luta pelos direitos civis nos anos 60, quando o racismo era oficial em muitos estados. Também é divertido ver atores famosos fazendo rápidas participações como presidentes e primeiras-damas (Jane Fonda está perfeita como Nancy Reagan). O oscarizado Forrest Whitaker tem uma tarefa dificílima com o papel-título, que reage com estoicismo aos muitos golpes que a vida lhe apronta, e permite que Oprah Winfrey (que começou a carreira como atriz) lhe ofusque diante das câmeras. Ah, e quem mais percebeu que ninguém menos que Mariah Carey faz a esbranquiçada mãe do protagonista?

domingo, 3 de novembro de 2013

ONDE QUERES DINHEIRO SOU PAIXÃO

E lá vou voltar ao assunto, mas é irresistível. A polêmica das biografias está se tornando uma autêntica novela, com mais reviravoltas que "Amor à Vida". Hoje é a vez de Caetano Veloso voltar às manchetes, agora rompendo publicamente com Roberto Carlos. Faz sentido: foi o "Rei" quem impôs como condição para se filiar ao grupo "Procure Saber", formado para bater no ECAD, a inclusão da luta contra as biografias não-autorizadas. E aí, na hora do vamovê, ele chama o "Fantástico" e posa de bunita? Óbvio que RC só está preocupado com a própria imagem: se sua mudança de opinião fosse sincera, ele simplesmente liberaria o livro "Roberto Carlos em Detalhes" de Paulo César de Araújo (leia aqui a matéria da "Revista do Globo" sobre a venda do livro em sebos e sites). Por isto, o vídeo que o grupo divulgou semana passada é bullshit em estado puro. Um especialista em gereciamento de crises sugeriu simplesmente acabar com o Procure Saber, que virou marca podre. Caetano conta que é contra em sua coluna de hoje, também no Globo. Mas era mesmo o melhor a fazer.

sábado, 2 de novembro de 2013

AUTOPISTAS AL SUR

Uma amiga que estava em Buenos Aires postou um texto surpreendente no Facebook, relatando o que viu quando estava a caminho do aeroporto para tomar o avião de volta a São Paulo:

"Acabei de testemunhar a coisa mais incrível. Houve um acidente na estrada pra Ezeiza (isso não é incrível), mas a consequência é que o trânsito parou um pouco antes do 1º pedágio. Daí todos os carros começaram a buzinar. TODOS. Perguntei para o taxista por que eles estavam fazendo isso. Ele me respondeu: "o trânsito já está parado, a polícia tem por obrigação levantar as cancelas dos pedágios para q o trânsito flua melhor. Há limites pro capitalismo". Dito e feito. 30 segundos de buzinaço e todas as cancelas subiram.

São uns vândalos esses argentinos."


Imagina no Brasil. Nem precisa ser na Copa.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

PROJAQUISTÃO

Só agora, dois meses depois de contratado, é que eu estou realmente sentindo que trabalho na Globo. A razão é simples: passei a freqüentar o Projac. Tenho vindo ao Rio duas vezes por semana - quer dizer, ao Rio exatamente não. Pelo menos não ao Rio onde eu nasci e que existe no imaginário dos brasileiros. Sei que é puro preconceito meu, mas, até outro dia, Curicica para mim ficava depois do ponto onde a Terra acaba e as caravelas caem no vazio. Não fica mais. Agora faz parte da minha rotina gastar de uma hora (à noite, sem trânsito algum) a quatro (numa sexta-feira infernal) no trajeto entre o Projac e a civilização. Agora entendo o apelido carinhoso que dá nome a este post, dado pelas pessoas que são obrigadas a trabalhar nessa lonjura.