sábado, 31 de agosto de 2013

PORNOGRAFIA GASTRONÔMICA


"Food porn" é um termo inventado por críticos americanos de cinema para descrever filmes como "A Festa de Babette" ou "Julie & Julia", que exibem cenas de gastronomia explícita e deixam a a boca da plateia com mais água do que a foz do Amazonas. "Os Sabores do Palácio" se encaixam direitinho nessa categoria, ainda mais porque há só um fiapo de roteiro - como nos filmes de pornografia tradicional. A história verdadeira da cozinheira particular do presidente Mitterrand é pouco mais do que um pretexto para nos embevecermos com receitas dificílimas, de resultados espetaculares. Aliás, eu nem senti falta de mais conflitos, porque seria capaz de passar horas a fio assistindo ao preparo desses pratos maravilhosos. Até o momento, claro, em que a fome falasse mais alto e eu mordesse o braço da poltrona do cinema.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

BIBI EN ROSE

Em 1983, eu vi Bibi Ferreira interpretar Piaf numa peça do mesmo nome. Agora ela comemora os trinta anos daquele espetáculo, mas o que está em cartaz em São Paulo até domingo é completamente diferente. "Bibi Canta e Conta Piaf" segue o formato de "Histórias e Canções", que ela encenou no ano passado. Bibi, de pé no centro do palco, interage com um mestre de cerimônias e canta acompanhada por uma orquestra (desta vez também há um coral). A voz de Bibi, embora boa o suficiente para gravar discos, nunca foi um cristal, mas ela sempre compensou com seus dotes como atriz. Se bem que vê-la em ação aos 91 anos de idade já é por demais incrível. O mais legal é seu otimismo: está com a agenda de shows lotada até o final do ano QUE VEM, como se fosse uma garotinha em começo de carreira. No bis de "Canta e Conta Piaf" ela dá uma palhinha de sua próxima empreitada, "Bibi Canta Sinatra", ainda em fase de ensaios. Se Deus me der saúde, estarei na plateia para aplaudi-la mais uma vez.

ENRIQUE, LLAMÁME

Uma secretária eletrônica comprada num mercado de pulgas em Buenos Aires trazia uma preciosidade escondida: dez mensagens gravadas por uma certa María Teresa, em grau crescente de desespero, que o dono original se esqueceu de apagar. Este áudio foi ilustrado por imagens pelo diretor El Niño Rodríguez e se transformou no curta "Ni Una Sola Palabra de Amor", que está bombando na internet desde o começo de agosto. O sucesso na Argentina é tão grande que o jornal Clarín descobriu o paradeiro de María Tereza, hoje com 75 anos (ela tinha 60 em 1998, quando gravou os recados) e AINDA casada com Enrique. Que deve ser o homem con las pelotas más grandes do mundo para aguentar essa chata.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

O BRASIL ALGEMADO

Cadê os Black Blocs quando a gente precisa deles? Por que é não estão tacando tijolo na cabeça dos deputados que se abstiveram de votar na sessão que acabou salvando o mandato do presidiário Natan Donadon? Verdade que a cassação seria até desnecessária, já que o nobre parlamentar não poderá exercer nada de dentro do presídio da Papuda e já foi até subsituíudo pelo suplente. Também não receberá mais salário e sua família será devidamente expulsa do apartamento funcional a que tinha direito em Brasília. Mas acho que essa discussão sequer deveria ter chegado ao Congresso. A Constituição é clara: os presos brasileiros não têm direitos políticos. Não podem votar nem ser votados. Mas o Supremo, talvez para fazer média, declarou que esta questão não era de sua alçada, e mais uma vez o Legislativo não decepcionou. Fez exatamente o que esperamos dele: uma grande merda. Essa gente só funciona sob ameaça de porrada, como durante as manifestações de junho. Bastou os protestos amainarem para fingirem que não é com eles. O que se passou ontem na Câmara foi um ensaio-geral para o que farão com os condenados do mensalão. Esses perigam não só manterem os mandatos como ainda serem eleitos por aclamação para cargos vitalícios, tamanha a desfaçatez. Tomara que Donadon seja currado 200 milhões de vezes na cadeia, uma por cada brasileiro que se fodeu.

ADEUS, AMOR, EU VOU PARTIR

É preciso manjar um pouco de espanhol portenho e de algumas peculiaridades de Buenos Aires para desfrutar plenamente de "Adiós para Siempre", uma página argentina de humor que está bombando no Facebook. Mas não é preciso ser um gênio para entender a proposta dos pibes: despedir-se, sem mais delongas, de aquellas personas o cosas que no suman. Vou tentar reproduzir em versão brasileira o estilo típico dos diálogos do APS:

- Eu sou de Vitória, mas já faz cinco anos que eu moro em Sampa.
- Onde?
- Vitória.
- Não, onde que você mora?
- Ah, em Sampa.
- Adeus para sempre.

- Vocês são casados?
- Não, mas moramos juntos.
- Ah, ele é seu namorido?
- Adeus para sempre.


Deu para sacar? A lista de gestos, objetos e expressões que garantem um APS para seus usuários no Brasil é enorme: sapatênis, "varanda gourmet", "trufas de chocolate", "é pavê ou pacomê", aplauso em enterro, SUV branco,"perdeu a batalha contra o câncer", mãos formando coração, e por aí vai. Sugestões?

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

BUT I NEVER WAVE BYE BYE

"Frances Ha" parece um episódio em preto-e-branco com uma hora e meia de duração da série "Girls". Têm até um ator em comum, o feio-bonito Adam Driver. Além de protagonistas com problemas parecidos: instabilidade profissional, namoros equivocados e uma enorme dificuldade em chegar à idade adulta. A diferença é que a atriz e roteirista Greta Gerwig é muito mais cativante que Lena Dunham. Sua Frances tem uma relação de casal de lésbicas velhas - "não transamos, mas nos entendemos muito bem" - com a melhor amiga (vivida por Mickey Sumner, que é filha do Sting). Também tem o dom de dizer a coisa errada na hora errada, o que gera algumas das melhores piadas que eu vi no cinema este ano. E ainda tem uma seqüência empolgante ao som do clásico "Modern Love", de David Bowie. "Frances Ha" tem potencial para virar sitcom.

QUANDO OS MONSTROS ATACAM

Ontem publiquei no F5 uma coluna comentando os truques que Lady Gaga está usando para fazer com que "Applause" lidere as paradas de sucesso. Foi a matéria mais lida do dia no site, além de ter tido mais de 800 compartilhamentos no Facebook e dezenas de retuítes, a maioria elogiosos. Outros nem tanto: bem que me avisaram que os "little monsters" não iam deixar barato. Minha página de interações no Twitter foi invadida por eles, que me acusaram até mesmo não ter concluído o TCC na faculdade de jornalismo (que eu nunca cursei, aliás). Também me xingaram de caluniador, alienado, velho, podre e - gasp - fã de Madonna.

Deve estar próximo o dia em que algum desses "lirou" mate alguém de verdade em suposta defesa da Mamma Monster. O blogueiro Perez Hilton, que de uma hora para a outra embarcou numa pinimba inexplicável com sua antiga "wifey", teve até a vida de seu bebê ameaçada por esses pestinhas. O mais irônico, no meu caso, é que eu sou fã de primeira hora de Lady Gaga, e continuo sendo. Tenho todos os discos dela e fui no show de São Paulo (que alguns dos fanáticos ainda teimam em dizer que lotou). Mas felizmente já tenho idade e discernimento para não embarcar na egotrip de uma cantora que acaba resvalando no ridículo em sua luta para recuperar a relevância perdida.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

BOLÍVIA PALITO

Não é fácil ser boliviano. Quase todos os países têm hinos e narrativas de glórias militares, mas do que é a que Bolívia pode se gabar? Ao longo de seus duzentos anos de existência, ela perdeu mais da metade de seu território original para os vizinhos. O Brasil ficou com o Acre (em troca de um lindo cavalo branco, reza a lenda contada por lá) e um naco da fronteira com o Mato Grosso. O Chile, no que talvez seja o maior trauma para os bolivianos, levou todo o litoral do Pacífico. Até o fracote Paraguai arrancou um pedaço, a região do Chaco. Esse fatiamento contumaz explica um pouco da paranoia nacional, além do garbo atabalhoado com que Evo Morales defende o que sobrou da soberania. Temos engolido muitos desaforos nos últimos anos, mas o fato é que essa história da fuga do senador Mariano está bem mal contada. Quem ajudou quem? Quem sabia de tudo e quem topou fechar os olhos? Bolívia e Brasil têm uma relação estreita e complicada, onde os dois pisam em ovos e trocam pontapés ao mesmo tempo. Dessa vez, até que reação de lá tem sido razoavelmente comedida. Talvez porque os bolivianos estejam fartos de saber que a corda sempre se rompe do lado deles.

CINE TOPKAPI

O artista turco Murat Palta usou a técnica e os códigos das antigas miniaturas otomanas para reproduzir cenas clássicas do cinema. Metade da graça é adivinhar de que filme se trata: algumas das imagens são bem óbvias, outras precisam de um escrutínio mais detalhado. Clique aqui para uma versão sem legendas, ou, se a sua anisedade não permitir, vá direto ao portfolio do rapaz, onde está tudo bem mastigadinho.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

INJEÇÃO LETAL

Mais um item riscado da minha lista de coisas que eu nunca tinha feito: levar um cachorro no veterinário para ser sacrificado. Foi o Tatau, o cocker spaniel preto da minha mãe, também chamado pela família de "Imortatau" por se aproximar dos 19 anos de idade. Tatau era filho do Toffee e tio do Pisco, a dinastia de cockers dourados que me acompanhou de 1990 até o ano passado. Já estava cego dos dois olhos, extremamente debilitado e com uma ferida no flanco que não fechava. Mas não morria. Exausta de mal poder sair de casa por causa dele, minha mãe chamou a veterinária que cuidou do Tatau a vida toda e as duas decidiram que já estava na hora. Eu gritei, eu esperneei, mas fui voto vencido. E hoje lá fui eu acompanhá-la nesse momento difícil, que acabou sendo ligeiramente mais fácil do que eu esperava. Primeiro a médica sedou o cachorro, que já chegou meio molinho. Fomos nos despedir quando ele já estava desacordado. Mamãe chorou bem menos do que eu temia, talvez por estar mais aliviada do que qualquer outra coisa. E fomos embora antes da injeção letal. Tive a sorte de ter meus dois cães morrendo em casa, de causas naturais e sem grande sofrimento. Mas sei que às vezes esse desenlace não é possível. Que bom que, pelo menos em sua variante canina, a eutanásia é permitida no Brasil.

VULGAR SEM SER SEXY



De uns anos para cá, todo ano é a mesma coisa: será que os VMAs vão produzir pelo menos um momentinho memorável, ou continuarão sua descida inexorável rumo à mais absoluta irrelevância? Os culpados são muitos. Desde a antiguidade do formato - que não passa de uma versão cheirada da entrega dos Oscars - até a desolação do cenário pop atual, dominado por boy bands inofensivas e cantorinhas teen egressas de programas da Disney. Mas de vez em quando alguma coisa incrível ainda acontece, mesmo que totalmente fora do script - como Kanye West arrancando o troféu das mãos de Taylor Swift na edição de 2009. 

A versão 2013 prometia um duelo épico entre a Emilinha e a Marlene do momento, vulgo Lady Gaga e Katy Perry, alçadas à condição de inimigas mortais por uma mídia sedenta de sangue e assunto. Mas o embate não aconteceu, e as duas nem mesmo apareceram sentadas lado a lado como chegou a ser anunciado. Seus números - respectivamente "Applause", que abriu a noite, e "Roar", que a fechou - foram corretos, legaizinhos, mas sem nada de mais. Gaga, especialmente, já protagonizou performances muito mais impressionantes em carnavais passados.
Pelo menos elas não estrelaram um desastre espetacular como o de Miley Cyrus. Não me lembro de alguém tão desesperada para parecer sexy desde que Christina Aguilera se lambuzou de estrume na época de "Dirrty". A ex-Hanna Montana mostrou uma bunda tão murcha que deve ter convencido legiões de rapazinhos ainda na dúvida a aderir em massa ao homossexualismo.
Pode até ser que a apresentação de Miley entre para a história, mas pelas razões erradas. Pelas certas,  ninguém superou o profissionalismo de Justin Timberlake, que resumiu quase vinte anos de carreira em quinze minutos de cair o queixo. Só faltou um instante uau,  tipo um beijo entre Madonna e Britney. Aquele lance de atrevimento que contaremos aos nossos netos. Nem mesmo a dupla Macklemore & Lewis, que levou dois prêmios pelo hino pró-casamento gay "Same Love", avançou muito na linha amarela. Mas valeu a intenção. Fica para o ano que vem.

domingo, 25 de agosto de 2013

A MINISTRA DA COSTURA

Marta Suplicy está coberta de razão quando diz que a moda é um ingrediente essencial no "soft power" que o Brasil quer projetar no exterior. Mesmo assim, os milhões em renúncia fiscal anunciados semana passada pelo Ministério da Cultura, em prol de alguns desfiles a serem realizados na Europa, arrepiaram a plumagem de muita gente que se sentiu preterida. Teve até nego dizendo que era um despautério gastar tanto dinheiro em eventos para um público de apenas 300 pessoas - nego que certamente nunca ouviu falar em câmeras fotográficas ou de vídeo. Mais producente é discutir se a moda deve realmente ser tratada como parte da cultura, assim como o teatro, a literatura ou o artesanato nhambiquara, ou se o governo faria melhor se a incluísse entre  indústrias como a de parafusos ou a de polímeros. A resposta certa, a meu entender, é todas as alternativas anteriores: moda é cultura e indústria ao mesmo tempo, ainda mais que o cinema (até porque emprega muito mais gente e tem um alcance ainda maior). Mas este debate fundamental se perde nas acusações de "perua" que são feitas à ministra, como se o gosto dos poderosos pela elegância tivesse sido guilhotinado junto com Maria Antonieta. Marta sempre gostou de moda e sempre buscou se vestir bem (embora nem sempre acerte, como todos nós), mesmo quando ia visitar as quebradas mais barronas da perifa. Era até esperado que ela trouxesse esse interesse para o MinC. A "ministra da Costura", como foi apeliada pelo José Simão, também é conhecida pela determinação com que defende suas ideias, chegando às vezes às raias da arrogância. Isso acaba engrossando o caldo de ressentimento que permeia a política brasileira, e no final todo mundo sai perdendo.

(E por falar em moda, Eloá Paranhos faz hoje sua estreia retumbante no papel impresso ao assinar a coluna "Roupa Íntima" da revista "Serafina", que circula hoje com a "Folha de São Paulo". Quem quiser pode ler a matéria aqui)

sábado, 24 de agosto de 2013

AZAR DE PRINCIPIANTE

Jorge Drexler pode ser um cantautor talentosíssimo e um amor de pessoa, mas, como astro de cinema, simplesmente não rola. Ele não tem o encanto necessário para tornar interessante o ingrato personagem que interpreta em "A Sorte em Suas Mãos", o novo filme do diretor argentino Daniel Burman. Uriel é um mentiroso contumaz: mente sem nenhuma razão aparente, pois não esconde nenhum grande segredo nem tira qualquer vantagem de tantas mentiras. Pelo contrário, aliás. Ao reencontrar uma namorada da adolescência, ela também entrando numa crise da meia-idade, o cara repete os mesmíssimos defeitos que os fizeram separa-se tantos anos antes. Burman mais uma vez revisita a vida judaica na Argentina e mais uma vez filma um roteiro frouxo, onde pouca coisa acontece. Mas, se ele tivesse escolhido um elenco mais afiado - como em seu filme anterior, "Dois Irmãos" - o resultado talvez fosse mais bacana.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

TERRA EM TRANS

O transexual está na moda, o mundo inteiro aplaudiu. É um sucesso, é um barato, dentro e fora do Brasil. Quer dizer, ainda não, mas um dia chegaremos lá. Haja vista o súbito aumento de pessoas trans no entretenimento e no noticiário. Da Sophia de "Orange is the New Black" (tanto a personagem como a atriz) ao mártir Bradley Manning, de repente parece que todo mundo e seu pai estão trocando de gênero. Ou não: prisões militares como a que Manning deve frequentar pelos próximos 35 anos não fornecem tratamentos hormonais a seus moradores, já que o Exército americano não reconhece a existência da transexualidade. Mas a sociedade, cada vez mais. E a tendência é passar logo desta fase para a aceitação. Com a ajuda de programas como o "Na Moral" desta quinta-feira, que mostrou e discutiu alguns casos emblemáticos (meu favorito é o do Léo, que virou homem para virar gay). Ou a de figuras high profile como Léa T.  e Chaz Bono, que ajudam os cis (adorei aprender este termo) a perder o medo e a estranheza. Eu mesmo não sei quase nada sobre o assunto, mas estamos aê.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

CLUBE DA LULUZINHA

Já vi muito hétero pirar o cabeção quando se dá conta da existência do Grind'r e de outros aplicativos de pegação gay. "Mas por que é que isso não existe para a gente?", lamentam-se esses injustiçados. Só que dessa vez foi a bicharada que foi passada para trás. Pelo menos eu nunca ouvi falar de um app para bibas parecido com o Lulu, que foi lançado em fevereiro e já tem mais de um milhão de usuárias - sim, só mulheres. O Lulu permite que as moças façam online o que sempre fizeram ao vivo, quando se encontram em lugares protegidos como os toaletes: avaliar os homens, com notas de um a dez. Elas também podem fazer uma breve descrição do sujeito e ainda colar nele uma hashtag tipo #HusbandMaterial que vai perseguir o coitadinho até o fim dos tempos. Nem precisam conhecê-lo para julgar: vale ficante, amigo, conhecido, desconhecido, famoso. Corrijam-me se eu estiver enganado, mas, salvo sites antigos gênero "Rate My Dick", não conheço nada similar para a rapaziada mais alegrinha.

CLOSET BREAK

Quero agradecer a todo mundo que me avisou que o ator Wentworth Miller saiu do armário. Obrigado, gente! Eu não fazia a puta da ideia, imerso que estou nos extras da terceira temporada de "Downton Abbey" (aquela em que morre o elenco inteiro no final). Pelo menos a nova legislação homofóbica da Rússia está tendo este efeito colateral positivo. Claro que já deve ter pastor evangélico acusando o cara de querer se promover, pois ele andava meio longe das manchetes e, aos 41 anos de idade, não bate mais o mesmo bolão que na época de "Prison Break". Aliás, não teria sido lindo se as Olimpíadas de Beijing de 2008 tivessem enfrentado os mesmos protestos que ameaçam melar os Jogos de Inverno de Sochi? Sim, houve uma certa grita e até o Spielberg boicotou, mas a China - que é uma ditadura pior do que a Rússia - conseguiu dar seu showzinho para a mídia internacional com bem poucos arranhões. Mas os tempos são outros, a internet tem ainda mais penetração do que cinco anos atrás e a viadagem nunca esteve tanto na ordem do dia. Wentworth Miller pode estar condenando a si mesmo a uma carreira de papéis pequenos, mas sua coragem merece aplausos. E sua aparência ainda merece suspiros, barriguinha e tudo.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

A GATA BEYONCEIRA

Já que os posts sobre divas do pop têm trazido muita audiência e comentários para o meu blog, aqui vai o de hoje: "Cinderoncé", um vídeo de oito minutos que conta a história da Cinderela só com músicas da Beyoncé. Discutam.

COMME DES GARÇONS

A França não para de me surpreender quando o assunto é o casamento gay. As recentes manifestações que sacudiram o país durante o processo de aprovação da nova lei revelou uma face do país que eu sempre suspeitei que ainda estava lá, mas não imaginava que fosse tão forte. A mais recente encarnação desse lado reacionário dos franceses é o movimento Hommen, que tem seu nome inspirado no do grupo feminista radical Femen, da Ucrânia. São caras geralmente com menos de 30 anos, que têm aparecido em protestos com o dorso nu e o rosto coberto por máscaras neutras. Aliás, cho que este fenômeno dos jovens saírem às ruas mascarados ainda ñao foi propriamente estudado. Ele vai contra tudo o que a minha geração e as anteriores pregaram, que era dar a cara para bater e o nome aos bois. Vai ver que essa molecada assitiu filme de super-herói demais. Enfim: apesar do visual digno de boate, os Hommen defendem uma confusa agenda anti-gay, dizendo-se contrários ao casamento igualitário mas contra a homofobia. Inclusive acusam as lideranças LGBT francesas de perpetuar esterótipos, e se atrevem a dizer que muitos homossexuais concordam com eles (mas claro que não apresentaram nenhum desses apoiadores). A plataforma dos Hommen é tão doida que existe até um Tumbl'r do mesmo nome que faz campanha pró-igualdade, acusando "os outros" de falsidade ideológica. Mas as presenças "oficiais" desses garçons aloprados na rede são mesmo de assustar. Tanto o site como o perfil no Twitter ou no Facebook dos Hommen pegam carona no discurso mais nojento que sai da boca dos homofóbicos, que é a suposta proteção da infância. De qualquer maneira, é porvável que essa brincadeira não dure muito. O casamento gay já foi aprovado na França, e mesmo assim os pilares da sociedade não ruíram. Os Hommen também são motivo de muitas piadas, por causa de seu visual extraordinariamente pédé. Mas não deixa de ser chocante que um país como a França, berço de tantas ideias libertárias - do Iluminismo ao maio de 68 - também dê origem a esses babacas enrustidos.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

SESSENTA E SEX

Hoje saiu o vídeo da primeira música da Cher em mais de uma década, "Woman's World". Nem um nem outra têm a menor pretensão de ser arte: são só mais do mesmo, mas bem legal. Fora que o carisma e o bom humor da Cherilyn Sarkisian, invulneráveis aos 67 anos de idade, deixam qualquer coisa mais interessante. E foi dada a largada para mais um post transbordando de comentários. Valendo!

O NAMORADO BRASILEIRO

Alguns leitores me pediram para comentar a detenção de David Miranda no aeroporto de Heathrow e, como eu estou aqui para bem servi-los, lá vai. Mas para ser sincero, nem é bem desse caso que eu quero falar. Claro que foi uma agressão imperialista e uma óbvia violação à nossa soberania, mas vocês queriam o quê? O namorado de David, Glenn Greenwald, ajudou a vazar segredos cabeludérrimos dos Estados Unidos, e a Grã-Bretanha faz tudo o que os americanos mandarem desde, pelo menos, o final da 2a. Guerra Mundial. Também sou contra a excessiva intrusão do estado na vida das pessoas, mas não vou dar uma de ingênuo e ficar chocadíssimo por descobrir que as grandes potências mantêm grandes esquemas de espionagem. É claro que mantêm e sempre manterão, por mais que a gente assine petições da Avaaz. O que me interessa discutir neste post é um fenômeno mais prosaico: o fascínio que os brasileiros exercem sobre as celebridades gays estrangeiras. O primeiro gringo famoso que eu me lembro de namorar um conterrâneo foi George Michael, mas com certeza houve outros antes. E houve vários depois: Lance Bass andou saindo com Pedro Andrade, por exemplo. Sem esquecer do Marc Jacobs, que já está no segundo marido tupiniquim: o pornstar aposentado Harry Louis. Como se explica este fenômeno? Brasileiro tem mesmo mais borogodó? Opina aê.

LET'S GO TO PARIS

É duro acreditar que a história contada pelo filme "Bling Ring - a Gangue de Hollywood" tenha acontecido de verdade. Como é que tantas celebridades moravam em mansões cinematográficas quase que sem segurança nenhuma? Sem câmeras, sem guarda particular na rua, sem nem ao menos a criadagem de plantão? Vai ver que é assim que se faz nos países onde os serviços públicos funcionam para valer. Ainda assim, talvez só mesmo uma tapada como a Paris Hilton fosse capaz de não perceber que estavam sumindo coisinhas de seu imenso closet, onde os ladrões estiveram nada menos que CINCO vezes (o nome deste post era o "call to action" que eles usavam quando queriam visitar a casa da herdeira). "Bling Ring" é curto e ligeiro como um filme feito para TV, e por isto combina perfeitamente com a superficialidade de seus protagonistas: adolescentes mimados de L. A. que não sentiam o menor prurido em assaltar os lares de seus ídolos. É mais um título na cinematografia de Sofia Coppola que explora o fetiche dos objetos, dessa vez de maneira cômica (a trágica foi em "Maria Antonieta). E mais um que fala das vicissitudes de uma vida de privilégios, como todos da carreira da diretora. Não é uma jóia rara, mas um biju de encher os olhos.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

IMPEDIMENTO

Enquanto que atletas de todos os esportes saem do armário sob aplausos na Europa e nos Estados Unidos, aqui no Brasil somos obrigados a assistir a cenas deprimentes como a reação de alguns corintianos (espero que não todos) ao selinho que o jogador Sheik, hétero, casado e pai, deu no chef Isaac Azar, também hétero, casado e futuro pai, para comemorar uma vitória. Teve babaca que se deu ao trabalho de levantar faixa com a frase "futebol é lugar de homem" e ainda teve o desplante de dizer que não é homofóbico. Também já tem gente dizendo que essa fotinho postada no Instagram não passa de um golpe publicitário para promover a inauguração da filial carioca do restaurante de Azar, o Paris 6. Ou que é tática diversionista do Sheik, que queria desviar a atenção do fato de ter saído de campo ontem de mal com o técnico. Não sei: meu conhecimento de futebol tende ao zero. E meu medo de que nosso país ainda esteja na idade da pedra lascada tende ao infinito.

(E aqui, a opinião de alguém que realmente de futebol. Muito bom!)

GIVE ME THAT THING THAT I LOVE

Parece que o mundo perdeu a paciência com Lady Gaga. Talvez porque pareça que Lady Gaga perdeu contato com o mundo. De uns tempos para cá, ela só fala com os "little monsters", sem se ligar que nem todos seus fãs também são seus escravos. Além disso, ela parou de fazer músicas que falam de assuntos corriqueiros, como baladas e namoros: seu único assunto atual é ela mesma. Madonna caiu nessa armadilha há uma década e o resultado foi seu pior álbum de todos os tempos, "American Life". Agora é sua maior seguidora quem a segue nesse beco sem saída. Gaga está em vias de se transformar numa "performance artist", o que é bastante ousado e bastante pretensioso. Mas não é com um single como "Applause", que soa absolutamente corriqueiro, que ela vai se manter no trono. Pelo menos o vídeo, que saiu hoje, é interessante. Mas será que basta?

domingo, 18 de agosto de 2013

PORTA ENTREABERTA

Por que será que o Porta dos Fundos sentiu a necessidade de um registro físico? Afinal, o papel é muito mais perecível que um vídeo online. Mas também empresta uma importância que o grupo, afinal, merece - são a melhor coisa do humor brasileiro nos últimos dez anos. O livro lançado semana passada reúne 37 roteiros, selecionados entre os mais de cem esquetes lançados no YouTube de um ano para cá. Não são necessariamente os melhores, mas os que mais rendem na forma escrita. Tampouco são as versões originais, e sim a transcrição literal do que efetivamente foi gravado ("Deus", por exemplo, inclui o célebere "errou rude", caco do ator Rafael Infante que não constava do texto de Fábio Porchat). O mais interessante são os parágrafos que abrem cada capítulo, contando de onde veio a inspiração para clássicos como "Sobre a Mesa", "Da Lata" ou "Spoleto". As futuras gerações de atores que precisarem de textos curtos para encenar em seus testes agradecem.

sábado, 17 de agosto de 2013

A GLÓRIA DE MIRANDA

Se houvesse justiça neste mundo, Miranda Otto seria indicada ao Oscar por "Flores Raras". Essa atriz australiana é (pouco) conhecida por sua participação na trilogia "O Senhor dos Anéis", mas foi no filme de Bruno Barreto que ela encontrou o melhor papel de sua vida. E que papel: Elizabeth Bishop, poeta, alcóolatra, assustada/deslumbrada com o Brasil e com Lota Macedo Soares. As duas viveram um romance que, como disse  Contardo Calligaris na "Folha" de ontem, trouxe à tona o melhor de cada uma. Lota construiu o Parque do Flamengo, e Elizbeth escreveu um livro que ganhou o prêmio Pulitzer. Mas nem tudo eram flores. Para começar, Mary, a ex de Lota que trouxe a amiga Elizabeth para o Rio, nunca saiu de perto. A brasileira tinha um temperamento fortíssimo, e a americana afundava na bebida os traumas de uma infância sofrida. Tudo isto está no filme, que no entanto não consegue evitar uma certa barriga lá pela metade. Mas também capta a efervescência cultural brasileira logo antes do golpe de 64, e o baixo astral que se seguiu e que ajudou a terminar este amor transcontinental. Glória Pires está esforçadíssima como Lota, mas para mim seus diálogos em inglês soam muito decoradinhos demais, pouco naturais. Mesmo assim, ela cresce mais para o final. Mas não chega a ser páreo para Miranda Otto, que constrói com olhares e silêncios um dos maiores nomes da literatura em inglês do século 20.

E já que hoje é sábado e temos tempo a perder, aqui vai o poema mais conhecido de Bishop, "One Art" (conhecido popularmente como "The Art of Losing"):

The art of losing isn’t hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn’t hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother’s watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn’t hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn’t a disaster.

-Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan’t have lied. It’s evident
the art of losing’s not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.

A tradução mais conhecida em português é a de Paulo Henriques Britto:

A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério.

Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,

A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Depois perca mais rápido, com mais critério:

Lugares, nomes, a escala subseqüente
Da viagem não feita. Nada disso é sério.

Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero

Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Perdi duas cidades lindas. E um império

Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.

– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo

que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça
(Escreve!) muito sério.

Existe uma outra, de Nelson Ascher, muito boa. Mas eu prefiro a de Britto.
The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant 
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.


—Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied.  It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.
- See more at: http://www.poets.org/viewmedia.php/prmMID/15212#sthash.ed3vVQPl.dpuf
The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant 
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.


—Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied.  It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.
- See more at: http://www.poets.org/viewmedia.php/prmMID/15212#sthash.ed3vVQPl.dpu

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

O HOMEM-MAÇÃ

"Jobs" estreou hoje nos Estados Unidos. É mais uma etapa no processo de beatificação do fundador da Apple, ou um retrato honesto de um homem bastante complicado? A crítica diz que a balança pende mais para este lado, iupii, e que Ashton Kuther está surpreendentemente bem no papel principal. Em geral eu bocejo só de pensar na biografia filmada de algum grande empresário, mas dessa aí não vou escapar. Steve Jobs é uma das figuras que moldaram o nosso tempo, e eu sempre amei tudo o que ele me mandou comprar. Agora, se fosse um filme sobre o não-glamuoroso Bill Gates, de lá viria se lá estivesse.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

VARA NELA

Yelena Isinbayeva tem cara e nome de vilã de filme de James Bond, mas é vilã da vida real. A mais famosa atleta russa da atualidade deu hoje uma entrevista desastrosa, defendendo as leis anti-gay de seu país e criticando a atleta sueca que pintou cada unha da mão de uma cor diferente, um perigosíssimo gesto de propaganda gay que fez com que milhões de criancinhas no mundo inteiro imediatamente sentissem vontade de dar o cu. Ainda não descobri se alguma marca ocidental patrocina essa malvada, mas, se houver, merece ser boicotada. O mais patético é que tem troglodita na internet defendendo a liberdade de expressão dessa sequelada, convenientemente esquecendo que ela é CONTRA a liberdade de expressão dos outros. Tomara que Isinbayeva se empale em seu próximo salto com vara.

A MARAVILHA DO OCIDENTE

Terrence Malick deve estar tomando muito Red Bull. Ele costumava levar anos, até décadas, entre um filme e outro. Não mais. Depois de "A Árvore da Vida" vencer o festival de Cannes de 2011 e ainda faturar algumas indicações ao Oscar, ei-lo de volta aos cinemas com "Amor Pleno", praticamente uma continuação do filme anterior. No sentido do tema, não dos personagens; praticamente não há personagens nos títulos de Malick, só figuras como "o pai", "a mulher", "a outra mulher". Dessa vez eles sequer têm nome. Ben Affleck faz um americano que se casa com uma francesa, depois com uma conterrânea - ou será que a ordem das esposas é inversa? Não importa. O que importa é o prazer do amor carnal e a dificuldade em trasncender essa paixão para outro plano, mais profundo e duradouro. Na paralela, há o padre interpretado por Javier Bardem, que não encontra Deus mas sente que ele está lá. Há imagens belíssimas, mensagens belíssimas e quase zero de envolvimento emocional por parte do espectador. Os planos perfeitos e a montagem lânguida fazem com que o filme aconteça mais no cérebro do que no coração, um resultado curioso para um diretor que queria falar de amor. Aliás, essa comparação entre amor e Deus é exclusiva do cristianismo e permeia toda a cultura ocidental. Vai ver que não foi por acaso que um dos cenários de "To the Wonder" (o título original) seja o monte Saint-Michel, la Merveille d'Occident.

(Luiz Felipe Pondé explicou o filme direitinho em sua coluna desta semana)

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

CHUPA, NISSIM OURFALI

And the divas just keep on coming! Sabe o que é este elaborado número musical aí em cima? O mais fabuloso BAR MITZVAH de todos os tempos. L'haim!

WE HAVE A WINNER

Já que o assunto de hoje é a batalha épica das divas pop pelos nossos ouvidos e corações, acho que temos uma vencedora: Christina Bianco. Graças a esta "vocal impressionist", podemos cumprir à risca a lei que obriga todo gay a gostar de uma única cantora pelo resto da vida. Christina incorpora a todas, do fraseamento à respiração, em seu show "Diva Moments". Tampouco perdoa atrizes, políticas e apresentadoras, como se pode ver no vídeo abaixo. Assunto encerrado.

QUE TIME É TEU?


Jay-Z e Kanye West lançaram seus últimos discos com menos de um mês de diferença. Os dois são, de longe, os maiores nomes do hip-hop americano, e compartilham muitos dos mesmos fãs. Nem por isto a imprensa jogou um contra o outro. Até rolaram algumas comparações, mas não houve clima de guerra fomentado pela mídia. Nada de "que vença o melhor". E sabe por quê? Porque os dois são homens.

Agora, bastou Lady Gaga e Katy Perry saírem com músicas novas ao mesmo tempo para todo mundo jogá-las num ringue virtual onde elas terão que lutar até a morte. Porque, pelo que parece, não cabem duas cantoras num mesmo iPod. Ou uma, ou outra. E o mais fascinante é que os fãs embarcam nessa bobagem. Talvez porque este seja o futebol das bichas. Já que muitas bibas não estão nem aí para time nenhum, acabam despejando esse fanatismo encruado nas divas do pop. No fundo, estamos todos procurando nos encaixar em alguma tribo. E acabamos contribuindo para o padrão machista de que dois homens são amigos, mas duas mulheres irão sempre se engalfinhar. Na prática não é bem assim, néam?

terça-feira, 13 de agosto de 2013

O MANIFESTO COLUNISTA

O colunista americano Dan Savage já é meu ídolo há uns dez anos. Agora ele conseguiu me tornar ainda mais fã. Seu livro "American Savage" reúne 17 ensaios sobre temas polêmicos como eutanásia, controle de armas de fogo, educação sexual e - claro - casamento gay. Hoje Savage é relativamente famoso nos Estados Unidos, tanto por causa de seus embates públicos com políticos da extrema direita como Rick Santorum (que ele imortalizou com um neo-palavrão) quanto pela campanha "It Gets Better", um dos fatores que mais influenciaram a entrada do termo "bullying" no vocabulário atual. O cara escreve com uma maturidade e um humor que me deixam verde de inveja, mas é a popular inveja branca. Ahã.

A VIOLAÇÃO DO DIA SEGUINTE

De vez em quando, caem as máscaras dos fundamentalistas, e eles não conseguem mais disfarçar suas verdadeiras intenções. É o que está acontecendo neste exato momento, por causa do não-veto da presidente Dilma à lei que obriga os hospitais públicos a fornecer a "pílula do dia seguinte" às mulheres que sofreram estupro. Deputados evangélicos prometem criar leis contrárias e ameaçam retirar apoio ao PT nas eleições do ano que vem. Um grupo católico radical quer fazer vigília na frente do Palácio do Planalto. E tudo isto para quê? Para impedir que as violentadas NÃO engravidem de seus agressores. A "pílula do dia seguinte" não é abortiva. Não está "matando" nenhum feto: está evitando a concpeção. E, pela lei, podia até provocar aborto, já que este é legal desde os anos 40 do século passado para as vítimas de violência sexual. Mas esses fanáticos querem acabar até com esse direito, e deixar a mulherada ainda mais impotente diante da opressão masculina. Obrigar uma estuprada a ter o filho do estuprador? Isto sim que é obra do demônio.

(Leia aqui um ótimo texto de Eliane Brum sobre este assunto)

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

O MAPA COR-DE-ROSA

A Rússia confirmou que não vai suspender suas leis homofóbicas durante as Olimpíadas de Inverno do ano que vem. Qualquer atleta ou turista que fizer "propaganda gay" - o que pode incluir até mesmo dar pinta - irá em cana. Que notícia alvissareira, não é mesmo? Ainda mais quando lembramos que a Copa de 2018 será... na Rússia. E a seguinte, em 2022, no ainda mais repressivo Qatar.

O fato é que não faltam países que criminalizam a homossexualidade. Tem um que até faz fronteira conosco: é a Guiana, que, como muito ex-colônias inglesas, congelou sua legislação no século 19. Também há vários no Caribe, um monte na África e quase todos os de maioria islâmica (visitei dois recentemente, Namíbia e Belize). Uma coisa todos têm em comum: são lugares pouco desenvolvidos, com baixa qualidade de vida e governos pouco democráticos. Lugares onde não queremos viver. Para saber como cada um deles pune os gays, clique aqui.

LIFE OF THOR

Quando eu era pequeno ainda se falava muito em Thor Heyerdahl. O explorador norueguês vivia promovendo expedições malucas, para provar que os antigos egípcios tinham chegado à América navegando em caixas de fósforo ou coisa que o valha. Mas a viagem que o tornou realmente famoso aconteceu bem antes de eu nascer: foi a do Kon-Tiki, quando ele e um bando de malucos se lançaram de jangada no oceano Pacífico. Heyerdahl defendia que os polinésios eram descendentes de tribos pré-incas do Peru, e para isto tinha que provar que tal viagem era possível com a tecnologia de mais de mil anos atrás. Sim, era: seu grupo chegou relativamente são e salvo ao arquipélago de Tuamotu. Mas sua tese amior jamais foi confirmada, muito pelo contrário. Todas as evidências linguísticas e genéticas indicam que a Oceania foi povoada a partir do oeste - da Ásia. Este detalhe é convenientemente esquecido pelo filme "Kon-Tiki", que recria a incrível jornada e foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro este ano. Há muita semelhança com "As Aventuras de Pi": tubarão-baleia, algas luminescentes, muito calor e muita sede. Só faltou o tigre. Ah, e também faltou protetor solar: em nenhum momento vemos aqueles escandinavos branquíssimos passando alguma coisa na pele (nos anos 40 ninguém se importava muito). Heyerdahl deixou muitos herdeiros espirituais, que teimam em explorar o mundo ainda hoje. Um deles é o brasileiro Amyr Klink. Homens como estes (são quase sempre homens) correm riscos desnecessários e às vezes usam teorias furadas para justificar suas estripulias. Mas de vez em quando rendem bons filmes.

domingo, 11 de agosto de 2013

MINHA PISTOLA É DE PLÁSTICO

As internets estão em chamas desde anteontem por causa deste vídeo, que mostra o Infeliciano sendo alvo de uma serenata dentro de um voo da Azul. Os garotos que cantaram "RoboCop Gay" para o homofóbico mais famoso do Brasil tiveram uma atitude adolescente, que não só incomodou os demais passageiros como não vai conquistar um só novo adepto para a causa LGBT. Também foram divertidíssimos. Brasileiro se caga de medo quando encontra um político na rua. Não temos o menor prurido de pedir autógrafo ou foto para um atorzinho global, mas raramente confrontamos aqueles que nos fazem mal com nosso próprio dinheiro. O vídeo apareceu primeiro no Facebook, mas já foi removido de lá - não sabemos se pelas normas pudicas do Zuckerberg ou se por causa do excesso de comentários negativos. De qualquer jeito, esses comentários estão jorrando aos borbotões no YouTube. Ah, e antes que alguém pergunte se eu não ficaria todo mimimi se o Jean Wyllys sofresse esse tipo de "bullying" num lugar público: sim, ficaria. Não dá para ser feliz o tempo todo numa democracia.

sábado, 10 de agosto de 2013

EEEEEEEEEEEEEEEEEEEHM

O YouTube removeu o vídeo que Marina Abramović fez com Lady Gaga, só porque a cantora aparece nua. Será que o Google, que é dono do YouTube e também o hospedeiro do meu blog, vai deixar barato? Melhor assistir rápido.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

SILVIO EM PÂNICO

Quando eu fazia parte da equipe de roteiristas da série "Ô, Coitado!" no SBT, podíamos tirar sarro de todos os contratados da casa. E tirávamos: da banheira do Gugu à primeira versão de "Chiquititas", quase nada escapava da nossa sanha. A exceção era o ômi, o patrão, o acionista. Absolutamente proibido fazer a menor menção a Silvio Santos (ou até mesmo ao lendário cabeleireiro Jassa). Tudo bem, a TV é dele, ele faz o que quiser. Mas SS embarcou na onda autoritária que contamina personalidades como Roberto Carlos e boa parte da cultura brasileira, e tentou exercer esse poder fora de seus domínios. Durante alguns anos "autorizou" o humorista Ceará, do "Pânico" (hoje na Band) a imitá-lo. Depois se irritou com uma perseguição que o programa lhe fez e "proibiu" a sátira. A trupe de Emilio Surita obedeceu, para evitar dissabores legais. Mas agora o TJ-SP acabou com essa papagaiada. Silvio pode ser parodiado não só pelo "Pânico" como por qualquer pessoa, como aliás reza a Constituição brasileira. Mais que na hora de fazer valer essa lei tão básica, essencial para qualquer democracia que mereça este nome. Há-hái.

ARE FRIENDS ELECTRIC?

Os Pet Shop Boys são extraordinariamente prolíficos. Raro é o ano em que não lançam alguma coisa. Nem que seja uma coletânea de lados B, uma seleção de remixes para outros artistas, um balé. Mas os discos oficiais de inéditas costumam ser espaçados: desde "Behavior", de 1990, que há um intervalo mínimo de três anos entre eles. Agora a regra se quebrou. Talvez por terem saído da gravadora Parlophone depois de 23 anos e lançado selo próprio, os PSB estão com álbum novo nas lojas apenas um ano depois do anterior. É tentador pensar que eles formam um díptico. "Elysium", de 2012, era tranquilinho e meio para baixo. O atual "Electric" é para cima, com mais ênfase nos arranjos do que nas letras. Um era mais Neil Tennant, o outro é mais Chris Lowe. E ambos começam com "El...". Mas não sei se a brincadeira se sustenta, pois não foram gravados ao mesmo tempo. O que importa é que é um disco divertido, sem nenhuma faixa fraca. Tem até cover de Bruce Spingsteen (!). O único defeito é que o produtor Stuart Price (a/k/a Jacques LuCont), que já trabalhou com Madonna, New Order e Kylie Minogue, podia ter ousado um pouco mais e trazido de vez os garotos para os tempos que correm. Também desconheço porque "Bolshy", a melhor música de todas, não está prevista para sair como single. O título tem conotações russas (Bolshoi? Bolshevique?) e eu cheguei a pensar que se tratasse de uma corruptela de bullshit, mas é uma gíria gay mesmo: quer dizer beligerante ou pouco cooperativo. Aaaah bom.

(Quer ouvir algo de "Electric"? Visiste estes posts do "Mundo em Meus Olhos")

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

MY BIG FAT NIGERIAN WEDDING

Glamour. Sofisticação. Suco em caixa. Não falta nada nas festas de casamento dos novos-riquíssimos da Nigéria. Graças ao petróleo, o país já tem o segundo maior PIB da África, mas essa riqueza toda ainda fica concentrada nas mãos de alguns. Como bom gosto e informação também são mal distribuídos, o resultado é maravilhosamente horroroso. Confira aqui a galeria preparada pelo site Daily Beast e morda-se de inveja, sua cafona.

O INIMIGO PÚBLICO No. 1

Alguém tem dúvida de que, se a Polícia Militar quisesse provar que VOCÊ cometeu um crime, iriam aparecer pistas, fotos e vídeos inatacáveis? Essa história do garoto que matou toda a família e a si mesmo está beyond esquisita. Há algumas evidências que apontam para o lado que a polícia quer: um amiguinho diz que Marcelo Eduardo Bovo Pesseghini falava mesmo em matar os pais e depois fugir. Também há a diretora do colégio que afirmou que o menino sofria de uma doença degenrativa e talvez nem chegasse à idade adulta. Por outro lado, os parentes juram que ele era meigo, e há o fato da mãe, que também era policial, ter denunciado colegas. Só sei que este caso vem no momento mais impróprio possível para a própria PM, que tem sua própria existência questionada pela população. Tem que ver isso aê.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

O LONGO E TENEBROSO INVERNO

Quem lembra dos Jogos Olímpicos de Moscou, em 1980? Foram uma merda. Os Estados Unidos boicotaram para protestar contra a invasão soviética ao Afeganistão ocorrida um ano antes, e, sem adversário à altura, a URSS ganhou um quaquilhão de medalhas. Quatro anos depois, a merda se repetiu. Os russos "convenceram" seus satélites na Cortina de Ferro a boicotar as Olimpíadas de Los Angeles, que também se esvaziaram. A merda ameaça ser reprisada nos Jogos de Inverno de 2014, previstos para acontecer na cidade russa de Sochi. As absurdas leis locais contra a "propaganda" gay estão causando justa comoção no Ocidente, e já tem gente pedindo até mesmo que o evento seja mudado de lugar. Acho quase impossível. Há contratos com TVs do mundo inteiro, patrocinadores peso-pesado e uma granalhaça horrorosa envolvida. Que ninguém se iluda: o Comitê Olímpico Internacional está cagando para o "espírito olímpico" do Barão de Coubertin, aquele conceito tão século 19. Os cartolas podem até expulsar do certame os atletas que desfraldarem bandeiras do arco-íris no pódio, porque são proibidas quaisquer manifestações de cunho político. Mas o estrago começou. Os fabricantes da vodka Stolichnaya já estão pedindo água. A cada nova imagem de uma bicha apanhando em público, mais celebridades se juntam às vozes contra os Jogos. Acho bom mesmo. A Rússia merece levar um ferro. É um país paranóico, que já foi invadido por todos os lados. Quase não tem fronteiras naturais: só estepes planas que são verdadeiras estradas pavimentadas para as hordas de mongóis ou as tropas de Napoleão. Tanta vulnerabilidade fez com que os russos partissem para o ataque, conquistando quase todas as terras ao seu redor para se sentirem com um mínimo de segurança. Essa mentalidade gerou um horror a tudo o que vem de fora. Some-se a isto o chauvinismo da Igreja Ortodoxa e uma preocupação razoável com o despovoamento do país, e está posta a mesa para uma das homofobias mais violentas do mundo. Que pode ter muitas causas, mas nenhuma justificação. Os Jogos de Sochi precisam ser um fracasso retumbante, e grandes anunciantes como a Procter & Gamble ou o Mc Donald's, apesar de se fazerem de fofos, só entendem a linguagem do dim-dim. O que a Rússia está fazendo contra os gays é tão grave quanto o apartheid da África do Sul, que transformou o país em pária internacional. Sanções já.

TARTARUGAS E NINJAS

O Movimento Passe Livre é muuito dois meses atrás. A onda agora é o Mídia Ninja, que arrebentou na internet cobrindo as manifestações ao vivo e em cores, sem o filtro da "grande mídia". Dois de seus idealizadores (eles também não têm líderes) foram ao "Roda Viva" desta segunda-feira e provocaram um maremoto de comentários na internet, bem maior do que esse programa da TV Cultura costuma ter. Só vi uns trechos da entrevista e por isto ainda não me atrevo a emitir uma opinião, mas me divirto com a opinião dos outros. Tem gente que acha Pablo Capilé e Bruno Torturra absolutamente geniais, enquanto que os jornalistas veteranos da bancada seriam todos umas tartarugas antediluvianas (rialto quando alguém disse que o Mário Sérgio Conti não sabe até agora quem é esse tal de Meme). Outros tantos dizem que essa galera do Fora do Eixo não passa da antiga Libelu com smartphones na mão. O fato é que a Mídia Ninja não tem nada de equilibrada nem imparcial, e precisamos parar de achar que toda imprensa precisa ser assim. Não precisa e não é. Agora, goste-se ou não dos caras, é inegável que eles deram um show nos protestos de julho, reconhecido até pela "inimiga" Globo. E estão desempenhando um papel importantíssimo no caso Amarildo, um dos maiores escândalos de um ano já por demais escandadaloso. Não assino embaixo de tudo o que propõem, mas o Brasil fica melhor com eles.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

VERÃO NO VERMELHO

Verão no hemisfério norte é tempo de colheita para Hollywood. É quando os grandes estúdios lançam os blockbusters que custaram 300 milhões de dólares, na esperança de faturar um bilhão. Mas alguma coisa deu errada este ano. E olha que a indústria seguiu à risca a fórmula de sucesso dos últimos anos: filmes de super-herói, continuações, explosões e efeitos especiais. Mesmo assim, amargou um flop atrás do outro ("O Cavaleiro Solitário" foi só mais vistoso deles). E até os filmes que foram bem, tipo "Homem de Ferro 3" ou "O Homem de Aço" (quanto metal, né, gentem?) não deixaram marcas profundas. O verão de 2013 vai entrar para história como aquele em que nenhum filme fez história. É o caso de "Reds 2": muita confusão, muita correria, ótimos atores que parecem estar se divertindo e nenhuma barriga. Para a gente ver, se horrorizar com o número de mortes gratuitas e esquecer dois segundos depois. Que venha logo o inverno.

O MAU PASSADO E O FUTURO

Achei tímida a reação da mídia à apresentação do "Frankeburger", feito com carne produzida em laboratório a partir de células-tronco de vacas. O importante não é se o troço é gostoso ou não. A primeira lâmpada elétrica também iluminava pouco. O que estamos vendo é nada menos que o começo de um processo que pode revolucionar o mundo. A nova carne pode simplesmente eliminar a criação de gado da face da Terra. Vai terminar o dilema moral que acomete até mesmo carnívoros inverterados como eu, que me aflijo com a morte dos bichinhos. Também vão sumir as pastagens infinitas, liberando terras para a agricultura, a preservação ou seja lá o que for. Acabam até mesmo as emissões de gás metano presente nas flatulências bovinas, uma das prováveis causas do aquecimento global. Claro que tudo isso ainda pode levar um bom tempo, mas é um futuro bastante possível. Sem abatedouros e sem culpa.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

HOLLYWOOD AND VINE

Sou tão pré-histórico em internet para os meus sobrinhos quanto minha mãe é para mim. Pareço um estegossauro perto deles, pois ainda acho que o Whatsapp é uma maneira moderna de conversar com os amigos. Eles já aderiram ao Snapchat, um programa onde os usuários se comunicam através de vídeos de sete segundos que só podem ser vistos uma única vez. Também duram no máximo sete segundos os vídeos que recheiam as muitas páginas do Facebook chamadas "Best Vines" (esta e esta são bem boas). São super toscos, com efeitos da época de Meilès. Mas vários são engraçadíssimos, e as possibilidades me parecem infinitas. E claro que alguém já vai dizer que vine é muito semana passada.

A MARÉ REVERSÍVEL

Um mito moderno assombra até as melhores cabeças deste país. Aquele que diz que, até 2020, os evangélicos serão mais do que a metade da população brasileira. Embutida neste "mais do que a metade" está a ameaça de uma ditadura evangélica, como se uma simples maioria obrigasse todo o resto a se converter. Já teve até artigo sério conjeturando que os nomes de santos que batizam muitos lugares seriam trocados (São Paulo, por exemplo, voltaria a se chamar Piratininga) e que até mesmo o carnaval seria proibido. Não é bem assim. Para começar, o Brasil tem uma consituição, e é para lá de improvável que a tal maioria neopentecostal consiga eliminá-la. Mais improvável ainda é que esta maioria de fato se concretize. As projeções que circulam por aí simplesmente assumem que o atual ritmo de crescimento - que inclusive diminuiu nos últimos dez anos - se prolongue indefinidamente, como se fosse um vírus incurável. É o erro que comete o gráfico aí acima. Não leva em consideração um montão de variáveis, como a dificuldade que as neo-igrejas têm em penetrar nas classes mais favorecidas. Ou os escândalos que corróem a credibilidade de denominações como a Maranata, cuja cúpula foi presa no Espírito Santo. Até mesmo falastrões como Malafaia ou Feliciano acabam depondo contra. Não é pequeno o número de evangélicos que rejeitam essas figuras, e certamente que elas não ajudam a conquistar novos fiéis. Para coroar, a recente visita do papa deve dar uma freada nesse crescimento.  O desagrado que muitos pastores têm manifestado só confirma que o golpe foi acusado. Por isto, vamos parar com essa bobagem de achar que os fundamentalistas são invencíveis. Isto é fazer o jogo deles. É enfiar o rabo entre as pernas. Aposto que a proporção de crentes se estabilizará entre 20 e 30% da população, cifra semelhante à dos Estados Unidos. É um número enorme e de grande força política, mas não o suficiente para impor suas regras sobre todo o Brasil.

domingo, 4 de agosto de 2013

O FIM DA LINHA

Hoje vai ao ar no canal Studio Universal o terceiro episódio da segunda temporada de "Smash", que, mesmo sob o comando de uma nova equipe criativa, consegue a façanha de ser pior que a primeira. A premissa original não se sustenta: os produtores do mjusical sobre Marilyn Monroe AINDA estão na dúvida sobre a atriz para o papel, quando é mais que evidente para os congnoscenti como eu que a rechonchuda Megan Hilty é infinitamente melhor que a insossa Katherine McPhee. Repare só como Megan arrasa com a melhor canção inédita da temporada, o futuro clássico "They Just Keep Moving the Line". A letra cai feito uma luva para a personagem, e também para todo mundo cuja vida é luta renhida (tenho cantado-a muito no chuveiro). Mas não foi o suficiente para salvar o programa. "Smash" já foi cancelado, e não vai deixar saudades.

sábado, 3 de agosto de 2013

CHIC NO ÚRTIMO

O disco "Random Access Memories", do Daft Punk, não só é o melhor do ano até agora como também ressuscitou duas carreiras que andavam meio esquecidas. Uma delas é a de Giorgio Moroder, o produtor de Donna Summer, que foi homenageado pela dupla francesa com uma faixa-biografia com mais de nove minutos de duração. A outra é a de Nile Rodgers, único remanescente dos três fundadores da banda Chic e um dos produtores mais influentes de todos os tempos. O sucesso de "Get Lucky" deve muito à guitarra rítmica de Rodgers, que inclusive aparece no clipe da música ao lado de Pharrell. Aproveitando o momento, o cara montou uma nova versão do Chic e está excursionando com ela pela Europa. Também lançou um CD duplo com os maiores hits da Chic Organization, gravados pelo próprio grupo ou por nomes como Diana Ross, Carly Simon e Deborah Harry. Depois que o Chic acabou, Rodgers ainda produziu discos para Madonna, Duran Duran e David Bowie, entre muitos outros, mas já sem o estilo característico que inventou. Ouvi-lo novamente me leva de volta à virada dos anos 70 para os 80, a era da discoteca. Havia muita bobagem musical naquela época, mas o Chic era respeitado até pelos músicos de jazz. Se você não faz a mais puta ideia do que seja esse som chiquérrimo, baixe aqui um minimix da banda, ou aqui um megamix com mais de meia hora. E tente ficar parado.

TODO SALTITANTE

Mais uma vez o Ailton Botelho do Vipado me arrastou para um evento de prestígio; talvez ele esteja querendo me comer. Fomos à pré-estreia do musical "Billy Elliott" na noite de ontem, aqui em São Paulo. Dessa vez não se trata de uma remontagem brasileira: é o próprio original da Broadway, com elenco e orquestra gringos, e letras cantadas em inglês (com legendas eletrônicas para a plateia). Quer dizer, quase o original. Esta é uma versão pocket, feita pra excursionar pelo mundo, com cenários e efeitos mais simples. Se bem que é ruim chamar de pocket uma operação que envolve mais de 200 pessoas, sendo nada menos que três crianças para cada papel infantil (e as mães? e as professoras? tenho pesadelos só de pensar). Tanto esforço vale a pena. O que se vê no palco é realmente um espetáculo de primeiríssima qualidade, com atores absolutamente sensacionais. Quem assistiu ao filme de 2000 conhece a história, que continua deixando a dúvida no ar: será que o pequeno Billy é gay, ou só um garoto que dança "O Lago dos Cisnes" divinamente? Um dos amiguinhos dele de fato o é, e o número em que os dois se transformam em mini-drag queens é de arrebentar. Felizmente não é o único. Dá para entender perfeitamente porque "Billy Elliott" ganhou nada menos que 10 prêmios Tony em 2009 (inclusive melhor musical). Está rolando uma certa polêmica pelo fato de uma produção esrangeira ter sido financiada em parte com o nosso dinheiro público, mas o impacto da peça é enorme. Saí dando pulos.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

BAT-MACUMBA Ê Ê

Quando não está em programas descerebrados como o "Superpop" ou o do Ratinho, Silas Malafaia leva um banho. Foi assim na entrevista que deu a Marília Gabriela em fevereiro, que a apresentadora encerrou com a frase "que o meu Deus te perdoe". E foi assim no "Na Moral" de ontem, em que o apóstolo do ódio revelou não só que tem argumentos esfarrapados como também um puta de um medo. Sim, medo: o tom exaltado do pastor trai que ele se caga por dentro quando confrontado por pessoas mais preparadas. E olha que ele recorreu a toda a cartilha de truques dos neopentecostais: se disse até vítima de preconceito, para logo em seguida falar em "macumba", um termo pejorativo, ao se referir às religiões de matriz africana. Aposto que não conquistou um único novo seguidor. A performance pífia de Malafaia coroou uma noite histórica na Globo, que antes havia exibido o capítulo de "Amor à Vida" em que a bicha má do Félix é aceita por quase toda a família. Leia mais aqui, na minha coluna de hoje no F5.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

NÃO CURTI

O aplicativo para smartphone do Facebook sempre mostrou anúncios imiscuídos na linha do tempo. Agora a versão convencional da rede também faz o mesmo. Disfarçados como "sugestão de leitura" ou recomendações de amigos, lá estão eles à espera do seu clique. Por mim vão continuar esperando: até agora não encontrei um único interessante, muito pelo contrário. Entre o que foi empurrado para mim, estavam uma cantora evangélica e um site para conhecer mulheres maduras. Minha cara, não é mesmo? O que me levou a concluir que esse pânico universalizado de que o FB estivesse usando nossos dados e preferências para nos controlar à distância é completamente infundado. Esse povo de lá não faz a puta ideia de quem está do lado de cá. Ainda vai levar um tempo para o Zuckerberg dominar o mundo.

LEGALIZE YA

Depois de aprovar o aborto e o casamento igualitário, o parlamento uruguaio está a ponto de liberar o consumo de maconha em todo o país. O projeto de lei já passou pela Câmara e agora vai ao Senado com grandes chances de sucesso, apesar de 63% da população ser contra. É mais uma medida ousada do governo de José Mujica, de longe o presidente mais avancado da América Latina (e quiçá do mundo). Estou muito curioso para ver o que acontece. O Uruguai é um país pequeno, homogêneo e com níveis de desenvolvimento humano razoavelmente elevados. Ou seja, é o laboratório perfeito onde testar o relaxamento das leis que regulam o tráfico e o uso de drogas. Será que vão surgir mate shops em Montevidéu, similares aos famosos antros de fumo de Amsterdam? Ojalá.