Desci do metrô na esquina da Consolação com a Paulista às sete e meia da noite. Como anteontem, já havia um monte de PMs na saída da estação. Mas também havia mais viaturas, cavalos e barricadas de motos da polícia impedindo o acesso de quase todos os veículos a duas das avenidas mais movimentadas da cidade. Acelerei o passo: melhor chegar em casa antes do pau quebrar.
Não demorou muito. Moro ao lado da Paulista e dava para escutar perfeitamente o barulho das bombas, uma novidade para meus ouvidos virgens. Pela Globo News, imagens que pareciam o começo de uma guerra no centro de São Paulo. E pelo Facebook, relatos em primeira mão de quem estava no olho do furacão.
Outro dia eu disse que o "Passe Livre" precisava de uma consultoria de marketing, porque depredar o patrimônio público e alheio era a estratégia mais segura para conquistar a antipatia da população. SP é uma metrópole traumatizada pela violência. Não importa que a grande maioria dos manifestantes que saem à rua sejam da paz: basta uma pedrada numa vitrine para a foto vir estampada nos jornais. Muitos órgãos da imprensa não estão fazendo uma cobertura isenta, mas é inegável que um PM quase foi linchado, ou que a Capela Imperial no Rio de Janeiro foi pichada. Não dá para perdoar.
Mas hoje a história se inverteu. Apavorada, a polícia atacou antes que acontecesse qualquer coisa. E justo no dia em que muita gente saiu às ruas justamente para conter os mais exaltados. Os PMs soltaram bombas de gás lacrimogêneo, baixaram o cacete e instalaram o pânico, como que para ajudar quem estava na dúvida a se decidir de que lado está. Foi o meu caso.
Uma hora não me segurei mais. A história se desenrolando a poucos metros do meu apartamento, e eu assistindo "Amor à Vida"? Desci, com meu marido correndo atrás. A rua estava engarrafada. Muita fumaça no ar. Na Haddock Lobo, em frente ao Fran's Café e ao Starbucks, uma cena bizarra, inimaginável: uma fogueira de lixo ardendo no meio da rua, e uma tropa de PMs alinhada logo atrás, escudos em riste como uma legião romana na formação de tartaruga. Um moleque de 18 anos gritava, quase afônico: "Vocês também são povo! Vocês também pagam ônibus! Essa briga também é por vocês!"
Tentei me aproximar do fogo, mas não fui muito longe. Meus olhos começaram a arder loucamente, meu nariz também. Então é isso? Já posso tirar da lista das "1.000 Coisas para Fazer Antes de Morre": gás lacrimogêneo.
Na Paulista, muita gente - mais transeuntes e curiosos do que propriamente manifestantes. O trânsito voltava a circular. Uma multidão correu para o metrô assim que ele abriu, como se fosse fechar novamente logo em seguida. Nunca vi tanta polícia junta, nem na época das Diretas Já. Um clima estranhíssimo no ar.
Acho que hoje o governo "jumped the shark". Calculou mal e agiu com truculência desnecessária. Também sinto que o movimento pode transcender os 20 centavos de aumento da passagem (que não, não são poucos) e se transformar - quem sabe - nos tais protestos contra a corrupção, a inépcia e o descaso que os pseudo-ativistas de rede social tanto cobram de quem vai à Parada Gay ou à Marcha das Vadias. Motivo já não faltava. O estopim talvez não falte mais.
Bravo, Tony. Você, que gosta de dizer que as pessoas não veem para que lado o vendo sopra, começou a perceber isso neste caso.
ResponderExcluirhell yeah
ResponderExcluirNão dá pra analisar esse tipo de movimento pelos fatos isolados. Dia tal os manifestantes perderam a razão. Dia tal foi a polícia. Esses 0,20 são só a gota d'água de um cop que já está para derramar.
ResponderExcluirManifestação popular é uma sinuca de bico... se do jeito que tá parece uma guerra, de que adiantaria uma passeata pacífica no parque do Ibirapuera? Difícil achar um meio termo, mas talvez seja melhor pecar pelo excesso do que pela falta.
ResponderExcluirOlha isso, Tony: http://www.youtube.com/watch?v=kxPNQDFcR0U
ResponderExcluirJá tinha visto. Foi o viral de ontem à noite, maior sucesso.
ExcluirParece 0,20 centavos, mas para uma familia pode significar 20 reais a mais para cada membro, e isso é muito para a maioria das familias.
ResponderExcluirTony, já havia ido em outros anos a algumas manifestações do passe livre, sempre pacíficas. Desta vez, estava um pouco mais distante e também apreensiva com as notícias. Decidi ir apoiar o movimento, apenas na concentração, diante do linchamento da mídia e do governo. Na concentração, o clima era tão tranquilo entre as cerca de 10 mil pessoas, que resolvi andar um pouco com eles. Encontrei um colega da UNICAMP e fomos. Havia gente de todo tipo, muitos estudantes, vi uma garota com um livro imenso de "fisiologia médica" na mão. Vários gays também, muitos conhecidos. Engraçado, pois agora encontro também filhos de colegas professores universitários, que conheci quando eram adolescentes.
ResponderExcluirAté o início da Consolação não houve nenhum ato de quebra de patrimônio, nem nenhuma manifestação de violência (um ônibus ficou no caminho, mas entregaram flores aos passageiros e motoristas, que sorriam e apoiavam enquanto os manifestantes gritavam "ô cobrador, diz aí se seu salário aumentou?"). A população em geral apoiava dos prédios e calçadas. A polícia "normal", sem ser a tropa de choque, já havia passado antes, ao largo, e era tranquilo, hostilidade zero por parte dos manifestantes.
Na subida da Consolação, vi um pessoal correr desesperado atrás de mim e achei que era o caso de correr também: entrei para a Amaral Gurgel e, dali, vi o motivo. Por trás da manifestação, correndo como desembestada, vinha a tropa de choque, atropelando quem estava na frente, para percorrer a lateral e atacar a manifestação pelo início. Dito e feito: escutamos as primeiras bombas e eu, que estava com um amigo e com um pouco de receio de tudo, entrei para a lateral da Consolação (por sorte do lado direito) e tentei observar se a coisa acalmava. Que nada, era bomba e tiro que não parava mais.
Ajudamos uma moça estudante que estava desesperada e caiu ali no meio sem nem saber o que estava rolando. A polícia avançou ferozmente nas laterais e me parece que jogou bomba até na porta do Mackenzie e na Puc da Paranaguá. Do meu prédio, continuamos ouvindo por longo tempo e vendo pessoas feridas passarem em direção à Santa Casa.
Hoje, lendo os relatos no UOL, inclusive o de uma jornalista que relata a truculência da polícia para cima de todo mundo, manifestante ou não, na Paulista e imediações, me parece que foi ainda pior do que a pequena demonstração assustadora que tive.
Afirmo com toda a tranquilidade e segurança do mundo: a polícia iniciou a violência e atacou com selvageria uma manifestação até então totalmente pacífica e cercada de apoio popular.
Tenho pena dos que se ajoelhavam e ofereciam flores à polícia no trajeto. Espero que estejam bem.
As imagens da polícia atacando grupos que gritavam "sem violência" - um dos principais gritos de ordem da saída da manifestação -, o depoimento de senhoras que saíam da igreja e foram alvejadas, a foto de um garoto de 12 anos com ferida na perna sendo atendido na farmácia, as fotos da PM prendendo e batendo em gente que bebia cerveja na Paulista e quebrando seu próprio equipamento para justificar a violência que impuseram à população são intoleráveis. Sinceramente, é muito pior que qualquer vidro quebrado por manifestantes nos dias anteriores, pois estes não atacaram transeuntes, nem idosos, nem crianças.
Enfim, fica aqui meu relato e minha solidariedade aos que pacificamente tiveram de enfrentar ou sofreram uma violência estúpida e desproporcional.
Ah, sim, e esqueci de dizer que Estadão e Folha, com seus editoriais vergonhosos de ontem, praticamente pediram e chancelaram a violência policial. Agora têm de lidar com seus profissionais feridos e atacados...
ResponderExcluirA "Folha" de hoje não se furtou a descrever a violência de ontem. O próprio Elio Gaspari assina uma matéria contando que a polícia partiu para o ataque na altura da rua Maria Antônia. E no jornal de ontem, apesar do editorial de tons fascistas, a página 3 era ocupada por uma longa coluna assinada pelo pessoal do "Passe Livre", explicando sua luta.
ExcluirO quebra-quebra de ontem fez muita gente definir de que lado está. Cagada BLASTER da PM e do governo estadual.
Tony, respeito sua opinião. E acho que hoje a Folha de fato teve de voltar atrás. Você viu o relato dessa moça, repórter da Folha? http://extra.globo.com/noticias/brasil/protesto-em-sao-paulo-reporter-ferida-no-olho-publica-depoimento-sobre-que-aconteceu-8686548.html
ExcluirMas continuo sustentando que uma página no "opinião" e um editorial são coisas bem diferentes. Repudio a depredação de equipamento público, mas os jornais reagiram de forma histérica.
Sim, cagada blaster da PM, do governo estadual e do Haddad, acrescento, que não responde pela PM, mas tem sido muito vacilante em qualquer declaração.
Mas claro que são diferentes. A própria "Folha" deixa claro que os editoriais refletem a opinião da direção do jornal, enquanto a página de "debates" está aberta a quase tudo.
ExcluirO que eu quis dizer é que a "Folha" não merece o rótulo de "PIG" - pelo menos, merece menos que outros órgãos, pois está sempre aberta a opiniões contrárias (nãqo que você tenha usado esse termo, "PIG").
E digo isso como leitor do jornal há muitos anos, não como colaborador.
De acordo!
ExcluirNão, não usaria o termo PIG. O que significa mesmo? Algo sobre imprensa golpista? Acho esses termos sem noção, muito simplificadores.
Também te escrevo na ressaca de ter testemunhado um pouco das coisas ontem. Sou totalmente contra a violência, não acho que tem de quebrar nada, você me conhece. Mas sei que essa galerinha que depreda é uma minoria que encontra terreno para sua ação quando a polícia instaura o caos. Temo por esse acirramento.
A moça que ajudamos, a dado momento, nos olhou com medo, antes de nos seguir "vocês são manifestantes ou estão só passando?". Afirmamos que estávamos na manifestação, éramos totalmente pacíficos e que era melhor ela ficar conosco pois tentaríamos achar uma rota de saída. Passamos por um pessoal dando vinagre e colocamos um pouco na bandana dela para que pudesse respirar. Ela seguiu depois pra PUC. No entanto, fiquei pensando: "por que ela estava apreensiva se éramos manifestantes?". Eu e Maurício, meu amigo, estávamos tão assustados quanto ela. Sei lá. Pelo menos ela percebeu que as pessoas são solidárias e não um bando de arruaceiros.
Aí fui comprar depois uma bala no bar em frente de casa, um Tic Tac. O moço do bar me olhou assustado, perguntando o que eu havia dito, se havia dito que queria "crack" (WTF??). Depois me disse que já espera qualquer coisa diante dos tempos em que vivemos (bem, disse isso em outras palavras das quais não me lembro).
Confesso que estou um pouco assustada com tudo. Já não bastasse a violência rotineira que assola a cidade.
Sim, "PIG" quer dizer "Paritdo da Imprensa Golpista". Foi cunhado por Paulo Henrique Amorim em 2005, quando estourou o escândalo do mensalão. Saiu um pouco de moda, mas ainda tem gente que o usa. Acho uma cretinice.
ExcluirQuem inventou o termo PIG foi o Paulo Henrique Amorim, que vendeu a alma para o bispo da Record. Jornalista que aceita receber salário com dinheiro de dízimo de Igreja tem muita moral para criticar os colegas. SQN.
ExcluirO Governador Geraldo Alckmin USOU a Polícia Militar recentemente numa estratégia política. Lembram dos relatos sobre a inércia dos PMS durante os arrastões na Virada Cultural (a primeira da gestão petista na prefeitura)? O que está em jogo são as eleições para o Governo do Estado de SP (2014). Se a insatisfação com a administração HADDAD aumentar, as chances de um candidato petista impedir a reeleição do picolé de Xuxu são quase nulas.
ResponderExcluirNão tinha feito a ligação entre o pouco policiamente da Virada e o excesso de policiamento ontem. Faz todo o sentido.
Excluirparabéns antonyeta! fui beeem escrota com a senhora no post do cinema, mas aplaudo por ter clareado as ideias!!! maturidade!
ResponderExcluirEssa necessidade de tipificar, quantificar, overanalisar, separar e qualificiar do ser-humano é TRASH.
ResponderExcluirOntem, indo pra casa aqui no Rio, passei pela Av. Presidente Vargas em frente à Central do Brasil e também tinham barricadas de lixo flamejante no meio da rua e muita, mas MUITA polícia nas ruas. Quero ver no que isso vai dar.
ResponderExcluirVai começar a pipocar revoltas pelas ruas do Brasil todo, acho ótimo já está mais do que na hora de ter mudanças através destas passeatas e os governantes tomarem mais atitudes positivas para o povo, pois o que temos visto é só roubalheira e enriquecimento das autoridades e de gente filiada a este esgoto político atual.
ResponderExcluirTony.. ou sua vida sexual ta realmente morta... ou vocês tomaram gasolina no jantar... kkkkkkkkkkkk........o que te faz sair do conforto e segurança da sua casa para ir respirar gás lacrimogênio na rua?? tirando o risco de vida.. meeeeeuuuuu paeeeee!!!!!!!!.. kkkkkkk
ResponderExcluir........o que te faz sair do conforto e segurança da sua casa para ir respirar gás lacrimogênio na rua??
ExcluirResposta: É pertencer a um grupo de pessoas que não são vermes, para ter um raciocinio como este seu.
Se me odeia deita na BR..... se me odeia deita na BRRRRRRR... kkkkkkkkk
ExcluirNão confio na polícia, raça do caralho.(R)
ResponderExcluirCagada BLASTER da PM (que é) do governo estadual.