sábado, 8 de junho de 2013

I LIKE LARGE PARTIES


"O Grande Gatsby" foi o primeiro livro adulto que eu li na minha vida. Eu tinha 13 anos de idade e fui contaminado pela campanha de lançamento do filme com Robert Redford e Mia Farrow, uma das primeiras a contar com toda uma linha de produtos relacionados. Li uma tradução em português e "adorei". Só agora, quase 40 anos depois, é que me dispus a reler a obra mais conhecida de F. Scott Fitzgerald, dessa vez no original em inglês e novamente influenciado pelo lançamento de um filme. Finalmente posso dizer com propriedade que estou adorando. O estilo de Fitzgerald é delicioso e ilusoriamente superficial. Ele descreve festas e mansões com detalhes irônicos, tece metáforas inesperadas e revela a alma dos personagens por baixo da ostentação. O livro é um pileque literário: tem a euforia da bebedeira e a ressaca do dia seguinte. Faz cócegas no nariz e dá dor de cabeça.

Graças ao Netflix, também consegui rever o filme de 1974. É péssimo. Muito, mas muito pior do que eu me lembrava. Na época foi massacrado pela crítica e fracassou na bilheteria, e isso até foi pouco. Deviam ter ateado fogo às salas de cinema e exilado boa parte do elenco e da equipe. Mia Farrow está especialmente irritante, fazendo uma vozinha aguda que nem de longe sugere que "Daisy's voice is full of money", uma das muitas citações do livro que se tornaram famosas. O roteiro de Francis F. Coppola é extremamente fiel a Fitzgerald, mas a direção do falecido Jack Clayton é um desastre. O filme simplesmente não anda. Ainda assim levou merecidos Oscars de figurino e direção de arte, e também tem uma trilha sonora repleta de preciosidades dos anos 20. Hoje é um bonito dinossauro.

Ontem vi a versão de Baz Luhrmann (sim, cheguei a tempo no cinema). Está todo mundo malhando essa féerie em 3D, mas eu não tenho vergonha de admitir que ADOREI. Os atores estão todos bem, principalmente Leonardo Di Caprio; ele talvez fosse mais respeitado se não fosse tão perfeitinho. Se bem que aqui cabe um adendo: apesar de terem as idades adequadas para os papéis, quase todos parecem jovens demais. Lembram crianças fazendo uma peça na escola. Mas isto é o de menos: o que importa é que embarquei na artificialidade do filme. Até os excessos das festas me pareceram contidos. Eu queria mais, com mais brilho e mais presença da música, como em "Moulin Rouge" (apesar de tudo, o filme não é um musical).

No fundo, acho que toda adaptação cinematográfica de "Gatsby" está fadada às críticas ruins. E isto é por que a história em si não é satisfatória. Os "mocinhos" (ponho aspas porque ninguém é santo) são punidos por acaso, os "malvados" escapam como se nada. Também tem peças que giram em falso, como Gatsby saindo com Daisy depois da grande discussão no hotel Plaza - não faz lá muito sentido. O livro pode ser interpretado como os limites do sonho americano, onde o sucesso financeiro acaba esbarrando nas barreiras de classe (o que não é mais verdade). E também como um caso de amor gay não correspondido, pois Nick Carraway está nitidamente apaixonado por seu vizinho milionário. No novo filme ele até vai parar numa clínica de reabilitação, coisa que nunca esteve no livro.

Chegamos assim à trilha sonora. Mais uma vez Baz Luhrmann usa sons contemporâneos para ilustrar uma trama de época. Nem tudo funciona bem. O rap de Jay-Z e o rock de Jack White não combinam em nada com o universo gatsbyano. Outras faixas, sim - principalmente as que misturam elementos dos "roaring twenties". "Crazy in Love", na voz de Emeli Sandé e em ritmo de charleston, ficou irresistível, assim como "A Little Party Never Killed Nobody", com Fergie.

Como bem diz a divina Jordan Baker, em mais uma citação imortal do livro: “And I like large parties. They’re so intimate. At small parties there isn’t any privacy.”

16 comentários:

  1. Doido pra ver! E acho que vou adorar tb!!

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  2. Sou da turma dos que acham Baz Luhrmann overrated.

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    1. Eu já acho os cariocas overrated...

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    2. Perdão, mas o que tem a ver o cu com as calças?

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    3. Status: in love with Lucas T.

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    4. Sou da turma dos que acham Lucas T. overrated.

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    5. KKKKKKKKKKKKKKK
      Lucas é o novo overrated do pedaço, depois de Daniel Cassús

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    6. Baz Luhrmann, lucas T, eu, somos todos overrated.

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  3. Nao li o livro, por isso apos ver os traillers, esperava uma historia excepcional. Mas no meio do filme percebi que o enredo é apenas uma historia de amor. Viagei mesmo, pelas falas da carrie mulligan pensei até que seria um sci-fi(!?). Como positivo posso falar da fotografia e do figurino, impecaveis. E apesar do Leo parecer levemente forcado, e eu nem ser fã, estranhamente achei ele estava quase irresistivel no papel de um homem lindo e sensual que faz tudo pelo seu objeto romantico.

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    1. Franccesco,

      Tudo que gatsby não é é uma história de amor. Muito pelo contrário.
      Relata as paixoes humanas e seus pesos na vida de cada um, as frustrações dos indivíduos e a tentativa de um homem de recomeçar pelo seu passado.
      Leia o livro sob essa perspectiva e verá que ele tem muito mais profundidade.
      Abs, Bruno.

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  4. Você só não comentou que Beyoncé estragou Back to Black.

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  5. Adorei o filme. Música, figurino, direção de arte, enrendo. Vale a pena.Só não tinha pensado no olhar apaixonado de Nick por Gatsby, um ponto de vista legal

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  6. créditos de abertura lindos. mas o filme... um exagero de cgi. fica tudo chapado e sem profundidade. muito chochinha a daisy. fora q o baz errou na mão, ele faz umas sequencias em slow motion, com uma musiquinha gritando, e usa isso demais. acho q o único filme dele q eu realmente gostei foi romeu e julieta. depois, foi ladeira abaixo. moet chandon então se queimou de tanto q apareceu no filme. êita placement grosseiro.

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  7. tivemos a mesma impressão dos dois filmes...tb escrevi sobre. E ambos não tivemos curiosidade pra ver as outras 3 adaptações, de 1929, 1946, 2000...rs rs rs...Gatsby ou era Redford, ou é Di Caprio...para os outros não ha curiosidade...

    abração

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  8. Detalhe: o filme de 1926 foi perdido e o de 49 está fora de circulação há muito, por questões de copyright. Quanto a versão de mr. Luhrman, confesso que saí do cinema chorando. De rir. Até esqueci que se trata de uma tragédia.

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  9. Nothing exceeds like excess - eu só posso assinar embaixo das palavras do senhor Tony - excelente resenha, excelente timing - e a paixão reprimida de Carraway por Gatsby foi plenamente correspondida

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