terça-feira, 30 de abril de 2013

A CONTA-GOTAS

Fiquei quase um mês sem ir ao cinema. Quando finalmente voltei a uma sala, foi para ver um filme marromeno: "Thérèse D.", do recém-falecido diretor francês Claude Miller. Ele nunca fez nada de que eu gostasse muito, mas fui ver assistir a usa última obra por causa do pedigree e do elenco: baseado num romance de François Mauriac, estrelado pela graciosa Audrey Tautou. A princípio, achei que ela estivesse mal escalada. Audrey ficou famosa por sua sorridente "Amélie Poulain", e aqui ela faz uma mulher que chega a ser seca de tão prática. Depois percebi que se trata mesmo de uma boa atriz, mas é difícil empatizar com a personagem. Thérèse, de uma família rica do sul da França, se casa com um vizinho mais para juntar as duas propriedades do que qualquer outra coisa. Logo se desencanta com o marido e resolve matá-lo, superdosando as gotas do remédio para o coração que ele toma todo dia. Contando assim parece um escândalo passional à la "Madame Bovary", mas nenhuma grande emoção é escancarada na tela. "Thérèse D" não chega a ser enfadonho, mas, para minha rentrée, preferia ver algo mais excitante.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

ME EXCOMUNGA QUE EU GOSTO

Meu, que merda de Igreja é essa que protege pedófilos e excomunga alguém como o padre Beto? Se alguém achava que as coisas melhorariam com o pseudo-simpático papa Francisco, acabou de ter sua ilusão esfarelada como uma hóstia amanhecida. Agora tenho vontade de pegar minha certidão de batismo e devolvê-la em pedacinhos à igreja onde fui batizado, para deixar bem explícita a minha apostasia. Perdoai-os, pai, mas eles sabem muito bem o que fazem.

DE ENFIADA

Mais um dia histórico. 29 de abril de 2013 vai entrar para a história como a data em que o primeiro atleta americano de renome saiu do armário. Jason Collins joga basquete pela NBA e deu um depoimento para a revista "Sports Illustrated" que se parece com dezenas de outras histórias de gente que se assumiu gay (leia na íntegra aqui, em inglês). No Brasil já temos casos semelhantes no vôlei e no atletismo, mas a história só será feita de verdade quando algum grande jogador de futebol admitir que é homossexual. Dado o extremo refinamento e as ideias avançadas das nossas torcidas, temo que este dia ainda vá longe.

domingo, 28 de abril de 2013

NO, GRACIAS

Vocês estão ligados que casos como este do padre Beto de Bauru se tornarão cada vez mais frequentes? Está cheio de sacerdote por aí que compartilha das mesmas ideias: só não largaram a batina porque ainda não caíram no YouTube. Claro que as notícias na internet sobre o afastamento do padre estão cravejadas de comentários asquerosos, mas é reconfortante saber que ele também conta com muito apoio. Que vai aumentar ainda mais, graças a esta página do Facebook. Quem quiser saber mais sobre o padre também pode visitar seu site e seu perfil no Twitter. Se toca, Igreja: se mais padres fosse como Roberto Daniel, muita gente voltaria a ser católica. Talvez até eu. Padre Beto me representa!

(Lembra que eu falei que o próximo post seria escrito do Brasil? Não foi. Estou blogando diretamente de um avião da Turkish Airlines rumo a São Paulo, sobrevoando o deserto do Sahara. Um dos primeiros a disponibilizar wi-fi a bordo, e na classe econômica. Ah, e o suco de laranja também é espremido na hora.)

CHOREI UM BÓSFORO

Ufa, a viagem está acabando. Hoje tivemos um dia punk: acordamos em Delfos, visitamos o santuário de Apolo e nos perdemos três vezes no caminho para Atenas. Ainda assim chegamos a tempo de pegar o avião para Istanbul e cumprir tudo o o que planejamos para nossa última noite: banho no hamam de Cağaloğlu e jantar no Hamdi, que faz os melhores kebabs do mundo. Amanhã temos um voo de 13 horas e meia pela frente. O próximo post será do Brasil. Até já.

sábado, 27 de abril de 2013

EFCHARISTÓ

Para kaló. É impossível dizer "obrigado" em grego sem que a pessoa responda com essa expressão tão simpática, que quer dizer "de nada", "bem-vindo" e até mesmo "por favor". Aliás, simpáticos os gregos são mesmo. Ontem demos carona para um velhinho que desandou a falar como se estivéssemos entendendo tudo; quando desembarcou, ele ainda nos convidou para tomar um trago. Amanhã vamos embora da Grécia depois de dez dias muito intensos, e saio convencido de que este só não é um país latino porque a língua que eles falam não é latina. No jeito, na cara, na bagunça generalizada, os gregos são idênticos aos espanhóis ou italianos. Rodar o Peloponeso foi uma aventura, e olha que as estradas são boas e eles até dirigem bem (mas não dentro das cidades). O problema é a sinalização. Não porque esteja em grego, que a esta altura eu até consigo decifrar, mas porque simplesmente não existe. Some-se a isto os horários impossíveis e o clima de desolação por causa da crise, e a Grécia realmente não é dos lugares mais fáceis do mundo. Mas é deslumbrante, com um mar de um tom que não existe em nenhuma outra parte e o melhor iogurte do mundo. Quero voltar para conhecer as ilhas a que todo mundo vai, Mykonos e Santorini, e também Rodes, Tessaloniki, Meteora, o monte Athos... Mas agora preciso ir para casa. Não tenho mais roupa limpa e estou exausto Yia sas.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

OLÍMPIAAAAA

Meu primeiro contato com a mitologia grega foi através desse desenho animado dos anos 60, extraordinariamente tosco para os padrões de hoje. Os episódios com pouco mais de cinco minutos faziam uma salada grega dos deuses e heróis: Hércules precisa por um anel para ter superpoderes, Dédalo é seu arquiinimigo, sua namorada se chama Helena (de Tróia?) e ainda há uma criaturinha meio garoto, meio veado, com o improvável nome de Newton. Ainda assim, a fidelidade aos mitos originais era muito maior do que a daquele longa da Disney, e me atiçou a curiosidade desde pequeno. Hoje estivemos em Olímpia, a verdadeira, e claro que me lembrei do grito de vitória do Hércules da infância. Depois tive outro, o dos livros de Monteiro Lobato - que eu vou reler assim que chegar ao Brasil.

ALMOÇO EM FAMÍLIA

O que eu consegui depreender: a cantora se chama Katerina Stanisi e é uma superstar aqui na Grécia. O anunciante é a cadeia Jumbo, que eu ainda não entendi se é de supermercados ou de lojas de brinquedos. E o comercial passa sem parar na TV, além de ter uma versão para o rádio. Assista até o final!

quinta-feira, 25 de abril de 2013

A GIBRALTAR DA GRÉCIA

Outro lugar do qual eu nunca tinha ouvido falar até semana passada. Outro lugar pelo qual estou perdidamente apaixonado. O rochedo onde fica Monemvasia se tornou uma ilha depois de um terremoto no século 3 d.C., e voltou a se ligar ao continente depois que construíram uma estradinha no século 6. Na Idade Média surgiu aqui uma cidade fortificada bizantina, que depois caiu nas mãos dos turcos, depois dos venezianos, dos turcos outra vez e finalmente dos gregos, no século 19. Há uma parte alta quase toda em ruínas, onde só sobrou uma igreja ortodoxa. E uma parte baixa onde se concentram os hotéis, restaurantes e lojas, mas não entra carro. Tivemos que estacionar antes das muralhas e arrastar nossas malas pelo calçamento de paralelepípedo. Claro que valeu a pena: o lugar é surreal, em frente a um mar azul cobalto e, à noite e esta semana, debaixo de uma lua quase cheia. Só falta Afrodite emergir das águas. Opa, não falta mais.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

A PRIMAVERA FRANCESA

Fica a dica para manifestantes, revolucionários e quetais: não batizem seus movimentos de "primavera", porque dá uma uruca danada. A moda começou com a Primavera Árabe, que já se arrasta há mais de dois anos sem que nenhum dos países envolvidos tenha alcançado um mínimo de estabilidade (democracia, então, ficou para as calendas). O exemplo mais recente vem da França, onde a extrema direita e os religiosos acharam que seria um charme batizar com nome primaveril sua campanha contra o casamento igualitário. Só que, como diria o pessoal do "Porta dos Fundos", essa cambada perdeu rude. A igualdade matrimonial foi aprovada pelo parlamento com uma margem de mais de 100 votos, e a França agora está na ilustre companhia do Uruguai, da Nova Zelândia e de várias outras nações civilizadas. Aliás, está difícil registrar tanto avanço: toda semana tem algum lugar novo entrando para a lista, inclusive estados brasileiros. Por isto, deixa os pastores falarem merda por aí. A primavera deles vai terminar no verão do amor.

NANA EM EPIDAURUS

Ano passado o canal a cabo Globosat + exibiu a série "Joanna Lumley's Greek Odyssey", sobre a viagem à Grécia da eterna Patsy de "Absolutely Fabulous". Não vi tudo, mas assisti duas vezes ao episódio em que ela vai com Nana Mouskouri ao anfiteatro de Epidaurus. A veterana cantora grega estava com 77 anos na época da gravação (2011) e hoje quase não é mais conhecida no Brasil, mas vendeu toneladas de discos mundo afora até os anos 80 sem jamais tirar os óculos do rosto. Sua voz não é mais é a mesma, mas se presta maravilhosamente à demonstração da fantástica acústica do lugar. Ontem estivemos em Epidaurus e claro que cantamos também. Sim, existe um vídeo, mas não posso postá-lo aqui. Estou negociando os direitos com a BBC.

terça-feira, 23 de abril de 2013

NAFPLIO

Por que eu nunca tinha ouvido falar desse lugar antes? Quantas ruínas uma pessoa consegue consegue ver num único dia? Quantos degraus consegue subir? Por que colocam pimentão na salada grega, se ninguém come? Por que quase todos os museus gregos fecham às três da tarde? Por que alguns vendedores parecem odiar estar trabalhando, num país onde o desemprego é crescente? Qual era o mistério de Elêusis? Quem é esse santo que parece Jorge, mas ao invés de um dragão está matando uma pessoa? Por que os padres ortodoxos usam cabelo comprido preso num rabinho? De onde vêm tantos gatos e cachorros? Como se pronuncia a porra do nome desse lugar?

NA COVA DO RATO

Semana passada, Ratinho recebeu o Infeliciano no quadro "Dois Dedos de Prosa" de seu programa. Deu mais de meia hora para o pastor proferir os maiores absurdos e mentiras, sem contestar nenhuma delas. Mas também quis dar de equânime: repetiu que já havia convidado Jean Wyllys várias vezes, e que o deputado pelo PSOL-RJ nunca aceitou. Como o caldo está engrossando, Wyllys finalmente topou, e ontem lá estava ele diante das câmeras do SBT. Lúcido e esclarecedor como sempre, mas com menos da metade do tempo que o presidente da CDH teve uns dias atrás. Ratinho também parecia estar mais preocupado em cumprir tabela e pagar de imparcial, quando a gente está careca de saber que ele não é. De qualquer forma, é super importante que lideranças LGBT entrem no mano a mano com as camadas populares, mais permeáveis aos preconceitos e às difamações. Não adianta a gente ficar na torre de marfim: temos mais é que enfiar os pés na lama, se é para conquistar alguma coisa.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

SALVE O CORINTO

Creta é bem diferente da imagem que os brasileiros têm de uma ilha grega. Nada de casinhas brancas de telhado azul dependruadas sobre um precipício; nada da sensação de que Meryl Streep vai saltar na nossa frente cantando "Mamma Mia". O que há é uma paisagem incrível que mistura montanhas altíssimas e mar muito azul, além de cidades com nomes em 3D e sonoridades crocantes. Kritsá, por exemplo, não soa exatamente como uma aldeia perdida nas alturas cretenses? E ainda tem Ierápetra, Agio Nikolaios, Rhetymno e a maravilhosa Chaniá, além das ruínas do palácio de Knossos pertinho da capital, Iráklio. Escolhemos bem a nossa ilha, porque o tempo não ajudou: mesmo com sol, o vento zuniu impiedoso. Agora estamos de volta ao continente e começando nossa volta pelo Peloponeso. Hoje tomamos um chá de ruínas. Fomos a Corinto, Acrocorinto e Micenas, em meio a uma paisagem que realmente parece a da "Sinfonia Pastoral" do filme "Fantasia". Aqui sim, temos a sensação de que faunos vão surgir saltitando de trás de uma árvore.

domingo, 21 de abril de 2013

PODE ME BEIJAR NA SEGUNDA...

Passar alguns dias na Grécia, para mim, é ter a canção-tema de "Nunca aos Domingos" tocando sem parar no meu iPod mental. Também estou morrendo de vontade de rever o filme, uma comédia de 1960 que revelou Melina Mercouri ao mundo. Aliás, como tinha grego famoso naquela época, hein? Além de Melina, que se tornou ministra da Cultura de seu país e iniciou a campanha (até hoje mal-sucedida) pela devolução dos mármores do Parthenon pela Inglaterra, também havia Mikis Theodorakis, Nikos Kazantazkis, Michael Cacoyannis, Aristóteles Onassis, Irene Papas, Vangelis, Theo Angelopoulos, Nana Moskouris, Costa-Gavras... Alguns desta turma ainda estão vivos, mas é impressionante como faz tempo que a Grécia não lança um único talento de renome internacional. Enquanto isto não aocntece, o melhor é se deliciar com a versão definitiva de "Nunca aos Domingos, cantada pela über-glamorous Miss Piggy. Lembro de ter visto a cena na TV, nos anos 80, dublada em português: "pode me beijar na segunda, na terça, na quarta, mas nunca aos domingos..."

sábado, 20 de abril de 2013

JÁ TOMOU RETSINA?

Os gregos detestam admitir, mas a influência turca na cultura deles é imensa. Hoje, ouvindo a rádio de Creta, parecia que estávamos sintonizando Istambul: só quando alguém começava a cantar em grego é que percebíamos que a música vinha do lado de cá do mar Egeu. A culinária também é extremamente oriental, das entradinhas conhecidas como mezedés (que na Turquia se chamam mezés) ao ouzo, a aguardente com sabor de anis que é o mesmíssimo raki dos turcos. Mas há uma bebida que só existe aqui na Grécia: o retsina, ou vinho resinoso. A aparência é a de um vinho branco comum, mas o sabor, ao primeiro gole, é de coisa velha ou estragada. Tudo por causa da resina de pinheiro usada para selar as garrafas, uma técnica pré-rolha que data de antes de Cristo. Confesso que a primeira garrafa foi árdua de tomar. A segunda nem tanto. Vou me afundar na terceira?

ISTO PARA MIM É GREGO

Não sei porque esta expressão é sinônimo de coisa incompreensível. A língua grega me soa claríssima: é um raio de luz composto por fonemas bem definidos, muito diferente dos congestionamentos de consoantes das línguas germânicas ou eslavas. Não que eu entenda muita coisa do que eles dizem, hehehe. Ou melhor, até entendo: os gregos são tão expressivos e musicais quanto os espanhóis ou os italianos, e muitas vezes dá para sacar pelo menos o assunto das frequentes brigas que eles travam no meio da rua. Como sou muito metido, agora dei para ler em voz alta as placas e embalagens. Basta lembrar que o P é o R, o triângulo é o D e assim por diante. Fora que o português é tão entremeado de palavras gregas que nos parece até óbvio que pasta de dentes, por exemplo, se chame "odonto krema" por aqui. Menos evidente é a quantidade de marcas famosas de matriz grega: Galak, Ajax, Koleston, Kolynos, Oral-B, Bis e tudo o que usa as partículas "alfa" ou "mega". Por falar nisso, é difícil não rir quando eles chamam o elegante Hotel Grande-Bretagne, em Atenas, de Mega Bretannia.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

CRETA CONCRETA


Quase todos os brasileiros que viajam à Grécia vão às ilhas de Mykonos e Santorini. Nós também pensamos em seguir a boiada, mas aí lembramos que ainda é abril. O sol já saiu, mas ainda venta muito e às vezes chove o dia todo: ficar preso no hotel num lugar onde o único programa é ir à praia não me soam como férias adoráveis. Por isto escolhemos Creta como nossa aventura insular helênica. De longe a maior de todas as ilhas gregas, Creta tem cidadezinhas pitorescas e muitas ruínas da civilização minóica, a mais antiga da Europa. A escolha foi acertada. Hoje, apesar do tempo nublado e garoento, conseguimos visitar o que sobrou do palácio de Knossos e o museu arqueológico de Heráklion. Amanhã devemos dar um rolé de carro, quer chova ou faça sol. Mas estou rezando para fazer um calorão daqueles no domingo: eu adoraria pegar uma prainha.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

DODECADEÍSMO

Ou politeísmo helênico. Ou olimpianismo. Ou paganismo clássico. os gregos ainda não chegaram a um acordo sobre como querem chamar o revival da antiga religião do país, aquela dos 12 deuses do Olimpo e mais uma multidão de semideuses, faunos, nereidas, centauros, cíclopes, górgonas, ninfas, musas, mênades e titãs. O movimento faz algum barulho aqui na Grécia desde os anos 90 e já abriu até um templo em Saloniki, mas o número de adeptos passa pouco dos dois mil (e mais dez mil simpatizantes). Estou pensando em me juntar a eles: qualquer pretexto é válido para usar uns modelitos fabulosos e fazer gestos eloquentes.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

CENTAUROMAQUIA

Memso de férias na Grécia, ontem tive que passar meia hora assisitndo à entrevista do Infeliciano no "Programa do Ratinho". Quer dizer, não "tive": quis assistir, para escrever minha coluna de hoje no F5. Ela está tendo uma boa audiência, mas o preço disto foi passar o dia de hoje com as merdas que o pastor falou na cabeça. Como pode tanto cinismo, tanta ignorância, tanto oportunismo? Mesmo assim, fiz um passeio maravilhoso pelas ruínas de Atenas que culminou com uma visita ao Museu da Acrópole. O prédio é espetacular e o que está dentro mais ainda: kourei que emitem luz com seus sorrisos engimáticos, fragmentos arcaicos que ainda mostram um pouco de cor, cariátides limpas da poluição a raio laser. Um conjunto de alto-relevos dos frisos do Parthenon me chamou a atenção: eles mostram a "centauromaquia", a luta entre os homens e os centauros. Uma alegoria da eterna batalha entre civilização e barbárie. Os frisos não mostram um vencedor claro, porque esta guerra ainda não acabou. Escolha as suas armas.

VIGOR GREGO

Ando pelo centro de Atenas às dez horas da manhã de uma quarta-feira e me espanto: por que tão pouca gente na rua? Qualquer outra cidade estaria fervilhando a essa hora. Ainda mais desolador é ver tanta loja fechada em pontos supostamente nobres. Some-se a isto o aspecto decrépito de alguns prédios e não resta dúvida. A crise continua. Uma motorista de táxi nos contou que as pessoas já estão se acostumando a ter pouco dinheiro. O curioso é que os preços não baixaram; a Turquia, fora da zona do euro, está muito mais em conta do que a Grécia. Mas uma coisa continua inabalável por aqui, e bem que me avisaram: a beleza dos homens gregos. O nível é altíssimo, e mesmo aqueles que não são translumbrantes têm uma pegabilidade que os torna irresistíveis. Já me apaixonei umas sete vezes desde ontem. Será por causa do iogurte que eles tomam?

terça-feira, 16 de abril de 2013

ΓΕΙΑ ΕΛΛΆΔΑ

Conexão foi feita para perder mala. Morro de medo de fazer conexão. Hoje tivemos que fazer uma, em Istambul, vindos de Nevşehir, na Capadócia, e indo para Atenas. Não deu outra: uma das nossas quatro malas não chegou junto conosco. Mas hoje em dia tem tanto tracking e código de barras que é muito difícil uma mala sumir, e não é só porque sumiu a que tinha todos os presentes e o meu nécéssaire que eu não vou aproveitar meu primeiro dia na Grécia. Já viajei e conheço países bem fora de mão, mas nunca havia estado aqui antes. Todo mundo me preveniu contra Atenas: a cidade é horrenda, só tem a Acrópole, foge daí para alguma ilha asim que você puder. Acontece que Oscar e eu somos doidos por arqueologia (mais ele do que eu, verdade), portanto vir para cá é quase tão bom quanto ir ao Beto Carrero World nos anos 80. A arquitetura ateniense moderna realmente é de um sem-gracice ímpar: pense naqueles bairros de Buenos Aires onde brasileiro nunca vai. Mas cacete, é Atenas, e um reles rolé ao cair da tarde já foi um tapa na cara atrás do outro de tanta história. Fiquei especialmente encatado com a Torre dos Ventos. Voltamos cedo para o hotel, exaustos e felizes. E ficamos ainda mais quando a mala fujona chegou.

TEA, SUGAR AND DREAM

Hoje vamos embora da Turquia, e eu já estou com saudades. Meu, que país sensacional. Estivemos apenas em dois lugares, Istambul e a Capadócia, e a sensação é de que demos a volta ao mundo. Ao mesmo tempo, é tudo tão local, tão turco, que parece que não há outros países além deste. Para quem está planejando vir para cá, recomendo o primeiro guia escrito especialmente para o público brasileiro. As empresárias Dalal Achcar e Katia Mindlin Leite Barbosa são duas senhoras da sociedade carioca, e prepararam dois volumes riquíssimos de informações, ilustrações e endereços. É refrescante ler um guia de uma perspectiva feminina (a maioria é escrita da perspectiva de um mochileiro australiano). Algumas dicas são bem para peruas, mas o que me incomodou um teco foi o excesso de pontos de exclamação! Que deveriam ser usados com parcimônia! E também as reticências... tantas reticências... Outro defeito é o preço salgado (mais de 100 paus), mas se você for pobre é melhor ir para Araraquara, n'es-ce pas? Leia o volume grande antes de zarpar e traga só o fininho, com endereços úteis. Você vai dedicar mentalmente às autoras um obrigado em turco, teshekür ederim (pronuncia-se como o título do post).

segunda-feira, 15 de abril de 2013

JÁ TOMOU DONDURMA?

O nome significa simplesmente "sorvete" em turco, e os sabores não tem nada de exótico: baunilha, chocolate, morango, pistache, limão... Mas a textura é bem diferente. Tão espessa que quase que dá para comer com garfo e faca, e tão puxa-puxa que os vendedores fazem malabarismos para atrair os turistas. O segredo está no mastic, uma resina de árvore também usada naquele outro pilar da culinária turca, o lokum (mais conhecido no resto do mundo como "turkish delight"). Tenho provado tantas coisas novas aqui na Turquia que nem cabem nos posts: do pastirma da Capadócia, um primo do pastrami, ao refresco de rosas que as odaliscas tomavam no harém, às centenas de mezès irresistíveis que nos empanturram antes da chegada do prato principal, ao melado de uvas com que encharco o iogurte. Só não vou voltar mais gordo do que vim porque ando léguas todo dia.

99 LUFTBALLONS

Super fantástico amigo, que bom estar contigo no nosso balão. O piloto não teve dúvidas quando soube que somos brasileiros: tirou o mp3 player do bolso e tocou o clássico da Turma do Balão Mágico, a quase um quilômetro de alutra sobre a Capadócia. Parece que tantos turistas nossos conterrâneos cantaram a musiquinha infernal que o sujeito se deu ao trabalho de baixá-la da internet, só para avivar ainda mais o passeio. Não que precisasse: a experiência toda é sublime, desde o momento em que a van veio nos buscar no hotel às cinco e meia da manhã (e sim, fomos acordados pelo muezzin da mesquita em frente à nossa janela). Daí nos levaram à sede da companhia Royal Baloons, uma das muitas que existem por aqui, onde foi servido um lauto café da manhã e também um pouco de suspense. Havia chovido durante a noite e as condições não eram ideais, será que poderíamos transferir para amanhã? Nem pensar, nosso avião sai cedo. Mas aí o vento mudou e iupiii, lá fomos nós. Eu nunca tinha andado de balão e me borro de medo de altura, mas me senti curiosamente seguro - e isto apesar do horripilante acidente em Luxor, no Egito, ainda estar fresco na memória. A sensação é indescritível, porque não basta a paisagem ser digna de um quadro de Hyeronimous Bosch. De repente pipocam balões por todos os lados, de todas as cores, numa espécie de surrealismo por Walt Disney. Nosso piloto era um ás e tirava finas de cavernas e minaretes; depois subiu bem alto antes de pousarmos num campo recém-arado (nunca se sabe onde um balão vai aterrissar). No solo já nos esperava o pessoal de apoio com champagne e medalhas pela nossa bravura. A brincadeira custou caríssimo - quase o mesmo que as duas noites no hotel - mas valeu a pena. Sou feliz, por isto estou aqui.

domingo, 14 de abril de 2013

JORGE VEM DE LÁ DA CAPADÓCIA

Ele vem, nós vamos. Desembarcamos hoje em Nevşehir, vindos de Istanbul num voo que parte no cômodo horário das sete da manhã (o que significa que você tem que acordar às quatro). A primeira sensação é que chegamos a alguma antiga república soviética: a paisagem é toda em tons de bege e cinza, e modernos blocos de apartamentos populares estão sendo construídos. Cadê a Capadócia dos balõezinhos da novela, onde as pessoas andam fantasiadas? Está logo mais adiante, mas antes o motorista do táxi nos convenceu a fazer uma parada na cidade subterrânea de Kaymaklı. O povo antigo era realmente muito baixinho, porque em vários daqueles túneis eu tive que engatinhar. Depois tocamos para a cidadezinha de Uçhisar, um formigueiro humano. Aqui finalmente parece que entramos nas Mil e Uma Noites, pois há torres (que eles chamam de chaminés) por toda parte, escavadas e habitadas há milênios. Algumas têm vidros nas janelas e bandeiras do Galatasaray. Estamos hospedados num dos hotéis mais sensacionais de toda a minha vida, o Argos in Cappadocia, que na verdade são várias casas espalhadas pelas ruas da aldeia. Parece que alugamos um pied-à-terre na Anatólia. Como é baixa temporada, conseguimos um precinho ótimo no quarto mais simples deles, ainda assim decorado com supremo bom gosto. Há uma mesquita do outro lado da rua que irá nos acordar com o canto do muezzin às cinco da manhã, mas quem se importa? Amanhã temos que acordar cedo mesmo, vamos passear de balão!

(Reparou como todos os nomes turcos estão grafados corretamente, com s com cedilha (som de sh) e i sem pingo (som de ê, meio gutural)? E olha que não estou usando um teclado local. Eu sou terrível.)

sábado, 13 de abril de 2013

KEYIF

Encerramos ontem o longo trecho istambuliota da nossa viagem. Depois de seis intensos dias de muita festa e bateção de perna, atravessamos o Bósforo e agora estamos instalados num hotel à beira d'água, no lado asiático. Não há muito o que fazer por aqui além de provar o iogurte de Kanlica, considerado um dos melhores do mundo. Mesmo assim, inventamos programa e enfrentamos um trânsito horroroso em pleno sábado para visitar o pequeno palácio de Beylerbeyi, também conhecido como a fachada da casa do Mustafa Bey em "Salve Jorge". Agora estou largado sobre almofadas, e me sinto invadir por um sentimento tipicamente turco. É o keyif, de tradução tão difícil quando a nossa saudade. É mais do que preguiça: é languidez, torpor, estado de graça. Só por umas horas, porque daqui a pouco a maratona continua.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

TURKÇE POP


Sou doido pela música pop da Turquia. Que tem lá suas peculiaridades: há poucas bandas e muitos vocalistas solo, inclusive muitos rapazes que obviamente escorregam. Na minha primeira vinda para cá, conheci luminares como Tarkan e Sezen Aksu, que continuam firmes aí até hoje. Dessa vez, deixo a TV do hotel sintonizada no canal Kral Pop, a MTV local - um conglomerado de mídia que começou como rádio e hoje também inclui site e gravadora. Foi lá que conheci os dois clipes que ilustram este post. Não sei nada sobre os cantores. Só sei que ontem fiz a festa na D&R, a melhor loja de CDs (e livros, e DVDs) da Istiklal Cadesi, a mais agitada rua de comércio de Istanbul. Haja espaço na mala.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

TRADIÇÃO E RUPTURA

A maioria dos turistas desavisados acha que Istanbul se resume à área de Sultanahmet, onde se concentram as atrações mias populares, e pouco mais. Mas a cidade tem um lado contemporâneo que não para de crescer, com hotéis boutique, lojas de design e restaurantes prafrentex. A peça mais vistosa dessa coleção é o museu Istanbul Modern, que fica bem às margens do Chifre de Ouro e tem uma vista de tirar o fôlego. Tão formidável quanto seu acervo: um panorama da arte moderna da Turquia desde o final do sultanato, além de algumas obras internacionais. Impossível não pensar nos modernistas brasileiros, com quem os colegas turcos têm semelhanças e diferenças marcantes. Enquanto que Tarsila e sua turma queriam romper com a Europa e descobrir uma expressão autenticamente tupiniquim, os artistas daqui, num primeiro momento, queriam se europeizar. Não havia a figura do pintor independente durante a maior parte do Império Otomano, muito menos mercado de arte. Mas depois dessa fase, os turcos também contróem uma linguagem própria, e o resultado é tão variado e de boa qualidade como o de outros países periféricos. O Istanbul Modern pode ser visitado virtualmente aqui, em seu site.

FROUXOS DE RISO

Está no ar desde ontem a nova seção de humor do F5, a Factoides. Tem muita gente boa colaborando, como o meu protégé Diego Rebouças (do blog Câmera de Vigilância) - além de euzinho, por supuesto. Venha nos visitar.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

BORRA MEU

Sou daqueles céticos que não resiste a um adivinho. Já me consultei com cartomante e astrólogo, mas nunca me tinham lido a borra. Pois é: hoje em Istanbul uma senhora leu os resíduos da minha xícara de café turco, devidamente chacoalhados e girados na minha direção. Ela disse que minha vida pessoal está OK e que todos meus esforços estão voltados para o trabalho neste momento. Também disse que estou na dúvida entre vários projetos, mas que escolherei um assim que voltar ao Brasil. A gente nunca sabe o quanto essas mulheres deduzem da sua aparência ou dos pequenos sinais inconscientes que você envia, mas a amiga que me recomendou disse que a fulana é quentíssima e acerta tudo. De qualquer forma, ouvir coisas boas faz bem para o moral, ainda mais nesse cenário de mil e uma noites.

VOCÊ PARECE A FERNANDA LIMA

Há muitas diferenças visíveis entre a Istanbul que eu conheci há mais de 14 anos e esta em que estou agora. Elas vão muito além dos novos arranha-céus e da invasão de Starbucks. A fauna que circula pela cidade também mudou. Agora,como em muitas outros lugares da Europa, também há dezenas de negros africanos. Outra coisa que salta aos olhos a quantidade de muçulmanos linha-dura: os homens de barbas longuíssimas, as mulheres cobertas de negro dos pés à cabeça. Mas, para um brasileiro, nada é mais perceptível que as presença maciça dos nossos conterrâneos. Agora, graças à novela e aos voos diretos, estamos por toda parte, das filas para entrar na Hagia Sofia (que nem existiam antes) aos corredores do Grand Bazar. Claro que os vendedores também já perceberam, e aprenderam algumas palavras em português. É difícil andar pelo mercado sem ouvir gritos de "amigo", "oi, tudo bem?", "por favor" e "obrigado". Teve um até que, sem nunca me ter visto antes, arriscou me chamar de "Antonio", e acertou. Soa simpático num primeiro momento, mas na décima-sétima vez a gente já quer jogar todos no Bósforo amarrados à cabeça da Medusa. Se bem que há momentos impagáveis: um comerciante de tapetes achou que seduziria uma amiga minha, morena e de cabelos curtos, ao dizer que ela se parecia com Fernanda Lima, de quem obviamente ele jamais viu uma foto sequer.

terça-feira, 9 de abril de 2013

NOS BANHOS DE ROXELANA

Vir a Istanbul e não visitar um hammam é pior do que não subir na Torre Eiffel em Paris. Na torre não tem um turcão fortão esfregando você com uma bucha, nem estalando seus dedos um por um, nem lavando seu cabelo com shampoo. Quando estive aqui em 98 conheci dois bem antigos, antepassados das nossas saunas. Agora fui ao Hürrem Hakesi Sultan Hamami, a nova sensação da cidade, bem em frente à catedral de Hagia Sofia. O prédio foi construído no século 16 pelo badalado arquiteto Sinan especialmente para Roxelana, a favorita do sultão Solimão. Caiu em ruínas e, depois de uma reforma modernizante (que no entanto preservou as linhas originais), reabriu em 2011. Meu pacote dava direito a banho turco, massagem, esfregadas vigorosas e uma coisa que eu nunca tinha visto: um edredom de espuma morna, como este que aparece na foto. O turcão fortão enche um saco de pano num balde com água e sabão e depois espreme o conteúdo sobre o seu corpo, que fica parecendo o de uma estrela de cinema num comercial do sabonete Lux. Depois ele também espreme cada músculo do seu corpo, e é claro que há uma certa conotação erótica. Mas o que importa mesmo é a sensação de limpeza e relaxamento depois da sessão. Quero fazer todo dia.

JÁ TOMOU SAHLEP?

Nunca tinha ouvido falar em sahlep, mas descobri que é consumido da Grécia ao Irã, do Azerbaijão a Israel. É uma farinha extraída a raiz de uma orquídea - falando assim, soa como ingrediente de poção de bruxa. Mas é usada em doces e, principalmente, misturada com leite, canela e açúcar. Tomei ontem na rua, comprado de um vendedor ambulante, e queimei o céu da boca de tão quente que estava. O gosto? Parece um arroz doce líquido.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

FOI SÓ EU VIRAR AS COSTAS

Saí do Brasil na madrugada de sexta para sábado, antes das revistas "Época" e "Veja" chegarem às bancas. Mas embarquei sabendo das capas de ambas, que já estavam pipocando no Facebook. Tentei ler as matérias pela internet daqui da Turquia, mas não consegui: alguém tem um link bacana? Imagino que estejam para lá de simpatizantes, apesar do site da "Veja" contar com aquele blog que exala pus, o do Reinaldo Azevedo (não tive estômago para ler). Dessa vez, não sou eu quem vai comentar as reportagens: conta aí para mim o que você achou nos comentários. E, se você morar em SP e for uma alma especialmente caridosa, compra as revistas para mim? Trago uma caixinha de lokum para você.

YOU SPIN ME ROUND

Muito difícil não acreditar em Deus depois de ver os derviches dançando.

CAFÉ DA MANHÃ COM O SULTÃO

A Turquia é um bombardeio de cores e aromas, uma avalanche sensorial que supera qualquer clichê. Impossível andar pelo Bazar das Especiarias (ou Egípcio, como eles chamam por aqui) sem sair tonto com tanta informação. O estranhamento já começa de manhã cedo: onde mais se come tomate, pepino e azeitona no café da manhã? Que também inclui iogurte, mel em favo e chá, bem escuro e bem doce. É o popular "ottoman breakfast" - ou "eu tomâno café".

domingo, 7 de abril de 2013

EIS TIN POLIS

"Para a cidade". "Na cidade". "A cidade". Era mais ou menos assim que os gregos medievais se referiam a Constantinopla. Os turcos entenderam mal e acabaram rebatizando o lugar com uma corruptela, "Istanbul". Vim para cá pela primeira vez em 1998. Desde então, a cidade entrou na moda, surfando na boa fase econômica da Turquia. Há novidades por toda a parte: do enorme aeroporto às dezenas de prédios modernos, além de muitos hotéis, restaurantes, galerias, o escambau. Também há um voo direto para o Brasil, que teoricamente sai de São Paulo às três da manhã. O nosso atrasou porque vinha de Buenos Aires, onde chovia muito, e partiu às quatro - um horário surrealista, com direito a café da manhã após a decolagem. Chegamos às 22h, hora local, e depois da meia-noite em nosso hotel, em Sultanahmet, o coração da cidade. Ainda tínhamos o plano de encarar a night (tem uma boate com o sugestivo nome de X-Large), mas quem disse que econtramos forças? Bora dormir, que amanhã tem mais. Güle güle.

sábado, 6 de abril de 2013

ESSE CARA SOU EU

Ai, amiga, me aconteceu uma coisa tipo assim incrível. Eu estava dançando na praia com as outras amigas, só no lek lek lek. Aí fiz o quadradinho de oito e uma moça super simpática veio falar comigo. Ela disse que eu arraso na dancinha e me convidou para fazer um teste. Adivinha: passei! Vou fazer shows na Turquia e ganhar muito dinheiro. Depois eu te passo o contato da moça! Agora preciso correr, porque meu voo sai daqui a pouco. Será que eu vou conseguir postar de Istanbul? Ainda bem que todo mundo fala português por lá.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

ANGEL Y EL NENE

A revista "Out" adora fazer listas: as músicas mais gays de todos os tempos, os atores mais magia, os chicletes mais desmunhecados. A da vez é das cenas gays mais sexy do cinema (não pornô): todas as 30 podem ser vistas no site da revista, mas a que emplacou o primeiro lugar está aí em cima. Concordo plenamente, ainda mais porque o filme argentino "PLata Quemada" é um dos meus favoritos de todos os tempos. Estrelado por meu noivo secreto Eduardo Noriega, conta a história de dois bandidos apaixonados (com os singelos nomes de Angel e El Nene) que termina em chamas. Nunca viu? Procure, te va a gustar muchissimo.

ALÉM DOS AVIÕES DE CARREIRA

Estou com a nítida sensação de que dobramos uma esquina. Esse momento já vinha se anunciando há algum tempo. Talvez tenha começado com a gritaria em torno do Bolsonazi. Depois ganhou impulso com a reação ao infame artigo das cabras assinado por J. R. Guzzo na "Veja", em novembro do ano passado - tão forte que a própria revista se surpreendeu. E agora se cristalizou, com a indicação do Infeliciano à presidência da CDH, as trapalhadas de Joelma e a explosão do amor de Daniela Mercury. Sim, é óbvio que o pastor-deputado está se beneficiando desse escândalo todo, e será reeleito com votação recorde no ano que vem. Virou uma figura de projeção nacional. Mas só celerados como Burraquel Burrahazade ou Mala-sem alça-faia saíram em sua defesa (este último, em artigo na "Folha" de hoje, onde repete a barbaridade que seu colega não é homofóbico ou racista só porque nunca matou nenhum gay ou negro). De repente, finalmente, uma parede de celebridades se ergueu, juntando-se ao coro dos revoltados nas redes sociais. E não foi só isto, e não foi só aqui. Há algo de novo no ar, além dos aviões de carreira. Quem não se emocionou com o Magic Johnson defendendo o filho gay? Além disso, o fato da Suprema Corte americana estar examinando a constitucionalidade das proibições estaduais ao casamento igualitário provocou uma maré vermelha nos ícones do Facebook, e contagiou várias empresas. Inclusive brasileiras: Itaú, Ponto Frio, Lacta, a lista aumenta todos os dias. Ontem foi a vez da rede Mercure, que numa simples resposta ao Rafinha Bastos (para variar, ele não percebeu para onde o vento sopra), se transformou na cadeia de hotéis mais cool do mundo. Os preconceituosos estão atordoados com essa mudança tão rápida, e revelando-se em lugares inesperados. Vi uma bicha supostamente moderna dizendo que os protestos contra os fundamentalistas "já encheram", e uma amiga hétero reclamando que Daniela "expõe demais sua intimidade" (se a cantora tivesse apresentado um novo namorado, ninguém daria a mínima). Azar deles: o bonde da história não para duas vezes no mesmo ponto.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

ALEXANDRE, O GRANDE

Esta semana não está divertidíssima? Nem estou dando conta de tanta agitação. Cada vez mais aliados aderem ao lado do bem: Bruno Gagliasso beijando Matheus Nachtergaele, Ivete Sangalo apoiando Daniela, Joelma em paradeiro desconhecido... Disse que a cantora do Calypso é homofóbica na minha coluna de hoje no F5 e fui interpelado no Twitter por idiotinhas que acreditam que a homofobia só se confirma quando implicar em violência física. Acorda, Braseeel! E nisso tudo ainda teve o totoso do Alexandre Nero com um #EPIC WIN sobre uma reacionária no Instagram. Perdeu uma fã e ganhou outros sete milhões.

PERFEITO CAIMENTO

Achei que o novo "Saia Justa" estreou meio estridente, com as quatro novas integrantes falando todas ao mesmo tempo. Mas depois de um mês no ar o programa já encontrou seu tom, e ontem teve um ponto alto: a participação de Jean Wyllys falando sobre casamento igualitário. Cada vez que vejo o Jean, eu me embeveço com sua lucidez e coragem, e me arrependo de não tê-lo levado a sério na época do "BBB". Ele é hoje, de longe, o mais destacado líder brasileiro da causa LGBT. Infelizmente, o GNT não disponibiliza o programa todo em seu site, então quem quiser ver na íntegra vai ter que apanhar alguma reprise. Mas aqui vão duas palhinhas da edição de ontem, que Astrid Fontenelle dedicou, via Twitter, a Daniela Mercury (a gravação foi segunda, antes da cantora se assumir).
ATUALIZAÇÃO: A entrevista completa do Jean Wyllys no "Saia Justa" pode ser vista aqui, no YouTube. A qualidade da imagem não é das melhores, mas o conteúdo é show. E obrigado ao Surfer pela dica preciosa!

quarta-feira, 3 de abril de 2013

PONTE AÉREA DOS FUNDOS

"Vai que Dá Certo" tem uma piada adicional apra quem mora em São Paulo: um bando de atores carioquíssimos tentando falar com sotaque paulistano. É o que acontece quando uma produção que nasceu no Rio consegue dinheiro do governo paulista, com a condição de filmar na Pauliceia. Alguns dos atores até que soam convincentes, dando a impressão de que tiveram aulas com um "coach" de prosódia. Outros, como Bruno Mazzeo, não escapam da caricatura grosseira - talvez de propósito, não sei. O filme já um sucesso de bilheteria e é o primeiro a contar com Fábio Porchat e Gregório Duvivier depois do estouro do "Porta dos Fundos" na internet. Há muitas tiradas engraçadas que poderiam estar nos esquetes da trupe, mas quem for ao cinema esperando rir desbragadamente por uma hora e meia vai se surpreender com a barra realmente pesada da trama. Um bando de amigos duros se envolve num assalto, meio por farra, meio por necessidade; a brincadeira parece que vai terminar em sangue diversas vezes. "Vai que Dá Certo" não é nenhuma obra-prima, mas é um honesto produto comercial. E é sempre fofo ouvir carioca falando "noveeeenta".

O CANTO DESSA CIDADE É MEU

Obrigado, Daniela, por ter tido a coragem de mostrar sua linda esposa nesse momento. Imagino até que não foi de propósito, mas não poderia ter vindo em melhor hora. Você é uma ótima cantora, uma artista inquieta e um ser humano incrível. Com essa atitude singela, você honra seus fãs e, ouso dizer, o Brasil.

Ah, e para deixar este dia ainda mais agradável: como eu já havia cantado a bola anteontem, o filme sobre a banda Calypso foi definitvamente cancelado. Nenhum patrocinador quer associar seu nome ao da ignorante Joelma. Tome, jegue!

terça-feira, 2 de abril de 2013

NOT THAT THERE'S ANYTHING WRONG WITH THAT

"Os gêmeos do Chandler e da Monica fariam 9 anos em 2013. Os trigêmeos da Phoebe, 14. O Ben, 19, e a Emma, 11". Este tuíte que fez sucesso uns meses atrás poderia ganhar um acréscimo: "The Outing", um dos episódios mais clássicos de "Seinfeld", completa 20 anos esta semana. Lembra qual é? Aquele que cunhou uma catchphrase usada até hoje, a célebre "não que haja nada de errado com isto". O roteiro é um primor: uma repórter ouve Jerry e George discutindo na lanchonete, e acha que os dois formam um casal gay assumido. Como isto ainda era relativamente raro em 1993, ela marca uma entrevista com os dois. O tempo passou, muita coisa mudou, outras nem tanto: até hoje os héteros ficam incomodados de serem confundidos com homos, mas felizmente a frase lançada pela série está cada vez mais comum. Não é mesmo, Joelma?

I WANT TO RIDE IT WHERE I LIKE

Estou muito chocado com a morte dessa diretora de TV, atropelada por um ônibus enquanto andava de bicicleta no Leblon. Eu não a conhecia, mas tínhamos muitos amigos em comum - inclusive meu irmão, com quem ela trabalhou muitos anos. E assim, pela primeira vez, esses estúpidos acidentes cada vez mais frequentes em SP e no Rio atingem uma pessoa relativamente próxima a mim. Longe de mim querer por a culpa na vítima, mas vem cá: não é arriscado demais enfrentar de bike o nosso trânsito? Sei que corro o risco de ser apedrejado nos comentários e que faltam prudência, cuidado e civilidade aos nossos motoristas. Mas juro que, se eu tivesse um filho adolescente, iria proibi-lo de ir de bicicleta à faculdade. Ele não estaria mais seguro do que se fosse disputar espaço com carros e caminhões a bordo de um patinete. Devo estar mexendo num vespeiro, mas acho perigosa a insistência dos ciclistas em encarar ruas movimentadíssimas e sem ciclovias. Por outro lado, é ótimo que o façam: assim como entre os gays, é se expondo e exigindo direitos que se conquista alguma coisa. Mas eu morro de medo.

VICIADOS DE PLANTÃO

Isto vai ficar com a maior cara de post comprado - e o pior é que eu não estou recebendo um tostão por ele. Mas o fato é que a minha vida mudou depois que eu assinei o Netflix. A relação custo-benefício é excepcional: por menos de 17 reais por mês (o preço acabou de subir), o site dá acesso a uma imensa locadora virtual. Não, não tem tudo, mas tem muita coisa. Estou aproveitando para assistir desde o começo séries que, por uma razão ou por outra, nunca assisti na TV. E me maravilhando com "Breaking Bad", por exemplo, uma lacuna imperdoável no meu currículo. Mas minha favorita é "Nurse Jackie", a ácida comédia hospitalar estrelada pela fabulosa Edie Falco (da "Família Soprano"). A personagem é um poço de contradições: uma enfermeira no bullshit, que não tolera frescura e vai sempre direto ao ponto, ao mesmo tempo em que mente para todo mundo. Jackie é viciada em analgésicos, trai o marido com um farmacêutico e inventa que aquele rapaz que chegou morto ao pronto-socorro era doador de órgãos. Ninguém sabe tudo a respeito dela. Há um quê de muito católico na série: não só as imagens de santos nos corredores do hospital, mas o próprio conflito entre os apelos da carne e a necessidade imperiosa de se fazer o bem. Pronto, viciei também.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

INSCRIÇÕES ENCERRADAS

Corre, porque você só tem até a meia-noite de hoje para inscrever seu vídeo no YouTube. Depois disto o site sai do ar e só volta daqui a dez anos, anunciando o vencedor - que ganhará 500 dólares e um tocador de mp3. Vai!

AINDA NÃO CAPTARAM

Ontem eu entrei numa discussão pelo Twitter com um fã da Joelma. O garoto defendia a moça com unhas e dentes, repetindo que a revista "Época" distorceu as palavras dela. A cantora do Calypso pode até não ter dito que drogados e homossexuais são a mesma coisa, mas defendeu várias vezes a absurda "cura gay". É aí que mora o perigo: as declarações dessa tonta não afetam em nada a minha vida, mas causam um desserviço incomensurável entre a garotada sem acesso à informação.  Hoje fiquei sabendo que os produtores do filme sobre a banda não conseguiram captar toda a grana necessária. Agora é que não vão captar mesmo, pois nenhuma marca importante vai querer se associar a um projeto desses. Ainda mais depois de tantos anunciantes estarem apoiando abertamente o casamento igualitário. Quero ver os evangélicos boicotarem todos!

SHEHERAZADE, C'EST UN GARÇON

O ser humano é o animal que conta histórias. Estou cada vez mais convencido de que esta é a definição definitva da nossa espécie: o único traço que nos diferencia dos macacos e borboletas. E é sobre a infinita fascinação que as histórias exercem sobre nós de que trata "Dentro da Casa", talvez o filme mais original do ano até agora. Um aluno do colegial começa a escrever redações sobre a intimidade da família de um colega de classe; o professor e sua mulher ficam cada vez mais intrigados pelo desenrolar da trama, como no conto do sultão e Sheherazade (a das "Mil e Uma Noites", não aquela babaca do SBT). A partir de certo ponto fica claro que o rapaz inventa muita coisa, mas não o que é mentira e o que é verdade. Sem grandes invecionices de câmera, François Ozon - de longe o cineasta francês mais interessante da atualidade - dirigiu um filme brilhante, que parece uma mistura de dois clássicos absolutos do cinema: "Teorema" e "A Malvada". E ainda tem Kristin Scott-Thomas, uma das minhas atrizes favoritas ever. Para quem gosta de levar os neurônios ao cinema.