Na mesma semana em que a "Time" lançou sua histórica capa dupla sobre o casamento gay, a "Época São Paulo"- suplemento da revista que circula apenas na capital paulistana - teve uma ideia semelhante para o mesmo tema. Mas o resultado, ainda que bonito esteticamente, ficou com cara de anúncio de motel ou de lingerie. É obviamente uma imagem produzida por homens héteros para agradar a outros homens héteros, sem quase nada a ver com a realidade de um casamento entre pessoas do mesmo sexo. O blog "Faz Caber", que integra o site da revista, explica em detalhes o processo de criação da capa, e, sem querer, ilumina a falta de noção dos envolvidos. Por que chamar duas modelos menores de idade, que não poderiam se beijar em frente às câmeras, se a ideia era reproduzir - ou "sugerir", como defendem os autores - um beijo homossexual? Por que a capa com dois homens foi arquivada? Só porque é "clichê"? A matéria lá dentro até que é bem feitinha e simpática à causa, mas um assunto dessa importância merecia um tratamento visual menos apelativo e mais consequente. Ainda assim, a linha editorial da "Época" continua alguns anos-luz à frente da "Veja".
Quis o destino que este mesmo número da revista trouxesse, na coluna de Bruno Astuto que é veiculada no caderno nacional, a famigerada declaração de Joelma contra os gays. É contra, sim senhora: qualquer pessoa que se diga contrária ao casamento igualitário ou favorável à "cura" da homossexualidade é homofóbica, e, portanto, um inimigo a ser combatido. O Infeliciano deixou claríssimo, na entrevista a Danilo Gentili, que não se considera homofóbico só porque não sai com um cajado na rua para bater nas bibas: infelizmente, uma enorme proporção de brasileiros concorda. Acham que basta não recorrer à violência física para não serem preconceituosos. Um amigo que está trabalhando no roteiro do longa sobre a banda Calypso (com Débora Secco no papel da cantora) me contou que, em pessoa, Joelma é uma fofa e suuuuper amiga da bicharada. Só que não, né? Declarações estúpidas como esta vieram num momento péssimo, quando artistas "de elite" como Fernanda Montenegro ou Wagner Moura se posicionam abertamente em favor da igualdade. Joelma, como toda evangélica que se preza, converteu-se num momento de desespero: ainda estou para conhecer alguém que adotou alguma religião quando estava numa boa, feliz e bem alimentado. Suas palavras demonstram uma ignorância abissal, compreensível para alguém que vem das camadas mais pobres e abandonadas do nosso país, mas imperdoável para uma artista com tantos anos de carreira e forçosa convivência com gays de todos os matizes. Agora já tem neguinho na internet pedindo para "respeitarem a opinião" dessa idiota: desculpa, não vou respeitar alguém que quer que eu me separe do meu marido de 23 anos só porque o ganancioso do pastor mandou. Joelma, com suas roupas de piranha e sua ideologia desmiolada, é o retrato acabado do que o Brasil tem de pior. Precisa ser internada numa clínica para se curar da burrice e do fanatismo. Que Deus a perdoe - eu não consigo.
domingo, 31 de março de 2013
sábado, 30 de março de 2013
WE'RE OFF TO SEE THE WIZARD
Levei quase um mês para ir ver "Oz, Mágico e Poderoso". Não estava com a menor pressa. Além disso, tenho a maior preguiça do mundo para essas versões modernas de historinhas infantis. Mas esta tem direção do Sam Raimi e elenco considerável. E não é que gostei mais do que eu esperava? O ritmo da história podia ser um pouquinho mais rápido, mas o 3D funciona bem. Assim como o suspense em saber qual das três feiticeiras - Michelle Williams, Mila Kunis e Rachel Weisz - se tornará irremediavelmente má (e morrer derretida por Dorothy, na "sequel" produzida há mais de 70 anos). James Franco era a terceira opção dos produtores (atrás de Johnny Depp e Robert Downey Jr.), mas tem um sorrisinho cafajeste que combina perfeitamente com o mágico charlatão que é levado por acaso para uma terra encantada. Mas a triste verdade é que o melhor ator de todos é o macaquinho alado feito em computação gráfica, mais expressivo do que o Nasser do "BBB13".
sexta-feira, 29 de março de 2013
LOS RIOPLATENSES
Não tenho muito a dizer sobre "Presente", o terceiro trabalho do coletivo Bajofondo. Só que eles são minha banda favorita no momento e que o disco é o melhor do ano até agora. Dessa vez não há convidados especiais, só os oito membros fixoa, que não se definem mais como argentinos e uruguaios - são rioplatenses. O novo CD vai muito além dos clichês do tango eletrônico, e é um produto de exportação mais empolgante que o papa Francisco.
GENTE LESA GERA GENTE LESA
Para quem não viu, lá vai a entrevista de Danilo Gentili com o Infeliciano exibida ontem. Para quem quer saber o que eu achei, aqui está minha coluna no F5.
JOGA PEDRA NA GENI
"Depois de Lúcia" é um dos filmes mais desagradáveis do ano. Há cenas de bullying tão incômodas que dá vontade de pegar o controle remoto e apertar o FF. A direção lacônica do mexicano Michel Franco tampouco abre concessões: há longos planos com a câmera parada, e muita coisa importante acontece fora de cena. O filme foi o escolhido pelo México para representá-lo no último Oscar e trata de um assunto super atual. Uma garota proviniciana se muda para a capital, entra para um colégio de elite e logo se enturma. Viaja com os novos amigos e dá uns pegas num deles no banheiro. O moleque filma tudo e posta na internet. O colégio inteiro vê a cena e se volta contra a moça, que aguenta as piores humilhações sem reclamar - talvez por não querer chatear o pai, ainda estressado por ter estado no acidente de carro que matou a mãe (a tal da Lúcia do título, jamais citada nominalmente). A atitude estóica da garota lembra a do protagonista de "A Caça", que é acusado injustamente de pedofilia. (quem quiser sofrer bastante no cinema, pode fazer um programa duplo e ver ambos no mesmo dia). Essa passividade torna difícil nos simpatizarmos com ela, mas também conduz a um grande mal-entendido que desemboca no chocante final, de um pessimismo absoluto. Moral da história: ser humano não presta. "Depois de Lúcia" é para quem estômago e cabeça.
quinta-feira, 28 de março de 2013
ATEUS, SAIAM DO ARMÁRIO
Eu não sou ateu. Mas tenho até vontade de me passar por um, para afrontar essa maré obscurantista que enlameia o Brasil. A jornalista Eliane Brum, uma das minhas "ídalas" atuais, conta nesta coluna como foi seu embate com um taxista evangélico - que era até boa praça, mas tentou convencê-la a "receber Jesus". Elaine diz que é atéia e que têm muitos amigos que tampouco acreditam em Deus. Diz também que vários deles andam evitando se admitir como tal, ou falando apenas que são "agnósticos" (um termo complicado, que muitos da manada neopentecostal não sabem o que quer dizer). Pois eu acho isso perigosíssimo. Temos mais é que enfrentar essa corja de frente, com todas as letras. Como gay assumido há quase 40 anos, sei muito bem que é só saindo do armário e tendo orgulho de ser o que se é que se derrota o preconceito. O ateísmo sofre discriminação em quase todo o mundo, mas tem posto a cabecinha de for anos últimos tempos e aqui não tem como ser diferente. Aliás, sinto que o Brasil vai repetir o que se passou nos EUA uma década atrás. Lá por 2004, com o apoio explícito do governo Bush, parecia que os fundamentalistas estavam a ponto de transformar o país numa teocracia. Deu no que deu: duas vitórias consecutivas de Obama e até alguns líderes religiosos repensando seus dogmas. Oremos para que isto aconteça por aqui.
TIME IS ON MY SIDE
A Suprema Corte dos Estados Unidos começou a julgar esta semana a constitucionalidade do casamento igualitário no país - ou melhor, a das leis que proíbem o casamento igualitário. O veredito só deve sair em junho, mas grande parte da mídia já está dizendo que ele nem importa mais. A capa dupla da revista "Time" é exemplar. Desde que o presidente Obama se declarou favorável aos direitos iguais no segundo semestre do ano passado, a coisa virou uma bola de neve, com cada vez mais artistas e políticos declarando apoio explícito. Até o partido Republicano já percebeu que precisa rever suas posições, depois que levou uma tunda dos jovens nas últimas eleições. Enquanto isto - lá vou eu com mais um triste "enquanto isto" - aqui no Brasil a TV ainda mostra gente dizendo que preferia ver o filho morto ou preso do que gay. Mas ainda resta uma esperança. Acho que Marco Feliciano realmente só ganhou projeção com esse escândalo em torno de seu nome e que já está mais do que reeleito, mas o episódio também serviu para acordar quem prefere um país laico. Os fundamentalistas estão tomando de assalto nossas instituições, com o apoio sorridente do PT. A CCJ aprovou a absurda proposta que permite às igrejas decidir pela consitucionalidade de novas leis: espero que o Senado derrube-a, ou que a covardona da Dilma a vete. Aliás, que decepção essa nossa presidenta, hein? Política inábil, má oradora, gestora incompetente e durona só da boca para fora. E aê, querida?
CANÇÃO DO EXÍLIO
Domingo passado, à noite, eu postei no Facebook a tal da foto do Lucas Kubitschek pelado. Aquela, em que ele cobre com as mãos as partes pudendas: se você ainda não viu, ela ilustra um post aí embaixo. Na segunda de manhã, tentei me conectar e recebi um aviso de que não só meu "conteúdo" havia sido removido como eu estava bloqueado por três dias, por não ter respeitado as regras de boa conduta da rede. Regras estas que são incoerentes e confusas: páginas que incitam o racismo e a homofobia continuam no ar mesmo depois de denunciadas, enquanto que uma charge da revista "New Yorker" foi excluída porque mostrava Eva de mamilos de fora (na verdade, dois pontinhos pretos). Até essa norma pró-moral e bons costumes é furada: postei uma fotdo daquela atriz de "Girls" com os peitos cobertos de porra e não aconteceu absolutamente nada. Hoje, passados três dias do meu exílio, tentei me conectar novamente - e descobri que não posso postar nada na minha linha do tempo POR MAIS TRÊS DIAS. Pelo menos posso ler o que as pessoas estão escrevendo, e também receber e responder mensagens. Mas não é um pouco demais? O Facebook aplica no mundo inteiro aquele dúbio padrão americano: total liberdade de expressão, mas restrições a imagens do mais leve cunho erótico. Há uma página do braço da al-Qaeda na Somália que postou semana passada as fotos de um adolescente gay apedrejado: ainda está lá, sem maiores problemas. Há centenas de fanpages do Infeliciano, do Bolsonazi, do Malafaia, todas destilando ódio e todas alegremente no ar. O Facebook tem um gay assumido entre seus sócios e faz campanha aberta pelo casamento igualitário nos EUA; no entanto, acha lindo que grupos que pregam o preconceito e a violência continuem usando-o à vontade. Já uma foto de um pau murcho, no escuro e coberto por duas mãos, não pode... Ao invés de reformular o lay-out a cada dois meses, o FB tinha mais é que revisar seus parâmetros. Claro que eles não podem ser adequados à cultura de cada país, mas os lugares mais melindrosos - como Cuba, China ou Irã - já censuram a rede por contra própria. Enquanto isto, até o próximo domingo eu não poderei dar um mísero "like" nas fotos dos novos penteados dos amigos, nem mandar parabéns em línguas exóticas para pessoas que nem conheço.
quarta-feira, 27 de março de 2013
BEIJA EU
Ai que vontade de me me imiscuir nesse delicioso beijo lésbico, me lambuzar de amor e de talento, só para depois esfregá-lo na cara dos fundamentalistas que estão tentando dar um golpe branco nas nossas instituições. Fernanda Montenegro e Camila Amado me representam! E o Infeliciano pode até criar raízes na CDH, mas há um novo fato político no ar: começou a reação de boa (aliás, da boa) parte da sociedade contra os charlatães religiosos e os brucutus ideológicos. Fiquem ligados, políticos que permitem acordos como o que levou o PSC à Comissão. Vocês estão todos com a cabeça a prêmio.
GOING COMMANDO
Jon Hamm levou uma advertência dos produtores de "Mad Men": comece a usar cuecas! O ator mais gostoso do mundo tem o hábito salutar de "go commando", que é como os americanos chamam a falta de roupas de baixo. Acontece que os figurinos da nova temporada de seu programa refletem a moda de meados dos anos 60, quando as calças ficaram mais justas. Infelizmente, não veremos na TV o que pode ser visto no meio da rua - como nesta da foto aí em cima, que rodou as internets no final de 2012. Sim, é antiga, mas quem está reclamando?
terça-feira, 26 de março de 2013
ONDE DÓI MAIS
Lech Walesa está descobrindo como é ruim ser homofóbico no lugar mais doloroso possível: seu bolso. O ex-líder do movimento Solidariedade (que foi fundamental para derrubar o comunismo na Polônia) e ex-presidente de seu país teve duas palestras canceladas nos Estados Unidos por causa de suas declarações contra os gays na semana passada. A fala de Walesa não trouxe nenhuma novidade: ele é católico fervoroso e, como muitos eslavos de sua geração, tem ojeriza a qualquer desvio do padrão heteronormativo. Mas os tempos são outros, e babacas como ele estão percebendo que não podem mais falar merda sem sofrer as consequências. Cada uma das palestras canceladas lhe renderia 70 mil dólares... Sem ver a cor do dim-dim, ele agora se diz "perseguido e castigado" pelos malvados gays, a cantilena típica dos preconceituosos que se sentem tolhidos em sua "liberdade de expressão". Pois eu digo: bem-vindo ao século 21. E fica esperto, porque ainda dá para tomar de volta seu Nobel da Paz.
FUNK OSTENTAÇÃO
Imagine se Riquinho Rico resolvesse gravar um disco. Ele contrataria os melhores produtores do mundo, gastaria milhões na produção requintada e cantaria sobre sua doce vida de playboy. Carrões, mulheres, champagne... Foi esta a sensação que me acometeu ao escutar "The 20/20 Experience", o primeiro CD de Justin Timberlake em quase sete anos. O cara é obviamente multitalentoso: suas participações em filmes como "A Rede Social" e, especialmente, no "Saturday Night Live", revelam uma presença magnética e um timing raro de comédia. Como vocalista, ele até que tem algum swing em sua voz muitas vezes em falsete, mas seu estilo de dança não tem a fluidez ou a aparente espontaneidade de Michael Jackson, de quem dizem que seria uma versão branca. Não é. Muitas das canções do novo álbum são longuíssimas e lentas demais, como se Justin estivesse mais interessado em seduzir a mãe do ouvinte do que o próprio. Nada é ruim, mas também não há uma única preciosidade pop para ser lembrada no futuro. "Suit and Tie", o primeiro single, soa como trilha para fragrância masculina, e "Let the Groove Get In" parece uma variação do "mamassé mamassá mamakussá" jacksoniano. "The 20/20..." é agradável como uma visita à mansão de um novo rico. Tim tim.
segunda-feira, 25 de março de 2013
MIL E UMA UTILIDADES
Juro que eu não entendo muito esse fuzuê das ONGs qure lutam pelos direitos dos negros por causa do desfile de Ronaldo Fraga na SPFW. O estilista fez penteados de Bom-Bril em suas modelos, negras e brancas; o que era para ser uma brincadeira foi recebido como ofensa gravíssima por muita gente boa. E de nada adiantou ele jurar que não tinha a menor intenção de fazer uma gracinha racista. Mas, por outro lado, entendo que a dor acontece no calo de quem é pisado: não sou negro, portanto nunca fui discriminado pela cor da minha pele. O caso me lembra um pouco aquele patético episódio do comercial de Doritos, onde muitos gays se sentiram insultados (eu inclusive) e muitos héteros não viram mal nenhum. Agora, sinto que não haveria esse bafafá todo por causa de um desfile onde as manecas negras surgissem com os cabelos alisadíssimos ou pintados de louro. Sim, entendo que a palha de aço é traumática (e os modelitos até que ficaram legais). Agora, não seria incrível se essas entidades todas gastassem a mesma energia para protestar contra o Marco Feliciano, este sim um racista de carteirinha?
OVOS MOLES
Os concursos de beleza começaram nas primeiras décadas do século passado. Para que as vencedoras não fossem rameiras ou cortesãs, regras rígidas foram impostas: as moças tinham que ter reputação ilibada, comportamento modesto e atestado de bons antecedentes. O tempo passou, o mundo girou, mas muitas dessas exigências anacrônicas continuam em vigor. E acabam provocando mini-polêmicas que servem mais como golpe publicitário do que qualquer outra coisa. É o caso desse concurso Mister Universo Brasil, que teria passado em nuvens relativamente brancas não fosse pela foto aí ao lado. Foi por causa dela que o campeão deste ano, o brasiliense Lucas Kubitschek, perdeu cetro e coroa para o segundo colocado. O regulamento do concurso proíbe que os candidatos posem (ou tenham posado) nus ou quase, o que é de um ridículo atroz nos dias de hoje. Exigir que um modelo sarado e bonitão jamais tenha ficado em trajes de Adão em frente às câmeras é como procurar cabaço em puteiro: simplesmente não existe. Mas, no frigir dos ovos, essa controvérsia é boa para todo mundo. O tal do MUB ganhou bastante espaço gratuito na mídia, assim como o próprio Lucas. Talvez o único prejudicado seja euzinho. Postei essa foto no Facebook e fui bloqueado por três dias. O curioso é que semana passada eu havia postado aquela imagem da atriz de "Girls" com os peitos cobertos de porra, e a censura passou batida...
domingo, 24 de março de 2013
ACUSADO UM, DOIS, TRÊS
O que você faria se fosse acusado injustamente de alguma coisa? Eu espernearia, contrataria um advogado e não descansaria até que todos aqueles que duvidaram da minha inocência fosse condenados às galés. Não é o que faz o protagonista de "A Caça": ele reage com superioridade moral, como se devesse ser óbvio para todos que ele não tem culpa de nada. E olha que o crime do qual o camarada é suspeito é nada menos que pedofilia, o grande bicho papão dos tempos modernos. O filme não se encaixa exatamente no minimalista formato "Dogma" que consagrou o diretor dinamarquês Thomas Vinterberg, mas a ausência quase total de música e o ritmo lacônico mantêm a tensão até o útlimo fotograma. O roteiro é um estudo de um dos lados mais feios da humanidade: mesmo numa sociedade aparentemente sem tensões (a história se passa numa cidadezinha onde todo mundo se conehce desde sempre), muita gente só está esperando que alguém seja apontado como judas para lhe atirar todas as pedras que têm vontade. A postura semi-estóica do réu vivido por Mads Mikkelsen pode ser uma escolha moral ou um traço da psiquê escandianava, mas o final ambíguo revela que o diretor não concorda necessariamente com ela. "A Caça" é um filme árduo e interessante, desses para gerar discussão à saída do cinema.
sábado, 23 de março de 2013
MY PRINCESS BOY
Dessa vez não perdi o desfile do Rodrigo Rosner na São Paulo Fashion Week, mas quase. Descumpri a recomendação de tomar um táxi e fui de carro mesmo, porque tinha outro compromisso depois. E fui exemplarmente punido: não só enfrentei um engarrafamento, como ainda rodei o que pareceu serem horas para encontrar uma vaga (uma amiga não encontrou e acabou não dando com o nariz na porta da Bienal). Os looks estão todos no vídeo aí em cima e foram inspirados nas princesas dos contos de fada e no mito do amor romântico. Nem precisava dizer, né? Assim que eu bati o olho nas manecas, pensei cá com meus botões: "princesas de contos de fadas e mito do amor romântico". Dããã.
sexta-feira, 22 de março de 2013
QUAL A IDADE DA MENINA
Para aqueles que me acusam de só divulgar trailer de filme dos amigos, aqui vai uma resposta à altura: também divulgo trailer de série da TV onde meu irmão trabalha. Na verdade, "A Menina Sem Qualidades" é a primeira série de ficção propriamente dita produzida pela MTV Brasil. Estreia dia 27 de maio e será exibida durante um mês, quatro vezes por semana. É adaptada de um best-seller alemão e estrelada por Bianca Comparato (a Betânia de "Avenida Brasil"), que não só mostra os peitinhos como também - escândalo supremo - fuma em cena! Talvez por isto tenham chamado uma menina de 27 anos para fazer uma de 17.
É PRIMAVERA
No mesmo dia em que o "Encontro com Fátima Bernardes" veiculou diversos depoimentos de homossexuais e seus pais, o "Conexão Repórter" do SBT veio com um tema parecido: "A Primavera dos Diferentes", sobre a homossexualidade na adolescêcia. O repórter Roberto Cabrini entrevistou vários gays e lésbicas, todos moradores dos bairros mais distantes de São Paulo. Não é um recorte super representativo (nunca é), mas serve para lembrar que a barra dos que vivem fora dos Jardins paulistanos ou da Zona Sul carioca é infinitamente mais pesada. Não gosto do tom sensacionalista do programa, mas é aquele ao que o público da emissora está acostumado. Também achei estranho a Justiça ter pedido para borrarem os rostos dos jovens: um "Profissão Repórter" da Globo de algum tempo atrás mostrou a cara de todo mundo (vai ver que eram todos maiores de idade, não sei). Ainda assim, o programa foi para lá de positivo. O depoimento mais emocionante foi o da mãe de um transsexual no segundo bloco, que pode ser visto aí em cima. Mas o documentário inteiro já está disponível online, tanto no site do SBT como no Youtube. Agora queria ver um especial sobre as falcatruas das igrejas neopentecostais. Mas quem tem culhão de fazer?
quinta-feira, 21 de março de 2013
TE AMO ESPANHOLA
Outro dia um leitor reclamou que eu não comentei a segunda temporada de "Girls", que termina neste domingo na HBO. Pois lá vai: que porra é essa? Calma, estou elogiando a série da Lena Dunham. A moça já tinha inovado em 2012 ao aparecer pelada e em posições pouco abonadoras em episódios que ela mesma escreveu e dirigiu. Agora foi ainda mais longe: eu nunca pensei que iria ver uma cena como a da foto acima num seriado, nem mesmo de TV a cabo. Ainda mais corajosa é a atriz Shiri Appleby, que meteu os peitos sem medo de gozações.
ENCONTRO MARCADO
A pauta era ter para ter ido ao ar na quinta-feira da semana passada, mas caiu. A eleição do novo papa e o julgamento de Mizael eram assuntos mais urgentes. Mas acho até que foi bom: não tinha data melhor que hoje, em pleno cai-não-cai do Infeliciano, para o "Encontro com Fátima Bernardes" mostrar como diferentes pais reagiram ao saber da homossexualidade de seus filhos. Com depoimentos gravados e ao vivo, o programa conseguiu montar um painel de tolerância e evolução dos costumes. Só uma das histórias contadas não tinha final feliz: a de uma lésbica linda, há nove anos sem falar com a mãe. As demais eram inspiradoras, como a declaração de amor desse pai aí em cima para o filho gay. A íntegra desse "Encontro" pode ser vista aqui, nesta matéria do MixBrasil. Mas corra: a Globo não deixa que o YouTube veicule seu material por muito tempo.
O NOME DA CARNIFICINA
Todo mundo reclama quando um filme parece teatro filmado. "Qual É o Nome do Bebê" é ótimo, mas é exatamente isto: uma peça teatral que fez muito sucesso, adaptada num filme que fez mais sucesso ainda. Há algumas cenas externas no começo e no final da história, mas a maior parte da ação se passa na sala de um apartamento de classe média em Paris. São muitas as semelhanças com "O Deus da Carnficina", de Yasmina Reza: um grupo de burgueses se reúne por um motivo banal, e a conversa descamba para uma discussão violenta onde segredos são revelados e os laços mais profundos sofrem abalos. Aqui o problema começa quando Vincent, o macho-alfa da turma, conta para a irmã, o cunhado e o amigo qual é o nome que ele e a esposa pensaram para o bebê que vem a caminho. Digamos que é um nome-tabu na Europa e que as reações contrárias que ele suscita são um teco exageradas. Mas isto é só um pretexto para uma lavagem coletiva de roupa suja. Os diálogos são primorosos e defendidos com garbo pelos atores, pouco conhecidos no Brasil - dois deles levaram os Césars de coadjuvante na última premiação. "Qual É o Nome do Bebê" vai irritar quem gosta de explosões e perseguições de automóveis, mas é uma comédia inteligente que usa com eficácia uma das mais temíveis armas de destruição em massa: a palavra.
quarta-feira, 20 de março de 2013
O PASTOR RADIOATIVO
Além de homofóbico, racista, misógino e cafajeste, Marco Feliciano também é incrivelmente burro. De que adianta ele pedir desculpas a todas as pessoas que se ofenderam com suas declarações, como fez semana passada, para logo em seguida soltar um vídeo que só confirma sua homofobia? Sua assessoria jura que não produziu tal peça, mas que a postou nas redes sociais do pastor porque a achou "interessante". Será possível que não haja uma pessoa mais lúcida para perceber que este é o momento mais inoportuno possível? Bom, inteligência e cultura são mesmo escassas entre os seguidores do tal Ministério do Avivamento. Levei dois dias para criar estômago suficiente para enfrentar os quase nove minutos de "Pastor Marco Feliciano Renuncia", e fiquei não só chocado com as mentiras deslavadas sobre os deputados contrários ao atual presdiente da CDH como também com os erros de português. Ninguém "renuncia privacidade": o correto é renunciar À privacidade. Mas isto é realmente o detalhe do detalhe: muito mais grave é chamar as religiões de matriz africana de "ritual macabro", ou equiparar educação sexual com pedofilia. O vídeo é desmontado brilhantemente neste artigo da "Carta Capital", e só serviu para expor ainda mais o despreparo e o preconceito do Infeliciano (e lhe render um processo movido por Jean Wyllys). E hoje ainda aflorou um vídeo mais antigo, onde ele ataca as conquistas feministas... Sua figura se tornou tão radioativa que seu próprio partido, o famigerado PSC, está querendo rever sua nomeação. Neste exato momento, seu futuro à frente da Comissão está sendo decidido a portas fechadas. Quem sabe daqui a pouco teremos uma boa notícia?
ACTIVO SIMPLE
O "New York Times" de hoje traz uma notícia para lá de surpreendente. Segundo várias testemunhas, o cardeal Jorge Bergoglio - hoje mais conhecido como o papa Francisco - defendeu a união civil para casais do mesmo sexo durante uma reunião com bispos da Argentina em 2010. Naquela época, a presidente Cristina Kirchner estava movendo céus e terras para aprovar o casamento igualitário em seu país, e a Igreja se posicionava como a maior adversária à nova lei. Bergoglio chegou a comparar a medida como "estratégia do diabo", mas, pelo jeito, falava outra coisa nos bastidores. Será que o novo papa é um simpatizante secreto da causa LGBT? Não exatamente, dizem os que o conhecem bem. A defesa das uniões civis seria uma tática, tanto para barrar o casamento propriamente dito como para evitar que a Igreja pagasse mais uma vez de intolerante. Os bispos votaram contra a proposta de Bergoglio, mas o simples fato dele tê-la sugerido já demonstra flexibilidade e abertura ao diálogo. Um teólogo e ativista gay conta que teve cordiais discussões sobre o assunto com o futuro papa Chico. Outros vaticanistas apontam que ele sempre foi um sacerdote "mão na massa", em contato direto com o povo - bem diferente do intelectual Ratzinger, encastelado em seu palácio e distante da realidade cotidiana. Mas claro que é irresistível pensar que Jorge "Bota" Mario tem outros motivos para apoiar a bicharada. Será que sua carteirinha de sócio do San Lorenzo não nos dá alguma pista?
terça-feira, 19 de março de 2013
SE EU PERDER ESSE TREM
"Anna Karenina" é o filme mais deslumbrante do ano. O roteiro preciso do dramaturgo Tom Stoppard ganhou um tratamento visual requintadíssimo do diretor Joe Wright. Grande parte da ação se passa em palcos de teatro, como se os personagens fossem atores de si mesmos. Os figurinos ganharam o Oscar, mas a direção de arte também merecia - assim como o coreógrafo que inventou o complicadíssimo movimento das mãos que os bailarinos executam durante uma valsa, totalmente fake mas incrivelmente poderoso. O filme é um musical onde ninguém canta. Parece um longo vídeoclipe, como aquelas óperas filmadas que Zeffirelli cometeu nos anos 80. Mas não é perfeito: a roda que gira em falso é justamente sua protagonista, a controversa Keira Knightley. Acho que ela é bonita e até uma atriz razoável, mas tem alguma coisa em sua vibe que simplesmente não rola. Keira não gera empatia e em nenhum momento torcemos ou nos emocionamos com ela. Seu eterno ar de modelo fazendo carão só funciona em comercial de perfume, tanto que nem sofremos no famoso desfecho ferroviário. Ah, vai dizer que você não sabia o final de "Anna Karenina"? Ponha-se daqui para fora!
O DIA DE ANTEONTEM
Pronto: não caí de quatro por causa do novo disco do David Bowie. Isto faz de mim uma pessoa desantenada? Egoísta? Mau-caráter? Não, só um cara que não acha que o rock seja a melhor coisa do mundo. Bowie acha. É sintomático que, depois de tantos anos e tantas mutações, ele reapareça com uma sonoridade básica, sem maiores ousadias ou inovações. As experimentações eletrônicas se dissolveram; a pegada dance evaporou; a maquiagem derreteu. Sobraram as guitarras e as baladonas. A única semi-novidade do pacote é a melancolia, que já se imiscuía em seus álbuns lançados uma década atrás. As letras de Bowie nunca foram as mais saltitantes do mundo (o Major Tom, protagonista de seu primeiro sucesso, morria vagando pelo espaço sideral), mas agora estão conformadamente amargas. Ainda estou nas primeiras audições e "The Next Day" pode vir a crescer dentro da minha cabeça. Mas por enquanto estou achando que é música meio velha, feita por um senhor idem.
segunda-feira, 18 de março de 2013
ESTELIONATO, SIM OU NÃO?
Uma das metas de Marco Feliciano na presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara é promover um plebiscito sobre o casamento igualitário. É claro que, dada a requintada educação e a elevada civilidade do nosso povo, o "não" teria uma vitória retumbante. Isto é democracia? Claro que não: direitos das minorias não podem ser submetidos à vontade da maioria. Por isto eu proponho uma consulta muito mais urgente, cujas consequências atingiriam muito mais que os de 5 a 10% de homossexuais que compõem a população brasileira. A pergunta é a seguinte: você é a favor de falsos profetas, que vendem milagres? Às urnas!
AQUARELA MÓRBIDA
Diogo Vilela está se especializando em musicais biográficos sobre grandes vultos da música brasileira. Muitos anos atrás, ele encarnou Nélson Gonçalves em "Metralha", que eu não assisti. Depois deu um show em "Cauby, Cauby", numa das interpretações mais impressionantes que eu vi em toda a minha vida. Agora ele investe em Ary Barroso, talvez nosso maior compositor popular dos tempos pré-bossa nova. E investe com tudo: além de atuar, Diogo também escreveu o texto e dirigiu o espetáculo em cartaz no Rio de Janeiro. É aí que a coisa pega. O libreto de "Ary Barroso - do Princípio ao Fim" é confuso e mórbido. A peça começa justamente no último dia de vida do criador de "Aquarela do Brasil", 9 de fevereiro de 1964. Preso a uma cama de hospital, Barroso assiste pela TV ao desfile da escola de samba Império Serrano, que o homenageia. Aí entra numa espécie de delírio, recebe a visita imaginária de componentes da escola e começa a recordar momentos importantes de sua trajetória. Até aí tudo bem: o flashback no leito de morte é um recurso pouco original, mas consagrado. O problema é que a tal da cama praticamente não sai de cena durante quase todo o espetáculo, e o protagonista raramente tira o pijama. É uma longa e lenta agonia, piorada pelo caixão de Carmen Miranda - que entra em cena em dois momentos diferentes! Sem nenhum fio condutor, episódios da vida de Ary Barroso são mostrados a esmo, e quem conhecia pouco sobre o cara vai continuar não conhecendo. Salvam-se as músicas, todas divinas, o elenco excepcional (como estamos bem de atores para musicais, caralho) e os momentos de humor, principalmente quando é recriado o programa de calouros que Ary Barroso comandava no rádio. Mas ele ainda merece uma recriação suntuosa como seus sambas-exaltação.
domingo, 17 de março de 2013
SEMPRE ALERTA
Se você entende inglês, tire 12 minutinhos do seu dia e assista ao looongo discurso que Madonna fez na entrega do prêmio Vito Russo para o jornalista e apresentador Anderson Cooper, que saiu do armário ano passado. Madge foi vestida de escoteiro e obviamente criticou os Boy Scouts of America por ainda discriminarem os gays. Também falou do processo que sofre na Rússia e da vontade que tem de iniciar uma revolução, porque afinal já é 2013. Ela está metida como nunca, mas também lúcida e corajosa. E a premiação, que fez parte dos GLAAD Media Awards, merecia um similar à altura aqui no Brasil. Aliás, a própria Associação de Gays e Lésbicas Contra a Difamação também: uma organização assim viria a calhar num momento como este, em que setores evangélicos atribuem a Jean Wyllys uma defesa da pedofilia que o deputado jamais fez. Nós também temos que ficar alertas, porque essa laia joga sujo.
O MAR, Ô O MAR
O Corcovado e o Pão de Açúcar acabam de ganhar um concorrente à altura. Nenhuma viagem ao Rio de Janeiro será completa sem uma visita ao MAR, o Museu de Arte do Rio, inaugurado há duas semanas na Praça Mauá como parte do projeto Porto Maravilha. Maraviulhoso é um termo preciso: o prédio duplo combina perfeitamente o moderno e o antigo, e as obras expostas quase me fizeram explodir de orgulho de ser carioca. A pièce de résistance é uma mostra permanente chamada "Rio de Imagens", que vai de gravuras dos tempos da colônia a instalações que traduzem o Rio contemporâneo, passando por uma caminhada virtual pela Avenida Central, no começo do século passado, que é de cair o queixo. Outro motivo de pasmo é a demora: como é que uma cidade como o Rio, tão pintada e fotografada desde sempre, ainda não tinha uma exposição desse tipo? Também há três exibições temporárias de coleções particulares absolutamente imperdíveis, e o site do museu dá uma palhinha de todas elas. Sem falar da vista para o cais do porto e a sensação inebriante de que a cidade pouco a pouco se civiliza. Vá preparado: as longas filas até que andam depressa, mas o horário de funcionamento do MAR (das 10 às 17) é digno de repartição pública. Mas vá, é programa obrigatório.
sábado, 16 de março de 2013
COMO FLOPAR FAZENDO MUITA FORÇA
Os deuses do teatro são volúveis e caprichosos. Às vezes não sorriem nem para quem tem muito talento e muitos recursos à disposição. Parece que foi o que aconteceu com "Como Vencer na Vida Sem Fazer Força". Fui assistir ontem a este musical em cartaz no Rio. E, uma semana depois da estreia, a lotação estava abaixo da metade. Claro que isto contaminou minha percepção do espetáculo: o público ralo ria pouco e aplaudia sem vontade, e a coisa nunca que engrenava. E olha que as qualidades são muitas, como sói acontecer numa produção de Charles Moeller e Cláudio Botelho. Cenários suntuosos, figurinos elegantérrimos, coreografias apuradas. E um elenco em estado de graça: um surpreendente Gregório Duvivier (quem sabia que ele cantava e dançava tão bem?), Luiz Fernando Guimarães mais pândego do que nunca, Adriana Garambone espetacular como a sirigaita de vozinha irritante e uma garota fenomenal que eu não conhecia, Letícia Colin - e estes são apenas alguns dos destaques. Por outro lado, algumas marcas são esquisitas, e várias das canções não são lá muito boas. Pela primeira vez, senti que as versões em português não lhes serviam como luvas. Isto acabou fazendo com que a plateia não se empolgasse. Teve até gente que foi embora no intervalo... Acho uma pena, mas há um indisfarçável cheiro de flop no ar. Valeu pelo esforço, rapaziada.
sexta-feira, 15 de março de 2013
SAINDO DA OFICINA
Hoje termina a oficina da Globosat e eu já estou em crise de abstinência. Queria que esta semana não terminasse jamais: meu, que privilégio aprender com Dan Halsted (agente de muitos roteiristas em Hollywood), Barry Schkolnick (de "Law & Order" e "The Good Wife") e, claro, minha musa Marta Kauffman (do "Friends"). A mulher é um turbilhão: engraçadíssima como pessoa, carismática como professora e absolutamente cruel na hora de destruir os roteiros de seus alunos. Mas lambém é generosa: logo em seguida ela nos ajuda a reconstruí-lo e a deixá-lo em ponto de bala. Domingo ainda teremos uma "master class" com Anthony Zuiker, o criador de "CSI", e volto ao Rio no dia 26 para apresentar meu projeto para os executivos da Gobosat. Let's go that let's go.
VAI DAR PÉ
Trabalhei com Marcos Bernstein nas sitcoms produzidas pela Columbia Tristar e exibidas pela Band em 1999. Ele já tinha no currículo o roteiro de nada menos que "Central do Brasil" (em parceria com João Emanuel Carneiro), eu ainda dava os primeiros passos na carreira. Pouco depois, acabei voltando para a propaganda, enquanto o Marcos também se tornava diretor de cinema. Hoje eu dou os segundos passos como roteirista na oficina da Globosat enquanto ele já está no segundo longa-metragem. É uma nova versão de "Meu Pé de Laranja Lima", o livro infanto-juvenil de José Mauro de Vasconcellos que foi um dos maiores best-sellers brasileiros de todos os tempos e gerou um filme de enorme sucesso em 1970. Mas aqueles tempos eram outros: me pergunto se as plateia mimadas dos dias de hoje vão aceitar as tragédias que pontuam a história do garotinho (e que são superadas em livros posteriores do mesmo autor, também autobiográficos). De qualquer forma, desejo um sucesso de arromba para mais essa empreitada do Marquinhos. Assim, quem sabe ele paga o que me deve?
quinta-feira, 14 de março de 2013
QUEIMANDO O FILME
Ele andava meio sumido da mídia, talvez ofuscado pela exuberância veroborrágica do Malafaia ou pelo picumã mal alisado de Marco Feliciano. Mas eis que o Bolsonazi encontrou ontem a oportunidade ideal de retomar os holofotes, em mais uma espetacular quebra de decoro parlamentar. E será possível que não exista um assessor de marketing capaz de dizer ao novo presidente da Comissão de Direitos Humanos que ele não deveria aparecer ao lado desse sujeito? O novo BFF nunca teve o menor prurido de se vamngloriar de sua homofobia. Dize-me com quem andas...
quarta-feira, 13 de março de 2013
IMBROGLIO
Religioso homofóbico é convocado para comandar organização que deveria defender as minorias. E não, não estou falando do Marco Feliciano na CDH. Que ninguém se iluda: o novo papa sem dúvida que é mais simpático que seu antecessor (o contrário seria impossível), mas tampouco é flor que se cheire. A ficha corrida de Jorge Mario Bergoglio é de dar medo. Ele é acusado de ter colaborado com a ditadura militar de seu país e convocou um guerra santa ao casamento igualitário. Também disse que que crianças adotadas por casais gays seriam discriminadas de antemão, por estarem privadas de um "papá" e uma "mamá". Por este mesmo argumento, todos os filhos de viúvos ou solteiros deveriam ser arrancados de suas famílias e entregues à adoção. Claro que estou sendo ingênuo para caralho e não tenho a menor razão para estar decepcionado. O-bó-vio que a Igreja não iria eleger um cardeal moderninho, dos quais, aliás, há bem poucos. Mas confesso que também estou curioso: Francisco (acho que ainda não se deve usar o 1o., só quando houver um 2o.) é o primeiro jesuíta no Trono de São Pedro, por incrível que pareça. A ordem fundada por Santo Igancio de Loyola no século 16 para servir de infantaria contra a Reforma protestante já foi poderosíssima, tanto que se tornou quase que uma Igreja paralela. Já o nome adotado pelo novo pontífice remete a outra ordem, a franciscana, famosa pela pobreza material. Outro fator curioso é a idade do papa recém-eleito, 76 anos, na contramão de quem esperava alguém mais jovem. Agora resta saber se ele é da turma do malvado Tarcio Bertone, o camerlengo, grande responseavel pela corrupçnao que campeia na Cúria e provável causa da renúncia de Adolf I. Consta que o candidato dessa facção era o brasileiro Odilo Scherer. Aliás, que alívio que não elegeram um brasileiro, hein? Já pensou no carnaval que a nossa imprensa estaria promovendo? Vamos esperar para ver o tamanho do imbroglio que será este papado berogliano. E torcer para que o próximo escolhido queira dar um de João Paulo e homenageie com o nome seus dois antecessores imediatos: Sua Santidade, Chico Bento.
BYE BYE BABY
Outro dia, num jantar em São Paulo, engatei conversa com um rapaz que estava encantado com Baby do Brasil. Ele nem tinha nascido na época de "Menino do Rio", e havia visto a cantora num desses muitos shows que ela tem feito para retomar a carreira. Eu já estava meio de pileque e não me contive: comecei a bradar que Baby é uma fraude, a pior artista brasileira de todos os tempos, e que não merece um segundo da nossa atenção. Passada a bebedeira, acho que exagerei um pouco. Bem pouco. O fato é que não consigo apreciar uma obra e ignorar quem está por trás dela. O pintor Iberê Camargo, por exemplo, sumiu do meu radar depois que matou um sujeito numa briga de trânsito. Não interessa que sua telas fossem belíssimas: matou um cara à toa, para mim morreu (mais tarde ele morreu mesmo). Baby nunca matou ninguém. Só sua trajetória de rebelde e contestadora. Hoje em dia ela é evangélica (acho que até pastora), e defende uma agenda conservadora que vai contra tudo o que os Novos Baianos fizeram nos anos 70. O estilo de vida do grupo se confundia com sua arte: por um tempo viviam todos juntos, em comunidade, com muito sexo, drogas e chorinho. Nesse período produziram clássicos como "Acabou Chorare" e "Preta Pretinha". Depois que o grupo se desfez, Baby (até então Consuelo) e seu marido Pepeu Gomes povoaram o mundo com muitos hits e filhos e de nomes bizarros. O casal acabou se separando e a carreira solo dela aos poucos se apagou. Baby só voltou às manchetes de maneira indireta, quando sua filha Sara Shiva apareceu pregando o absolutamente ridículo "Culto das Princesas". Agora, incentivada pelo filho Pedro Baby (que não é religioso), a ex-"Telúrica" volta a cantar seu repertório "secular", como disse um site gospel.Que cante para outros ouvidos. Baby do Brasil tem todo o direito de acreditar no que quiser, mas não basta pintar o cabelo de roxo para pagar de moderna. Eu vou rezar para que ela reencontre o caminho da luz.
terça-feira, 12 de março de 2013
FLATBUSH AVENUE
Já estou no Rio de Janeiro, onde começou ontem a oficina do Programa Globosat de Densevolvimento de Roteiristas. O primeiro dia foi inteiramente dedicado a uma palestra de Dan Halsted, um dos maiores agentes de roteiristas de Hollywood, que foi crivado de perguntas pela ansiosa plateia. E adivinha qual foi o exemplo de bom roteiro brasileiro citado pelo cara? Para variar, "Avenida Brasil". Halsted comentou inclusive a notinha que saiu na revista "Entertainment Weekly", numa matéria sobre grandes sucessos da TV mundial que poderiam ganhar remake nos Estados Unidos. A jornalista Nuzhat Naoreen chega até a imaginar o elenco ideal de "Flatbush Avenue" (uma avenida que liga Manhattan aos distritos do Brooklyn e do Queens, equivalente a sua similar carioca), transmitida pelo canal TNT: Odette Annable, de "House", como Nina, e a ex-"Pantera" Jaclyn Smith como Carminha ("Little Carmen"?). Parece piada, mas não é de todo: depois que as redes americanas fizeram suas versões de hits nascidos em Israel ("Homeland", "In Treatment") ou na Dinamarca ("The Killing"), Halsted apostou 100 dólares que uma história tupiniquim será adaptada para a televisão dos Estados Unidos nos próximos três anos. Tomara que seja minha.
segunda-feira, 11 de março de 2013
ENSINUAÇÕES
Marco Feliciano acusou o golpe. Acossado por todos os lados, o reaça resolveu reagir. Só que escolheu um único alvo: um certo "grupo de bandeira LGBT", esse marvado, que "planejam" (no plural mesmo) nada menos que destruir "nossas famílias e igrejas" através de "mentiras ensinuadas". É o que sempre digo: se a pessoa tivesse tido a oportunidade de estudar, dificlmente cairia nas garras desses charlatães, mas enfim. Feliciano convenientemente se esquece de que inúmeras ONGS e personalidades se manifestaram contra sua presença na presidência da CDH - inclusive essa radical perigosíssima, a Xuxa. É mais fácil demonizar ainda mais um grupo que já é a encarnção do diabo para essa laia, os gays. Que, aliás, não estão "ensinuando" nada: todas as declarações racistas e homofóbicas saíram da boca e do computador do asqueroso deputado, ninguém precisou inventar porra nenhuma. De resto, não há muita novidade na tentativa de inverter o jogo acusando seus detratores de "discriminação". Mas aposto que nem ele, nem seu partido nem ninguém no Congresso esperava tal reação da sociedade. Tanto que já tem neguinho na Câmara dizendo que sua indicação pode ser "revista", já que "fatos novos" vieram à luz. Algumas semanas atrás, Marco Feliciano era uma celebridade só no mundinho gospel. Agora, graças ao vídeo em que ele pede a senha do cartão de um fiel, o Brasil todo sabe que se trata de um safado. Não duvido que ele esteja arrependido de ter se exposto tanto. Há algo de "ensinuante" no ar, e eu sinto uma ponta de otimismo.
domingo, 10 de março de 2013
TRIVIAL VARIADO
Passou a temporada do Oscar e o cinema retoma seu ritmo habitual. Filmes pequenos, que chegam embalados de prestígio mas sem prêmios da Academia, entram em cartaz sem grande alarde. Um deles até que tentou receber indicações: conseguiu apenas uma, de atriz para Maggie Smith, e apenas nos Globos de Ouro. É "O Quarteto", a estreia na direção de Dustin Hoffman. O roteiro parece baseado num documentário que eu vi na Mostra muito anos atrás chamado "O Beijo de Tosca", sobre um retiro para cantores de ópera aposentados nos arredores de Milão. Aqui o tal do asilo foi transferido para o countryside inglês, e fica pouco a dever em luxo e conforto àquela outra casa de Maggie Smith, uma tal de Downton Abbey. A veterana atriz faz uma diva que precisa ser convencida pelos colegas a participar de um concerto beneficente, apesar de nenhum deles ter mais a mesma voz da juventude. Apesar dos toques de melancolia, aqui os velhinhos reaparecem espevitados e atrevidos do jeitinho que as plateias adoram, bem longe da decadência física de "Amor". E o resultado é agradável, mas esquecível.
Bem mais contundente é "César Deve Morrer", dirigido por dois anciãos do vida real: os lendários irmãos Paolo e Vittorio Taviani. O filme venceu o festival de Berlim do ano passado, faturou vários troféus David di Donatello (o Oscar italiano) e ainda respresentou a Itália no último Oscar (não foi indicado). É uma espécie de "docudrama". Um grupo de prisioneiros na cadeia de Rebibbia, nos arredores de Roma, encena "Júlio César" de Shakespeare. A câmera os identifica pelo nome e pelo crime que cometeram. Muitos estão condeandos a pena fine mai - prisão perpértua, a pena sem fim. E no entanto parecem todos pessoas educadas, interessadas, se não na arte, pelo menos em algo que quebre o tédio. Alguns se revelam atores realmente bons, e um deles seguiu carreira artística depois que foi solto. Legal, mas não saí de quatro do cinema.
A melhor razão para se ver "Atrás da Porta", do badalado diretor húngaro István Szábo, é mais uma atuação estupenda de Helen Mirren. Aqui ela faz Emerenc, uma empregada doméstica na Budapeste dos anos 60 que comeu não só o pão mas todo um banquete preparado pelo diabo durante a 2a. Guerra. Sofreu tanto e perdeu tanto que não tem medo de mais nada: fala sempre a verdade, e parece não estar mais aí para ninguém. Mas desenvolve uma relação peculiar com a nova patroa, uma escritora mais jovem. Apesar da trama se desenrolar em plena ditadura comunista, ela pouco tem de política. E seu set-up é melhor que o desenlace: uma personagem tão forte merecia mais.
Bem mais contundente é "César Deve Morrer", dirigido por dois anciãos do vida real: os lendários irmãos Paolo e Vittorio Taviani. O filme venceu o festival de Berlim do ano passado, faturou vários troféus David di Donatello (o Oscar italiano) e ainda respresentou a Itália no último Oscar (não foi indicado). É uma espécie de "docudrama". Um grupo de prisioneiros na cadeia de Rebibbia, nos arredores de Roma, encena "Júlio César" de Shakespeare. A câmera os identifica pelo nome e pelo crime que cometeram. Muitos estão condeandos a pena fine mai - prisão perpértua, a pena sem fim. E no entanto parecem todos pessoas educadas, interessadas, se não na arte, pelo menos em algo que quebre o tédio. Alguns se revelam atores realmente bons, e um deles seguiu carreira artística depois que foi solto. Legal, mas não saí de quatro do cinema.
A melhor razão para se ver "Atrás da Porta", do badalado diretor húngaro István Szábo, é mais uma atuação estupenda de Helen Mirren. Aqui ela faz Emerenc, uma empregada doméstica na Budapeste dos anos 60 que comeu não só o pão mas todo um banquete preparado pelo diabo durante a 2a. Guerra. Sofreu tanto e perdeu tanto que não tem medo de mais nada: fala sempre a verdade, e parece não estar mais aí para ninguém. Mas desenvolve uma relação peculiar com a nova patroa, uma escritora mais jovem. Apesar da trama se desenrolar em plena ditadura comunista, ela pouco tem de política. E seu set-up é melhor que o desenlace: uma personagem tão forte merecia mais.
sábado, 9 de março de 2013
O INVELHECÍVEL
Já contei aqui no blog, mas lá vou outra vez: o primeiro show a que assisti na vida foi do Secos & Molhados, no final de 1973. Eu tinha acabado de completar 13 anos e adorava os sucessos do trio que tocavam no rádio sem parar, "O Vira" e "Sangue Latino". Fiquei impressionadíssimo com o começo do espetáculo: as luzes do minúsculo Teatro do Bixiga se apagaram de repente, uma estrobo começou a piscar, a música deslanchou, e de repente lá estava Ney Matogrosso rebolando in full regalia. Desde então, acho muito mané artista que simplesmente entra no palco. Bom mesmo é quando ele se materializa à sua frente.
Quase quarenta anos depois, eu sou um senhor de 52 anos e estou sentado na plateia do HSBC Brasil. É a estreia de "Atento aos Sinais", o novo show do Ney. E adivinha como ele surge em cena? De repente, quando um foco de luz o revela. Ele já estava lá, o danado. Com figurinos e maquiagem diferentes do tempo dos Secos & Molhados, mas com a mesma atitude transgressora, a mesma presença cênica impressionante, o mesmo bom gosto musical. O mesmo? Talvez melhor.
Como é que a ciência não está estudando o fenômeno Ney Matogrosso? O cara está com 71 anos de idade (72 em agosto), mas o corpo continua sequinho e musculoso como esteve a vida inteira. Só nas fotos em close é que dá para perceber que o rosto não é mais de moleque, mas ele passaria muito bem por um cinquentão enxutaço. E o visual acaba sendo o de menos: ainda mais impressionante é a potência e o controle da voz, o vigor para dançar e hipnotizar o público, o tesão que aflora feito seiva de seringueira. Fica nítido que Ney ainda tem uma vida sexual sensacional. Deve trepar mais e melhor que todo mundo.
Depois do tom intimista e do repertório de clássicos de "Beijo Bandido", seu disco e show anteriores, dessa vez Ney Matogrosso retorna aos compositores novos e aos looks arrojados. As músicas são quase todas inéditas, mas isto não chega a ser um problema: são todas ótimas, com letras inteligentes que obrigam o espectador a prestar atenção. Sei que tem coisas de Criolo, Dan Nakagawa e Alzira Espíndola, mas não sei qual é qual. O disco ainda nem foi gravado, mas já dá para apostar que será um dos melhores do ano. Nessa época horrorosa em que "tchutchatchá" e "lelelê" dominam as trilhas de novela, Ney prova que a boa música brasileira ainda está viva. Sua importância cresce ainda mais quando lembramos a avalanche brego-conservadora que ameaça nos enlamear. É um puta artista, sério, consequente, provocante, debochado, divertidíssimo. E não dá para escapar da dura realidade: no esplendor de seus 71 anos de idade, Ney Matogrosso é muito mais gostoso e sacudido do que você era aos 20.
Quase quarenta anos depois, eu sou um senhor de 52 anos e estou sentado na plateia do HSBC Brasil. É a estreia de "Atento aos Sinais", o novo show do Ney. E adivinha como ele surge em cena? De repente, quando um foco de luz o revela. Ele já estava lá, o danado. Com figurinos e maquiagem diferentes do tempo dos Secos & Molhados, mas com a mesma atitude transgressora, a mesma presença cênica impressionante, o mesmo bom gosto musical. O mesmo? Talvez melhor.
Como é que a ciência não está estudando o fenômeno Ney Matogrosso? O cara está com 71 anos de idade (72 em agosto), mas o corpo continua sequinho e musculoso como esteve a vida inteira. Só nas fotos em close é que dá para perceber que o rosto não é mais de moleque, mas ele passaria muito bem por um cinquentão enxutaço. E o visual acaba sendo o de menos: ainda mais impressionante é a potência e o controle da voz, o vigor para dançar e hipnotizar o público, o tesão que aflora feito seiva de seringueira. Fica nítido que Ney ainda tem uma vida sexual sensacional. Deve trepar mais e melhor que todo mundo.
Depois do tom intimista e do repertório de clássicos de "Beijo Bandido", seu disco e show anteriores, dessa vez Ney Matogrosso retorna aos compositores novos e aos looks arrojados. As músicas são quase todas inéditas, mas isto não chega a ser um problema: são todas ótimas, com letras inteligentes que obrigam o espectador a prestar atenção. Sei que tem coisas de Criolo, Dan Nakagawa e Alzira Espíndola, mas não sei qual é qual. O disco ainda nem foi gravado, mas já dá para apostar que será um dos melhores do ano. Nessa época horrorosa em que "tchutchatchá" e "lelelê" dominam as trilhas de novela, Ney prova que a boa música brasileira ainda está viva. Sua importância cresce ainda mais quando lembramos a avalanche brego-conservadora que ameaça nos enlamear. É um puta artista, sério, consequente, provocante, debochado, divertidíssimo. E não dá para escapar da dura realidade: no esplendor de seus 71 anos de idade, Ney Matogrosso é muito mais gostoso e sacudido do que você era aos 20.
sexta-feira, 8 de março de 2013
SEM FUNDOS, COM PORTA
Será que a TV convencional já era? Será que iremos todos ver nossos programas favoritos exclusivamente online? E nem estou falando da prática bastante recriminável de baixar episódios de graça - ainda mais agora, que eu pretendo tirar parte do meu sustento escrevendo roteiros. Falo de um fenômeno muito maior: a produção de séries exclusivas para a internet. O Netflix acabou de disponibilizar para seus assinantes a primeira temporada do drama político "House of Cards", estrelado por Kevin Spacey (vi o piloto e não me empolguei). Aqui no Brasil também temos alguns exemplos: o "Porta dos Fundos" é só mais famoso deles. O curioso é que alguns desses programas nem pensam em migrar para a TV, pois sabem que perderiam muito de sua liberdade. A web também é o habitat ideal para séries de temática gay. Nos Estados Unidos elas estão se multiplicando feito coelhos, e com qualidade cada vez melhor. Os episódios costumam ser curtos: os de "The Outs" têm 12 minutos (já tinha falado dela no ano passado), outras não chegam a três - ideais para serem vistas num intervalo do trabalho. A mais high profile neste momento é "Husbands", sobre um jogador de beisebol que se assume gay. Graças aos contatos de sua criadora e ao sistema de "crowdfunding", até atores famosos dão suas palhinhas na história. Mas tem também "Where the Bears Are", sobre uma turma de ursos (que pode ser vista inteirinha em seu site) e "Hunting Season", que é pura pegação (e que NÃO pode ser vista em seu site no Brasil, droga), além de outras que ficam na geladeira. Por aqui tivemos algumas experiências num nível bem mais amador, mas o próprio "Porta dos Fundos" tem se revelado cada vez mais gay. Já viram este episódio? E este? E este? Quem que eles pensam que enganam?
quinta-feira, 7 de março de 2013
A MELANCIA FLAMEJANTE
Liberace fez tanto sucesso nos anos 50 que ganhou até um museu em Las Vegas. Depois foi tão esquecido pelas novas gerações que o museu fechou as portas recentemente. Dá até para entender: seu estilo musical era caretérrimo. Liberace tocava no piano versões floreadíssimas de peças clássicas e sucessos do momento, e não cantava nada. Mas falava pelos cotovelos: seu talento como showman era tão grande que seu programa de TV era o favorito das velhinhas. Se seu som caducou, o visual espalhafatoso que adotou na segunda metade da carreira é antepassado direto do look consagrado por Elton John (confira no vídeo abaixo o encontro dos dois). Apesar de toda essa flamboyance, Liberace jamais se assumiu gay. Nem mesmo quando já estava visivelmente debilitado pela AIDS: dizia que tinha emagrecido muito por causa da dieta da melancia, muito em voga na época. Morreu em 1987 e ressuscita agora em maio, quando a HBO americana exibir o telefilme "Behind the Candelabra" (sempre havia um candelabro magnífico sobre seu piano de cauda). O diretor é ninguém menos que Steven Sodebergh e os protagonistas são os quase irreconhecíveis Michael Douglas e Matt Damon, que gravaram muitas cenas de sexo. Tantas que o filme, originalmente concebido para o cinema, não encontrou distribuidor. Foi para a TV paga e, provavelmente, também irá para a glória nos próximos prêmios Emmy.
INSIGNIFICA?
Não adiantou a gritaria nas redes sociais, nem a dos manifestantes no plenário. Não adiantou os deputados do PT se retirarem, para ninguém ter dúvida que eles não votaram em Marco Feliciano. Não adiantou nada: o pastor racista e homofóbico é o novo presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, uma situação tão estapafúrdia que parece tirada de uma peça de Ionesco. Mas agora penso cá com meus botões: essa CDH serve mesmo para alguma coisa? Porque o PT abriu mão dela. O partido poderia muito bem continuar no comando dessa comissão, como continuou no de outras que considera importante. Mas preferiu usá-la como moeda de troca com os partidos pequenos que compõem a base governista, como esse famigerado PSC. Corrijam-me se eu estiver enganado, mas tenho a sensação de que a CDH anda tão insignificante que só ontem muita gente (tipo eu) ouviu falar pela primeira vez de seu antigo presidente, o maranhense Domingos Dutra - que é negro e renunciou ao cargo pouco antes da eleição de Feliciano. Bom, insignifcante ou não, o fato é que houve um desgaste político considerável para o governo, que provavelmente não esperava tanta balbúrdia. Feliciano sobe ao posto com o apoio de todos os reaças do Brasil (o PSC fez questão de manter sua candidatura, para atrair esse eleitorado ainda forte), mas também sob o escárnio nacional, depois que o vídeo em que pede a senha do cartão de um fiel viralizou. Que seu reinado seja breve.
quarta-feira, 6 de março de 2013
AMOUR NAS ESTRELAS
Esta pequena pérola foi exibida durante a entrega dos prêmios César, em Paris, duas semanas atrás: como seria "Star Wars" dirigido por Michael Haneke?
O CORONEL EM SEU LABIRINTO
Alguém aí sabe dizer de cabeça o nome de algum presidente venezuelano anterior a Hugo Chávez? Aposto que não. Foi Huguinho, com seu jeitão hiperativo, quem conseguiu incluir seu país no mapa mental dos brasileiros. Antes dele, a Venezuela era apenas mais um dos nossos vizinhos, dos quais só a Argentina não costuma ser solenemente ignorada. Além disto, o caudilho se tornou um autêntico "popstar": lembro de uma multidão de curiosos se acotovelando para vê-lo em pessoa, numa de suas muitas passagens pelo Brasil. Só faltava estarem fantasiados de "little monsters".
O legado de Chávez é complexo e vai levar algum tempo para ser digerido. É inegável que ele conseguiu reduzir os níveis de miséria de seu país. Gente que não tinha nada agora tem alguma coisa. "El Comandante" também desalojou quase toda a antiga elite venezuelana, uma das mais predatórias da América Latina. O dinheiro do petróleo era desviado para paraísos fiscais e mansões em Miami. Agora boa parte dele é investido em programas sociais. Por isto, a popularidade de Chávez na periferia de Caracas equivale à de Jesus Cristo. Perto do dele, o prestígio de Lula parece efêmero como o de um ex-BBB.
Mas, por melhores que fosse suas intenções - e nem sempre eram boas - também é inegável que Hugo Chávez era um péssimo administrador. Não sabia como tocar um país, nem chamou gente que soubesse para lhe ajudar. Recheou as estatais com seus asseclas: camaradas que não tinham o menor preparo para cuidar de uma hidrelétrica ou uma petroleira, só a carteirinha do partido. O resultado foram apagões em tempos de represas cheias, desabastecimento nos supermercados, corrupção gritante e criminalidade galopante.
Além disto, o falecido também não se preocupou em diversificar a economia. O petróleo corresponde a 95% das exportações do país, e se seu preço cai, o país cai junto. É inadmissível que, com climas e terrenos tão favoráveis, os venezuelanos tenham que importar coisinhas básicas como frango e leite.
E será que podemos dizer que "el intumbable" foi um político hábil? Certamente menos do que Lula, que resistiu bravamente à tentação de jogar as classes mais baixas contra as mais altas. Chávez jamais procurou o consenso: sempre foi radical. Ou tudo, ou nada. Conseguiu o apoio imorredouro dos pobres, mas alienou a pequena classe média para todo o sempre. Era amado e odiado em proporções estarrecedoras, como nem nosso ex-presidente conseguiu ser.
Apesar de promover eleições regulares, pouco tinha de democrata. Perseguiu todos os órgãos de imprensa que não lhe puxavam o saco, no que foi prontamente copiado por Rafael Correa, Evo Morales e Cristina Kirchner. Conseguiu fechar uma emissora de TV de grande audiência, o que lhe garantiu a adesão das demais. Chávez vinha de uma família de militares: não negociava, como Lula aprendeu a fazer nos sindicatos. Soltava ordens e não admitia contestação. Um estilo que fez escola em boa parte do continente.
Seu mito começou a ser cultivado ainda em vida. Agora virou praticamente um mártir, e seus seguidores tentarão transformá-lo em Evita. A afirmação de que seu câncer foi "provocado" pelos Estados Unidos faz parte da construção de sua aura. Sua sombra ainda vai pairar sobre a Venezuela durante muitas décadas, como aconteceu com Getúlio no Brasil ou Perón na Argentina. Políticos de todos os matizes se proclamarão os únicos e verdadeiros continuadores de sua obra.
Nicolás Maduro provavelmente será eleito nas próximas eleições - quer dizer, se estas acontecerem mesmo, porque na Venezuela sempre se arruma uma desculpa para tudo. De qualquer forma, o ex-motorista de ônibus deve continuar no poder. Os problemas parecem infinitos: a inflação absurda, o câmbio descontrolado, a carestia crescente. Ele também não tem um décimo do carisma de seu antecessor: vai ser difícil hipnotizar as massas. Mas, pelo menos até o momento, parece que haverá uma transição tranquila.
Estive muitas vezes na Venezuela e sempre percebia uma tensão latente no ar. Tinha medo que o país descambasse para uma guerra civil. Pelo jeito, esse risco é menos iminente do que eu temia. Ainda bem. Se não houver derramamento de sangue, a morte de Hugo Chávez já não terá sido em vão.
O coronel encontrou a saída. Mas o resto de seu país continua no labirinto.
(Quer ler um artigo sobre Hugo Chávez muito melhor que este post? Clique aqui: é assinado por Rubens Ricúpero e foi publicado no "Valor".)
terça-feira, 5 de março de 2013
NOT EVEN BOOBS?
Um rapaz mórmon e gay teve a pachorra de filmar, ao longo de um ano, as reações de parentes e amigos ao saber sua orientação sexual. Diz ele que foi mole - como eu também havia dito no épico "Não Gosto dos Meninos", o mais difícil é se assumir para si mesmo. O resto vem fácil. De qualquer forma, a galera reage incrivelmente bem. E até com excesso de surpresa: será possível que nem mãe nem irmãos jamais suspeitaram que tinham uma biba dentro de casa?
(gracias pela dica, Clebs)
(gracias pela dica, Clebs)
PASSEI A NOITE PROCURANDO TU
"A Busca" mistura um gênero bastante comum no cinema brasileiro - o road movie - com outro bem mais raro, o drama familiar. O resultado é ligeiramente desequilibrado. Os conflitos da família Gadelha não têm nada de excepcionais: o casal recém-separado ainda não brigou tudo o que tinha que brigar, e o filho adolescente não sabe muito bem como verbalizar seu descontentamento. Mas os diálogos são muitíssimo bem construídos, e o espectador fica com a aflição de estar invadindo a intimidade de pessoas que acabou de conhecer. Já a parte da estrada não escapa de alguns clichês, como um parto improvisado. Mesmo assim, "A Busca" é um filme sólido, com excelente fotografia e mais um show de interpretação de Wagner Moura. A história é angustiante: depois de brigar com o pai, o filho diz que vai viajar e simplesmente desaparece. Aos poucos vão sugindo pistas de onde ele foi, eaqui eu faço mais uma ressalva: é impressionante a má vontade das testemunhas do paradeiro do rapaz em ajudar o pai desesperado. "A Busca" chega a sugerir um comentário social, ao mostrar gente paupérrima mais preocupada com a sobrevivência do dia-a-dia do que em se solidarizar com o burguesinho em apuros. O desenlace tem algo de poético - mas, se eu estivesse no lugar do protagonista, o filho fujão não escaparia de uns bons tabefes.
segunda-feira, 4 de março de 2013
PAGANDO PEITINHO
Jurei solenemente nunca mais ralar o dedo num exemplar da "Veja", mas nada como um dia depois do outro. Ontem fui almoçar na casa do meu irmão e lá estava a revista dando sopa, com uma foto de dois descamisados no canto superior direito da capa. Evidente que imagem tão sugestiva me atraiu a atenção, e vi que ela também ilustra uma matéria de duas páginas sobre Gabriel Chalita (que pode ser lida em parte aqui). O ex-Secretário de Educação de São Paulo está atolado até o pescoço em denúncias de recebimento de dinheiro ilícito. Também o acusam de contratar ghost-writers para escrever parte de seus 60 livros publicados. Acho bastante plausível e as evidências são muitas; na verdade, essas notícias só confirmam a antipatia que eu já nutria pelo moço. Mas, mesmo não indo com seus bofes, acho uma puta falta de sacanagem escolherem essa foto. A revista diz apenas que Chalita e seu ex-assessor Roberto Grobman eram "amigos do peito", mas é óbvia a insinuação de que os dois tinham um casitcho. Se tiveram mesmo, devia ser dito com todas as letras: está mais do que na hora de acabar com essa putaria que mistura as esferas pública e privada na política brasileira (vide o affair Rosemary Nóvoa de Noronha). Mas, se não for verdade, é uma tentativa bem feiosa de queimar ainda mais o ex-futuro ministro de Dilma. Acho estarrecedor que suspeitas de homossexualidade, infundadas ou não, ainda sirvam para derrubar políticos no Brasil. Mas não me surpreende nadica que a "Veja" tenha feito isto.
domingo, 3 de março de 2013
LEMBRARAM DE MIM
Está acontecendo uma discrepância mercadológica com "Colegas". Ele não está sendo vendido como o que realmente é: um filme infantil. O diretor Marcelo Galvão quis fazer uma versão de "Thelma e Louise" estrelada por atores com síndrome de Down, mas o resultado está mais para "Esqueceram de Mim". O tom de fábula, as piadas de pastelão e os muitos, enormes furos do roteiro, todos remetem a um universo infantil. Eu me frustrei um pouco, pois saí do cinema sabendo pouco mais do que já sei sobre Down. Não tenho nenhum caso na família, nunca convivi, sou quase um leigo absoluto no assunto. Claro que "Colegas" mostra que os portadores da síndrome são capazes de muito mais coisas do que se imaginava há até pouco tempo, e isto é ótimo. Mas não há nem sombra de discussão sobre o preconceito ou os problemas enfrentados por esse pessoal, e eu fui assisti-lo com essa expectativa. O que "Colegas" quer é arrancar um "ownnn" coletivo da plateia, e consegue. Mas não faz a gente sair pensando do cinema.
sábado, 2 de março de 2013
HOLD THE COCK
De vez em quando os críticos de cinema pegam um filme para Cristo. A bola da vez é "Hitchcock", que tem sido muito malhado pela inacuidade histórica. Apesar do título, não é uma cinebiografia: apenas um episódio da vida do diretor está retratado, as filmagens de "Psicose". Ele aparece aqui muito mais simpático do que o encarnado por Toby Jones no telefilme "The Girl", recém-exibido pela HBO - lá o velho Hitch era praticamente um tarado, que aterrorizava suas atrizes com lances de crueldade e grossura. Aqui ele é muito mais agradável e divertido, apesar de Anthony Hopkins não ter ficado extraordinariamente parecido com o original. "Just Hitch, hold the cock", apresenta-se ele às atrizes louras que são seu fetiche. Hoje "Psicose" é um clássico absoluto, mas é interessante ver como foi complicado seu processo de produção. Mais interessante ainda é conhecer a intensa parceria entre Alfred e sua esposa Alma, que corrigia os roteiros, remontava os filmes e tolerava as paixonites platônicas do marido - ao mesmo tempo em que se via tentada a ter um caso extraconjugal (o que não corresponde à realidade, garantem os especialistas). "Hitchcock" não é grandioso, mas tem uma cena antológica: na pré-estreia de sua obra-prima, o maestro do suspense literalmente rege, do saguão do cinema, os gritos da plateia durante a famosa sequência do chuveiro. Outra invencionice, gritam os chatos, mas quem mais se importa?
sexta-feira, 1 de março de 2013
I'LL BE THERE FOR YOU
...So no one told you life was gonna be this way PÁ PÁ PÁ PÁ PÁ! Foca, Tony, foca. Mas tá difícil. Estou dando pulos por dentro de três metros de altura, porque acabei de saber que estou entre os 12 escolhidos pela Globosat. Deixa eu morder uma espátula de borracha, respirar fundo e tentar recapitular. Em janeiro eu participei no Rio do seminário "Story", de Robert McKee. No último dia, o povo dos canais avisou que a brincadeira não terminava por ali: agora eles queriam receber projetos. Mas o prazo era curtíssimo - a data final era a Quarta-Feira de Cinzas, menos de três semanas depois. Eu não tinha nada pronto na gaveta, só três vagas ideias. Escolhi uma delas e ripanachulipa: consegui enviar a tempo, o que já foi uma façanha. Fazia sete anos que eu não escrevia um mísero roteiro. Aí foram dias e dias de suspense, até que, na sexta passada, eu me vi incluído entre os 25 semi-finalistas (de mais de 100 concorrentes). Mais dois dias para traduzir tudo para o inglês, e eis que hoje saiu o resultado. Estou entre os selecionados para uma oficina com Marta Kauffman (criadora do "Friends") , Anthony Zuiker (do "CSI"), Barry Schkolnik ("Law & Order") e Dan Halsted (agente de Hollywood), para deixar o meu programa ainda mais esplendoroso do que já é. Isto não quer dizer que ele vá para o ar ou que já esteja vendido para alguma emissora do grupo, mas é legal à pampa. Vou ter a sorte de trabalhar com alguns dos caras mais fodões da TV de todos os tempos, conhecer os outros roteiristas e encantar a todos com meu charme e veneno. E agora, o que todo mundo quer saber: sobre o quê é a minha série? Nananina, conto não, apesar dela já estar registrada na Biblioteca Nacional. Vai que o Yann Martel seja um dos meus leitores e resolva "melhorar" a minha ideia? Só adianto que tem temática gay. E agora chega de papo, porque eu vou subir na laje, liberar minha Annie Lennox interior e berrar a plenos pulmões para todos o universo: LARARURULARARURALALALALA No one on earth could be like this...
Release the Lennox!
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