domingo, 13 de janeiro de 2013

PORRADA DE AMOR DÓI SIM

Assistir a "Amour" é como visitar uma pessoa querida no hospital. Não é exatamente divertido, mas a lembrança daquele momento permanece na sua cabeça - e acaba fazendo mais bem a você do que ao doente. O filme de Michael Haneke é um retrato austero e honesto do final da vida, bem diferente do clima alto-astral com que gostamos de ver os velhos no cinema. Talvez por culpa de "Ensina-me a Viver", todo personagem com mais de 80 anos tem que transbordar alegria e ser uma "lição de vida" - haja visto a recente Dona Picucha vivida por Fenranda Montenegro em "Doce de Mãe". Na verdade, fantasiamos com velhinhos independentes, que gozem de boa saúde e não deem trabalho a ninguém. A realidade, claro, é muito diferente. E a senhora vivida por Emmanuelle Riva ainda tem a sorte de morar num apartamento imenso em Paris e contar com um marido apaixonado, que cuida dela com carinho exasperado. Essa atriz-símbolo da nouvelle vague estaria com o Oscar no papo se fosse americana, e sua performance é mesmo de uma coragem impressionante. Tão bom quanto mas menos badalado que ela está Jean-Louis Trintignant, que vai aos poucos percebendo a gravidade do estado da mulher. "Amour" tem muitas cenas incômodas, e é impossível sair do cinema sem pensar no que nos aguarda. Consegue a proeza de ser um filme seco, cru (não há trilha sonora) e ao mesmo tempo um dos mais românticos de todos os tempos. É o amor como ele é, ou deveria ser. Uma porrada de amor, dolorida e maravilhosa.

9 comentários:

  1. Um filme pesado, mas excelente e obrigatório.

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  2. estou com medo de ver esse filme e sair com uma crise existêncial do cinema

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  3. Doloroso, incômodo, impossível de não provocar uma reflexão sobre nosso futuro, por mais distante que estejamos do final da vida, como você disse. Mas que filme maravilhoso! Realmente emocionante. Talvez o maior must-see dessa temporada.

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  4. Tony, nenhuma palavra sobre aquele protesto em Paris? Eu fiquei assustado com aquilo!

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    1. Minha próxima coluna na revista "H" compara a oposição ao casamento gay na França com a que aconrece no Brasil - para minha surpresa, a de lá é muito mais barulhenta que a de cá.

      Mas acho que a passeata de ontem merece um post. Fique ligado.

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  5. Tony:

    Um filme definitivamente europeu porque se fosse americano algumas cenas emblemáticas sobretudo a clímax do filme não existiriam, não é mesmo?rss

    Abraços e uma linda semana.

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  6. Oi Tony! Saudades! Lindo esse post. Acho que com essa crise triste na Europa, os cinemas e distribuidores locais estão dando muito valor à produção local por serem mais baratas creio. A consequência são cinemas por todo lado com um filme europeu melhor que outro. Aqui essa semana um festival de cinema em Genebra, foca no cinema português. Me parece que o mesmo vai acontecer no Festival de cinema de Locarno, bem conhecido. Ano passado o cinema Francês ganhou um monte de prêmio. Esse ano acho que não vai ser diferente. Amour e Intouchables foram "super"! Essa semana estreou Renoir. Parece ser bom. Vamos ver. Abração André

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  7. o haneke é meio sádico. manipula o espectador com maestria, e o deixa onde ele quer. haneke sabe fazer filmes muito bem, como sabe. mas ele podia usar esse conhecimento para o bem.

    no final do "sétimo continente" por exemplo, ele dá um golpe de mestre qdo, na última cena, depois de tudo o q se viu, coloca a tela da tv em estática ocupando a tela inteira, gente... ele coloca o espectador no lugar do protagonista suicida. e funciona direitinho.

    não assisti "o filme de benny", mas imagino q tb seja pertubador, assim como "funny games".

    ele é super talentoso. mas é malvado. acho q ele tem raiva da humanidade.

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