terça-feira, 31 de dezembro de 2013

CATORZE OU QUATORZE?

Duas grandes discussões contaminaram a chegada do ano 2000. A maior delas era se o tal do "bug do milênio" iria desligar toda a energia elétrica do mundo, abrindo a portas para o apocalipse zumbi. A outra era se estávamos ou não entrando no século 21. Não, não estávamos, mas vamos combinar que mudar todos os quatro dígitos de uma vez tem um efeito psicológico gigantesco. Acho que essas discussões nos exauriram, porque dessa vez não estou vendo ninguém se perguntando como se escreve o número 14 por extenso. A verdade é que as duas formas são válidas em português (mas parece que em Portugal só se usa a com "c"). Conheço até quem pronuncie o quá. Mas quem é que se preocupa em escrever da maneira correta, num tempo em que abundam os vc e pq? Temos mais o que fazer, eu inclusive. Boa passagem de ano para todos nós.

A FALTA QUE FAZ UM TINTIM

Os livros do Tintim nunca emplacaram nos Estados Unidos. Os americanos preferem que seus heróis sejam super. Que tenham visão de raio-X, que soltem teias de aranha pelo pulso, que voem. A exceção que confirma a regra é o Batman, que não tem nenhum superpoder - e ainda assim precisa de capa e máscara. Essa ausência no imaginário coletivo de uma pessoa comum capaz de grandes feitos é uma das razões por trás dessa bobagem colossal que é "A Vida Secreta de Walter Mitty". O filme tem imagens lindas, paisagens deslumbrantes, efeitos incríveis e atores excelentes, mas nada disso o impediu de ser uma bosta. É uma chorumela sem fim, uma caricatura mal-feita do mundo corporativo, e previsível a mais não poder. Ben Stiller quis fazer uma obra consequente e grandiosa, que no entanto não chega aos pés da piada única que era "Zoolander". E ainda marca pontos negativos ao insistir em chamar "Space Oddity" de "Major Tom". Fuja correndo.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

LOVE FOR LIFE

Há uma longa cena de almoço em "Álbum de Família" que poderia muito bem estar em "Amor à Vida". São tantas farpas e verdades proferidas que eu senti que a qualquer momento o César ou a Pilar entrariam na discussão (que, como na novela, termina em pancadaria, como se pode ver no poster aí ao lado). Essa é uma das graças do filme, adaptado de uma peça premiadíssima: é um folhetim desvairado. A outra é o elenco estelar, com pelo menos 11 atores famosos. O problema é que está quase todo mundo meio over, inclusive (ou principalmente) Meryl Streep. Ela e Julia Roberts fazem um concurso para saber quem está mais ATUANDO, assim mesmo, com maiúsculas. Por outro lado, nomes menos cotados como Margo Martindale ou Julianne Nicholson estão primorosos (e mereciam as indicações ao Oscar que provavelmente irão para as duas mais famosas). "Álbum de Família" foi tido como uma obra-prima no teatro, mas no cinema não passa de uma diversão ligeira para a virada do ano. Combina com as sobras da ceia e os presentes a trocar.

ELAICHI IN BIRYANI

Lembra do All India Backchod? O Porta dos Fundos indiano, que fez um ótimo vídeo satirizando as razões que levam as mulheres a serem estupradas? Os caras estão de volta, dessa vez com a ajuda de Imran Khan - um dos maiores astros de Bollywood. A Índia acaba de ratificar uma lei do século 19 que proíbe a homossexualidade, e neste vídeo Imran responde às perguntas estúpidas que os héteros de lá costumam fazer sobre o assunto. Está todo em inglês, inclusive nas legendas, e a única coisa que eu vou traduzir procês é "elaichi in biryani". Quer dizer cardamomo, uma especiaria doce, sobre um prato típico à base de arroz.

domingo, 29 de dezembro de 2013

MINHAS PESSOAS DE 2013

"Minhas pessoas" soa um pouco esquisito. Parece que estes dez nomes são meus heróis pessoais. Nada disso: são só as personalidades que mais me marcaram este ano, no noticiário ou no entretenimento. Alguns eu quero ter por perto para sempre. Outros merecem ser tragados pela descarga da história. Preciso dizer quem?

ANGELINA JOLIE - A mulher de peito. Ainda não entendo como teve gente que a criticou: ela foi corajosíssima não só em remover os dois seios antes que eles desenvolvessem tumores mais do que prováveis (todas as mulheres de sua família morreram disso), como também em vir a púbico e dar o exemplo. Mas acho que se fosse uma gorda feia todo mundo estaria elogiando; o povo morre de inveja dessa beldade vencedora do Oscar, ainda por cima (bem) casada com o Brad Pitt.

DANIELA MERCURY - Dizer que a cantora baiana revelou sua namorada ao mundo só para se promover é mal disfarçar a prórpia homofobia. Daniela pode virar uma artista confinada a um gueto, sem convites para shows da virada ou campanhas publicitárias. Mas não faz mal. A cultura brasileira precisava de alguém como ela, sem medo de levantar bandeiras. É muito axé.

EDWARD SNOWDEN - Graças a ele ficamos sabendo - ó que surpresa tão rude - que os Estados Unidos espionam ainda mais do que já suspeitávamos. Foi engraçado ver neguinho reclamando do Obama no Facebook, como se o presidente estivesse interessadíssimo nos selfies de neguinho. Depois Snowden ainda ofereceu ajuda explícita ao Brasil, a maneira mais segura de não conseguir asilo por aqui. Que tolinho.

FÁBIO PORCHAT - Para onde quer que a gente olhasse, lá estava ele: na internet, na televisão, no cinema, em absolutamente todos os comerciais. O rapaz não só enriqueceu em 2013 como ainda emagreceu 15 quilos - como não lhe ter ódio? Mas tudo se perdoa a quem escreveu os maravilhosos esquetes de Natal do Porta dos Fundos. No ano que vem ele junta forças com outra integrante desta lista, a Tatá Werneck, para um programa no Multishow. Salve-se quem puder.

MARCO FELICIANO - Não me faltam palavras para descrever o escroto do ano: racista, homofóbico, intelectualmente desonesto, explorador da ignorância alheia. Infeliciano é fruto de um sistema político disfuncional, mas pelo menos serviu para o governo prestar mais atenção à CDH. Ele agora sai de lá de braços dados com a "psicóloga cristã" Marisa Lobo rumo à reeleição para a Câmara dos Deputados. Eca.

MATEUS SOLANO - O maior ator de sua geração transformou um personagem sem pé nem cabeça num ícone, ao nível do Zeca Diabo ou da Viúva Porcina. O Félix de "Amor à Vida" é cruel, sem caráter, reprimido, esnobe e corrupto - e, apesar de ser uma figura inexistente na vida real, quase todas as bichas que eu conheço gostariam de ser um pouco como ele. Estou curioso para ver o que Mateus vai fazer em seguida, mas aposto que irá sumir da TV por pelo menos um ano. Que pena.

MILEY CYRUS - O que foi que a humanidade viu nesta garota? Sua música é chatíssima e sua nova persona de vagabunda é grotesca. Alguém acha mesmo excitante o twerk que ela faz com a língua para fora? Enjoei das divas periguetes. Minha aversão à ex-Hanna Montana talvez só confirme que eu estou de fato ficando velho.

PAPA FRANCISCO - Depois do desastre de marketing que foi Bento XVI, dessa vez a Igreja Católica acertou em cheio. Ninguém melhor que Jorge Mario Bergoglio para reinar no Vaticano. As palavras de tolerância do novo papa estão conquistando o mundo. Será que é só da boca para fora, ou vem mudança para valer por aí?

PAULA LAVIGNE - E por falar em desastre de marketing, ninguém é páreo neste quesito para a ex-senhora Caetano Veloso. A fama de negociadora durona que ela amealhou nos bastidores não resistiu meia hora em frente às câmeras do "Saia Justa". Sua truculência ajudou a enterrar uma causa que já nasceu perdida, as biografias autorizadas. O curioso é que só ela pagou de vilã: Roberto Carlos, o mentor de tamanho despautério, foi rapidamente perdoado, e novamente coroado em seu especial de fim de ano.

TATÁ WERNECK - Sei que é feio escolher dois atores da mesma novela para uma lista de destaques do ano, mas não teve outro jeito. O talento de Tatá, antes conhecido apenas pelo minguado público da finada MTV, explodiu para todo o país e fez da moça um household name quase que do dia para a noite. Inteligência pura!



Sim, faltou alguém que simbolizasse as manifestações que sacudiram o Brasil no meio do ano. Pensei em incluir o Movimento Passe Livre, o Fora do Eixo de Pablo Capilé ou até mesmo os black blocs, mas todos me pareceram meio amorfos...

MEUS PROGRAMAS DE TV DE 2013

Meu ano diante da TV foi marcado pela chegada do Netflix à minha casa, o que me permitiu ver séries como "Nurse Jackie" desde o começo. Esse foi o lado bom: o ruim foi o fim da MTV do grupo Abril, o mais importante laboratório de renovação da televisão brasileira dos últimos 20 anos. Mas há muito mais a se destacar:

BREAKING BAD, Netflix - A melhor série dramática dos últimos tempos precisou chegar à última temporada para que o mundo inteiro (inclusive eu) a descobrisse - e se viciasse como se fosse mesmo crystal meth da boa. A história do professor bundão que descobre seu potencial para a maldade ao se ver desenganado se tornou um clássico instantâneo, e o nome Heisenberg virou sinônimo de bacanérrimo.

ORANGE IS THE NEW BLACK, Netflix - OK, eu confesso: não consegui passar do primeiro episódio de "House of Cards". Mas o Netflix me pegou de jeito com outra de suas séries originais, a sensacional "Orange is the New Black". Ainda tive a sorte de ler o livro e conversar com a autora Piper Kerman. Agora torço para que a 2a. temporada chegue logo.

AMOR & SEXO, Globo - Era para ser a derradeira temporada, mas tudo deu tão certo que a emissora quer mantê-lo na grade em 2014. A fórmula não precisa mais de ajustes, e Fernanda Lima atingiu o estado de graça. A nudez na estreia foi o momento de maior impacto da TV brasileira este ano. Sexy sem ser vulgar!

GAME OF THRONES, HBO - E a cena de maior impacto produzida pela TV americana em 2013 foi mesmo o sangrento "Casamento Vermelho", que encerrou o penúltimo episódio da 3a. (e melhor) temporada de "Game of Thrones". Afff, não me recuperei até agora.

PRÓFUGOS, HBO - Se esta série espetacular sobre narcotraficantes em fuga não fosse chilena nem falada em espanhol já teria virado cult há muito tempo. É a melhor produção da HBO na América Latina, com tomadas de tirar o fôlego e uma trama policial e política com que os brasileiros se identificam facilmente. Fora que um dos atores é o irresistível Benjamin Vicuña. - pena que não seja ele quem faz o fugitivo gay.

MASTERS OF SEX, HBO - William Masters e Virginia Johnson inventaram a profissão de sexólogos, mas a história real deste casal de médicos não tem nada de clínica ou fria. A primeira temporada se passa nos anos 50, logo antes da revolução sexual, num clima fascinante de repressão e descobertas. "Masters of Sex" é um folhetim recheado de sacanagem, mas de supremo bom gosto. Um programa para gente grande, que deve causar um estrago na premiação dos Emmys do ano que vem.

O CANTO DA SEREIA, Globo - Logo na primeira semana de janeiro chegou esta ótima adaptação de um livro de Nélson Motta, feita com boa parte do elenco e da equipe de "Avenida Brasil". Ísis Valverde está tão deslumbrante como uma estrela do axé assassinada em pleno trio elétrico que quase nos convenceu de que realmente canta bem. São só quatro capítulos, disponíveis no NOW, o serviço de vídeo on demand da NET. Vai lá se você perdeu quando passou no ar.

A MENINA SEM QUALIDADES, MTV - O canto da sereia da antiga encarnação da MTV foi esta minissérie em oito episódios, que trouxe uma linguagem inovadora e uma incrível interpretação de Bianca Comparato como uma adolescente que de fofa não tem nada. Foi prejudicada pelo absurdo horário de exibição imposto pela Abril (meia-noite!), mas reconhecida pela crítica como um dos grandes momentos da TV em 2013. Ah, e foi produzida por este gênio absoluto que é meu irmão Zico Goes.

DOWNTON ABBEY, GNT - Fico só imaginando a cara dos ingleses quando, em plena noite de Natal, o que parecia ser um episódio bem tranquilinho da 3a. temporada de "Downton Abbey" de repente perdeu o volante, bateu numa árvore e... A série foi criticada por ter estragado a ceia de muita gente, mas compensou ao escalar Shirley MacLaine como a avó americana, para um embate delicioso com Maggie Smith.

BROADCHURCH, GNT - Também é da Inglaterra que vem essa minissérie. Um crime misterioso abala uma cidade à beira-mar; um par de detetives descobre uma pá de segredos. Não só uma 2a. temporada já está em produção, como também um remake americano.

Bom, não foi só isso. Também gostei muito de alguns episódios de "AS CANALHAS" (GNT) - não todos, é verdade, mas isto é normal em séries de antologia, sem personagens fixos. Achei que o reencontro do "SAI DE BAIXO" (Viva) foi mais divertido do que eu esperava. E a cinebiografia de Liberace, "BEHIND THE CANDELABRA" (HBO), foi o melhor telefilme do ano.

Ah, e não posso esquecer do "VÍDEO SHOW" (Globo), o melhor programa da história da humanidade de todos os tempos sem exceção. Mas eu sou suspeito.

sábado, 28 de dezembro de 2013

MEUS FILMES DE 2013

Devo estar com altos níveis de serotonina no cérebro, porque também tive dificuldade em reduzir minha lista dos melhores filmes do ano a apenas 10 títulos. O nível de porcaria que eu vejo no cinema caiu drasticamente, talvez por eu estar evitando sequências de comédias bobas e quase tudo com super-heróis. Saca só:

Sabe aquele tipo de filme que cresce na sua cabeça depois de visto? Pois é, "A GRANDE BELEZA" está cada vez maior para mim. Um pouco graças ao Contardo Calligaris, que fez uma leitura interessante: nossa tendência é condenar o protagonista por ter dissipado sua vida em festas e mulheres. Mas quem disse que ele a dissipou? O filme de Paolo Sorrentino acaba de ganhar o Grande Prêmio do Cinema Europeu e está entre os nove pré-selecionados para o Oscar de obra em língua estrangeira. Tomara que a Academia abra os olhos.

Uau, meu. Ki du caralho. Só mesmo um espetáculo grandioso em 3D (que ainda vi em 4DX) para despertar o moleque que havia em mim. O mexicano Alfonso Cuarón, que já tinha brindado a humanidade com obras-primas tão diferentes como "Y Tu Mamá También" e "Children of Men", deu um tour de force com "GRAVIDADE". Um drama existencial no espaço sideral onde coube até um pouco de humor involuntário: quem mais achou que George Clooney ia pedir um Nespresso para Sandra Bullock naquela cena em que ele volta à nave?

Muito me espanta "BLUE JASMINE" estar sendo louvado apenas pela excepcional performance de Cate Blanchett. Para mim é o melhor Woody Allen em mais de uma década - superior, inclusive, aos mais badalados "Vicky Cristina Barcelona" e "Meia-Noite em Paris". Esta variante contemporânea de "Um Bonde Chamado Desejo" deu a uma das grandes atrizes da atualidade uma personagem complexa, que se esforça para manter uma existência frívola enquanto se corrói de culpa por ter denunciado o marido. Abre espaço na prateleira, Cate.

"A HORA MAIS ESCURA", o filme de Kathryn Bigelow sobre a caçada a Osama Bin Laden, se arriscou no pântano da dubiedade e dividiu opiniões. Tanto que saiu de mãos abanando do último Oscar (só levou meia estatueta pelo Melhor Som, dividindo-a com "Skyfall"). Também provocou um debate animado nos comentários do meu post sobre o filme, insuflado por leitores de princípios inabaláveis. Ah, é o que eu sempre digo: como deve ser triste ter uma mente pequenina, onde não cabem duas ideias contraditórias ao mesmo tempo.

Os velhinhos no cinema são quase sempre espevitados. Uns malandrinhos que curtem a vida adoidado, não dão trabalho a ninguém e ainda servem de exemplo para a gurizada. A realidade é bem mais cruel, e ganhou um raro retrato em "AMOUR". O diretor austríaco Michael Haneke nunca usou luvas de pelica para acariciar a plateia, e, pela primeira vez, eu deixei que ele me tocasse fundo. "Amour" ganhou Cannes em 2012 e o Oscar de filme estrangeiro este ano, mas nem por isto é agradável de se ver. Mas é obrigatório. Coragem.

Os gays também se acostumaram a serem retratados com simpatia no cinema. O que não falta por aí é filminho de saída de armário, onde a bicha novata encontra namorado, família e trabalho, tudo no mesmo dia. Por isto o choque que "UM ESTRANHO NO LAGO" causa nos mais sensíveis: o comportamento irresponsável de muitos homossexuais aparece escancarado na tela, embalado por cenas quentíssimas de sexo explícito. Eros e Tânato, tesão e morte, AIDS e boa-noite-cinderela. Para estômagos fortes.

A mais longa DR da história do cinema chegou ao seu terceiro episódio em "ANTES DA MEIA-NOITE". Nove anos depois de resolverem ficar juntos, dessa vez os pombinhos não estão mais se seduzindo. Estão é tentando manter vivo um bom casamento, que no entanto é sujeito a precalços como qualquer outro. Julie Delpy e Ethan Hawke fazem um casal tão crível que é difícil pensar que eles não namoram na vida real. E o filme ainda tem a Grécia como cenário - um bálsamo para os meus olhos, então recém-chegados de lá.

Outra metáfora cinematográfica, desta vez sobre a ditadura franquista. Pois a "BRANCA DE NEVE" dessa obra-prima muda e em preto-branco é a própria Espanha, que caiu em sono profundo depois de morder a maçã envenenada da Guerra Civil. Maribel Verdú está magnífica como a Rainha Má, toda caras e bocas e glamour e atitude. Um fecho de ouro para o ciclo brancanevístico que agitou o cinema e a TV do mundo inteiro nos últimos dois anos, rendendo desde tolices hollywoodianas até a série "Revenge" e a novela "Avenida Brasil".

François Ozon confirmou duas vezes em 2013 porque é meu diretor francês favorito. Primeiro com o excelente "Dentro da Casa", uma versão suavizada do "Teorema" de Pasolini para os tempos que correm. Depois com o ainda melhor "Jovem & Bela", sobre uma adolescente de classe média que se prostitui logo depois de perder a virginidade, só porque... assista ao filme. Ainda está em cartaz por aí. Agora torço para que Ozon volte a fazer um musical, como o esplêndido "Oito Mulheres". Ou que volte ao Brasil e nos agracie com sua formosura.

Sou um dos poucos que não ficou de quatro por "O Som ao Redor" o filme que o Brasil escolheu para representá-lo no Oscar (e que já foi eliminado, judiação). Mas me rendi ao cinema vigoroso que vem de Pernambuco com "TATUAGEM", uma viagem ao desbunde dos anos 70. Foi quando, em pleno regime militar, sexo, drogas e liberdade afloraram como nunca depois. O caretíssimo Brasil de hoje tinha que fazer um revival daquele tempo, pelo menos nos costumes. E "Tatuagem" ainda tem as melhores cenas de tesão entre homens do nosso cinema.

Se houvesse justiça no mundo, minha lista dos 10 Mais incluiria muito mais coisa:

ALÉM DA FRONTEIRA - OS AMANTES PASSAGEIROS - ANNA KARENINA - AZUL É A COR MAIS QUENTE - A CAÇA - CAPITÃO PHILLIPS - CONTOS DA NOITE - DEPOIS DE LUCÍA - DJANGO LIVRE - FAROESTE CABOCLO - FERRUGEM E OSSO - FLORES RARAS - FRANCES HA - GUERRA MUNDIAL Z - O GRANDE GATSBY - HANNAH ARENDT - O HOBBIT: A DESOLAÇÃO DE SMAUG - INDOMÁVEL SONHADORA - JOGOS VORAZES: EM CHAMAS - O LADO BOM DA VIDA - MINHA MÃE É UMA PEÇA - LES MISÉRABLES - MONSIEUR LAZHAR - QUAL É O NOME DO BEBÊ? - OS SABORES DO PALÁCIO - SERRA PELADA - AS SESSÕES - O VERÃO DO SKYLAB...

Mas não há.

MEUS DISCOS DE 2013


O ano musical foi surpreendentemente bom para mim, tanto que tive dificuldade em fazer a lista dos meus 10 discos favoritos. Cheguei a um shortlist de 25, que eu só não posto comentado porque estou com preguicinha. Mas meu gosto continua o mesmo: muitos eletrônicos, nada de rock, alguns exotismos e bobagens. Me julguem.

RANDOM ACCESS MEMORIES, Daft Punk
- Ando tão no mainstream que vou concordar com a opinião da maioria: este é mesmo O disco do ano, inovador justamente por ser tão retrô. A dupla francesa resgatou nomes importantíssimos como Giorgio Moroder e Nile Rodgers num álbum impecável do começo ao fim, que vendeu muito e ainda foi indicado ao Grammy. Não há muito mais o que dizer: just lose yourself to dance.

PRESENTE, Bajofondo
- Adoro tango eletrônico, e ninguém é melhor no gênero do que esse coletivo de argentinos e uruguaios comandado por Gustavo Santaolalla. Dessa vez não há participações especiais, mas não fez falta: os pibes fazem sozinhos a melhor música das margens do Prata - e, apesar de já terem até emplacado um tema de abertura de novela, ainda são pouco conhecidos no Brasil. Procure saber.

CLARIDÃO, Silva
- O disco desse capixaba saiu no final de 2012, mas, como eu só comprei em janeiro, para mim vale por este ano. E é simplesmente o melhor nacional de 2013: uma sonoridade original, uma voz límpida, um nome banal que se destaca na multidão. A acústica "A Visita" tocou até em comercial de perfume, mas minha favorita continua sendo o technopo suave de "Mais Cedo". Silva chegou para ficar.

ÖPTUM, Sezen Aksu
- Eu trouxe uns 30 CDs da Turquia e poderia ter feito meu Top 10 deste ano só com eles. Desses todos meu destaque vai para "Öptum" ("beijada"), o milésimo disco da longa carreira de Sezen Aksu, a cotovia de Istambul. Esta cantora de voz possante e compositora de mão cheia (ela escreveu a "melô do beijinho", lembra?) é uma das forças por trás do turkçe pop. Tem na iTunes Store.

WOMAN, Rhye
- A dupla formada pelo cantor canadense Milosh e pelo músico dinamarquês Robin Hannibal foi uma das pegadinhas sonoras do ano: eu jurava que era uma mulher nos vocais. Não enjoo de ouvir esse disco suave e sofisticado, um perfeito antídoto contra o desgaste da vida moderna. Conheci-os graças a uma compilação da rádio Nova, a melhor da França, ótima para quem quer novidades.

ODEON, Tosca
- Estou me dando conta de que gosto mais de duplas do que de bandas com muita gente. Esta aqui vem da Áustria, e eu acompanho o trabalho dos caras desde 2000. Depois de alguns anos na moita, eles ressurgiram com "Odeon" fazendo rigorosamente o mesmo "ambient" de sempre. A única ousadia é "Stuttgart", uma releitura de "Cira, Regina e Nana" do baiano Lucas Santtana. Danke schön.

BEYONCÉ, Beyoncé
- Por trás de todo o hype do lançamento surpresa e da magnitude do projeto, "Beyoncé" é um disco bastante atrevido para a única pretendente séria ao trono de Madonna. Não há um único hit óbvio, nenhum refrão grudento, nada que vá tocar no rádio. Mas há muita experimentação (bem mais na música do que nos vídeos) e, sim, muito auto-endeusamento. Mas deusas como B. podem.

SWINGS BOTH WAYS, Robbie Williams
- Fazia um tempo que eu não dava a mínima pelo rapaz. Mas foi só ele voltar a gravar um disco no estilo de Frank Sinatra e, claro, insinuar pela trigésima vez que corta dos dois lados que, pronto, reconquistou minha atenção. Robbie é um cantor excelente de gosto impecável: do repertório (com algumas inéditas e muitos clássicos) aos convidados, tudo aqui funciona.

TALES OF US, Goldfrapp
- Taí outra dupla da qual eu sempre gostei, mas que não frequentava minhas listas de final de ano desde a estreia, em 2000, com o épico "Felt Mountain". O Goldfrapp alterna discos mais dançantes com outros mais introspectivos, e eu costumo preferir os primeiros. Mas dessa vez eles acertaram o ponto e produziram um dos CDs mais lindos do ano, tristonho sem ser deprê. Para meditar.

ARTPOP, Lady Gaga
- Para com isso, gente. A Germanotta ainda dá um caldo, apesar de se achar muito mais bacana do que realmente é. Nem precisava: "Artpop" é divertido, com algumas ideias recicladas e outras realmente inovadoras. Não vai arrebentar nas vendas nem marcar época, mas ainda é melhor que os lugares comuns de Katy Perry ou o cantochão periguete de Miley Cyrus. Discutam.

E para chegar aos 25, lá vai o resto da lista em ordem alfabética:
THE 20/20 EXPERIENCE, Justin Timberlake
ADIMI KALBINI YAZ, Tarkan
ATENTO AOS SINAIS, Ney Matogrosso
BANKRUPT, Phoenix
CAMPO, Campo
ELECTRIC, Pet Shop Boys
MUJER DIVINA, Natalia Lafourcade
NEW, Paul McCartney
THE NEXT DAY, David Bowie
NOSSA ONDA É ESSA, Bossacucanova
PRISM, Katy Perry
RAPOR, Active Child
REPEAT AFTER ME, Los Amigos Invisibles
SHULAMITH, Poliça


Só para encerrar, alguns hits avulsos que estacionaram na minha nuvem:
BLURRED LINES, Robin Thicke
A LITTLE PARTY NEVER KILLED NOBODY, Fergie
SOÑANDO CONTIGO, Kiko Navarro feat. Concha Buika
THEY JUST KEEP MOVING THE LINE, Megan Hilty
(de "Smash")
THE WIRE, Haim
SAME LOVE, Macklemore & Lewis


...dois turcos excelentes que você pode conferir aqui...
AŞK LAZIM, Gökhan Türkmen
YOLUMUZ AYNI, Ege Cubukçu


...ah, e porque eu sou brasileiro e não desisto nunca:
AMOR DE CHOCOLATE, Naldo
SHOW DAS PODEROSAS, Anitta


O ouvido é meu, OK?

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

FILM AUTOROUTE

A protagonista de "Ela Vai" faz o que todos já sentimos vontade de fazer: ao ficar #chatiadíssima, larga tudo, pega o carro e sai por aí. Sem saber onde vai e sem ter hora para voltar. É um road movie francês, um autêntico film autoroute, quase que um Tour de France. Catherine Deneuve faz o que pode para não ficar deslumbrante: cabelo desgrenhado, um mínimo de maquiagem, roupas que não escondem que ela está cheinha. "Ela Vai" se inscreve num novo subgênero do cinema, que trata da crise feminina da meia-idade. Como no recente "Os Belos Dias" com Fanny Ardant, a mensagem é otimista: "apesar dos seus defeitos e da sua idade, você ainda está linda e pode amar muuuito". Claro que pode, ainda mais se você for Catherine Deneuve ou Fanny Ardant. Enfim, não é uma obra-prima, mas dá para ver. Vai.

A CAVERNA DO DRAGÃO

Demorei quase duas semanas para ver o segundo capítulo da pseudo-saga "O Hobbit" porque não gostei muito do primeiro filme. Digo pseudo-saga porque o livro original é fininho e voltado para o público infanto-juvenil, mas a sanha dos produtores o transformou em três filmes longuíssimos. O do ano passado, "Uma Jornada Inesperada", se ressentia de falta de assunto e não era mais do que um monte de correrias a esmo. Mas o de 2013, "A Desolação de Smaug", é bem mais focado e interessante. Aqui pelo menos os personagens parecem ter um objetivo claro, e os efeitos especiais - principalmente o dragão, que aparece no título e numa caverna repleta de ouro - são de arregalar os olhos. A história se interrompe bruscamente, como é de praxe nos episódios do meio de trilogias: assim estamos fisgados para ver a conclusão no Natal do ano que vem. Mas mesmo com um roteiro afiado e um visual exuberante, é inegável que qualquer coisa que tenha a ver com "O Senhor dos Aneeis" perdeu muito da graça por causa de "Game of Thrones". A série da HBO deve sua existência à obra de J. R. Tolkien, mas o sexo e as intrigas de suas tramas deixam os hobbits com cara de anões de jardim.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

THE GANG'S ALL HERE

Ontem terminou a quarta temporada de "Downton Abbey" na Inglaterra e é claro que eu não resisti a vasculhar a internet para descobrir o que aconteceu. Ano passado foi uma hecatombe: a morte de Matthew Crawley, nos últimos minutos do episódio, estrageou a ceia de milhões de britânicos. Pelo teaser acima parece que o grande momento foi uma visitinha aos reis no Palácio de Buckingham. Quem souber se morreu alguém, por favor me conte. Ou não. Sim, por favor. Melhor não. Conta, porra! Não, prefiro não saber. Yessss. Nooooo. E assim por diante.

CAFÉ COM VOLTA

Faz tempo que eu não dou dicas de vida noturna aqui no blog, mas tenho que abrir uma exceção para o meu filhinho Duda Hering. Depois de mais três anos na moita, eis que o Café com Vodka reemerge em Florianópolis. A festa que ele criou - e que marcou época no extinto Sonique em SP - acontece amanhã na Lake Club, às margens da Lagoa da Conceição. A DJ Cella Toledo, revelada nas edições paulistanas e hoje morando em Nova York, vai estar lá, e já disponibilizou uma palhinha do que rola nessa sexta. Fikdik pra quem estiver na Ilha da Magia.