domingo, 30 de setembro de 2012

VOTO DE SILÊNCIO

Hebe Camargo foi assumidamente malufista durante mais de uma década. Nunca subiu em palanques, é verdade, mas também nunca escondeu que votava em Paulo Maluf. Ele foi um dos convidados-surpresa do programa "Gente que Brilha" em homenagem à apresentadora, do qual eu fui roteirista. Hebe era sincerinha em seu apoio: como muita gente, ela achava que Maluf era um grande tocador de obras, sem se dar conta que estas eram superfaturadas. O que pouca gente sabe é que Hebe não morreu malufista. Quando ela finalmente se deu conta de que a fama de corrupto do ex-prefeito e governador era mais do que justificada, se afastou dele sem fazer barulho. Jamais veio a público dizer que não votava mais em Maluf, talvez por ter sido muito amiga da família. Pagou um preço por este silêncio: nos comentários aos artigos sobre sua morte, muita gente a acusa de ter estado ao lado de um dos nomes mais controvertidos da história da nossa política, desmerecendo toda uma carreira de glórias por causa deste escorregão. Sim, ela era de direita, e precisamos parar de achar que que isto é pecado. Estamos numa democracia. Mas Hebe não fez questão de limpar a própria ficha. A pecha de malufista colou nela muito mais do que em Ana Maria Braga - que foi assessora de Silvia Maluf por anos a fio, antes de estourar na TV. Hebe simplesmente inventou a figura da apresentadora de TV, pois não tinha em quem se inspirar. Mas as patrulhas ideológicas não a perdoam, porque não sabem que ela renunciou a Maluf. Já o Lula...

sábado, 29 de setembro de 2012

UMA GRACINHA

Eu era criancinha e Hebe Camargo já reinava absoluta na TV brasileira. Seu programa das noites de domingo, na Record, era parada obrigatória para todas as celebridades internacionais que visitavam o Brasil: lembro da visita do dr. Barnard, o médico sul-africano que realizou o primeiro transplante de coração da história, recebido com samba e a indefectível gargalhada. Hoje cedo, quando soube da morte dela, corri para escrever uma coluna extra para o F5. Mas claro que lá não teve espaço para a avalanche de memórias que eu tenho da "louruda", como a chamava o José Simão. Das palhaçadas nos especiais em preto-e-branco dos anos 60 à interpretação definitiva de "Você Não Sabe" no show "Elas Cantam Roberto Carlos", Hebe sempre brilhou, muito mais do que seus brilhantes. Já disse mas vou repetir: ela era um buraco negro de tanto carisma, atraindo todas as câmeras e atenções para si mesma num raio de dez quilômetros.

NO ESPLENDOR DOS 90 ANOS

Que privilégio que é ver Bibi Ferreira, no esplendor dos 90 anos de idade, passar uma hora e pouco no palco contando e cantando os melhores momentos de sua vida. Com um decote profundo, braços à mostra e a bordo de saltos altíssimos, esta força da natureza nos emociona e faz rir sem parar. Bibi nunca teve uma voz de rouxinol, mas seu poder como intérprete a fez brilhar em musicais estrangeiros e nacionais, de "My Fair Lady" a "Gota d'Água" (que, aliás, estava mais do que na hora de ser remontada). Já a tinha visto outras vezes, inclusive na peça "Piaf", um de seus maiores sucessos, e num show dedicado aos fados de Amália Rodrigues. Mas vê-la interpretando a si mesma, a esta altura do campeonato, é presenciar um triunfo sem precedentes. Que bom que ela está lá, que bom que eu também.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

VOA, VOA, BRABULETA

Estou impressionado com o amor que muita gente dedicou a "Cheias de Charme". Tenho amigos que admitiram no Facebook estarem chorando com o último capítulo da novela. Eu não a acompanhei direito: estou sempre no trabalho a essa hora. Mas assisti à última semana do programa pela Globo.com, para poder embasar melhor a minha coluna de hoje no F5 (uma das de maior repercussão de todos os tempos). Analisei o sucesso de "Cheias de Charme" no site, mas acabei não tendo espaço para citar o que mais gostei: a formidável Chayene, uma vilã antológica, na divertidíssima interpretação de Cláudia Abreu. Agora resta a dúvida atroz: quem venceria um embate entre Chay e Carminha? Ou será que a primeira não passa de uma variante da segunda, só que com mais purpurina?

50 TONS DE CHIAROSCURO

A exposição "Caravaggio e seus Seguidores" termina este domingo em São Paulo, então corri para o MASP na hora do almoço para ver se evitava as filas do final de semana. Ledo engano. Fiquei mais de meia hora em pé na escadaria esperando a minha vez, mas valeu cada segundo. A mostra é pequena: são só sete telas de autoria comprovada do mestre, inclusive duas versões quase idênticas de "São Francisco Penitente", além de menos de vinte de seus discípulos e imitadores. Quase todas explorando a maravilhosa invenção do chiaroscuro, em que um foco de luz forte vindo de fora da cena ilumina pessoas e objetos que estavam na penumbra. Tem coisas extasiantes (e manjadas) como a cabeça da Medusa num escudo, e outras que eu não conhecia. Difícil escolher minha favorita, mas acho que é a "Madalena Desmaiada" de Artemisia, uma das raríssimas pintoras mulheres do período barroco. A descrição oficial da tela diz que a possível namorada de Jesus teria desfalecido depois de uma sessão extenuante de penitência (ela tem um chicote nas mãos), mas a posição da caveira em seu ventre e o sorriso em seus lábios não deixam muitas dúvidas acerca do que realmente se passou.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

NÃO PARA A IGREJA

Courage é uma organização que funciona dentro da Igreja Católica nos Estados Unidos para tentar manter as bichas dentro do armário e convencê-las a permanecer no rebanho. A abordagem é até macia, se comparada à demonização com que os evangélicos nos atacam. Os caras não dizem que você escolheu ser gay: dizem que você escolheu a identidade gay, que é uma maneira de chamar de pecador quem preferiu vivenciar a sexualidade que Deus lhe deu. Para ser gay e católico, você precisa reprimir os seus desejos. Tudo bem querer queimar na rosca: o que você não pode é queimá-la para valer. O vídeo acima expõe com clareza, num semi-rap patético, essa mnentalidade perversa do "não ao casamento gay, sim a você". Só que este eu a quem a Igreja diz sim não sou eu, é um covarde. Que não tem a coragem de mandá-la tomar no cu, e no mau sentido.

I LOOK DELICIOUS

Beijo na boca é coisa do passado. Agora a moda é andar com um calombo em forma de bagel na testa, pelo menos no Japão. Basta uma injeção de solução salina e voilà: pelas próximas 16 horas, você exalará charme e modernidade, até que seu corpo absorva todo o líquido. Perfeito para quem busca uma razão objetiva que explique porque nunca pega ninguém na balada.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O SEU SOBRESCRITO EU RECONHECI

Fui ler a lista de signatários da tal "Carta Aberta ao Povo Brasileiro" e tive uma surpesa tão rude ao encontrar o nome de alguns amigos e conhecidos. O documento, divulgado ontem, condena o "espetáculo" em que teria se transformado o julgamento do mensalão e manifesta preocupação com a transformação dos ministros do Supremo em "heróis". É natural que as pessoas que assinaram o texto, quase todas historicamente ligadas à esquerda, estivessem torcendo por um resultado oposto ao que vem se desenhando até agora. Mas não deixa de ter uma pitada de patético o fato de tantos professores e intelectuais não perceberem o umbral histórico que o Brasil está cruzando neste momento. O que está em jogo é muito maior do que a reputação de Lula ou mesmo o projeto político do PT: é toda uma cultura de compadrio e leniência entre os poderosos que começou nas caravelas de Cabral e fincou raízes nesta terra em que se plantando tudo dá. Os brasileiros não toleram mais a corrupção, venha de onde vier, e isto se reflete no STF. Insinuar que se trata de "golpe" ou "conspiração das elites" é xingar a inteligência do público, ainda mais do que o João Emanuel Carneiro anda fazendo na reta final de "Avenida Brasil". Mas adianta reclamar? Essa turma ainda acha que Cuba é o paraíso, os EUA são o Grande Satã e o ursinho Ted merece ir para o paredón.

POBRINHO DE HUMOR

É sinal de maturidade de uma cinematografia quando ela começa a rir de si mesma. Sinal de que ela já conta com um mercado considerável e que produziu títulos tão populares que já podem ser satirizados. Por isto, fiquei contente quando li que "Totalmente Inocentes" era uma paródia ao "favela-movie", o gênero por excelência do cinema brasileiro na última década. O filme inclusive está sendo vendido como uma espécie de "Todo Mundo em Pânico" tupiniquim, tirando sarro de grandes sucessos como "Cidade de Deus" e os dois "Tropa de Elite". Só que ele não é bem isto. Tampouco é uma comédia do começo ao fim: lá pelas tantas, os roteiristas simplesmente desistem de fazer piadinhas, e a história se torna dramática, com muitas lágrimas e ameaças de violência (apesar de um único tiro ser disparado durante o filme todo, e para o alto). Efeitos modernex e atores legaizinhos não evitam o desastre. E a presença de Fábio Porchat só me fez pensar que estava assistindo a um episódio longuíssimo e sem graça nenhuma do "Porta dos Fundos". Uma pobreza.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

LIBERDADE PARA TED

Acho o PC do B uma das legendas mais bizarras da política brasileira (o partido jamais renunciou à linha "albanesa", que prega um socialismo que seria de anedota se na prática não tivesse sido cruel), mas nutria uma certa simpatia pelo delegado e deputado Protógenes Queiroz. Achei que ele tinha tido uma participação fundamental, ainda que destrambelhada, no caso Satyagraha, e que sua presença no Congresso seria muito mais importante que a do Tiririca, cujo enxame de votos garantiu sua eleição. Mas esta semana o cara revelou não só suas verdadeiras cores autoritárias, como também que é péssimo pai. É de um ridículo interminável a campanha que o nobre parlamentar promove no Twitter, sob a "hashtag" "#foraFilmeTED". Que pai é este que leva o filho de 11 anos a um filme recomendado para maiores de 16, sem ter visto o trailer ou sequer lido a sinopse do jornal? Ele deve ter se deixado seduzir pela imagem do ursinho fofinho que anda e fala, olha só que meigo. Mas pelo jeito não reparou nas peças promocionais como esta aí da foto, exposta em muitos cinemas. O vexame de Protógenes também revela um traço comum a quase todos os brasileiros, entre os quais eu me incluo. Quando não gostamos de alguma coisa, nem sempre procuramos contra-argumentar. Queremos que a tal coisa seja proibida, censurada, tirada sumariamente de circulação. É herança dos tempos da ditadura, da colonização portuguesa, da cultura patriarcal, sei lá: só sei que a não-liberdade de expressão está impregnada em nosso DNA psíquico. Eu não defendo uma liberdade de expressão tão ampla como a que vigora nos Estados Unidos, que permite que igrejas odiosas façam manifestações repugnantes em enterros de soldados e celebridades, ou a livre circulação de ideias racistas e nazistas. Acho o modelo europeu, com alguns limites, muito mais apropriado. Mas mesmo deste ainda estamos a anos-luz de distância, apesar do que diz a Constituição de 1988. Nossa reação automática é sempre tentar calar o outro à força. Prometo que vou me policiar mais, principalmente no debate sobre os direitos igualitários. Além do mais porque acabamos fazendo o jogo do inimigo, que se faz de coitadinho e diz ter sua opinião cerceada, ô dó. É duro, mas vou procurar seguir a frase fundamental de Voltaire: "Não concordo com uma só palavra do que dizes, mas defenderei até a morte o direito de dizê-las". E que venha o Malafaia.

DA ARTE DE PULAR A CERCA

O adultério é um tema inesgotável e a matéria-prima para muitos dramas e comédias. Só que, nos últimos anos, eles vinham assumindo um tom moralista: invariavelmente o sujeito que pula a cerca não só é punido como se arrepende amargamente. Ainda bem que "Os Infiéis" escapa dessa armadilha, provavelmente porque tem DNA francês. Sim, aqui muitos dos traidores também são punidos, mas nem por isto voltam de rabo entre as pernas aos braços da esposa. O filme na verdade é uma coleção de curtas de variadas durações - um deles está inteirinho no trailer aí em cima - dirigidos por sete diretores diferentes. Entre estes estão os atores principais, os quase-sósias Gilles Lellouche e Jean Dujardin (que finalmente abre a boca, depois de ganhar um Oscar pelo mudo "O Artista"). Claro que alguns episódios são melhores que outros, mas o resultado geral é muito acima da média da baboseira sentimental que se vê por aí. Meu favorito é o do cara que está na convenção da firma e precisa comer alguma mulher, seja ela quem for. E para as bibas que nutrem fantasias com os bonitões do elenco, aqui está uma delas realizada (não clique se você não quiser estragar uma das surpresas do filme).

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

O QUE VOCÊ VAI COMER NO SEU?

Os prêmios Emmy foram entregues ontem à noite e havia tamanho excesso de indicados merecedores que foi impossível evitar injustiças. Mesmo assim, achei um pouco demais Julie Bowen e Eric Stonestreet, ambos de "Modern Family", levarem suas segundas estatuetas de coadjuvante: ainda tem gente no elenco do programa que nunca ganhou, como a esplendorosa Sofía Vergara. Também foi esquisito ver Jon Cryer ganhar por melhor ator de comédia, mas pelo menos as divas Jessica Lange e Julianne Moore não saíram de mãos abanando. Agora estou curioso para ver "Homeland", que impediu a quinta vitória consecutiva de "Mad Men". E encantado com o talento dos americanos para este tipo de cerimônia. A de ontem nem foi das mais sensacionais, mas teve muitos momentos engraçados. Meu favorito está no vídeo acima, que mostra como a pequena Lily de "Modern Family" é um monstro de maldade. Não vou traduzir tudo - só este trechinho aqui, a partir da marca do 1 minuto. Ele faz referência à cadeia de fast food Chick-Fil-A, aquela que faz doações a ONGs anti-gays:

- Estou ouvindo você mastigar, o que você está comendo?

- Sanduíche de galinha com dois picles...

- Peraí, esse sanduíche é de onde eu estou pensando?

- Sim. É o que eu vou comer no meu casamento. O que você vai comer no seu?

AMERICAN PSYCHO

Algumas pessoas me pediram para fazer um post sobre o deslize de Paris Hilton, que comentou num táxi que "os gays são nojentos e transmitem AIDS" só para ter suas palavras gravadas pelo motorista e subidas na internet. Paris teve alguma graça em meados da década passada, mas hoje em dia não merece mais atenção que a Siri do "BBB 5". Fiquei com preguiça de tocar no assunto, mas hoje me senti impelido. Tudo porque o escritor Brett Eaton Ellis tuitou que concorda com Paris Hilton, inclusive porque já usou o Grind'r e acha tudo aquilo disgusting. Ellis escreveu um dos livros mais divertidos que eu li na vida: o ultraviolento "Psicopata Americano", em que um jovem yuppie mata inocentes com requintes crueldade num capítulo e no seguinte faz uma resenha apaixonada de um disco de Phil Collins. O autor também já se definiu como hétero, gay, bi, nenhuma das anteriores e tudo ao mesmo tempo agora, e parece ser mais um espírito conturbado em luta com a própria sexualidade. Não, não vou julgá-lo: quem sabe o mal que se esconde nos corações humanos? Como não sou o Sombra, vou deixar barato. Além do mais porque o cara não está exatamente atacando os gays, mas sim a si mesmo. O pior inimigo de Ellis está no espelho.

COLHER TORTA

Uri Geller era figurinha fácil na televisão dos anos 70. Volta e meia o paranormal israelense aparecia no "Fantástico", entortando talheres e mandando mensagens telepáticas para os espectadores. Certa vez, milhares de pessoas acertaram que a figura na qual ele estava pensando era uma estrela de Davi (eu achei que era um quadrado, e fiquei triste por meus poderes serem tão fracos). Anos mais tarde, o próprio Geller admitiu que era uma fraude. Assim como ele, a paranormalidade também saiu de moda. Nossa obsessão pelo assunto, que rendeu filmes como "Carrie, a Estranha" e até música do Eduardo Dusek, foi substituída por duendes, feng shui, espiritismo e toalhas milagrosas. Agora ela volta à pauta com o filme "Poder Paranormal", dirigido nos Estados Unidos pelo espanhol Rodrigo Cortés. Há uma certa sensibilidade católica na história dos dois caçadores de fenômenos, interpretados pelo estranhamente bonito Cillian Murphy e pela lindamente envelhecida Sigourney Weaver. A trama prende a atenção até mais ou menos a metade do filme, quando tudo fica meio previsível. É claro que os céticos terão suas dúvidas derrubadas: o que a plateia quer é a confirmação de que há mesmo um mundo invisível e, evidentemente, vida após a morte. A interpretação canastríssima de Robert De Niro como um médium cego também não contribui para que o filme seja levado a sério, mas nem era esta a intenção. "Poder Paranormal" é corriqueiro e esquecível, tão artificial quanto os truques de circo que seus protagonistas procuram desmontar.

domingo, 23 de setembro de 2012

TEM MOÇA QUE É CEGA

Não estou rolando de rir com a página-sensação do Facebook desta semana. E não, não é porque eu ache que "Moça, Seu Namorado É Gay" seja preconceituosa ou reforce estereótipos, como andam dizendo por aí. Simplesmente acho algumas das tiradas meuito óbvias, daquelas que só os HTs mais tapados ainda não perceberam. Jura que o namorado é gay se ele souber a coreografia de "Slave 4 U"? Ah vá. Claro que nem tudo está perdido: a imagem aí ao lado reúne algumas da minhas favoritas (também gosto de "customiza o abadá" e "prefere destilados", com a qual eu suuuper me identifiquei). Criada há uma semana pelo estudante Luiz Fernando de Araujo, de Rancharia (SP), a página já tem mais de 18 mil "curtidores" e um clone, que removeu a vírgula do nome e já está sendo denunciado. Mais uma prova de que os gays se reproduzem pelo contágio.

sábado, 22 de setembro de 2012

OH, IT'S WAY BETTER

Mais de dois milhões de iPhones 5 foram vendidos na primeira semana em que o produto esteve à venda, e sabe por quê? Porque a Apple nos hipnotiza e nos faz acreditar que cada novo lançamento seu é uma revolução. Olha só que o talk show do apresentador Jimmy Kimmel aprontou. A produção do programa pediu que alguns transeuntes em Nova York avaliassem o iPhone 5 - só que o que eles tinham na mão era o bom e velho iPhone 4S. Que de repente ficou mais leve, mais rápido, mais pesado, mais comprido, com cores mais vivas na tela...

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

HEIL GANGNAM

De todas as variantes que eu vi, esta é a mais engraçada até agora.

BLACK FRIDAY

O post de ontem rendeu um monte de comentários, a maioria me avacalhando. Escrevo o desta sexta-feira nublada não para me defender, mas para acrescentar algumas considerações. Sinta-se à vontade para me avacalhar depois de lê-lo.

- Pelo que andei lendo por aí, senti que o tal do encontro no Society serviu meio que para assegurar aos empresários do mercado gay que suas atividades não serão cerceadas num eventual governo Russomanno. Pelo contrário, até incentivadas. O pink money é tão considerável que até um fundamentalista islâmico o levaria em conta. Isto mostra que a crentalha só está interessada no nosso dim-dim? Mostra, e daí? Se temos dinheiro, temos poder. Cuidado conosco.

- Agora, aí também mora o perigo. O PRB e a IURD podem propor um pacto aos gays: façam suas festas, cresçam seus negócios, mas sejam discretos. Não nos venham pedir direitos, garantias, essas apurrinhações. Cada macaco no seu galho. Era assim que o Chile tratava os homossexuais durante a ditadura Pinochet: não havia repressão, até porque muitos integrantes do alto escalão queimavam a rosca. Mas o país era um grande armário. Toda a vida gay corria em segredo.

- Disse no post de ontem que a cúpula da Universal não é homofóbica, e isto soou para alguns como se eu estivesse defendendo-a. Na verdade ela é coisa até pior, pois se faz de homofóbica para agradar às bases. Como diz meu ídolo, o colunista americano Dan Savage: não importa se um político odeia os gays com convicção ou se só finge odiar para bajular o eleitorado. Nossos narizes sangram do mesmo jeito.

- Celso Russomanno não vai perder a oportunidade de dizer que tentou se aproximar da comunidade LGBT, que não tem nada contra, que “adora”… No texto de ontem eu disse que ele nunca havia feito uma declaração explicitamente homofóbica, mas depois descobri que fez sim. Na época da última Parada de SP, o ex-deputado falou que é contra o casamento igualitário, mas favorável à união civil. Sim, isto é ser homofóbico: qualquer pessoa que diga que eu não mereço os mesmos direitos que os héteros, apesar de pagar os mesmíssimos impostos, é homofóbica. Simples assim.

- Agora estão cobrando do André Almada que promova encontros com candidatos de todos os partidos. Só que aí há uma distorção: isto não é exatamente obrigação dele. O cara não é ativista. Esta iniciativa talvez devesse ter partido da imprensa gay, do MixBrasil, dos blogueiros como eu – sim, mea culpa, mea maxima culpa. Mas há um lado bom nessa confusão toda: pelo menos uma parte bem barulhenta da bicharada está disposta a discutir política. Há dez anos, uma discussão como esta seria inconcebível.

- Muitos comentários me acusam de não querer perder meu cartão black. Ora, francamente. Até parece que, a essa altura da vida, com quase 52 anos, minha grande preocupação é entrar de graça em boate. Sim, adoro uma área VIP, e quem não? Mas garanto que eu tenho problemas mais candentes a resolver.

Por enquanto é isto. Detona aê.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

A REVOLTA DOS CONSUMIDORES

É o bafo do dia e, entre os gays paulistanos, um escândalo maior do que a foto do Maluf com o Lula e o Haddad. André Almada convidou "amigos" para um encontro sexta passada em sua boate The Society para "um bate-papo sobre projetos relacionados à cidade de São Paulo" com Celso Russomanno e Campos Machado. Tinha convite impresso com RSVP e tudo; eu não recebi, e pouca gente ficou sabendo do tal encontro. Hoje o Facebook está em polvorosa por causa de uma foto onde Almada aparece ao lado do candidato do PRB. Até já começou uma campanha de boicote à The Week. Também já saiu uma nota de esclarecimento, explicando que não houve promessa de apoio e que as portas do grupo estão abertas aos demais candidatos. É bom lembrarmos de uma coisa: André Almada não é um ativista político, é um empresário da noite. E, como tal, precisa estar "de bem" com quem estiver no poder. A probabilidade de que esta pessoa seja o Russomanno é cada vez maior. Também é verdade que o deputado já posou de paladino da causa LGBT e, até agora, não soltou nenhuma declaração explicitamente homofóbica como Garotinho fez no Rio de Janeiro. Apesar dele ter dito que queria "uma igreja em cada quarteirão", sua campanha tem evitado o apelo religioso, uma estratégia maquiavélica. Mas seu possível governo é um enigma: não só o sujeito não tem experiência executiva, como não sabemos o tamanho da influência que exerceria a Igreja Universal. Sei de fonte segura que a maioria dos "bispos" da cúpula não tem nada contra os homossexuais. Essa turma gosta mesmo é de dinheiro, e usa o preconceito latente nas classes menos esclarecidas para mobilizá-las e assim arrancar o dízimo mais facilmente. Edir Macedo, inclusive, já sentiu que o vento está mudando e admitiu flexibilizar suas posições. Isto não quer dizer que eu apoie o Russomanno: muito pelo contrário. Acho-o despreparado, com viés autoritário e cercado de más companhias. Voto em quem quer que seja seu adversário no segundo turno, até no Levy Fidelix. Quanto ao André Almada, acredito que ele também não apoie o auto-proclamado defensor do consumidor. Mas, a esta altura, já deve estar mais do que arrependido de ter posado para a tal foto. Seu assessor está rebolando para controlar a ira popular numa página do FB que surgiu há poucos minutos convocando para uma manifestação de repúdio na porta do Society. Se ao menos a tal da foto só tivesse cópias impressas, como as que a Nina tirou da Carminha com o Max, talvez ele conseguisse confiscá-las...

FADO BOSSA NOVA

Caetano Veloso já disse que António Zambujo o faz pensar em João Gilberto. De fato, o cantor português canta mansinho, muitas vezes com banquinho e violão, tal e qual o pai da bossa nova. Mas, ao contrário deste, não tem a voz pequena: quando preciso deixa que ela cresça, aproximando-se do estilo dos fadistas tradicionais. Comprovei isto durante o show que vi ontem em São Paulo, no pequeno Tom Jazz - apropriadíssimo, aliás, para um concerto tão intimista e descontraído. De camisa social com as mangas arregaçadas e gravata folgada no colarinho, o gajo parece ter saído do escritório e ido para o bar dar uma canja durante a happy hour, antes de voltar para casa e enfrentar a mulher que o espera com o rolo de macarrão. Apesar do ar condicionado insatisfatório (talvez para não prejudicar as afinações), foi uma noite deliciosa, com música da mais alta qualidade. Zambujo mostrou as novidades de seu recém-lançado disco "Quinto", misturadas com algumas preciosidades mais antigas de seu repertório. Arranjos primorosos que misturam cavaquinho com guitarra portuguesa, letras modernas e espirituosas (há um fado que fala da internet, que tal?) e a sensação de que o Atlântico mais nos une que separa. Lá pelas tantas, eu não sabia mais quais autores de quais músicas eram portugueses, brasileiros ou caboverdeanos. Só tinha certeza de uma coisa: estávamos ouvindo a flor da MPemP, a música popular em português.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O OLHO TEM QUE VIAJAR

Anna Wintour talvez não existisse (e, por tabela, nem seu avatar Miranda Priestley) se Diana Vreeland não tivesse existido antes. Foi Diana quem inventou a moderna editora de revista de moda, com todos os clichês que amamos: extravagante, autoritária, perfeccionista e "larger than life". Primeiro ela revolucionou a "Harper's Bazaar", onde inspirou a personagem de Kay Thompson em "Cinderela em Paris" (talvez meu filme favorito de todos tempos). Depois pegou a "Vogue" - que até os anos 60 era um catálogo de moças de fino trato - e a transformou nessa potência global que é até hoje. Encerrou a carreira como curadora do departamento de vestuário do museu Metropolitan de Nova York e presença obrigatória nas festas do circuito de então. Sua trajetória fulgurante acaba de ganhar um documentário dirigido por um neto de seu marido que nunca a conheceu pessoalmente (Diana morreu em 1989). Tomara que "The Eye Has to Travel" passe logo no Brasil, pois Deus sabe como a nova classe C precisa dos conselhos dessa sacerdotisa do gosto. Foi Diana Vreeland quem recomendou às mães que pendurassem mapas-mundi no quarto dos filhos: "Assim as crianças crescem sem uma visão caipira do mundo".

MULTIMÍDIA

Segunda-feira passada eu apareci dando uma entrevista no "Sexo no Sofá", novo programa do canal pago Glitz. Fiquei sabendo que ia ao ar em cima da hora (11 e meia da noite), e quando liguei a TV minha participação já tinha passado. Agora vou tentar gravar as próximas reprises: quinta às 19:30 ou sexta às 11 e 21. Ontem, terça, dei minha terceira entrevista para a rádio online da revista inglesa "Monocle". Eles sempre me chamam quando precisam de um crítico brasileiro de TV: estão fascinados com o fenômeno "Avenida Brasil". E hoje estou no blog "Poses e Neuroses", do cinéfilo e futuro crítico profissional de cinema Adécio Moreira Jr., dando 10 dicas culturais. Agora, dinheiro que é bom, nada.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

QUEM TEM NÍVEL PARA SER GAY?

"Judy, Liza, Barbra, Bette / These are words I can't forget". Este mantra fazia parte das aulas que o Jack, da série "Will and Grace", dava a um sobrinho da Karen que se descobria homossexual com quase 30 anos. Porque não basta gostar de homem: para ser gay de verdade, é preciso odiar esportes, usar cores berrantes e idolatrar Madonna, n'est-ce pas? Ou não. Para cada biba fervida que eu conheço, existem outras tantas que recusam o que se convencionou chamar de "cultura gay". Este assunto controverso é o tema do livro "How to Be Gay", do acadêmico David M. Halperin, baseado num curso que ele administra há mais de 10 anos. E que já atraiu a ira de conservadores e liberais. Os primeiros veem confirmadas suas acusações de que as universidades "ensinam" homossexualidade aos alunos, os segundos acham que o professor vai contra o dogma sagrado de que se nasce gay. Na verdade o livro é um tratado sobre os ícones e clichês da viadagem dos EUA, onde as pessoas são ainda mais rotuladas do que por aqui. Halperin deu uma boa entrevista ao site da revista "Out" (aqui, em inglês) e assume quem tem a maior dificuldade em se encaixar nos padrões vigentes. Muita gente vai se identificar com ele. E também com esta fala escrita pelo dramaturgo Ronaldo Ciambroni, que fazia parte ao meu lado do time de roteiristas da extinta série "Ô, Coitado!". Era um personagem rebatendo a suspeita de boiolagem que recaía sobre o zelador bronco do prédio onde se passava o programa: "Ah, o Curió não tem nível para ser gay!".

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

NÃO CONSIGO PENSAR EM NADA PIOR

Há alguns anos, dei de cara com o Rupert Everett numa boate em São Paulo. Como eu estava me sentindo especialmente desinibido, fui lá expressar toda minha admiração. Rupert é inteligente, engraçado, ótimo ator, lindo de morrer e extraordinariamente corajoso. Pagou um preço altíssimo por ter saído do armário: não foi indicado ao Oscar de coadjuvante por seu papel em "O Casamento do Meu Melhor Amigo" e nunca mais foi escalado como galã romântico. Sua história acabou se tornando um alerta. Hoje em dia, os agentes usam-na para apavorar os atorezinhos que querem se assumir. "Lembre-se do que aconteceu com a carreira do Rupert..."
Mas agora o cara deixou de ser um herói para mim. Numa entrevista publicada ontem num jornal britânico, ele disse que não consegue pensar em nada pior do que uma criança sendo criada por dois pais gays. Pois eu consigo: que tal um homem amargurado, provavelmente solitário, adaptado para viver num mundo de repressão que de repente não existe mais?

OS RUSSOS ESTÃO CHEGANDO

Ando bolado com a eleição para prefeito de São Paulo. Já sei em quem vou votar em cada turno: Soninha no primeiro e não-Russomanno no segundo. Prefiro qualquer coisa a entregar o orçamento da maior cidade do país nas mãos da Igreja Universal do Reino de Deus. E temo que o candidato do PRB faça barbaridades como tirar a Parada Gay da Paulista, pressionado pelos evangélicos. Justo ele, que já tanto se gabou de apoiar a causa LGBT, como conta o Marcelo Cia em sua coluna no MixBrasil. Mas ainda confio numa reação: todos os dias surgem novas denúncias contra o apresentador da Record e vejo muita gente se mobilizando nas redes sociais. Enquanto isto, leio alguns artigos esclarecedores que analisam a subida inesperada do sujeito. Um dos melhores é este aqui, de Eliane Brum. Aliás, ela escreve sempre com uma lucidez de dar inveja. É uma das muita razões que me deixam tentado a largar a "Veja" de uma vez por todas e aderir à "Época".

domingo, 16 de setembro de 2012

CHATÓPOLIS

Toda e qualquer pretensão artística de "Cosmopolis" escoou ralo abaixo no momento em que Robert Pattinson foi escalado para o papel principal. Os produtores devem ter achado que o pior ator do mundo atrairia sua legião de fãzinhas para ver este filme pseudo-cabeça, e só conseguiram tornar intragável o que já era bem ruim. Talvez o romance de Don DeLillo fosse bom: já li outras coisas desse autor e gostei. Mas a história de um jovem bilionário que circula de limusine por uma Nova York conflagrada, ostentando sua fortuna ao mesmo tempo em que sente remorsos por ser tão rico, é uma alegoria boboca e meio superada. A ruindade de Pattinson é acentuada pela fila de ótimos atores que contracena com ele, de Juliette Binoche a Paul Giamatti. "Cosmopolis" se pretende uma sátira política, mas parece ter sido feito por um Libelu com o dinheiro da mesada do papai. É um dos filmes mais chatos do ano.

sábado, 15 de setembro de 2012

O PEITO CHEIO DE AMORES VÃOS

Sinto que já escrevi este post antes. Foi dois anos atrás, quando assisti a "Uma Noite em 67". Era um documentário sobre a final do Festival de Música Popular Brasileira da Record, e eu saí do cinema embevecido com a vitalidade da cena musical de então. Escrevi um texto que algumas pessoas não entenderam direito (ou fui eu que não soube me expressar), que pode ser resumido numa frase: a cultura de hoje é um lixo. Saí com a mesma sensação de "Tropicália", o ótimo filme de Marcelo Machado sobre o mais influente movimento musical brasileiro depois da bossa nova. Quem não souber bem do que se trata corre o risco de boiar: o documentário não é um episódio do "Globo Repórter", desses que mostram claramente causas e consequências. É antes uma colagem de imagens preciosíssimas, muitas delas quase inéditas, de shows e programas da época, com depoimentos dos principais envolvidos - a princípio só em voz off, mais tarde em carne e osso como estão hoje. Muitas impressões brotaram ao mesmo tempo na minha cabeça:

- Caetano Veloso não é só talentosíssimo como cantor, compositor e letrista, como também muito bem articulado. Tom Zé tem tanto talento quanto, mas se perde em rodamoinhos quando tenta explicar alguma coisa. Por isto um virou mainstream e o outro cult.

- A presença meio tímida de Nara Leão disfarçava a farejadora de tendências que havia nela. Nara sentia de longe para que lado o vento soprava, e corria a anunciar.

- A primeira aparição de Maria Bethânia, cantando "Carcará" e subsituindo Nara no lendário show "Opinião", é um espanto. De onde surgiu aquela figura fortíssima? De camisa e calça comprida, cabelos presos, sem maquiagem aparente. Em termos de visual e atitude, Bethânia não tem antepassadas na MPB. É totalmente original.

- Rita Lee tinha beleza e carisma para se tornar superstar em qualquer lugar do mundo. Sem falar na inquietação dos Mutantes, até hoje a melhor banda brasileira de todos os tempos.

- Gilberto Gil parece mais velho no começo da carreira, quando ainda era meio gordinho, do que voltando do exílio de Londres, quase dez anos depois.

Este famoso exílio encerrou formalmente o Tropicalismo, que a rigor durou pouco mais de um ano. A ditadura, se não esmagou o movimento, o fragmentou e o fez seguir outros rumos - que, no entanto, prosseguem até hoje, pois ainda bebemos desta fonte.

Será que estamos nos aproximando de um novo período de repressão? Não exatamente política, mas cultural, "moral" e, sim, religiosa? A ascensão de Celso Russomanno, a expansão dos evangélicos, a caretice da "nova classe C", tudo isso me dá um medo do caralho. Mas também dá esperança: tempos difíceis exigem uma resposta vigorosa da cultura, e quem sabe assim saímos dessa pasmaceira ivetelójeneciana em que vivemos hoje.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

SABE BUKKAKE?

Muita gente faz gracinha de graça na internet, mas ninguém conseguiu tanta repercussão em tão pouco tempo como o pessoal do "Porta dos Fundos". O canal existe há pouco mais de um mês e está em vias de se tornar o "Funny or Die" brasileiro. Também é o tema da minha coluna de hoje no F5. E tem tanto esquete bom que eu não sei qual é o mais engraçado (o aí de cima é forte candidato). Melhor do que ficar em dúvida entre uma tangerina e o exército de Israel.

NINGUÉM MORREU POR CAUSA DISTO

Saco cheio desses mimimi-çulmanos que promovem quebra-quebras e matam inocentes por causa de um filme furreco que não foi patrocinado pelo governo de nenhum país. Fanatismo religioso não merece respeito: merece que se tire ainda mais sarro dele, como nesse cartum desde já antológico do site "The Onion", que junta Moisés, Jesus Cristo, Ganesha e Buda numa animadérrima festa do cabide. Maomé não foi convidado porque sempre se "esquece" de trazer uma bebida.

(obrigado pela dica, João Gabriel)

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

CORTO CABELO E PINTO

Larry Wachowski dirigiu com seu irmão Andy um dos filmes de ficção científica mais influentes de todos os tempos, "Matrix", lançado em 1999. Foi neste mesmo ano que ele se separou da primeira mulher. Aí começou a circular por Hollywood ao lado de uma dominatrix chamda Ilsa Strix. Algum tempo depois, surgiram boatos: Larry teria feito operação para mudar de sexo. Agora ele finalmente reaparece, com o nome de Lana e horrendos cabelos pink. Não confirma nem desmente ter cortado o piupiu, mas assumiu definitivamente uma indentidade feminina. Só que... agora está casado com outra mulher, cujo nome não foi revelado. Como diria Didi Mocó: acuma? O sujeito vira mulher para poder virar lésbica? Não seria o primeiro caso, conheço outros. Lana Wachowski desafia nossa mania de rotular e julgar as pessoas (o que no fundo é a mesma coisa). Esta sim, conseguiu se libertar da matrix em que vivemos.

O SUPLENTE DA SUPLICY

Que o Brasil precisa passar por uma profunda reforma política não é novidade para ninguém. A Constituição de 1988, apesar de bem-intencionada, gerou um número enorme de distorções que fazem o eleitor perder a fé na democracia. Como se explica, por exemplo, a senadora Marta Suplicy ter um suplente que é contrário a muitas das bandeiras que ela defende, como a do casamento igualitário? A disputa pelas vagas do Senado por São Paulo foi acirradíssima em 2010, com muitos nomes de peso concorrendo. Agora, por causa das voltas que o mundo dá, o estado mais rico e populoso do país terá como um de seus representantes em Brasília um vereador inexpressivo, de um pequeno partido de direita. Antonio Carlos Rodrigues só entrou na chapa de Marta para garantir o apoio do PR - que aliás não durou muito, já que hoje a legenda está na coligação por trás de José Serra. Os milhões de eleitores de Marta têm todo o direito de se sentir traídos. Além do mais, porque o popular "Carlinhos" já avisou que trabalhará como um "senador-vereador", lutando apenas pelos interesses de seu curral no extremo sul da capital paulista, e que será pautado pela Igreja Católica. Como se não bastasse, o cara é um tremendo dum hipócrita, já que é suspeito de enriquecimento ilícito e outros pecados. Marta provavelmente será uma ministra da Cultura combativa e atuante. Mas não só tornará os gays órfãos no Senado, como deixou um sacripanta em seu lugar. Que merda de sistema é este?

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O MESTRE É DOMINANTE OU SUBMISSO?

Já há indícios de que o atentado ao consulado americano em Benghazi, na Líbia, estava sendo planejado há muito tempo, para coincidir com o 11 de setembro, e que a indignação quanto ao filme "A Inocência dos Muçulmanos", que ofende o Islã, foi só um pretexto. Claro que não vou defender nenhum fanático religioso, mas o tal do filme é sério candidato ao título de pior de todos os tempos. E não só pela mensagem asquerosa de ódio, mas pelos ridículos valores de produção. Acho que nunca tinha visto atores tão ruins, barbas tão capengas ou chroma-key tão vagabundo. Sem falar dos diálogos inacreditáveis, que mostram Maomé como um sanguinário pedófilo homossexual (há até uma discussão se o profeta seria ativo ou passivo). O vídeo acima tem quase 14 minutos, mas vale a pena ser visto - e seria até engraçado se suas consequências não fossem trágicas. Mas as leis americanas permitem sua difusão (as brasileiras não deixariam que uma religião fosse atacada desse jeito). Pena que grande parte do mundo árabe não faça a mais puta ideia do que seja liberdade, nem de culto e nem de expressão.

DORMIR 15 ANOS

Uma moça conhece um cara no dia de seu aniversário. Transa com ele naquela mesma noite e vai dormir feliz da vida, sentindo-se apaixonada. Acorda 15 anos depois. Descobre que está casada com o sujeito, mas o casamento está desmoronando. Tem um filho de 10 anos com ele, mas não se lembra de nada. Virou uma executiva fodona na empresa do sogro. E, horror dos horrores, percebe que seu rosto aos 41 anos não tem mais tanto colágeno quanto tinha aos 26. Esta é a ótima premissa básica de "A Vida de Outra Mulher": como que nosso "eu" mais jovem reagiria se visse como estamos hoje, sem saber o que aconteceu nesse meio tempo? Este argumento renderia uma comédia americana razoável, talvez estrelada por Sandra Bullock. Mas o filme é francês e portanto tem muito questionamento existencialista, além de uma das melhores performances da carreira de Juliette Binoche. A atriz Sylvie Testud faz sua estreia na direção e também assina o roteiro, que prolonga até onde dá uma situação absurda: porque a protagonista não assume logo que está com amnésia para o resto da família? Mas aí o filme duraria ainda menos do que já dura, e teria um final ainda mais abrupto. Este é o defeito de "A Vida de Outra Mulher": com um ponto de partida tão bom, talvez não houvesse mesmo uma conclusão satisfatória. Mas Juliette sempre vale o ingresso.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

H COM PH

Estou cada vez gostando mais da revista "H". Acho que ela adquiriu personalidade própria, bem diferente da irmã mais velha porém caçula, a "Junior". O número 4 acaba de chegar às bancas e traz desde uma matéria sobre os diplomatas brasileiros assumidamente gays a um ensaio bastante ousado com Fernando Amâncio, o peludo-magia da capa. Só não entendo por que a palavra "homofobia" aparece grafada com ph, "homophobia", no título da minha coluna. Talvez alguém tenha esquecido ligado o corretor automático em inglês. Que precisa ser desligado adora! Aflora! Amora! Vai tomar no cu!

#CHATIADÍSSIMO

Tenho pequenos orgamos mentais cada vez que leio que Lula está magoado com os juízes que ele e Dilma indicaram para o STF e que agora estão condenando os réus do mensalão. Nem o Dias Toffoli está saindo de acordo com a encomenda. Também adorei saber que setores do PT ficaram desapontados com a indicação do Teori Zavascki para o Supremo. Queriam alguém mais comprometido com a companheirada e menos comprometido com a justiça, a história, essas bobagens. Aliás, não sei se é otimismo de minha parte, mas as indicações de Dilma me parecem muito mais técnicas (e acertadas) que as que seu antecessor costumava fazer. Depois de anos dominada por gente que provavelmente não saberia soletrar "petróleo", a Petrobras está tomando um choque de gestão com a durona Graça Foster. Claro que de vez em quando escapa alguma nomeação política, como a de Marta Suplicy para a pasta da Cultura. É óbvio que é compensação pelo apoio da senadora à candidatura de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo, por mais que todos neguem de pés juntos. Pior que Ana de Holanda, cujo claim to fame é ser irmã de Chico Buarque, não pode ser. Dilma deve ter sofrido muito mais ao escrever a réplica ao artigo de FHC, por quem ela nutre uma óbvia paixonite...

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

BYE BYE BRASÍLIA

Quando eu era pequeno, Brasília era a última bolacha do carregamento de pacotes. O lugar mais moderno do mundo, a cidade mais agradável de se viver e a prova incontestável do avanço do Brasil. Semana sim, semana não, a finada revista "Manchete" - assumidamente juscelinista - publicava alguma reportagem tecendo loas à nova capital. Cresci com a ideia de que Brasília era sensacional. Até este feriadão, só havia estado lá uma única vez: uma tarde em 1987, quando fui aprovar um anúncio no Ministério do Trabalho. Essa passagem relâmpago não conseguiu empanar a imagem futurista que eu tinha na cabeça. Ontem, voltando de carro da Chapada dos Veadeiros, fiz questão de dar uma voltinha pelo Plano Piloto antes de tocar para o aeroporto. E fiquei horrorizado com o que eu vi. A arquitetura moderna de Oscar Niemeyer já está incrivelmente datada, é certo, mas precisava estar tão mal tratada? Quase todos os prédios das superquadras precisam de reparos. Na Esplanada dos Ministérios, algumas mãos de tinta cairiam bem por toda a parte (pelo menos a catedral está em reforma). Mas o pior é a avacalhação generalizada. Ambulantes, sujeira, caos, o lado feio do nosso país, e justo num lugar onde deveria haver harmonia e um toque de solenidade. Juro que eu me senti envergonhado. O único lugar que correspondeu às minhas expectativas foi o Palácio da Alvorada, flutuando iluminado na ponta de uma península sobre o lago. De resto, esse rasante sobre Brasília me deu a sensação de que ela é até pior que as outras metrópoles brasileiras. Claro que isto é injusto vindo de alguém que nunca passou nem 24 horas na cidade - mas, como disse Oscar Wilde, só as pessoas superficiais não se deixam levar pela primeira impressão. Brasília precisa ir para a oficina.

NO VALE AO ANOITECER

O Planalto Central é famoso pela quantidade de religiões esotéricas que se instalaram por lá desde a fundação de Brasília. A mais fotogênica de todas é o Vale do Amanhecer, fundado pela médium e ex-caminhoneira Tia Neiva em Planaltina, nos arredores da nova capital. É um templo de arquitetura bizarra, com sacerdotes que usam figurinos coloridíssimos. A doutrina se diz cristã, mas mistura candomblé, espiritismo, religiões indígenas e extraterrestres, um autêntico samba do candango doido. Hoje já existem filiais do Vale espalhadas por todo o Brasil: a de Cavalcante, a cidadezinha onde me hospedei na Chapada dos Veadeiros, foi aberta no princípio deste ano. Não tem a suntuosidade da matriz no DF. Por fora é só um galpão, mas o interior é forrado de estátuas, imagens e símbolos.

Fomos lá no sábado, no princípio da noite. E claro que eu não resisti a me consultar com um médium. Um preto velho encarnado me deu conselhos bastante razoáveis, sem fazer nenhuma previsão muito concreta. Também me convidou a aderir ao movimento e desenvolver minha mediunidade latente. Depois do "trono" passei por todas as demais etapas: "cura", "defumação" e "linha de passe". Minha vontade de rir foi logo suplantada pelo respeito à fé sincera daqueles "jaguares" (homens) e "ninfas" (mulheres), e quem é que não precisa de umas bençãos de vez em quando? Esse respeito só aumentou na saída, quando ninguém pediu absolutamente nada em troca. Nem uma "colaboração". Não, não me converti, mas o Vale do Amanhecer tem um ecletismo tipicamente brasileiro que me agrada bastante. E como não gostar de uma religião que usa dois olhos maquiados como um de seus signos?

domingo, 9 de setembro de 2012

XAME-XUGA

Fiquei mal acostumado com as minhas duas últimas viagens a lugares "naturais". Tanto na reserva do Mamirauá, no Amazonas, como no parque de Etosha, na Namíbia, vi animais selvagens em profusão. Não podia esperar o mesmo da Chapada dos Veadeiros? Além do mais, porque a vegetação do cerrado brasileiro é parecidíssima com a da savana africana. Mas não avistei quase nada, nem os veados que nomearam o lugar (parece que se mudaram todos para as cidades grandes). Nem mesmo as aves deram as caras: contei uma seriema, um tucano, duas emas e um lindo urubu de plumagem negra e cabeça vermelha, quase um condor. Está certo que, em termos de macrofauna carismática, ninguém é páreo para a África. E que o calor abrasador deixa os bichos entocados a maior parte do dia, mas porra. O animal mais curioso que cruzou meu caminho acabaram sendo um verminhos que vivem nas paredes de algumas cachoeiras. São pretinhos e pequetitinhos, e eu diria que eram algas se não grudassem na pele das pessoas. "Sanguessugas!", gritou minha enteada bióloga - e ainda acrescentou que lá na Amazônia elas são chamadas de xame-xugas, olha só que meigo. Mas como elas podem sugar o sangue de alguém, se passam a vida coladas nas pedras das corredeiras e nem um mísero lambari passa por ali? Será que se alimentam de algum organismo microscópico trazido pelas águas? E se forem só as larvinhas de um bicharoco muito maior?

sábado, 8 de setembro de 2012

O SOL DA CHAPADA

A maioria das pessoas que já visitou a Chapada dos Veadeiros entrou no parque nacional por Alto Paraiso, o polo turístico da região. Nós estamos mais adiante, na minúscula Cavalcante - que, apesar de contar com mais de 60% do território do parque dentro de seus limites municipais, não possui uma entrada para ele. O que não chega a ser um problema, pois é salpicada de cachoeiras deslumbrantes e aldeias Kalunga, quilombolas remanescentes do ciclo do ouro do século 18. A cidade quer aproveitar a maré turística que está enriquecendo sua vizinha, e eu começaria mudando o slogan oficial: "O Sol da Chapada" remete a uma chapa quente. Claro que está fazendo um calorão infernal durante o dia, porque estamos bem no meio da tal da massa de ar seco que cobre a maior parte do país. Mas à noite a temperatura despenca e o clima fica bom para comer pizza de chocolate com baru, uma castanha local. Se bem que a coisa mais exótica que provei até agora foi um picolé da Creme Mel, a Kibon do Centro-Oeste. Milho verde com chocolate branco. Sabor de Brasil moderno.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

INSIRA SEU TROCADILHO ÓBVIO AQUI

Estou indo para a Chapada dos Veadeiros. Sei que ninguém precisa ir até o mais profundo de Goiás para encontrar chapadas e veadeiros, mas lá vamos nós: voo das seis da manhã até Brasília e depois mais de 300 km de estrada até Cavalcante, quase na divisa com o Tocantins. Serão três dias mágicos, repletos de cachoeiras, duendes e cristais. E talvez sem internet - não sei se tem wi-fi no meio do mato. Por isto, se este blog não for atualizado nos próximos dias, é porque eu estou em perfeita comunhão com a natureza e desapegado dessa loucura que são as redes sociais. Ou, mais provável, contando as horas que faltam para voltar à civilização.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

AQUELE BEIJO

A propaganda eleitoral veiculada por Leonel Camasão, candidato do PSOL a prefeito de Joinville (SC), provocou reações extremadas na cidade e uma defesa apaixonada do deputado Jean Wyllys, estrela do partido na Câmara. Tudo por causa de uma bicoca entre dois rapazes. Tem gente dizendo que este é o tão esperado primeiro beijo gay da televisão brasileira, mas esquecem-se que estas mesmíssimas imagens já estavam incluídas na campanha de Plínio Arruda Sampaio, que concorreu à presidência dois anos atrás. Claro que não há demérito nenhum nesse repeteco, muito pelo contrário. Só confirma que o PSOL, com nomes legais como Wyllys, Heloísa Helena e Marcelo Freixo, é uma boa novidade no cenário político brasileiro. Se pelo menos eles não comessem criancinhas...

DOS EQUIS

Frequento há muitos anos a Banana Music da alameda Lorena aqui em São Paulo, talvez a melhor loja de CDs ainda de pé no Brasil. Quando eu entro lá, o staff corre para me atender, como se o Natal tivesse chegado mais cedo. Geralmente já sei o que quero comprar, mas nem por isto eles deixam de me metralhar com sugestões. Como costumam errar (progressive house? blaaaargh), quase nunca dou ouvidos. Agora me arrependo de não ter comprado o primeiro CD do trio inglês The xx, que me foi oferecido várias vezes. São dois caras e uma garota que surgiram em 2009 e fizeram milhares de fãs no mundo inteiro com seu som quietíssimo, quase um sussurro, mas que eu ignorei solenemente. Até que hoje caí no site onde "Coexist", o novo disco, pode ser escutado em streaming - e me apaixonei. É exatamente o tipo de música que eu preciso ouvir neste momento, que não está dos mais fáceis. Duas das faixas já ganharam clipes, que parecem instalações de vídeo da Bienal de 1989. Agora vou baixar e adquirir tudo o que eu puder dessa banda com nome de cerveja mexicana. E me embriagar.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

WE'RE NO STRANGERS TO LOVE

Alguém com saco de filó e muita falta do que fazer gastou algumas centenas de horas da própria vida para editar o vídeo acima, só com cenas do seriado "Mad Men". A troco de nada (ou talvez a troco do emprego de montador numa produtora), Dan Draper e seus amigos recitam a letra completa de "Never Gonna Give You Up", de Rick Astley, uma das melhores músicas dos anos 80.

Confira:

We're no strangers to love
You know the rules and so do I
A full commitment's what I'm thinking of
You wouldn't get this from any other guy
I just wanna tell you how I'm feeling
Gotta make you understand

Never gonna give you up,
Never gonna let you down
Never gonna run around and desert you
Never gonna make you cry,
Never gonna say goodbye
Never gonna tell a lie and hurt you

We've known each other for so long
Your heart's been aching but you're too shy to say it
Inside we both know what's been going on
We know the game and we're gonna play it
And if you ask me how I'm feeling
Don't tell me you're too blind to see

(Ooh give you up)
(Ooh give you up)
(Ooh) never gonna give, never gonna give
(give you up)
(Ooh) never gonna give, never gonna give
(give you up)

YOU SAY COKE, I SAY CAINE

Ha-ha. Os Angry Birds não tiveram coragem de usar a letra toda de "Bicycle Race" no promo da ação especial para o "Freddie for a Day", que rola hoje.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

INCITAR O ÓDIO É DIREITO?

Começo a desconfiar que se trata de uma estratégia deliberada. Neguinho faz uma declaração contra os gays. Provoca uma reação exarcebada dos ofendidos e imediatamente se transforma em vítima. Os homossexuais malvados querem calar quem não "concorda" com eles. Querem pisar no sacrossanto direito à livre expressão. Foi o que aconteceu semana passada com o editorial asqueroso de Carlos Ramalhete na "Gazeta do Povo" de Curitiba e é o que está acontecendo esta semana com o anúncio acima, publicado ontem em diversos jornais pernambucanos. Quem reclamar da mensagem de ódio veiculada nestas peças está tentando silenciar a boca alheia. É uma inversão absurda, pois não são estas pessoas e organizações quem sofre agressões nas vias públicas nem tem dezenas de direitos negados, apesar de pagar os mesmíssimos impostos que todo mundo. Não podemos cair nesta armadilha: os algozes são eles, não nós, e isto tem que ficar claro à grande massa que assiste a este embate mais ou menos indiferente. Agora, também não adianta a "Folha de Pernambuco" vir a público dizer que ama/é a comunidade LGBT depois de ter veiculado o anúncio da tal Pró-Vida PE. Esse amor todo não a impediu de levar uma grana dos caras.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

TOUCHE PAS À MON POTE

O filme da moda neste momento é o francês "Intocáveis". Todo mundo que viu a-mou, eu inclusive. É bem escrito, bem dirigido, bem editado e muitíssimo bem atuado. O negão-magia Omar Sy mereceu seu César de melhor ator, vencendo inclusive o ganhador do Oscar Jean Dujardin. Não é por menos que "Intocáveis" foi a maior bilheteria em língua não-inglesa do ano passado em todo o mundo. Mas o curioso é que o filme foi mal recebido nos Estados Unidos, e não apenas porque os americanos não topam muito o que é feito fora de Hollywood. A crítica de lá ficou abismada com o tratamento estereotipado recebido pelo personagem que trabalha como enfermeiro para um milionário tetraplégico - ainda mais porque, no caso real onde "Intocáveis" foi inspirado, o tal do enfermeiro não era negro e sim árabe. Saí do cinema me perguntando: o fato de eu ter gostado tanto significa que eu sou racista? O Driss do filme é boa praça, sexy, descolado e excelente dançarino. Diz o que pensa e se espanta com os rapapés da alta burguesia. Será que foi tornado mais simpático justamente para seduzir as plateias brancas? Vou perguntar a algum amigo negro o que ele achou do filme. Porque há também uma leitura oposta possível: que somos todos diferentes porém iguais, só o amor constrói, não toque no meu amigo (o título deste post e slogan da campanha anti-racismo francesa dos anos 80), etc. etc. De qualquer forma, "Intocáveis" é cinemão comercial de primeira qualidade e diversão garantida. Se ainda por cima suscitar debate, melhor.

O GOLPE DO JOÃO-SEM-BRAÇO

Eu estava com um rascunho deste post na cabeça há alguns dias. Ia escrever que é uma sacanagem a Paralimpíada de Londres não receber a mesma atenção que a Olimpíada "normal". Porque o esforço de um paratleta é ainda maior: o cara é portador de uma deficiência e ainda assim se propõe a quebrar recordes e superar limites, com ainda menos patrocínio que seus colegas "inteiros". Heróis de verdade, contra tudo e contra todos. E ia concluir o texto dizendo que a pouca atenção que damos a esses jogos é porque não temos os paratletas como modelos. Não queremos ser como eles. O espírito indômito não interessa: ninguém quer ser amputado, surdo, paraplégico. É triste, mas nossas cabecinhas pré-históricas ainda funcionam assim. Usain Bolt pode fazer propaganda da Puma, mas Daniel Dias dificilmente irá além do institucional para o Banco do Brasil. Mas aí essa minha conclusão meio piegas foi abalada por uma matéria na "Veja" desta semana. A reportagem conta como a Paralimpíada tem tantos ou até mais casos de doping e trapaças que sua irmã maior. Por exemplo: paratletas que não têm sensibilidade nos membros inferiores enfiam tachinhas nos pés para aumentar a pressão sanguínea, e assim melhorar o desempenho. Uma roubada no jogo que nenhum exame detecta. Moral da história: os paratletas têm muito de heróico, mas também não são santos. Aliás, é um preconceito às avessas achar que todo PDD é um anjinho. Somos todos humanos. Todos farinha do mesmo saco. No fundo, ninguém presta.

domingo, 2 de setembro de 2012

UNHEAVY METAL

Sabe aquele tipo de filme que é tão ruim, mas tão ruim, que chega a ser sublime? "Rock of Ages" não é este filme. É só ruim mesmo. Baseado num espetáculo da Broadway que segue a fórmula de juntar canções conhecidas para contar um fiapo de história, acabou parecendo um episódio especial de "Glee" com o elenco que não passou nos testes. Verdade que o estilo musical não ajuda: é o rock de arena do final dos anos 80, o popular hair metal. Ou seja, o som de metaleiros de boutique tipo Bon Jovi, que seriam mastigados vivos por headbangers de verdade. E ainda por cima o casalzinho de protagonistas é tão inofensivo e sem sex-appeal que não serviria nem para uma montagem de "Grease". Aliás, que universo do rock é este onde a droga mais forte é a cerveja? A trama é a manjada senhoras-cristãs-que-querem-fechar-um-antro-de-perdição, e soa totalmente falsa para a ultraliberal Los Angeles. Ainda assim, "Rock of Ages" tem lá suas qualidades. A maior delas é Tom Cruise, absolutamente sensacional como uma variação de Axl Rose (aliás, como é que ele é sempre tão incrível na tela e tão sem graça fora dela? Culpa da Cientologia?). Tem também a diva Mary J. Blige soltando o vozeirão em babas que não lhe fazem justiça, e Alec Baldwin usando a que talvez seja a peruca mais feia de toda a história do cinema. Esta sim, é tão ruim que é sublime.

sábado, 1 de setembro de 2012

ME SERVE, WADIYA

Sacha Baron Cohen vai passar o resto da vida escutando que seus outros filmes não são tão engraçados quanto "Borat". Nem mesmo "Brüno", que ainda se aproveitava do relativo anonimato do ator inglês nos Estados Unidos e seguia mesma fórmula de pegadinhas, conseguiu fazer com que o raio caísse duas vezes no mesmo lugar. Em "O Ditador", pela primeira vez, Baron Cohen protagoniza um filme inteiramente com atores e um roteiro que tenta contar uma história: a saga do tirano Aladeen, do fictício país norte-africano (e não-árabe, como os diálogos fazem questão de estressar) Wadiya - mas que no mapa aparece exatamente na posição da Eritreia, um país não-fictício. Há inúmeras piadas grosseiras deliciosas, e a que me fez rir mais alto envolve um celular esquecido dentro da vagina de uma mulher em trabalho de parto (sim, você leu direito). E também comentários políticos impiedosos: sobra não só para os óbvios Saddam Hussein e Muammar Gaddafi, como também para os Estados Unidos, que, de acordo com um discurso memorável, é comprovadamente uma ditadura. Claro que também há momentos fofinhos desnecessários e algumas tiradas que dão chabu, mas isto acontece em qualquer comédia. "O Ditador" é esquecível, mas me alegrou num dia em que eu precisava muito. Só não vá para o cinema esperando um novo "Borat".