sábado, 30 de junho de 2012

REQUINTES DE CRUELDADE

Hoje era dia de soltar um post bem preguiçoso, já que está fazendo um dia deslumbrante no Rio e daqui a pouco eu vou para um almoço de aniversário que não tem hora para acabar. Mas aí leio o jornal e quase começo a gritar de horror: um garoto de 15 anos foi assaltado e morto em Volta Redonda, com requintes de crueldade. Lucas Ribeiro Pimentel foi espancado a pauladas, empalado e ainda teve os dois olhos furados antes de ter seu corpo jogado no rio Paraíba. E adivinha por quê? Pois é. O rapaz era gay. Hoje "O Globo" também traz como manchete o aumento do número de evangélicos no Brasil e publica um mapa meio óbvio. Os católicos ainda são maioria em municípios mais ricos como o Rio ou Niterói, mas o "povo de Deus" predomina na empobrecida Baixada Fluminense e no interior do estado, mais urbano do que rural. Volta Redonda faz parte deste interior... Ainda não identificaram os culpados por este crime bárbaro e duvido que os assassinos sejam ligados a alguma igreja. Mas fica cada vez mais difícil negar que a homofobia propagada por "bispos" e "pastores" não contribua de maneira decisiva para uma cultura de violência contra os homossexuais. Nós somos a encarnação do demônio, a escória da sociedade, aqueles em que é permitido jogar pedra e coisa pior. Vale lembrar que bastou UM crime parecido (e menos hediondo) para o Chile, católico e conservador, aprovar num piscar de olhos uma lei anti-homofobia. Aqui no Brasil só esta semana foram dois, fora os delitos menores que nem ganharam o noticiário. Talvez seja preciso que o filho de um figurão da base aliada seja morto para que Dilma ou Lula façam algo de concreto a respeito. Vestir boné de ONG não vale.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

BAIRRISMOS

Embarco daqui a pouco para um fim de semana no Rio de Janeiro, onde não ponho os pés desde o começo de abril. E, para não pagar de paulista com a rapeize, estou revendo o vídeo "O Jeitinho Carioca" para decorar as paradas mais iradas da hora, sacou, mermão? Caraca!

Mas é curioso como essa brincadeira aparentemente inocente não é uma unanimidade. O Rio é um assunto incrivelmente polarizador, e deu para perceber pelos comentários do meu post que muita gente odeia a antiga Guanabara, mesmo sem nunca ter posto os pés lá. Ainda mais profunda é a fenda entre a Zona Sul e o resto da cidade - que resto?, perguntariam os ipanemenses mais aguerridos. Até meu amigo Gilberto Scofield, um carioca que tem a curiosa missão de ser o correspondente d'"O Globo" em SP (e, como eu, colunista da revista "H"), entrou na polêmica em sua coluna na versão digital do jornal. Lá vai um trecho:

"Porque tirando uma ou outra piada que inclui o jeito de falar ou certas atitudes - a forma jeca de se encapotar quando a temperatura é de 20 graus - o resto de "O Jeitinho Carioca" é um apanhado de noções, quase sempre equivocadas, que os moradores da zona sul maravilha do Rio tem a respeito de outros grupos, de outros lugares. E de si mesmos.

Quando alguém fala que "a Barra é longe para caralho" e o outro rebate dizendo "imagina Niterói", ele cristaliza e eterniza aquela noção de morar mal que, na minha juventude, era dedicada aos suburbanos, ainda que muita gente viva muito melhor no Méier do que em Ipanema.

A carioquice não é convidativa, ela é excludente: aquela sensação de que, se você não mora no melhor da zona sul, mora longe."


Gilberto tem razão. O Rio, e em especial sua ZS, têm uma arrogância que irrita quem não é de lá. Mas aí eu pergunto: e porque não deveria ter? Se não fosse pela violência - que talvez esteja diminuindo - a orla do Leme ao Pontal seria simplesmente o melhor lugar do mundo. Todos os confortos de uma cidade grande num cenário de paraíso, mais uma cultura hedonista sem paralelo no planeta.

Mas claro que o povo dos outros bairros se ofende por se sentir excluído, pois também são cariocas. Fenômeno semelhante acontece em quase todas as metrópoles do mundo: Nova York não é só Manhattan, Buenos Aires não é só Barrio Norte e Recoleta, e assim por diante. Acontece que todos esses lugares citados são os símbolos de suas cidades. São suas atrações turísticas, são o que os visitantes querem ver. Que me perdoem os além-túnel, mas a maioria dos gringos não faz muita questão de conhecer o piscinão de Ramos.

Sim, nasci e passei meus primeiros anos na Zona Sul, mas meu pai era um cearense radicado na Tijuca e até hoje tenho família por lá. Também moro em Sampa (coisa que só os cariocas falam) há décadas, então acho que tenho distanciamento brechtiano para falar do assunto (e proximidade com todas as partes envolvidas). A Zona Sul ainda é, com o perdão pelo óbvio, o cartão-postal da cidade. É para onde quem se muda para o Rio sonha em morar. Aliás, pela disparada nos preços dos imóveis, onde meia humanidade sonha em morar.

Mal comparando: esta divisão não existe em São Paulo, pelo menos não tão acirrada. Talvez porque SP seja uma cidade que cancelou a geografia: encanou rios, passou por cima dos morros, dizimou a vegetação. Por aqui, todos os pontos de referência são artificiais. E sim, há zonas norte, sul, leste e oeste, além de uma enorme periferia e um cinturão de cidades-satélites. Mas as rivalidades inter-municipais são suaves se comparadas às cariocas. Quem mora na Mooca não "odeia" quem mora em Santana.

Talvez também porque em São Paulo quase todo mundo vem de fora. Se não a própria pessoa, provavelmente os pais: é raro encontrar paulistanos de terceira ou quarta geração. É um cidade gigantesca mas ainda em formação. Está longe de ter uma personalidade nítida e definida. Claro, há um sotaque - mais de um, aliás, e mais diferenciados entre si que os do Rio - mas ainda não há um "jeitinho paulista" tão folclórico como do outro lado da Dutra.

Podia ficar horas neste assunto, mas o post já está ficando longo demais e perdendo o foco. Bairrismos são desagradáveis, mas também são engraçados. E inevitáveis: o homem ainda é um animal territorial. Lidemos com isto.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

DÉPAYSEMENT

Há meses que eu sofro com as obras do shopping JK Iguatemi, vizinhas ao prédio onde trabalho em SP. O trânsito realmente piorou, e olha que as outras 700 torres que fazem parte do complexo ainda nem foram ocupadas. Cheguei a dar uma entrevista enfurecida para uma repórter da TV Brasil. É o jeitinho brasileiro em sua pior versão: neguinho não faz os viadutos que havia se comprometido a fazer, mas pressiona pela inauguração do troço porque milhares de pessoas correm o risco de perder o emprego. Apesar de muitas lojas não estarem prontas, o shopping acabou abrindo sexta passada e durante o fim de semana entupiu as vias de acesso que antes ficavam desertas.

Minha revolta sossegou depois que fui conhecer o lugar na segunda-feira. As grifes internacionais estão todas lá, mas o que me deixou ensandecido foi a loja da grife argentina Etiqueta Negra - simplesmente a minha 2a. favorita do mundo, atrás apenas do Paul Smith. Lá posso usar tudo, porque as roupas não são feitas para a molecada (é bom lembrar que senhores da minha idade têm poucas opções além da Casa José Silva). Também me surpreendi com a chegada de outra marca argentina, Paula Cahen d'Anvers, de moda feminina bem careta e distante do gosto tupiniquim. E só aumentei a minha sensação de dépaysement, de estar em outro país, tomando um sorvete de doce de leite com doce de leite no Freddo (que já existia em São Paulo, mas não na minha rota) e asssitindo a um filme numa sala da Cinépolis, uma rede mexicana de cinemas.

Metade da graça de se passear num templo do supérfluo como este é se escandalizar com os preços praticados. A verdade é que lojas como a Dolce & Gabbana e a Burberry estão cobrando menos do que o esperado por algumas peças, mas nossa moral pseudo-católica / sentimento de culpa social / invejinha não passa incólume por algumas vitrines. Como a da Ladurée, onde uma caixinha com seis macarons custa 100 reais. Ou a da Goyard, rival histórica da Louis Vuitton, que oferece uma mala-armário gigantesca com gavetas e cabides, para a roupa viajar pendurada e você matar de inveja as outras passageiras do Titanic. Adivinha quanto custa? Mais de 237 mil reais. Sim, também achei que o ponto estava no decimal errado, mas é isto mesmo. Mais do que uma casa popular. Uma mala. Adoro.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

CAMP-IRISMO

-Tim Burton sempre foi um fantástico criador de universos, mas como contador de histórias ele é bem do mais ou menos. Seus filmes quase sempre me decepcionam: fico seduzido pelo trailer fabuloso e depois me aborreço quando vejo a coisa inteira. Por isto, é com enorme satisfação que anuncio que "Sombras da Noite" entrega tudo o que promete. É a adaptação de uma soap opera vampiresca exibida na TV americana entre 1966 e 1971, e o primeiro acerto do roteiro é manter a ação no começo da década de 70. O outro é tornar a história delirantemente coesa, sem passos em falso - algo raro em se tratando de Tim Burton. O que é comum para o diretor são cenários, figurinos e efeitos especiais sensacionais, e um elenco afiadíssimo. Johnny Depp confirma mais uma vez porque é um dos meus atores favoritos: seu vampiro de 200 anos se equilibra na linha fina entre a caricatura camp e a dor que deveras sente, com a nobreza de um aristocrata do século 18 e o espanto previsível que ele sente ao acordar no século 20. No mais, dá para desconfiar que Alice Cooper é mesmo um vampiro: 40 anos depois, o cara permanece idêntico ao que era na época de "No More Mr, Nice Guy". E será que Michael Jackson também era? Há uma óbvia citação ao falecido quando o protagonista surge de óculos, chapéu, luvas e guarda-chuva.

TEOCRACIA, NÃO!

É isto mesmo, produção? Quer dizer então que amanhã a Câmara dos Deputados vai discutir a legalidade dos dispositivos do Conselho Federal de Psicologia que proíbem a "cura" de homossexuais? Em que século estamos mesmo? Porque este debate é digno da Santa Inquisição. É um absurdo que não tem tamanho: onde já se viu deputado decidindo o que é ciência ou não? E imagine a grita que seria se algum projeto de lei vedasse a homofobia nas igrejas. A bancada evangélica adora posar de perseguida e dizer que cerceam sua liberdade de expressão, mas são eles quem querem impor seus preconceitos ao resto da sociedade. Está mais do que na hora de surgir um movimento contrário a essa onda. Não algo que pregue a cobrança de impostos dessas religiões fajutas (algo que é proibido por uma cláusula pétrea na constituição), mas que proponha a resistência de quem não é crente a essa violentação do estado laico. Os políticos "de Deus" (o deles, que não existe) querem submeter à força toda a população, e no fundo é só para que o Brasil inteiro lhes pague dízimo. Acorda, gente: teocracia, não!

E quis o destino que hoje saísse mais uma notícia hedionda: a dos dois irmãos que foram espancados no interior da Bahia, só porque estavam andando abraçados. Um morreu. Depois vem o Silas Malafaia dizer que "no Brasil não há homofobia". O mesmo cara que se intitula "o inimigo número 1 dos direitos dos gays"!! Só mesmo aqui, com essa imprensa banana que nós temos, que um cara pode cair numa contradição dessas sem que ninguém o exponha ao ridículo. No Chile, um país ultra-católico, bastou UM assassinato nestes moldes para que o Congresso aprovasse a toque de caixa a criminalização da homofobia. Mas por aqui, enquanto Lula, Serra e quase todos os outros bajularem esses charlatães vigaristas, vamos continuar reclamando e esperneando à toa. E apanhando.

(Leia também este ótimo artigo do Francisco Hurtz no MixBrasil)

terça-feira, 26 de junho de 2012

IMAGINA ISSO NA COPA

A essa altura todo mundo já viu, mas não posso deixar de registrar no meu blog essa pequena maravilha. Que atire o primeiro biscoito Globo o carioca que não fala todo dia pelo menos umas cinco dessas frases. E quando é que outros estados e grandes cidades brasileiras vão fazer suas versões do "Shit ... Say"?

FAZENDO BARULHO

Um dos sintomas mais claros da caretice que se abateu sobre a cultura brasileira é o fato de não haver nenhum cantorzinho da nova geração assumidamente gay. É um retrocesso incrível, quando lembramos que Ney Matogrosso estourou em 1973 com os Secos e Molhados, em plena ditadura militar. Ou que Cazuza e Renato Russo, dois ícones dos anos 80 e 90, jamais deixaram de vender um único disco por causa de suas preferências sexuais. Mas as bichas parecem não ter lugar nesse universo breganejo-gospel que vigora hoje em dia. Culpa da tal da "nova classe C", que é mais conservadora do que as elites? Ou medo de peitar as lideranças evangélicas? Ainda bem que entre as meninas existe a Maria Gadú para não confirmar totalmente a minha tese.

Pelo menos o pop internacional nunca esteve tão fora do armário. Aos pioneiros Elton John e George Michael se juntam cada vez mais nomes: Mika, Sam Sparro, Will Young e muitos outros. Dois desses assumidos acabam de ter seus novos discos lançados no Brasil. Adam Lambert, revelado pelo "American Idol" de 2009, chega com "Trespassing", produzido por Nile Rodgers - ex-guitarrista do Chic e um dos nomes mais importantes da dance music de todos os tempos. Por isto mesmo eu estava esperando um álbum mais voltado para as pistas, mas o repertório do cara ainda é recheado de power ballads com pegada rock. Mais saltitante é "A Joyful Noise" do Gossip, a banda liderada pela icônica Beth Ditto. A moça vai na contramão do que se espera de uma cantora sexy: é gorda, lésbica e não particularmente bonita. Mas está tão à vontade no próprio corpo que me parece mais sensual do que as forçadas de barra de Britney ou Christina. Ah, e o disco também é ótimo.

MEU NOME NÃO É 54

Desde a semana passada, o Facebook está mudando sorrateiramente o e-mail primário que aparece no perfil de seus usuários. É uma mudança gradual e sem aviso prévio. No meu caso, substituíram o e-mail pessoal que eu tenho desde 1996 por "tony.goes.54@facebook.com". Consegui ocultá-lo, mas ainda não estou satisfeito. Já que o Face vincula um e-mail com endereço deles para todas as contas, tentei mudá-lo para apenas "tony.goes". Impossível: o nome não está mais disponível. Ofereceram então "tony.goes.xpto" ou coisa que o valha, mas eu não quero. Meu nome não tem número, não tem underline, não tem "TheReal". É só Tony Goes e eu não quero outro. Se o Facebook não deixa, o problema não é meu. Sim, eu sei que o tal do 54 está no nome da minha conta e eu posso alterá-lo se quiser - mas eu só quero alterar se for para Tony Goes e mais nada. Só o governo tem o poder de acrescentar números (CPF, RG) à minha identidade, não uma rede social. E vem cá, 54? Hellooo? Não nasci em 54, não tenho 54 anos, nunca fui ao Studio 54. Este é mais um tiro no pé do Facebook, que volta e meia invade a privacidade de seus usuários e impõe regras absurdas. Agora querem que nos forçar a usar o e-mail deles. Caguei. Ocêis num manda em eu. Não admira que as ações do FB valem menos a cada dia que passa.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

AS MINA PIRA

Marisa Monte conta em seu novo show que convidou Mina, a maior cantora popular italiana de todos os tempos, para gravarem "Ainda Bem" em dueto. Mina pirou tanto com a canção que resolveu gravá-la sozinha em seu disco "Piccolino", em solo e em português. Marisa não ligou - na verdade, ficou lisonjeadíssima. E resolveu homenagear a diva cantando um de seus antigos sucessos, "Sono Come Tu Me Voi". Em italiano mesmo (no vídeo abaixo ela erra a letra). Ainda bem.

RATO MOLHADO

Sabe aqueles caras chatos que vendem jornalzinho de poesia na frente dos cinemas? Eu sempre morri de vontade de saber como era a vida deles, só que ao contrário. Ontem matei essa não-curiosidade vendo "Febre do Rato", o novo filme do diretor pernambucano Cláudio Assis. O sujeito adora posar de anti-sistema e acha quase todos seus colegas umas bostas (eu estava na plateia de um prêmio de cinema, em 2004, quando Assis xingou Hector Babenco em alto e bom som no momento em que este subiu ao palco). Esta atitude de enfant terrible seria justificada se seus filmes fossem sensacionais, mas não é o caso. Assisti "Amarelo Manga" e "Baixio das Bestas" e achei legalzinho, mas não mais do que isto. Achei a mesma coisa da "Febre", que é inspirado num poeta real do Recife que imprime um jornal com o mesmo nome do filme. As poesias declamadas em cena são mesmo dele, e todas pavorosas. Mas Assis consegue inovar em algumas cenas, como uma discussão entre o personagem de Matheus Nachtergaele e sua amante travesti, que intercala planos de três momentos diferentes, ou na câmera que pendurou no teto para filmar o protagonista (vivido por Irandhir Santos) transando com velhas numa tina. As cenas de sexo são mesmo ousadas, com direito até a mão no pau. E a agitação do roteiro - está sempre acontecendo alguma coisa - mascara a ausência de uma história propriamente dita. "Febre do Rato" é para estômagos especiais, tanto que muita gente saiu do cinema antes do final. Mas seu discurso hipongo é tão datado que está precisando tomar um banho.

domingo, 24 de junho de 2012

MARISA DE PERTO

Comprei ingressos para o show da Marisa Monte há mais de um mês, assim que abriu a venda especial para clientes do HSBC. Arrematei uma mesa bem na frente, na área mais VIP de todas, aproveitando o desconto oferecido aos correntistas do banco e os últimos dias dda minha carteirinha de estudante (meu curso acaba no começo de julho). Cheguei ao HSBC Brasil me sentindo espertíssimo. A ilusão durou pouco: a mesa era na extrema esquerda da plateia, com uma visão lateral do palco. Não seria totalmente horrível se o espetáculo "Verdade, uma Ilusão" não fosse quase todo pontuado por projeções no fundo da cena: dava para ver bem a cantora, mas só uma nesga do telão. Já estávamos conformados quando uma das "hostesses" da casa se aproximou perguntando se queríamos mudar para uma mesa central. É óbvio que sim! Demos uma longa volta pela cozinha e fomos acomodados numa localização ultra-privilegiada, quase no meio da plateia, na primeira fila. E tudo isto sem pedir nem reclamar, acredita? Ainda existe gentileza neste mundo. Do novo lugar percebíamos cada detalhe, e nos maravilhamos com a produção suntuosa. Além do mais, Marisa está feliz como nunca a vi antes. E me pareceu aquela felicidade que nem os filhos e nem o sucesso conseguem dar, se é que você me entende.

sábado, 23 de junho de 2012

VOCÊ FALA BINÁRIO?

Hoje se comemora o centenário de Alan Turing, talvez o mais importante indivíduo da história da computação. Este inglês que desenvolveu códigos secretos para os aliados durante a 2a. Guerra Mundial é uma pedra fundamental da informática, mas teve um fim inglório. Turing era gay, o que era proibido naquela época. Condenado à castração química, preferiu comer uma maçã envenenada, em 1954. Um pioneiro e um mártir, que finalmente está recebendo as homenagens que merecia em vida. Uma delas é o doodle que o Google lançou hoje. Não há instruções, mas o objetivo é soletrar a palavra "Google" usando o sistema binário, apenas com 1s e 0s. Bico, não é mesmo? Nem com este vídeo tutorial aí em cima eu entendi um caralho da porra. Alguma alma caridosa pode me explicar?

sexta-feira, 22 de junho de 2012

OS GUAIS DEVEM ESTAR LOUCOS

Já fui da opinião de que Uruguai e Paraguai não deveriam existir como países independentes. O Uruguai, surrupiado por D. João VI à coroa espanhola, tinha que ter sido integrado com a Argentina ao invés de proclamado a independência em 1823: sotaque, paisagens, culinária, quase tudo é idêntico nas duas margens do Prata. E o Paraguai poderia ter sido desmembrado entre Argentina e Brasil no final da mais sangrenta guerra sul-americana do século 19. Isto teria poupado vários dissabores no século seguinte, como os protestos por Itaipu, o contrabando e o whisky falsificado. Mas esta semana estou achando ótimo que nossos vizinhos sejam nações soberanas, porque estão animando o noticiário. O presidente José Mujica, do Uruguai (à esquerda na foto), de repente virou o mais transado líder do Mercosul. Dirige um Fusca, doa 90% do salário e agora quer liberar a maconha em todo o país, onde aliás já está regulamentada a união civil entre homossexuais. Com ele a nossa antiga Cisplatina honra uma nobre tradição liberal e libertária, interrompida pela ditadura militar nos anos 70. Enquanto isto, o Paraguai também honra a tradição de ser o mais atrasado de todos e ainda dominado pelo caretérrimo partido Colorado, ao qual pertencia o ditador Stroessner. Escrevo este post quando acaba de sair a notícia do impedimento do presidente Fernando Lugo (à direita). Nunca foi com a cara desse ex-padreco comedor de extrema esquerda, mas um processo de impeachment que começa na quinta e acaba na sexta é coisa de republiqueta. Tem que ver isso aí, Dilma.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

ESTRELA EM ESTADO BRUTO

A Marta Matui conta em seu blog (que voltou para o nome original e agora se chama novamente "Pequenas Leituras") sobre o dia em que conheceu Sonia Braga durante uma sessão de fotos. E se assustou: de cara lavada, sem produção, a olho nu, Sonia é quase uma mulher feia. Mas aí ela entra em frente à câmera, maquiada e penteada, e bum. Nasce uma estrela. Deixei um comentário lá que quero desenvolver mais aqui. Acho que Sonia Braga é um caso raro de star quality em estado bruto. Digo raro porque as grandes estrelas do cinema costumam ter uma combinação de três fatores: talento dramático, beleza física e a indescritível star quality. Tá assim de grandes atores que não possuem esta qualidade - o exemplo mais recente é Noomi Rapace, que aparece em "Prometheus" com competência mas sem brilho. Também tá assim de beldades canastronas, a quem tudo é perdoado só porque são lindas de morrer. A maioria aprende pelo menos alguns macetes com o tempo e acaba se tornando palatável: Brad Pitt, Marilyn Monroe e Tom Cruise chegaram à fama por causa dos looks e do star quality, e só mais tarde se tornaram bons atores. Já Soninha é um caso à parte. Ela era engraçadinha em suas primeiras aparições, como no programa infantil "Vila Sésamo" ou no filme "A Moreninha", mas só foi se transformar num mulherão depois de "Gabriela" - papel para o qual, aliás, não foi uma escolha óbvia. E nunca, jamais, foi uma grande atriz. Melhorou muito, mas, com todo o respeito, não é exatamente uma Fernandona. Mas é uma estrela, daquelas que quando brilham ofuscam tudo o que está ao redor (além de ser uma pessoa muito divertida, dizem nossos amigos em comum). Juliana Paes está bem na nova versão da novela e não consigo pensar em ninguém melhor de sua geração para o papel, apesar dela ter passado um teco da idade ideal e outro teco do peso que uma retirante teria ao chegar a Ilhéus. É uma mulher deslumbrante e uma atriz competente, mas - novamente, como todo o respeito - não é páreo para Sonia Braga, uma das maiores estrelas que o Brasil já teve.

DO ARMÁRIO À CAPA

Doido para que a semana passe rápido e o novo número da revista "Entertainment Weekly" chegue logo às bancas de São Paulo. A edição que sai amanhã nos Estados Unidos traz uma matéria de capa interessantíssima sobre o processo de saída do armário de muitas celebridades americanas. E traça uma comparação entre a pioneira Ellen De Generes, que enfeitou a capa da "Time" em 1997 com a declaração "Yep, I'm gay" e causou um enorme estardalhaço, e as assumidas en passant dos dias que correm. A homossexualidade de Jim Parsons, por exemplo, foi confirmada discretamente numa crítica do "New York Times" à sua peça "Harvey", como se todo mundo já soubesse extra-oficialmente - e meio que sabia mesmo. Vendo todos juntos na capa, é realmente impressionante o número de famosos americanos já fora do closet, sem nenhum prejuízo para suas carreiras. O curioso é que absolutamente todos vêm da TV, não do cinema. Por quê será? Porque ainda esperamos uma perfeição impossível das estrelas da telona, estes semideuses contemporâneos, enquanto que os atores de seriados são quase membros da família e toda família tem pelo menos um primo gay? Bom, e agora cheguei àquele momento do post em que diria que a situação do showbiz brasileiro ainda está a anos-luz de distância, mas estou com preguiça de repisar o que já disse muitas vezes. Só quero acrescentar que, enquanto a cultura nacional se acovardar diante do avanço dos evangélicos homofóbicos em nome do "viva a nova classe C, bora pegar o dinheiro deles", a coisa só vai piorar.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

PAPAI, QUERO SER POPSTAR

Filhos de ditadores costumam ter carta branca para realizar suas fantasias. O norte-coreano Kim Jong-Il mandou sequestrar um diretor da Coreia do Sul para que este o transformasse num astro do cinema. Uday e Qusay Hussein gastavam rios de dinheiro e comiam quem quisessem enquanto papi dominava o Iraque. Guinara Karimova, filha do presidente do Uzbequistão, Islam Karimov, quer ser uma estrela da música pop a nível global. Em seu país ela já é, e acaba de lançar um disco em inglês para conquistar o resto do mundo. Apesar de citar Adele como uma grande influência, o som eurotrash da moça - que usa GooGoosha, seu apelido de infância, como nome artístico - está mais para a bobajada que costuma concorrer no Eurovision. Até aí tudo bem - ou mais ou menos, já que Karimov está no poder há mais de 20 anos e já cozinhou vivos dois prisioneiros políticos. Acontece que inúmeros relatos confirmam que GooGoosha, que tem 39 anos, estudou em Harvard e é mãe de dois filhos, está envolvida em trocentos esquemas de corrupção e já acumula uma fortuna pessoal de mais de 650 milhões de dólares. Baixe daqui "Round Run", o single que ela vem promovendo em boates por toda a Europa e Estados Unidos. Mas cuidado para o pai dela não descobrir, hein? Há sempre um caldeirão quentinho esperando por você.

terça-feira, 19 de junho de 2012

MULHER MACHO SIM SENHOR

Sei que é um clichê deselegante chamar Luiza Erundina de "paraíba masculina", mas a ex-prefeita de São Paulo acaba de dar um show de hombridade. No bom sentido: aquele da dignidade, da coragem, da retidão de ideias. Ideias, aliás, com as quais muitas vezes eu não concordo. Mas agora eu quero agarrar a Erunda e beijá-la loucamente. Até que enfim alguém se revoltou com essa maneira espúria de fazer política no Brasil, onde se trocam minutos na TV por apoios estapafúrdios. A reação nas redes sociais à renúncia de Erundina ao cargo de vice na chapa de Fernando Haddad está sendo tão grande que ela devia pensar até em lançar candidatura própria. E tomara, mas tomara mesmo, que PT e PSDB aprendam a lição e parem de fazer alianças com qualquer merda que encontrem pela frente. Chega de jogar o voto na privada e dar a descarga.

QUANDO EU VIM PARA ESSE MUNDO...

...eu não atinava em nada, mas hoje eu atino tanto que já escrevi duas colunas sobre "Gabriela" para o F5. A primeira saiu ontem, embebida em nostalgia: conto das lágrimas que me vieram aos olhos quando, ouvi numa das chamadas do remake o tema "Porto", com o MPB-4 - pela primeira vez em 37 anos. Oh que saudades que eu tenho da aurora da minha vida... A segunda coluna saiu hoje, e eu comento a produção over com que a Globo está soterrando a história de Jorge Amado. A primeira versão da novela foi um marco histórico e, ao lado de "O Bem-Amado" (de 73) e "Saramandaia" (de 76), serviu para cimentar o imaginário televisivo do Nordeste brasileiro. A nova ainda está muito no começo para ser avaliada e merece um crédito de confiança. Pelo menos tiveram a sabedoria de manter "Porto" na trilha sonora.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

O HORROR, O HORROR

Quando é que alguém imaginou que entraria em meu blog e daria de cara com uma chavasca entreaberta? Mas claro que é uma xana chique, que hoje vive no Museu d'Orsay em Paris. "A Origem do Mundo" foi pintada por Gustave Courbet há mais de um século e até hoje provoca controvérsia. É o que conta a jornalista Eliane Brum em sua coluna na revista "Época" desta semana. Eliane caiu na besteira de pendurar uma réplica do quadro em seu escritório e agora corre o risco de perder a faxineira. E se pergunta: por que a visão de uma vagina ainda é tão chocante? Eu poderia inverter o sentido da questão e indagar por que o pênis é tão ausente das telas de cinema, mesmo nos filmes eróticos. Pau e xoxota ainda são tabu, independente do contexto. Para ler e refletir.

ATUALIZAÇÃO: Parece piada, mas a merda do Facebook REMOVEU a imagem do quadro "A Origem do Mundo" que eu postei ontem, chamando para este post aqui no blog. Pois é: como queríamos demonstrar!

EQUILÍBRIO DISTANTE

Imaginemos que um jornal brasileiro do século 19 procurasse o mesmo "equilíbrio" que boa parte da imprensa de hoje acredita buscar. Num domingo de 1887, o tema da página de debates seria a escravidão: pró ou contra? De um lado, leríamos um belíssimo artigo de José do Patrocínio clamando pela abolição imediata e expondo a vergonha de sermos o último país majoritariamente cristão a manter pessoas escravizadas. Do outro, um grande senhor rural defenderia a escravidão com unhas e dentes - afinal, ela é o esteio da economia brasileira, e a própria Bíblia defende a prática. Suuuper democrático, não é mesmo?

Não, não é. É esquisito. É desconfortável. E é assim que eu me sinto quando leio matérias pró e contra os direitos igualitários na minha querida "Folha de São Paulo". Porque as posições publicadas pelo jornal não têm efeitos iguais se levadas em prática. Se o casamento entre homossexuais for aprovado, o que acontece com seus oponentes? Rigorosamente nada. É exatamente o que se passa nos países que já o aprovaram. Alguns casais homo se casam, têm seus direitos garantidos e a vida segue em frente. Inclusive para os homofóbicos, que só se veem constrangidos a engolir a própria homofobia.

Agora, se são eles que têm a palavra final - derrotam o casamento, a PLC-122 e todos os projetos que pedem mais igualdade - a vida de todos os homossexuais piora muito. O que um sujeito como o Bolsonazi prega é "apenas" a volta ao status quo dos anos 50, com as bichas presas dentro do armário. E ai daquela que der pinta: pode ser demitida, humilhada em praça pública e até mesmo morta, tudo com a aprovação da sociedade e da lei.

Infelizmente, muitos héteros não entendem que este debate não é proporcional. Não gera resultados opostos, porém equivalentes. O que está em jogo é nada menos que a plena cidadania de algo entre 5 e 10% da população. Se esta parcela conseguir seu objetivo, os demais 90-95% não perdem nada. Se não conseguir, é ela quem perde tudo.

Este desabafo é só por causa da coluna de ontem da Suzana Singer, a excelente ombudsman da "Folha" (aqui, para assinantes do jornal e do UOL). Ela condenou a FSP por dar destaque exagerado a uma carta homofóbica em sua versão online, e também pela manchete que dizia que a maior torcida entre os presentes à Parada Gay é a do Corinthians. Um dado irrelevante que só serviu para gerar gracinhas e fomentar o preconceito. Suzana tem razão nisto, claro. Mas ela também livra a cara da seção "Tendências/Debates" por ter publicado um texto absurdo e mal embasado do vereador Carlos Apolinário, porque na mesma página havia um texto favorável aos gays assinado por Alexandre Vidal Porto. Como bem apontou uma leitora deste blog, tem dias em que a "Folha" escolhe tão mal alguns debatedores que deveria mudar o nome para "Superpop".

domingo, 17 de junho de 2012

PROMETEU MAS NÃO CUMPRIU

Mais de cem anos depois de Darwin e mesmo com a abundância de fósseis e evidências arqueológicas, o ser humano ainda não se conforma de "ter vindo do macaco" (não foi bem assim, mas enfim). Achamos que somos seres super especiais, totalmente diferentes de toda a natureza que nos rodeia. Este mito persistente é a base de "Prometheus", de Ridley Scott, e também o que o impede de ser um puta filme. Durante meses circularam boatos: seria ou não um prequel de "Alien", uma das obras-primas da ficção-científica? Sim, é: "Prometheus" inteiro serve para explicar a cena de "Alien" em que astronatuas encontram numa lua distante o cadáver destroçado de um humanóide gigante. Mas porque então a 20th Century Fox nnao batizou o novo filme de "Alien: a Origem" ou coisa que o valha? Porque já há toda uma geração que nunca viu o monstro gosmento no cinema, e suas últimas aparições, contra o Predador, jogaram na lama a reputação da franquia. Mas voltando à lua distante: "Prometheus" prometia muito, e no começo eu até achei que cumpriria. Pois não há nada como um cineasta de verdade, como James Cameron, Martin Scorsese ou o próprio Scott, para usar direito o 3D. As primeiras sequências são de tirar o fôlego e eu me senti realmente num outro universo. Mas o roteiro não tem furos, tem crateras, e está repleto de situações forçadas. Para piorar, Noomi Rapace é uma ótima atriz, mas não tem o carisma que Sigourney Weaver deu à lendária Ripley. Nem a beleza olímpica: sem estar caracterizada como Lisbeth Salander, seu papel icônico, Noomi é simplesmente feia. "Prometheus" fica bárbaro nas cenas de susto e perseguição, e ridiculamente pretensioso quando se envereda pela bobajada teológica. Ofende não só a linhagem da espécie humana, como também a do próprio "Alien".

sábado, 16 de junho de 2012

RÉVEILLON ANTECIPADO

Fui terminantemente proibido de falar sobre moda pelo MM, jornalista consagrado e leitor assíduo deste blog. Como os comentários dele têm o poder de gelar meu coração, obedeci. Mas hoje vou abrir exceção e MM há de me perdoar: preciso comentar o desfile semestral do meu amigo R. Rosner, a quem dedico posts desde quando ele mostrava seus modelitos num galinheiro em Cotia. Rodrigo passou alguns anos na Casa dos Criadores e entrou na São Paulo Fashion Week em janeiro deste ano. Claro que a expectativa para sua segunda aparição no evento era imensa. Sou mais do que suspeito: mesmo se ele tivesse feito uma coleção inteira com piche e penas, eu seria só elogios. Mas suas ideias para o próximo verão me deixaram encantado, com uma leveza e uma brancura inéditas em seu estilo. Parecia que já era réveillon. Rodrigo diz que sua inspiração veio das nobres húngaras do século 19, mas o styling - que finalmente não tentou ofuscar as roupas - não deixou dúvidas: as modelos todas foram produzdias para se parecer com Jacqueline Dalabona, que desfilou para ele em priscas eras e é até hoje sua grande amiga. Mas ela não fala bem dele em seu blog, fala?

sexta-feira, 15 de junho de 2012

SENTINDO NA PELE

Acho que a moda começou nos anos 80, quando um jornalista alemão se passou por imigrante turco durante um ano. O cara escreveu um livro sobre a experiência que fez muito sucesso e foi muito copiado. Depois dele teve um outro que se passou por negro, uma repórter brasileira que viveu três meses só com salário mínimo (ela emagreceu muito) e a clássica "dieta palhaço", que fez o documentarista Morgan Spurlock fazer todas as refeições no McDonald's durante um mês (ele engordou muito). Aí virou febre: hoje nos EUA se encontram livros sobre todo tipo de "1-year experience", até de um sujeito que tentou viver sob todos os comandos da Bíblia (impossível). E eis que agora surge Tim Kurek, que vem de uma família religiosa e sempre foi homofóbico. Até o dia em que uma amiga se revelou lésbica e contou a ele como tinha sido repudiada por todos. Tim teve a mesma ideia: também "saiu do armário", apesar de sempre ter sido hétero. Declarou-se gay e foi imediatamente rejeitado por seu cíuclo social, parentes e amigos. Agora ele está escrevendo o inevitável livro sobre o que sofreu, e claro que suas ideias sobre o assunto mudaram muito. Bem que Bolsonaros ou Malafaias podiam se insirar e fazer coisa parecida, nein? Ou quem sabe Gugu Liberato, naquele quadro em seu programa onde ele já se disfarçou de mendigo e taxist... OH WAIT.

MANOREXIA

O termo não existe oficialmente, mas dá para entender: a versão masculina da anorexia faz com que o sujeito sinta-se eternamente um garnizé, por mais anabolizantes que tome. Foi o que aconteceu com o ator pornô gay Eric Rhodes, que morreu ontem de um ataque do coração com apenas 30 anos de idade. Eric já sabia que estava nas últimas: há poucos dias, ele escreveu em em seu Tumbl'r que estava "esperando explodir, ou que meu fígado enguice... o que vier primeiro". Aqui no Brasil já não tenho visto o povo tomar tanta bomba, mas talvez seja porque já faz dois anos que eu não piso na cad'mia. Tenho horror desses corpões inflados, equivalentes aos peitos de boliche das panicats. E sei de um ou dois caras que arranjaram doenças cardíacas crônicas para si mesmos por causa do uso de esteróides. Tomara que essa moda feia e perigosa passe logo. O fim de um ciclo.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

HEY BARRY, IT'S ME

Lembra da Obama Girl? Uma garota que gravou vários vídeos por conta própria e acabou se tornando um dos principais cabos eleitorais de Obama em 2008? A ideia fez tanto sucesso que foi copiada em 2010 pelo PT, com o Dilma Boy - que não viralizou do mesmo jeito porque um dos segredos da estratégia é a estrela do clipe pelo menos parecer ter tesão pelo candidato, o que evidentemente não era o caso no Brasil. Agora em 2012 surge o Obama Boy, inspirado pela recente declaração do presidente dos EUA em apoio ao casamento gay e encarnado pelo negão-magia Justin Brown. Desnecessário dizer que já está bombando na rede.

E agora gostaria de deixar registrado um compromisso público. Se, até as eleições de 2014, Dilma, Lula ou quem quer que seja o candidato petista declarar apoio ao casamento gay, eu gravo um vídeo nesse estilo e posto na internet. Mas atenção: a declaração tem que ser inequívoca, com todas as letras. Nada de "todo brasileiro merece respeito e a Constituição garante a igualdade" etc. Já pensou que sexy, eu cantando "I've Got a Crush on Lula"? Talvez ajude a eleger um evangélico.

VIAJAR, PESQUISAR, FERVER

Conheci Emanuel Seth no apartamento do meu amigo de onde vi a Parada Gay de SP, na esquina da Paulista com a Consolação. O rapaz tem só 22 anos e é pra lá de interessante, e não só por causa dos looks. Emanuel nasceu em Los Angeles, filho de pai afegão e mãe polonesa, ambos judeus. Saiu de casa e do armário, formou-se em administração pública pela universidade de Williams e ganhou a Watson Fellowship, uma espécie de bolsa de estudos distribuída todo ano pelo instituto que leva o nome do fundador da IBM. E o que foi que Emanuel resolveu fazer enquanto fellow? Rodar um ano pelo mundo, pesquisando a legislação que garante os direitos igualitários (ou não) em diversos países. Já esteve na Inglaterra, na Índia, na China e na Austrália, e o Brasil é sua última parada. Depois de alguns dias no Rio e na Bahia, Emanuel termina seu périplo e sua pesquisa por São Paulo, onde fez longas entrevistas com a senadora Marta Suplicy, líderes de ONGs GLBT e, last but not least, euzinho. Sua viagem é uma espécie de "Comer, Rezar, Amar" gay, e é claro que o moço também está se jogando em algumas baladjeeenhas. Ah, e ele está sol-te-iro! Cartas com foto terão prioridade.

(Manny conta um pouco de sua experiência em São Paulo em seu blog.)

quarta-feira, 13 de junho de 2012

DESGRACIAS DE LA VIDA

O nome de Violeta Parra nunca foi muito conhecido no Brasil, mas duas de suas canções fizeram um certo sucesso por aqui: "Gracias a la Vida", gravada por Elis Regina nos anos 70, e "Volver a los 17", em dueto por Milton Nascimento e Mercedes Sosa nos anos 80. Mas em seu Chile natal a mulher é um ícone absoluto, ainda mais do que foi em vida. É uma heroína nacional e um símbolo da "chilenidad". Por isto, é até de espantar que seus conterrâneos tenham demorado tanto a lhe dedicar uma cinebiografia. "Violeta Foi para o Céu" é baseado na biografia escrita por seu filho Ángel, dirigido por Andres Wood (que também fez "Machuca", exibido no Brasil) e representou o Chile no último Oscar. Apesar do ar "oficial", o filme não poupa sua protagonista. Violeta aparece como uma mulher de temperamento difícil, e seu estilo musical soa bastante áspero para os ouvidos tupiniquins. Ela era uma comunista à moda antiga, meio romântica, e dificilmente teria sobrevivido à ditadura Pinochet - que torturou e matou Victor Jara, o Chico Buarque local, sem a menor cerimônia. A atriz Francisca Gavilán é parecidíssima com a verdadeira Violeta e tem um desempenho digno de todos os prêmios. Já o roteiro é uma sucessão de desgraças, da infância pobre ao desenlace trágico. Difícil acreditar que não houve momentos felizes na vida da mulher que escreveu "Gracias a la Vida" - que, aliás, só toca nos créditos finais.

SURPRESA: GAY TEM CONTA EM BANCO!

Foi só eu reclamar que nenhuma marca quis anunciar na Parada Gay de São Paulo para o Itaú soltar esta mensagem para o Dia dos Namorados em sua fanpage do Facebook. OK, não foi na TV, e OK, bancos são a pior coisa do capitalismo e de pé, famélicos da Terra!, mas já é um puuuta avanço. A imagem teve mais de oito mil compartilhamentos e, claro, alguns comentários negativos. É impressionante a ignorância dos homofóbicos: não só grafam seus impropérios com erros grosseiros de português, como acham que Jesus disse que "família é homem é mulher" (Jesus jamais se pronunciou a respeito). Fodam-se, não é mesmo? E o mais legal é que essa campanha não é da boca para fora: um amigo que trabalha no Itaú disse que é uma empresa que respeita a diversidade dos funcionários, algo ainda raro no setor privado brasileiro.

terça-feira, 12 de junho de 2012

SAY CHEESE

Bora falar de amenidades? Quem já fez foto de grupo sabe como é impossível fazer com que todo mundo saia bem ao mesmo tempo. Sempre tem um boçal que pisca ou olha para o lado. Por isto, duvido que esta imagem monumental (feita por Annie Leibovitz para o centenário dos estúdios Paramount e publicada na revista "Vanity Fair" deste mês) tenha sido feita num único clique. Mas não importa: divertido mesmo é visitar este link e passar a lente na cara de cada um dos atores e diretores, que aparecem acompanhadas de providenciais legendas. Só não entendo o que Rosie Huntington-Whiteley está fazendo nessa turma.

BACKLASH

Impressão minha, ou existe no ar uma certa má vontade generalizada em relação à Parada Gay de São Paulo? Antigamente, só dois tipos de público trollavam o evento. O maior deles era o evangélico, claro. O outro era um inimigo interno: as beeshas feenas, que se sentem ofendidas com a quantidade de viados diferenciados a ocupar a Paulista. Mas agora parece quem quem antes posava de indiferente resolveu reclamar - só estavam à espera de um dado concreto que justificasse sua homofobia. Um dos culpados pode ter sido o mau tempo: por causa da chuva, São Paulo não esvaziou muito durante o feriadão, e a Parada acabou atrapalhando o trânsito mais do que em outros anos. Também há o novo método de medição do Datafolha, que derrubou a cifra astronômica de quatro milhões de participantes para míseros 270 mil. Quatro milhões é de fato muito improvável: é uma quantidade de gente maior do que a população de quase todas as cidades brasileiras, e até de alguns estados. Mas o fato é que um tapete humano cobriu as avenidas; as fotos não mentem. Ainda assim, tá cheio de nego dizendo que a Parada foi "desmascarada", como se 270 mil pessoas que não têm seus diretitos garantidos fossem uma minoria insignificante. A APOGLBT SP caiu na armadilha de inflar os números através dos anos. Agora, quando de fato a maré parece vazante - algo normal em todas as Paradas do mundo, que crescem demais e depois tendem a diminuir - nossos inimigos vêm dizer que não merecemos nada, porque afinal não somos tantos assim. No UOL há uma enquete perguntando se a Parada deve continuar na Paulista. No portal R7, ligado à "ungida emissoura" Record, uma outra pesquisa pergunta se "você acha que a Parada Gay traz benefícios econômicos para a cidade" (88% dos internautas responderam que não). Uma manipulação grosseira, porque há números que comprovam que o evento injeta muitos milhões de reais na economia da cidade: não é questão de opinião. Mas este bafafá todo serve de alerta. Está mais do que na hora da Parada paulistana ser repensada, com trocas de comando e abertura para novos parceiros. E nós, gays, também precisamos repensar nossa relação com ela. Não podemos exigir que um único desfile anual resolva todos os nossos problemas. Parada gay se faz todos os dias. Quando a gente acorda, sai para o trabalho, se assume homossexual, aparece com o namorado, reage contra quem nos ataca. Quando mostramos que pagamos os mesmos impostos que todo mundo e que temos poder aquisitivo. E que, no final das contas, nem somos tão diferentes assim. É como nos filmes de terror: a luz vence as trevas. A visibilidade acaba com a ignorância. Marchemos.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

FUTURO DO PRETÉRITO

Estou puto com um artigo que a “Folha” publicou hoje, e mais ou menos puto com o próprio jornal. Foi na página três, aquela do “Tendências / Debates”, sob a rubrica “O assunto é a Parada Gay”. Na parte superior, há um belo texto do advogado e diplomata Alexandre Vidal Porto, "Dilma, precisamos de sua voz", conclamando a presidente a fazer algo de concreto pelos direitos igualitários. Logo abaixo, para “contrabalançar”, o pastor evangélico e vereador paulistano Carlos Apolinário – cujo único projeto de repercussão foi o famigerado Dia do Orgulho Hétero – repete a cantilena de sempre sob o título “Direitos ou privilégios?”, abusando do direito de ser preconceituoso e ignorante.

Sei muito bem que a verdadeira democracia consiste na pluralidade de opiniões. Como dizia Voltaire: “não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até a morte seu direito de dizê-las”. A “Folha de São Paulo” leva isto ao pé da letra e vive dando voz a apóstolos do ódio como Apolinário, Ives Gandra Martins e muitos outros, além de volta e meia dar destaque a cartas de leitores homofóbicos em sua versão online. Até aí, zuzo bem: não gosto, não publicaria, mas entendo. O que eu não entendo é a neutralidade oficial da “Folha” sobre o tema, como se as manifestações pró e contra os direitos LGBT não passassem de uma briga de vizinhos por causa de uma jaqueira.

Já faz algum tempo que o “New York Times” defende explicitamente o casamento igualitário. Não só nos editoriais como até na página dos anúncios de casamentos, o mais próximo de uma coluna social que o mais importante jornal do mundo possui: um espaço onde são pubicadas fotos de recém-casados mais ou menos proeminentes com um textinho meramente informativo. “No dia tanto do tanto, o sr, Fulano de Tal se casou com a srta. Beltrana…” É meio cafona, mas é uma tradição. Pois bem: o “NYT” passou a publicar ali notas sobre enlaces de pessoas do mesmo sexo muito antes do estado de Nova York aprovar o casamento gay no ano passado.

Estava mais do que na hora da “Folha” fazer algo parecido. O jornal adora pagar de vanguarda, dizendo que defendeu as Diretas-Já e outras batalhas pela redemocratização do Brasil. Mas reluta em se engajar de maneira inequívoca naquela que é a última grande luta por direitos civis. E não deve ser só para não desagradar grande parte do leitorado, mas por convicção pessoal dos editores e proprietários. Dessa forma, a “Folha” vai contra a maré da história e contra os próprios princípios. Afinal, para ser “O Jornal do Futuro”, não basta ter um aplicativo para o iPad.

(Sim, sou colaborador da “Folha” há quase três anos, e assinante há mais de vinte. Por isto mesmo, me sinto absolutamente confortável para criticar o jornal.)

A MAIOR BANDA DE IPANEMA DO MUNDO

Nem mais. Nem menos. A Parada do Orgulho LGBT de São Paulo tem tanta importância política quanto um bloco de carnaval. É a Banda de Ipanema paulistana - bem maior do que a original no tamanho, é claro, mas praticamente idêntica na incapacidade de mudar opiniões. De não conseguir resultados concretos. De não agitar corações e mentes. Ambas não passam de festas de rua, às quais comparecem cada vez menos políticos e celebridades. Com a diferença de que a organização da Banda de Ipanema não está envolvida numa confusão dos diabos como a APOLGBT, onde fechaduras são trocadas na calada da noite e empresários importantes precisam entrar na Justiça para conseguirem se associar.

Dessa vez vi tudo do alto, do apartamento de um amigo bem na esquina da Paulista com a Consolação. Estávamos no segundo andar, o que permitia contato visual com o povo no chão. Menos povo que das outras vezes: durante grande parte do tempo dava para circular entre a multidão. Menos carros, também. Foram só 14, que por alguma razão pareceram menos: quando passou o último, ficou aquela sensação de "mas é só isto?". E aí aconteceu a maior surpresa para mim. O povo que vinha atrás do derradeiro era interminável. Eu estava bem numa das pontas da Paulista, e via gente até onde a vista alcançava. Era gente demais para pouco carro. Gente que queria desfilar, pular, exprimir seu orgulho, e cadê os trios elétricos? Já desciam a Consolação.

Outra coisa que me chamou a atenção foi a truculência dos seguranças. Não lembro se em outros anos foi assim, mas da sacada onde eu estava dava para ver perfeitamente: cada trio era cercado por um cordão sanitário de homens de preto, que iam empurrando os pedestres sem a menor cerimônia para abrir caminho. Ninguém se machucou por milagre. Por outro lado, era nítida a presença maciça da polícia, e o posto médico em frente ao prédio recebeu pouca gente - sinal de que os foliões estão se comportando, ou pelo menos com menos acesso ao vinho químico, que este ano teve a venda devidamente reprimida.

Antes de abandonarmos nosso "camarote", lá pelas 6 da tarde, outro fato me causou consternação. Um mar humano ainda cobria a avenida, mas não havia um único material de propaganda à vista. Nenhum banner do Bradesco, nenhuma bandeirola da Brahma, nenhum apito do Red Bull. Já estive na Parada de Nova York, e lá empresas como a Pepsi e a Mercedes-Benz não têm vergonha de aparecer com patrocínio. Por aqui, necas de pitibiriba, e duvido que seja apenas por causa da Lei da Cidade Limpa. Qualquer micareta em Xiririca da Serra é bancada por grandes marcas. A Coca-Cola chega a produzir uma lata azul, contra todos os policies da empresa, só para não desagradar aos torcedores do Caprichoso no Boi de Parintins. Na Parada de São Paulo, ainda a maior do mundo, xongas. Uma vergonha. Não livro nem a minha própria cara: sou publicitário, mas não apresentei para nenhum cliente algum projeto que envolvesse o evento. Um defeito cultural nosso, um atraso de vida e uma perda de dinheiro incalculável. Até quando vamos continuar achando que gay não bebe cerveja, não dirige carro nem tem conta em banco?

domingo, 10 de junho de 2012

ONDE VOCÊ ESTEVE A MINHA VIDA TODA?

Não sei porque Rihanna e outros artistas continuam gastando milhões de dólares para fazer vídeos mais ou menos. A versão oficial de "Where Have You Been", por exemplo, não chega aos pés do clipe caseiro produzido por Mattstache, o nome artístico de um professor de Nova Jersey chamado Matthew Ferguson. O cara já havia feito coisa parecida com "Turn Me On", de David Guetta e Nicki Minaj, que já foi visto mais de um milhão de vezes, e realmente precisa ter uma ideia diferente se quiser continuar viralizando. Mas fica a lição: milhões de dólares não são páreo para quem tem muitos pelos e pouca vergonha na cara.

sábado, 9 de junho de 2012

ANTES DA SEGUNDA-FEIRA

Existe filme para o Natal, filme para o Dia dos Namorados e agora também existe filme para a Parada Gay. De uns anos para cá, sempre estreia algo deste novo gênero nesta semana em São Paulo: desta vez é "Weekend", que finalmente chega ao Brasil depois de ganhar quilos de prêmios mundo afora. E o que ele tem de tão especial? Nada. Digo isto como um elogio. "Weekend" mostra a vida gay como ela é, com balada, drogas, sexo casual e solidão. Os atores são atraentes, mas não especialmente bonitos (e só eu que achei que o Tom Cullen tem cara de brasileiro?). Os personagens não são ricos, não são VIPS, não fazem muita coisa da vida. Gente normal vivendo em Nottingham, no interior da Inglaterra. A locação é importante: não estamos num paraíso onde as bichas podem andar de mãos dadas no meio da rua. A homofobia casual rodeia a ação, o que torna mais do que justificável a relutância de um dos rapazes em ser mais assumido. E a história lembra "Antes do Amanhecer", aquele filme lindo com Ethan Hawke e Julie Delpy: casal se conhece, transa, discute e se apaixona, mas tem que se separar porque um deles está indo embora. Aqui, como o título entrega, tudo se passa num único fim de semana. Muitos de nós já vivemos experiências parecidas, achando que tínhamos encontrado o amor das nossas vidas só para o destino cruel vir arrancá-lo de nós. Claro que a separação forçada é o que faz tudo ficar maravilhosamente romântico. Se ficassem juntos, depois de uns dias os moços iam perceber que um deles aperta o tubo de pasta de dente por baixo e outro aperta no meio, e daí para a frente é só ladeira abaixo.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

CANTANDO NA CHUVA

Atire a primeira pedra quem nunca teve vontade de sair rodopiando por um estacionamento empurrando um carrinho de supermercado. OK, eu também não, mas mesmo assim "I Just Want a Lover" é a música que eu mais tenho ouvido nesses dias chuvosos pré-Parada. O cantor Will Young foi o primeiro vencedor do "Pop Idol", o programa inglês que deu origem ao "American Idol" e a dezenas de outros. Ele saiu do armário na mesma época e ainda assim se tornou um dos maiores vendedores de discos na Europa (ou vai ver que foi por causa disto). Talvez também por causa disto o rapaz nunca tenha estourado nos Estados Unidos ou no Brasil, mas nunca é tarde. Se bem que eu duvido, haja visto a quantidade industrial de pinta que ele transborda no clipe acima.

SELVAGEM, PORÉM CONTIDO

Acho que encerrei meu ciclo com "Deus da Carnficina". Ontem finalmente assisti ao filme dirigido por Roman Polanski, e o que me resta agora? Ver a peça em servo-croata? Já assisti ao texto de Yasmina Reza em quatro línguas diferentes, mas nada superou o impacto da primeira vez, em Londres. A história é um huis-clos clássico, com a ação toda se passando de uma só vez entre quatro paredes, e é claro que não seria uma adaptação fácil para o cinema. Mas Polanski se esforça, esticando as conversas da sala para o banheiro, a cozinha e até o elevador do apartamento de classe média alta (que se transferiu da Paris original para Nova York). O elenco está sublime, menos Jodie Foster: sua Penélope saiu estridente demais, uma burguesa politicamente correta sem um traço de simpatia. O roteiro cruel (que foi montado como "Um Deus Selvagem" em alguns países) está quase intacto (mudaram o final), mas a claustrofobia da ambientação não funciona perfeitamente na tela. Por tudo isto, a versão cinematográfica não é a catarse que a peça conseguia ser. Ainda assim merece ser vista, e acho que quem nunca viu "Deus..." no teatro pode gostar muito.

(Conto um pouco da minha experiência com este espetáculo que me persegue há anos na minha coluna de hoje no F5)

quinta-feira, 7 de junho de 2012

IT GETS WORSE

O bullying entrou na moda e niguém mais pode fazer mais nada sem ser acusado de bullying. Até a construtora Delta anda se dizendo vítima da prática nefasta, coitada. Mas existe um tipo de pessoa que costuma sofrer todo tipo de gracinha e agressão na infância com consequências terríveis na idade adulta, e ninguém dá a mínima: os héteros com jeito de gay. Não ria. Esta categoria existe, e para ela as coisas só costumam piorar. É o que conta este artigo (em inglês) do site "Good". A criança sofre gozações no colégio, apanha dos pais e cresce cheia de traumas, apesar de sua orientação sexual não desviar do padrão obrigatório. Porque o mundo é mesmo cruel: você nem precisa ser gay para ser discriminado. Basta parecer.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

SORRIA, PORQUE É GRAVE

Encomendei uns discos na Amazon americana no final de abril e a previsão de entrega é em meados da semana que vem. Encomendei uns discos na Amazon francesa semana passada e entregaram ontem. Alguém sabe me explicar por quê? Enfim, os CDs francophones bem que vieram a calhar nesta chuvinha que afoga São Paulo. Um deles é do veterano Alain Chamfort, que lançou mão de um dos truques mais frequentes da atualidade: regravou seus maiores sucessos em forma de duetos. O diferencial é que ele só convidou mulheres para dividir o microfone com ele, e são todas da nova geração. "Elles & Lui" conta com a participação de Vanessa Paradis (a sra. Johnny Depp), Keren Ann, Camélia Jordana e outras de quem eu nunca ouvi falar. O primeiro clipe, "Souris Puisque C'est Grave", é com a poderosa Inna Modja, e só comprova a preferência de Chamfort por moças de pele escura. As três primeiras faixas do disco são cheias de referências a beldades da Jamaica, Zaire, Angola e arredores. À chacun son goût.

O outro CD é de uma cantora chamada Berry, que lembra Carla Bruni no visual mas não no jeito de cantar: ela não tem nenhum vozeirão, mas pelo menos não sussurra como muitas de suas conterrâneas. "Les Passagers" tem clima retrô, influência de Serge Gainsbourg e produção do brasileiro Eumir Deodato, que transformou "Voir du Pays" numa autêntica bossa nova. Perfeita para ser ouvida quando chegarmos com dor de cabeça da boate.

terça-feira, 5 de junho de 2012

PRÉ-PARADAS?

Ano passado eu fiz forfait. Emendei minhas férias com o feriadão de Corpus Christi e me mandei para a Amazônia. Perdi a Parada Gay de São Paulo pela primeira vez em muitos anos, e também toda a programação de festas e fervos que a acompanha. Este ano não vou viajar. Devo ir a uma ou outra balada e talvez assistir ao desfile da janela de um amigo que mora na Paulista. E estou… tranquilo. Sim, foi-se o tempo em que eu sentia frêmitos de antecipação por esta data. Pode ser a idade. Pode ser o excesso de festas Brasil afora: a esta altura, os grandes DJs internacionais (sempre os mesmos!) já tocaram até na Boca do Acre. Pode ser também, como diz um amigo bem mais novo, porque não estamos mais em 2006.

Também estou sem saco de entrar no debate sobre a Parada em si. "É um horror", "é democrática", "descaracterizou-se", "não serve para nada". De fato, o evento se agigantou assustadoramente e todo ano acontece pelo menos um crime hediondo: tomara que em 2012 a tendência se inverta. Mas cansei de quem se queixa de não se sentir representado pela fauna que invade a Paulista, ou de quem acha que a Parada não rende frutos. A Parada é só isto: é uma parada. Não é o povo enfurecido marchando rumo à Bastilha, não é a revolução social, não é a tomada do poder. Como tudo no Brasil, a Parada virou mais festa do que política. Os resultados não aparecem no dia seguinte, e dependem cada vez menos dela. Não podemos exigir que todos os nossos direitos sejam reconhecidos só porque uma drag rebolou de peitos de fora no asfalto da Paulista (e nem achar que não foram por causa desta mesma drag).

Ia dizer que a Parada é um elemento importante para a nossa luta e que não há país que tenha evoluído na causa LGBT sem uma parada grandiosa, mas taí a Argentina que não me deixa mentir. Buenos Aires nunca teve um "pageant" tão exuberante quanto o nosso, e no entanto nuestros hermanos já podem se casar no civil há quase dois anos. Junte-se a isto os preços estratosféricos do Brasil neste momento, e está explicado porque veremos tão poucos argentinos se jogando em SP este ano. Acho que nem o pessoal dos outros estados se abalará até aqui. Cariocas, presentes?

O Marcelo Cia e o Francisco Hurtz do MixBrasil compartilham dessas minhas sensações, e escreveram dois textos muito bons sobre o assunto (o Cia, aqui, e o Hurtz, aqui). Acho que estamos todos mais maduros e mais desencantados. Vamos ver se somos só nós e se a cidade abarrota como das outras vezes. Tomara que sim, mas enfim. Estou tranquilo. Estou preparado. Só que ainda não estou pré-... parado. Vou agitar um pouco. E você?

WHEELS MUST TURN TO KEEP THE FLOW

Madonna já entrou em cena pulando corda, mas será que ela consegue cantar uma música inteira sem deixar cair o bambolê? Grace Jones consegue, e olha que ela é 10 anos mais velha que Madge. Não vi os outros artistas, mas muita gente está dizendo que foi dela a melhor apresentação no concerto da tarde de ontem, em frente ao Palácio de Buckingham, em comemoração ao Jubileu de Diamante da rainha Elizabeth II. Keep it up! Agora, nada me tira da cabeça que o príncipe Phillip inventou uma infecção urinária só para não ter que assistir ao show.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

NON-MODERN FAMILY

Por causa do título e do poster, achei que "Friends with Kids" seria uma comédia moderninha sobre a dor e a delícia de ser pai nos dias de hoje. Aí o filme chegou no Brasil e ganhou um título que meio que já entrega tudo: "Solteiros com Filhos". Porque os tais amigos do título original na verdade são um casal de solteiros que resolve ter um filho sem passar pela chateação que é o casamento. Assim cada um pode continuar namorando à vontade, enquanto o bebê fica aos cuidados de uma baby-sitter. Claro que o plano dá errado, porque os dois se apai... ah, vai dizer que você ainda não tinha sacado que era isto o que ia acontecer? Pois é: "Solteiros com Filhos" até que deslancha bem, arriscando uma discussão bem-humorada sobre os diversos modelos de família. Mas a partir de um certo ponto fica evidente que a diretora, roteirista e atriz principal Jennifer Westfeldt só acredita num desses modelos: o mais tradicional possível. Ela parece uma versão genérica da Lisa Kudrow e tem bochechas tão patentemente falsas que é difícil crer que fisgou Jon Hamm, um dos maiores bonitões de Hollywood no momento. "Solteiros..." tem um ótimo elenco, algumas boas tiradas e só. Qualquer episódio de sitcom é mais vanguardinha.

SEM DESESPERO NO FINAL

Estou triste com a notícia da morte de Kathryn Joosten, mas muito impressionado com sua coragem. A sra. McCluskey de "Desperate Housewives" deixou que seu câncer terminal fosse incorporado à trama da série e apareceu em cena tão frágil quanto estava na vida real. Foi um ato final de bravura na vida de uma mulher que teve o culhão de largar a carreira de enfermeira aos 40 anos de idade para estudar teatro. Kathryn ganhou dois Emmys com sua personagem no programa, que teve seu último episódio exibido ontem no Brasil - por coincidência, dois dias depois da morte da atriz. Foi estranho vê-la morrer no vídeo da mesma doença que a levou alguns meses depois das filmagens. Também foi comovente e admirável. Quero ser assim quando eu crescer.

domingo, 3 de junho de 2012

NEVE SUJA DE SANGUE

"Branca de Neve" é o mais poderoso dos contos de fadas, repleto de significados e interpretações. A Rainha Má pode ser a própria mãe da princesa, invejosa da beleza da filha - só é chamada de madrasta na história para aliviar um pouco a barra. O sono profundo é a passagem da infância para a idade adulta; o espelho mágico, o subconsciente, e assim por diante. Nos últimos tempos o conto ganhou um viés feminista, que discute se uma mulher precisa mesmo ser bonita para vencer na vida. Não, não precisa: estão aí Dilma, Hillary, Angela e milhões de outras, mas mesmo assim a discussão continua. "Branca de Neve" virou um leit-motiv da cultura americana em 2012, com a série "Once Upon a Time" e dois longa-metragens (aliás, aqui no Brasil também, na novela "Avenida Brasil"). O primeiro, "Espelho, Espelho Meu", estreou há dois meses e era uma farsa colorida e desencanada. O segundo é "Branca de Neve e o Caçador", que se leva tão a sério que parece reconstituição histórica. O filme acerta quando resgata os aspectos de terror da história original: o medo atávico de toda criança de ser abandonada pelos pais. O primeiro terço segue bem de perto a narrativa dos irmãos Grimm, e a floresta, que já era apavorante no desenho de Walt Disney, agora está de se sair correndo do cinema aos gritos. Mas depois o ritmo ralenta. Há um interlúdio completamente desnecessário numa aldeia à beira de um rio, e depois num lugar tão maravilhosamente mágico que parece o planeta de "Avatar" pintado de verde. Os sete anões finalmente aparecem, interpetados por grandes atores ingleses não-anões. Bob Hoskins está especialmente bem como o líder cego do bando. Aí a coisa descamba para cenas de batalhas feitas unicamente para entreter o público masculino. Os mesmos produtores empregaram esta estratégia no "Alice no País das Maravilhas" de dois anos atrás, que terminava com a heroína lutando contra o Jabberwocky - algo inimaginável nos livros de Lewis Carroll. Pelo menos os efeitos especiais e a direção de arte são de encher os olhos, assim como a Charlize Theron. A interpretação dela está a um fio do "camp" irrestrito. Já a Kristen Stewart, sempre sonâmbula na série "Crepúsculo", não compromete. Vexame total é o de Chris Hemsworth, o "Thor", que passa com louvor no teste que melhor captura um mau ator: ele não convence nem quando fica quieto e parado olhando para a câmera. De resto, parece que agora é lei: todo filme que tem uma mocinha precisa de dois marmanjos disputando a mão da mocoronga.

sábado, 2 de junho de 2012

ASSIM ESTAVA ESCRITO

Precisamos estar mais preparados para enfrentar nossos inimigos. Cada vez que um pastor ensandecido atacar os homossexuais porque se sente autorizado pela Bíblia, devemos lembrá-lo - com todo o jeitinho, claro - que ele mesmo transgride tanto o Livro Sagrado que já deve ter seu lugarzinho garantido no inferno. O Antigo Testamento proíbe o consumo de carne suína e crustáceos, o uso de roupas que misturem lã e linho e até mesmo as tatuagens. Também recomenda o apedrejamento das mulheres que não se casem virgens e permite que um homem venda os filhos como escravos. Tudo isto é solenemente ignorado pelos que se dizem fundamentalistas, pois o fato é que absolutamente ninguém consegue viver à risca tudo o que a Bíblia prega. É repleta de contradições e regras ultrapassadas, porque grande parte dela foi concebida como um manual de sobrevivência na Judeia de três mil anos atrás. Por isto, recomendo a todas as bichas de boa vontade a leitura da revista "Superinteressante" deste mês, que aponta vários absurdos dos textos bíblicos. Claro que devemos respeitar a religião de quem quer que seja, e também termos a nossa (ou a falta de) religião respeitada. Mas se os evangélicos querem cobrar coerência e obediência cega ao que diz a Bíblia, que comecem por si mesmos. Não vão conseguir.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

ELA NÃO É EU

Pediram para eu comentar o assunto, e quem sou eu para recusar? Madonna estreou sua nova turnê ontem à noite em Tel-Aviv, e nem mesmo sua aparição no telão com bigodinho de Hitler gerou tantos comentários quando o mash-up de "Express Yourself" com "Born This Way". Madge já apoiou muito Lady Gaga no passado e as duas chegaram a gravar juntas um quadro para o "Saturday Night Live". Mas a coisa mudou de tom quando a Germanotta lançou no ano passado a canção que dá nome a seu último CD: o mundo inteiro perebeu na hora a semelhança com o antigo sucesso madonnístico. A Ciccone não deixou barato numa entrevista a Barbara Walters, mas disse que era uma "maneira inteligente" de reciclar uma música. Para mim, a inclusão de "Born This Way" no novo show é bem dúbia. Por um lado, é óbvio que Madonna gosta da "homenagem", caso contrário não a cantaria no palco - e menos ainda reproduziria a coreografia original. Por outro, ela termina citando "She's Not Me", do disco "Hard Candy". Só mesmo ela para primeiro assoprar e depois morder. É assim que a gente gosta.

LANTERNA ROSA

Já não tenho muita paciência para super-heróis. Fico ainda mais irritado com os truques que as editoras inventam para vender mais gibis. Matam o Batman, ressuscitam o Batman, criam um Batman alternativo num universo paralelo... (bocejo). Mas não posse deixar de achar legal que tanto a Marvel quanto a DC estejam lançando heróis gays simultaneamente, apesar de usarem malandragens como as que eu acabei de citar. A DC tirou do armário o antigo Lanterna Verde, que hoje vive na Terra 2. O personagem já é do segundo escalão da companhia e teve um filme flopado ano passado; "cor-de-rosear" sua versão 1.0, que vive em outra realidade, não me parece a coisa mais corajosa do mundo, mas whatever. A Marvel também não teve enormes culhões: seu homo é um dos milhares de X-Men, não o Hulk ou o Capitão América. Mas não vou reclamar muito, não. É mais do que saudável que a garotada tenha em quem se espelhar nos quadrinhos. E quando é que vão criar um paladino com super-poderes gays? Como a mega-capacidade de combinar a cor da meia com a estampa da camiseta, ou de adquirir uma aparência assustadora graças a um milk-shake mágico. Peraí, isso já existe.

(deslize a barra lateral na imagem acima para ler as quatro primeiras páginas da revista que faz o "outing" do Lanterna Verde)