quinta-feira, 31 de maio de 2012

DÁ UMA GOOGLADA AÍ

O vídeo já está no ar há dois dias e muita gente já viu, mas eu não posso deixar de registrar aqui no meu blog essa iniciativa fantástica dos funcionários do Google Brasil. Este é o caminho certo: mostrar que a causa do casamento civil igualitário também é apoiada por héteros. Temos amigos, parentes, conhecidos, muita gente que gosta da gente. Também tem muita gente que nem nos cohece, mas que tem a cabeça e o coração no lugar certo. Agora é torcer que outras empresas façam vídeos parecidos e que este movimento fique parecido com o "It Gets Better". E por falar em empresas, como é que a Parada Gay de São Paulo - nada menos que o 2o. evento que mais traz faturamento para a cidade - está com cada vez menos patrocinadores? Como diz minha amiga Val, hellooo!

quarta-feira, 30 de maio de 2012

REGINA MUNDI

Ainda sobrevivem algumas dezenas de monarquias ao redor do mundo, mas só existe uma rainha que todo mundo conhece. Elizabeth II é o único household name do Gotha, o catálogo da nobreza europeia. É "a" rainha; praticamente a única rainha do planeta. O rei Juan Carlos da Espanha vem lááá atrás no quesito familiaridade, e quem sabe dizer de cabeça o nome do Grão-Duque de Luxemburgo? Mas acredito que Lilibeth não deva sua fama apenas ao fato da Inglaterra (é um saco ficar falando "Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte" nessas horas) ser mais importante do que quase todas as outras monarquias juntas. Para mim, grande parte do sucesso da rainha se deve ao seu aspecto de mulher comum. Hoje em dia ela assumiu uma aura de sábia veneranda, e quando mais nova era uma princesinha espevitada. Mas, em suas fotos na meia-idade, parece uma dona-de-casa que venceu um concurso de "Rainha por um Dia" num programa de TV. Até Margaret Thatcher, de origem ultra-plebeia, tinha um ar mais aristocrático. O outro fator que contribuiu para a popularidade duradoura de Elizabeth R. é sua discrição. Tão absoluta que não sabemos quase nada sobre suas preferências pessoais - só que ela gosta de cães da raça corgi. Esta semana H.R.M. completa 60 anos de reinado e daqui a uns quatro terá ultrapassado sua tataravó Vitória como a que ficou mais tempo no trono. Mas seu estilo low profile não deixará descendentes. Camilla não será coroada, e Kate projeta um glamour que as cara-de-cavalo da Casa de Windsor jamais tiveram. Claro que ainda resta uma dúvida crucial: será que a Coroa britânica sobrevive a Elizabeth II?

SERÁ SÓ IMAGINAÇÃO?

Eu já era razoavelmente grandinho quando a Legião Urbana surgiu, na segunda metade dos anos 80. Nem por isto escapei ao impacto da banda: acho que "Dois" disputa com "Cabeça Dinossauro", dos Titãs, o título de melhor disco de rock brasileiro de todos os tempos. Depois comecei a achar as letras do Renato Russo muito universitárias demais, falando da vida de quem ainda morava com papi e mami, e fui ouvir outras coisas. Aí o sujeito morreu e virou um santo ainda maior do que Raul Seixas. E sua música acabou se transformando na trilha sonora oficial de quem é adolescente no Brasil, como eu digo na minha coluna de hoje no F5. Por isto, foi com muita curiosidade que fui ver o show que os remascentes da Legião fizeram ontem em São Paulo, com Wagner Moura nos vocais. Não sou fã xiita para achar que a ideia é sacrílega, como muito se debateu nas redes sociais. O debate continuou feroz entre as pessoas que viram o show de casa, como conta a Nina Lemos. Mas lá no Espaço das Américas rolou uma unanimidade. Wagner foi imperfeito porém sensacional e saiu do palco sob os gritos de "Capitão! Capitão!". Foi um delírio tão grande que, como diria Carrie Bradshaw, I couldn't help but wonder: quantos desses garotos se esgoelando na plateia não são homofóbicos? Será que eles lembram que Renato Russo era gay?

terça-feira, 29 de maio de 2012

HUBRIS

Uma hora dessas ia acontecer. Inebriado pela própria biografia, contaminado pelo próprio charme e veneno, Lula finalmente abusou. Fez mais do que podia. É óbvio que não dá para saber exatamente o que foi que ele conversou com Gilmar Mendes. Mas, tirando os petistas mais fanáticos, alguém duvida que ele tenha feito propostas indecentes e ameaças veladas ao ministro do STF? Claro que fez. Lula acha que pode tudo. Acontece que Gilmar não é flor que se cheire e calculou que teria mais a ganhar politicamente se denunciasse o ex-presidente do que se aceitasse a suave chantagem. Agora Lula anda por aí se dizendo "indignado", despertando tanta compaixão quando Demóstenes Torres - que se "afastou dos amigos", tadinho, pelo menos daqueles que o presenteavam com eletrodomésticos importados. Demorou, mas por fim Lula está provando da própria hubris. Esta linda palavrinha grega define a arrogância daqueles que se acham mais do que são, mesmo quando já são muito. Os deuses castigam.

EIS QUE SURGE UMA BELDADE

O comercial com o travesti da cerveja Nova Schin me fez pensar. Se não fosse pela reclamação da ABGLT, ele provavelmente teria passado batido por mim. Não é especialmente engraçado nem maravilhosamente criativo. Tampouco, à primeira vista me pareceu ofensivo. Mas a mais importante ONG de defesa dos direitos igualitários do Brasil reclamou, então revi com mais atenção. E aí caiu uma ficha: travestis são os dalit do Brasil. Os intocáveis. Toque em um deles, e contamine-se. Homens héteros que confundem travecos com mulheres têm menos neurônios do que estas. Homens que gostam de travecos, então, vade retro: são a escória da escória, ainda mais baixo na cadeia alimentar do que o objeto de seus desejos. Acontece que somos nós mesmos que empurramos os travestis para a marginalidade. Para a prostituição. E depois reclamamos porque se prostituem. O comercial foi denunciado ao CONAR, que não costuma ser muito rígido nesses casos. O órgão pode até decidir que se trata de uma peça publicitária que promove a integração: afinal, no fim a trava está tomando breja junto com os rapazes na mesma mesa, não apanhando deles. E não é o sonho de todo T ser confundido com uma mulher de verdade? Mas por que então jogamos tanta pedra nos T-Lovers? Não sei. Preciso pensar mais. Como dizia aquele personagem de “Quanto Mais Quente Melhor” ao descobrir que a linda corista que está paquerando na verdade é o Jack Lemmon: “Well, nobody’s prefect”.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

A CHAVELA DO FUTURO

Nunca prestei muita atenção na Mart'nália. Ela me parecia uma versão mais jovem e mais sapatona de seu pai, Martinho da Vila, cujo estilo de cantar me dá um pouco nos nervos. Mas aí o novo CD da moça, "Não Tente Compreender", saiu embalado por ótimas críticas, e eu fiquei curioso. Comprei sem ouvir - faço isto sempre - e agora estou dividido. Mart'nália se afastou do samba de raiz e mergulhou no mais fino pop emepebístico, gravando compositores como Paulinho Moska, Nando Reis, Djavan (que também produziu o disco), Marisa Monte e Adriana Calcanhoto. É desta, inclusive, a ótima "Vai Saber", feita para Mart'nália mas surrupiada anteriormente por Marisa, que a incluiu em seu álbum "Universo ao Meu Redor". Os arranjos de "Não Tente Compreender" também são excelentes, e até o projeto gráfico da capa me agradou. Mas tem uma coisa que me incomoda: a voz da cantora. Mart'nália provavelmente jamais teria feito carreira se não fosse filha de quem é. É afinada, tem um timbre imediatamente reconhecível, mas não é exatamente agradável de se ouvir - pelo menos, não para os meus ouvidos. Talvez o tempo lhe faça bem. Com mais quilometragem e mais desilusões, pode ser que daqui a alguns anos ela se torne a nossa Chavela Vargas. Mas, por enquanto, soa quase sempre como se estivesse de pilequinho no karaokê de um bar só para mulheres.

(ouça aqui um pouco das canções de "Não Tente Compreender", assim como algumas das versões originais)

DELICADAMENTE ENGRAÇADO

Sabe qual é o gênero cinematográfico mais difícil de ser bem feito? Não é o terror: bastam uns barulhos estranhos, uma porta batendo, e o espectador já está sugestionado. Na ficção científica, não há efeito especial de um bilhão de dólares que não dê jeito. Não, o mais árduo de todos os estilos é a comédia romântica. Porque ela depende apenas de duas coisas: bons atores e, principalmente, bom roteiro. Quando se acerta a receita, o resultado costuma entrar, se não para a história do cinema, pelo menos para a memória afetiva do espectador. É o caso de "Harry e Sally", talvez a Capela Sistina das "rom-com". Mas quando se erra, sai de baixo. E os americanos vêm errando sem parar, com premissas absurdas (10 dias para perder um namorado! Fantasmas que se amam!) e distantes do dia-a-dia. Porque um dos segredos é este: pouca gente já foi à guerra ou ao espaço sideral, mas todo mundo namora. Então a trama tem que ser crível. Parece simples, mas fazia anos que eu não via uma comédia romântica realmente boa. Este jejum terminou ontem: "A Delicadeza do Amor" consegue ser engraçada e enternecedora. Não quero contar detalhes da história, porque acontecem algumas surpresinhas: quem parece ser um personagem importante de repente sai de cena e um coadjuvante vira protagonista, mas claro que o final feliz é inevitável. Audrey Tautou está muito bem, e é sacanagem continuarem dizendo que ela só sabe fazer variações de "Amélie". Tem também um ator lindo de morrer que eu não conhecia, Pio Marmaï, e músicas de uma cantora francesa que eu adoro, Émilie Simon. "A Delicadeza..." não vai entrar para a história, mas já entrou na minha lista dos melhores do ano.

domingo, 27 de maio de 2012

CHIQUE COM ARTE E O MTV-4

Sabe por que o Marcelo Adnet ainda não se mandou da MTV? Porque em nenhuma outra emissora ele teria a liberdade que tem lá. Em absolutamente nenhum outro lugar ele e a turma do "Comédia MTV" poderiam ter feito o clipe "Indiretas Já", com suas referências à situação da televisão e da política no Brasil. Algumas são óbvias, outras tão obscuras que caem no nível de piada interna. Posso explicar algumas: "liberta a raposa do cabo", por exemplo, é sobre a dificuldade do canal Fox Sports de entrar nos pacotes de TV paga. "Cenoura no angu do Gomes": os mais jovens não vão ter a puta ideia, mas é uma menção ao boato que quase destruiu a carreira do ator Mário Gomes nos anos 70, que teria dado entrada num pronto-socorro com uma cenoura entalada no rabo (boato mesmo, pois o cara é hétero). E "André deu perda total" pode ser uma cutucada em André Mantovani, ex-diretor da TV Abril que deu com os burros n'água com os canais Exame e Fiz TV. No mais, sobram farpas para Marcos Mion, Rafinha Bastos, Danilo Gentili, Boris Casoy, Daniela Albuquerque, Galvão Bueno, Amaury Jr., Sérgio Cabral e até para eles mesmos. A direção e edição, que conseguiu inseri-los num festival da Record,são dignas do "Saturday Night Live" - o americano. Já é um dos melhores momentos da TV brasileira em 2012.

(O quadro passou no "Comédia MTV" de quinta passada, mas só fiquei sabendo hoje, graças ao blog do Mauricio Stycer)

O AMOR NOS TEMPOS DO SMARTPHONE

Os mais velhos hão de lembrar como era a vida antes da internet. Não havia chat erótico, site de sacanagem, nada disto. A pegação online mudou a vida gay no mundo inteiro. Onde antes as bibas se arriscavam em becos e matinhos, hoje se conectam a partir do conforto de seus lares. Depois uma nova onda revolucionou ainda mais o acasalamento homossexual: a chegada dos smartphones. Agora tem neguinho que vive pendurado no Grind'r o dia inteiro, onde sempre tem uns dez mais gostosos do que aquele que já está ali bem à frente.Quem nunca: a) depois de trepar com um cara, viu que ele já estava caçando de novo antes mesmo de você ir embora; b) teve uma "date" interrompida porque o cara recebeu uma mensagem oferecendo coisa melhor; c) deu um número falso para se livrar de um chato? Tudo isto acontece no prmeiro episódio de "The Outs", uma nova série feita para a internet em esquema de "crowdfunding". O roteirista e diretor Adam Glfdman também faz um dos papéis principais, o "Mitch". Serão seis episódios ao todo, dos quais dois já estão prontos. No segundo os personagens principais dependem menos da web para se encontrarem, mas não largam seus smartphones nem para ir ao banheiro. E o que é Tommy Heleringer, o moreno de olhos grandes que faz o "Scruffy"? I die. Então, se você entende inglês e tem meia horinha sobrando neste domingo, não perca "The Outs". Mais uma coisa boa para a vida gay que só a internet seria capaz de nos proporcionar.

sábado, 26 de maio de 2012

DESEUPHORIA

A vida perdeu todo o sentido. As Vovós de Buranovo foram derrotadas em Baku. Por pouco, é verdade: ficaram em segundo lugar no Eurovision 2012, na frente de 40 outros países. Mas atrás da Suécia, e por mais de 100 pontos. A grande campeã foi "Euphoria", que já era a favorita das bolsas de apostas e agora garantiu para Estocolmo a realização do festival do ano que vem. É uma musiquinha digna de Britney Spears e com performance que lembra o teatro kabuki. Nada que se compare ao desempenho memorável das Babushki: quem mais seria capaz de assar uma fornada de biscoitos em pleno palco?

sexta-feira, 25 de maio de 2012

OUTRAS PRIORIDADES

A grande notícia de ontem foi a aprovação do projeto da união estável para gays pela Comissão de Direitos Humanos do Senado. E eu não resisti a dar uma espiada nos comentários da notícia nos portais, onde duas coisas me chamaram a atenção. A primeira, surpreendentemente, era que a grande maioria aplaudia a medida. A segunda era que os poucos reacionários que se manifestavam contra usavam um argumento antediluviano. Ninguém apelava para a Bíblia ou para a “lei de Deus”. Tampouco usavam a desculpinha da moda, a liberdade de expressão. Simplesmente criticavam as prioridades dos parlamentares: afinal, o Brasil tem problemas muito mais urgentes, como a corrupção, a carestia e a seca no Nordeste. Difícil entender o que a Comissão de Direitos Humanos pode fazer pela seca, mas é fácil perceber o que está por trás dessa imbecilidade: uma incompreensão total do que seja democracia. Afinal, homossexuais são minoria, então porque perder tempo com eles? Essa gentalha nem desconfia que a democracia não é a ditadura da maioria. Este tipo de raciocínio foi usado por décadas, inclusive pela esquerda: o que são duas bichas que querem andar de mãos dadas quando a revolução social se faz premente? Só que esse papo não cola mais. Igualdade é para todos, ou não é igualdade. Pois é, os argumentos estão acabando. Está cada vez mais difícil ser homofóbico.

O NÃO-BOBO DA CORTE

Paulo Francis se envolveu em muitas polêmicas enquanto vivo, mas virou uma espécie de unanimidade depois que morreu. Tá assim de nego reclamando que faz falta alguém como ele na imprensa brasileira; outros tantos dizem que gostariam de possuir a mesma verve e a mesma erudição que ele destilava em suas colunas. Francis escrevia no jornal como se fosse num blog, muito antes da blogosfera ser inventada. Seus textos não tinham formato rígido: começavam por um assunto e desembocavam em dez outros. E sua ausência de papas na língua atraía reclamações de todos os lados. Os burraldos não percebiam que Francis era um sujeito complexo, com opiniões elásticas, e cobravam de suas posições uma coerência que ninguém tem na vida real. Quem o conheceu em pessoa diz que era uma flor. Quem nunca o leu precisa mergulhar em "Diário da Corte", livro que reúne o melhor do que ele escreveu para a "Folha de São Paulo" (de onde saiu amargurado em 1990, rumo ao "Estado"). Hoje Paulo Francis é reverenciado, mas adoraria ver como ele se comportaria nestes tempos de internet, com hordas de semi-letrados comentando com arrogância qualquer textinho publicado online. Com certeza ele se divertiria muito.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

*THERE IS NO MONEY BACK

Formidável este infomercial fake do novo disco dos Scissor Sisters, "Magic Hour". O garoto-propaganda é Josh Homme, da banda heavy metal Queens of the Stone Age - os antípodas sonoros dos "Sitters", como ele mesmo diz. Ligue djá.

A CHUVA CAI, A RUA INUNDA

Ô meu blog, vou comer seu bolo.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

TORTURA CHINESA

Zhang Yimou virou o cineasta oficial do Partido Comunista Chinês. Ele surgiu o começo dos anos 90 com obras que poderiam ser consideradas levemente subversivas, como "Ju Dou" ou "Lanternas Vermelhas". Eram dramas de época mas que questionavam o status quo; alguns mais afoitos interpretaram estes filmes como críticas veladas ao PC. Mas aí veio o massacre da Praça da Paz Celestial em 1989, e vai ver que Zhang (em chinês o sobrenome costuma vir na frente) achou melhor não bancar mais o saliente. Seus filmes continuam sendo quase todos de época, mas ou são anódinos, ou potenciais peças de propaganda do governo. A mensagem de "Herói" era que a centralziação do poder é sinônimo de paz e progresso. A do novo "Flores do Oriente", que estreia no Brasil neste final de semana, é o espírito altruísta do povo - com uma ajudinha dos amigos americanos, com quem a China vive uma relação de dependência e desconfiança mútuas. "Flores" mostra os horrores do chamado "Estupro de Nanquim", um dos episódios mais trágicos da ocupação do país pelos japoneses nas vésperas da 2a. Guerra Mundial. Christian Bale faz um papa-defunto ocidental que vai a um colégio católico na antiga capital chinesa para enterrar um padre e acaba se tornando o protetor do lugar, tanto das meninas internas quando de um grupo de prostitutas em fuga. Zhang Yimou abusa da câmera lenta muito mais do que o recomendável para um diretor de sua reputação, e Bale está ainda mais canastrão do que quando interpreta o Batman. Mas há muitas cenas realmente angustiantes, e eu fiquei no dilema. Estou gostando dessa aulinha de história, ou não vejo a hora da tortura acabar?

CÊ JURA?

Saiu no "New York Times" de hoje, numa longa crítica da peça "Harvey", em cartaz na Broadway e estrelada por Jim Parsons: "...Mr. Parsons é gay e está num relacionamento há 10 anos...", assim, totalmente en passant. Não que tenha sido surpresa para alguém: o tablóide sensacionalista "National Enquirer" já havia publicado fotos do 'Sheldon' com o namorado há quase dois anos, e jamais foi desmentido. Mas quando a coisa sai no "NYT" é porque é oficial. Bazinga.

MOULIN ROUGE 2

"O Grande Gatsby", de F. Scott Fitzgerald, foi o primeiro livro adulto que eu li na vida, aos 13 anos de idade. Eu queria estar "preparado" quando estreasse a versão para o cinema, estrelada por Robert Redford e Mia Farrow. Mas me decepcionei: apesar da beleza dos cenários e figurinos, o filme era uma belíssima bosta. E agora temo que destino parecido esteja reservado para o remake, que estreia lá fora no final deste ano. A direção é de Baz Luhrmann e dá para perceber que ele quis fazer uma espécie de "Moulin Rouge 2 - A Vingança". Acontece que "Moulin Rouge" era uma fantasia alucinada, não um dos maiores clássicos da literatura americana. Acho muito estranho ver essas imagens dos roaring twenties ao som de musiquinhas contemporâneas. E o Leonardo Di Caprio até que parece um bom sucessor para Redford, mas só até abrir a boca. Ele não vai convencer como adulto enquanto tiver aquela vozinha de criança. Mas é claro que todas essas ressalvas não me impedirão de ir ao cinema, além do mais porque o novo "Gatsby" é em 3D. E qualquer filme ocidental que tenha um astro de Bollywood no elenco (neste caso, o veterano Amitabh Bachchan) já me deixa meio assanhado.

terça-feira, 22 de maio de 2012

ESTICA E PUXA

Não vi a entrevista que Xuxa deu para o "Fantástico", mas li muito a respeito dela nos últimos dias. Renato Kramer, meu colega no F5, acha que a apresentadora foi corajosa em se expor desse jeito. Minha ex-colega Nina Lemos, agora no "Estadão", diz que o programa foi sensacionalista e vulgar. E a Marta Matui basicamente destrói toda a obra xuxiana em seu blog. Concordo com todos eles: a "arte" de Xuxa jamais me convenceu, a entrevista foi apelativa, sim, e acho que a moça não só foi corajosa, como acabou prestando um grande serviço a todos nós. Hoje em dia é até comum que uma celebridade venha a público dizer que foi abusada sexualmente quando pequena, mas o caso Meneghel me fez pensar que este tipo de crime talvez seja muitíssimo mais frequente do que se imagina. Xuxa foi molestada por três homens diferentes, todos próximos à sua família. Era uma garota grandalhona e bonita: parecia "pronta". Quantos milhões de casos iguais não existem por aí? Estica de um lado, puxa do outro, e a minha conclusão é que este é só mais um efeito perverso da sociedade machista em que vivemos. A opressão às mulheres, a perseguição aos gays, o abuso das crianças: são todas faces de uma mesma moeda, multidimensional e cruel. Parece que vigora um pacto de silêncio, uma espécie de omertà, para que pais e tios escapem incólumes. Xuxa não aguentou mais e quebrou o pacto, mesmo com quase 40 anos de atraso. Mesmo às custas, como já comentam por aí, de ter estragado a própria vida amorosa. Por tudo isto, acho que ela merece apoio e aplauso. E tomara que ainda mais gente agora tenha coragem de desabafar. É a turma da Xuxa que vem dar o seu alô.

BAKU QUE BRILHA

Bora pra Baku? A aprazível capital do Azerbaijão é o epicentro do universo esta semana, porque está sediando a edição 2012 do festival Eurovision. Este pequeno país do Cáucaso (e antiga república soviética) parece lindíssimo no vídeo acima, mas a realidade é bem mais dura. Invejoso da atenção que seu pequeno vizinho está atraindo, o Irã o acusou de estar promovendo nada menos do que uma parada gay - o que não deixa de ser verdade, já que o Eurovision é um desfile de bibas cantando em línguas. Mas as autoridades azeris correram para dizer que não, de jeito maneira, e que qualquer viadice explícita será punida como manda o Alcorão. Que se cuidem então os candidatos da Turquia e de Malta, que, segundo as boas línguas, estariam fazendo par constante. Teriam se contagiado pelo significado do nome do país-sede, a "terra do fogo"? Enquanto isto, folgo em dizer que a semifinal desta terça já terminou e que as Vovós de Buranovo se classificaram para a finalíssima deste sábado. Go, babushki!

segunda-feira, 21 de maio de 2012

TRAVESTILDA

Olha que loosho essa drag! Ahazeaux, n'est-ce pas? E adivinha quem é a celebridade que se esconde debaixo dessa peruca de lava e desse modelito confeccionado no planeta Mongo? Ninguém menos que a divina Tilda Swinton, na capa da última edição da revista "Candy" - talvez a única publicação do planeta dedicada a travestis, transexuais e "à persona que você sempre quis ser". James Franco também já posou para suas páginas, e ficou belíssima. Agora, não é engraçado que quando a Tilda se travista, ela se monte de MULHERRR? Eike bagunça!

WHAT IS A WEEKEND?

A badalada série "Downton Abbey" estreou quase em segredo no Brasil, por um canal a cabo que pouca gente tem: o Globosat HD. Mas vale a pena assinar o pacote mais caro da NET, ou pelo menos fuçar a internet em busca das duas temporadas já exibidas lá fora. "Downton Abbey" é um primor em todos os sentidos, da trama folhetinesca à direção de arte suntuosa. E a cereja deste bolo inglês é Maggie Smith, como a deliciosamente esnobe Condessa Pensionista. Uma mulher tão aristocrática que desconhece até mesmo a existência do fim de semana - e por que deveria conhecer, se nunca trabalhou um dia na vida?

(Mais sobre "Downton Abbey" aqui, na minha coluna de hoje no F5)

domingo, 20 de maio de 2012

SARAH, A DOENÇA

Finalmente o telefilme "Virada de Jogo" estreou na HBO brasileira, mais de dois meses depois de sua exibição nos Estados Unidos. É tudo o que eu esperava: a campanha presidencial de John McCain é reconstituída nos mínimos detalhes, e Julianne Moore está mesmo fantástica como Sarah Palin. Ela pode ir limpando a prateleira para os prêmios que inevitavelmente irá ganhar. Não há muita coisa no filme que uma pessoa bem informada já não saiba, mas claro que é fascinante ver os bastidores do processo que levou Palin ao estrelato global. O filme nem tenta ser imparcial, porque não dá para fingir que a ex-governadora do Alaska estava preparada para ser vice-presidente. Não só sua ignorância é doentia, como também sua cara-de-pau, arrogância e vaidade. Como se sabe, sua indicação não serviu para virar jogo nenhum, muito pelo contrário - sua presença na chapa republicana ajudou a eleger Obama. Mas de certa forma ela saiu vitoriosa, pois viu sua influência crescer (e também sua fortuna, graças ao pequeno império midiático que construiu). O vírus Palin contagiou as eleições americanas de dois anos atrás, repletas de candidatos bonitinhos, extremistas e gloriosmente estúpidos. Este gênero de cinema político é uma especialidade gringa que eu adoraria que fosse importada pelo Brasil. Mas como querer que nossos cineastas desvendem os corredores do poder, se dependem diretamente das verbas do governo?

("Virada no Jogo" ainda será exibido muitas vezes pela HBO nos próximos dias: confira aqui os horários)

sábado, 19 de maio de 2012

GRETA

Minha casa está virando a proverbial Arca de Noé. Depois do Pisco e do Cauxi, agora é a vez da Greta se juntar à minha fauna doméstica, ainda que só por um tempo. Ela é uma mistura de cocker com podle e pertence a uma das minhas irmãs, que deixou a cachorra conosco enquanto goza merecidas férias no sul da Bahia. É para garantir a integridade física da bichinha: em sua residência oficial, Greta vive um drama digno das melhores favelas, junto com um pitbull e com a filha que tiveram juntos. Acontece que a filha acha que o pai é seu macho e morre de ciúmes da mãe, que já foi parar no veterinário por causa de ferimentos provocados pela mal-agradecida. Na ausência da dona, é melhor ela se afastar por uns dias. Minha irmã garantiu se tratar de uma lady incapaz de emitir sons, mas nas primeiras noites Greta uivou, cantou e, por duas vezes, gritou como se estivessem lhe enfiando uma faca no coração. Corri para acudir, mas a boba só estava extravasando o medo que sente das garras do Cauxi. O stress já passou e Greta se acostumou à rotina de luxo, calma e volúpia que vigora na minha casa. E adorou tomar banho na pet shop: voltou de lá relaxada e radiante, como quem volta de uma temporada num spa.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

MOTIVO

Eu canto porque o instante existe

e a minha vida está completa.

Não sou alegre nem sou triste:

sou dono deste prato.




Irmão das coisas fugidias,

não sinto gozo nem tormento.

Atravesso noites e dias

olhando para este prato.




Se desmorono ou se edifico,

se permaneço ou me desfaço,

- não sei, não sei. Não sei se fico

mas fico com o prato.




Sei que canto. E a canção é tudo.

Tem sangue eterno a asa ritmada.

E um dia sei que estarei mudo:

— já estou com o prato.


(com agradecimentos a Cecília Meirelles e a Marta Matui, que voltou de Londres e tapou o buraco em forma de prato que havia em minha vida)

quinta-feira, 17 de maio de 2012

LAST DANCE

A morte da Donna Summer mexeu mais comigo do que as de Michael Jackson, Amy Winehouse e Whitney Houston juntas. Donna foi a cantora que mais marcou a minha adolescência, vivida em plena era da disco music. "A Love Trilogy" foi o primeiro LP dance que eu comprei na minha vida, meio relutante - naquela época o rock era considerado um gênero superior (e ainda é, porque a imprensa especializada é dominada por brancos de cintura dura). Comecei meu mais importante namoro hétero ao som de "MacArthur Park". Em suma, a trilha sonora desses anos dourados foi feita por LaDonna Gaines, seu nome de batismo - o Summer era a anglicização do nome de seu primeiro marido, um certo herr Sommer. Donna era americana mas despontou para a fama na Europa, para onde foi com uma trupe do "Hair". Deu a sorte de estar no lugar certo na hora certa: apesar da voz excepcional, quem fez toda a diferença na sua carreira foi o produtor alemão Giorgio Moroder. A parceria de ambos rendeu um dos melhores catálogos de hits de todos os tempos, da provocante "Love to Love You Baby" à obra-prima que é o álbum duplo "Bad Girls". A dupla rompeu no começo dos anos 80 e nunca mais nenhum dos dois repetiu o mesmo sucesso. Agora que ela morreu, está mais do que na hora deles assumirem seu devido lugar na história da música pop. Foram os inventores das faixas longas para as pistas de dança, que até então duravam pouco mais de três minutos. Também trouxeram as eletronices à la Krafterk para o mundo real, com a revolucionária e influente "I Feel Love": nada menos do que o efeito da luz estroboscópica transformado em som. Donna vinha de uma família religiosa (cantava em coro de igreja quando pequena, como quase toda cantora negra) e se reconverteu depois que passou sua fase de maior celebridade. Aí cometeu uma gafe inacreditável, ao dizer que os homossexuais mereciam o fogo do inferno: como é que uma diva se volta contra seus próprios súditos? Teve discos queimados em praça pública e passou o resto da vida explicando que não era bem isto o que tinha dito. Acabou sendo perdoada, pois sua música é realmente fantástica. Esteve no Brasil algumas vezes e eu fui burro o suficiente para não vê-la. Mas para mim não tem essa de last dance: vou continuar ouvindo Donna Summer para sempre.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

IT'S RAINING MEN

Hallellujah!

MEIA BALA

Drogas são sempre um assunto capcioso para um cineasta. Mostre como elas dão prazer e seja acusado de estar fazendo apologia. Mostre os usuários passando mal ou os traficantes indo em cana e seja xingado de moralista. O diretor Marcos Prado faz tudo isto em "Paraísos Artificiais", seu primeiro longa de ficção, mas até que consegue escapar ileso. Porque o drama que ele tece ao redor do consumo de ecstasy e outras drogas até que independe delas. Seus personagens são jovens que se meteriam em encrencas mesmo se fossem caretas, porque é para isto que serve a juventude. Apesar do visual moderninho, o roteiro tem algo de melodrama e não precisava contar a história em três tempos simultâneos. Às vezes é difícil entender o que aconteceu antes do quê; uma estrutura mais linear teria ajudado. Há também um barrigão lá pelo meio, quando já está ficando claro o desenlace da trama. Mas há muitas qualidades, que compensam a ida ao cinema. Os três atores principais estão muito bem. Nathalia Dill surge mais bonita do que na novela, e com uns peitões de fora que me fizeram repensar meu estilo de vida. Que, entretanto, foi logo validado pelo totoso do Luca Bianchi, uma versão remix do Fábio Jr. E como é que a ótima Lívia de Bueno ainda não estourou na TV? Fotografia e direção de arte são competentes; edição e trilha sonora, melhores ainda. E fazem um bom trabalho nas sequências em que Nathalia experimenta peyote, com direito a alucinações com búfalos, ou quando Luca toma bala pela primeira vez. Pena que em muitos momentos "Paraísos Artificiais" seja parecido com assistir à onda de outrem: é divertido até certo ponto, depois enjoa.

terça-feira, 15 de maio de 2012

COME ON AND BOOM BOOM

Faltam apenas duas semanas para o evento mais transcendental de 2012: o festival Eurovision, que este ano erguerá sua barraca na aprazível Baku, capital do Azerbaijão. Ainda nem vi os vídeos da maioria dos concorrentes (estão todos disponíveis no YouTube) mas já tenho um favorito. É esta pedra preciosa das Buranovskyie Babushki ("As Vovós de Buranovo"), um grupo de velhinhas russas que quer levantar fundos para reconstruir a igreja da aldeia onde vivem, destruída na 2a. Guerra Mundial. "Party for Everybody" vai se destacar no meio da avalanche habitual de baladas insossas com letras óbvias em inglês, e pode ser baixada daqui por quem quiser importunar a vizinhança. Come on and dance!

OS NORMAIS

Engraçado: o clima de "guerra cultural" entre os partidários e os opositores do casamento gay é muito mais exarcebado nos Estados Unidos do que no Brasil. Mas na cultura a guerra já está ganha pelo nosso lado: até mesmo a rede Fox, alinhado com a direitista News Corp. de Rupert Murdoch, tem uma programação gay friendly. É ela que exibe "Glee", cujo criador, Ryan Murphy acaba de emplacar uma nova série. "The New Normal" estreia em setembro na NBC, mas já tem site e trailer no ar. A história de um casal gay que contrata uma barriga de aluguel (por módicos 35 mil dólares) não me parece suficiente para manter uma sitcom no ar por várias temporadas, mas é óbvio que todos os canais de lá estão buscando repetir o sucesso de crítica e audiência que é "Modern Family". O Brasil pode ter até leis nacionais mais abrangentes e liberais que as americanas, mas dá para imaginar a gritaria se alguma emissora tentasse fazer um programa parecido.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

COMER, REZAR, MORRER

Um bando de velhinhos se enche com a vida de aposentado na Inglaterra, que tem um dos melhores serviços gratuitos de saúde do mundo, e resolve se mudar para um hotel na Índia, onde nada funciona direito, só porque viram um folheto colorido. Claro que, chegando lá, a decepção é total e o choque cultural maior ainda, e todos têm a oportunidade de revelar como são fofos e adoráveis. Estou sendo ranzinza, porque "O Exótico Hotel Marigold" é melhor do que parece. Mas não muito: ele foi mesmo feito para agradar a um público mais idoso, com fórmulas e clichês equivalentes aos de um filme de super-herói. O que o salva são os maravilhosos atores britânicos, principalmente as "dames" Judi Dench e Maggie Smith. "Marigold" não deixa de ser a versão para a terceira-idade do best-seller "Comer, Rezar, Amar". Só não precisava ser tão previsível: no final, tudo o que a gente espera, acontece.

O PRIMEIRO PRESIDENTE GAY

Em 1998, a escritora Toni Morrison (vencedora do prêmio Nobel) disse que Bill Clinton era o primeiro presidente negro dos Estados Unidos. O evidente exagero tinha um objetivo político: ela queria defender o então "Commander-in-Chief", que estava quase sendo tragado pelo escândalo Monica Lewinsky. Clinton de fato era alinhado com toda a agenda de reivindicações do movimento negro americano, mas sofre até hoje de déficit de melanina. Catorze anos depois, a revista "Newsweek" não resistiu a adaptar a frase ao verdadeiro primeiro presidente negro dos EUA: Obama está na capa da edição desta semana com um halo multicolorido sobre a cabeça, junto com a chamada que dá nome a este post. Bons tempos em que o homem mais poderoso do mundo pode ser chamado de viado na capa de uma revista de circulação planetária e isto ser considerado um elogio, néam?

Sim, os tempos estão melhorando. Obama recebeu mais de um milhão de dólares em doações para sua campanha no mesmo dia em que declarou ser favorável ao casamento igualitário, e muitos milhões mais nos dias seguintes. E Mitt Romney, que disse ser contrário até às uniões civis, recebeu quanto? Zero. Nada. Zilch. O problema dele é que a direita religiosa não costuma ter grandes contas bancárias, enquanto que nada menos do que um em cada seis grandes doadores democratas é gay (hmmm... doador democrata... hehe). A mídia americana continua fazendo rebuliço com a saída de Obama do closet, e ele vem subindo nas pesquisas - tanto que foi acusado pelo estrategista republicano Karl Rove de "politizar" o assunto. O mesmo Rove que não teve dúvidas em usar a oposição ao casamento gay como argumento para reeleger W. Bush. No dos outros, como bem sabemos, não dói.

(leia aqui, em inglês, o artigo de capa da "Newsweek", escrito pelo jornalista gay Andrew Sullivan)

domingo, 13 de maio de 2012

BOING! BOOM TSCHAK

Aprendi a subir imagens em tamanho gigante (por acaso, claro) e agora ninguém me segura mais. Nem gostei tanto assim de "Os Vingadores" para homenageá-lo com esse cartaz todo, mas o fato é que gostei bem mais do que esperava. O filme nem estava na minha lista porque tenho ojeriza a super-heróis. Sete de uma vez, então, parece o sonho molhado daqueles adolescentes japoneses que se trancam no quarto e não saem nunca mais. Mas "Os Vingadores" virou um fenômeno global, arrebentando bilheterias e - para supressa minha - arrancando boas críticas. Achei que era meu dever como árbtiro das tendências culturais me expor a este artefato e lá fui eu, balde de pipoca na mão. E me diverti muito: sim, os vilões alienígenas parecem saídos do teatro infantil, e quem é que ainda aguenta ver Nova York sendo destruída? Já passou o efeito do 11 de setembro? Há mesmo personagens demais: o arqueiro Hawkeye não tem muito o que fazer, e Ssamuel L. Jackson deve ter entrado pelo sistema de cotas. Mas Robert Downey Jr. continua se esbaldando como o Homem de Ferro, e perto dele o louraço que faz o Thor, Chris Hemsworth, fica ainda mais canastrão. Já tem neguinho interpretando "Os Vingadores" como uma alegoria das diversas correntes políticas americanas: os heróis brigam muito entre si (Thor e a Viúva Negra, talvez pelo secador de cabelos), mas na hora do vamos-ver se unem todos pelo bem comum. Pode até ser. Só não sei se me diverti o suficiente para encarar a inevitável continuação. Agora, uma pergunta: que fim levou Namor, o Príncipe Submarino?

(ainda estou com o Kraftwerk na cabeça, como entrega a onomatopeia que dá nome ao post)

sábado, 12 de maio de 2012

DREI-D

Meu irmão que trabalha na MTV me ligou oferecendo ingressos para o Sónar. Para qual dia eu preferia? Sábado, quando posso chegar cedo e ficar até a hora que quiser, vendo shows que eu nunca vi como os do Cee-Lo ou do Ryuichi Sakamoto? Ou sexta, quando eu tenho aula até tarde e preciso dormir cedo porque também tenho aula no sábado de manhã, para ver o Kraftwerk pela terceira vez? Não tive dúvidas. Corri para o Anhembi na sexta à noite, exausto e com a mesma roupa com que havia saído de casa de manhã. E assisti basicamente ao mesmo show que veio ao Brasil em 98, numa das últimas edições do Free Jazz. O repertório é o mesmo, ou pelo menos não senti falta de nada. As imagens do telão, também. Mas há duas diferenças significativas. A primeira, claro, é a projeção em 3D. Sei que performance ao vivo em 3D soa como pleonasmo, mas no caso do Kraftwerk ficou mó legal. A segunda foi a ausência dos robôs. Como assim? Era o melhor momento do show, um autêntico golpe de teatro numa apresentação gélida e tecnológica: quem voltava para o bis não eram os caras, mas suas men-machine. Dessa vez nem bis teve, talvez por que o show tenha começado atrasado e havia um horário a cumprir. De resto, o esperado: Kraftwerk continua sendo o fim da história. A música terminou com eles nos anos 70 e tudo o que veio depois é derivativo. Vendo e ouvindo uma das minhas favoritas, a combinação entre "Numbers" e "Computer World", me dei conta novamente de como eles são contemporâneos (as faixas são de 1981). A única novidade é que agora a banda é uma espécie de Menudo: ao completar 70 anos, os antigos membros são desligados, desmontados numa usina em Düsseldorf e substituídos por modelos mais novos, de apenas 45.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

SETE ANOS

Não tive tempo de escrever, mas este post deveria ter saído ontem. Foi quando se completaram sete anos exatos da morte do meu pai. Perder um progenitor é uma experiência cósmica: no dia em que ele morreu, tive a sensação de que o céu iria se abrir ao meio, como numa profecia maia. Uma incrível sensação de desamparo se abateu sobre mim, e olha que eu já tinha 44 anos. Além disto, minha relação com meu pai sempre foi complicada. Ele me parecia distante quando eu era pequeno e com uma nítida preferência pelo meu irmão mais novo. Os tempos também eram outros: naquela época os pais não sentiam a obrigação de participar muito intensamente da vida dos filhos, e eu já era o de número quatro (ele teve outros três de um primeiro casamento). Criança era algo que se via rapidamente à noite, de banho tomado, para dar um beijo antes de mandar para a cama. Mais tarde começamos a brigar muito, geralmente por bobagens como meus modos à mesa (e provavelmente ele tinha razão, porque hoje em dia eu manejo os talheres feito um lorde). Nunca toquei no assunto da minha homossexualidade, pois sentia que ele não queria ter essa conversa de jeito nenhum. Ele jamais falou de sexo comigo, nem com meus irmãos. Mas claro que sabia de mim, e nunca deu sinais de se incomodar. Chegava a mandar abraços para o meu marido, já no final da vida. Foi quando nos aproximamos mais, apesar de morarmos em cidades diferentes. Eu lhe telefonava todos os dias e visitava-o sempre que ia ao Rio. Sua saúde começou a inspirar cuidados: implantou três pontes de safena, e alguns anos depois começou a se queixar de um resfriado crônico. Foi por causa desta gripe incurável, que ele inexplicavelmente procurava tratar com seu cardiologista, que papai acabou sendo internado no final de abril de 2005. Os médicos demoraram mais alguns dias para descobrir que ele tinha fibrose pulmonar. Aí já era tarde, pois ele não respondia mais a nenhum tratamento e parecia querer ir embora. Conseguiu, no dia 10 de maio, pouco mais de dois meses antes de completar 85 anos. Chorei exatas três vezes em seu velório e enterro. Depois comecei a sonhar com ele sem parar: no mais engraçado desses sonhos, ele reaparecia vivo e dava um esporro nos filhos por termos vendido o bem de que ele mais gostava, o título do clube. Ainda sonho com ele de vez em quando e a saudade tem aumentado cada vez que vou ao Rio. Sinto falta dos nossos almoços, ou de ficar vendo TV com ele em silêncio. Meu pai era mesmo complicado - mas era o meu pai.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

WHO THE HELL WROTE THIS SCRIPT?

O príncipe Charles foi visitar uma estação da BBC na Escócia e acabou em frente às câmeras, encarnando o homem do tempo. O texto foi escrito especialmente para ele, com referências a residências reais como o Castle of Mey, no extremo norte do país. O rei Juan Carlos podia se inspirar nessa aula de relações públicas e dar aulas de tiro na TV, ou quem sabe até participar do "Big Brother" espanhol.

DESISTE, ESTA BUSCA É INÚTIL

Não duvido nada que o advogado de Carolina Dieckmann, Antonio Carlos de Almeida Castro - o notório Kakay - esteja soltando um balão de ensaio ao defender a atriz no caso das fotos vazadas. Kakay também representa figuraças da república como Zé Dirceu e Sarney. Se ele conseguir que o Google pare de divulgar resultados de busca pelas tais fotos, estará aberto o precedente. Futuras ações podem tentar fazer o mesmo quanto a notícias relativas ao mensalão ou a um sem-número de maracutaias. O Google já abriu as pernas para ditaduras como a China, mas por enquanto se mantém firme no caso Carolina: vamos ver até quando. E a moça, para variar, perdeu mais uma chance de reverter sua imagem de antipática. Ela tinha mais é que relaxar e deixar a galera se divertir (mas não deixar de ir atrás do chantagista, claro). A essa altura, todos os interessados já salvaram as fotos em seus discos rígidos há muito tempo.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

TRAVOLTAS QUE A VIDA DÁ

Desde sempre que o John Travolta é tido e havido como gay, e não só porque rebolava lindamente em seus primeiros filmes. Para mim um dos sintomas mais evidentes foi sua relação com a atriz Diana Hyland, que era 22 mais velha (ela morreu de câncer aos 41 anos): namorar com senhoras com idade para serem suas mães é típico de bibas enrustidas. Mais tarde, em 1990, o ex-ator pornô gay Paul Barresi fez um escândalo nos tablóides americanos, dizendo ter sido amante do astro durante muitos anos (e o fato é que Barresi fez uma ponta em "Perfect", filme de Travolta de 1985). Aí nosso herói se converteu à Cientologia, aquela religião esquisitíssima que acredita no deus Xenu e outras divindiades espaciais. Dizem que pela mesma razão que Ton Cruise: para se "livrar" da homossexualidade. Travolta se casou com Kelly Preston e teve filhos com ela, mas a boataria continuou. Foi fotografado beijando na boca um babá (sim, UM babá) das crianças, e dezenas de boates e saunas pelos Estados Unidos afora clamam tê-lo como cliente. Por isto, não é uma enooorme supresa que dois massagistas agora o acusem de assédio sexual. É o tipo de crime quase impossível de ser provado, mas a fama do ator já meio que o condena ante a opinião pública. Tenho um pouco de pena dele por ter caído em tantas esparrelas e um pouco de raiva também, pela covardia. Mas será que veremos o dia em que uma estrela de Hollywood poderá se assumir numa boa?

OBAMA SAI DO ARMÁRIO

Quando era um jovem senador estadual em Illinois, Barack Obama se pronunciou diversas vezes a favor dos direitos igualitários - inclusive ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Mas reverteu esta posição durante a campanha presidencial de 2008, quando disse ser favorável apenas às uniões civis e nada além delas. Uma vez eleito para a Casa Branca, não fez muita coisa pelos gays, apesar de ter apontado alguns para o seu ministério. Sim, acabou com a norma do "não pergunte, não conte" em vigor no exército americano, mas se manteve em cima do muro (ou dentro do armário) em relação às outras questões. Nos últimos tempos, soltou que sua posição quanto ao casamento gay estava "evoluindo", num sinal evidente de que em breve mudaria de opinião. Quase todos os analistas esperavam que isto acontecesse depois de sua possível reeleição, em novembro. Obama nunca foi de peitar a oposição com palavras contundentes e sempre preferiu ficar calado quando isto lhe parecia conveniente. Nada que 99% dos políticos não façam.

Por isto, o simples fato dele ter declarado hoje, numa entrevista à ABC, que é a favor do casamento gay, significa duas coisas. Antes de mais nada, Obama está hiper-seguro de que irá derrotar Mitt Romney nas próximas eleições. Caso contrário não iria soltar uma dessas: grande parte do eleitorado acha que ele não passa de um crioulo muçulmano infiltrado na presidência (por outro lado, estes mesmos eleitores já estavam perdidos de qualquer jeito). O outro sinal é de que o casamento gay é inexorável nos EUA. E isto apesar da derrota acachapante na Carolina do Norte ontem, onde foi aprovada uma medida que só reconhece direitos para héteros casados no papel (até os HTs "amigados" se deram mal). Obama disse na TV que costuma ser cobrado até por jovens republicanos quanto ao casamento gay, e que suas filhas Sasha e Malia tem amigos com pais do mesmo sexo. "É uma coisa generacional". E é mesmo: a juventude se sente cada vez mais à vontade com a visibilidade dos gays, e não há Igreja capaz de reverter esta tendência mundial. Obama está simplesmente remando a favor da maré. Enquanto isto, a presidente Dilma Rousseff... (grilos)

terça-feira, 8 de maio de 2012

MAI NEW LOVE

Estarei aderindo à nova classe C? Ainda não cheguei ao ponto de querer tchu nem tchá, mas pirei no disco da Gaby Amarantos. "Treme" ainda não chegou às lojas, mas já consegui escutar - e é ainda melhor do que eu esperava. Gaby canta para carambão e está cercada por uma produção luxuosa, que no entanto não descaracterizou seu som de aparelhagem paraense. Todas as 14 faixas são boas, da já clássica "Xirley" ao dueto com Fernanda Takai, "Sal e Pimenta". A Globo também aposta que a moça será a próxima Ivete, por isto já a colocou para cantar em abertura de novela e a contratou para o selo Som Livre. Eu também aposto, principalmente porque a música de Gabriela Amaral dos Santos é melhor do que a de qualquer diva baiana. Baixei "Treme", mas vou comprar o CD físico: vale bem mais que 1,99.

(dá para baixar algumas músicas de graça e dentro da lei aqui, no site de Gaby)

OI OI OI

Como é bom começar o dia lendo boas notícias no jornal, né não? A de hoje foi saber que Ana Karolina Lannes - que faz a Ágata, filha da Carminha, na novela "Avenida Brasil" - tem dois pais e está muito feliz com isto. A nota na coluna da Mônica Bergamo (aqui, para assinantes da "Folha" e do UOL) me levou à matéria no site da revista "Contigo!" (aqui, para todo mundo). Se não me engano, Ana Karolina é a primeira mini-celebridade a assumir em público que é criada por um casal gay, e está obviamente tão bem ajustada que serve de contra-exemplo para as merdas que os pastorzecos e afins proferem por aí. Aliás, já estava mais do que na hora de uma novela dessas retratar uma situação parecida: não a luta pela guarda da criança nem os problemas clichês, mas a atmosfera sadia que muitos pais do mesmo sexo conseguem criar para seus filhos. Isto sim é o que vai quebrar com tudo.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

O NOVO GRITO DOS EXCLUÍDOS

Foram centenas de atrações em apenas 24 horas, mas o que marcou mesmo a Virada Cultural paulistana de 2012 foi a galinhada de Alex Atala. Ou melhor, a não-galinhada.

Cinco mil pessoas disputaram quinhentas porções do prato. A fila em frente à barraquinha no Minhocão começou a se formar horas antes e houve distribuição de senhas, mas tudo acabou num deus-nos-acuda. A comida evaporou em poucos minutos, deixando todo mundo descontente. Quem provou, não gostou: estava fria. Quem não provou, vaiou Atala, que nem conseguiu descer de seu carro.

Claro que a culpa não é dele. Aliás, difícil apontar um culpado maior do que a inexperiência da organização do evento. Calcularam mal, não esperavam tanta gente. Mas também não podiam prever que, na mesma semana, o D.O.M., um dos restaurantes de Atala, seria apontado como o quarto melhor do mundo.

O mais badalado chef paulistano, o primeiro a levar o nome da cidade aos píncaros da glória da gastronomia internacional, de uma hora para a outra se transformou em mais um símbolo da desigualdade social. Até um protesto dos “sem-galinhada” estava sendo marcado pelas redes sociais para a porta do D.O.M. (sendo que o prato costuma ser servido em outro restaurante de Atala, o Dalva e Dito).

Há um pouco de galhofa neste novo grito dos excluídos, mas também há um ressentimento social meio fora de lugar. É uma versão mais branda da avalanche de comentários agressivos despejada na internet na época da morte de Eliana Tranchesi, que tranformava a empresária em inimiga pública no. 1. Muitos dos que se diziam indignados com os crimes pelos quais ela foi condenada me pareciam, na verdade, ressentidos por não poderem comprar na Daslu.

O Brasil está farto da desigualdade e isto é ótimo. Inclusão é a palavra do momento: todo mundo quer ter acesso a tudo. As pessoas também estão cobrando que promessas sejam cumpridas e exigindo ser tratadas com respeito. Coisinhas meio óbvias, mas que ainda soam como novidade por aqui.

Mas ninguém pode acusar Alex Atala de ser elitista. Ele até que tentou levar sua arte para um público mais amplo. Não foi desta vez, mas tomara que venham outras. Espero que a organização da Virada Cultural não termine com o “Chefs na Rua”. Ao contrário: o projeto precisa ser ampliado e levado para outros pontos do Centro, ao invés de se concentrar no Minhocão.

O horário também precisa ser estendido. Passei a noite de sábado para domingo zanzando entre um palco e outro do evento, e posso garantir uma coisa: às três da manhã, sobre o viaduto Santa Ifigênia, me bateu uma vontade louca de comer um hambúrguer de pato com maionese trufada. Mas cadê as barraquinhas? Nem mesmo a comida de rua mais tradicional se fazia presente.

Todo mundo há de concordar que a culinária é uma das mais ricas expressões culturais da cidade de São Paulo. Na próxima Virada, ela tem que vir para o centro do palco. A gente não quer só comida: quer também.

(Assinantes do UOL e da "Folha" podem ler aqui o meu texto sobre a Virada Cultural que saiu na "Ilustrada" de hoje)

domingo, 6 de maio de 2012

VIRADO À PAULISTA

Este está sendo o fim de semana mais agitado do ano até agora. Além das aulas do meu curso na sexta à noite e ontem até quase as cinco da tarde, já encarei um musical da Broadway e uma madrugada no centrão de São Paulo. Aproveitei a visita de um casal amigo do Rio para ver "Priscilla, a Rainha do Deserto" com eles e adorei, bem mais do que eu esperava. Depois, a serviço da "Folha de São Paulo", circulei pela Virada Cultural captando impressões para escrever uma crônica que deve sair na "Ilustrada" de amanhã (sim, perdi a Offer, mas foi por uma boa causa). Dormi um pouco e já estou a trezentos: daqui a pouco vou com o mesmo casal ver "A Família Addams", porque o show não deve parar. E à noite ainda tem o camarote Vipado na Infinity e os scarpins do Kazaky, sem falar no trabalho normal amanhã de manhã. Vamo que vamo.

sábado, 5 de maio de 2012

THE END IS PURPLE

Agora que todo mundo viu a suposta pepeca da Carolina Dieckmann, o advogado da atriz confirmou: as fotos são dela mesma. Carolina teria sido vítima de uma chantagem. Fez muito bem: não se cede a chantagista, se manda matar. No frigir dos ovos, acho que ela sai bem na foto, como comentei hoje no F5. Nos Estados Unidos, carreiras inteiras foram construídas em cima de vazamentos de vídeo íntimos. Afinal, onde estariam hoje Paris Hilton ou Kim Kardashian se suas estripulias entre quatro paredes não tivessem ganhado o mundo?

FAITH IN HERSELF

Agora que, graças ao Instagram, todo mundo virou fotógrafo profissional, uma nova revista de moda abre mão dos editoriais fotográficos. A americana "Herself" está causando furor com suas ilustrações e colagens. O último número traz um editorial com o encontro entre personages famosas, da realidade ou da ficção, e as atrizes que as viveram no cinema. Tem Marilyn Monroe e Michelle Williams, Margaret Thatcher e Meryl Streep, Evita e Madonna e mais uma pá de outras. Ah, e quer saber? Acho que dá para prestar muito mais atenção nos detalhes das roupas desse jeito, do que num ensaio enfumaçado do Patrick Demarchelier. Confira uma galeria aqui, no "Daily Beast", ou o próprio site da revista.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

I HAVE TO KEEP IT WET

Das duas uma: ou o dono do site é amigão do Ashton Kutcher, ou "Two and a Half Men" não paga tão bem assim. Por que então o ex-sr. Demi Moore teria topado estrelar essa campanha do Worldwide Lovers, um serviço de dating online? Talvez porque os filminhos deram a ele a chance de mostrar alguma versatilidade. Ashton está realmente engraçado como "Darl", apesar de carregar no sotaque francês - Lagerfeld, como tout le monde et son père sabe, ist Deutsch. Mas a imitação que deixou os politicamente insuportáveis em polvorosa foi a do produtor de Bollywood, que pode ser conferida aqui. Ai, que preguicinha master.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

25 ANS DÉJÀ

Hoje faz exatos 25 anos que Dalida se matou. De volta a Paris depois de uma série de shows na Turquia, a diva não segurou mais o tranco. Entupiu-se de comprimidos para dormir e deixou um bilhete: "Perdoem-me, a vida se tornou inusportável para mim". Não foi sua primeira tentativa. Ela já havia ameaçado outras vezes, como quando se separou do primeiro marido ou quando seu namorado, o cantor italiano Luigi Tenco, se suicidou em pleno festival de San Remo. Aliás, é curioso (e mórbido) como o suicídio sempre rondou Dalida. Porque o repertório dela, salvo exceções pontuais, é ensolarado, alegre, melodioso. Yolanda Christina Gigliotti foi Miss Egito, vendeu milhões de discos no mundo inteiro, dominou o hit parade francês durante mais de 30 anos e este ano terá sua ausência homenageada de inúmeras maneiras. Uma delas é o álbum duplo recém-lançado "Depuis qu'Elle est Partie...", que reúne seus maiores sucessos em sua própria voz e na de muitos outros artistas. Então vamos começar as comemorações dessa carreira fenomenal aqui no blog com dois presentinhos: "Paroles, Paroles" original, em dueto da própria Dalida com Alain Delon, e uma versão moderninha com o grupo vocal Zap Mama e o ator Vincent Cassel, que acha que está falando português.

JE VIS COMME SI J'ÉTAIS EN VACANCES

Dalida morreu há um quarto de século, mas sua carreira continua. Seu irmão e empresário Orlando, sempre querendo faturar o máximo possível, lançou dezenas de compilações ao longo desses anos todos, além de cinco álbuns com remixes dos sucessos originais. Foram estes que me introduziram à obra dalidiana, e é por isto que prefiro muitas dessas versões tardias. Como, por exemplo, a releitura que Cerrone - outro ícone francês da era disco - fez em 2001 de "Laissez-Moi Danser", em todo seu esplendor no vídeo aí acima. Mas também acho a maior graça nas primeiras gravações de Dalida, quase todas pérolas do cancioneiro napolitano com letras em francês (ciao?). Apesar da tumultuada vida amorosa, Dali não deixou filhos, e sim uma extensa coleção de boatos. Diziam que ela era lésbica, ou amante do presidente François Mitterrand. Não tenho provas de nada, mas acho que ela se matou, aos 54 anos (a idade que Madonna completa este ano) porque não cumpriu à risca o roteiro que se esperava de uma ragazza italiana de meados do séc. 20 - ou seja, não se encheu de filhos nem andava com o rolo de macarrão nas mãos.

L'ITALIENNE DU CAIRE

Mas será que ela era mesmo italiana? Sua família era, mas ela nasceu no Cairo - seu pai era músico da orquestra sinfônica local. Falava italiano em casa e árabe na rua, e chegou a ser eleita miss Egito aos 18 anos de idade. Sua beleza logo a levou ao cinema, onde estrelou filmes em árabe ao lado de outro egípcio que fez carreira internacional: Omar Sharif. Em 1957 desembarcou em Paris e se aventurou no music hall, aproveitando a baixa concorrência nas cançonetas napolitanas. Passou a vida falando francês com um forte sotaque, mas, naqueles tempos pré-Le Pen, jamais foi considerada não-francesa. Ainda é a cantora que mais vendeu discos em francês (sim, mais do que Edith Piaf). Também gravou em mais de uma dezena de outras línguas, inclusive em árabe e hebraico. Era a perfeita embaixadora da paz no Oriente Médio, já que todos os lados a adoravam. No final da vida, retomou o cinema: atuou em "O Sexto Dia" do diretor egípcio Youssef Chahine. O clipe aí em cima é póstumo, para um remix de seu maior hit oriental: "Salma Ya Salama".

DRAG QUEEN MATRIX

Hoje em dia Dalida é pouco conhecida no Brasil, mas quase todas as nossas drag queens têm uma dívida eterna para com ela. Afinal, quem foi que inventou o bate-cabelo? Quem foi que acentuava cada palavra da letra com um gesto grandiloquente, sem medo de cair no ridículo? Dalida influenciou Rogéria (ela mesma assume), nossa über-trava, e daí, num efeito cascata, é refletida até hoje em shows de quem nunca ouviu falar dela. Duvida? Então confira acima uma apresentação da diva na TV francesa em 1976. A música "Besame Mucho" foi remixada mais tarde no estilo de Giorgio Moroder, mas as imagens são originais. Que carão, que mulherão, que traveco.

DE GÉNÉRATION EN GÉNÉRATION

Para encerrar as festividades, rien de mieux que "Génération 78", o pot-pourri com seus maiores sucessos até então que Dalida lançou em 1978. Reza a lenda que o gamin que aparece com ela neste vídeo é ninguém menos que meu marido Oscar, todo trabalhado na Paris dos années soixante-dix. Mas na verdade é Bruno Guillain, que depois tentou se lançar como cantor mas nunca obteve muito sucesso. Bruno morreu em dezembro do ano passado de câncer no pulmão, com apenas 50 anos - e é triste constatar que ele posou de cigarro na boca para a capa de um de seus primeiros compactos. Mas, em algum lugar do Paradisco, ele e Dalida estão rodopiando para todo o sempre, numa nuvem de neon colorida. Descansem em paz e continuem nos divertindo.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

A DROGA DE VIVER SEM DROGAS

Acho que eu não comprava um disco da Rita Lee há mais de 20 anos. E olha que ela foi uma das minhas "ídalas" na adolescência, que coincidiu com seu auge artístico. "Atrás do Porto tem uma Cidade" foi um dos primeiríssimos LPs que comprei na vida, e ela se manteve no topo do meu hit parade pessoal durante muito tempo. Mas aí sua música foi ficando não pior, mas menos relevante. Na última década a única coisa que ela fez mais assim foi aquela releitura dos Beatles em ritmo de bossa nova, que fez um sucesso enorme na Argentina e acabou inspirando nossos hermanos a lançarem aquela coletânea malfadada cujas capas sempre mostram um close na calcinha do biquíni de uma mulher: "Bossa'n'Tango", "Bossa'n' Stones", "Bossa'n'Roses"... Mas ja está na hora de perdoarmos Rita Lee por isto. Ela voltou às manchetes no final do ano passado ao ter seu show em Aracaju - supostamente o último da carreira - ser tumultuado pela polícia, que achincalhava o público na caça de perigosíssimos baseados. Na semana seguinte soltou na internet a saltitante faixa "Reza", que dá nome ao novo CD, e de repente tudo fazia sentido. Hoje a música faz parte da trilha de "Avenida Brasil", e o recém-lançado disco é um dos melhores que Rita já fez. Para começar, é bem variado: tem rock, lounge, iê-iê-iê em italiano e até experimentalismos. Abre com a esquisita "Pistis Sophia", onde a voz de Rita se divide em dezenas de rezadeiras nordestinas, e fecha com a ainda mais estranha "Pow", uma sucessão de ruídos embrulhada em theremin, o mais esotérico instrumento musical de todos os tempos. Entre as duas, Rita continua a mesma, para o bem e para o mal: muitas letras resvalam na infantilidade, sem resistir aos trocadilhos escolares mas revelando o inferno que sua autora enfrenta por ter se livrado das drogas. Rita Lee, hoje e sempre acompanhada por Roberto de Carvalho, está limpa, e às vezes preferia não estar. Mas está viva e mais criativa do que nunca, então que aguente essa droga de ser careta.

KAZAKY-STÃO

O fim de semana que vem vai ser animadérrimo em São Paulo, e não só por causa da Virada Cultural. Estou tentando resistir ao trocadilho infame e não dizer que também vai rolar na paralela um Viado Cultural. senão vejamos: no sábado teremos mais uma vez Offer Nissim atacando de DJ na The Week. Digo "atacando" porque La Offer não é exatamente um DJ: é um performer, um entertainer, um showman. E daí que ele traz o set todo pré-gravado e só fica trocando CD? E daí que seu som já está ficando datado? Ainda não surgiu nenhuma loura capaz de lhe ameaçar o trono. Ou surgiram alguns carecas? No domingo é a vez do Kazaky se apresentar na Infinity, a boate recém-inaugurada do Rodrigo Zanardi. Para quem não está ligando o nome à p'ssoa, é aquele grupo de bailarinos ucranianos que dança sem camisa mas de salto alto. Os caras vêm lançando vídeos e músicas já há uns três anos e agora conquistaram fama mundial graças à participação no clipe "Girl Gone Wild" da Madonna. Estarei lá, no camarote Vipado do querido Ailton Botelho. Venha também, e traga os Loubotins para a gente imitar as coreôs: mais informações aqui.

terça-feira, 1 de maio de 2012

BFF NA CHINA

Existem bilhões de filmes sobre o amor, mas pouquíssimos sobre a amizade. Por que será? É um sentimento complexo que também evolui com o tempo e, como dizia aquela música do Caetano, "quem há de negar que esta lhe é superior?". Curioso que os filmes sobre amizade entre homens quase sempre descambam para a palhaçada, para o "bromance" que não se leva a sério - sempre para escapar da suspeita de que, no fundo, os caras são mesmo gays. Já os de amizade entre mulheres são menos raros: "Flor da Neve e o Leque Secreto" é o exemplo mais recente. Baseado num best-seller para moças, conta a história de dois pares de moças chinesas: um no século 19 e outro nos dias de hoje. As moças de ambas as épocas são interpretadas pelas mesmas atrizes e, como quase todo o elenco também é chinês, muitas vezes tive uma certa dificuldade para entender quem era quem, hehehe. O roteiro também é todo fragmentado, cheio de idas e vindas, e até agora não entendi o que se passou exatamente com o par contemporâneo. Com o antigo é mais fácil: uma garota de família rica e outra de família remediada assinam um contrato de laotong, ou irmãs de sangue, o que as torna confidentes pelo resto da vida. Era uma das válvulas de escape que a sociedade tradicional chinesa oferecia às mulheres, obrigadas a deformar os pés para que eles ficassem minúsculos e a se casar com totais desconhecidos escolhidos por seus pais. Este tipo de relação profunda entre mulheres casadas também era comum no Brasil e nos Estados Unidos de 150 anos atrás, mas só na China a coisa era ritualizada e tinha nome. O filme de Wayne Wang tem cenas de encher os olhos e uma breve aparição de Hugh Jackman que enche outras coisas, mas teria sido muito mais potente se não fosse tão picotado. Ainda faltam grandes filmes sobre a amizade.

JE CONNAIS TOUTES TES CHANSONS

Je connais toutes tes chansons
Tes refrains chantent au fond de mon cœur
Ils me reviennent tu sais quelque soit la saison
Et me font partir dans les souvenirs...

...Tout toutes toutes
Toutes tes chansons
Ont traversé le temps sans jamais prendre une seule ride
De génération en génération
On les chantera aussitôt que l'on voudra
Partir dans les souvenirs...


Le jour après demain!