sábado, 31 de março de 2012

O BOM MENINO NÃO FAZ XIXI NA CAMA

Eu estava no maternal em 1964. Ia a um colégio chamado Juca e Chico que ficava pertinho de onde eu morava, na Fonte da Saudade. Era uma casa enorme num terreno maior ainda, que não resistiu à especulação imobiliária: hoje só há prédios no lugar. Eu adorava ir ao colégio, mas naquele dia não teve aula. Foi o primeiro feriado da minha vida. Também achei ótimo ficar casa: ia poder assistir com calma ao meu programa favorito, comandado pelo palhaço Carequinha. Ele era o maior ídolo das criancas da minha geração, e seu hit "O Bom Menino" ("...não faz xixi na cama / o bom menino não bate no irmãozinho") era o "Ai, Se Eu te Pego" daquela época. Mas naquele dia aconteceu algo estranho. Assim como não teve aula, também não teve programa do Carequinha. O que suscitou em minh'alma a primeira grande questão transcendental: PARA QUÊ SERVE NÃO TER AULA, SE TAMBÉM NÃO TEM PROGRAMA DO CAREQUINHA? Meus pais estavam viajando naquele dia e eu fiquei no Rio sob os cuidados de uma tia. Mas eles voltaram dois dias depois, preocupados comigo. Bobagem, meu único problema era a falta de Carequinha. Tempos depois entendi que naquele dia havia acontecido um golpe militar, que hoje completa 48 anos. Cresci sob a ditadura, mas também só me dei conta do que estava acontecendo na adolescência. Hoje os milicos comemoram o aniversário da "revolução" e se jactam de terem derrotado o comunismo internacional. Mas também lançaram o Brasil num longo período autoritário, que terminou com inflação galopante e a desmoralização das Forças Armadas, da qual elas não se recuperaram até hoje. Nem vão se recuperar, se continuarem promovendo atos ridículos como o que aconteceu no Rio anteontem. A ditadura ainda não acertou as contas com o Brasil, mas um dia não vai escapar. Podemos começar pela ausência do Carequinha.

sexta-feira, 30 de março de 2012

DEPECHE MODE MEETS EARLY MADONNA

Era esta a etiqueta que a gravadora colou por cima da capa de "Rapprocher", o disco de estreia do Class Actress. Claro que eu mordi a isca. Não me arrependi: o som deste trio americano parece mesmo ter sido concebido na primeira metade dos anos 80. A ex-atriz Elizabeth Harper compõe musiquinhas que, com arranjos tradicionais, soariam como baladinhas insossas. O que as salvam são os teclados e a produção vintage de Scott Rosenthal e Mark Richardson. Experimente aqui a minha faixa favorita, a elegante "Limousine". E agora, a pergunta inevitável: é a música que não evolui, ou o meu gosto que não sai do lugar? Já sei, já sei. Não precisa gritar.

quinta-feira, 29 de março de 2012

QUESTÃO DE CIVILIDADE

Daqui a menos de duas semanas, o deputado federal Jean Wyllys (PSOL - RJ) vai lançar uma grande campanha pelo casamento civil igualitário. É muito importante o uso do termo "civil": ainda tem gente que acha que pode haver uma lei que obrigue as religiões a realizar casamentos entre pessoas do mesmo sexo, o que é simplesmente absurdo. O site da campanha já está no ar e é ótimo ver que tem uma pá de artistas apoiando a causa, como Caetano Veloso, Chico Buarque, Ivan Lins e muitos outros mais. É super importante que todo mundo entre na campanha, inclusive as bichas que nem sonham em se casar: não é por solidariedade, mona, é que com o casamento vem atrelado uma montanha de outros direitos. Só não gostei do logo da campanha, e ainda reluto em substituir o símbolo de igual em verde e amarelo que adorna a lateral deste blog há quase dois anos, que na verdade não pegou como gostaríamos. Acontece que, além de meio feioso, acho que esse novo logo ressalta as diferenças, não a igualdade. Uma professora lá no meu curso de planejamento disse que, toda vez que as minorias apelaram ao respeito pelas diferenças, se deram mal. O jeito certo de convencer a maioria é ressaltar os pontos em comum. A se pensar.

(obrigado ao Luciano do Muque de Peão por mais uma dica)

ENQUANTO ISTO, NO PERÍODO CRETÁCEO

"Temos muitas e profundas coincidências", disse Raúl Castro a respeito do papa Adolf I. Claro que têm: ambos são lideranças envelhecidas que querem manter no poder a qualquer custo uma estrutura ultrapassada e falida, enquanto que o mundo lá fora muda muito mais rápido do que eles são capazes de acompanhar. Tanto a cúpula da Igreja Católica quanto a do PC cubano deveriam ser preservadas em âmbar, para as gerações vindouras poderem estudá-las. Como que esses brontossauros conseguiram sobreviver tanto tempo com tão poucas adaptações? Mas as condições que propiciaram a evolução dessas duas espécies já não existem mais, e em breve elas estarão extintas. A próxima visita papal a Cuba será de outro papa, e provavelmente não será um membro da atual família real que irá recebê-lo. Mas serão muito diferentes dos que vemos hoje? Até a lei da seleção natural precisa da forcinha de umas orações de vez em quando.

quarta-feira, 28 de março de 2012

UM ÍNDIO DESCERÁ

Ontem fui a uma pre-estreia de "Xingu" - a mesma à que foi a Marta Matui, mas não nos encontramos no cinema (eram 8 salas diferentes). Ela adorou o filme, eu nem tanto. Não que seja ruim: fiquei interessado o tempo todo, não olhei uma única vez no relógio. Talvez por isto mesmo tenha achado que acaba meio de repente. A história dos irmãos Villas-Boas é imensa e obviamente não cabe em apenas duas horas. Mesmo sabendo que muita coisa ficou de fora, as que entraram podiam ter sido melhor explicadas. Como diz a Marta, o fato de Leonardo ter sido expulso da selva por ter engravidado uma índia soa meio forçado. Consta que todos os irmãos fizeram suas estripulias com as nativas, o que era considerado normal até certo ponto. Os proprios índios aparecem relativamente pouco como personagens, e nunca sabemos muito do que estão achando de tudo aquilo. São pouco mais do que animais exóticos. Também falta um pouco de conflito: parece que foi facílimo convencer o governo a criar o Parque do Xingu, maior do que muitos países da Europa. Rola muito sangue até hoje na região e em toda a Amazônia, mas não na tela. De fato o roteiro tem muitas lacunas, mas há cenas belísismas como os índios voando de avião e o primeiro encontro com a misteriosa tribo dos kren-a-karore. "Xingu" é bonito de se ver, mas não me emocionou para valer. Ainda assim, é sempre bom olhar para a relação contraditória que o Brasil tem com seus índios: temos algumas das culturas indígenas melhor preservadas de todas as Américas, e no entanto continuamos tratando os "native Brazilians" como parte da fauna.

O MILLÔR DO BRASIL

Joãozinho, de automóvel,
corre a 90 no cais.
Dona Marta ia passando.
Agora não passa mais.


Eu tinha 12 anos quando comprei "Trinta Anos de Mim Mesmo", a primeira antologia de Millôr Fernandes, e até hoje sei de cor o poeminha que abre este post. A gozação começava já no título do livro, que zoava com "Vinte Anos de Caviar" - as então recém-lançadas memórias do colunista social Ibrahim Sued - e prosseguia até 1972, depois de um apanhado geral da já longa carreira do mais indefinível jorno-cartu-teatrista que este país já teve. Millôr era uma pororoca de talento, que jorrava por todos os lados e em todas as mídias. Seus desenhos não eram exatamente bonitos, mas extraordinariamente expressivos. Seus textos às vezes se encarafuchavam por labirintos e exigiam atenção do leitor, o que é considerado pecado nos dias de hoje. Foi em sua ótima peça "É" que eu vi pela primeira vez Fernanda Montenegro, sua grande amiga. Millôr era muito sério e muito engraçado, muito básico e muito sofisticado. Lúcido, cáustico, delicado, um dos maiores nomes da cultura brasileira em todas as áreas onde se meteu. Fora que ele deve estar puto com toda a babação de ovo que acontece hoje em sua homenagem.

terça-feira, 27 de março de 2012

ACHARAM A MOLLY

Pensei que ela fosse ficar calada, mas Madonna respondeu a Deadmau5 pelo Twitter. Postou uma foto de 500 anos atrás e acrescentou um balão: "De um camundongo para outro, eu não apoio nem nunca apoiei o uso de drogas. Estava me referindo a uma música chamada "Have You Seen Molly?" do meu amigo Cedric Gervais, com quem quase trabalhei no meu novo disco." Deadmau5 aceitou a explicação, MAS... porque caralhos Madonna iria se referir justo a esta faixa no UMF? Por que não a "My Heart Will Go On", "Ob-la-di Ob-la-da" ou "Aquarela do Brasil"? Dá uma olhada no vídeo-teaser abaixo, e veja que a tal da Molly não deve ser a mesma que faz dupla com o Mike naquela sitcom do canal Warner...

DES HOMMES FOUS

Salut les filles! Quoi de mieux por démarrer ce mardi q'un peu de zou bisou bisou? Cet ancien tube de Sophia Loren a fait un tabac dans la première de la cinquième saison de "Mad Men" avant-hier à la télé américaine. Coucou!

segunda-feira, 26 de março de 2012

VOCÊS VIRAM A MOLLY POR AÍ?

Lady Gaga disse que já cheirou muita cocaína e que de vez em quando ainda tem umas recaídas, e ninguém deu a menor bola. Madonna perguntou ao público do UMF em Miami se eles tinham visto a Molly, e o mundo veio abaixo. Quem é a verdadeira rainha? Hein? Hein? Molly, como tooooodo mundo sabe, é um apelido carinhoso do ecstasy. O DJ Deadmau5 se ofendeu: xingou Madonna em sua página no Facebook, disse que ela estava corrompendo a juventude e só faltou chamar o síndico. Justo ele, que faz uma música que não é exatamente adequada para se ouvir durante um piquenique no parque. Madonna até agora não revidou, e acho que nem vai. Hoje seu disco "MDNA" chega às lojas do mundo todo, e nada como um pequeno escândalo para badalar as vendas (o nome do álbum remete a MDMA, o princípio ativo da bala). Mas duvido que tenha sido um golpe calculado: de vez em quando, até a Madonna é sincerinha.

QUE A SORTE ESTEJA SEMPRE DO SEU LADO

Tentei ler um livro do Harry Potter e desisti nas primeiras páginas. J. K. Rowling escreve mal demais. Ler qualquer coisa da "saga" "Crepúsculo" nem me passou pela cabeça: vampiro casto é uma contradição tão grande quanto gay republicano. Mas saí do filme "Jogos Vorazes" querendo devorar os livros da série. Fiquei intrigado pela metáfora de Panem, o país do futuro erguido sobre os escombros da América do Norte, e quero saber logo como a história de Katniss Everdeen continua. A ideia de um programa de TV onde os participantes correm risco de vida é mais antiga do que o próprio termo "reality show": lembro de "O Preço do Perigo", um filme francês dos anos 80, que depois foi mais ou menos refeito nos Estados Unidos como "O Sobrevivente", estrelado por Arnold Schwarzenegger. Mas a grande sacada de Suzanne Collins foi empacotar esse clichê como série para adolescentes (ou, como se diz no mercado literário americano, "young adults") e assim iniciá-los na política. Comprei os dois livros seguintes ontem mesmo e já comecei a ler. Dessa vez dei sorte: estou adorando.

(A óbvia comparação entre "Jogos Vorazes" e o "BBB" é o assunto da minha coluna de hoje no F5)

domingo, 25 de março de 2012

SENÃO ESTAMOS PERDIDOS

E a vontade de levantar da cadeira e sair dançando no meio do cinema, junto com aquelas pessoas que parecem estar lá mas não estão? Geralmente eu me esqueço que um filme é em 3D depois de 15 minutos, mas com "Pina" foi diferente. Fiquei plenamente consciente da concretude daqueles gestos o tempo todo. Claro que filme nenhum jamais vai reproduzir exatamente o que é ver uma companhia de balé ao vivo no palco - vi a de Pina Bausch três vezes - mas o documentáro de Wim Wenders nem se propõe a isto. As cenas ganham ainda mais força quando vão para as ruas de Wuppertal, que seria uma cidade alemã absolutamente sem graça se não fosse por seu trem suspenso, ou para perto da natureza, em rios e bosques. Não ficamos sabendo quase nada sobre Pina "por conta de" pessoa, só que ela fumava muito - será que foi esta a causa de seu câncer? Mas seus bailarinos, uma babel (de línguas, nunca de gestos) que inclui até uma brasileira, a idolatram até hoje e mantêm a trupe funcionando, quase três anos depois da morte de sua criadora. Há algumas versões de "Pina" em 2D sendo exibidas por aí, mas fuja: é o equivalente cinematográfico de trepar com camisinha. Sente-se bem na frente da sala e sinta o cabelo das bailarinas roçar na sua cara. É uma experiência sensorial digna de uma boa droga. O filme também faz pensar. Quem diria que, de olhos fechados, se apontarmos o olho para baixo podemos evocar um sentimento diferente do que se apontarmos o olho para a frente.

sábado, 24 de março de 2012

RAINHA DAS TERRAS FÉRTEIS

Para nossa alegria, "Fina Estampa" acabou ontem, e em breve desaparecerá das nossas memórias. A única coisa que vai ficar é Tereza Cristina: Aguinaldo Silva e Christiane Torloni conseguiram criar uma vilã glamurosa, engraçada e totalmente sem motivação para cometer seus crimes. Hoje comento no F5 o último capítulo da novela, que não rimou lé com cré e ainda conseguiu ser divertido. A eletrocução do Ferdinand na banheira foi das coisas mais cafonas de toda a história da televisão brasileira, desde os diálogos impagáveis ("Que cheiro horrível é este?" "Testosterona!") até a mãozinha do brutamontes afundando na espuma. Agora ficaremos livres por um tempo dos tuítes auto-promocionais do Aguinaldo, e também do homofóbico do Marcelo Serrado. Já vão tarde. Só vou ter saudades da Sacerdotisa de Ísis.

sexta-feira, 23 de março de 2012

CHICO MORRERAM

Por mais que já fosse esperada, a morte do Chico Anysio me deixou com um nó na garganta. As gerações mais novas talvez só se lembrem do Professor Raymundo e olhe lá, mas Chico era muito mais do que isto. O cara criou mais de 200 personagens, todos com personalidade própria, e ainda era uma fera no stand-up quando este nome nem era usado no Brasil. Não quero soar saudosista, mas nenhum, absolutamente nenhum desses novos humoristas lhes chega aos pés. Chico era, antes de mais nada, um ator de primeiríssima, e é uma pena que tenha feito poucos papéis dramáticos em sua longa carreira. Mas também era escritor, pintor, diretor e muitas outras coisas mais, inclusive um mulherengo que casou umas 50 vezes e deixou uns 700 filhos. Cresci vendo Chico na TV, e não sei qual dose seus avatares é o meu favorito: Pantaleão? Alberto Roberto? Coronel Limoeiro? Salomé? É uma turma imensa que se vai com ele. Por uma dessas coincidências cósmicas, está acontecendo em SP um evento chamado Risadaria, que reúne desde Renato Aragão aos Cassetas às turmas do "CQC" e outros ainda mais jovens. Logo mais acontece um debate sobre os limites do humor, que de repente fica meio sem sentido diante de um cara tão sem limites quanto o Chico. Ou melhor, os Chicos.

quinta-feira, 22 de março de 2012

VOLTA ÀS AULAS

Hoje começam as aulas do Boot Camp de Planejamento de Comunicação da Miami Ad School/ESPM. Fui fazer minha matrícula anteontem, na hora do almoço, e claro que me senti o bisavô da molecada que frequenta a faculdade naquele horário. Não que meus colegas de classe devam ser muito mais velhos: já estou psicologicamente preparado para ser o mais idoso de todos, inclusive os professores. O curso deve ocupar minhas noites de quinta e sexta pelos próximos três meses, assim como as manhãs e tardes de sábado. É uma carga puxada, mas vamo que vamo. Se a vida fosse fácil, taxista tinha troco. E, como bem disse a Luana Piovani, eu preciso estudar mais.

NON HABEMUS MEMBRANA

Nanni Moretti teve uma ótima ideia para um filme: e se o cardeal escolhido pelo conclave não quisesse ser papa de jeito nenhum? É mais do que improvável que uma coisa dessas aconteça, além do mais porque cardeais não costumam ser conhecidos por seu desapego ao poder. Notícias recentes confirmam que já começou a puxação de tapete nos bastidores do Vaticano, tendo em vistas a possível eleição de um novo papa dentro de pouco tempo. Mas enfim, digamos que o trono de São Pedro fosse de fato oferecido a alguém que não quisesse tamanha responsabilidade. Este é um drama para lá de comum, e poderia render uma discussão interessante dentro do contexto da Igreja. Mas não rendeu: "Habemus Papam" começa bem, mas não consegue desenvolver seu argumento. O filme fica andando em círculos até acabar abruptamente. Moretti não resolve uma questão fundamental: se o escolhido recusa o papado assim que termina a eleição, por que é que seus pares insistem nele? A Igreja não acredita mais no livre-arbítrio? Ao invés de consertar a credibilidade de seu filme, o diretor se perde em bobagens como um torneio de vôlei nos pátios do Vaticano. O ator francês Michel Piccoli, no apogeu dos 86 anos, está ótimo como o papa recalcitrante, mas o roteiro não lhe dá muitas oportunidades. Havia um bom ponto de partida, mas - como diz o título em latim deste post - não há filme.

quarta-feira, 21 de março de 2012

MODERN FAMILY

Atenção, galera! Um, dois e já: OOOWWWNNN... Nada jamais foi tão fofo quanto esta foto de Ricky Martin, seu marido Carlos e os pimpolhos Matteo e Valentino (filhos de Ricky com uma barriga emprestada, não de aluguel, como ele faz questão de frisar).

A família repinica posou para as páginas da "Vanity Fair" espanhola,qsue leva meeeeses para chegar às bancas finas de São Paulo. Ainda bem que a matéria e todas as fotos podem ser conferidas aqui, no site da revista. Tudo bem que faz parte do esforço promocional para badalar a participação de Ricky na nova montagem de "Evita" na Broadway, mas que cojones, hein? Muchas gracias a eles pela coragem de mostrar ao mundo uma família linda e feliz com dois papais. Nem tantas gracias assim por exibirem uma beleza inalcançável por nós, mortais.

PATSY PATS PAT PA P

"Nós, que temos 39 anos, devemos nos unir". Pppppppppp (o novo kkkkk).

MATRONNA

E aí, o que ocêis acharam do "MDNA"? O novo disco da Madonna caiu ontem na rede, e eu consegui ouvi-lo inteirinho with a little help from my friends. Gostei até mais do que esperava: todas as faixas são boas, e algumas bem esquisitas. Madge continua inquieta e procurando abrir caminhos. Mas também joga para a arquibancada, e aí é que mora o problema: "MDNA" não tem foco, como tinham "Ray of Light" e "Confessions on a Dancefloor", seus melhores trabalhos até hoje. Mas estes discos tinham um único produtor, o que não é o caso aqui. Na minha coluna de hoje no F5 eu me estendo mais um pouco sobre o assunto. Madonna parece mesmo querer ser tudo ao mesmo tempo: repare como ela está amatronada (Matronna?) no começo do clipe de "Girl Gone Wild", que também saiu ontem, e logo em seguida reaparece com aparência de vinte e tantos anos.

terça-feira, 20 de março de 2012

STRIKE BATISTA

Mas será possível que o Eike Batista não tenha um assessor capaz de lhe dizer que suas declarações podem prejudicar o filho Thor? Um amigo, um parente que seja? Claro que deve ser dificílimo dar qualquer tipo de toque no homem mais rico do Brasil. E que não percebe que a melhor estratégia neste momento seria ficar quietinho e esperar pelo resultado da perícia, que pode até mesmo apontar a culpa da vítima. A opinião pública já estaria contra Thor mesmo que ele não tivesse 11 multas e fosse o rapaz mais bonzinho do mundo. É natural que um pai queira defender sua prole, mas por enquanto Eike só aumentou a própria imagem de arrogante. Fica na moita, EB, tenta controlar sua vaidade. Porque o garoto você não controla mesmo, né?

PLAY IT AGAIN

Jornal impresso tem dessas coisas. Ontem o caderno "Mercado", da "Folha de São Paulo", me pediu um texto com 2.500 toques sobre minhas lembranças do Playcenter, o grande parque de diversões de São Paulo que fechará em julho e reabrirá no ano que vem sob uma nova proposta, voltada para crianças pequenas. Frequentei muito o lugar quando eu era adolescente, e o texto jorrou aos borbotões. Repleto de causos piorescos, uma pequena obra-prima. Hoje ele foi publicado, mas no caderno "Cotidiano" e muito cortado, com menos de 1.200 toques, para caber no espaço disponível. Pode ser lido aqui, para assinantes do UOL e da "Folha". Enfim, o importante é sair, né mesmo? Buáááá.

segunda-feira, 19 de março de 2012

LA MUSIQUE ELÉCTRIQUE

Claude François estava tomando banho de banheira quando resolveu endireitar uma luminária na parede. Morreu eletrocutado aos 38 anos de idade, em 1978, no auge da glória. Esse Roberto Carlos francês nunca foi muito conhecido no Brasil e pouca gente sabe que "My Way", um dos maiores sucessos de Frank Sinatra, na verdade é uma versão em inglês de uma música sua, "Comme d'Habitude". O cara era chamado de Cloclo pelos íntimos, ou seja, por toda a França, e sua performance no palco justificava o apelido. Tem poucas coisas mais gays do que ele rebolando sob dois quilos de pancake, ladeado por suas inseparáveis Clodettes. Mas, ao que consta, Claude François gostava mesmo era de mulher: teve várias namoradas e deixou alguns filhos, além de uma dor imensa no coração dos francófonos. Esta dor começou a ser aliviada semana passada com a estreia de "Cloclo". O cantor é interpretado pelo belga Jéremie Rennier, mais conhecido por suas aparições nos filmes-cabeça dos irmãos Dardenne. Compare o trailer com o clipe abaixo, do verdadeiro Cloclo: Rennier liberou o poulet com galhardia, num desempenho, digamos... eletrizante.

QUE CHATO TER UMA PRESIDENTA ASSIM

Hoje em dia é politicamente incorretíssimo dizer que tal país é uma merda. Mas a triste verdade é que muitos são, e muito. A África está cheia deles: por lá abundam os governos corruptos, as guerras sem fim, a fome crônica e as epidemias. Como se fosse pouco, agora está na moda perseguir os gays por todo o continente: de Uganda ao Gabão, um país atrás do outro vem aprovando leis que preveem penas cada vez maiores para os homossexuais. Sim, podemos dizer que é uma tática que alguns governos usam para distrair a população dos verdadeiros problemas. Mas esta tática não seria usada se não encontrasse respaldo nas culturas locais (os pastores evangélicos empregam a mesma estratégia para mobilizar seus rebanhos). Acontece que muitos desses países dependem da ajuda financeira do Ocidente, e o Ocidente não anda gostando muito dessa violência toda. Por isto, de vez em quando as saias justas são inveitáveis. A presidenta da Libéria, Ellen Sirleaf – que ganhou nada menos que o Nobel da Paz em 2011 – responde com todas as letras à repórter que não vai mudar uma vírgula nas leis homofóbicas de seu país, porque “queremos conservar os valores da nossa cultura”. A reação do ex-primeiro ministro britânico Tony Blair é um dos mais espetaculares sorrisos amarelos de todos os tempos: ele simplesmente se recusa a entrar no assunto. Blair, que se converteu ao catolicismo depois de deixar o poder, defendeu recentemente o casamento gay, e exortou as lideranças da Igreja a serem mais tolerantes. Ainda assim, ele não poderia fazer o mesmo com Sirleaf, sua anfitriã. A presidenta governa um barril de pólvora que foi devastado pela guerra civil há até pouco tempo, e se arrisca a perder apoio se fizer qualquer coisa em prol dos gays. Mais ou menos como uma certa colega sua, do outro lado do Atlântico.

(obrigado ao Ivan e ao Diego Rebouças pela dica)

FALE AGORA OU CALE-SE PARA SEMPRE

"Ah, não!", disse uma das senhoras sentadas atrás de mim, assim que começaram os créditos. "O filme é argentino! Vamos embora se for chato". A amiga dela concordou, e eu pensei que comigo o bagulho reverte ao contrário. Faço questão de ver todos os argentinos que entram em cartaz, pois sei que a maioria é, no mínimo, bastante boa. "Meu Primeiro Casamento", infelizmente, pertence à minoria. As piadas são bobas e/ou previsíveis, e nem um arremedo de discussão teológica entre um padre e um rabino consegue elevar o nível da obra. Filmes sobre cerimônias de casamento costumam ser bolas fáceis: é meio como tocar "Dancin' Days" numa festa, todo mundo a-do-ra. Esse rito fundamental costuma render grandes bilheterias e até um ou outro clássico, como "Quatro Casamentos e Um Funeral" (já do "Casamento Grego" eu não gosto muito). "Meu Primeiro Casamento" apela para o pastelão e, apesar do bom elenco e da locação num hotel-estância na província de Buenos Aires, só me torrou a paciência. Em compensação, as senhoras atrás de mim riram muito e ficaram até o final. Pelo menos o cinema argentino conquistou mais duas fãs.

domingo, 18 de março de 2012

GATO POR PINTO

Não consigo entender. A "G Magazine" traiu a si mesma. O tão badalado ensaio de Matheus Mazzafera é um engodo: o stylist das estrelas não mostra nem a bunda. Ele está com um corpaço e até que as fotos são bonitas, mas podiam ter saído tranquilamente no Paparazzo. Que Matheus não queira exibir as partes pudendas é um direito dele, mas a "G" deu um tiro no próprio pé. O diferencial da revista sempre foram os paus duros: publicações que tentaram seguir uma linha mais branda tiveram morte rápida. Criar essa onda toda e depois não entregar o prometido é caso para o Procon ou o Conar. Tampouco faz sentido a revista agora trazer material da Bel Ami: é possível ver cenas muito mais fortes no site da produtora, e de graça. Imagino que seja muito mais barato do que produzir fotos próprias, mas não me parece uma boa estratégia a longo prazo. A "G" sobrevive há quase 15 anos, mas temo que tenha dado uma escorregada fatal. Está vendendo gato por lebre - ou melhor, por pinto.

sábado, 17 de março de 2012

AI, DETESTO

Procuro não falar da MTV na minha coluna do F5, mas hoje não deu. Gostei muito do "Comédia MTV ao Vivo". Deu certo fazer os esquetes na frente da plateia, apesar dos erros técnicos e humanos. Mas, como também acontece no "Saturday Night Live", o melhor momento dessa versão apócrifa foi pré-gravado: "Mulheres Falidas". Se bem que eu fiquei com a mesma sensação que o programa da Band me passava: não dá para ficar só com a Val e a Narcisa?

LEITE NÃO-DERRAMADO

Devo ligar para o Procon? Ou talvez denunciar para o Conar, pois se trata de um caso de propaganda enganosa. O tão falado pau do Michael Fassbender, cantado em verso e prosa pela imprensa internacional e alvo de mil piadas ao longo da recente temporada de prêmios, mal dá o ar de sua graça em "Shame". As cenas de nu frontal acontecem logo no início, com o ator sempre em movimento, e o dito cujo nunca aparece sob uma iluminação razoável (mas tem uma surpresinha para quem for chegado nos esportes aquáticos). O marketing do filme, na verdade, tentou criar para ele uma aura de escândalo muito maior do que a merecida. Saca só este poster, criado na Hungria e logo engavetado: simplesmente não há derramamento de leite em "Shame". O que há são ótimos atores, lindos enquadramentos e um personagem principal que é um mistério até para si memso. O cara se deixou levar pelo sexo e agora só pensa naquilo, ao mesmo tempo em quase sabota qualquer possibilidade de uma relação que vá além do carnal. O roteiro não apresenta causas nem conclusões e ainda faz um certo julgamento moral do protagonista. Mas há momentos memoráveis, como o começo de um jantar rodado num único plano-sequência, com diálogos certeiros e silêncios mais ainda. "Shame" não é para os fracos - e nem para quem estiver procurando sacanagem pura e simples.

sexta-feira, 16 de março de 2012

MY KIND OF WONDERFUL, THAT'S WHAT YOU ARE

Quem ainda tem saco para filme de vampiro? Pelo menos "Dark Shadows" apela para a zoação com os anos 70. O novo filme de Tim Burton só estreia em maio, mas o trailer que surgiu ontem já está irritando os fãs do livro original. Essa turma precisa parar de se levar tão a sério e pegar mais sol, né não? Fora que qualquer coisa que use Barry White na trilha sonora fica automaticamente acima do bem e do mal, até mesmo um massacre de bebês-focas.

TIRANDO UMA FINA

Já está virando cíclico: de vinte em vinte anos, surge um homem com voz de mulher na música popular brasileira. Ney Matogrosso despontou no começo da década de 70, Édson Cordeiro na de 90. Agora é a vez do gaúcho Filipe Catto, tecnicamente um contra-tenor e ainda mais afinado que seus antecessores. O cara emplacou um tango épico chamado "Saga" na trilha da novela "Cordel Encantado" e acaba de lançar seu primeiro CD oficial. "Fôlego" traz 15 canções, muitas delas inéditas. E, apesar da variedade de estilos, eu senti falta de mais... fôlego (ai). Filipe tem de fato uma voz excepcional, mas falta em seu repertório uma pitada de ousadia - e até mesmo de humor. Podem me chamar de antigo, mas acho que há algo de inerentemente engraçado num homem de voz finiiiinha. Sim, o disco tem momentos divertidos como "Roupa do Corpo" ou "Juro por Deus"- aliás, o moço adora encarnar a mulher traída que busca vingança num bar - mas para mim faltou aquela epifania que foi ouvir Édson cantando "A Rainha da Noite" sobre as bases de "Satisfaction", ou praticamente tudo o que Ney gravou nos primeiros anos de carreira. Talvez os tempos sejam mesmo outros e um talento como Filipe Catto não precise mais apelar para a teatralidade ou o make-up de priscas eras e se concentrar só na música. O timbre dele é agradável e às vezes lembra até o de uma Elis Regina, mais doce e menos viril. Mas essa voz incrível pode ir ainda mais longe, e torço sinceramente que vá.

quinta-feira, 15 de março de 2012

...ROLLING DOWN THE ROAD

Outro dia estava zapeando a TV e topei com um dos meus episódios favoritos de "Absolutely Fabulous": "Fat", aquele em que a Edina tenta emagrecer 20 quilos em quatro dias porque vai receber a visita de uma ex-colega da escola. No final ela aparece usando uma camiseta largona onde está escrito "1992", e eu fiquei levemente chocado. Claro que eu sei que "AbFab" está aí há um tempão, mas desde 92? VINTE anos? É fabuloso que Eddy, Patsy, Saffron e até eu mesmo não pareçamos um minuto mais velhos, mas duas décadas é tempo pacaraille. Às vezes tenho a sensação de que, apesar de todas as inovações tecnológicas, o tempo agora passa mais devagar: a música de hoje poderia ter sido feita no começo dos anos 90, a moda só recicla o que já feito, blábláblá. Tudo isto para dizer como é impressionante que "AbFab" continue na crista da onda. Depois dos dos especiais de Natal e Ano Novo, elas voltam à TV em maio, com a participação especial de Kate Moss e Stella McCartney. Enquanto isto, já está sendo veiculada a campanha que Jennifer Saunders e Joanna Lumley clicaram, in full regalia, para a coleção primavera/verão das bijoux de lucita de Alexis Bittar. Te cuida, Fernanda Young.

(gracias ao Clebs pela dica preciosa)

ANTES DA PRIMAVERA


Deve ser horrível morar num país onde as mulheres são bolinadas nos ônibus e agredidas no meio da rua. Na verdade, o Egito que aparece em "Cairo 678" é ainda pior que o Brasil: pelo menos por aqui a mulherada já apredeu a botar a boca no trombone, e há um consenso na sociedade de que o assédio deve ser punido. Rodado antes da "primavera árabe", o filme também é um retrato de como as coisas funcionavam (ainda funcionam?) na era Mubarak, quando até funcionários públicos precisavam de uma gorjetinha para realizar seus serviços com um mínimo de má vontade. "Cairo 678" conta como três mulheres de classes diferentes reagem à violência cotidiana, seus inimigos e aliados no lado masculino e também como se unem e desunem entre si. O roteiro vai e vem mais do que o necessário, mas o resultado é complexo e pouco maniqueísta, deixando claro que o preconceito só sobrevive quando suas próprias vítimas o trazem embutido dentro de si. Este premiadíssimo filme egípcio, uma raridade nas nossas telas, é mais interessante do que divertido, e serve para iluminar o longuíssimo caminho que o Oriente Médio ainda tem pela frente. E não só ele, é claro.

quarta-feira, 14 de março de 2012

O PORNÔ FOI PARA O CARALHO?

A revista "Junior" deste mês traz uma matéria que me deixou encafifado: "O Fim da Indústria Pornô Brasileira". Como assim? Minha sensação era a de que nossos produtores de filmes de sacanagem nadavam en dinheiro, exportando seus produtos para o mundo inteiro - e até alguns astros, como o lendário Rocky Gaúcho. Mas pelo jeito não é bem assim: a Pau-Brasil (melhor nome EVER) já foi para a casa do caralho e vendeu parte de seu acervo para a antiga rival Ícaro, que ainda mantém um site. Mas quase não produz mais. "Para quê?", pergunta seu proprietário, "para o DVD pirata ser vendido na rua por 5 reais?". Aí que mora o problema: não conheço mais ninguém, hétero ou gay, que ainda compre DVD pornô. Todo mundo agora consome sexo explícito online, e muitas vezes de graça. As boas casas do ramo que ainda sobrevivem adaptaram-se aos novos tempos e mudaram seu modelo de negócios, assim como a indústria fonográfica foi obrigada a fazer. Falcon e Bel-Ami, acossadas pela concorrência de sites como Randy Blue, Corbin Fisher ou Sean Cody, agora faturam mais vendendo assinaturas mensais do que discos físicos. Já tem brasileiro trabalhando desse jeito, mas muitos simplesmente mudaram de ramo - como o ex-astro que aparece na reportagem (assinada por Irving Alves), hoje um modesto personal trainer. Que grande perda para a humanidade.

CHEGOU A HORA, VAIS ME PAGAR

Uma amiga minha está furiosa com o namorado. Ele foi à despedida de solteiro de um amigo - em Las Vegas. Enquanto ele está lá indo ao Cirque du Soleil (NOT), ela trama sua vingança por aqui. A sorte do sujeito é que no Brasil ainda não existe um site como o Is Anyone Up?, sucesso de audiência nos Estados Unidos (quase 200 mil visitas por dia). Funciona assim: você manda para lá as fotos eróticas do seu/sua ex, e os caras publicam. Com um print screen da página do Facebook do felizardo! O FB já ameaçou processar, mas o dono do IAU?, Hunter Moore, devolveu a correspondência com uma foto do seu próprio pau. Afinal, a primeira rede social criada por Mark Zuckerberg comparava fotos de meninas com fotos de animais: quem é ele para acusar alguém de humilhar os outros? Por enquanto o Is Anyone Up? ainda não teve sérios problemas legais, porque as vítimas preferem não atrair ainda mais atenção para si mesmas e não tem saco nem dinheiro para entrar com uma ação. Fica a dica para quem levou um pé na bunda: é o seu castigo, brigou comigo...

terça-feira, 13 de março de 2012

REFLEXOS E MIRAGENS

O reflexo: Julianne Moore pode ir abrindo espaço em suas prateleiras para o Emmy e os outros prêmios que inevitavelmente ganhará por encarnar Sarah Palin no telefilme "Game Change". Este vídeo compara cenas reais com encenadas, e o resultado é digno de sessão espírita. Julianne anda dizendo por aí que difícil mesmo foi "capturar a alma" de Sarah, como se essa bruaca tivesse alma. Ainda mais impressionante que qualquer trabalho de interpretação é a tsunami de asneiras que a ex-candidata à vice-presidência americana desferiu durante a campanha de 2008. Sarah Palin é carismática, sem dúvida, mas sua indicação baixou de tal maneira o nível de exigência dos republicanos que o resultado está aí, nas patéticas primárias que o partido vem realizando nos EUA: um candidato mais despreparado que o outro. Obama vai precisar ser muito azarado ou muito incompetente para não ser reeleito em novembro ("Game Change" deve passar em breve na HBO Brasil, mas ainda não foi anunciado).

A miragem: este poster caiu na rede no fim de semana passado e logo se tornou viral. Até que enfim, um filme biográfico sobre Walt Disney! Estrelado por Ryan Gosling e dirigido por Ron Howard! A vida do criador do Mickey de fato renderia um filmaço, ainda mais se usassem os detalhes levantados pelo livro "The Dark Prince of Hollywood": consta que o papai Disney foi um tremendo dedo-duro, entregando dezenas de desafetos à caça aos comunistas empreendida pelo senador McCarthy nos anos 50. Mas dificilmente este lado sórdido apareceria numa produção da própria Disney, não é mesmo? Nem precisamos nos incomodar. Não há filme nenhum em produção. Tudo não passou de uma brincadeira do ilustrador francês Pascal Witaszek. De qualquer forma, stays the tip.

segunda-feira, 12 de março de 2012

EXTREMAMENTE LONGO E INCRIVELMENTE CHATO

Ganhei o livro "Extremely Loud and Incredibly Close" há alguns anos. Tentei ler, mas mal passei das primeiras páginas: aborrecidíssimo, com páginas em branco ou só com desenhos. Não tenho saco para essas literatices modernas. Mas fui ver o filme que este livro rendeu, que no Brasil ganhou o nome de "Tão Forte e Tão Perto". Basicamente por ter sido um dos nove indicados ao Oscar deste ano, um desses mistérios da Academia. Só pode ser por influência do produtor Scott Rudin, um dos mais influentes de Hollywood, porque havia muitos outros que mereciam mais. O filme é chato, piegas e previsível. Conta a história de um garoto que talvez tenha síndorme de Asperger - uma forma branda de autismo - que busca um sentido para a morte do pai, uma das vítimas do 11 de setembro. Tom Hanks faz esse pai, tão legal que não chega a ser crível. Aliás, algum dia alguém ainda vai fazer uma tese sobre essa obsessão do cinema americano (e também da literatura) com a figura paterna: parece que não existe conflito mais importante para um homem do que ser aceito e amado pelo próprio pai (já nos países latinos somos obcecados pela mãe, mas isto fica para outra dia). Em suma, o garoto beira o insuportável, e passar duas horas em sua companhia é quase um suplício. Pelo menos o resto do elenco é soberbo: Sandra Bullock, Viola Davis e Max von Sydow, o segundo ator num papel mudo a ser indicado ao Oscar em 2012. Mas ainda é pouco. "Tão Forte e Tão Perto" é o primeiro passo em falso de Stephen Daldry, que conseguiu ser indicado ao Oscar por todos os seus filmes anteriores ("Billy Elliot", "As Horas" e "O Leitor"). Este seu quarto trabalho devia ter sido ignorado pela Academia.

domingo, 11 de março de 2012

FREDDIE RETURNS

Não, é o Ricky Martin, que está para estrear uma nova montagem de "Evita" na Broadway (ele faz o Che). Mas teve alguém que não pensou no cantor do Queen quando viu esta foto?

OOH LA LÁ EM CASA

Sabe qual é o maior problema de gostar da dupla inglesa Goldfrapp? Eles mudam muito de estilo de um álbum para o outro. A estreia foi com o álbum "Felt Mountain", em 2000: baladas eletrônicas que soam modernas até hoje. Mas já no disco seguinte, "Black Cherry", eles aderiram às pistas de dança, e se aprofundaram no gênero com "Supernature", o trabalho de maior sucesso até hoje (e o único que eu não tenho, só de pirraça). As BPMs caíram em "Seventh Tree" e voltaram a subir em "Head First": agora essa esquizofrenia musical é convenientemente reunida na coletânea "The Singles", que ainda traz duas faixas inéditas (lentas, é claro, já que eles apareceram rápidos da última vez). Para complicar as coisas, Allison Goldfrapp é boa cantora, mas está longe de ter uma voz inconfundível: acho que só mesmo a mãe dela a reconhece a cada nova mutação. Falando assim parece que estou reclamando, mas a verdade é que o Goldfrapp construiu um sólido catálogo de hits que marcou toda a primeira década do século, e quem já experimentou sabe que ser versátil é uma enorme vantagem, hehehe. "The Singles" é ótimo para preencher lacunas, ou para apresentar Goldfrapp a quem conseguiu passar os últimos 12 anos sem conhecê-los.

Comprei junto com "Stage Whisper", o novo da Charlotte Gainsbourg. O vídeo de "Terrible Angels" já está na rede há alguns meses, e adoro o efeito low-tech de multiplicação das Charlottes. Também adoro o jeito dela de parisiense desencanada, que veste um jeans velho e uma jaqueta cheirando a Gitanes, e mesmo assim está ravissante. Mas a música em si não me convenceu muito: ouvindo no CD, sem nenhum apoio visual, ela me pareceu ter pegada parecida com "Oh La La" do Goldfrapp, veja só que coincidência cósmica. Metade de "Stage Whisper" são restos de estúdio: faixas que deviam ter entrado em "5:55", que ela gravou com o Air, e em "IRM", que ela gravou com o Beck. O resto é ao vivo, e Charlotte mostra que, como sua mãe Jane Birkin, nunca vai precisar de boa voz para ser uma boa cantora: basta saber escolher o repertório e ter um je ne sais quoi de nascença.

sábado, 10 de março de 2012

M.E.

Ainda não foi feito o filme definitivo sobre o Duque e a Duquesa de Windsor. Um que vá além daquilo que todo mundo já sabe e que explore se havia mesmo simpatia pelos nazistas de parte do herdeiro do trono inglês, e que foque também no day after da renúncia. A vida no exílio de Wallis e Edward foi mesmo um dolce far niente, ou, como acusava minha velha professora de inglês, ela cobriu de cornos a cabeça onde iria uma coroa? "W.E.", o badalado filme de Madonna, fica só na primeira metade da ehistória. Porque é um filme dividido em dois, que foi o jeito que a diretora encontrou para falar de si mesma. Não há nenhuma outra boa razão para espelhar o affair que abalou o império britânico com o draminha de moça quase-contemporânea que não consegue engravidar do marido frio. Digo quase porque essa trama paralela se passa em 1998, o ano em que os objetos pessoais dos duques foi a leilão na Sotheby's. A personagem de Abbie Cornish - mais rechonchuda do que de costume - fica obcecada por Wallis Simpson, o que não faz o menor sentido. A divorciada americana que mudou o rumo da monarquia tinha fama de debochada e jamais teve filhos - um role model esquisito para alguém que está louca para ser mãe. Seu probleminha é tão desinteressante que dá vontade de gritar cada vez que a câmera algo errática de Madonna se afasta dos flashbacks dos anos 30. "W.E." realmente fica muito melhor quando se fixa em Wallis e Edward, tanto que são estes os personagens que aparecem no poster. Mas, no fundo, não passa de uma tentativa de Madonna falar de seu fracassado casamento com Guy Ritchie: ela o acusa veladamente de não ter abdicado de nada por seu amor, e talvez de ter batido nela. Teria sido melhor transfomar tanto rancor em música, como aliás já fez. O filme tem ótimos atores (Andrea Riseborough é uma revelação), música suntuosa e fugurinos indicados ao Oscar, mas a saga dos Windsors merecia ainda mais. Madonna, para variar, só tem um assunto: ela mesma.

sexta-feira, 9 de março de 2012

A REVOLUÇÃO SERÁ TUITADA

Acho que, pela primeira vez na história da internet, o viral mais visto da semana não é o de um gatinho tocando xilofone ou coisa que o valha. “Kony 2012” foi postado segunda passada e já teve mais de 57 milhões de visualizações só no YouTube (atenção, Ecad! O vídeo tem música!). Mais impressionante ainda é o fato de durar nada menos do que meia hora e tratar de um assunto não-fofo: o Lord’s Resistance Army (Exército de Resistência do Senhor), na verdade um bando de cangaceiros sem causa que há anos aterroriza diversos países da África Central.

O filme foi feito por Jason Russell, que topou com o LRA e algumas de suas vítimas quando esteve em Uganda em 2003. Desde então ele vem dedicando grande parte do seu tempo a divulgar pelo mundo as desgraças que presenciou e a conclamar governos para que façam alguma coisa. Até agora, praticamente em vão: o conflito acontece em lugares remotos e desimportantes, onde nenhuma grande potência tem seus cidadãos ou interesses ameaçados.

Mas “Kony 2012” conseguiu em poucos dias o que anos de negociações não lograram: não só atraiu muita atenção para o assunto, como angariou milhões de dólares em doações. E já tem neguinho acusando que grande parte do dinheiro está sendo desviada para os bolsos dos dirigentes da ONG Invisible Children, assim como dizem que acontece num certo escritório central de arrecadação e distribuição. Esta matéria aqui do “New York Times” (em inglês) traz uma boa visão geral do fenômeno. Que ainda está se desenrolando, e pode se tornar o marco inicial de uma mudança radical nos rumos do planeta.

Não vou me deter muito nos méritos do filme em si. “Kony 2012” é descaradamente manipulativo, usando uma criancinha loura e edição clipada para tocar fundo em corações e mentes inexperientes. A cena em que um grupo de garotos aparece usando a camiseta do movimento me lembrou a juventude hitlerista. E é meio fácil pintar um negão de olhos injetados, sem amigos influentes nem base de apoio, como um vilão absoluto: quero ver fazerem o mesmo com figuras mais complexas, como Vladimir Putin ou o aiatolá Khamenei. Ninguém vai sair em defesa de Joseph Kony (não que ele mereça).

O que mais me interessa aqui é a capacidade mobilizadora da rede. Milhares de jovens parecem estar se engajando nesta causa, e se Kony realmente for capturado ainda este ano, todo mundo vai dizer que foi por causa do Youtube e do Facebook. As consequências disto são simplesmente inimagináveis. Claro que tudo pode não passar de um espasmo de “slacktivism”, ou ativismo preguiçoso: a indignação “fashion” de quem tem preguiça de sair da frente do computador. Semana que vem esta turma estará preocupada com outra coisa, talvez a circuncisão feminina ou as harpias em risco de extinção.

Mas convém prestar atenção. Todas as convulsões sociais são movidas por jovens idealistas. Quando um país tem uma grande porcentagem de sua população entre 17 e 30 anos, aí é que o caldo costuma entornar – que o diga o mundo árabe. E se podemos considerar a internet como um novo tipo de país, talvez possamos estar presenciando um novo tipo de revolução. Que já está sendo tuitada, é claro.

A TORTO E A DIREITO

O Ecad, o famigerado Escritório Central de Arrecadação e Distribuição, sempre arrecadou mais do que distribuiu, e se meteu em inúmeras confusões ao longo dos anos. É uma organização que vive procurando brechas na lei para achincalhar os incautos. Também é velho conhecido de promoters de festas e shows: seus fiscais sempre se materializam minutos antes do evento, ameaçando levar todo mundo para a delegacia se não forem pagos os direitos autorais das músicas que serão executadas. Direitos estes que, muitíssimas vezes, não encontram o caminho do bolso dos verdadeiros autores. O Ecad atua sem fiscalização e no amparo de uma legislação capenga, e vem incomodando até os próprios artistas a quem supostamente deveria defender. Semana passada, os caras soltaram um balão de ensaio e partiram para cima do Caligraffiti, um blog sobre design sem fins lucrativos. Mandaram o primeiro boleto de uma cobrança mensal de 352,59 reais pela utilização de vídeos do YouTube e do Vimeo - não importa quais, não importa quantos. Talvez não esperassem que a grita fosse tão grande: uma matéria publicada no jornal "O Globo" levantou a lebre para a blogosfera, e o assunto dominou as redes sociais esta semana. Dessa vez o Ecad simplesmente não sabe com quem está brigando: a internet é amorfa, sem dono, sem endereço. Não vai conseguir cobrar de todo mundo, é claro, e os que forem cobrados irão se unir para derrubar esse descalabro. A cobrança é ainda mais inusitada quando lembramos que muitos artistas hoje em dia disponibilizam as próprias faixas para download grátis. O Ecad precisa ser contido, porque daqui a pouco vai querer cobrar quando você assobiar na rua - afinal, se trata de uma execução pública, não é?

(mais detalhes nessa reportagem do Gizmodo)


ATUALIZAÇÃO ÀS 23:13: O YouTube se pronunciou sobre o caso, através de seu blog brasileiro. Parece que o Ecad está mesmo forçando a barra ao considerar o "embedamento" de um vídeo como uma retransmissão, já que tecnicamente não é isto o que acontece. Fora que neguinho lá no tal do escritório já deve estar arrependido de ter cobrado dos blogs, porque a repercussão do caso está jogando holofotes sobre as práticas escusas que rolam por lá. Quem mandou fazer marola?

quinta-feira, 8 de março de 2012

L'AIR DES BIJOUX

Depois de não deixar pedra sobre pedra na São Paulo Fashion Week, Rodrigo Rosner agora mexe com pedras propriamente ditas e lança sua primeira coleção de bijoux. Muito versáteis, também podem ser usadas com roupa.

EU VEJO FLORES EM VOCÊ

Cartões Gospel
Descobri mais uma vantagem de ser gay esta semana. Fui almoçar com uns garotos da agência onde eu trabalho e alguns estavam angustiados com a chegada iminente do Dia da Mulher. Pensei, porque é uma data que celebra as conquistas femininas e marca o início do fim da dominação machista da sociedade? Não: porque as namoradas esperam ganhar presentes neste dia. Nem que seja só uma rosa... Ah, tá boua? Eu sou publicitário e sei bem da infinita capacidade do marketing de monetizar qualquer coisa, mas o Dia da Mulher não foi criado para dar uma forcinha nas vendas do varejo. O dia 8 de março foi escolhido porque, em 1857, foi nesta data que aconteceu uma das primeiras greves de operárias, numa indústria têxtil em Nova York. Por essa lógica, 28 de junho deveria se transformar no Dia do Gay (por causa da revolta de Stonewall, em 1969), que também logo perderia sua contoação política e viraria comércio puro. Bem que eu estou precisando ganhar umas roupinhas.

(Eu ia dizer "Dia da Racha", mas fiquei com medo da reação violenta daquela bully da Marta Matui)

quarta-feira, 7 de março de 2012

RENOVANDO O HARÉM

Faz tempo que eu não falo dos meus noivos secretos, aqueles rapazes que nem suspeitam da minha existência mas estão prometidos para mim. O Benjamin Biolay continua firme no harém: ele nunca deixa faltar nada em casa e só me bate quando eu fiz por merecer. Já o Eduardo Noriega saiu para comprar Activia sabor creme de papaia e nunca mais voltou, e o Lambert Wilson não me procura desde que eu me recusei a pagar a fiança para ele sair de uma prisão turca. Além do mais, what's the point em manter um harém imaginário se não for para aumentá-lo de vez em quando? Hoje conheci um candidato à vaga que preenche todos os requisitos: é lindo, talentoso e rola uma química entre nós que dá para cortar com faca. Sim, ele é novinho, e eu sei bem o que dizem dos novinhos: beijam mal e não têm boas noções de higiene. Mas Grant Gustin foi a melhor parte do episódio de "Glee' que eu acabei de assistir, e olha que era final de temporada. O bully gordo que se revelou gay agora sofre bullying por ser gay e se mata. A Sue Sylvester está grávida. Aqueles dois chatos vão se casar. Peraí, o gordo não morreu. Enfim, mesmo com tanta coisa acontecendo no programa, eu só quero amar, só quero amar, e o tal do Gustin mostrou potencial. Vamos ver se vinga: os exames para meu seleto grupo são duríssimos.

KEEP CALM AND READ THIS POST

Keep calm and call Batman. Keep calm and act like Kate Middleton. Keep clam and shut up. É impossível viver em 2012 sem esbarrar em pelo menos uma variação por semana de "Keep Calm and Carry On", aquele poster vermelho com a coroa que se tornou um dos maiores memes visuais da atualidade. O que eu não sabia era a história por trás deste ícone. Devo andar numa fase meio marido traído: também fui um dos últimos a saber que o Lucio Dalla era gay. Hoje me deparei com esse simpático vídeo e descobri que esse design tão elegante, tão atual, foi feito em 1939. Era um dos três cartazes que o governo britânico criou para animar a população em tempos de guerra, e o único que não chegou a ser usado. Ficou guardado para o caso de uma invasão alemã, que nunca aconteceu. O poster foi redescoberto há alguns anos numa livraria do norte da Inglaterra e desde então já passou por infinitas reencarnações: é só googlar e se apavorar. Também existem muitos sites onde você customiza o seu, e muitos aplicativos para smartphones. Vou experimentar o "oficial", da própria livraria, que é grátis. Keep calm and whatever.

terça-feira, 6 de março de 2012

È UN GAY MA NON SE DICE

Postei semana passada sobre a morte do Lucio Dalla, mas nunca fiz a mais puta da ideia que o cara era finocchio. Hoje o Luciano do "Muque de Peão" me deu um toque nos comentários, e eu fiquei passado no burro di salvia quando li este post que ele subiu em seu blog. O assunto é tão importante (e o vídeo tão emocionante) que eu não resisto a publicar aqui também. Marco Alemanno, 40 anos mais moço que o cantautore, foi o único leigo que falou durante seu funeral na catedral de Bologna, domingo passado - justo o dia em que Dalla completaria 70 anos de idade. Na hora ninguém falou nada, mas logo depois ficou claríssimo que o rapaz era o namorado do falecido. Primeiro Alemanno recita a letra da canção "Le Rondini" ("As Andorinhas"), depois agradece por ter crescido ao lado de Dalla e por tudo que ele lhe deu e ainda dá. Repare na cara-de-pôquer dos padres atrás do rapaz quando ele desata em prantos ao final do vídeo. Isto é, se você não estiver chorando também.

Lucio Dalla jamais saiu do armário e ninguém deve criticá-lo por isto. A Itália é um ambiente quase hostil para gays e lésbicas, dada a presença avassaladora da Santa Madre Igreja. Também é o reinado da hipocrisia, essa milenar prática católica: todo mundo faz, todo mundo sabe, mas ninguém comenta. A jornalista Lucia Annunziata, da RAI 3, comentou em seu programa que, se Dalla tivesse se assumido, a Igreja provavelmente teria se recusado a realizar esta missa por ele - e olha que o cara era católico fervoroso. "É gay, mas ninguém fala", diz ela. Até quando, porca miseria? Esse tipo de situação é confortável para quem? Claro que eu sei para quem. Mas para mim - para nós, e aí incluo também os héteros, porque qualquer preconceito é ruim para todo mundo - não é.

ATUALIZAÇÃO em 7/3: Este post repercutiu lá na "Folha", e o jornal me pediu para comentar o caso na minha coluna no F5. Está aqui para quem quiser ler - não precisa ser assinante do jornal e nem do UOL. E obrigado mais uma vez ao Luciano, que me deu a dica.

segunda-feira, 5 de março de 2012

PRINCESAS RICAS

Lindsay Lohan foi a anfitriã do "Saturday Night Live" exibido pela NBC no sábado passado. As críticas não são boas, mas gostei desse esquete aí em cima. Enquanto que no Brasil muita gente quer mandar a Val e a Narcisa para a guilhotina, lá nos EUA esse tipo de programa já não choca mais ninguém. Só quando as participantes vivem no mundo encantado dos contos de fada, como é o caso das princesinhas da Disney. Ou da Brunete Fraccaroli.

PORCO MAL-PASSADO

Aposto que muita gente pensou a mesma coisa que eu ao ver o trailer de "Billi Pig": "olha, um filme brasileiro legal, parece que é bem engraçado". Mas não é. O diretor José Eduardo Belmonte vem de filmes-cabeça como "A Concepção" e nunca tinha feito uma comédia na vida. Talvez tivesse sido melhor se nem tivesse se arriscado, porque comédia não é mesmo seu forte. Tenho a sensação de que ele e seu roteirista se sentaram para um brainstorming, tiveram um monte de ideias malooookas e gostaram tanto de todas que não jogaram nenhuma fora. O resultado é que "Billi Pig" não tem foco, inclusive nas imagens: a insistência em close-ups desconfortáveis resulta em imagens feias e tremidas, num desapuro técnico que andava raro no cinema nacional. Mas é no roteiro mesmo que estão os maiores problemas. A história anda em zigue-zague e há dezenas de desvios inúteis pelo caminho, como a funerária malooooka comandada por Preta Gil. Gastou-se uma grana em efeitos especiais, como um porco de plástico que fala ou um pato pintado de azul turquesa, mas essa grana teria sido melhor empregada num script doctor que limpasse as situações e acrescentasse umas tiradas. Teve gente na sessão em que eu estava que riu para valer, mas eu saí com pena do desperdício de um elenco desse quilate - inclusive uma Grazi Massafera surpreendente, tão boa que virou tema da minha coluna de hoje no F5. "Billi Pig" tinha alguns ingredientes para se tornar um grande sucesso de bilheteria, mas os cozinheiros acrescentaram tantos outros que a receita desandou. Virou uma porcaria.

domingo, 4 de março de 2012

EVANGÉLICAS DESESPERADAS

O nome que aparece no vídeo aí acima está errado. A sigla "GCB" na verdade quer dizer "Good Christian BITCHES". Claro que algumas lideranças religiosas reclamaram, e o promo desta nova série da rede americana ABC em nenhum momento esclarece o significado das três letrinhas. Mas este era o título do livro original, adaptado para a TV por dois especialistas no assunto. O roteirista Robert Harling escreveu vários filmes focados no universo feminino, como "Flores de Aço" e "O Clube das Desquitadas". E o diretor Darren Starr vem nada menos do que "Sex and the City". Com o final iminente de "Desperate Housewives", a ABC quer encontrar logo um novo folhetim escandaloso. "GCB" conta a história de uma mulher que se separa do marido e é obrigada a voltar a morar com a mãe em Dallas, no Texas. Lá ela reencontra as antigas colegas de escola, a quem costumava humilhar na adolescência - e agora elas querem se vingar. O toque perverso é que essas peruas texanas se dizem ultra-cristãs, apesar dos quilos de jóias e das garras afiadas. A série estreia hoje à noite nos EUA e deve ser exibida no Brasil pelo canal Sony. Mas não quero esperar tanto: alguém aí teria um link?

ALALÁ-Ô

Hoje estou novamente nas páginas do caderno "Cotidiano" da "Folha de São Paulo". Fui convidado a escrever uma crônica sobre a onda de calor que se abateu sobre São Paulo na semana passada. A cidade é mal-preparada para temperaturas tão altas: nem os ricos têm ar condicionado em casa, e faltam espaços públicos para quem foge para a rua. O texto pode ser lido aqui, para assinantes do UOL ou do jornal.

sábado, 3 de março de 2012

O ERRO CRASSO DO HOPI HARI

“Estava absolutamente clara (a interdição da cadeira), naquele dia. Mas alguém, inadvertidamente, num erro crasso, habilitou aquela cadeira”. É o que diz Alberto Toron, advogado do Hopi Hari.

Eu sabia: sobrou para um funcionário qualquer.

É claro que o advogado do parque está cumprindo seu papel e tentando livrar seu cliente de qualquer sombra de culpa. Já levantou suspeitas sobre um técnico que teria liberado o brinquedo La Tour Eiffel na última vistoria. Também apontou o dedo para os monitores, que deixaram Gabriela Nychymura sentar numa cadeira desabilitada. E para um supervisor que, mesmo alertado por funcionários, teria deixado que a torre continuasse operando.

Anteriormente o Hopi Hari chegou a indicar o assento errado para a perícia. Essa tese caiu por terra ontem, com a divulgação de uma foto que mostra Gabriela sentada em outra cadeira – a mesma que aparece vazia em dezenas de outras fotos, postadas na internet por outros visitantes do parque.

E no meio dessa cortina de fumaça, há um dado que me salta aos olhos feito uma torre de aço no meio da planície: o assento fatídico estava interditado há dez anos.

Dez. Anos.

Como é que um troço como La Tour Eiffel fica dez anos com pelo menos uma cadeira capenga, sem que ela jamais tenha sido consertada ou substituída?

Não sou advogado. Não sou investigador. Acho que todas as partes precisam ser ouvidas e que todos os brinquedos do Hopi Hari têm que ser revirados pelo avesso – aliás, o parque permanecerá fechado por dez dias justamente para isto.

Mas uma cadeira “desabilitada” por dez longos anos num brinquedo onde o menor descuido pode ser fatal – como de fato foi – é um pouco meio muito.

Há relatos de outros turistas de que La Tour Eiffel chegava a funcionar com apenas sete assentos ocupados, dos vinte disponíveis. Estranho, hein?

O caso ainda está se desenrolando, e é interessante perceber como a internet pode contribuir para sua resolução. Alguns anos atrás, seria impensável que surgissem provas de tantos lados diferentes. Agora elas brotam aos borbotões, num mundo onde muita gente tem computador em casa e celular com câmera no bolso.

Torço para que o Hopi Hari continue funcionando. O parque é uma importante atração turística e gera centenas de empregos. Mas é fundamental que não paire nenhuma dúvida sobre a segurança de seus equipamentos. Enquanto isto não acontecer, nem eu nem ninguém da minha família poremos os pés lá.

SON OF "TAXI DRIVER"

O camarada dirige à noite pelas ruas da cidade, ao som de uma trilha atmosférica e sob a luz fria dos luminosos. Cruza com tudo quanto é tipo do submundo. Acaba arriscando tudo por causa de uma mocinha indefesa. Sounds familiar? "Drive" é um descendente direto do "Taxi Driver" de Martin Scorsese, mas não é um plágio nem uma refilmagem. É, sim, um fime muitíssimo bem dirigido, onde tudo funciona direitinho, do roteiro à montagem. Claro que qualquer filme encabeçado pelo Ryan Gosling, o-homem-mais-perfeito-do-universo-neste-momento, já larga com uns 200 kim de vantagem. Aqui ele faz um cara meio opaco que nem nome tem, e talvez também careça de personalidade. Fala pouco, sente as coisas no ar, mata num piscar de olhos e tem nobreza de sentimentos. Ou seja: é uma fantasia masculina de como um homem deveria ser. "Drive" causou sensação no festival de Cannes do ano passado e ganhou um monte de prêmios nesse meio tempo. É um thriller para adultos, com longos silêncios e explosões súbitas de velocidade e violência. Duvido que vire um clássico como seu "pai" ou mesmo "Pulp Fiction", mas gruda o olho do espectador até o final. Ah, e por falar em olho, tem um cena com um garfo... uia.

sexta-feira, 2 de março de 2012

LEVE-ME AO SEU LÍDER

Parece que foi decretada a semana dos cantautores aqui no meu blog. Vou falar de um deles pelo terceiro dia consecutivo. A bola da vez é o argentino Fito Páez, de quem eu já gostei muito (hoje nem tanto). Como muitos cantautores, Rodolfito resolveu dar um tempo nas autorias e acaba de lancar um disco só como cantor, interpretando várias de suas canções favoritas. Claro que o resultado é desigual, porque o gosto pessoal de alguém nunca bate com o de outro. Além do mais, timbre, afinação e alcance nunca foram o forte de Fito. Mas ele é indiscutivelmente um puta músico, e os arranjos de "Canciones para Aliens" estão entre os melhores de sua carreira, misturando tango e rock numa combinação que só é possível do lado de lá do Prata. O repertório inclui versões em espanhol para clássicos como "Ne Me Quitte Pas" de Jacques Brel, "Somebody to Love" do Queen e "Construção" de Chico Buarque - que conseguiu manter suas proparoxítonas intactas na tradução. O próprio Chico divide os vocais com Fito em "Tango (Promesas de Amor)", um tema instrumental de Ryuichi Sakamoto que ganhou letra em castelhano e talvez a melhor faixa do CD. Nenhum dos dois é uma virtuose do belcanto, mas é divertido ouvir esse encontro mercosulista. "Aliens" é o melhor trabalho de Fito Páez em muitos anos, e está literalmente indo para o espaço: um observatório de Buenos Aires está transmitindo o disco em ondas eletromagnéticas para todo o universo. Depois, se formos invadidos, já sabemos por quê.

IRANIANAS RICAS

"Mulheres Ricas" causou um pequeno escândalo no Brasil porque aqui a ostentação da riqueza é quase sempre ofensiva, dada a imensa desigualdade social que ainda crassa entre nós. Os Estados Unidos estão cada vez mais desiguais, mas por lá eles ainda acreditam no mito de serem a terra das oportunidades: para ficar rico basta trabalhar duro. Cada vez mais estudos apontam que não, muito pelo contrário - o país é a democracia ocidental onde são menores as chances de se nascer pobre e morrer rico. Mesmo asim, reality shows mostrando o estilo de vida dos ricos e famosos fazem sucesso há mais de vinte anos. Paris Hiton, as irmãs Kardashian e dezenas de "real housewives" chegaram à fama, ou a um arremedo dela, por essa vias tortas. Agora o canal Bravo!, um especialista no gênero, investe no dia-a-dia de uma colônia estrangeira que até agora passou meio batida por lá: os iranianos. Eles ainda aparecem pouco na mídia, mas na região de Los Angeles são tantos que a cidade já foi até apelidada de Teerã-ngeles. "The Shahs of Sunset" tem um título enganoso porque nenhum dos retratados tem a ver com a deposta família real persa. Era gente de classe média que fugiu do Irã em 1984, chegou a viver em semi-favelas na Alemanha mas que acabou se dando bem em Beverly Hills (de vez em quando o mito ainda funciona). Entre os homens há um gay assumido e um bonitão que lembra o Freddie Mercury. Mas claro que as mulheres é que roubam as atenções: entre elas há uma que se auto-intitula "the persian Lady Gaga", como se isto fosse bom. Dificlmente "The Shahs of Sunset" vai passar por aqui, mas a internet existe para isto mesmo, n'est-ce pas?

quinta-feira, 1 de março de 2012

FILME: O FILME

Não entendo muito porque os produtores da cerimônia de entrega do Oscar insistem em não deixar que as canções indicadas ganhem performances no palco. Eles preferem rechear as três horas e tanto de programa (que não diminuem, porque os intervalos comerciais são todos vendidos) com tributos e depoimentos chatíssimos sobre a "magia do cinema". Completamente desnecessários, aliás, porque quem assiste aos Oscars não precisa ser convencido da maravilha que é a sétima arte. Fora que neste ano não houve melhor homenagem do que "Movie: The Movie", o "mais longo e mais caro trailer de todos os tempos para um filme que não vai ser feito". Esse curta-metragem foi rodado para o talk-show de Jimmy Kimmel e reúne praticamente todos os astros e estrelas do cinema atual: Tom Hanks, George Clooney, Charlize Theron, Helen Mirren, Gary Oldman, Martin Scorsese, Chewbacca, you name it. Também junta todos os clichês possíveis (inclusive o beijo gay) numa única trama sem o menor sentido. O sucesso foi tão grande que logo surgiu um making of, quase tão bom quanto. Meu momento favorito? Ó dúvida cruel: estou entre "Meryl Streep... with a moustache" e "based on the novel "Push" by Saphire".

TE VOGLIO BENE ASSAI

Foi só eu falar no Leonard Cohen e eis que outro popstar da terceira idade me morre. Foi Lucio Dalla, o nome mais importante da música italiana dos últimos 50 anos, que sofreu um ataque cardíaco na manhã de hoje em Montreux, na Suíça, onde se preparava para uma série de concertos. Faria 69 anos no domingo. Dalla foi, ao lado de Laura Pausini, o maior responsável pela volta das canzoni aos ouvidos brasileiros. Por aqui se ouvia muita Gigliola Cinquetti e Rita Pavone até o começo dos anos 70. Depois, não sei se foi por influência da ditadura militar ou se foi o peso esmagador do showbiz americano: o fato é que, de uma hora para a outra, praticamente a única língua estrangeira que se ouvia nas nossas rádios era o inglês. "Caruso", de Lucio Dalla, foi um dos ponta-de-lança que rompeu essa barreira no comecinho dos anos 90, seguido pouco depois pela "Solitudine" da Pausini. O cara era um cantautore fenomenal, melhor autore que cantore, è vero, e sua influência vai muito além do território da bota. Só tenho dois discos dele e nunca o vi em cena, mas tive a sorte de assistir em Roma, em 2003, à sua versão para a "Tosca". Isto mesmo: Dalla pegou o libreto clássico, jogou fora TODA a música da ópera de Puccini e compôs uma trilha nova, misturando jazz e pop e criando um musical que depois chegou à Broadway. Clique aqui e baixe "Amore Disperato", o carro-chefe do espetáculo, um dueto do próprio Dalla com a não menos mítica Mina. Mas claro que o que não me sai da cabeça neste momento é mesmo "Caruso", uma meditação sobre os últimos momentos de vida do grande tenor, contemplando a paisagem belíssima de sua terra natal e se despedindo da mulher:

Qui dove il mare luccica
e grida forte il vento
su una vecchia terrazza vicina
al golfo di Surriento...