terça-feira, 31 de janeiro de 2012

I HATE MY HORSE

O que é que eu estou esperando para criar um perfil falso no Twitter e ficar rico e famoso? Veja o caso de Babe Walker, que tuíta como White Girl Problems. Babe na verdade são três pessoas, dois rapazes e uma moça, que desde 2010 fazem sucesso reclamando dos gravíssimos problemas que afligem as patricinhas, como o que dá título a este post. A brincadeira virou blog e acaba de ser transformada em livro - quanto falta para chegar ao cinema? Babe adoraria ser interpretada por sua "ídala" Gwyneth Paltrow. Totalmente auto-centrada, obcecada com a aparência e despudoradamente consumista: não faltam similares por aqui. Alguém se habilita? Lá vão algumas pérolas de inspiração:

- Esta música me lembra de mim mesma.

- O espírito animal que me protege é a pele (dos casacos).

- A Fashion Week foi uma merda. Adoro.

- Preciso perder seis mil quilos.

- Alguém aí sabe o que é um Kindle?

À SUA ESCOLHA

Depois de ter dito à revista do "New York Times" que havia escolhido ser gay, Cynthia Nixon se sentiu obrigada a esclarecer melhor o que realmente quis dizer. As declarações da atriz provocaram uma enorme celeuma no meio LGBT americano, onde "born this way" é uma palavra de ordem - em reação às lideranças religiosoas, que sustentam que a orientação sexual é uma opção consciente e que portanto pode ser revertida. A Miranda de "Sex and the City" reparaceu para dizer que não é bem assim e que na verdade ela é bissexual e que escolheu "estar numa relação gay". Ou seja, admitiu que seus desejos são espontâneos e incontroláveis. E que sua única escolha foi vivenciar esses deejos e não fazer segredo sobre eles. Mais ou menos como é o caso de todos os gays, lésbicas e bissexuais assumidos.

Aliás, tenho até dúvidas se Cynthia Nixon seria mesmo bi... Já viu a cara de sua mulher, Christine Marinoni? É mais máscula que o Chaz Bono. Mas isto não vem ao caso. O que realmente interessa é que Cynthia levantou um ponto crucial: e se a sexualidade fosse mesmo uma escolha? Qual o mal disto? "Não importa como chegamos até aqui, importa o que somos". Quando insistimos que a homossexualidade é algo inato, estamos de certa forma admitindo que ela seja um defeito de fabricação. O homossexual não deve ser discriminado porque nasceu assim, coitado. É quase um autista, ou um deficiente físico: não tem culpa de ser assim. Merece compreensão, e não desprezo.

Defeito o meu cu. A verdade é que a ciência ainda não determinou as causas ou os propósitos da homossexualidade, mas circulam algumas teorias muito interessantes. A óbvia é que ela serviria como um mecanismo biológico para controlar a população. Existe uma outra, mais provocante, que alega que o suposto gene da viadagem, quando "cai" numa mulher, deixa-a mais "fogosa", mais interessada em sexo - e portanto mais apta para se reproduzir e passar sua carga genética adiante. Quando "cai" num homem, transforma-o em bicha. Esta explicação leva em conta que a homossexualidade masculina ocorre em absolutamente todas as culturas da Terra, portanto teria um fundo biológico e não cultural. E um gene desses não sobreviviria tanto tempo nem seria tão difundido se não trouxesse alguma vantagem evolutiva, ou seja: se não facilitasse a reprodução da espécie. Já a homossexualidade feminina teria outras causas genéticas, ainda menos decifradas.

O fato é que a maioria dos cientistas concorda que a orientação sexual é resultado da mistura de alguma predisposição genética com as influências do meio. Vejamos o fenômeno dos gêmeos idênticos que foram criados separados: se um deles for gay, é enorme a possibilidade do outro também ser. Mas se a genética fosse tudo, ambos seriam, em 100% dos casos.

O blog "Muque de Peão", do meu amigo Luciano, apontou para um ótimo artigo do colunista Frank Bruni no mesmo "New York Times". Bruni é gay assumido e defende que a homossexualidade seja respeitada de qualquer jeito, seja ela inata ou escolhida. O cara lembra que a cor da pele é totalmente natural, e nem por isto os negros deixaram de sofrer com o racismo. Além do mais, a religião, esse direito garantido por todas as constituições ocidentais, é uma escolha: podemos e devemos escolher no que crer e não crer, e ninguém pode nos perseguir por isto. Ele tem razão. Porque a homossexualidade não é um defeito nem uma qualidade: é só uma característica. Ponto.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

EIS O VEREDITO

Olha aí a reversão de expectativa de novo, gente: fui ver "Doze Homens e uma Sentença" crente que ia adorar e etc. etc. A peça ganhou o prêmio de melhor espetáclo de 2010 da APCA, levou quatro estrelas na "Vejinha" e muitos elogios ao "excepcional" elenco masculino. Como nunca tinha visto sequer o clássico filme de Sidney Lumet, estrelado por Henry Fonda (que foi refeito para a TV há alguns anos), achei que iria me esbaldar. Qual o quê. O texto está ligeiramente datado mas ainda é intrigante, com as pistas de um crime hediondo sendo descartadas uma a uma, feito casca de cebola. Mas os atores são bastante irregulares. Isto era de se esperar com um elenco tão grande, mas achei que ninguém está sensacional do começo ao fim. E Henri Pagnoncelli, no papel crucial do jurado que vai contra a opinião de seus colegas, é um canastrão monumental, de um tamanho a que a telinha da TV simplesmente não consegue fazer justiça. O palco do Tucarena aumenta a boa sensação de sermos uma mosca na parede de um tribunal, mas entrei no teatro achando que iria ver 12 grandes interpretações e não vi nenhuma. O júri está dispensado.

E FAZER TUDO O QUE EU QUERIA FAZER

Quer saber? Acho que a Rita Lee encerrou com chave de ouro sua carreira nos palcos ao ser presa depois do show de Aracaju. Sua repulsa aos policiais que achacavam o público é totalmente coerente com sua trajetória: Rita teve dezenas de precalços com as autoridades ao longo dos anos por conta de baseados y otras cositas más, e jamais enfiou o rabo entre as pernas. Essa visita à delegacia sergipana é praticamente uma medalha de honra ao mérito, um prêmio pelos serviços prestados na luta pelas liberdades individuais. Mas muita gente não entendeu assim: é assustador ler os comentários na internet xingando a cantora de bandida e incitadora da desordem pública. O Brasil está encaretando a passos largos, e precisamos de mais gente como Rita para nos libertar dessa vida vulgar.

domingo, 29 de janeiro de 2012

O HOMEM QUE NÃO AMAVA AS MULHERES

A reversão de expectativa funciona em mão dupla: fui ver "J. Edgar" achando que não ia gostar, e gostei. Não sou muito fã do Clint Eastwood, as críticas não eram boas e o filme não recebeu uma mísera indicação ao Oscar, Tudo isto fez com que eu fosse ao cinema meio que por orbigação, e acabei me envolvendo com a história. Que é realmente interessante: J. Edgar Hoover, o cara que praticamente inventou o FBI e as modernas técnicas de investigação, investia na imagem de durão, mas muito provavelmente era gay. Digo "muito provavelmente" porque não há provas cabais. Hoover nunca se casou e era visto sempre com um assessor, que depois também se tornou seu herdeiro. Logo após sua morte, circularam rumores de que elet ambém gostava de se vestir de mulher. O roteirista Dustin Lance Black, que ganhou um Oscar por "Milk", dá asas à imaginação e inventa muitas situações, mas mantém o personagem o tempo todo no armário, em permanente conflito consigo mesmo. Leonardo Di Caprio está muito bem no papel, apesar de, aos 37 anos, ainda conservar voz e ar de adolescente. Bem pior é a maquiagem de envelhecimento, que deixou o ator Armie Hammer parecendo estar usando uma meascara de parque de diversões. É engraçado saber que, antes de Hoover, ninguém se preocupava com impressões digitais ou em não mexer na cena de um crime; foi ele quem estabeleceu procedimentos que hoje nos parecem naturais. Pena que ele não soube lidar com usa propria natureza, pois foi um homem atormentado. Quer dizer, pena para ele - nós ganhamos um bom filme.

VOZ COM AREIA

Concha Buika é esperta: aproveitando a exposição mundial que ganhou com sua aparição em "A Pele que Habito", ela acaba de lançar sua primeira compilação. E para que ninguém tenha dúvidas de que se trata da mesma cantora do filme de Almodóvar, o CD se chama "En Mi Piel" e abre com as duas canções que ela interpreta na tela. As demais vêm de seus outros discos, nenhum deles lançado no Brasil - o que é uma pena. Buika tem muito a ver conosco, por ser uma autêntica ibero-africana (seus pais vieram da Guiné Equatorial, a única colônia espanhola da África, mas ela nasceu em Palma de Mallorca). Sua voz não tem nada de cristalina, pelo contrário: não sei se é aquela rouquidão típica do flamenco ou de alguns cantores africanos, não sei é por culpa do cigarro que ela empunha com galhardia na capa do álbum. O fato é que Buika soa vivida, sofrida, sambada pela vida, e não é por outra razão que ela regravou grande parte do repertório de Chavela Vargas. "En Mi Piel" soa familiar e exótico ao mesmo tempo para os ouvidos brasileiros, e é a oportunidade perfeita para conhecer melhor essa grande cantora. Aliás, quando é mesmo que ela vem fazer shows por aqui?

sábado, 28 de janeiro de 2012

TATTOO YOU

Taí, não gostei mais da versão americana de "Os Homens que Não Amavam as Mulheres" do que da sueca. Não que o filme de David Fincher não seja melhor: ele tem a vantagem de passar o outro a limpo, deixando algumas arestas ainda mais pontiagudas (aqui não tem essa de apará-las). Mas claro que não tive o impacto da primeira vez, quando não sabia o final da história, por mais que agora os roteiristas tenham mudado alguns detalhes. O fato é que essa "Girl with the Dragon Tattoo" (o nome americano do primeiro episódio da trilogia "Milênio") agarra a atenção do espectador feito um assaltante, apesar do epílogo um pouco longo demais. Rooney Mara faz uma Lisbeth Salander mais tristonha e vulnerável que a de Noomi Rapace, e ainda mais pelada - façanha admirável para uma jovem atriz americana. Ela ofusca Daniel Craig completamente e boa parte do elenco estelar. Fincher me pareceu mais contido do que em "A Rede Social", um filme muito mais "comportado", mas a trilha de Trent Raznor - muito mais para o "sound design" do que para a música propriamente dita - mantém alto o nível de modernidade. E por falar em moderno, lá em cima estão os créditos de abertura, que emulam James Bond ao som de "Immigrant Song", do Led Zeppelin, na voz de Karen O."Os Homens..." está fazendo menos dinheiro que o esperado, mas já estão prometidas as duas continuações. Estarei lá.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

LANÇA TODO ESSE PERFUME

A imprensa brasileira deitou e rolou esta semana. Enquanto Ashton Kutcher curtia a noite paulistana segunda passada, sua ex- Demi Moore era internada depois de uma convulsão - possivelmente causada pela ingestão de uns tais de whip-its. Queriam o quê, que ele estivesse ingerindo com ela? E que droga é essa, de que eu nunca ouvi falar? Hehehe, pelo menos não com esse nome de música do Devo. Segundo o Google Images, aqui no Brasil o whip-it também tem nome de música, e é da Rita Lee. Ou no mínimo é um parente próximo, algo assim como os antigos "cheirinhos da Loló". Como toda a minha geração, cheirei muito lança no início dos anos 80 (naquela época cheirava-se até desodorante Moderato, que dava barato e rimava). Principalmente num carnaval que eu passei em Amambai, Mato Grosso do Sul, bem pertinho da fronteira do Paraguai e de suas leis camaradas. Hoje em dia não chego nem perto, porque certa vez "cheirei pela boca" (quem nunca?) e quase tive uma experiência extra-corporal. A Demi deve ter pouca prática, ou então está mesmo tentando fazer o Ashton se sentir culpado. Não rolou, porque terça ele já estava numas de if I catch you no Summer Soul Festival. Toma cuidado, menina, para não whip it good da próxima vez.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O MUNDO VIROU DE PATAS PARA O AR

Deus é testemunha que jamais postei um único vídeo evangélico aqui no blog, mas vou abrir exceção para a irmã Sofia. Ela é uma morena de Angola que não traz o chocalho na canela, mas é óbvio que o chocalho mexe com ela. Este clipe já tem três anos, mas só hoje chegou em mim. Ainda dá tempo de sair dançando pela rua e beijando na boca de desconhecidos - kkkk, cara na poeira!

ZONA DE CONFORTO

Quem não gostaria de conhecer por dentro um bordel francês da belle époque? Até eu, que sou gay, teria vontade de ir a um lugar desses, e não só por causa da decoração suntuosa e do champagne a rodo. Mas claro que “L’Apollonide – Amores na Casa de Tolerância” vai além disto. Mesmo cercadas de luxo, a vida dessas prostitutas não era fácil: eram praticamente escravas, por causa de dívidas impagáveis com a cafetina, e permantemente ameaçadas pela gravidez indesejada, as doenças venéreas e a sanha dos clientes. As atrizes são todas ótimas têm corpos condizentes com a virada do século passado, com seios naturais e gordurinhas que só aumentam o fator gostosura. Mas o roteiro do diretor Bertrand Bonello não lhes faz justiça: não há propriamente uma trama, só situações dispersas que não são concluídas com clareza, e um excesso de tempos mortos. Vida de puta é um tema inesgotável e “L’Apollonide” tem momentos fortes, mas um pouco mais de tesão teria lhe feito muito bem.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

QUEM TEM BOCA

Não resisto ao clichê cafona e digo que São Paulo, esta Roma terceiro-mundista, ganhou um presente à altura no dia do seu aniversário. A mostra "Roma - a Vida e os Imperadores" abriu hoje no MASP, onde fica até o final de abril. É a maior coleção de objetos e obras de arte romanas jamais exibida no Brasil, e é magnífica. Já estive na Itália duas vezes, visitei trocentos museus e ruínas, e mesmo assim esta exposição - que não é imeeensa e pode ser visitada com calma em pouco mais de uma hora - me tirou o fôlego diversas vezes. Nunca tinha visto um baixo-relevo como "O Vendedor de Almofadas", onde as dita cujas parecem fofas apesar de serem escupidas em mármore, nem nada como o esqueletinho de metal usado como aviso lúgubre em algumas casas. Também tive a sensação de que a mostra foi inaugurada antes de estar pronta: faltam explicações e alguns termos foram mal traduzidos. Mas isto é o de menos. O conjunto impressiona, inclusive pelo pesadelo que deve ter sido trazer tudo isto para cá. Roma é a nossa matriz mais profunda.

(e como não mencionar o gigantesco falo vindo do Museu Arqueológio de Florença, associado a cultos de fertilidade? Você quer ver, não quer?)

RETRO-PALPITAÇÃO

Já fui melhor nisto. Quase todo ano eu soltava um longo post com uma prévia do Oscar, avaliando as chances de cada um os principais concorrentes. Mas minha vida anda tão cheia que só hoje, mais de 24 horas depois de saírem as indicações, que eu encontro tempo e disposição para comentá-las. E meus comentários não têm nada de especial: tive as mesmas surpresas que todo mundo. Mas, só para não perder o costume, lá vão eles:

- Minha amada Glenn Close conseguiu ser indicada depois de 23 anos em jejum, mas sua probabilidade de levar a estatueta é pequena. "Albert Nobbs" não pegou muito bem. E coitada da Tilda Swinton, que todo ano merece estar entre as finalistas e é sempre esnobada. Dessa vez ela perdeu o lugar para a novata Rooney Mara, no mesmo papel que quase rendeu uma indicação para Noomi Rapace ano passado (pela versão sueca de "Os Homens que não Amavam as Mulheres"). Mas a briga pelo prêmio de melhor atriz vai ficar entre as amigas Meryl Streep e Viola Davis. Meu palpite: esa última leva, inclusive porque é negra. Aliás, este ano também teremos uma negra como melhor atriz coadjuvante: Octavia Spencer, pelo mesmo "Histórias Cruzadas" (que eu vi num avião - mais para a frente eu comento). Ambas merecem.

- Fico feliz pelo Demián Bichir, ator mexicano que fez o prefeito traficante que se casa com Mary-Louise Parker na série "Weeds". E Gary Oldman já tinha que ter sido indicado há quase 20 anos, pelo "Dracula" de Coppola. Antes tarde do que nunca. Mas quem ganha é George Clooney, pela segunda vez.

- "The Artist" vai ganhar em quase todas as suas categorias, mas não duvido que a Academia dê um segundo Oscar de direção para Martin Scorsese. O cara é simplesmente o melhor do mundo, e só ganhou uma vez até hoje.

- O que é a força de um produtor, hein? "Tão Forte e Tão Perto" só ficou entre os nove indicados a melhor filme porque Scott Rudin é ultra-bem conectado em Hollywood (em vários sentidos, if you know what I mean). Mas até a influência do cara tem limite: Stephen Daldry, o diretor do filme, perdeu a chance de ser indicado pela quarta vez consecutiva. E não vejo a hora da principal categoria do Oscar voltar a ter apenas cinco indicados. Nove é ridículo.

- Que merda é essa categoria de melhor canção, com só dois indicados? Pelo menos um deles é 100% brasileiro: "Real in Rio", assinada por Sergio Mendes e Carlinhos Brown. E eu ainda achei que dessa vez a Academia se renderia a Madonna... Mas "Masterpiece" ficou de fora, apesar de ter ganho o Globo de Ouro. Pelo menos seu filme "W.E." foi lembrado para melhor figurino.

- A categoria de longa em animação também precisa rever suas regras. "As Aventuras de Tintin" não foi indicado porque os a técnica "motion capture" não é considerada animação (mas computação gráfica e massinha são, vai entender). Se o "Tintin" de Spielberg tem algum defeito, é justamente porque é animado demais. E é melhor do que todos os cinco finalistas juntos.

A cerimônia de entrega acontece dia 26 de fevereiro, na semana depois do carnaval. Espero ver o máximo de indicados possíveis até lá.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

SEX AND THE CHOICE

Semana passada saiu no "New York Times" um longo perfil da Cynthia Nixon, a Miranda de "Sex and the City". sua personagem na série era frequentemente confundida com uma lésbica, e, na vida real, Cynthia se separou do pai de seus dois filhos para juntar os trapinhos com outra moça. Ela nunca fez muito mistério sobre sua vida particular e já declarou seu apoio à causa igualitária mais de uma vez. Mas há pouco tempo, durante uma palestra de motivação a uma plateia gay, Cynthia soltou uma frase que está causando rebuliço: "Já fui hétero e já fui gay, e ser gay é melhor". Então ela escolheu ser gay? Vamos deixá-la se explicar:

"Queriam que eu mudasse a frase, porque achavam que eu quis dizer que a homossexualidade pode ser uma escolha. E para mim, é uma escolha. Eu entendo que para muita gente não é, mas para mim é uma escolha, e ninguém pode definir minha homossexualidade por mim. Parte da nossa comunidade prefere que ser homossexual não seja visto como uma escolha, porque, se for uma escolha, então a gente poderia escolher não ser. Eu já digo que não interessa se voamos ou nadamos até aqui. O que interessa é que estamos aqui e somos um grupo, e vamos parar de fazer testes para decidir quem é gay e quem não é. Este assunto me incomoda muito. Por que não pode ser uma escolha? Por que seria menos legítimo? Parece que estamos dando razão aos homofóbicos, e eu não acho que eles deveriam definir os termos do debate. Também sinto que as pessoas acham que eu andava dentro de uma nuvem e não sabia que era gay, o que eu acho tremendamente ofensivo. não só para mim, mas para todos os homens com quem eu estive."

Hmmm. Cynthia tem razão em muitas coisas, como não deixar que os reaças tomem as rédeas da discussão. Mas acho que ela se equivoca num ponto: ninguém escolhe sua atração sexual. Mal comparando, assim como não se escolhe gostar de repolho ou de mortadela: você gosta e ponto. A escolha que pode ser feita é VIVENCIAR esta atração, pô-la em prática, assumi-la. É justamente esta escolha que incomoda setores da Igreja Católica, que acham que os gays devem permanecer quietinhos no armário e rezar para Deus lhes dar forças para resistir às tentações. Cynthia obviamente escolheu viver sua vida com dignidade e orgulho, e é ótimo que uma atriz de sua estatura não tenha receio de exibir a mulher por aí (não é mesmo, Jodie Foster?). Mas sua trajetória de hétero a gay (bastante comum entre as mulheres) na verdade só mostra como os rótulos são furados. E se amanhã ela voltar a namorar homens, como fez Anne Heche? Mas é a propria Cynthia quem diz que não importa como chegamos até aqui. Também não importa para onde vamos: o que interessa é sermos sempre respeitados, pelo que somos, já fomos ou ainda seremos.

UMA CAIXA D'ÁGUA

Se "2 Coelhos" fosse uma pessoa, seria uma criança hiperativa, dessas inteligentíssimas que não param quietas um minuto. O filme faz tanta força para ser moderninho que quase fica cansativo: desde o primeiro frame, não cessam as animações, as intervenções e os efeitos especiais. A fotografia lavada parece ter passado pelos filtros do Instagram e a edição frenética lembra um videogame com joystick descontrolado. Ainda bem que nessa barafunda toda existe um ótimo roteiro - totalmente inverossímil e cheio de furos, mas sem barriga e capaz de prender a atenção até o final surpreendente. E também em elenco incrível, com destaque para Marat Descartes. Vi este ator ainda pouco conhecido na recente montagem de "Ligações Perigsoas", e seu afetado visconde de Valmont de lá não me deixou reconhecê-lo como o bandido Máicon que ele faz aqui. O diretor e roteirista Afonso Poyart vem da publicidade, e é verdade que sua estreia no longa-metragem tem alguns cacoetes publicitários. Mas também é verdade que "2 Coelhos" matou de um só golpe meu enfado com os "favela-movies" e meu descrédito sobre a possibilidade de um bom filme brasileiro de ação.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A INVENÇÃO DA HETEROSSEXUALIDADE

Homens e mulheres transam entre si desde sempre, é óbvio. Mas, até o final do século 19, não existia a palavra “heterossexual” – assim como não existia “homossexual”. Elas foram criadas ao mesmo tempo por um jornalista austro-húngaro, e rapidamente encampadas pela nascente psicanálise. Então quer dizer que antes disto não havia rótulos e todo mundo comia todo mundo? Não exatamente, mas a criação de duas categorias estanques foi fundamental para a gênese do homem moderno. É o que defende a escritora Hanne Blank, ela propria casada com um/a hermafrodita. Seu livro “Straight” só sai semana que vem nos Estados Unidos, mas já vem chamando atenção e provocando debates. Faz tempo que se sabe que a sexualidade é por demais ampla e fluida para aceitar rótulos, mas as ideias de Blank são complexas e merecem atenção. Ela diz, por exemplo que ninguém “nasce” homo ou hétero – tudo o que a direita religiosa gostaria de ouvir – mas que as identidades sexuais são construídas tanto pela natureza quanto pela cultura. É um pensamento interessante. Depois de ler esta entrevista dela no site “Salon”, fiquei com vontade de encomendar o livro.

domingo, 22 de janeiro de 2012

SUSPIRO DE ALÍVIO

Fiu. Steven Spielberg não conseguiu estragar Tintin. Eu estava muito apreensivo antes de ver o filme, com medo que o visual esquisito e a mistura de histórias não fizesse justiça à obra de Hergé. Mas faz, e até mais: acredito que o desenhista belga, se ainda estivesse vivo, explodiria de orgulho ao ver suas criaturas na tela. As reverências a Georges Rémi (ou R.G. - com pronúncia francesa, é o pseudônimo do autor) começam nos maravilhosos créditos de abertura, e adivinha quem é o primeiro persnagem que aparece em cena? Quase fui às lágrimas. A riqueza de detalhes é impressionante, e reconhecer tantos rostos conhecidos me fez sentir que estava sonhando. Só um rosto não funciona: o do próprio Tintin, que ficou arredondado demais. Tinha que ser mais comprido. Mas todos os outros estão perfeitos, do Capitão Haddock a Bianca Castafiore. Estamos longe do estilo "linha clara" desenvolvido por Hergé, mas que delícia que é poder entrar na casa do Tintin em 3D e revirar as gavetas! A trama mistura "O Segredo do Licorne" com "O Caranguejo das Tenazes de Ouro" e "O Tesouro de Rackham, o Terrível", ignora muita coisa dos álbuns e exagera nas piadas e na ação, tornando tudo mais cinematográfico. Não gostei de algumas soluções, é claro, nem da Castafiore NÃO cantar a "Ária das Jóias". Mas isto porque sou um obcecado e Tintin é meu romance de formação. Leio desde os seis anos de idade e nunca parei. Com "As Aventuras de Tintin", Spielberg pagou a dívida que tinha com Hergé desde 1982 e reembalou o jovem repórter para as novas gerações. Com mil raios e trovões que a tecnologia de hoje proprociona, mas fiel ao espírito dos quadrinhos. Adorei.

sábado, 21 de janeiro de 2012

QUEM CONVENCE GANHA MAIS

Preferia que "A Separação" não tivesse chegado Brasil carregado de prêmios (Urso de Ouro em Berlim, Globo de Ouro semana passada) e fosse o favorito ao Oscar de filme em língua estrangeira. Fui ao cinema esperando levar uma grande bofetada, quando "A Separação" na verdade é uma sequência de bofetadinhas. Algumas são até imperceptíveis, daquelas que só doem para valer no dia seguinte. O estilo sem firulas do diretor Ashgar Farhadi - que também assinou o interessante "Procurando Elly" - leva o espectador para dentro da casa dos personagens e, aos poucos, para a cabeça também. Um tenso processo de divórcio piora ainda mais com a chegada de uma empregada. A mulher quer se mandar do irã, o marido quer ficar para cuidar do pai com Alzheimer; enquanto dura o impasse, ele contrata uma moça para tomar conta do velho. Esta, por sua vez, esconde do marido que está trabalhando. Explode um grande conflito com todos os matizes possíveis: luta de classes, machismo, intolerância religiosa. Cada um então expõe sua parte da verdade, num jogo onde todo mundo tem razão e culpa ao mesmo tempo. Todos os atores são excelentes e, por desconhecidos de nós, nos fazem acreditar que são mesmo aquelas pessoas. A única coisa que desvia a atenção é a beleza estonteante de Leila Hatami, uma Ingrid Bergman persa. "A Separação" tem momentos árduos de se ver, com discussões acaloradas que lembram aquele programa do SBT onde fui jurado por um dia. Essta aridez pode não lhe garantir o Oscar, mas bem que ia ser legal o país mais hostil aos Estados Unidos faturar a estatueta.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

MAIÔ DE SOIRÉE

E o Rodrigo chegou lá. Depois de sete desfiles na Casa dos Criadores, meu amigo estreou hoje na São Paulo Fashion Week com sua marca R. Rosner. Eu devia estar mais nervoso do que ele, mas acho que o povo do mundinho gostou - os grtios e aplausos foram muitos no final (confira todos os looks aqui, neste vídeo do UOL). Agora uma dúvida me consome: se eu fosse mulher, linda e magra, teria coragem de ir de maiô a uma festa? Dãã, claro que teria.

PAGAR PEITINHO SAI CARO


As indicações para o prêmio César, o "Oscar francês", só saem daqui a uma semana. Mas uma lista com 32 finalistas nas categorias de revelação maculina e feminina foi divulgada em novembro. E há alguns dias surgiu o vídeo acima: tem coisa mais francesa do que todo mundo tirando a roupa, sob o pretexto de desnudar "corpo e alma"? Repare que ninguém de fato mostra nada, com uma honrosa exceção - a atriz iraniana Golshifteh Farahani, que pode ser indicada pelo maravilhoso "Frango com Ameixas". A moça já vive em Paris há alguns anos, mas agora está terminantemente proibida de retornar ao seu país natal. O escândalo ficou ainda maior graças à fotinha aí ao lado, publicada na revista "Madame Le Figaro". Nessas horas tenho vontade de mandar pro espaço qualquer respeito às diferenças: detesto uma cultura onde uma mulher não pode mostrar os ombros, mas pode ser apedrejada.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

SOMBRAS, NADA MAIS

Preciso escrever este post depressa, porque "Sherlock Holmes: o Jogo de Sombras" já está se evaporando da minha cabeça. O filme tem ótimos atores, fotografia primorosa, direção de arte e figurinos de alto luxo e magníficos efeitos especiais, e ainda assim é uma bosta. Por três singelas razões: roteiro, roteiro e roteiro. Nem sei se a história tem pé ou cabeça: me desinteressei nos primeiros cinco minutos, antes mesmo dos créditos de abertura, e quase cochilei nas sequências mais agitadas. Já sabia que este Sherlock tem xongas a ver com a criação de Conan Doyle, porque vi o filme anterior. E fiquei aliviado porque ainda não foi dessa vez que arrumaam uma namorada para ele: o detetive feito por Robert Downey Jr, que está com mais cara de brasileiro do que nunca, continua sendo um confirmed bachelor. O diretor Guy Ritchie também confirma sua obsessão por ciganos (que já apareciam em "Snatch", de onze anos atrás) e Noomi Rapace, a Lisbeth Salander original, confirma que tem um belo futuro pela frente. E eu gostaria de confirmar que esta franquia não me pega mais.

MULHERES E CRIANÇAS DEPOIS

A Luiza mal chegou do Canadá e já tem um meme novo bombando, dessa vez em escala global. Mas nem acho que o autor da frase "volte para bordo, caralho" - o comandante Gregorio di Falco, da capitania dos portos de Livorno - seja um herói. O cara estava apenas fazendo o seu trabalho. Já o capitão Francesco Schettino é mais covarde que o Leão do "Mágico de Oz" e forte candidato a vilão do ano. A desculpa de que ele teria "escorregado" para dentro de um bote salva-vidas é mais esfarrapada do que "caí e machuquei o pescoço", muito usada em casos de chupão. Schettino parece fazer parte de uma antiga tradição italiana, a dos falastrões sem estofo moral, que inclui Benito Mussolini e Silvio Berlusconi. Irá para a cadeia, mas um destino pior o aguarda: o escárnio eterno e universal.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

SOBRA DOS NOVE

Cheguei a pensar que "Tropa de Elite 2" tivesse chances no Oscar de filme estrangeiro. Porque é quase um filme americano, com seu ritmo ágil e seu final feliz. Além do mais, o diretor José Padilha já foi cooptado por Hollywood, onde irá fazer um remake de "Robocop". Mas o Brasil ficou de fora outra vez: não sobramos entre os nove semi-finalistas há quatro anos, e não emplacamos uma indicação há doze. A triste verdade é que a lista divulgada hoje à tarde não traz grandes surpresas. Favoritos como "A Separação" e "Pina" estão lá, e devem chegar à final. E Israel caiu mesmo nas graças da Academia: esta periga ser a 4a. indicação do país em cinco anos.

Há uma regra não-escrita que manda haver pelo menos um filme sobre o Holocausto entre os eleitos. O deste ano é o polonês "Na Escuridão". Também é quase obrigatório um filme escandinavo: a Dinamarca, campeã do ano passado, está concorrendo novamente. Já o filme de Taiwan tem mais de quatro horas de duração e voou por baixo do radar. Será que entrou só para representar a Ásia?

Os oráculos também não previram a classificação do Marrocos. Marcaram bobeira, porque "Omar me Matou" é produzido pelo argelino Rachid Bouchareb, um queridinho da categoria. Já o canadense "Monsieur Lazhar" e o belga "Rundskop" eram mais do que esperados. Este último é sobre a corrupção no fascinante mundo do gado de corte. Que vontade louca de correr pro cineNOT.

EU SOU RICA

Que tal minha nova amiga de infância? Foi só eu pegar pesado com a Val Marchiori na minha coluna no F5 e ainda mais aqui no blog, para a revista "Junior" me convidar para entrevistar a diva. Lá fui eu, e uma coisa eu posso garantir: Val tem mais do que carisma, tem star quality. Consegue ser o centro das atenções o tempo todo. Claro que a que vemos no "Mlheres Ricas" é um personagem. A verdadeira Valdirene não anda com um copo de champagne na mão o tempo todo, nem é acompanhada por seu maquiador Duda as 24 horas do dia. Aliás, o foco da matéria era justamente este: a relação entre esta Teresa Cristina da vida real e seu Crô. A sessão de fotos no estúdio de Moisés Pazzianotto foi incrível. Val não perdeu praticamente nenhum clique (ela foi modelo) e se prestou alegremente a fazer cara de malvada. Depois, durante nosso papo, esquivou-se com galhardia das questões mais cabeludas. Foi supervisionada o tempo todo por uma assessora de imagem e um roteirista da Band - ou seja, não está completamente entregue à própria despirocação. Tampouco retirou uma única palavra do que disse no programa, mas garante que continua amiga de todas as participantes. Tem plena consciência de que precisa render em cena. Que bom: eu também não retiro o que disse antes, mas quero continuar BFF. A reportagem sai em fevereiro.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

A FALTA QUE ELA ME FAZ

No começo entendi que se tratava da Marilac, em temporada na Canadá atrás de novos e melhores drink. Cheguei a googlar para tentar descobrir qual era o babado. Só no começo da tarde é que percebi quem era a tal Luiza, o segundo maior assunto do dia no Facebook e no Twitter (o primeiro ainda é o suposto estupro). Meme que é bom é assim: surgiu ontem, espalhou-se até o Círculo Polar Ártico e semana que vem só será lembrado pela sociedade paraibana.

LANA DEL HYPE

Um amigo que esteve em Londres na semana passada me contou que a cidade está empapelada de cartazes anunciando o lançamento de "Born to Die", o primeiro CD de Lana del Rey. Para quem ainda não sabe: a moça é a nova queridinha da imprensa gringa, que está caindo de boca na estratégia de marketing que a rodeia. Já ouvi algumas coisas e baixei alguns remixes, mas até a agora a música de Lana (cuja identidade secreta é Elizabeth Grant) me parece absolutamente... normal. Não é ruim, mas tampouco traz nada de novo. E aí surge a pergunta que não quer calar: e se ela fosse feia? E se não tivesse esses lábios quilométricos, que já renderam até mesmo um blog de humor? Estaria sendo badalada desse jeito? Pode até ser que tanto hype esteja saindo pela culatra. Lana se apresentou sábado passado no "Saturday Night Live" - um lugar notoriamente difícil para qualquer artista, com problemas de acústica e plateia fria - e foi malhadíssima na internet. "Parece a Juia Roberts bêbada tentando lembrar da letra", disse um tuiteiro. Pois é, cantar ao vivo não é a mesma coisa que fazer playback num vídeo super-produzido. Mas vou dar uma colher de chá para ela e esperar até ouvir o disco todo. Vamos ver se ela é mesmo uma "Nancy Sinatra gângster", como andou se gabando por aí.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

LARGA-ME... DEIXA-ME GRITAR!

A única surpresa dos Globos de Ouro, entregues ontem à noite, foi a relativa mansidão de Ricky Gervais. Ano passado ele foi tão feroz que me fez esquecer que não era sua primeira vez apresentando o prêmio, e todo mundo tinha certeza de que jamais seria convidado novamente. Mas foi, porque a audiência foi boa. Só que este ano ele pegou leve e a audiência caiu. Além disso, quase todos os agraciados eram as maiores estrelas de suas categorias. Isto explica por que Meryl Streep venceu como melhor atriz dramática, e não Viola Davis, a queridinha do momento. Acho que o mesmo não se repetirá no Oscar. Aliás, faz tempo que a Academia não se deixa pautar pela Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood, que costuma ser mais deslumbrada do que o Bozó. Semana que vem saem as indicações.

(O anúncio da NBC lembra um dos maiores clássicos da propaganda brasileira, de onde chupei o título do post. E a minha coluna no F5 sobre os Globos está aqui - tadinha, deu bem menos ibope que a outra de hoje, adivinha por quê. )

NÃO TRABALHAMOS COM SALADA

Foi esta a resposta que uma conhecida recebeu de um garçom do Aconchego Carioca, depois de perguntar pelas opções mais levinhas do cardápio. Bem feito para ela: este restaurante não é para quem está de dieta, nem preocupado com saúde as 24 horas do dia. A comida de lá é pesadona e possivelmente venenosa, mas também é irresistível. Que tal os bolinhos de feijoada que aparecem na foto, que vêm acompanhados por torresmos e um copinho de batida de limão? Ou o jiló à Troigros, com melado, em homenagem ao chef francês radicado no Rio que se encantou com o lugar? Sem falar no "Deixa Arder", o nome sugestivo da pimenta dedo-de-moça empanada e recheada com carne moída. E isto são só algumas entradas. Os pratos principais custam caro, mas vêm em porções tão generosas que alimentam até quatro bocas. Fiquei tentado pela picanha de carne de sol, mas acabamos rachando incríveis costelinhas de porco cobertas com goiabada. Para completar, uma extensa adega de cervejas gourmet e pudim de cachaça para a sobremesa. O Aconchego está no atual endereço (Rua Barão de Iguatemi, 379 – perto da Praça da Bandeira e longe da Zona Sul) há quase três anos e só fui conhecê-lo ontem, mas estou arrependido por não ter ido antes. É culinária carioca de alto nível, fartíssima e deliciosa. Programa obrigatório para locais e turistas - desde que não sejam fracos.

domingo, 15 de janeiro de 2012

PAPO CRI-CRI

Zeca Camargo provocou uma polêmica virtual na semana que passou, graças ao post "Não, Não Está Tudo Bem" que publicou em seu blog. Como replicou o Mauricio Stycer, é raro - senão inédito - que uma celebridade critique a crítica desse jeito elaborado e embasado, sem recorrer ao habitual "são todos uns imbecis" e afins. Zeca diz em seu texto que há 786 críticos de TV na internet, dando a entender que a imensa maioria não tem o menor gabarito. É verdade, mas eu também acho que a internet é uma coisa maravilhosa, que deu voz a milhares de pessoas. Tipo eu... Além do mais, os tais 786 críticos podem até escrever, mas quantos serão realmente lidos? Claro que eu vesti a carapuça, hehe, e falei tudo isto à reportagem da "Folha de São Paulo", que publicou uma matéria sobre o assunto na "Ilustrada" de hoje (aqui, para assinantes do jornal ou do UOL). Não coube lá por falta de espaço, mas aqui no blog cabe. Mais uma vantagem da internet.

sábado, 14 de janeiro de 2012

SAI DE BAI-XANADU

Quem acompanha este blog desde o começo sabe que eu tenho uma obsessão macabra por "Xanadu". Não o filme da Olivia Newton-John, que é tão ruim, mas tão ruim, que nem chega a ser divertido - é só ruim mesmo. Minha tara é pelo musical da Broadway, que tive o privilégio de assistir em 2007 e que desde então se tornou um leit-motiv da minha vida. Há anos ouço que a peça seria montada no Brasil, e no ano passado o boato ganhou detalhes: os papéis principais seriam de Danielle Winits e Jonatas Faro. Mas aí os pombinhos brigaram e Faro foi substituído por Thiago Fragoso. Acho que a troca foi boa. Acabo de ver o espetáculo (estou no Rio pela primeira vez em seis meses) e estou passado no azeite de dendê com o talento do garoto. Ele é uma ameaça a todos os atores, pois sabe fazer tudo bem - canta, dança, representa - e ainda é lindo de corpo e rosto. O mesmo, infelizmente, não pode ser dito de sua parceira de palco: a cigana enganou Danielle Winits. Ela não tem a inocência de Kira, a musa que desce à Terra, nem mesmo a inocência fake que a fantástica Kerry Butler deu à personagem na Broadway (e que lhe rendeu uma indicação ao prêmio Tony). Mas o pior mesmo é quando abre a boca: sabe aquele viral da musiquinha da auto-estima? Pois é. E não foi o único problema da função das 19 horas deste sábado. "Xanadu" simplesmente não está pronto. Luzes, microfones, ritmo, tudo ainda está meio fora da marca. E justo hoje, dois dias depois da estreia, Sidney Magal - que faz o papel que no cinema foi simplesmente de Gene Kelly - foi substituído pelo diretor da peça, Miguel Fallabella. Aí já viu, né? A loura má precisou dizer o texto com a ajuda de um ponto eletrônico, que falhou tanto que acabou sendo engraçado. Claro que baixou o Caco Antibes, e com ele uma enxurrada de cacos que contaminou o resto do ótimo elenco. Resultado - a peça estourou em quase meia hora o tempo regulamentar, deixando o público da segunda sessão esperando na calçada. Mas todo mundo se esbaldou, além do mais com a adaptação abrasileirada de Artur Xexéo. Melhor momento: quando o elevador de Zeus desce antes do previsto. "Jamais sairemos do Olimpo!".

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

PRIMEIRA VIAGEM

"You walked into the party / Like you were walking into a yacht..." Quem mais tem idade suficiente para lembrar de "You're So Vain", o maior sucesso da carreira de Carly Simon? (grilos) Ontem esse trecho da letra se tornou realidade: entramos na festa assim como quem entra no Yacht. Não numa embarcação, mas na nova boate (detesto a palavra "clube") de Bob Yang, Cacá Ribeiro e Facundo Guerra. É impossível julgar um lugar novo só pela inauguração, mas a nova casa agradou aos convivas. Como descrever o ambiente? Imagine que o Gloria e o Sonique tiveram um filho, e depois o vestiram com detalhes náuticos em estilo art nouveau. Adorei o som de ontem, uma prévia da noite "Ulala" que será pilotada por Dudu Bertholini. A seleção de clássicos da disco music fez com que eu me lembrasse de coisas que, na verdade, nunca aconteceram comigo - tipo dançar no Le 78 em Paris. E adorei ainda mais a luminária vintage "herdada" da antiga Up & Down. Lá pelas tantas o troço baixou e se abriu em mil formatos, despejando luzes e cores inacreditáveis. Isto sim é que é nave, não aquela do "BBB".

O HAITI SEJA AQUI

E se fossem milhares de suíços tentando entrar ilegalmente no Brasil? Louros do cantão do Jura, fabricantes de queijos e relógios, cantando "yodels"? O governo brasileiro teria estabelecido um número máximo de vistos a serem concedidos, algo inédito na história do nosso país? Duvide-o-dó. Mas como são um punhado de haitianos, é melhor ver isto aí. Afinal, o Haiti é a terra do vudu, das catástrofes em série, dos negros malvados que tomaram o poder dos brancos e agora não sabem o que fazer com ele. Hoje senti uma ponta de vergonha quando soube da notícia do limite de vistos. Isto não é digno da potência bossa nova que o Brasil diz que quer ser, mais humana e compreensiva que as outras, morena como vocês. Deixa os haitianos entrarem.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

ALL THE SINGLE BABIES

Não estou dando conta de todos os memes que vêm aparecendo na internet. Esta semana surgiram dois bem engraçados: o primeiro é o "Shit Someone Says", que já mereceu um post qui no blog e vem rendendo desdobramentos fabulosos, como este dedicado a Liza Minnelli. O outro meme é resultado do nascimento de Blue Ivy Carter, a filha de Beyoncé e Jay-Z, que veio à luz sábado passado num andar exclusivo de um hospital de Nova York, alugado por mais de um milhão de dólares. Claro que o bebê já tem sua conta falsa no Twitter, e sua festa de 21o. aniversário já está sendo anunciada por uma uma boate de Los Angeles. Também rolam animações, listas de presentes em diversas lojas onde os pais jamais puseram os pés e até mesmo teorias de conspiração. Minha favorita é a de que o nome da nenê lido de trás para a frente - "Eulb Yvi" - quer dizer "filha de Satã" em latim. O hamanaia!

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

FAFY DE VERDADE

Sempre soube que Fafy Siqueira seria perfeita como Dercy Gonçalves desde que foram anunciados, há anos, os planos de uma interpretar a vida da outra. Só não esperava que fosse TÃO perfeita. As poucas cenas em que Fafy apareceu ontem, no episódio de estreia da minissérie "Dercy de Verdade", são um dos melhores argumentos que já vi para aderir ao kardecismo. Fafy incorporou Dercy de tal forma que não dá para saber onde acaba uma e começa a outra. Como eu disse hoje na minha coluna no F5: está aflitivo de tão bom. Heloísa Perissé também está desenvolta e convincente, mas a ela coube mostrar uma Dercy pré-Dercy, não aquela que foi conhecida pela minha geração e pelas seguintes. Tomara que o sucesso do programa sirva para que Fafy finalmente encontre patrocinadores dispostos a bancar a peça que ela e Maria Adelaide Amaral tramam há tempos, com as bençãos da própria Dercy. E, se não encontrar, que vão todos tomar no cu, seus filhos duma puta.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

A NAVE VAI DECOLAR

Ano passado paguei minha língua: depois de nove anos me recusando terminantemente a assistir ao "Big Brother", ganhei a tarefa de ver o programa todo dia por causa da minha coluna na Folha.com. Foi uma experiência interessante. Acabei me envolvendo no jogo, torcendo descaradamente pela Diana e sendo citado pelo Boninho em seu Twitter. Mas a melhor consequência veio alguns meses depois, quando me tornei colunista fixo do F5. Hoje começa mais uma edição do reality show, e é claro que eu vou ver. Não sou mais marinheiro de primeira viagem, e não tenho mais a obrigação de escrever sobre o "BBB" todo dia (ufa). Mas confesso que estou achando divertido decolar outra vez. Venha junto: hoje tem live blogging do F5 durante a estreia, com a minha participação (http://www.folha.com.br/120101). E seja o que Deus quiser.

MAL MARCHIORI

Val Marchiori já é a musa oficial deste verão fake que vivemos. Sua presença é a coisa mais absurda do "Mulheres Ricas", e olha que uma das participantes é a Narcisa. Mas ela muito se enganava se achava que este sucesso todo viria grátis. O tal do magnata do frango já veio a público esclarecer que não, não é o marido da louraça - é só um senhor que a ajuda. Mas isto não é nada perto das denúncias de golpes e falcatruas que Valdirene teria cometido ainda no Paraná, no começo de sua escalada social. Para completar, ela agora deu para falar pedras pelas costas de suas colegas da TV, se bem que em frente às câmeras. Ganhou quatro inimigas mortais. O que ela pode estar querendo com tudo isto? Já é rica, ou pelo menos ostenta riqueza da maneira mais escandalosa desde Xica da Silva, no século 18. Bidu: Val quer ser famosa. Custe o que custar. Nesse ponto ela lembra aquele falso herdeiro da Gol, que não resistiu a dar uma entrevista para o Amaury Jr. mesmo sabendo que seria desmascarado. Será que Val Marchiori é uma psicopata como ele? Ou é simplesmente do mal?

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

COISAS QUE OS GAYS TÊM QUE OUVIR


Todo gay já ouviu pelo menos algumas destas frases de seus amigos hétero:

- Quando vocês transam, como é que decidem quem come quem?
- O Ryan Gosling é gostoso. Eu sou hétero, mas não sou cego.
- Dói?
- Você sabe onde eu consigo pó?
- Você quer trepar com todos os homens que vê pela frente?
- Então é ISTO que é "cunete"?
- Quer ver meu pau?
- Então você não transaria com a Scarlett Johansson? Nem com a Megan Fox?
- E se você encontrasse uma mulher nua de perna aberta na sua cama?
- Eu queria ser gay. É tão mais fácil!



As amigas também não deixam por menos:

- Você nunca sentiu tesão por uma mulher?
- Tem um cara lá no meu cabeleireiro... Ele tem 53 anos, cabelo grisalho e eu tenho certeza que é gay. Vocês suuuper vão combinar.
- Você acha que aquele cara é gay?

- (para outra pessoa) Não, ele não é meu namorado. Ele é gay!
- Ih, olha aquele cara do meu trabalho. Finge que é meu namorado.
- Me ajuda a escolher uma roupa para hoje à noite?
- Você é gay. Você tem que entender dessas coisas!
- Meu peito direito não é maior que o esquerdo? Pega nele! Pega!
- Por quê que todos os caras legais são gays?

A MÃE DE TODAS AS BATALHAS

"A Guerra Está Declarada" foi uma das maiores bilheterias francesas de 2011, e também o indicado pelo país para representá-lo no próximo Oscar (postei o trailer aqui). Foi uma escolha inesperada: a França costuma inscrever dramas históricos ou produções com os grandes astros locais, não filminhos independentes com atores pouco conhecidos. Mas a história contada pela atriz e diretora Valérie Donzelli caiu no gosto do público, além do mais porque é autobiográfica: a tal da guerra do título na verdade é contra o câncer que atinge o filho dela ainda bebê. O filme mostra como a felicidade de um jovem casal é interrompida de repente pela péssimas notícias, e foca não só na luta contra a doença como também na relação entre os dois. O curioso é que o ator Jéremie Elkaïm, que faz o marido, também é o pai do filho de Valérie na vida real, e co-autor do roteiro com ela. Ou seja, "A Guerra Está Declarada" também é uma catarse familiar. E é um ótimo filme: o tom jamais descamba para o deprê, a trilha sonora é muito bem usada (com destaque para uma linda versão de "Manhã de Carnaval") e é impossível não se identificar com a humanidade dos personagens. Minha única ressalva é o final meio abrupto, que destoa um pouco do restante. Mas recomendo para valer: só não esqueça de levar um lenço.

domingo, 8 de janeiro de 2012

SABALI YONKONTÉ

A África tem 10% da população mundial, mas quase 20% do total de cegos. E um dos maiores causadores dessa cegueira toda é um parasita transmitido por moscas, endêmico em muitos países da parte sul do Saara. O casal Amadou e Mariam vem do Mali, e talvez sejam os cegos mais famosos de todo continente. Ele perdeu a visão aos 16 anos; ela, aos 5, por causa de uma caxumba mal cuidada. E o que pode fazer um cego no Mali? Cantar: o país tem toda uma tradição de ceguinhos cantadores, meio bardos e meio pedintes, parecida com a que existe no Nordeste brasileiro. Mas já faz tempo que A&M não cantam mais em feiras: baseados em Paris, hoje são astros da world music e já gravaram com Manu Chao e Damon Albarn. É deste último a co-autoria de "Sabali" ("paciência"), o carro-chefe do disco "Welcome to Mali", de 2008. Só agora que eu o comprei, numa loja ótima no aeroporto de Johannesburgo, e tenho ouvido muito. Principalmente a hipnótica "Sabali", que ganhou um cover em ritmo de reggae com Nas e Damian Marley, e inúmeros remixes (como este, do trio sueco Miike Snow). Agora fiquei curioso para ver o show "Eclipse", que a dupla vem fazendo na Europa. O espetáculo se passa inteirinho no escuro, com direito a contador de histórias, sons ambientes de Bamako, a capital malinesa, e até mesmo a uma seleção de aromas. Para se fechar os olhos e ver que a vida é mesmo bela.

sábado, 7 de janeiro de 2012

O ESPECTADOR QUE NÃO ENTENDEU NADA

E olha que eu prestei muita atenção, apesar do soninho que teimava em aparecer. "O Espião que Sabia Demais" é escuro, opaco, tem dezenas de personagens e uma trama tão intrincada que lá pelas tantas eu me perguntava por que deveria me interessar. Não só eu, aliás: quando acenderam as luzes, percebi que muita gente ao redor também não tinha entendido muita coisa. O filme não é ruim, veja bem - e nem poderia, com um elenco de atores ingleses de primeiríssima grandeza. Gary Oldman está sutilmente perverso como o veterano Smiley e vem sendo cotado para sua primeira indicação ao Oscar, mas não tem aquele tipo de cena grandiloquente que costuma garantir a estatueta. A direção de arte reproduz com primor a estética dos anos 70 e, apesar de não existir mais a União Soviética, até que o enredo de John Le Carré envelheceu relativamente bem. Mas um pouquinho mais de obviedade teria feito muito bem a este "Espião": as lacunas deixadas para o espectador preencher são tantas que o que era para ser diversão acaba virando lição de casa.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

OS MORTOS QUE ANDAM

Pra lá de questionável essa estratégia da prefeitura de São Paulo de acabar com a Cracolândia causando "dor e sofrimento" nos viciados. Como se eles vivessem no paraíso, não é mesmo? Lembra os Estados Unidos invadindo o Iraque em 2003 e querendo vencer rapidamente através da tática do "choque e espanto" - deu no que deu. Dizem as otôridade que 24 "nóias" já se renderam ao tratamento, mas por enquanto o efeito mais visível é a dispersão deles pelos bairros próximos ao centro da cidade. Alguns desses mortos em vida foram vistos perambulando pelas ruas de Higienópolis. Parece até vingança da "gente diferenciada".

O HOMEM-CLOACA

E se o Bolsonazi despontasse como um possível candidato a presidência do Brasil? Embalado pelo apoio histérico de seu pequeno grupo de correligionários, o deputado-brucutu dominaria o noticiário por alguns dias e aproveitaria para pregar seu evangelho da intolerância em cadeia nacional, até ser tragado pela realidade inexorável. Guardadas as devidas proporções, algo parecido está acontecendo nos Estados Unidos, onde o ex-senador Rick Santorum - que passou os últimos meses na moita, sem ter sua pretensão à candidatura republicana levada muito a sério - perdeu o caucus de Iowa por apenas oito votos. Santorum é católico fundamentalista e sua plataforma não é só anti-gay, como bem lembrou o colunista Dan Savage: também é anti-hétero, pois ele quer proibir o aborto, a pornografia e os anticoncepcionais. Mas não é nem essa ideologia ultra-conservadora que deve derrubá-lo em breve. E nem o apelido nojento que Savage grudou nele, até hoje o primeiro resultado que aparece quando seu nome é googlado. Rick Santorum cairá em desgraça porque finalmente está sendo investigado pela imprensa, e coisas ainda mais disgusting estão sendo desenterradas - como seus laços incestuosos com lobistas, ou seu mais do que suspeito enriquecimento desde que deixou o Senado. Ou seja: de inocente, esse carola não tem nada. Descarga nele.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

YOU BETTER WORK

Quando eu trabalhei como roteirista de sitcom, adorava consultar uma lista publicada pela revista "Esquire" com "As 10 Tramas Básicas da Comédia de TV". Todas as premissas clássicas estão lá: a troca de papéis ("ah, então você acha que o meu trabalho é fácil?"), o convidado-surpresa ("querida, meu chefe vem jantar hoje"), o garoto que dá uma festa quando os pais viajam ("espere! que barulho é este?"). E ainda havia um derradeiro conselho: "quando nada mais dê certo, vista um homem de mulher". Este truque já rendeu filmes clássicos como "Quanto Mais Quente Melhor" ou "Tootsie", e também a série que revelou Tom Hanks nos anos 80, "Bosom Buddies" (literalmente, "Amigos do Peito"). Agora ele é requentado pela enésima vez por "Work It", que estreou esta semana na TV americana. Dois sujeitos desempregados há mais de um ano descobrem que só conseguem trabalho se... O curioso é que o programa gerou protestos da comunidade trans, apesar de seus protagonistas serem homens HT. Não deve durar muito tempo no ar, mas pelas razões de sempre: teve péssimas críticas e foi mal de audiência. Pelo trailer, não dá para lamentar.

POCOTÓ POCOTÓ POCOTÓ

Entro num filme do Spielberg como quem entra num brinquedo de parque de diversões, disposto a me entregar e a me divertir muito. Mas a verdade é que "Cavalo de Guerra" está mais para carrossel do que para montanha russa. Apesar de grande parte da ação se passar nas trincheiras da 1a. Guerra Mundial, este é um filme para crianças - como é, aliás, o livro que lhe deu origem. Essa mistura de "E.T." com o "Resgate do Soldado Ryan" tem momentos de tirar o fôlego, mas o todo é muito menos emocionante do que se podia esperar. O tal do cavalo vai trocando de mãos, dos ingleses aos alemães aos franceses, e nenhum episódio dura o suficiente para a gente se importar muito com o destino dos personagens. Além disso, todo mundo fala inglês - sinal de que Spielberg, sempre tão atento aos detalhes, está mesmo focando no público mais jovem, que não gosta ou nem sabe ler legendas. "Cavalo de Guerra" lembra muito um filme da Disney dos anos 50, tanto na forma como no conteúdo. Segura o interesse do começo ao fim e é um bom programa para fazer com filhos ou sobrinhos, mas não vai entrar na já longa lista dos grandes títulos do diretor.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

ZUMBI DE DEUS

Com o tempo, a gente vai criando uma certa casca e deixando de se horrorizar com os absurdos proferidos por várias das lideranças evangélicas. Eu nem deveria mais me surpreender com a falta de limites da ganância do "bispo" Edir Macedo, o chefão da Igreja Universal do Reino de Deus. Mas o sujeito deve estar tão desesperado com a evasão de fiéis de seu esquema - a IURD perdeu um quarto de seu rebanho em menos de uma década - que deixou de chutar a santa para chutar o balde. Sábado passado, último dia do ano, ele publicou um post estarrecedor em seu blog, sobre a morte de uma funcionária da Record num acidente de trânsito. A moça era obreira da Universal, mas voltou a ser mundana para "curtir a vida". E o "bispo" nem esperou as lágrimas da família secarem para afirmar que ela teria falecido porque "zombou de Deus". Para começo de conversa, este Deus vingativo não existe, mas isto nem vem ao caso. Chocante mesmo é o sr. Macedo ainda se achar cristão depois de zombar da dor alheia. Também é apavorante ver que os mais de 600 comentários são todos a favor da barbárie. Mas o tiro pode ter saído pela culatra. Os amigos de Dayanne Albuquerque estão revoltados e fazendo uma certa grita nos meios de comunicação, atraindo a atenção do mundo secular para este zumbi pseudo-religioso. Que quer mais do que o cérebro das pessoas: quer a carteira.

INVERNO NA ALMA

Não há disco menos apropriado para o verão brasileiro do que "50 Words for Snow". O novo de Kate Bush - seu segundo trabalho em 2011, depois de seis anos de hibernação - é uma coleção de sete faixas longas sobre o inverno, o frio e a escuridão. Perfeito para tocar na psicina do Mediterranée e espantar os alunos da aula de lambaeróbica. Como eu já havia previsto em outubro, este é um trabalho radicalmente anti-comercial, sem refrões pegajosos ou participações de Jay-Z. Mas é denso, cheio de nuances e texturas, com teclados esculpidos em neve e vocais quase sussurrados, talvez por medo de derrubar os estalactites. A música de trabalho, "Wild Thing", é dedicada ao abominável homem das neves e, apesar de esquisitíssima, é a mais normalzinha do CD. Mas talvez o ponto alto seja mesmo "Snowed In at Wheeler Street", um dueto minimalista de Kate com Elton John, seu ídolo de infância. É música linda e sombria, enquanto que o sol lá fora pede delícia, delícia, delícia. "50 Words for Snow" parece um desses piguins antárticos que a correnteza de vez em quando despeja em Santos.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

MULHERES ABSOLUTAMENTE RICAS

Ainda dá para achar graça em "Absolutely Fabulous" depois de "Mulheres Ricas"? Yeeesss! Aí está o especial de Natal que a BBC levou ao ar no Ano Novo. E como ryqueza não tem fim, Edina e Patsy ainda estão preparando um longa-metragem. Tem certas coisas que o dinheiro não compra.

RICAS DE DAR DÓ

A internet está em chamas: não existe outro assunto na face da Terra além de "Mulheres Ricas", o reality show que estreou ontem à noite na Band. Não se trata de um concurso: nenhuma delas será eliminada, pelo menos não do programa. É só um apanhado de situações forçadas onde elas despejam vaidade e uma absoluta falta de noção, para deleite dos espectadores. Claro que já tem muita gente criticando, dizendo que isto é um acinte num país com tanta desigualdade, que Deus castiga e blábláblá. Pois então vão assistir a um programa com freiras praticando atos de caridade, seus hipócritas. Antecipei em um dia minha coluna no F5 para aproveitar esse auê todo, e tomara que essas pobres ricaças ainda rendam muito assunto. É um "Absolutely Fabulous" da vida real.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

AMOR SOMBRIO

2012 mal começou e eis que já temos o primeiro grande lançamento do ano. Caiu hoje na rede o vídeo de "Shady Love", carro-chefe do disco dos Scissor Sisters que sai em fevereiro. Se eu não soubesse, jamais diria que é deles essa música semi-esquisita. E por que crianças mais tristes do que Paris Jackson?

TRÊS É BOM

A fluidez sexual está na moda. Essa coisa de hétero e homo é muito século 20. No futuro, todo mundo vai transar com todo mundo. O filme "Triângulo Amoroso" é um arauto desta nova era. Pena que o título brasileiro não respeitou o "3" original, tão sucinto e elegante. Mas pelo menos este triângulo é equilátero, com todos os lados envolvidos um com o outro. O diretor alemão Tykwer (do sensacional "Corra, Lola, Corra") parte de uma premissa ótima: um casal quarentão, juntos há muito tempo, começa a pular a cerca. O mais legal é que eles não estão exatamente em crise, o adultério simplesmente acontece. O que eles não sabem é que estão pegando a mesma pessoa - ou melhor, o mesmo cara. O marido nem era gay antes, e a cena de sedução entre ele e o namorado, no vestiário de um clube, é totalmente crível. O rebuliço faz bem para o casal, que começa a transar com mais vontade do que nunca. Até que... "Triângulo Amoroso" chega num momento em que os chamados "trisais" pedem reconhecimento legal, e passa uma mensagem libertária que merece ser ouvida. Ficaria ainda mais interessante se o elenco principal não fosse tão feioso.

domingo, 1 de janeiro de 2012

RÉVEILLON NA LAJE

Não passava um ano novo em São Paulo há mais de 20 anos. Não passava com a mamãe há uns 30. Estes jejuns terminaram ontem: fizemos uma festinha na casa nova, aproveitando que o prédio está pertíssimo da Av. Paulista e tem um terraço no 20o. andar, perfeito para ver os fogos. Também perfeito para tomar chuva, e claro que saímos todos ensopados. Mas foi só um minor glitch numa noite que correu tranquila, com os amigos que sobraram em São Paulo e as duas mães (a do Oscar veio do Rio especalmente). Mas claro que família tem limite, e à uma e meia da manhã, já livres dos convidados, tocamos para a The Week. Voltamos com dia claro e dormi até as cinco e meia da tarde. E para você, foi bom?