segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

CHANTECLER

Não posso encerrar o ano sem comentar como ele foi importante para a causa dos direitos igualitários. Nos Estados Unidos, o próprio presidente se declarou a favor do casamento gay, que foi aprovado nas urnas por três etsados diferentes. Aqui no Brasil, alguns estados também já o permitem, o que é até difícil de acreditar. Mas talvez ainda mais importante seja a mudança de atitude que venho percebendo entre bichas e lésbicas, que não levam mais desaforo para casa. A revista "Veja" levou um baita susto com a reação ao nojento artigo de J. R. Guzzo que nos comparava a cabras. José Serra mais uma vez se aliou às forças das trevas, e mais uma vez levou uma surra nas urnas - será que agora ele aprendeu? Aliás, os neopentecostais mostrarm que não têm força para vencer eleições majoritárias, haja visto o humilhante terceiro lugar de Celso Russomano em São Paulo. Há algo de novo no ar: são as nossas vozes, cada vez mais altas. Agora deixa eu terminar este post porque já estou ficando piegas, e também porque champagne e rabanada me aguardam. Feliz 2013 para todo mundo.

MEUS PROGRAMAS DE 2012

A televisão cresceu em importância para mim neste ano, por causa da minha coluna no F5. Agora tenho que assistir coisas das quais normalmente eu passaria a léguas de distância, como a estreia do talk show de Luciana Gimenez ou o primeiro capítulo da novela "Balacobaco". Também sou o crítico de TV com o rabo mais preso do Brasil: não só meu irmão Zico é diretor de programação da MTV, como um grande amigo apresenta um programa na Globo, outra grande amiga é diretora de produção na Band e o SBT é conta da agência onde eu trabalho. E assim, sem um pingo de credibilidade jornalística, encerro a retrospectiva de 2012 com a lista dos meus programas favoritos (não necessariamente de TV, hein?):

AVENIDA BRASIL - Foi a primeira novela a congelar o público em mais de uma década e um divisor de águas no gênero: daqui para a frente, todas as vilãs serão comparadas à insuperável Carminha, a melhor interpretação da vida de Adriana Esteves. Mas o destaque vai para quase todo o elenco, a direção de Amora Mautner e, principalmente, para o texto de João Emanuel Carneiro, descontando-se um ou outro pen drive inexistente. Aguinaldo Silva está se roendo na tumba.

DOWNTON ABBEY - A série da BBC finalmente teve sua primeira temporada exibida no Brasil, e eu me viciei completamente. O mais fascinante é que não há propriamente um antagonista: o grande vilão são as mudanças inevitáveis que o século 20 trouxe para a aristocracia inglesa. Como se não bastassem os cenários e figurinos deslumbrantes, ainda tem Maggie Smith fazendo a Condessa Viúva, meu novo modelo de vida.

MULHERES RICAS - Meu prazer culpado de 2012. Sim, eu adorei esse pseudo-reality show da Band. Digo pseudo porque as situações eram visivelmente (mal) armadas, e Val Marchiori tem plena consciência de estar representando um personagem. Ela e Narcisa Tamborindeguy ofuscaram as demais participantes do programa e se tornaram suas protagonistas absolutas, tanto que foram as únicas a emplacar a segunda temporada. Ai, que badalo.

SMASH - Quem gosta da Broadway como eu não pode perder essa espécie de "Glee" para adultos, que mostra os bastidores da produção de um musical sobre Marilyn Monroe. Muitas bitches competindo pelo papel e muitas bibas ao redor delas, já que estamos no teatro. A nova temporada trará participações especiais de Jennifer Hudson e Liza Minnelli, que é o equivalente gay do Corinthians ter vencido o Mundial de Clubes.

PORTA DOS FUNDOS - Apesar de Marcelo Adnet e sua trupe terem brilhado como nunca na MTV, meu prêmio de melhor programa de humor do ano vai para um que só pode ser visto na internet: o impagável "Porta dos Fundos", que nos brinda com novos esquetes toda segunda e quinta. Cheio de palavrões, sacanagem e ataques a grandes marcas, essa aventura do Kibe Loco com Fábio Porchat, Gregório Duvivier e alguns outros atores cariocas me fez rir a ponto de engasgar com o que eu tinha na boca. Quem ainda não conhece deve ir correndo buscar o canal do "Porta" no YouTube - e deleitar-se com pérolas como esta, que destrói toda a campanha publicitária da Pepsi em poucos segundos.

Esses foram meus Top 5, mas claro que gostei de muitas outras coisas. O "Na Moral", de Pedro Bial, foi surpreendentemente divertido, com momentos históricos como o casamento de duas moças ou Pedro Cardoso realizando que trabalha para o mesmo grupo empresarial que coloca paparazzi em seu encalço. Segui "Gabriela" do começo ao fim, apesar de ainda preferir a versão de 1975. Também continuo adorando "Game of Thrones" e "True Blood", e achei "Veep" e "Girls" bastante engraçadas (e não, não recebo jabá da HBO).

2013 pode trazer muitas novidades. Entre os canais abertos, está ficando claro que só sobreviverá quem for profissional de TV pra valer: a Rede TV! já foi pro saco e a Record começa a fazer água. Não por acaso, ambas são comandadas por gente que não é do ramo. Mas o mais legal promete ser a TV paga, com a estreia de inúmeros programas brasileiros por causa da nova lei.

(Em tempo: a convite da "Folha de São Paulo", fiz parte do painel que elegeu o "Ilustrado" de 2012 e a promessa de 2013 na televisão brasileira. Votei nos dois que acabaram vencendo: João Emanuel Carneiro e Marcelo Adnet. Eu sou foda.)


domingo, 30 de dezembro de 2012

ÁGUA NOS OLHOS

Curioso: gostei menos de "O Impossível" do que eu esperava. Claro que o fato de eu já saber o final da história deve ter contribuído. Mas também achei que essa superprodução espanhola - a mais cara da história do país, e também sua maior bilheteria - saiu meio com cara de telefilme. E isto apesar do tsunami de 2004 ter sido recriado com cenários de verdade e um enorme tanque d'água, com um mínimo de efeitos de computador. A crítica americana também achou a história cheia demais de coincidências, apesar dela ser mais fiel aos fatos reais que as de "Argo" ou "Lincoln". De qualquer forma, impossível mesmo é não encher os olhos de lágrimas durante a luta de uma família (inglesa na tela, espanhola na vida real) para se manter viva e unida depois que a onda gigante arrasou o hotel onde passavam férias na Tailândia. Naomi Watts está cotada para o Oscar e Ewan MacGregor sem camisa já vale o preço do ingresso, mas a grande revelação é mesmo o garoto Tom Holland, no papel do filho mais velho do casal. Ainda assim, pequenos detalhes me incomodaram: ninguém teve tempo de passar uma água no rosto depois de dois dias num hospital de campanha? Pode ter sido verdade, mas não é crível.

A BOA MOÇA E A MULHER DE MALANDRO

Kylie Minogue ainda tem voz e atitude de garotinha, mas já tem 44 anos de idade e 25 de carreira. Para comemorar esta última efeméride, ela acaba de lançar "The Abbey Road Sessions", onde regrava seus maiores sucessos acompanhada por uma orquestra. Não chega a ser um "Acústico MTV" porque há guitarras elétricas aqui e ali, mas o resultado é bem diferente da sonoridade dance a que ela nos habituou. Babas manjadas de repente se despem dos teclados eletrônicos e se revelam composições delicadas, com Kylie cantando melhor do que nunca. Que ela é de fato boa cantora, já tinha conferido ao vivo. Em 2008, quando fez show em São Paulo, o público pediu por "Come Into My World", que não estava no setlist, e a moça não se fez de rogada: mandou acappella mesmo, com potência e afinação surpreendentes. Este novo disco - que vem numa edição luxuosa, com capa dura e álbum de fotos - não vai conquistar novos fãs, mas é um presente para os antigos. Aí acima está o vídeo da única inédita, "Flowers"; para uma amostra do resto, clique aqui. E aqui tem um breve making of do projeto.

Enquanto Kylie assume tranquilamente a persona de senhora bem-comportada, outra diva pop segue no caminho oposto. Rihanna está transcendendo o rótulo de mera periguete: em seu novo disco, "Unapologetic", assume com garbo a coroa de mulher de malandro, aquela que gosta de apanhar. Depois de levar uma surra do então namorado Chris Brown alguns anos atrás, gravado um disco de desabafo e se tornado meio que um símbolo da luta contra a violência doméstica, Ri-Ri fez o impensável: reatou com o homem que lhe bateu. E não pede desculpas por isto, como diz o título do CD. Junte-se a isto o fato dela não ser exatamente uma rapariga de fino trato, e sua imagem fica mais vulgar que a de Valesca Popozuda (com alguns milhões de dólares a mais em cabeleireiro e esteticista, é verdade). Mas o disco até que é bom: Rihanna tem lançado um trabalho novo por ano desde 2009, e nunca deixou a peteca cair. Fora que a melhor faixa, além do ultra-tocado single "Diamonds", é "Nobody's Business", uma parceria da vítima com seu algoz (que possui inegável talento, convenhamos). Se este for o preço para produzir boa música, Rihanna bem que pode aguentar mais uns sopapos.

sábado, 29 de dezembro de 2012

MEUS FILMES DE 2012

O ano foi tão bom para ir ao cinema que eu nem sei qual foi meu filme favorito. Cheguei numa lista de quatro, mas qual deles me parece o melhor? Talvez seja mesmo "O Artista", pela originalidade de ser mudo. Tão diferente que, mesmo sendo francês, ganhou uma penca de Oscars. Aliás, é da França que veio boa parte da minha lista estendida. Vambora, em ordem alfabética:

ARGO - De tirar o fôlego do começo ao fim. Ben Affleck está se revelando um diretor muito melhor do que jamais foi como ator e fez um thriller impecável, que não seria crível se não tivesse sido baseado numa história real. Mistura drama político com comédia e ainda é uma homenagem ao poder hipnótico do próprio cinema. Todo mundo que viu, gostou.

O ARTISTA - Outra celebração do esplendor de Hollywood, mas num tom completamente diferente. Deliciosamente low-tech, com uma atuação memorável de Jean Dujardin e uma trilha sonora de sair assobiando. E o que dizer daquela cena em que o som invade a ação?

INTOCÁVEIS - Foi a maior bilheteria do cinema francês de todos os tempos, e por uma boa razão: não há quem não se emocione com a história do malandro que vira o cuidador de um ricaço tetraplégico. Já está entre os nove pré-indicados ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

AS AVENTURAS DE PI - Uma experiência sensorial tão forte que eu estou indo ver outra vez amanhã, de novo em 4dX. A história é literalmente um delírio, mas o diretor Ang Lee (o mais versátil da atualidade) conseguiu fazer um dos filmes mais deslumbrantes de todos os tempos.

E, mesmo indeciso entre esses quatro finalistas, eu ainda sinto que estou cometendo uma injustiça. Cheguei então a 15, reunindo todos os títulos que merecem entrar para a minha coleção (alguns deles já estão lá).

AS AVENTURAS DE TINTIN:
O SEGREDO DO UNICÓRNIO

O AMANTE DA RAINHA

ATÉ A ETERNIDADE

CLOCLO

(exibido como MY WAY no Brasil)

A DELICADEZA DO AMOR

GONZAGA - DE PAI PARA FILHO

HOLY MOTORS

JOGOS VORAZES

OS INFIÉIS

SOMBRAS DA NOITE

TROPICÁLIA


Ufa. Filme paca. Melhor assim.

SUJEIRA NO COLARINHO BRANCO

"A Negociação" mistura dois fatos reais, separados por quase quatro décadas, numa história só. Parte da trama é baseada no escândalo Madoff, de poucos anos atrás, onde um esquema de pirâmide bilionário arruinou centenas de pessoas nos Estados Unidos. A outra parte vem da morte de Mary Jo Kopechne, a assistente (e provável amante) de Ted Kennedy que morreu num acidente de carro provocado por seu patrão (que saiu ileso e tentou esconder o que havia acontecido). O filme faz com que o protagonista Richard Gere seja ostensivamente culpado de todos esses crimes, mas deixa a plateia meio que torcendo para que ele consiga se safar - afinal, trata-se de Richard Gere! Essa ambiguidade fez com que a crítica americana tecesse loas a "A Negociação", mas acho que isto acontece sóporque os americanos estão acostumados a rotular as pessoas de heróis ou vilões, sem meio-termos. Já o Brasil é o habitat perfeito para este tipo de personagem, que comete falcatruas enquanto posa de simpático e paladino do povo. Mas estamos cansados desses facínoras mascarados: talvez por isto "A Negociação" esteja passando batido entre nós, pois não reflete o humor nacional neste momento.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

JOGA FORA NO LIXO

Acabei de ver no "Jornal Nacional" que hoje é o Good Riddance Day - numa tradução livre, o Dia do Já Vai Tarde. É um evento do qual eu nunca tinha ouvido falar, mas que é realizado há anos no Times Square, em Nova York. As pessoas penduram papeizinhos com o nome do que querem se livrar no ano novo. Algumas quebram objetos, rasgam documentos ou fazem performances para as câmeras de TV. Não vou fazer nada disso, mas claro que já votei mentalmente no que eu quero que suma da minha vida em 2013 (mwahahaha). Vote você também, porque ainda dá tempo - além do mais porque o fuso horário de Nova York está três horas atrás do nosso.

MEUS DISCOS DE 2012

Partiu retrospectiva. Vou começar pela música, onde já cheguei num consenso comigo mesmo. Como em todos os anos deste blog, comprei menos CDs e baixei mais músicas que no ano anterior. O fato estranho é eu AINDA comprar CDs, apesar das lojas estarem sumindo mais rápido que o pássaro dodô. Mais estranho ainda é eu AINDA não ter comprado absolutamente nada na iTunes Store - justo eu, que sou teleguiado pela Apple. Então lá vai uma resolução para 2013: comprar na iTunes Store. E lá vão os meus cinco discos favoritos do ano, em ordem decrescente. Para variar, a lista é dominada pelo mulherio:

TREME, Gaby Amarantos - A Beyoncé do Pará foi revelada para o resto do país no final de 2011, e nunca mais saiu da mídia. Houve dias em que parecia estar em todos os canais de TV ao mesmo tempo. Mas o hype é justificado: além de ter um vozeirão e ótima presença no palco, Gaby produziu um disco onde borra as diferenças entre o brega e o cult. É o som de um Brasil moderno, orgulhoso das raízes e querendo ir às compras.

VOWS, Kimbra - Todo mundo ouviu a voz cristalina dessa cantora da Nova Zelândia no megahit "Somebody That I Used to Know", ao lado do belgo-australiano Gotye, mas poucos descobriram seu sensacional CD de estreia. A moça ainda é uma compositora incrivelmente original, com músicas que soam como anjos embriagados. Para mim, Kimbra foi A novidade internacional do ano. Vocês prometem que vão prestar mais atenção nela no futuro?

COEXIST, The xx - E por falar em prestar atenção, eu finalmente me dei conta da existência da banda inglesa The xx, com apenas três anos de atraso. Me apaixonei por este segundo disco deles e corri para comprar o primeiro. Delicado, melancólico, perfeito como música de fundo ou para um mergulho no inconsciente. Só não recomendo ouvir sem parar, sob o risco de entrar numa fossa daquelas de que a gente só sai a doses de J.Lo.

KAAS CHANTE PIAF, Patricia Kaas - Adoro essa francesa desde que ela surgiu no final dos anos 80, cantando um pop sofisticado com sua voz meio rouca. Este ano ela se jogou num projeto arriscadíssimo: regravou os sucessos de Edith Piaf. E conseguiu a façanha de tanto prestar homenagem aos originais como recriá-los à sua maneira, com arranjos suntuosos do maestro Abel Korzeniowski. Époustouflant.

MDNA, Madonna - A tia entrou nesses Top 5 mais pela fraqueza da concorrência do que por mérito próprio. Até que ousou bastante em faixas como "Gang Bang" e "I'm Addicted", que flertam com o dubstep. Mas podia ter ousado mais, para justificar seu título de rainha. E já passou da idade de cantar travessuras como "Give Me All Your Luvin'". Mas sua apresentação no Super Bowl e sua turnê mundial mostraram quem é que (ainda) manda.


Para não acharem que eu só ouço deevas beeshas, vou citar outros dez discos de que gostei muito em 2012, agora em ordem alfabética:

THE ABBEY ROAD SESSIONS, Kylie Minogue
BORN TO DIE, Lana del Rey
ECHOES, Will Young
ELLES ET LUI, Alain Chamfort
ELYSIUM, Pet Shop Boys
LÍDERES, Wisin & Yendel
MAGIC HOUR, Scissor Sisters
THE ORIGIN OF LOVE, Mika
QUINTO, António Zambujo
VENGEANCE, Benjamin Biolay

E meus hits do ano? Nesta categoria não sigo apenas meu gosto pessoal, mas também o que tocou sem parar e mesmo assim não me fez gritar de pavor. É por isto que o primeiríssimo lugar foi para o senhor aí ao lado. Oppa!


GANGNAM STYLE
, PSY
PARTY FOR EVERYBODY, Buranovskyie Babushki (do Eurovision)
VEM DANÇAR KUDURO, Robson Moura e Lino Krizz (você sabe de onde)
SOMEBODY I USED TO KNOW, Gotye feat. Kimbra
GIRL GONE WILD, Madonna
HISTORY IS MADE AT NIGHT, Megan Hilty & Will Chase (da série “Smash”)
ZOU BISOU BISOU, Jessica Paré (da série “Mad Men”)
LET’S HAVE A KIKI, Scissor Sisters
ALGO ME GUSTA DE TÍ, Wisin & Yendel feat. Chris Brown
A MORENA, Mu Chebabi & Luiza Casé (da novela “Gabriela”)

Sinta-se livre para discordar das minhas escolhas, e também para sugerir preciosidades que eu deixei escapar. The ear has to travel.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O CALENDÁRIO HETERODOXO

Fazia tempo que eu não via uma armação tão deslavada quanto esse "calendário ortodoxo" que está causando rebuliço internet afora. O site oficial diz que as fotos da folhinha são de sacerdotes romenos de mente aberta, mas não há menor prova de que os modelos sejam sequer da Europa Oriental. Também é bandeiroso o uso de letras esquisitas que, no entanto, não pertencem ao alfabeto cirílico. Ainda mais suspeita é a vela aromática "Sancta Sapientia", à venda no mesmo site: a Igreja Ortodoxa não usa o latim. Como se não bastasse, é ainda mais homofóbica que a Católica, o que torna pra lá de improvável que essas imagens retratem padres de verdade. Mas quem é que está ligando para isto? Glória a Deus nas alturas!

MOON RIVER, WIDER THAN A MILE

"Fifht Avenue, 5 A.M." é o tipo de livro ideal para se ler nas férias. O escritor americano Sam Wasson conta toda a concepção e a filmagem de um dos filmes mais icônicos de todos os tempos, "Bonequinha de Luxo" - que daqui para a frente será chamado por seu título original, "Breakfast at Tiffany's", e não pelo nome idiota inventado pelo exibidor brasileiro, que vai contra o espírito da história. O livro é curto (pouco mais de 200 páginas), com oito curtos capítulos divididos em tópicos tão curtos que poderiam ser posts num blog. "Tão divertido que deveria vir com sua própria pipoca", disse um crítico, e é verdade. Mas disseca a criação da imagem de sofisticação absoluta de Audrey Hepburn, que perdura até hoje. Na vida real, a protótipo da gamine era um poço de insegurança, com talentos limitados como atriz e cantora. O que não a impediu de ganhar um Oscar logo por seu filme de estreia, "A Princesa e o Plebeu", e a até sapatear em "Cinderela em Paris", simplesmente meu filme favorito de todos os tempos. Mas a Audrey que entrou para a história é a de pretinho básico (se bem que Givenchy), piteira numa mão e gato na outra: a versão cinematográfica da Holly Golightly, muito mais comportada e romântica na tela do que na novela de Truman Capote. "Fifth Avenue, 5 A.M." também traz um manancial de detalhes sobre a produção (Marilyn Monroe quase foi escalada para o papel, que tal?) e chega a dizer que a protagonista do filme foi uma das pioneiras da mulher moderna, independente sexual e financeiramente. Quem nunca viu "Breakfast at Tiffany's" não sabe o que está perdendo: além de uma das festas mais divertidas de toda a história do cinema, o filme de Blake Edwards também vaza glamour por todos os poros, e ainda tem a canção "Moon River", que se tornaria clássica. Acima de tudo, tem Audrey Hepburn em seu apogeu: matéria obrigatória no currículo de qualquer bicha que se pretenda fina.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

UN-BELIZE-ABLE

Não vi quase nada de Belize. Ruínas maias? Não. Belize City? Só o aeroporto. O pico Victoria, ponto "fulminante" do país? Muito à distância, do meio do mar. Mas o que mais dói no coração foi não ter visto o Blue Hole, uma caverna vertical submarina no meio da barreira de coral. Fica a duas horas de lancha da ilha onde estamos, e a gerente canadense - que parece a Sue Sylvester do "Glee", tanto no físico como na personalidade - nos desaconselhou vivamente. Muito longe, muito caro, não dá para ver nada se você não mergulhar de scuba. Acabamos passando três dias no Thatch Caye Resort de papo pro ar, tomando margaritas nas piscinas naturais e aplaudindo o por do sol. Dormindo às 10 e acordando às 6. Para quem está acostumado, como eu, a fazer trocentas coisas por dia, é quase que um cavalo-de-pau. A esta hora já estamos voando nossas quatro conexões de volta ao Brasil. Pelo menos minhas férias não acabaram: só volto ao batente dia 7. Ainda vou ao Rio depois do réveillon, uêbaaa.

ATUALIZAÇÃO: Chegamos ao aeroporto de Belize City três horas antes do nosso voo para El Salvador. Despachamos as malas e tivemos tempo para dar um rolé de uma hora pela cidade, que é ainda mais pobre e feia do que eu esperava. Mas as belezas naturais compensam.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

ALL-TYPE TV

A infra-estrutura de Belize é realmente de terceiro mundo. Culturalmente, o país é mais próximo das ilhas do Caribe de colonização britânica do que de seus vizinhos México e Guatemala. A população total não chega a 350 mil habitantes. Ainda bem que, mesmo nessa carência toda, os belizenhos conseguem ser simpaticissímos. Tem coisa mais fofa do que o canal de TV de Dandriga, um vilarejo que na verdade é a maior cidade do sul? É um slide atrás do outro, sem nenhum tipo de efeito nem locução. Só música ao fundo. Funciona como um quadro de avisos eletrônico, anunciando mortes e aniversários ou alertando que a loja tal ficará aberta na véspera de Natal, INCLUSIVE na hora do almoço.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

BELIZE NATAL

E agora, uma seleção das melhores imagens natalinas deste curioso país:





LAST NIGHT I DREAMT OF SAN PEDRO

Sempre achei que Madonna cantasse sobre um lugar imaginário em "La Isla Bonita". Nunca ouvi falar de nenhuma ilha chamada "San Pedro" no Caribe. Só que ela existe sim, e fica em Belize: é a cidade de San Pedro, na ponta sul da ilha de Ambergris. Mas não é lá que estamos. Nosso hotel, o Thatch Caye Resort, fica num atol no outro extremo do país, mais ou menos em frente à cidade de Dandriga. Tem prainhas com água cristalina, mas a grande atração mesmo são os mergulhos. Como nnao temos tempo para aprender a usar o scuba, fomos de snorkel mesmo. E já foi óteeemo: no rasinho da barreira de coral, é só enfiar a cara no mar para ver maravilhas, de coloridíssimos peixes-papagaio até arraias gigantescas. No caminho, passamos pela incrível Ilha dos Pássaros, um santuário onde fragatas barulhentas se repdoruzem. Os machos negros constróem os ninhos e incham os papos vermelhos para atrair as fêmeas. Como entre os humanos, elas preferem quem tiver o melhor apartamento. Tropical the island breeze, all of nature wild and free..

domingo, 23 de dezembro de 2012

JÁ TOMOU MICHELADA?

É uma cerveja temperada como se fosse suco de tomate, com sal, limão, molho inglês e pimenta. Sei que muitos bares de São Paulo já oferecem, mas só fui tomar a Michelada aqui em Belize - que na verdade é originária do México, aqui do lado. Há diversas explicações para o nome desse "cerveza preparada": como os mexicanos chamam a breja de chela, seria uma corruptela de "mi chela helada". Ou então a contração de mix + chela + helada. Ou ainda a invenção de um certo Michel, que gostava de incrementar assim sua cervejinha. E existem infinitas variações: neguinho põe de tudo lá dentro, desde molho shoyu e clamato (suco de tomate com ostra) até caldo de carne em cubinho. Só sei que o troço é bom para tomar no sol.

FLORESÇO À SOMBRA

Primeiro foi um voo de cinco horas até Lima, Peru. Depois de uma hora em terra, mais quatro horas de avião até San Salvador, capital de El Salvador. Aí foi uma correira, pois tínhamos menos de uma hora para fazer a conexão para Belize. Os três voos foram pela Taca: um autêntico Taca-Taca-Taca. Desembarcamos num aeroporto dos anos 60 e achávamos que o nome no voucher, Maya Island, era da companhia de vans que viria nos buscar. Só que não: é uma pequena aerolinha local, que nos levou em 15 minutos de teco-teco à cidade de Dandriga, onde deveríamos pegar um barco para a ilha do nosso hotel. Só que o tempo estava nublado e o mar muito batido, então esta quinta perna da viagem ficou para o dia seguinte. Vamos pernoitar no Pelican Beach Resort, que é simpático sem ser de luxo, e domingo bem cedo tocamos para Thatch Caye. Não deixa de ser uma aventura. Belize é ainda mais pobre e sem infra-estrutura do que eu pensava, mas o povo não pode ser mais solícito e sorridente. Custo a acreditar que ainda vigora por aqui uma lei antiga que proíbe a entrada de gays no país, e que pune qualquer ato homossexual com 10 anos de cadeia (estrangeiros pegos em flagrante são sumariamente deportados). É uma mnetalidade típica do Caribe de colonização britânica: as ilhas da vizinhança, como a Jamaica or as Cayman, são dos lugares mais homofóbicos do mundo. O curioso é que a bandeira belizenha mostra dois rapagões sem camisa embaixo de uma árvore, cada um deles segurando um tacape maior que o o do outro. Estão, obviamente, numa pool party. O lema do país também tem conotação hedonista: "sub umbra floreo", floresço à sombra. Cabe feito uma luva na situação dos LGBT locais, que se mantêm na moita para não serem incomodados.

sábado, 22 de dezembro de 2012

XUXANDO OS MAIAS COM VARA CURTA

Se você estiver lendo este post, é porque o mundo não acabou ontem. Foi só o final do 14o. b'ak'tun, o ciclo de 396 anos do calendário maia. Para comemorar o início de uma nova era, estou indo com um grupo de amigos passar o Natal em pleno território maia. Mais precisamente, em Belize, aquele paiseco da América Central de que pouca gente ouviu falar. Incrustrado entre o México e a Guatemala, bem pertinho de Cancún, Belize era a antiga Honduras Britânica, e tem uma história curiosa. Seu território pertencia integralmente à Guatemala até meados do século 19, e era praticamente inexplorado. Aí a Inglaterra chegou e fez a seguinte proposta: aí, Guate, você tá muito presa, precisa se soltar mais. Que tal uma estrada de ferro em troca daquela pedaço de terra banhado pelo Mar do Caribe? Os chapínes toparam, os ingleses ganharam mais uma colônia e NUNCA construíram a tal da ferrovia. A disputa territorial durou mais de 100 anos, até os guatemaltecos reconhecerem oficialmente a existência do país - independente desde os anos 60, agora com o nome de sua maior cidade (e ex-capital), Belize. Vamos para uma ilha no meio da barreira de coral que percorre o litoral, a segunda maior do mundo depois da australiana. Espero que por lá pegue internet, telefone, TV a cabo, o básico. Porque, se faltar tudo isto, é sinal de que os maias venceram.

TEACH ME TIGER

Um náufrago a bordo de um bote salva-vidas, tendo um tigre por única companhia. A ideia de Moacyr Scliar, ponto de partida de seu livro "Max e os Felinos", é tão boa que foi surrupiada por Yann Martel para seu livro "LIfe of Pi". O escritor brasileiro pensou até em processar o canadense, mas não deve ter tido saco para uma luta nos tribunais. Martel assumiu de onde tirou a inspiração, mas sua história saiu bem diferente. E agor rendeu o que é, de longe, o filme mais deslumbrante do ano. Assisti a "As Aventuras de Pi" não só em 3D como numa sala 4xd, com direito a efeitos de vento, água e sacolejos na poltrona. É uma experiência sensorial absolutamente incrível. E ainda bem que o filme do ultra-versástil diretor Ang Lee, com feras e cenários gerados por computador, transcende o mero gimmick, atingindo uma profundidade inesperada no final. Valeu cada centavo do ingresso caríssimo.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

CASAMENTO, ELEIÇÃO E PORRADA

Quer dizer então que duas pessoas do mesmo sexo agora podem se casar no estado de São Paulo? A notícia tem um quê de incredulidade para mim, pois saiu meio que na surdina. Não foi destaque na televisão nem manchete nos jornais. Saiu uma notinha dizendo que sim, agora os cartórios paulistas têm que realizar este tipo de união, assim como já acontece em Alagoas e na Bahia. Não houve protestos, não houve comemoração. Talvez seja melhor assim, para não atrair a ira tresloucada dos homofóbicos. E este avanço acontece de um jeito bem brasileiro, como que na surdina, sem passeata na rua nem fogos de artifício. Pelo menos não precisou-se ir às urnas, onde a derrota da nossa causa seria certa - algo que aconteceu mais de 30 vezes nos Estados Unidos, até a maré mudar de mão nas últimas eleções. Este é o tema da minha coluna na revista "H" no. 6, que acaba de chegar às bancas. Outro texto meu já está no ar há mais de uma semana e pode ser lido inteiramente grátis no Visionari, aquele site para pessoas com mais de 50 anos onde eu sou colaborador. Está aqui, e é uma reflexão sobre as pequenas violências cotidianas, escrito depois que presenciei uma cena de pugilato em pleno shopping Iguatemi JK. Aliás, naquele caso não havia homofobia envolvida, mas cenas como esta estão se multiplicando contra os gays - haja visto o cara que foi espancado com barras de ferro depois que saiu da The Week. Bem que eu avisei que isto ia acontecer, neste momento de tantas conquistas. Mas depois passa - tomara.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

MUITO SANGUE, POUCO MEL

Angelina Jolie é uma figura inverossímil. É uma mulher deslumbrante, uma ótima atriz, casada com um dos homens mais bonitos do mundo, mãe de uma extensa prole de filhos biológicos e adotados, embaixadora da Unicef. Foi esta última função que despertou uma outra, mais uma, no já quilométrico currículo da moça. Durante uma viagem à Bósnia-Herzegovina, a senhora Pitt teve a inspiração para "Na Terra de Amor e Ódio", um romance improvável que tem como pano de fundo a guerra que fragmentou a Iugoslávia no começo dos anos 90. O roteiro, também escrito por ela, mostra um pouco das razões dos lados envolvidos, mas assume uma postura inequivocamente a favor dos muçulmanos e contra os bósnios de origem sérvia, que tentaram fazer a famigerada "limpeza étnica" e cometeram crueldades de arrepiar. A primeira parte do filme é muito boa, apesar da gente tapar os olhos em muitos momentos por causa da violência exibida. Mas o implausível caso de amor entre um comandante sérvio e sua prisioneira muçulmana ralenta a segunda parte, apesar do final surpreendente. O título em inglês falava em sangue e mel, mas há abundância do primeiro na tela e quase nada do segundo. Não é um programa levinho, mas serve para levantar questões atuais: o mundo vai deixar que a Síria se autodestrua, como quase fez como os países dos Bálcãs? Não há respostas fáceis. Veja se tiver estômago.

MÚSICA D'OUTREM

As megastores da Virgin e da Tower se foram, mas uma loja de CDs ainda sobrevive em Nova York: é a estranha Other Music, na esquina da West Broadway com a rua 4. Lá você jamais encontrará o último lançamento do Justin Bieber ou nem mesmo da Madonna. Em compensação, as prateleiras estão forradas de discos exóticos, muitos deles trazendo faixas antigas que seriam raridades até mesmo em seus países de origem. É o caso de "Cambodia Rock Spectacular!", que soaria como piada se não fosse verdade: uma compilação de pop e rock cambojano, do começo dos anos 60 até a tomada do poder pelo Khmer Rouge em 1975. As gravações são meio abafadas, mas as melodias e a animação dos cantores faz pensar nas trilhas de Bollywood. Óqui uma palhinha procêis: o iê-iê-iê "Gon Som Meri Kon Mdong" (Por Favor, Só Mais um Filme, Papai), na interpretação maviosa de Ros Sereysothea e Houy Meas.

Outra pérola que eu garimpei foi a coletânea "Skanish Sound", também de um gênero musical improvável: pop espanhol dos anos 60 com influência da Jamaica. Quer dizer, com influência do pop inglês que era influenciado na época por grupos jamaicanos de ska e dancehall, antes mesmo do advento do reggae. É uma espécie de Jovem Guarda do final da ditadura franquista, que, apesar de ingênua sofria censura por ter elementos "negróides". Lá vai mais uma palhinha: "Te Puedes Ir en Paz", com a banda catalã Los de La Torre. Comprei algumas outras preciosidades na Other Music, como um disco psicodélico de Tim Maia cantando em inglês (a pronúncia dele era ótima) e outro de Francis Bebey, o pioneiro da música eletrônica na África. São sons esquisitos, aos que os nossos ouvidos não estão acostumados. Mas, como em tudo na vida, depois que entra pela primeira vez e a gente se acostuma, é uma delícia.

UM PLUS A MAIS

Hoje, às 16 horas, vou participae de um "hangout" no Google + com os dois repórteres da "Ilustrada" especialziados em televisão, Keila Jimenez e Alberto Pereira Jr. Deve durar entre 40 minutos e uma hora, e faremos uma retrospectiva da TV brasileira em 2012. Para assistir, primeiro você tem que se inscrever no Google + (o que é bico para quem já tem conta no Google) e depois acrescentar a "Folha de São Paulo" aos seus círculos (é como no Twitter, não precisa esperar confirmação do outro lado). Assitir a um "hangout" no Google + é como espiar a conversa dos outros no Skype, porque você vê e ouve todo mundo mas não pode meter o bedelho (ainda bem, hahaha). No mais, espero não falar muita besteira. Até mais tarde.

ATUALIZAÇÃO: A primeira parte do hangout já está no Youtube, aqui. Tivemos problemas técnicos e a transmissão foi interrompida por alguns instantes, mas depois voltou. Quando subirem a segunda parte eu aviso.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

CREPÚSCULO SEM VAMPIROS

Bella, da pseudo-saga "Crepúsculo", tem seus afetos disputados por um vampiro e um lobisomem. Sookie, da série "True Blood", tem seus afetos disputados por dois vampiros. Katniss, de "Jogos Vorazes", tem seus afetos disputados por um namorado de infância e um rapaz que vai com ela para a arena. Esta é a fantasia feminina predominante nos dias hoje, mais até do que transar com um bilionário sadomasoquista: ter dois sujeitos a seus pés, mesmo que a moçoila em questão seja uma tremenda duma chata. É dessa fantasia contemporânea que trata o péssimo filme de Sarah Polley, "Entre o Amor e a Paixão". O título em português é canhestro, mas traduz melhor a história tolinha do que o original "Take This Waltz". O argumento não é dos mais originais, mas já rendeu coisas melhores nas mãos de diretores mais talentosos, como François Truffaut: uma mulher casada e realtivamente feliz se apaixona de uma hora para outra por um cara que conhece por acaso, e fica na dúvida entre os dois homens sensacionais que disputam seus afetos. A mulher neste caso é a supervalorizada Michelle Williams, que está sempre com cara de quem acabou de chorar na pia. Aqui ela chora muito, e também faz muito xixi em cena - não sei vocês, mas eu simplesmente DETESTO ver mulher fazendo xixi no cinema. A atriz Sarah Polley estreou do lado de lá das câmeras com o bom "Longe Dela", em que a sublime Julie Christie fazia uma mulher que sucumbia pouco a pouco ao mal de Alzheimer. Mas dessa vez Polley rodou um filme de menininha, fofinho e irritante. Se pelo menos algum dos pretendentes fosse um vampiro cruel, mas nem isto.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

ESTRAGARAM O INSTAGRAM

A renomada blogueira Lindinalva Zborowska precisou mudar de nome no Facebook. Ela recebeu uma cartinha avisando que sua conta seria suspensa se ela insistisse em usar um sobrenome falso, o que vai contra as normas da rede - como se não existissem descendentes de eslavos no Brasil. Desde então, a pobre precisou adotar seu nome de solteira no Face: Lindinalva Maria da Silva. Já estou vendo a hora em que receberei uma advertência parecida, já que meu nome verdadeiro não é Tony, é Luiz Antonio. Esse despautério é só mais um dos pequenos abusos que Mark Zuckerberg e sua turma vêm cometendo, como se estivessem testando os usuários para ver até onde eles aguentam. Agora talvez tenham ido longe demais: o Instagram (que agora pertence ao Facebook) comunicou que, a partir de janeiro, se dará ao direito de comercializar qualquer foto postada nele sem repassar um tostão aos autores. Quem continuar lá estará tacitamente aceitando essa tungada. A notícia deixou muita gente revoltada, dizendo que vai abandonar a rede (vivíamos muito bem sem ela até meados do ano passado, lembra?) ou postando fotos de protesto, como fez a atriz Betty Lago. Essa celeuma toda pode até fazer com que o Instagram volte atrás, mas o estrago para a imagem da marca já é grande. Por muito menos, o Orkut foi pro saco.

ATUALIZAÇÃO: O Instagram já desistiu. Ficou assustado com a reação nas redes sociais. Hahaha, criaram um monstro. Tony Goes curtiu isto.

HOMENS DE SAIA

Hoje dei uma rápida entrevista para o programa do André Fischer na rádio CBN. O assunto? Tendências para 2013. A primeira da minha lista: homens de saia! Vi algumas saias masculinas nas vitrines de Nova York, sempre com corte reto e geralmente pretas. Também vi um único homem na rua, em plena luz do dia, desfilando com uma delas como se nada. Claro que é preciso ser muito macho (não necessariamente hétero) para se vestir assim, mas os tempos estão mudando. Esta, aliás, foi a segunda tendência que apontei: 2012 pode entrar para a história como o ano em que os gays brsileiros finalmente começaram a reagir. Dois exemplos recentes ilustram essa reação: a agressão da rua Henrique Schaumann, em SP, e o infame artigo de J. R. Guzzo que comparava o casamento homossexual à zoofilia. Nos dois casos, os homofóbicos se espantaram com a gritaria, principalmente nas redes sociais. Sim, ainda é pouco, mas é um começo. É bom eles saberem que não podem nos espancar nem nos chamar de cabras impunemente. E não, nosso objetivo não é instalar nenhuma ditadura gay no país. Só queremos poder andar tranquilamente na rua, de mãos dadas com o marido e talvez usando saia. Que aliás não comprei: além de caríssimas, elas marcam demais. Se eu usar pela segunda vez já vão dizer "lá vem ele repetindo roupa". (O programa "MixBrasil CBN" vai ao ar aos domingos, das 22 às 23 horas, mas depois pode ser escutado no site da rádio CBN.)

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O SENHOR DOS ELÁSTICOS

Onze anos e três longas horas depois do primeiro "Senhor dos Anéis", emerge uma certeza dentro de mim: já deu, né? "O Hobbit - Uma Jornada Inesperada", o aguardado prequel à trilogia que conquistou o mundo no começo da década passada, é mais do mesmo. Ou melhor, do mesmo não, pois é bastante inferior aos outros filmes. Não em termos de produção, é óbvio: assiti em IMAX 3D e é tudo absolutamente espetacular, das barbas dos anões às inevitáveis cenas de batalha. Mas não tem a grandeza espiritual da obra máxima de J. R. Tolkien, inclusive porque o próprio autor queria assim: "O Hobbit" foi concebido como um livro mais simples, voltado ao público infantil. Mas depois de duas temporadas de "Game of Thrones" é esquisito voltar a este universo de fantasia onde não existe nem a sexualidade nem a dubiedade: os elfos são bons porque nasceram elfos, os orcs são maus porque nasceram orcs e assim por diante. O pior é que a ganância dos produtores desdobrou este pequeno volume em TRÊS longuíssima-metragens, esticando um fiapo de história como se ele fosse um elástico. O resultado é que este primeiro episódio é pouco mais que uma sequência de correrias, com os heróis fugindo de todo tipo de monstro (tem até dois gigantes de pedra que lembram o Pão de Açúcar depois de algumas doses de whisky). "O Hobbit" só cresce quando surge o Gollum, já perto do final. Este sim é um personagem trágico (além de engraçadíssimo), numa atuação magistral de Andy Serkis que já teria ganho um Oscar - não fosse pela "maquiagem digital" que cobre o ator.

DOMINGO EM SANTO DOMINGO

Inauguramos o novo voo da Gol voltando dos Estados Unidos. Saímos de Nova York no sábado, dormimos na casa de um amigo em Miami e ontem de manhã embarcamos num voo da companhia brasileira rumo a Santo Domingo, onde fizemos conexão para SP. E pensar que cinco anos atrás, quando fui para a República Dominicana a trabalho, precisei ir via Miami; dessa vez foi o contrário. Assim como na ida, os voos estavam quase vazios - e todo mundo sabe que um voo vazio da pior aerolinha é melhor do que um voo abarrotado da melhor aerolinha. Levantamos os braços das cadeiras, transformamos assentos flutuantes em travesseiros e viemos refestelados, apesar da comida de bordo ser previsivelmente fraca (pelo menos não serviram MaxiGoiabinha). Passamos uma hora e pouco no Aeropuerto de las Americas em Santo Domingo, que recebeu um upgrade desde que estive ali em 2007. Não resisti a comprar a versão local da "Caras", com Zoë Saldaña na capa (o pai da da atriz é dominicano). De lá, mais seis horas e tanto até Guarulhos. Aterrissamos à uma hora da manhã e estou moído até agora. Mas minhas férias continuam: viajo novamente no final desta semana. Wuhuu.

domingo, 16 de dezembro de 2012

O ANALÓGICO ANTEDILUVIANO

Esse cara sou eu. Não só ainda compro CDs físicos, esses artefatos arcaicos, como também livros impressos. Quer dizer, quando encontro. Já esperava não ver mais lojas de discos nessa viagem aos EUA. Sabia que a Virgin Megastore do Times Square fechou há mais de quatro anos, mas me doeu o coração ver um magazine feminino no lugar dela. Chegamos num ponto em que é mais fácil comprar discos de vinil do que CDs. O que me pgeou de surpresa foi o sumiço das livrarias. A cadeia Borders faliu e a sofisticada Riizzoli fechou vários pontos de venda. Sobrou a Barnes & Noble, que segue firme e forte com lojas de vários andares que são verdadeiros shopping centers (vendem até brinquedos). Ontem fizemos a festa na filial da Union Square. Mas, para variar, não consegui comprar tudo o que eu queria. Com quatro volumes na mão que eram verdadeiros tijolos, me senti o próprio homem das cavernas. Pesam um tonelada cada um e ocupam um espaço absurdo. Devolvi todos para suas prateleiras, decidido a encomendá-los na Amazon assim que voltar a SP. Melhor ainda seria se eu eu baixasse as versões digitais, mas a evolução é um processo lento e gradual. Uma coisa de cada vez.

BEBUM NOEL

Passeando ontem de manhã pela rua 23, demos de cara com um bando de rapazes vestidos de Papai Noel. Nenhum tinha o physique du rôle para interpretar o bom velhinho: eram todos jovens e magros. "Deve ser para caridade", pensei. Aí reparei que alguns já estavam bênados. Eram onze e meia da manhã. Mais adiante havia outros, inclusive meninas, alguns fantasiados de renas ou elfos. Encontramos ocm um amigo americano para o brunch e ele nos explicou a invasão: ontem foi o dia do SantaCon, um evento já tradicional mas do qual nunca tínhamos ouvido falar. A moda começou na Dinamarca, nos anos 70. Nos finais de semana que antecedem o Natal, a garotada se veste de Papai Noel e sai à rua para beber, de bar em bar. Alguns até recolhem donativos ou coisa que o valha, mas a maioria só quer furdunço mesmo. O SantaCon logo se espalhou pelo mundo, principalmente entre os países de língua inglesa, e já existe até uma página "oficial" listando os diferentes eventos do gênero ao redor do mundo. Curiosamente, não pegou no Brasil, e olha que não somos exatamente avessos a uma festa no meio da rua. Mas vestir aquelas roupas pesadas debaixo de um sol de 40 graus só para beber umas cervejas não é algo que esteja no nosso DNA.

sábado, 15 de dezembro de 2012

AND YOU CAN GET IT - IF YOU TRY

Quando a gente pensa num musical da Broadway, o que vem à cabeça é algo parecido com "Nice Work If You Can Get It". É uma superprodução luxuosa com atores famosos, figurinos translumbrantes, números de sapateado e algumas das melhores canções de George e Ira Gershwin. Mas não é a remontagem de um clássico: na verdade, é um espetáculo moderno que só alinhava alguns dos "standards" americanos mais conhecidos com um fiapo de história e depois embrulha tudo para presente. Apesar da história se passar na época da Lei Seca, o texto faz referência a políticos contemporâneos e tem piadas cabeludíssimas. O grande chamariz é Matthew Broderick, que é afinadinho mas não tem uma voz muito potente. Em compensaçāo, o cara esbanja aquele tipo de charme no palco que torna impossível tirar os olhos dele. Uma farra leve e divertida que nos ajudou a superar a barra pesada das peças do dia anterior, e o tipo de show que você deve levar seus pais se vier com eles a Nova York.

Mas esse estilo tradicional é só uma das muitas maneiras de fazer teatro musical. No dia seguinte fomos ver algo totalmente diferente: "Silence!", a versão musical e satírica de "O Silêncio dos Inocentes". Sem celebridades no elenco e sem dinheiro na produção, mas também sensacional. O filme de 1991 é reproduzido quase que cena a cena, e a atriz principal arranca gargalhadas ao imitar o sotaque de Jodie Foster. O ponto alto é uma canção interpretada por Hannibal "The Cannibal" Lecter que tem o singelo nomezinho de "I'd Like to Smell Her Cunt" ("Eu Quero Cheirar sua Xoxota"), com direito a uma coreografia quase obscena. E assim encerramos nosso périplo teatral: mesmo tendo visto cinco peças em quatro dias, ainda tem pelo menos umas dez outras que nos interessavam. Ainda bem que Nova York é pertinho e está tudo baratíssiOH WAIT

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

I'M ABOUT TO LOSE CONTROL AND I THINK I LIKE IT

Pedro Almodóvar acabou de rodar sua primeira comédia muitos anos, com Antonio Banderas, Penélope Cruz e Cecilia Roth no elenco. I'm sooo excited.