sábado, 31 de dezembro de 2011

CUMPRA-SE A PROFECIA

O México está se preparando para faturar alto com o turismo no ano que vem. Estão sendo organizados festivais na região de Cancún, tudo por causa da tal da profecia maia que prevê o fim do mundo em 2012. Apesar de ter rendido até um filme bastante ruim, a verdade é que não há profecia nenhuma: simplesmente o calendário maia para em 21 de dezembro de 2012, mais ou menos como o odômetro do carro que vai só até 99.999 km. Isto não quer dizer que não dê para seguir em frente. De qualquer maneira, espero um ano agitado, para colher o que foi plantado em 2011. Este foi um ano de grandes mudanças físicas para mim: saímos do apartamento do Rio e mudamos de apartamento em São Paulo. No segundo semestre, comecei a investir para valer na minha mudança de área na propaganda (quero mudar da criação para o planejamento), e tenho a satisfação de comunicar que já estou com meio caminho andado. No mais, desejo aquilo de sempre para todo mundo na virada: muitos fogos, champagne, beijos na boca e sexo com estranhos. Até o ano que vem.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O SAMBA DO GREGO DOIDO

Por que é que os imbecis dos roteiristas americanos acham que a mitologia grega precisa ser melhorada? Tem saído muito filme sobre deuses e semideuses, e nenhum é fiel à história original. Vira tudo um pastiche digno de vídeo game, e o que antes tinha significado agora só é pretexto para batalhas épicas e pegação consentida entre machos hétero. O diretor Tarsem Singh abusa de seu dom para o visual dramático em "Imortais", e a direção de arte é fantástica - apesar de também ter pouquíssimo a ver com a Grécia do século V a.C. Já o figurino é bastante irregular, e alguns deuses olímpicos ganharam fantasias dignas das escolas de samba do grupo B de São Paulo. Quem gosta de torture porn vai se regalar: línguas são cortadas, olhos são vazados e pessoas são assadas vivas dentro de um touro de metal, um método de execução que realmente existiu. Mas é difícil acompanhar a trama, e, como de praxe, o 3D deixa de ser percebido nos primeiros cinco minutos. Para completar, o herói Teseu agora é uma barbie bombada que não quer saber de mulher e divide o quarto com a própria mãe. Só faltou ter um blog sobre suplementos nutricionais. Pelo menos o Henry Cavill é o homem mais lindo do mundo.

MEUS FILMES DE 2011

Sem mais delongas, aqui vai a lista dos meus 10 favoritos do ano.

Tout le monde et son père se encantou com "Meia-Noite em Paris", o maior sucesso de bilheteria de toda a carreira de Woody Allen. E como não se deixar seduzir pela história de um cara que sonha em viver num tempo e num lugar que não são o aqui e agora? Não topo muito o Owen Wilson, mas ele está bem como o americano bobão-clichê que passeia pela Cidade-Luz dos anos 20 e topa com Ernest Hemingway, o casal Fitzgerald e outros mitos. Final feliz previsível, mas um bom jantar num bistrô também acaba bem e ninguém reclama.

"Incêndios" representou o Canadá no último Oscar, mas é quase todo falado em árabe e a maior parte de sua ação se passa no Líbano. É um melodrama político com momentos fortíssimos. Tipo quando uma milícia cristã ataca um ônibus lotado de muçulmanos e... Sinto um coice no estômago só de lembrar. Não é entretenimento levinho, apesar do desenlace folhetinesco ter desagradado aos mais ranzinzas. Mas é filme complexo, que nos ajuda a entender um pouquinho a bagunça do Oriente Médio. E a nos horrorizar ainda mais.

Eu não conhecia o chef inglês Nigel Slater nem de ouvir falar, mas agora que vi sua cinebiografia quero saboreá-lo de diversas maneiras. "Toast" é delicioso, das interpretações um tom acima à constatação de que o pequeno Freddie Highmore está crescendo muuuito bem. Helena Bonham-Carter, para variar, rouba todas as suas cenas, e é melhor ir para o cinema de barriga cheia para não sofrer com os pratos que aparecem na tela. Foi uma das melhores descobertas da última Mostra de SP. Pena que ainda não tenha estreia marcada no Brasil.
George Clooney é simpatizante do partido Democrata americano. Nem por isto ele deixa de detonar seus correligionários em sua segunda incursão por trás das câmeras. Na frente, aqui em "Tudo pelo Poder", ele fica em segundo plano e deixa o incrível Ryan Gosling brilhar como um talentoso porém ainda inexperiente assessor político. E ainda tem um elencaço de apoio... Vi na Mostra de SP no começo de novembro, mas esperei entrei em cartaz para falar aqui no blog. Agora digo e repito: vai ver, é bom pacas.

O ator americano John Turturro partiu em busca de suas raízes napolitanas, e bateu de frente com uma cidade caótica que explode em música e, aham, paixão. "Passione" é uma coleção arrebatadora de clipes de vários períodos das canções de Nápoles e revela ao resto do mundo a stupenda Pietra Montecorvino, que tem areia do Vesúvio na voz. No sul da Itália talvez se faça o som mais negro do planeta sem a presença de negros propriamente ditos - se bem que, para os racistas do norte, os meridionali são todos africanos.

Muita gente se irritou com o último de Pedro Almodóvar. A tal da surpresinha que acontece no meio do filme na verdade nem é da autoria dele, e já estava no livro "Tarântula" do francês Thierry Jonquier, que serviu de base para o roteiro. Mas claro que Pedrito acrescentou muita coisa de seu universo particularíssimo, de homens fantasiados de tigre a números musicais que irrompem do nada. No dia em que vi achei estranho, mas com o passar do tempo o filme cresceu dentro de mim (hmm..). E Antonio Banderas continua batendo um pelotón.

Mas o melhor filme espanhol do ano veio de um ex-protegido de Almodóvar, Alex de la Iglesia. "Balada Triste do Amor e do Ódio" foi mal lançado no Brasil e ficou só meia hora em cartaz, mas é um delírio digno de Quentin Tarantino. Toda a loucura da Espanha franquista está representada na guerra insana entre dois palhaços pelo amor de uma mesma mulher. O título original, "Balada Triste de Trompeta", remete a uma canção cafona de sucesso nos anos 70, e é uma moldura irônica para a sanguinolência que se vê na tela.

Marjane Satrapi, a autora de "Persépolis", adaptou para o cinema seu segundo romance em quadrinhos (com a ajuda de Vincent Paronnaud) e acabou criando um novo gênero, entre a ação real e a animação. "Frango com Ameixas" é deslumbrante: as imagens parecem ter sido coloridas à mão, e o Irã do final dos anos 50 surge como um sonho - ou como a memória esmaecida que de fato é. Mas a história é verídica: um tio da diretora que quis morrer depois de ter seu precioso violino quebrado pela esposa ciumenta.

Muita gente ODIOU "Biutiful", um dos filmes mais baixo-astral de todos os tempos. É a história de um fudido e mal-pago: o personagem de Javier Bardem vive (mal) de pequenos golpes, faz uma cagada atrás da outra, tem uma mulher maluca e aí descobre que está com câncer terminal. Pois é, life is hard and the you die. Mas o diretor mexicano Alejando González Iñárritu dá um show, com pelo menos três sequências dignas de entrar para a história. Bardem merecia ter levado o Oscar. Mas cuidado: veja num dia em que estiver de bom humor.

E a atriz do ano foi mesmo Natalie Portman, apesar de eu achar que Annette Bening merecia mais o prêmio da Academia. "Cisne Negro" é uma orgia kitsch, uma caricatura da neurose feminina que tem lugar garantido ao lado de clássicos como "O Que Terá Acontecido a Baby Jane?". Ainda não me recuperei da cena onde a protagonista se transforma em cisne em pleno palco. Só faltou botar um ovo. O filme também dividiu opiniões (meu marido Oscar quase saiu no meio), mas nunca achei tão divertido ver alguém tirar uma farpa do pé.

E se esta lista fosse a 15? Aí entraria "A Caverna dos Sonhos Esquecidos", o belíssimo documentário em 3D de Werner Herzog sobre pinturas pré-históricas. Também haveria espaço para "Em um Mundo Melhor", que levou para a Dinamarca mais um Oscar de filme em língua estrangeira, e "127 Horas", a emocionante história da separação de um rapaz e seu braço. A Marta Matui não vai gostar, mas "Potiche", a nova maneira que François Ozon encontrou para humilhar Catherine Deneuve, também estaria nela, assim como "O Palhaço", a consagração de Selton Mello como diretor e o melhor filme brasileiro de 2011.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

MEUS DISCOS DE 2011

Esta lista está mais pessoal do que nunca. Se não tivesse feito as viagens que fiz, alguns desses CDs sequer teriam suas existências desconfiadas. Continuo preferindo vocais femininos e o pop mais dançável, mas dá para perceber que o número de BPMs está diminuindo. Porque minha idade está aumentando?

"Recanto" foi lançado na antepenúltima semana do ano, ainda a tempo de se tornar o melhor disco brasileiro de 2011. Gal Costa se deixa usar como veículo para as ideias de Caetano Veloso, e se rende à eletrônica da turma do afilhado Moreno. O começo da carreira da baiana foi marcado por experimentalismos, mas há mais de três décadas que Gal não ousava tanto. E sua voz continua um cristal.

Quem dera Marisa Monte tivesse um pouco dessa inquietude. "O Que Você Quer Saber de Verdade" segue uma receita gostosa porém manjada, com os compositores e os arranjos de sempre. As letras insinuam infidelidades e o disco é agradável do começo ao fim, mas a cantora que surgiu eclética, há mais de 20 anos, está começando a se tornar repetitiva. Mas os flertes com o lado mais brega da Jovem Guarda continuam divertidos.

O uruguaio Fernando Santullo faz parte do coletivo Bajofondo, liderado por Gustavo Santaolalla, e compôs algumas das melhores canções do grupo. Seu primeiro disco solo foi lançado em 2009, mas só consegui comprar quando fui a Buenos Aires no começo deste ano. Ele vai além do tango eletrônico e cria um pop rio-platense moderno, neurótico e teatral. É um Palermo portátil: só de ouvir eu me sinto caminhando pelo bairro portenho.

Fechei 2010 ao som de uma compilação dos alemães do Propaganda, que embalou os anos 80, e qual não foi minha surpresa quando a primeira grande música de 2011 foi "Thank You", cantada justamente pela ex-vocalista da banda, Claudia Brücken. O disco "Combined" trouxe o melhor que ela gravou ao longo de toda a carreira e também algumas faixas inéditas, produzidas por Shep Pettibone (ex-Madonna e ex-Pet Shop Boys). Danke.

Depois do fraco "Es Mentira" de 2009, eu tinha meio que desistido do Miranda!. Mas aí a melhor banda argentina da década resolveu tomar jeito e voltou com o ótimo "Magistral", que também é o nome de um detergente muito conhecido por lá - daí o tema "limpeza doméstica" nas fotos da capa. A esta altura os viadinhos adolescentes de Buenos Aires já devem saber o disco todo de cor e salteado.

Não sei se "Born This Way" é um disco cansativo, ou se é Lady Gaga quem já está cansando um pouco. O disco soa interminável com 17 músicas, e várias delas revelam que a Germanotta talvez preferisse estar tocando rock'n'roll do que pagando de diva. Mas há muita coisa boa, apesar da faixa-título requentar o "Express Yourself" da Madonna. Minha favorita é a inclassificável "Americano", que não sei como que ainda não ganhou clipe.

Não deu tempo de incluir na lista nenhum disco que eu trouxe da África (ainda nem ouvi todos), mas a viagem ao Peru emplacou dois. Um deles é o segundo volume da série "Cholo Soy", onde o cantor e multi-instrumentista Jaime Cuadra relê em clima de lounge os clássicos da valsa criolla. Sua versão para "Cardo y Ceniza", da grande Chabuca Granda e com a voz da própria na introdução, é a definitiva. Para ouvir tomando pisco sour.

E Cuadra nem é o melhor que o Peru tem na música. Este título vai para o espanhol Miki González, há anos radicado em Lima. Depois de ser roqueiro por muito tempo, na última década o cara vem reinventando sons indígenas e afro-peruanos com arranjos eletrônicos. O disco "Fiesta" comemora 100 anos da descoberta de Machu Picchu e já vem embalado para presente, com embalagens individuais de palha colorida.

Trance é música de coxinha, e "Distant Earth" do ATB é uma coxinha-creme: faz mal para a circulação, mas resistir quem há de? O álbum é duplo, e o primeiro disco traz aquele dance meio baba de alemães branquelos achando que estão ahazando em Ibiza. Mas é no segundo CD que se atinge o nirvana: quase todas as faixas são instrumentais e leeennntas, perfeitas para se pegar no soninho em avião.

Last but not least, o disco do ano - não exatamente o meu favorito, mas sem dúvida alguma O disco do ano. Impossível escapar de Adele em 2011. De uma hora para a outra ela se tornou uma unanimidade global, e o CD "21" era (e ainda é) ouvido até nas padarias. E agora vou contar um segredinho: não sou totalmente maluco por Adele. Gosto dela, das músicas, do visual, mas seu estilo quase gritado me cansa um pouco. É perceptível a força que ela faz para cantar BEM ALTO. E claro que tinha que dar no que deu, um calo na voz. A moça precisa fazer umas aulinhas de canto e aprender a se poupar. Além do mais, se você já começa lá em cima, depois não tem mais para onde ir. Mas Adele chegou para ficar.

Se esta lista fosse esticada para 15 discos, também incluiria "SuperHeavy" (do super grupo homônimo com Mick Jagger, Dave Stewart, Joss Stone, Damian Marley e A.R. Rahman), a compilacão "Red Hot + Rio 2", a trilha do filme "Passione", só com o cancioneiro napolitano, "High Flying Birds" de Noel Gallagher e "What Matters Most" de Barbra Streisand. E não, não consegui encontrar o CD do Criolo em lugar nenhum. Fica para o ano.

O PODER DAS PALAVRAS

Já havia comentado isto no meu post sobre o filme "Margin Call": é incrível a capacidade dos americanos de fazer "thrillers" emocionantes só com diálogos, sem cenas de ação. "Tudo pelo Poder" é um dos melhores filmes do ano, e olha que a maior parte do drama acontece longe das câmeras. Só ouvimos falar depois, e os próprios personagens acabam se enrolando ou se salvando pelo poder das próprias palavras. Ryan Gosling, talvez o homem mais completo da face da Terra neste momento, faz um jovem marqueteiro a serviço de um candidato à presidência dos EUA (George Clooney, que, como se não bastasse, também é o diretor e roteirista). Um grande escândalo ameaça afundar a campanha, descaradamente inspirado no caso real do ex-senador John Roberts. O elenco A+ inclui também Paul Giamatti, Philip Seymour Hoffman, minha queridinha Marisa Tomei e, na melhor interpretação de sua carreira até agora, Evan Rachel Wood. É uma pena que a ficção política (ou semi-ficção, vá lá) nunca tenha decolado no Brasil. Material por aqui não falta; falta é culhão de peitar os poderosos. Mas peitar como, se nosso cinema depende da isenção fiscal?

MEUS PROGRAMAS DE 2011

Tenho a impressão de que a moderna audiência da televisão se divide em dois grandes grupos: os que baixam tudo da internet e assistem às séries americanas na hora em que quiserem, e os que não vêem TV de jeito nenhum. Este último grupo mente, é claro, e eu me orgulho de fazer parte de um terceiro: aquele que ainda senta em frente ao aparelho na hora certa do programa. Além do mais, é neste momento que o Twitter pulula de comentários. Também continuo fiel a muitos seriados já entrados em anos, como "Modern Family", "30 Rock", "The Office" e "Os Simpsons". Por isto, a listinha abaixo só inclui as novidades de 2011 - pelo menos as novidades para mim, porque algumas delas estão por aí já faz uma cara. Mas todas me fizeram vestir a camisa.

Que mané "True Blood" que nada. A quarta temporada da série de terror da HBO foi meio coagulada, e perdeu feio para os exageros de "American Horror Story" (Fox). Já morreu tanta gente do elenco que não sei como eles vão conseguir fazer uma segunda temporada. Está certo que os mortos continuam vagando pela tal casa mal-assombrada, mas se não sobrar ninguém vivo, qual é o perigo então? Jessica Lange está espetacular como a vizinha fofoqueira, e o homem na roupa de látex preto é um dos sex symbols do ano.

"Insensato Coração" (Globo) começou com tramas paralelas demais e uma total falta de foco, além de um casal de protagonistas mais sem graça do que um copo de água morna. Mas lá pelo meio a novela engrenou, quando Norma saiu da cadeia e começou sua vingança. O alívio cômico ficou por conta de Natalie Lamour, Dãglas, Bibi e a maquiavélica Tia Nenê. Ainda teve um monte de personagens gays, mas deste assunto eu não aguento mais falar. Next.

Nunca fui chegado ao chamado gênero "fantasia": castelo para mim é o da Cinderela e ficou lá atrás, na aurora da minha vida. Mas o que salvou "Game of Thrones" (HBO) foi o roteiro intrincado, cheio de traições e reviravoltas políticas. Os efeitos especiais também ajudaram: fizeram falta uns dragõezinhos na realista "Os Pilares da Terra", exibida pelo canal TMC. E será que eu sou o único a achar uma certa graça no Peter Dinklage, aquele ator anão?

Só fui descobrir "The Big Bang Theory" (Warner) a bordo de um avião para o México, mas gostei tanto que precisei comprar os DVDs chegando lá. A 4a. temporada está ainda melhor, com a chegada de um grupo de meninas nerd capazes de fazer frente ao Sheldon - um dos grandes ícones do nosso tempo. No mais, só uma coisa a acrescentar: Penny! (toc toc) Penny! (toc toc) Penny!

Nunca, nem que o mundo caia sobre mim, jamais pensei que algum dia iria incluir o "BBB" na lista dos meus favoritos do ano. Mas acontece que a edição deste ano simplesmente mudou a minha vida, por causa da coluna diária na Folha.com e que acabou me levando para o F5. Não tenho dúvidas de que Boninho faz o melhor "Big Brother" do mundo (que já saiu do ar na maioria dos outros países), mas também acho que muita coisa pode ser aperfeiçoada. Detesto as provas de resistência, uma tortura inclusive para o espectador, e preferia candidatos mais bonitos por dentro do que por fora. Se bem que, quando eles combinam as duas coisas, tipo a amazona loura Diana Balsini, eu me rendo (suspiro). Que venha o "BBB 12".

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

DANKIE ZUID-AFRIKA

Não tenho a menor pretensão de escrever um guia para a Cidade do Cabo ou Johannesburgo. Passei pouco mais de dois dias em cada uma das duas cidades, e não tive tempo sequer de conhecer todos os destaques turísticos. Na primeira, não fui à Robben Island, a ilha-prisão onde Nelson Mandela ficou confinado por quase 30 anos. Na segunda faltaram o MuseuMAfrica e o… a… OK, Jo’burg não oferece mesmo muita coisa. Mas aqui vão algumas dicas para quem está pensando em ir para a África do Sul, além de impressões e curiosidades. Shosholoza:

Come-se bem por todo o país, e as opções são muitas: do braai, o churrasco local, às adaptações da culinária do sul da Ásia. Nossa melhor refeição em toda a viagem foi um jantar animadérrimo no Moyo, dedicado à cozinha pan-africana. A casa tem filiais em Jo’burg e outras cidades (fomos na da elegante zona de Melrose Arch), e é meio pega-turista. A mesma garçonete que nos serviu depois fez pinturas tribais no rosto de cada um dos convivas. Mas a comida é simplesmente sensacional. O bife com molho cremoso à moda da Etiópia foi um dos mais deliciosos da minha vida – o que não deixa de ser irônico, vindo de um país famoso pela fome que aflige seus habitantes. Também rolou um gigantesco prato de frutos do mar com lagostins, camarões e exóticos “Angolan codfish quenelles”, também conhecidos como bolinhos de bacalhau.

Nunca se dirija a ninguém sem antes soltar um “hello, how are you?”. É o equivalente ao “bonjour” da França, onde as bilheteiras de cinema se recusam a escutar se você pedir apenas “duas inteiras, por favor”. É visível o esforço dos sul-africanos de serem gentis uns com os outros e também com a turistada: então vamos colaborar, né, gente?

Depois de visitar umas 40 feirinhas e mercados de artesanato, dá para perceber que todas vendem mais ou menos as mesmas coisas – que eu temo que sejam “made in China”. Quem quiser comprar objetos realmente bonitos e de origem comprovada deve visitar a chiquérrima loja Tribal Trends, na Cidade do Cabo (72 Long Street, pegada ao Pan African Market). São atravessadores, claro, mas nem por isto jogam os preços nas alturas.

Outra loja irresistível é a Cape Union Mart, presente em todos os shoppings sul-africanos. Lá você encontra absolutamente tudo para o seu safari: de ventiladorezinhos que aspergem água no seu rosto a ferramentas assustadoras, daquelas que é melhor não perguntar para que servem. Também há a maior seleção que já vi de repelentes de insetos, e aparelhos de GPS que só faltam andar. Além de, é claro, roupinhas de safari idênticas às que a gente vê nos filmes antigos.

A TV sul-africana é poliglota. A rede SABC tem quatro canais, e a língua muda de um programa para o outro. Uma novela em zulu, com elenco glamuroso e inteiramente negro, pode ser seguida por notícias em africâner. Mas nada é mais divertido do que qualquer coisa em xhosa: como muitas línguas do sudoeste africano, o idioma materno de Mandela tem fonemas que são cliques, estalos feitos com a ponta da língua. No começo achei que era defeito da sonoplastia. Demorei para perceber que era a linda apresentadora quem estava soltando biribas na boca.



Queria comprar cortes de tecido com estampas coloridas, uma das marcas visuais mais fortes da África. Até encontrei os tais tecidos nos mercados, mas qual o quê: a maioria é sintética e grossíssima, totalmente inadequada para o calor de lá ou o daqui. Acabei adquirindo uma camisa dourada digna de um rei zulu numa loja Presidential Shirt (há várias), que já fez modelitos para Nelson Mandela. E adivinha qual é o número que eu visto lá? S, small, pequeno – algo que eu decididamente não sou do lado de cá do Atlântico. A numeração deles vai até XXXL, uma autêntica lona de circo. Parece que esses homens africanos são mesmo enoooormes.

AS FRASES DE 2011

(Escrevi a coluna abaixo para o F5, mas ela não foi publicada porque já havia uma matéria pronta sobre o mesmo assunto, com as mesmíssimas frases e outras mais. Como o texto deu um certo trabalho, ele verá a luz do dia aqui no blog mesmo, inaugurando uma breve restrospectiva de 2011. Que deselegante.)

“Se você desaparecesse da face da terra agora, seria uma coisa maravilhosa para todo mundo.” Quem não se lembra desta frase de Ana Maria Braga? Tão poderosa que deveria entrar para um livro de feitiços, como aqueles dos filmes do Harry Potter. A apresentadora proferiu tais palavras em 2008, e sofreu até um processo de difamação por causa delas.

Nenhuma celebridade disse nada tão letal este ano, mas 2011 também teve seu quinhão de frases memoráveis. Bombásticas, engraçadas, desastradas ou tiradas do contexto, muitas delas se transformaram naquilo que os americanos chamam de “catchphrases” – ou, para usar um termo moderninho, em “memes”. Espalharam-se pela internet e geraram paródias, vergonha alheia, pedidos de desculpas. Aqui vai uma lista, em ordem crescente, das que tiveram vida mais longa ou maiores consequências.

Antes de entrar nas “Top 5”, uma menção honrosa para Claudete Troiano. Ela nos presenteou há alguns meses com o impagável “Um beijo, Leila Lopes!”, misturando carinho e ignorância em doses idênticas. A apresentadora da TV Gazeta voltou à carga há alguns dias ao chamar Fátima Bernardes de “Fernandes”, mas este foi mais um lapso de memória do que um momento histórico. De qualquer forma, um beijo, Claudete!

E agora vamos às campeãs. A lista não inclui frases ditas em contextos ficcionais, como o Pronto, morri!” do Leo (Gabriel Braga Nunes) de “Insensato Coração” ou o “Ai, como eu tô bandida” da transexual Valéria (Rodrigo Sant’Anna) do “Zorra Total”, por mais alto que elas tenham subido nos “trending topics” do Twitter. Só entrou a verdade, nada mais que a verdade.

Em quinto lugar está “E ainda houve boatos que eu estava na pior… se isto é estar na pior, porra!”, da travesti brasileira Luisa Marilac. Radicada há anos na Espanha e praticamente desconhecida até o começo do ano, Luisa foi catapultada para a glória por causa do lendário vídeo onde toma “bons drink” dentro de uma piscina. Foi satirizada por Marcelo Adnet, entrevistada no “Legendários” e convidada a muitos outros programas de TV, antes de seus 15 minutos terminarem.

Daniela Albuquerque, apresentadora do “Manhã Maior” da Rede TV! e primeira-dama da emissora, soltou várias pérolas durante 2011. Mas a frase que chegou à quarta colocação desta lista não foi dita por ela, e sim para ela: “Obrigada, Dani, por (…) ter a oportunidade de ter ensinado você.” Keila Lima tirou o ponto eletrônico do ouvido e vestiu luvas de pelica para se despedir do programa. Quando soube que seria substituída por Regina Volpato, ela preferiu pedir demissão do que voltar a ser repórter. Fez bem: se continuase na Rede TV!, seu salário estaria atrasado.

Em terceiro vem “É dia de rock, bebê”, imortalizada por Christiane Torloni durante o Rock in Rio e imediatamente adaptada ao vocabulário de sua personagem Tereza Cristina em “Fina Estampa”. Não só ao dela, diga-se de passagem: basta passar os olhos pelo Facebook para dar de cara com dezenas de “é (qualquer coisa), bebê”.

Repercussão ainda maior teve “É possível ter prazer anal”. Sandy está tentando se livrar da imagem de adolescente puritana, mas sua entrevista à “Playboy” acabou saindo pela culatra. A revista deu destaque na capa para a declaração, a blogosfera bombou com piadinhas maldosas e a irmã de Junior correu para dizer que estava sendo mal-interpretada. Perdeu a oportunidade de se assumir como adulta, dona do próprio nariz e de outras partes do corpo.

Em primeiríssimo lugar não deu outra: “Comeria ela e o bebê”, que custou o emprego de Rafinha Bastos na Band e gerou dois debates pertinentes. O primeiro é sobre os limites do humor: é possível fazer graça com qualquer assunto? E quando a piada não funciona? O segundo é sobre o crescente poder das celebridades. Houve o dedo de Ronaldo Fenômeno, sócio de Marcus Buaiz (marido de Wanessa), na pressão feita à emissora. Rafinha se sentiu desprestigiado e preferiu sair. Está em negociações com o canal Fox Sports.

Quero terminar dedicando esta coluna a dois “hors-concours”: Aguinaldo Silva e Luana Piovani, minha mais nova amiga de infância. Os dois soltaram tantas e tamanhas ao longo do ano que merecem pedestais no Hall da Fama. Aposto que continuarão nos brindando com suas farpas em 2012.

COMPRAMOS UMA ROUBADA

Depois de ver tanto bicho solto lá na Namíbia, quis o destino que minha primeira ida ao cinema depois da viagem fosse justamente para ver um filme sobre bichos presos. "Compramos um Zoológico" é um híbrido inexistente na natureza: uma mistura de trama disneyana "para toda a família" com o humor supostamente irreverente dos indies americanos. O diretor Cameron Crowe é tido como um gênio por lá, principalmente por causa do super-valorizado "Jerry Maguire" com Tom Cruise. Bombas mais recentes como "Vanilla Sky" e "Elizabethtown" já deviam ter provado que o cara é uma fraude. Aqui ele consegue tornar inversossímil a história verídica de um viúvo com dois filhos que comprou e revitalizou um zoológico abandonado (e que ainda assim consegue ter uma fauna mais rica e variada que o de São Paulo). Crowe também é tido como bom dialoguista, mas ele põe na boca de uma menina de sete anos tiradas dignas de uma Tina Fey: podem até ser engraçadinhas, mas soam falsas para caralho. Como em todos os seus filmes, o assunto principal é a solidão de um macho sensível, aqui levada ao extremo no caso de um cara que precisa ser pai e mãe ao mesmo tempo. Assim, o tal do zoo acaba se tornando uma metáfora para a prole selvagem que ele tem aos seus cuidados. O desenlace piegas e previsível torna ainda pior esse filme que chegou a ser cotado para o próximo Oscar, mas que vai encontrar sua verdadeira vocação em futuras "Sessão da Tarde". Ainda bem que eu trabalho nesse horário e não poderei assistir.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

SEREIAS AFRICANAS

Dos 21 CDs que eu comprei na África, só um é de música de fora do continente - "50 Words for Snow" da Kate Bush, que eu ainda nem ouvi. Trouxe até o disco de um cantor africâner bem chatinho chamado Patrizio, e já estou arrependido. Mas é a exceção: o resto é quase todo fenomenal, das coisas mais tribais a um house ultra-sofisticado. A África do Sul tem uma tradição de grandes cantoras desde a grande Miriam Makeba, passsando pelo trio Mahotella Queens e a deliciosamente nomeada Yvonne Chaka Chaka. Da nova geração, várias estão prontas para estourar no mundo inteiro e ameaçar o trono de Beyoncé.
Zahara (nascida Bulelwa Mukuktana) é a coqueluche do país neste momento. Seu disco de estreia, "Loliwe", vendeu 100 mil cópias em menos de 20 dias, uma barbaridade para os padrões de lá. O estilo da moça me lembra um pouco Tracy Chapman: de violão em punho, ela canta canções que são meio de protesto e meio de auto-afirmação, sem um pingo de humor ou sensualidade. Acho ótimo uma cantora negra não precisar apelar para a piranhice para fazer sucesso, mas não tenho muita paciência para quem se leva tão a sério. Apesar da letra digna de festival universitário, a power ballad "Destiny" grudou no meu ouvido.

Lira (apelido de Lerato Mopalo) faz mais o meu gênero. Tem um vozeirão parecido com o da americana Anita Baker e a produção de seu álbum "Return to Love" é luxuosa, com faixas para bailar entremeadas com autênticas mela-cueca. A ótima "When I Dance" também fala do amor por si mesmo, algo compreensível quando lembramos o quanto sofreu a maior parte da população durante o apartheid. O disco não tem nada de inovador, mas é bom do começo ao fim. Vale uma visita ao site.

Zonke (seu nome verdadeiro; o sobrenome é Dikana) tem fama de compor canções em apenas 20 minutos, e, depois de quatro anos brigando com a antiga gravadora, voltou às paradas com "Ina Ethe" ("Dar e Tomar"). Seu som neo-soul não traria grandes novidades, não fosse a maioria das canções ser em zulu.

HOMEM COM HOMEM DÁ LOBISOMEM

Cansado dos boatos que circulam há anos, Taylor Lautner - o lobisomem Jacob da "saga" "Crepúsculo" - resolveu sair do armário numa longa entrevista à revista "People". Calma, meninas, não se atirem da ponte: é mentirinha. A capa que está circulando pela internet é falsa. O que é uma pena, pois ela faria de Lautner o ator jovem mais corajoso de todos os tempos, capaz de cometer hara-kiri profissional justo quando sua carreira está decolando. Pessoalmente não acho muita graça nele, mas, independente de sua sexualidade, Lautner ainda é milhões de vezes mais animado do que seus colegas Kirsten Stewart e Robert Pattinson, dois mortos-vivos que não se interessam por cérebros. Bala de prata neles.