Made in Brazil #4 - The twins from models.com on Vimeo.
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
501 CARAS QUE VOCÊ JAMAIS VAI PEGAR
Lá no misterioso mundo das rachas, a moda agora é fazer Tumblrs de homens gostosos. O sucesso do "501 Caras que Você Deve Pegar Antes de Morrer" (501!! E depois os gays é que são promíscuos...) já está gerando um monte de descendentes. Hoje me deparei com "501 Publicitários para Pegar Antes de Brifar" - não, não fui incluído - e imagino que todas as categorias profissionais estejam criando suas galerias, da gastroenterologia ao direito alfandegário. E por falar em homens inalcançáveis, acaba de sair mais uma edição, a quarta, do catálogo de deuses que é a revista "Made in Brazil". Os rapazes são impegáveis apenas para nós, simples mortais, por que entre eles a mão boba rola solta. Confira no vídeo abaixo o que os gêmeos Marcio e Marcos Patriota aprontaram - segundo o Juliano Corbetta, dono do blog e da revista, sem que ninguém pedisse - e aprenda como ofuscar dezenas de outros moços deslumbrantes. Tem mais preview da "MiB" 4 aqui, ó.
terça-feira, 29 de novembro de 2011
SÓ 122?
Casanova comeu exatas 122 mulheres. Ele mesmo admite este número, em suas memórias cujos originais foram recentemente redescobertos e vendidos à Biblioteca Nacional da França. O que parece uma enormidade para a maior parte da espécie humana soa como uma mixaria para muitos gays contemporâneos: só 122? Qual o problema dele, mau hálito? É bom lembrar que na época de Giacomo Casanova não havia Grind'r. E não, não estou dizendo que os gays sejam mais promíscuos que os héteros. Homens são promíscuos, não importa a orientação sexual. Os HTs só não pegam mais porque a mulherada se faz de dificil. Quando um amigo breeder insinua que as bibas exageram, eu peço para ele imaginar uma boate onde o único homem seria ele: todo o resto seriam mulheres. Bonitas, feias, gordas, magras, algumas a fim dele, outras não. Mas todas a fim de alguma coisa. Voilà uma maricoteca, só com o sinal invertido. They get the point.
OS NOMES DAS GENTES
Nomes são um assunto que não cansa de me fascinar. Ontem foi divulgada uma pesquisa que revela os nomes de adultos mais comuns do Brasil: uma empresa de análise de crédito revirou todos os portadores de CPF do país. O resultado até que não é dos mais surpreendentes: somos mais de treze milhões de Marias, e mais de sete milhões de Josés. Antigamente, devíamos ser muito mais - minha mãe conta que, em sua classe de 40 meninas, só duas não eram Marias. Mas vale a pena descer aos detalhes da lista. Quem diria que existem mais Antonios (três milhões e meio) do que Joões (pouco menos de três milhões)? E que a grafia antiga "Luiz", com "z", é três vezes mais comum que a moderna "Luís"? Claro que estes números incluem os nomes duplos - eu, por exemplo, sou um comunérrimo Luiz Antonio - e refletem apenas a população adulta. Os Luizes tendem a desaparecer com o tempo, e em breve surgirão na lista os Tiagos, Carolinas, Julianas e Maicons que infestam as maternidades. Ainda assim, me espanto com alguns dados. Como é que "Josefa" é o sétimo nome mais frequente de mulher? E onde estão elas, que não conheço nenhuma?
(Confira aqui os 50 primeiros colocados)
(Confira aqui os 50 primeiros colocados)
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
HOMENS APAIXONADOS
O cineasta britânico Ken Russell morreu ontem, aos 84 anos. Ele recheou minha adolescência com imagens fortes, principalmente de seus filmes “Tommy” e “Lisztomania”. Pensei em ilustrar este post em homenagem a ele com uma de suas cenas mais famosas: o banho de sabão, feijão e chocolate que Ann-Margret recebe ao quebrar uma TV em “Tommy”. Mas quem sou eu para resistir a uma luta entre dois homens nus? Eu era pequeno demais para ver “Mulheres Apaixonadas” no cinema quando passou pela primeira vez, mas hoje a célebre refrega au naturel entre Oliver Reed e Alan Bates está ao alcance de qualquer criancinha no YouTube. E ao seu também, bebê.Sinto-me obrigado a postar mais uma cenazinha. "Smash the Mirror", de "Tommy", é nada menos do que o primeiro bate-cabelo de toda a história da humanidade (o filme é de 1975). Ann-Margret foi indicada ao Oscar pelo papel de mãe do protagonista, o garoto cego, surdo e mudo vivido por Roger Daltrey, vocalista do The Who. Repare como drag queen nenhuma jamais socou o picumã com mais som e fúria. Hoje em dia o filme seria tirado de circulação depois das reclamações dos pais de autistas, esses estraga-prazeres.Tá bom, vai. Tá aqui a cena do chocolate. Ken Russell era do grandessíssimo caralho. Tão grande quanto o que aparece em "Lisztomania", mas este eu não vou postar aqui, não. Tenho que dar tudo mastigado na boquinha?
#HEBLOWSALOT
É batata: todo reacionário é burro, caso contrário não seria reacionário. O último idiota a provar esse truísmo é o governador republicano do estado americano do Kansas, Sam Brownback, eleito ano passado com uma plataforma fundamentalista, criacionista e anti-gay. Os assessores de sua excelência se deram ao trabalho de contactar a escola de Emma Sullivan, uma adolescente que visitou com sua classe o palácio do governo em Topeka, capital do estado. Depois do tour a moça tuitou que "disse uma verdades" ao governador e criou o "hashtag" "he blows a lot" (ele é um babaca, em tradução livre). Emma não falou nada ao governador, mas confirmou que não gosta mesmo dele. E se recusou terminantemente a pedir as desculpas que seu seu colégio exigia, alegando direito à liberdade de expressão. Um desastre de relações-públicas para Brownback, que ainda não retornou os pedidos de entrevista, e uma amostra de coo funciona a cabecinha medieval dessa cambada. A esta altura, Emma já tem mais de 4 mil seguidores no Twitter, bem mais do que o governador. Um dos maiores tiros pela culatra do ano.
ATUALIZAÇÃO: Quem pediu desculpas foi o governador. As declarações de Emma Sullivan são totalmente protegidas pela constituição americana. Para aumentar a humilhação de Brownback, nesta segunda-feira Emma Sullivan chegou a 12 mil seguidores no Twitter.
ATUALIZAÇÃO: Quem pediu desculpas foi o governador. As declarações de Emma Sullivan são totalmente protegidas pela constituição americana. Para aumentar a humilhação de Brownback, nesta segunda-feira Emma Sullivan chegou a 12 mil seguidores no Twitter.
KIKO TEM A VER COM ISTO
O grande chamariz de "Os Altruístas" é Mariana Ximenes. Ela volta ao teatro depois de nove anos longe dos palcos, no auge da fama e da beleza. Está ótima, e também merece aplausos por produzir um texto ousado, quando poderia tranquilamente estrelar algo mais comercial e usar o dinheiro que ganharia com o papel de parede. Mas uma coisa precisa ficar bem clara: a estrela da peça é Kiko Mascarenhas. Eu já o tinha visto várias vezes na TV (a última foi como aquele peruano de "Separação?"), mas demorei para ligar o nome à p'ssoa. Ele está absolutamente sensacional como o gay carente de meia-idade que se apaixona por um michê. Sim, eu sei, esse tipo de história já era clichê quando escreveram o "Gênesis", mas a interpretação dele - histriônica e tocante ao mesmo tempo - dá um ar de frescura a algo que já vimos antes setecentas vezes. Justiça seja feita, Kiko é perfeitamente coadjuvado por Jonathan Haagensen, que demonstra uma veia cômica insuspeita e um corpalhaço digno de ser mordido. Miguel Thiré (mais um neto de Tônia) é outra revelação, com uma presença fortíssima em cena. Para Stella Rabello sobra o papel mais ingrato de todos, culpa do texto desigual de Nicky Silver (que também escreveu "Pterodátilos", que eu vi no ano passado e não gostei). Mas a direção de Gulherme Weber não deixa a peteca cair, e dessa vez o cenário de Daniela Thomas não tenta engolir o elenco. "Os Altruístas" fica mais umas semanas em cartaz, e vale a pena. Principalmente por causa do Kiko.
domingo, 27 de novembro de 2011
MISSA PROFANA
Ainda não sei o que dizer de "Ceremonials", o novo disco de Florence + the Machine. Tenho medo de ser chamado de velho e em descompasso com os tempos modernos - aliás, não devia, já que sou chamado disso tudo todo santo dia. Mas o fato é que Florence Welch virou queridinha da mídia especializada, e por ótimas razões. Para começar, canta para caralho: acho que, em todas as Ilhas Britânicas, só perderia para Adele num hipotético concurso para ver quem quebra mais copos com a própria voz. Também tem um visual interessantíssimo e um estilo performático que lembra o de uma Lady Gaga com pós-graduação. Seu disco de estreia, "Lungs", era bom pacas e muito variado, provando que a moça realmente é do ramo, e deixando prever uma longa e frutífera carreira. Por isto tudo estou meio decepcionado com este segundo trabalho. "Ceremonials" é solene, pomposo, quase religioso. Tem uma pegada celta que deixa Florence parecida com uma versão roqueira de Enya. As letras falam quase todas de amores destroçados; os vocais são épicos, como se a guerreira bretã Boadicea estivesse tentando espantar os invasores romanos no grito. Mas os arranjos são sofisticadérrimos, com harpas e trompetes, muito longe da baba costumeira do pop radiofônico. Vou ouvir "Ceremonials" com mais atenção, e pode ser que daqui a uns dias eu ache que se trata mesmo de uma obra-prima. Mas por enquanto me sinto frustrado como um garoto que foi levado à força para a missa.
sábado, 26 de novembro de 2011
LAMPIÃO COR DE ROSA
Os historiadores ainda debatem se Lampião foi herói ou bandido, mas uma coisa é certa: os cangaceiros não ficaram famosos exatamente por suas boas maneiras. Contra o "rei do cangaço" pesam acusações de assassinato, tortura, sequestro, mutilação e estupro. E não se sabe de ninguém que tenha sido proibido de comentar o histórico de violência de Virgulino e seu bando. Por isto, é simplesmente chocante que o livro "Lampião - o Mata Sete" tenha sido proibido em todo o território nacional, por atentar contra a "honra" de Lampião ao especular que ele tenha tido um casinho com um de seus homens. Uma ação movida por seus descendentes tirou o livro de circulação. Engraçado que a família não se incomodou como o subtítulo da obra, "O Mata Sete". Por este curioso código de valores, matar sete tuuudo bem; feio mesmo é amar alguém do mesmo sexo. O autor Pedro de Morais promete recorrer, e tomara que ganhe. O Brasil tem que perder esse ranço patriarcal que impede que a intimidade de figuras históricas e celebridades, mesmo que mortas, seja discutida em biografias (ainda me dói a censura aos livros sobre Garrincha e Roberto Carlos). E o país também precisa, com ainda mais urgência, se livrar desse conceito idiota de que é melhor ser cabra de peste do que viado.
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
ANOTHER ONE BITES THE DUST
E lá se foi o Saleh do Iêmen, o quarto ditador a cair na tal da "primavera". Mas, como no caso do Egito, suspeito que aqui só trocaram a figura de proa, para tudo continuar mais ou menos como antes. O Iêmen sofre uma influência brutal da Arábia Saudita, e foi lá que o ex-tirano assinou sua renúncia. E a Arábia sofre pressão dos EUA: nenhum dos dois pode permitir que o mais pobre dos países árabes continue a ser um viveiro da al-Qaeda. Então acharam melhor tirar o Saleh de cena de uma vez por todas, depois de 33 anos no poder. Mas as chances do Iêmen se tornar uma demcoracia de verdade são ínfimas. Pelo menos Líbia e Tunísia estão no quintal da Europa; o Iêmen tem na vizinhança coisas como o Sudão e a Somália. Mas é no Egito que as coisas estão ficando interessantes, com a praça Tahrir reocupada e a natureza do regime militar desnudada, agora que não há mais Mubarak e sua prole. Torço para que os egípcios consigam emular os turcos, que neutralizaram o poder de seu exército e colocaram no poder uma combinação que muita gente julgava impossível: um partido islâmico e democrático ao mesmo tempo. A economia da Turquia está crescendo tanto que agora eles nem fazem mais questão de entrar para aquela zona que é o euro. O Egito, com a proximidade de Israel e de facções muito mais radicais, talvez tenha um desafio maior pela frente. Que a paz esteja com eles.
MAGRELINHA
O estilo seco dos irmãos Dardenne nunca fez muito a minha cabeça. Prefiro um cinema mais derramado, com a câmera dando piruetas e música de Francis Lai sublinhando cada piscada de olhos de Anouk Aimée. Mas admito que não há outro jeito de contar a história de "O Garoto da Bicicleta" sem cair na babaquice. O tom contido, lacônico, faz com que a emoção nasça no espectador e não na tela. E é das emoções mais barra-pesada que existem, o sentimento de rejeição. Cyril é um garoto que vivia com o pai e a avó: não vemos nada disto, só entendemos depois. AQuando a avó morre, o pai simplesmente se manda, sem um abraço ou um bilhete, e ainda vende a bike do moleque para fazer uns trocados. O garoto vai para o orfanato, mas custa a acontecer o que lhe está acontecendo: como assim, ele se foi? É um filme de poucas lágrimas e muitos socos, pois Cyril se debate e foge o tempo todo. Mas é uma porradinha, felizmente curta. "O Garoto da Bicicleta" é redondinho, com um final satisfatório, e confirma mais uma vez o amor não-sentimental e sem gorduras que Jean-Pierre e Luc Dardenne sentem pela humanidade.
CAIO NO MEU CONCEITO
Ia deixar passar batida a declaração causalmente homofóbica de Caio Castro à revista "Quem". Às vezes me dá uma preguiça master de transformar meu blog na Delegacia dos Direitos da Viadada. Mas aí o ator se retratou, e quer saber? Eu acreditei. Pelo menos, que suas intenções são boas. Este é o tema de hoje da minha coluna no F5, adiantada um dia para o assunto não esfriar. Mas os leitores de lá parecem não concordar comigo, pelo menos os que comentaram: continuam espinafrando ou defendendo o garoto, sem nuances. Paciência.
EXISTE MESMO E ESTÁ DISPONÍVEL
Tem tanto filme legal de Old Spice na internet que é até difícil escolher qual postar. Mas este aí de cima se impôs, além do mais porque é uma ideia sugestiva para decorar quarto de rapaz.
O DEDO GELADO DA MORTE
Não sou muito de postar vídeos de natureza, mas a este não resisti. Foi gravado na Antártida (porque raios só em português é "AntártiDa", com D? Não faz sentido! Proponho uma rebelião?) por uma equipe da BBC, e mostra o efeito devastador da formação da camada de gelo sobre a vida no solo do mar. Brrrr.
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
OOOH, HOW DO YOU LIKE YOUR LOVE
Não adianta: cresci nos anos 70, então continuo achando que a disco music é a expressão artística mais refinada de toda a história da humanidade. Quando eu fizer a lista das minhas dez canções favoritas de todos os tempos, pelo menos umas cinco farão parte do gênero. E entre elas com certeza estará "More, More, More", esta bobagem deliciosa gravada pela ex-atriz pornô Andrea True e que fez muito sucesso em 1976. Andrea teve uma sobrevida como cantora naquele final de década, mas depois foi tragada pelo vórtex espaço-tempo e sumiu. Voltou às manchetes esta semana: morreu sábado passado, aos 68 anos, de causas não reveladas. Mas continuará rebolando na minha cabeça para sempre, ao som dessa letra imortal: "But if you want to know how I really feel / get the cameras rolling / get the action going / more, more, more..." (ad infinitum)
terça-feira, 22 de novembro de 2011
ACRE, TERRA DA BORRACHA
Um incidente ocorrido domingo passado na Parada Gay de Rio Branco, no Acre, reabre a eterna discussão: será que essas manifestações contribuem com alguma coisa para o avanço dos direitos igualitários no Brasil, ou são carnavais fora de época que só servem para dar munição aos nossos inimigos? Um cabeleireiro de 56 anos, embalado pelo álcool e cheio de amor para dar, não resistiu quando viu um boy magia exibindo um pau de borracha (devidamente coberto por uma camisinha, olha só que consciente), e caiu literalmente de boca. A cena foi fotografada e fartamente divulgada. E agora a Assembleia Legislativa do estado, recheada de deputados evangélicos, vai discutir se a parada continuará recebendo verbas oficiais no ano que vem. Alguns mais afoitos querem simplesmente proibi-la, pois “o povo de Deus não merece isto”.
O pobre cabeleireiro já se arrependeu do faux-pas (atire a primeira pedra quem nunca) e deu entrevista pedindo desculpas, mas o estrago já foi feito. Aposto que este episódio será largamente explorado por Malafaias e Bolsonaros como prova “cabal” de que os gays querem mesmo corromper as criancinhas e instalar um estado de caos pornográfico no país, onde as pessoas se comem no meio da rua, em plena luz do dia.
A imensa maioria dos participantes das paradas LGBT pelo Brasil afora provavelmente não enxerga o menor sentido político neste tipo de evento – pelo menos, não no sentido estrito do termo. Quase ninguém está exigindo o direito ao casamento, à adoção, à igualdade. Nem mesmo o direito de não apanhar na rua nem ser estrangulado num terreno baldio. A galera quer apenas extravasar, desmunhecar, chocar, como se este fosse o único dia do ano quando tudo é permitido e nada é punido, só para amanhã voltar tudo ao “normal”. Aliás, esta é a antiga concepção do carnaval propriamente dito.
Esse debate não se limita ao Brasil. Nos Estados Unidos, origem do movimento gay, as paradas também já foram acusadas de desvirtuar a causa e escandalizar possíveis simpatizantes, empurrando-os para os braços do adversário. Por outro lado, um desfile onde só seriam permitidos casaizinhos gays bem-comportados, sem drags espalhafatosas, sem go-go boys de bunda de fora, sem caminhoneiras se atracando, seria o triunfo do conformismo.
Tomara que este boquete acreano sirva para refletirmos ainda mais sobre o que de fato queremos, e o que devemos fazer para conseguir. Pessoalmente, acho que a abordagem adotada nos dois comerciais que aparecem num post mais abaixo seria muito mais eficaz. Mas longe de mim querer coibir a baderna pansexual das paradas: ela também é necessária. O difícil é dosar.
(Leia mais sobre o caso no blog de Altino Machado e no Blog da Amazônia, também assinado por ele. E quero agradecer ao Anônimo que me passou a dica num comentário)
O pobre cabeleireiro já se arrependeu do faux-pas (atire a primeira pedra quem nunca) e deu entrevista pedindo desculpas, mas o estrago já foi feito. Aposto que este episódio será largamente explorado por Malafaias e Bolsonaros como prova “cabal” de que os gays querem mesmo corromper as criancinhas e instalar um estado de caos pornográfico no país, onde as pessoas se comem no meio da rua, em plena luz do dia.
A imensa maioria dos participantes das paradas LGBT pelo Brasil afora provavelmente não enxerga o menor sentido político neste tipo de evento – pelo menos, não no sentido estrito do termo. Quase ninguém está exigindo o direito ao casamento, à adoção, à igualdade. Nem mesmo o direito de não apanhar na rua nem ser estrangulado num terreno baldio. A galera quer apenas extravasar, desmunhecar, chocar, como se este fosse o único dia do ano quando tudo é permitido e nada é punido, só para amanhã voltar tudo ao “normal”. Aliás, esta é a antiga concepção do carnaval propriamente dito.
Esse debate não se limita ao Brasil. Nos Estados Unidos, origem do movimento gay, as paradas também já foram acusadas de desvirtuar a causa e escandalizar possíveis simpatizantes, empurrando-os para os braços do adversário. Por outro lado, um desfile onde só seriam permitidos casaizinhos gays bem-comportados, sem drags espalhafatosas, sem go-go boys de bunda de fora, sem caminhoneiras se atracando, seria o triunfo do conformismo.
Tomara que este boquete acreano sirva para refletirmos ainda mais sobre o que de fato queremos, e o que devemos fazer para conseguir. Pessoalmente, acho que a abordagem adotada nos dois comerciais que aparecem num post mais abaixo seria muito mais eficaz. Mas longe de mim querer coibir a baderna pansexual das paradas: ela também é necessária. O difícil é dosar.
(Leia mais sobre o caso no blog de Altino Machado e no Blog da Amazônia, também assinado por ele. E quero agradecer ao Anônimo que me passou a dica num comentário)
MADUROS PERO NO MUCHO
Dessa vez não vou embarcar na chorumela habitual de que não existe no Brasil nada tão divertido quanto a banda argentina Miranda!, que faz um pop desavergonhado e pegajoso. Novidades como Gaby Amarantos ou a Banda UÓ deram uma sacudida na novíssima MPB, que andava bem chatinha (e anglófona) por causa da infestação de Mallus e Pethits. Superado o complexo de inferioridade, agora posso ouvir o Miranda! sem inveja dos vizinhos portenhos. Mas também com um pouco de medo de frustrar novamente minhas expectativas: o disco de 2009, "Es Imposible", enveradava pela pegada rock e foi um banho de água fria depois da estripulia de 2007, "El Disco de Tu Corazón". A boa notícia é que o recém-lancado "Magistral" retoma os teclados sem medo de ser feliz. A média notícia é que nenhuma faixa causa um grande impacto à primeira audição; a mais original é "Tucán", uma colaboração com Emmanuel Horvilleur - metade da lendária dupla de rappers Ilya Kuriaki and the Valderramas. "Magistral" mostra um Miranda! mais maduro e menos preocupado em chocar os incautos, o que não é necessariamente uma boa coisa. Mas é um disco de canções sólidas, que crescem aos poucos. Mas crescem.
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
ELA É A MESMA PESSOA QUE VOCÊ AMAVA ONTEM
A luta pelos direitos igualitários já passou pelo teste das urnas mais de 30 vezes, em diversos estados americanos - e perdeu TODAS. Os reaças sempre conseguiram assustar a população mais mal-informada, pregando o fim da civilização e do mundo tal como o conhecemos. É bem provável que o estado do Maine leve o casamento gay à consulta popular no ano que vem. E, já prevendo um embate difícil, organizações LGBT estão tentando uma nova estratégia. Não adianta simplesmente pregar o respeito à diversidade. É preciso apelar para a emoção, contar casos pessoais e, principalmente, lembrar que quase todas as famílias têm um membro gay. Um ano antes das eleições, já está no ar uma nova campanha que fala diretamente às pessoas mais religiosas. O melhor comercial é este acima, onde um casal conta a batalha interna que travou para aceitar a filha lésbica. Vamos ver se dá certo. Enquanto isto, aqui ao lado, na Argentina, a luta também continua - e olha que por lá os homossexuais já podem se casar há mais de um ano. Mas o preconceito segue firme, o que motivou uma ótima campanha na província nortenha de Salta. Nessas horas, que se foda a criatividade na propaganda: ideias como estas merecem ser copiadas por aqui.
ADIÓS, ZAPATERO
Ontem saiu de cena o político europeu que eu mais admiro: o premiê espanhol José Luís Zapatero. Além de ter tido os cojones de peitar Hugo Chávez no famoso episódio do "¿por qué no te callas?" conta pontos para mim, e daí, vai encarar? Zapatero deixaria o posto de primeiro-ministro mesmo se seu Partido Socialista vencesse as eleições de ontem, mas não foi isto o que aconteceu. Os conservadores do Partido Popular tiveram uma vitória esmagadora. Na verdade, o que se passou na Espanha foi o mesmo que rolou em todos os países europeus que foram às urnas recentemente: ganhou a oposição, fosse quem fosse. A crise está bravíssima, o desemprego nas alturas e o recém-eleito Mariano Rajoy, de figura inexpressiva e voz finiiiinha, vai ter que rebolar muito para colocar a economia nos eixos. Teme-se também uma maré reacionária: Rajoy já anunciou que vai dificultar o acesso ao aborto e liberar o fumo em muitos lugares públicos. Mas a medida mais grave seria a revogação do matrimônio igualitário: houve uma corrida aos cartórios nos últimos meses, com vários casais do mesmo sexo oficializando seu status. Mesmo que haja um retrocesso - o que não é certo - os espanhóis ainda teriam a união civil prevista claramente na lei. Ou seja, ainda estariam na nossa frente em termos de direitos civis. Que falta que faz um Zapatero no Brasil.
CORREÇÃO: Este post saiu originalmente com um erro crasso. Eu dizia que fora o Zapatero quem mandou o Chávez se calar. Claro que foi o rei Juan Carlos, mas o futuro ex-PM teve um comportamento tão exemplar naquele atrito que foi ele o foco do post que escrevi na época. Talvez por isto eu tenha ficado com uma lembrança equivocada na cabeça. Obrigado a todos os leitores que me corrigiram.
CORREÇÃO: Este post saiu originalmente com um erro crasso. Eu dizia que fora o Zapatero quem mandou o Chávez se calar. Claro que foi o rei Juan Carlos, mas o futuro ex-PM teve um comportamento tão exemplar naquele atrito que foi ele o foco do post que escrevi na época. Talvez por isto eu tenha ficado com uma lembrança equivocada na cabeça. Obrigado a todos os leitores que me corrigiram.
domingo, 20 de novembro de 2011
APAGÃO ILUMINISTA
Fui ver "O Libertino" esperando uma comédia mordaz, metida a culta, com lindos figurinos e atores afiados. Saí decepcionado pela metade: estes últimos dois quesitos foram bem contemplados, apesar de Cássio Scapin não convencer muito como um homem que amava as mulheres. O problema da peça vem mesmo do texto apagado, do autor francês Éric Emmanuel-Schmitt. A ação se resume a uma tarde na vida do filósofo Diderot, no século 18, quando ele recebe a visita da mulher, da filha, de amantes e de um assistente que vem cobrar o verbete sobre a moral para sua monumental "Encyclopedia". A sensação é a de que nada deslancha, pois os assuntos mal engatam e logo são interrompidos pela entrada abrupta de um novo personagem. Há algumas boas piadas e Érica Montanheira rouba a cena como a jovem Angélique. Mas falta uma conclusão satisfatória, ou mesmo um momento engraçadíssimo e/ou antológico. A ideia original prometia muito mais do que se vê no palco: apesar do pedigree iluminista, "O Libertino" não passa de uma comediazinha de boulevard. E fica a dica para os atores: jamais faça quaquer tipo de tatuagem. Cássio Scapin tem uma em forma de borboleta logo acima da bunda, que precisou ser (mal) coberta por camadas de pancake por causa de suas cenas de nu. Tsk, tsk.
sábado, 19 de novembro de 2011
MUNTAGNA FATTA 'E LAVA
Acho que Nápoles é o lugar mais zoneado onde já fui na vida, e olha que isto é dito por um carioca. Aliás, perto de Nápoles o Rio de Janeiro fica parecendo Estocolmo. Onde mais se vê moto pilotada por criança, com outras duas na garupa, todas sem capacete, avançando numa rua de pedestres pela contramão? Só em Nápoles. E como sua rival dos trópicos, a cidade também está sobre um cenário belíssimo, com mar e montanha, e tem uma cena musical das mais vibrantes do mundo. É sobre esta avalanche de música que o ator americano John Turturro, que tem raízes napolitanas, dirigiu o documentário "Passione", em cartaz numa única sala em São Paulo. O filme é simplesmente uma porrada. Fiquei admirado por conhecer tantas coisas, e mais ainda por desconhecer totalmente outras - como é que eu sobrevivi tanto tempo sem Pietra Montecorvino, uma mistura ideal de Sandra Bernhard com Chavela Vargas? A moça pode ser vista no clipe aí embaixo, ao lado de Raiz, ex-vocalista da banda de trip-hop Almamegretta, e de M'Barka ben Taleb. Esta última ainda canta em árabe o maior clássico napuletà de todos os tempos, "O Sole Mio", como se fosse a coisa mais natural do mundo. E é, porque a cidade é onívora. Devorou séculos de influência moura, normanda, espanhola, o cazzo a quatro, e agora regurgita melodias maravilhosas e pencas de atitude. Todas as mulheres agem como se fossem lindas, mesmo as que são horrendas; todos os homens são cafajestes, até as bichas. Vários trechos de "Passione" podem ser encontrados no YouTube, é só procurar. Aí no alto está outro dos meus favoritos: "Vesuvio", um hino à montanha feita de lava que garante a fertilidade no entorno da cidade, mas de vez em quando bota tudo pra fuder. "Passione" é um tesão: programa obrigatório para quem tiver sangue napolitano, nas veias ou na alma.
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
HERE COMES THE RAIN AGAIN
Eu queria ser ruivo só para reproduzir a capa do álbum "Touch", de 1984, o melhor de toda a carreira dos Eurythmics. Mas Jesse Tyler Ferguson passou na minha frente, e ele ainda tem a vantagem de ser ruivo de verdade. O ator de "Modern Family" encarna Annie Lennox na nova edição da revista "Out", que traz a lista dos 100 gays mais influentes dos Estados Unidos no ano que passou. A lista completa e as quatro capas com que ela chega às bancas (inclusive uma com o garoto/a Andrej Pelic, que lá dentro ataca de Nastassja Kinski) podem ser conferidas no site da revista. E agora a música não me sai da cabeça: falling on my head like a memory...
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
HER HAIR IS NOT BLACK, IT'S RAVEN
Outra semana, outro trailer de Branca de Neve. Dessa vez é o de "Mirror, Mirror", a versão de Tarsem Singh para o clássico conto de fadas. E eu retiro tudo o que disse semana passada: agora quero muito mais ver essa comédia do que aquela baboseira pretensiosa chamada "Snow White and the Huntsman", e acho que Julia Roberts vai fazer uma Rainha Má simplesmente terrific. Dá para sentir que ela está se esbaldando no papel, e que o roteiro é cheio de tiradas espirituosas. Também tem uma variação interessante na história original, tão óbvia que não sei como não fizeram antes: a Rainha dá em cima do príncipe. Quer maneira melhor de uma mulher madura dar um chega pra lá na rival jovenzinha do que roubar o namorado desta com um "vem cá, cachorrinho"?
O OUTONO DO PATRIARCA
Lula careca e sem barba ficou com cara de personagem de romance latino-americano. De ditador deposto de Macondo. A festa do bode acabou, ninguém escreve ao coronel. Mas ele tem uma simpatia que esses caudilhos em desgraça não têm; a maneira transparente como vem lidando com a doença é admirável, quase enternecedora. Claro que também é cálculo político, mas o que não é, na vida do ex-presidente? Cada piscar de olhos seu tem o peso de uma manobra, ainda que inconsciente. Por enquanto estou achando Lula um fofo, e olha que eu nunca fui eleitor dele. Mas tremo em pensar ma exploração que uma eventual cura virá a ter: "nada derruba o ômi", "o sertanejo é antes de tudo um forte" e outras frases de efeito, embebidas de realismo mágico.
GONGA LA GONGA
O "Show do Gongo" não é mais o mesmo. A qualidade dos vídeos inscritos nunca foi tão baixa. Tá certo que a ideia envolve mesmo uma certa precariedade, e que os vídeos escabrosos são absolutamente necessários para o brilhantismo do espetáculo. Mas, das 22 obras exibidas na noite de ontem, só quatro chegaram até o final - e duas delas graças ao trucão de serem suficientemente curtas para driblar as vaias do público. Pelo menos Marisa Orth estava endemoniada como sempre, e houve vários momentos divertidos. Principalmente os protagonizados pelas drags Dillah Diluz, vencedora do ano passado com "Travileirinho" e este ano "membra" do júri, e a incontível Silvetty Montilla, que invadiu o palco para roubar uma taça de vinho. Agora, como é que neguinho inscreve vídeo lento, escuro, "poético" e acha que ele vai sobreviver à plateia mais sedenta de sangue de todo o showbiz brasileiro? Nunca vi tanta porcaria junta. Tinha coisas que estavam na gaveta há anos, trabalhos de conclusão de faculdade e até mesmo uma animação sem porra nenhuma que ver com diversidade sexual. Gongos merecidíssimos, todos. Da hecatombe generalizada só se salvaram os dois primeiros colocados, e com ressalvas. "Oração pela Família Gay", de Danilo Roxette, foi o único candidato abertamente político, trollando sem meias-palavras inimigos como Malafaia, Bolsonaro e Myriam Rios. Meio longo e meio tosco, mas pertinentíssimo. E o grande campeão, "GLOSSário", foi rodado em Fortaleza em 2008 também como um TCC, e já circulava pela internet há um bom tempo. Mas era sem dúvida o mais engraçado e bem-feito de todos os concorrentes. O embate dos dois proporcionou um animado debate na hora da premiação, com um espectador defendendo veementemente o troféu "Coelho de Prata" para "Oração". Segundo ele, esta seria nossa "única" oportunidade do ano para revidarmos aos homofóbicos. Sinto discordar, mas não é: a luta acontece todos os dias, nas ruas, na imprensa, nos blogs. Além do mais, o espírito do "Show do Gongo" é mesmo o da galhofa. Por isto fiquei do lado da drag que puxou uma vaia contra o Malafaia, mas argumentou que o prêmio tinha mesmo que ir para o mais bem-humorado. "GLOSSário" não faz feio perto de antigos vencedores, como "Furico Li Furico Lá" ou "Telebambis", mas o nível dos participantes precisa subir ano que vem. Caso contrário, o "Show" inteiro corre o sério risco de gongado.
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
DIADORIM NA GRÉCIA
"1654, Império Otomano, Grécia. Um guerreiro turco chega gravemente ferido a um convento remoto..." Pópará: só esse comecinho da sinopse de "Terra Negra" me convenceu de que este era o filme do MixBrasil que eu iria ver ontem. Por mim nem precisava ter temática gay, mas tem - se bem que diferente da pegação/fechação que a gente espera das obras exibidas no festival. "Terra Negra" é solene, sério, historicamente rigoroso e lindíssimo. Também é beeem lento, mas, por incrível que pareça, não chega a ser chato. Porque a história ajuda: o tal do guerreiro é recolhido pelas monjas, e algumas delas ficam bem assanhadas com a presença de um homem dentro de seus muros. Inclusive uma que guarda um grande segredo, só compartilhado pela madre superiora. Trata-se de um menino disfarçado, enviado para o convento quando pequeno para escapar do recrutamento forçado. Uma espécie de Diadorim ao contrário. A semelhança com "Grade Sertão" Veredas" aumenta ainda mais quando rola um climão entre o soldado e o impostor. "Terra Negra" não será mais exibido em São Paulo, mas ainda tem a edição carioca do festival. E quem estiver a fim de ver algo poético e muito diferente do que rola por aí, pode procurar por "Black Field" ou "Le Pré Noir" na internet.
terça-feira, 15 de novembro de 2011
DO FUNDO DO BAÚ
Mudar de casa tem dessas coias. Gavetas são esvaziadas, caixas são remexidas, e voltam para a superfície coisas que a gente nem mais lembrava que existiam. Olha só que singelo esse recorte da "Folha de São Paulo", de 23 anos atrás. Lá estou eu jovenzinho e seríssimo, "rempli de moi même" como os jovens costumam ser. Mas antes que alguém diga que a minha reclamação é o píncaro da futilidade, um alerta: os cinemas daquela época eram mesmo horríveis, com equipamentos movidos a lenha, salas semi-destruídas e zero de respeito ao espectador. "Para quê investir", pensavam os exibidores, "se está todo mundo em casa vendo vídeocassete?". Foi só em meados da década seguinte, com a chegada de redes americanas como Cinemark e UCI, que os cinemas brasileiros começaram a melhorar. Vamos ver quanto mais tempo duram, agora que está todo mundo em casa vendo filme baixado da internet.
MELHOR IDADE PARA QUEM?
Céus, como o tempo voa. Parece que foi outro dia que a Isabella Rossellini era a garota-propaganda da Lancôme, com sua beleza aristocrática estampando todas as contra-capas das revistas de luxo (num golpe de justiça divina, agora é sua filha Elettra Ingrid quem representa a marca). Hoje Isabella tem 59 anos e está em cartz em "Late Bloomers", um filme que discute justamente a difícil passagem para a terceira idade. É o seu melhor papel no cinema em muito tempo, apesar da personagem ser meio incoerente: num momento se ofende quando um rapaz lhe oferece o assento num ônibus, no outro compra um telefone de teclas grandes, especial para idosos. E sua briga com o marido, interpretado por William Hurt - com quem tem excelente química - é meio porque sim, sem nenhuma razão objetiva. "Late Bloomers" tem várias tiradas boas, um elenco afiado (a melhor amiga de Isabella é feita por Joanna Lumley, a Patsy de "Absolutely Fabulous") e aquela aura de distinção que se espera de um certo cinema europeu. Mas falta pressão alta no roteiro da diretora Julie Gavras (filha do Costa) para envolver a plateia do começo ao fim; sobram algumas pelancas.
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
FELIZ NOEL
Nos áureos tempos do britpop, em meados dos anos 90, eu torcia descaradamente pelo Blur. Achava que o som de Damon Albarn e sua turma era muito mais moderno que o dos irmãos Gallagher, apesar de também comprar todos os discos do Oasis. O tempo mostrou que eu tinha razão: Albarn seguiu sua carreira com projetos vanguardistas como o Gorillaz e o The Good, The Bad and the Queen, enquanto os rivais permaneciam congelados entre o desejo de ser os Betales e o de matar um ao outro. Aliás, dentro do próprio Oasis eu também tinha minhas preferências: gostava do Noel Gallagher, o compositor e gênio do grupo, a cujas canções o mau cantor que é Liam nunca conseguiu fazer justiça. Fora que o cara é um saco de se ver no palco, mal-humorado e sem carisma. As briguinhas entre os irmãos sempre me pareceram um pé no saco, e foi quase com alívio que fiquei sabendo do fim da banda. Liam fundou uma nova chamada Beady Eyes que passou há pouco tempo pelo Brasil sem chamar muita atenção; que Deus o tenha. Em compensação, livre do fardo fraternal, Noel finalmente parece que vai se tornar o superstar que sempre ameaçou ser. Seu primeiro álbum solo, "High Flying Birds" - na verdade o nome de sua nova banda, mas quem se importa? - foi lançado em outubro e lidera a parada inglesa. Não há grandes experiências, mas sim um punhado de canções muito bem escritas e interpretadas. Ele está cantando melhor do que nunca, o que me faz suspeitar que Liam era o vocalista do Oasis por puro nepotismo. Que bom: este ano o Noel chegou mais cedo.
A "JUNIOR" ESTÁ CRESCENDO
Sei que eu sou supeito, porque sou amigo dos editores e colaboro frequentemente com a revista (inclusive neste número que acabou de chegar às bancas: tem um texto meu saudando a edição gay da "Trip"). Mas, sinceramente, acho que a "Junior" está cada vez melhor. A revista foi malhadíssima quando surgiu em 2007, e é até compreensível - num mercado carente de publicações voltadas ao público gay, era impossível não se decepcionar com aquela que, desde o começo, se propôs a ocupar um grande espaço. Logo em seguida surgiram "rivais" como a "Dom" e a "Aimé", que infelizmente duraram pouco (a "Aimé" ainda existe? É tão irregular que nem sei mais dizer). Mas a "Junior" conseguiu não só sobreviver, como crescer e amadurecer. Esse novo número traz uma combinação equilibrada de matérias leves e sérias, e o projeto gráfico, se ainda não é belíssimo como o da "Out" americana, já está mais acessível que o da "Têtu" francesa. E para os que ainda criticam a "excessiva" jovialidade da revista, dois lembretes: ela se chama "Junior" (hehe), e o mesmo pessoal que a publica promete para breve um novo título, dessa vez focado no público gay mais, digamos, sênior. Aguardemos.
domingo, 13 de novembro de 2011
SEGUINDO O MANUAL
São Paulo está com um excesso de coisas para fazer. Além dos trocentos filmes e peças em cartaz e além do festival MixBrasil, também está rolando a Semana Pirelli de Cinema Italiano. Como é impossível ver tudo, escolhi "As Idades do Amor", o nome internacional de "Manuale d'Amore 3". O primeiro chegou a ser exibido no Brasil em 2006, e eu lembro que gostei muito na época: eram três episódios muito divertidos sobre as desventuras amorosas de um grupo de romanos. Esta nova continuação segue a mesma fórmula, e repete grande parte do elenco dos filmes anteriores (em papéis diferentes). A grande novidade é Robert De Niro, que fala um italiano perfeito, apenas com um leve sotaque americano. Mas o resultado final não é grande coisa: nenhuma das histórias é especialmente engraçada ou emocionante. De qualquer forma, é sempre agradável ver a Itália na tela. E a música-tema é a deliciosa "Folia d'Amore", que chegou em segundo lugar no Eurovision deste ano e, num mundo mais justo, levaria o Oscar de melhor canção.
sábado, 12 de novembro de 2011
FRANCAMENTE, SUELY
Como é que você não é uma superstar? Uma atriz com os seus recursos deveria ter o prestígio, no mínimo, de uma Marília Pera - a quem, aliás, você substituiu em "Pippin", muitos anos atrás. Porque você é uma comediante de mão cheia e uma dançarina extraordinária. Seu timing, sua leveza, sua empatia com a plateia, tudo isto faz com que "Seis Aulas de Dança em Seis Semanas" supere o esquematismo com que foi concebida. A peça do americano Richard Alfieri é mega-previsível, e feita sob medida para agradar ao público já entrado em anos. Uma viúva contrata um professor particular de dança para preencher seu tempo, e é óbvio que os dois vão discutir tanto, mas tanto, que se tornarão amigos inseparáveis. As situações se repetem e o espetáculo acaba durando mais do que devia. Ainda bem que Tuca Andrada é um parceiro à altura de Suely Franco. Mas a noite é mesmo dela. Quem sabe agora ela alcance a glória que sempre mereceu.
BRANCA DE CHOCOLATE
"Mirror, Mirror", o filme sobre Branca de Neve que o diretor indiano Tarsem acabou de rodar, teve o lançamento adiantado para março do ano que vem. Os produtores querem furar o outro filme de 2012 sobre a princesa mais famosa dos contos de fadas, "Branca de Neve e o Caçador". Por mim nem precisava, porque eu não estava com a menor vontade de ver este último. Por três singelas razões:
1) A protagonista é feita pela odiosa Kristen Stewart, a Bella da "saga" (odeio esse termo) "Crepúsculo";
2) O conflito é resolvido numa batalha épica, totalmente alheia à história original. Num arremedo de feminismo, os roteiristas vestiram uma armadura na mocinha e transformaram-na em Branca d'Arc.
3) A protagonista é feita por Kristen Stewart.
Mas aí surgiu o trailer nesta semana, e não é que eu gostei? Mais uma vez, pela mais singela das razões: ele é narrado pela única personagem realmente interessante da trama, a Rainha Má. E Charlize Theron, apesar de ser meio nova para o papel (sempre achei que a Rainha Má beirasse os 50; ela fica mais verossímil se for uma mulher na menopausa), encarna bem a maldade glamurosa necessária. Gentem, o que é aquele banho de chocolate branco? OK, é leite, mas eu prefiro imaginar que é chocolate. E vamos combinar que ela deve se sair melhor do que a outra Rainha, Julia Roberts. A eterna "Pretty Woman" vai estragar qualquer sensação de perigo iminente quando abrir o sorriso de dois milhões de dentes.
1) A protagonista é feita pela odiosa Kristen Stewart, a Bella da "saga" (odeio esse termo) "Crepúsculo";
2) O conflito é resolvido numa batalha épica, totalmente alheia à história original. Num arremedo de feminismo, os roteiristas vestiram uma armadura na mocinha e transformaram-na em Branca d'Arc.
3) A protagonista é feita por Kristen Stewart.
Mas aí surgiu o trailer nesta semana, e não é que eu gostei? Mais uma vez, pela mais singela das razões: ele é narrado pela única personagem realmente interessante da trama, a Rainha Má. E Charlize Theron, apesar de ser meio nova para o papel (sempre achei que a Rainha Má beirasse os 50; ela fica mais verossímil se for uma mulher na menopausa), encarna bem a maldade glamurosa necessária. Gentem, o que é aquele banho de chocolate branco? OK, é leite, mas eu prefiro imaginar que é chocolate. E vamos combinar que ela deve se sair melhor do que a outra Rainha, Julia Roberts. A eterna "Pretty Woman" vai estragar qualquer sensação de perigo iminente quando abrir o sorriso de dois milhões de dentes.
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
ARISA DEU PITI
Na boa: Uriel Yekutiel não é um performer profissional. Qualquer uma das nossas drag queens dá de dez na estrela do Arisa (que é uma banda/projeto, e não o nome do moçoilo). Profissional de verdade faz show para três gatos pingados, debaixo de chuva, levando choque do microfone. Na noite de ontem, em sua esperada apresentação na festa de abertura do MixBrasil, Uriel mostrou que não é do ramo. Com o show rolando e a plateia ganha, de repente uma falha qualquer cortou o som do The Society. Acontece. E como o moçoilo estava dublando a si mesmo, durante alguns segundos foi aquele silêncio sepulcral. Uriel ainda fez sinal para o público bater palmas, que de nada adiantaram. Ele simplesmente perdeu o rebolado. A música voltou em seguida, mas aí já era tarde. A diva saiu de cena, talvez para tomar um litro de água com açúcar nos camarins e ser abanada por um leque de plumas de avestruz. O DJ permaneceu a todo vapor e as mais animadas da pista insistiam no bellydance. Alguns instantes depois, Uriel ressurgiu desmontado - o que para ele significa este modelito discreto aí acima - e foi para trás das pick-ups, só acenando para o povo e fazendo uns meneios orientais com a cabeça. Show para valer, baubau. Fomos embora. E só não pedimos o dinheiro de volta porque éramos convidados.
MIXBRASIL, SEU LYMDO
Festival de cinema para quem precisa, festival de cinema para quem precisa de festival de cinema. Mal acabou a Mostra de SP e já começou o MixBrasil, que a rigor não é mais um festival de cinema. Em sua 19a. edição, o Mix finalmente se assumiu como um evento multimídia, trazendo para a programação oficial os espetáculos de teatro e música que sempre aconteceram às suas margens. A largada é sempre dada em São Paulo, mas depois o circo roda por todo o Brasil; este ano, depois de algumas presenças titubeantes, o Mix volta com força total ao Rio de Janeiro. Ontem rolou um coquetel de abertura e depois a exibição do ultra-fofo "Tomboy", um filme francês que é de fato, como foi anunciado, o equivalente lésbico do clássico "Minha Vida em Cor de Rosa", obrigatório no currículo de qualquer biba que se ache culta. Conta a história de uma menina que quer ser menino, uma autêntica sandalinha, e que durante algum tempo consegue enganar toda a garotada de sua nova vizinhança. O começo é devagar ao extremo, mas depois a emoção engrena, ajudada por um elenco infantil realmente excepcional (espero que ninguém tenha saído traumatizado). E a boa notícia para quem se interessou mas está fora da rota do Mix é que "Tomboy" já está legendado em português - ou seja, vai entrar em cartaz. Iupiii.
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
PRESO NO ENGARRAFAMENTO
"Amanhã Nunca Mais" seria um filme muito divertido se assumisse ser comédia desde o primeiro frame. E talvez se o protagonista não fosse um cara tão banana: é difícil torcer por ele, apesar de seu problema ser até bastante comum. Lázaro Ramos faz um anestesista casado com uma mulher estonteante, que um dia precisa sair correndo do hospital onde trabalha para buscar o bolo do aniversário da filha. Claro que tudo dá errado pelo caminho. Já vimos este filme antes, e muito melhor: "Depois de Horas", o título literal e imbecil que o "After Hours" de Martin Scorsese ganhou no Brasil. Lá não havia barriga; aqui há muitas, principalmente no começo. O diretor Tadeu Jungle amarra a ação logo nas primeiras sequências, e procura ângulos engraçadinhos para a câmera quando devia ser simples e direto. Lázaro Ramos está ótimo como sempre, e é maravilhoso que ele faça personagens que não foram pensados necessariamente para um ator negro. O elenco todo está bem, com destaque para Maria Luiza Mendonça fazendo mais uma de suas malucas. Mas o ritmo demora para engrenar, e muito do interesse se perde em intermináveis cenas de engarrafamento. É uma pena, pois "Amanhã Nunca Mais" tinha futuro.
SÓ O AMOR CONSTRÓI
Semana passada, a revista humorística francesa "Charlie Hebdo" teve sua redação em Paris destruída por uma bomba. O crime foi atribuído a radicais islâmicos, em represália ao número especial que a revista publicou com piadinhas sobre a sharia e Maomé na capa. Esta semana a "Charlie" revidou: não se atreveram a mostrar o profeta novamente, mas a nova capa é uma provocação bem-humorada e libertária. Agora vamos ver se os terroristas acusam o golpe e atacam a novamente a publicação, desta vez passando o recibo de homossexuais enrustidos. Sim, isto mesmo: aquilo que muita gente já suspeitava - todo homofóbico é uma bicha no armário - tem comprovação científica, como explica Contardo Calligaris neste artigo publicado na "Folha" de hoje (para assinantes do jornal e do UOL). Ele também diz algo que eu venho repetindo aqui há um certo tempo: que os avanços na luta pelos direitos igualitários provocarão uma recrudescimento nos ataques violentos aos gays. Pois pode vir quente que estamos fervendo, e vamos cobrir de beijos e outras coisas esses agressores que não amam a si mesmos.
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
ESTOURANDO A CEREJINHA
Anteontem foi ao ar nos Estados Unidos o episódio de Glee em que Rachel e Kurt perdem a virgindade - não um para o outro, é claro. Como a trama dela é intessantízzzzronc, foquemos no que realmente interessa: não é forçadamente fofo o Kurt e o Blaine se chamarem de namorados sem nunca terem passado da primeira base? A Fox, que costuma ser arquirreaça em seu canal de notícias, adora pagar de escandalosa no canal aberto, e promoveu tanto o primeiro descabaçamento gay do horário nobre da TV americana que acabou atraindo a ira de alguns grupos conservadores. Mas quem viu o capítulo diz que foi tudo com tanto bom gosto e delicadeza que até os pudicos caíram no sono. Acho muito mais excitante aquele casarão onde vivem os Warblers, o grupo vocal do Blaine. Quando eles atacam em bando, cantando de terno e gravatinha, sempre fantasio que é o prelúdio de uma orgia.
CHARLOTTE FOREVER
Na minha opinião, Charlotte Rampling foi o rosto mais lindo dos anos 70. Ela conseguia ter uma beleza aristocrática sem aparentar arrogância, e mantinha uma aura de mistério mesmo quando aparecia completamente nua. Também acho que continua linda até hoje, apesar de - ou talvez por isto mesmo - jamais ter passado pelo bisturi de um cirurgião plástico. Para completar, é uma atriz excelente que filma em três línguas e uma mulher fascinante. Há uns dez anos a vi em pessoa no Festival do Rio, quando veio apresentar seu filme "Sob a Areia". Não sabia se avançava nela ou no diretor François Ozon, também uma teteia. Agora, no esplendor dos 65 anos, ela é o tema do documentário "Charlotte Rampling: The Look", que se subtitula "um auto-retrato através de outros". Cenas de filmes clássicos da musa são entremeados com papos com gente do calibre do escritor Paul Auster e do fotógrafo Juergen Teller. Nunca baixei filmes da internet, mas como é improvável que este chegue ao Brasil, terei que abrir uma exceção.
ATO FALHO
Um dia até a melhor piada do mundo cansa. Os integrantes da banda americana Nous Non Plus, que faz um pastiche do pop francês dos anos 60, parecem estar enjoados de si mesmos. O disco "Freudian Slip" é um ato falho que vai além do título: há até mesmo uma canção cantada em (gasp) inglês. Também se foi muito da gaiatice presente no trabalho anterior, que rendeu posts entusiasmados aqui no blog (como este aqui e este outro). Só a primeira faixa de trabalho é que se esforça em ser 100% divertida, e quase consegue. "Bunga Bunga" pode servir de trilha sonora para estes últimos dias do criador da expressão consagrada, o ex-futuro primeiro-ministro Silvio Berlusconi.
ENSAIO É COISA DE BICHA
Se Brett Ratner tivesse feito uma piada com negros ou judeus, teria perdido na hora o cargo de diretor da próxima cerimônia de entrega dos Oscars. Mas como fez com gays, a Academia precisou de um delay de alguns dias para demiti-lo. Semana passada, durante uma coletiva para o lançamento de seu filme "Tower Heist", Ratner respondeu com o delicado título deste post à pergunta de uma repórter, que queria saber como tinham sido os ensaios com o elenco - que inclui figurões como Ben Stiller e Eddie Murphy. Ele usou a palavra "fags", que já é quase tão ofensiva em inglês quanto a famigerada "niggers". A repecussão negativa foi imediata, mas a princípio a Academia o defendeu. Aí ressurgiram na mídia várias outras grosserias do sujeito, como uma entrevista repleta de palavrões ao programa de rádio de Howard Stern. Há anos que os Oscars tentam se modernizar e atrair um público mais jovem, mas até agora não foram bem sucedidos. Nem a ampliação para 10 do número de indicados a melhor filme, nem James Franco e Anne Hathaway como apresentadores, nada serviu para aumentar a audiência do programa. E agora eles se arriscavam a hostilizar justamente seu público mais fiel, as bibas. Acho muito bem feito o que aconteceu a Ratner. Soltar piadinha homofóbica não é exercer a liberdade de expressão, é cometer um crime. Que sirva de exemplo. E para quem estiver achando que isto é patrulha: sim, é. Teje preso.
terça-feira, 8 de novembro de 2011
DIREITO DE RESPOSTA
Bom, uma hora ia acontecer. Tenho falado de tanta gente na minha coluna do F5 que, mais cedo ou mais tarde, alguém ia responder. E quis o destino que minha primeira réplica viesse justamente da Luana Piovani, por causa desta matéria que assinei semana passada. Na verdade, acho que eu ficaria desapontado se ela não respondesse nada: a moça mexe com quem está quietinho em seu canto, por que não mexeria comigo? Agora vou preparar uma tréplica, mas preciso encontrar o tom certo. Porque a verdade é que eu admiro a Luana. Não exatamente o que ela fala, mas sua coragem em assumir posições e dar a cara para bater. E sim, sou um de seus quase 100 mil seguidores no Twitter. Como não seria? O mundo fica mais interessante com Luana Piovani.
ATUALIZAÇÃO: Minha tréplica já está no ar, lá no F5.
PRIMAVERA PESSOAL
Adoro casos de gente que soube se reinventar. Conheço Caren Von Igel há muitos anos, e tinha dela a imagem de super-executiva de propaganda, com uma longa carreira internacional. Nunca suspeitei que a moça tivesse talento artístico. Pois tem: em apenas três anos de pintura, ela atingiu uma maturidade surpreendente. Que pode ser conferida em sua primeira exposição individual, em cartaz até 30 de novembro na galeria Spazio Surrelae - Rua Caconde, 234/238, São Paulo. E também aqui, em seu site pessoal. Caren já está convidada a participar de várias exposições no ano que vem, no Brasil e no exterior. Sua arte é de encher os olhos, e também me enche de vontade de explorar novos caminhos.
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
FREDDIE FOR A DAY
Ontem à tarde, enquanto eu estava vendo o John Malkovich, meu irmão emetevista ficava me mandando mensagens direto de Belfast, onde ele foi acompanhar a entrega dos EMAs. "Vai entrar Lady Gaga...", "Queen ganhou o prêmio Global Icon..." Só hoje consegui ver alguma coisa no YouTube, e achei legal que o Adam Lambert mais uma vez encarou o desafio de cantar com a banda (a primeira vez foi na final do "American Idol" de 2009). Não é fácil substituir Freddie Mercury: as comparações são inevitáveis e ninguém chega aos pés do falecido. Mas pelo menos La Lambert tem a bichice necessária para a tarefa, algo que passou batido pelo Paul Rodgers. No mais, tenho muita aflição de ver o Brian May todo grisalho. Parece o Roberto Carlos antes da progressiva.
UM ATOR INFERNAL
John Malkovich é mesmo impressionante. Segurar um monólogo em pleno Theatro Municipal, ainda que coadjuvado por uma orquestra com 30 integrantes, não é para qualquer ator. Pena que "The Infernal Comedy" não seja tão interessante quanto ele. Baseada nas memórias do "serial killer" Jack Untweger, a peça não traz grandes surpresas no texto. A encenação, sim, é bastante original, com a intromissão frequente de duas lindas sopranos cantando árias famosas - o que não quer dizer que seja plenamente bem-sucedida. "The Infernal Comedy" vai entrar na categoria "gostei de ter visto": foi bom acrescentar Malkovich ao currículo, mas o espetáculo em si não chegou a me emocionar. (minha coluna de hoje no F5 também é sobre a peça)
domingo, 6 de novembro de 2011
MUDAR, VERBO INTRANSITIVO
Estava devendo um post sobre a minha mudança. Já estou na casa nova há mais de uma semana, mas acho que só agora estou me sentindo realmente em casa. Os primeiros dias foram babado e confusão: milhares de caixas amontoadas, ninguém sabia onde estava nada. Também colaborou para o meu banzo o fato de eu não querer sair da alameda Lorena. Mas fazer o quê? O proprietário resolveu vender o apartamento, e eu não tenho dinheiro para comprá-lo. Resolvi sair de lá o mais rápido possível, para não ser expulso pelo futuro comprador. Depois de meses de procura, acabamos escolhendo um prédio antigão na alameda Santos, no mesmo bairro onde já estávamos. Mas a configuração por aqui é completamente diferente, por causa da proximidade da Paulista, do metrô e de centenas de prédios de escritórios. Agora estou a walking distance da gigantesca Livraria Cultura do Conjunto Nacional e a muitos cinemas. E estou surpreso com o silêncio que faz à noite, talvez por causa da altura (estamos no 10o. andar). Ainda vai levar um tempo para eu me acostumar totalmente, mas zuzo bem. Mudar é bom.
sábado, 5 de novembro de 2011
CONCHA TU MAY
O Almodóvar sempre gostou de incluir interlúdios musicais em seus filmes. Até Caetano Veloso já apareceu dando canja. Eu devia ter desconfiado que Pedrito não resistiria a convidar Concha Buika a participar de "A Pele que Habito", além do mais porque ela já gravou um CD inteirinho dedicado ao repertório de Chavela Vargas. Os pais da moça são da Guiné Equatorial, que foi colônia espanhola, e já há alguns anos que ela vem encantando o mundo hispânico com sua voz enfumaçada. Agora talvez se torne mais conhecida no Brasil.
O SEGREDO DA SUA PELE
Muita gente está dizendo que "A Pele que Habito" é um Almodóvar diferente, porque o diretor teria se enveredado, pela primeira vez, pelo gênero do suspense. Pois eu já achei que é um Almodóvar puro-sangue, com muitos elementos frequentes na obra do manchego: estupro, cárcere privado, identidade sexual fluida. Não dá para falar muito da história sem estragar as surpresas, mas a essa altura todo mundo já sabe que Antonio Banderas faz um médico obcecado em reconstruir a esposa morta. Câmera, fotografia e direção de arte continuam se sofisticando, em contraste com o kitsch - proposital? - de alguns diálogos. Impossível não lembrar de "O Segredo dos Seus Olhos", que ganhou um Oscar de filme estrangeiro para a Argentina no ano passado, mas é improvável que Almodóvar tenha se deixado influenciar pela trama de Juan José Campanella. O que ele fez foi alterar profundamente o romance "Mygale", do francês Thierry Jonquet, até torná-lo completamente seu. "A Pele que Habito" é um dos filmes mais estranhos e surpreendentes do ano. E a estranheza fica ainda maior quando alguns personagens acham que estão falando espanhol com sotaque brasileiro...
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
RESPEITÁVEL PÚBLICO
Todo mundo está gostando de "O Palhaço". O filme é leve, delicado e surpreendentemente curto. Na verdade, poderia durar ainda menos: toda a sequência final, quando o fiapo de conflito já foi resolvido, poderia ser eliminada tranquilamente. Mas aí teríamos um média-metragem, ou quem sabe um especial de TV. Selton Mello está se revelando um diretor e roteirista de talento, apesar de seu estilo sonso-cool como ator já merecer até sátira no "Zorra Total". Aqui ele é coadjuvado por Paulo José, que em nenhum momento deixa transparecer seu mal de Parkinson, e mais uma galeria de figuras raras no cinema nacional, como Ferrugem, Moacyr Franco e Jorge Loredo (o Zé Bonitinho). Toda a ação se passa nos anos 70, que é a senha para a direção de arte e a trilha sonora se divertirem à larga, mas não há nenhuma conotação política em "O Palhaço". Ou há? O personagem principal pode muito bem ser uma metáfora de toda a classe artística, obrigada a bajular o poder público para conseguir patrocínio. Mas isto talvez seja buscar significados onde eles não existem. "O Palhaço" é rasinho e divertido como uma tarde no circo.
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
NO ESCURINHO DA CAVERNA
Relegar o 3D para os filmes de ação é equivalente a deixar a animação apenas para os infantis: um tremendo desperdício. "A Caverna dos Sonhos Esquecidos", o novo documentário de Werner Herzog, usa o 3D tão bem que o espectador tem a sensação física de estar na caverna de Chauvet, no sul da França, e faz o filme ser muito mais do que um, digamos, "Globo Repórter". Claro que o assunto ajuda muito: a tal da caverna, descoberta apenas em 1997, traz as pinturas rupestres mais antigas que se conhecem, com cerca de 32 mil anos de idade. Um desmoronamento de pedras fez com que o lugar passasse milênios perfeitamente selado ao mundo exterior, e conservou lindamente os desenhos. Que são absolutamente modernos, com um traço tão seguro e preciso que nos fazem crer que nossos antepassados cursaram uma faculdade de Belas Artes. É difícil não se emocionar com as imagens. Herzog entremeia os passeios pela gruta com depoimentos de arqueólogos e outros especialistas, que falam do sentido mágico das pinturas e também do impacto emocional que elas carregam. É uma feliz coincidência que "A Caverna dos Sonhos Esqueciods" tenha sido exibido justamente numa Mostra cujo poster é estrelado por Piteco, o homem pré-histórico criado por Maurício de Sousa. Não só as origens da arte e da religião podem ser encotradas na caverna de Chauvet, como as do próprio cinema.
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
V DE VENGANZA
Parece cena de cinema, mas é a vida real. O braço mexicano do grupo Anonymous, que faz denúncias ao estilo WikiLeaks pela internet, postou este vídeo acima ameaçando o violento cartel dos Zetas. Os traficantes sequestraram um blogueiro ligado ao grupo, e, se ele não for libertado até o dia 5 de novembro, os cyber-delatores prometem publicar os nomes e endereços de dezenas de pessoas ligadas ao crime organizado - inclusive juízes e policiais. Pelo jeito não são só os governos e as empresas que ainda não aprenderam a lidar com o poder descomunal dos internautas: os bandidos também. Agora, esse pessoal do Anonymous tinha mais é que soltar essa lista de qualquer jeito, e não só porque um de seus membros corre perigo.
terça-feira, 1 de novembro de 2011
DESENHO ANIMADO AO VIVO
Sou louco pelo trabalho de Marjane Satrapi, a autora de HQs iraniana radicada na França. Sua obra-prima "Persépolis" - uma autobiografia em quadrinhos, sob o pano de fundo da mal-fadada Revolução Islâmica - é uma pedrada, depois adaptada por ela mesma e por Vincent Paronnaud num excelente longa de animação. Agora a Mostra de SP exibe o segundo filme da dupla, também inspirado por um gibi de Marjane. "Frango com Ameixas" chega ao cinema com atores de carne e osso, mas a estética está longe de ser realista: foi totalmente rodado em estúdio, com cenários e grafismos que recriam a Teerã dos anos 50. A história é trágica, mas o tom de "Frango com Ameixas" ( o prato favorito do protagonista) é leve, quase que de encantamento. E o elenco fabuloso ajuda muito, assim como a música. Talvez seja o filme mais lindo do ano.
MÁILO ZAILOTO
Queira muito detestar o Coldplay, mas não consigo. Pega até mal para uma pessoa culta e viajada como eu achar uma certa graça nessa versão aguada e populista do Radiohead, mas a verdade é que eu acho. Quando saiu "Viva la Vida" em 2008 eu fiz um dos posts mais curtos e grossos da história deste blog, e depois queimei a língua ao levantar os bracinhos toda vez que tocava um remix da faixa-título nas pistas das danceterias (adoro essa palavra). Dessa vez me rendi sem lutar. Já adquiri meu exemplar de "Mylo Xyloto". Continuo achando que o Chris Martin, apesar de hétero, é o vocalista mais sin cojones de toda a história da música pop, mas não dá para negar que ele e sua trupe sabem criar uns refrões pegajosos. "Hurts Like Heaven", que abre o disco, tem uma levada bem pop, sem a pomposidade que se espera da banda. "Princess of China", que tem a participação de Rihanna, parece trilha de filme B dos anos 50: depois que a gente se acostuma com a cafonice do corinho, a melodia fica até bonita. Mas muitas vezes o Coldplay resvala para um som meio "corporate", feito para embalar a galera e tão vazio de sentido quanto o título do álbum. E a overdose de carência afetiva? Apesar dos zilhões de discos e ingressos vendidos, parece que esses meninos estão sempre precisando de um abraço.
FORÇA O ESCAMBAU
Se algum dia eu estiver muito mal de saúde, vou adorar receber cartões e presentinhos. Mas peço encarecidamente que ninguém me mande mensagens do tipo "Você vai sair dessa! Só depende de você! Força!". Sei que a intenção é boa, mas a verdade é que não, não depende só de mim. A nossa cultura põe uma importância desmesurada no esforço individual. Achamos que tudo que acontece na vida de uma pessoa, de bom ou de mau, é de responsabilidade única e exclusiva dela. Mas não é: existem a sorte, o acaso, a biologia, o destino, Deus, a natureza, o imponderável. A disposição a se cuidar (e a colaborar com os médicos) ajuda em qualquer tratamento, mas não é o é fator decisivo. O colunista português João Pereira Coutinho falou de uma amiga sua que morreu de câncer no começo deste ano: não bastasse ter o corpo corroído pela doença, ela se foi com a alma corroída por causa dos incentivos dos amigos, que a fizeram se sentir ainda mais fraca e derrotada. Detesto a expressão "perdeu a batalha contra o câncer": um tumor não está em guerra com ninguém. Quando alguém morre por causa de um câncer, as células cancerosas morrem também.
(Este post é um desabafo pela morte de um amigo, sábado passado. Nos dias anteriores, a página dele no Facebook se encheu de sandices do tipo "mostre que você é mais forte". Ele não foi, e isto não diminui em nada o amor que sentíamos por ele.)
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