sexta-feira, 30 de setembro de 2011
NÃO É O QUE VOCÊ DIZ, É COMO
Não resisti a dar meu pitaco nessa briga do governo com a campanha da Hope. Minha coluna de hoje no F5 é sobre o assunto e está recebendo uma enxurrada de comentários, pró e contra. Nem minha colega de site Nina Lemos concorda comigo. Mas eu mantenho o que disse, e vou além. Algumas feministas adoram dizer que a pornografia é uma violência contra a mulher. Que é degradante, que transforma a mulher num objeto, etc. etc. E aí eu pergunto: e a pornografia gay? Que não requer a presença de uma única mulher? Não conheço uma única biba que se sinta mal com o tratamento que as próprias bibas dão a si mesmas nos filmes da Falcon ou da Bel Ami. Aliás, imagino que não exista um único gay na face do planeta que não goste de um filminho pornô... O que eu quero dizer é que o desejo masculino é quase impessoal. É literalmente uma força da natureza e que, em estado puro, não implica na total subjugação do seu obejto. Claro que o tesão precisa ser controlado, caso contrário pode mesmo ser destrutivo. Mas não dá para fingir que ele não existe. No mais, acho os comerciais com Gisele Bündchen bastante inocentes até. Não estou dizendo que sejam plágio, mas lembrei na hora desta campanha aí embaixo do creme dental Crest. O conceito é semelhante: "você pode dizer qualquer coisa com um sorriso". Tente não sorrir também.
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
DEBO$HADA
Achei que eu ia passar invicto por este Rock in Rio. Que não veria nenhum dos shows que vieram a São Paulo. Até queria ir na Rihanna ou na Katy Perry, mas não o suficiente para morrer numa granalhaça, passar frio, fome e necessidade para assisti-las no telão e ainda levar duas horas para achar um táxi na volta. Mas hoje tudo mudou. O Ailton Botelho nos convidou para prestigiar seu Camarote Vipado, e lá fomos nós para o Via Funchal. No caminho tentei explicar para o Oscar quem é Ke$ha (não que ele estivesse muito interessado). "É aquela que canta assim, don't stop, make it pop... "Mas essa não é a Madonna?" Para ele "Madonna" é uma denominação genérica que serve para qualquer cantora pop, de Beyoncé a Wanessa Camargo. O show começou logo depois das dez, e já de cara eu me espantei com o corpanzil da garota. Ela não é exatamente gorda, mas tem coxão, bração e quase nenhuma curva nos quadris. Passaria fácil por uma drag, e não das mais elaboradas. Cabelo, maquiagem, figurino, tudo parece meio nas coxas. Mas claro que é de propósito: tenho cá para mim que Ke$ha construiu um personagem, a maluquete bêbada e suja, mas no fundo ela é tão profissional e dedicada quanto a Ana Botafogo. A própria debochada de boutique. Percebi isto porque as coreografias - todas facílimas, criadas para quem não sabe dançar - eram seguidas à risca, e nenhum movimento era por acaso. Nem mesmo a cusparada de cerveja na plateia. Musicalmente é um hit atrás do outro, e o público quase todo adolescente cantava junto todas as letras. A pegada de Ke$ha ao vivo é bem mais rock do que dance, e acho que ela vai arrasar no palco do Rock in Rio na noite desta quinta. Foi uma apresentação curta e divertida, que terminou de maneira bizarra: depois do bis, um roadie balofo entrou em cena e começou a cantar "(You Gotta Fight) For Your Right (to Party)" dos Beastie Boys, e toda a banda, as backing vocals e os bailarinos se juntaram a ele. No meio da música a propria Ke$ha deu o ar de sua graça, mas só ficou pulando de um lado para o outro, jogando pedaços de guitarra cenográfica no povo e ajudando a quebrar uma piñata. Os cariocas não perdem por esperar.
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
ACHO QUE EU VI DOIS GATINHOS
Frankie e Louie são na verdade um gato só, que por uma má formação congênita nasceu com praticamente duas caras: três olhos (o do meio não funciona), duas bocas (só a da esquerda come), dois narizes, mas um único cérebro. O nome correto desses monstrengos é "gato Jano", em referência ao deus romano que tem um rosto olhando para o presente e outro para o futuro (e que deu origem ao nome do mês de janeiro). Geralmente eles são postos para dormir assim que nascem, pois quem que ter um troço desses em casa? Mas a enfermeira encarregada de executar o bichano ficou com pena e o adotou. Esta semana Frankenlouie comemorou 12 anos, um recorde para este tipo de mutante. E leva uma vida completamente normal, ao lado de um papagaio que deve ter sido treinado por Bianca Castafiore. Quase fiquei com inveja: faria um monte de coisas com duas bocas e um olho em cada lado da cabeça.
terça-feira, 27 de setembro de 2011
ELIANA E O GARANHÃO
Rindo muito até agora com essa história do Marcelo Cabral no programa da Eliana. Será possível que ele realmente acreditou que não seria reconhecido? Justo ele, né Alexandro Rocha, o "Garanhão de Copacabana", maior nome (y otras cositas más) da Pau Brasil (melhor nome de produtora pornô gay EVAH). E será possível que ninguém da produção da Eliana, mas nin-guém mes-mo achou aquele rostinho vagamente familiar? Pois é, os tempos mudaram. Na década de 90, um rapaz da lendária trupe dos "Leopardos" - e que também tinha se mostrado bastante desinibido em frente às câmeras - chegou a ganhar um pequeno papel na novela das 7, e ninguém ligou o nome à p'ssoa (dizem as boas línguas que ele era peguete do autor). Hoje em dia, com internet, câmeras por toda parte e um dedo-duro atrás de cada computador, não existe mais essa de "passado oculto". Todos os segredos são revelados, tudo é escancarado, tudo derrete à luz do dia feito um picolé no sol. Meu, que imagem perturbadora.
(E não se faça de desentendido porque você sabe muito bem quem é Marcelo Cabral. Clique aqui para refrescar a memória. Mas clique de casa, criatura)
(E não se faça de desentendido porque você sabe muito bem quem é Marcelo Cabral. Clique aqui para refrescar a memória. Mas clique de casa, criatura)
BULLYING CORRETIVO EM CRISTO
Esta notinha aí ao lado saiu hoje na coluna do Ancelmo Góis, n'"O Globo". Por um lado, acho super louvável que um político - qualquer político - estude mais. Cansei de governantes que acham que só charme e veneno são mais do que suficientes. Além do mais, o convívio com colegas mais jovens e supostamente mais arejados pode fazer bem ao senador homofóbico. Por outro lado, estou torcendo que aconteça todos os dias com o "bispo" o que aconteceu na única visita do Bolsonazi à UFF em Niterói: bullying! Vaias, protestos, palavras de ordem, "pede para sair!". Mas claro que antes ele precisa entrar.
(agradeço ao Diego Rebouças pela graça alcançada)
(agradeço ao Diego Rebouças pela graça alcançada)
QUEM NUNCA?
Estou lendo o primeiro romance do Celso Dossi, "Maria Angélica - a Saga de uma Terrorista Brasileira" (para humilhar ainda mais os colegas blogueiros, ele também lançou um volume de contos, "Quarenta Graus Celsius"). E estou apavorado. A mente do Celso é ainda mais doentia do que eu imaginava. Sua protagonista é uma milionária psicopata que sai matando todas as pessoas que não respeitam as leis do trânsito nem as regras da etiqueta. Promove uma chacina em São Paulo que deixa os ataques do PCC com cara de festa junina. Tremo em pensar o quanto da personagem tem do próprio Celso - e em lembrar que eu já coloquei esse fascistinha dentro da minha própria casa!
Passado o choque inicial, embarquei no humor negro e comecei a vibrar com a violência descontrolada do livro. E até me identifiquei: afinal, quem nunca pensou em jogar uma bomba nas atendentes de telemarketing que dizem que vão estar enviando? Fiz até uma listinha de alvos pessoais, que estariam com os dias contados se eu tivesse o dinheiro e o poder de Maria Angélica:
- Pessoas que estão no começo de uma fila e não escutam quando o caixa do supermercado ou a bilheteira do cinema gritam "próximo!";
- Proprietários de SUVs pretos e enormes, que ocupam o espaço de três vagas e agem como tanques de guerra no trânsito da cidade;
- E por falar em automóveis, todos os responsáveis pela campanha da Hyundai, que esbanja adjetivos como "fenomenal" e "o melhor" para o que julgam ser a maior conquista da história da humanidade: o carro de três portas.
"Maria Angélica" é um livro perigoso. Primeiro porque provoca inveja, depois porque dá ideias.
Passado o choque inicial, embarquei no humor negro e comecei a vibrar com a violência descontrolada do livro. E até me identifiquei: afinal, quem nunca pensou em jogar uma bomba nas atendentes de telemarketing que dizem que vão estar enviando? Fiz até uma listinha de alvos pessoais, que estariam com os dias contados se eu tivesse o dinheiro e o poder de Maria Angélica:
- Pessoas que estão no começo de uma fila e não escutam quando o caixa do supermercado ou a bilheteira do cinema gritam "próximo!";
- Proprietários de SUVs pretos e enormes, que ocupam o espaço de três vagas e agem como tanques de guerra no trânsito da cidade;
- E por falar em automóveis, todos os responsáveis pela campanha da Hyundai, que esbanja adjetivos como "fenomenal" e "o melhor" para o que julgam ser a maior conquista da história da humanidade: o carro de três portas.
"Maria Angélica" é um livro perigoso. Primeiro porque provoca inveja, depois porque dá ideias.
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
AH -AAAHHH - AAAAAHHHHH
Um documentário na TV que eu assisti pela metade no sábado de manhã me deu vontade de escutar os Bee Gees outra vez. Descobri que não tinha um mísero CD da banda, e olha que eles marcaram toda a minha adolescência. Algumas horas depois, já de posse da coletânea "The Ultimate Bee Gees", me dei conta do quanto eles foram injustiçados pela imprensa especializada. A longa carreira do trio pode ser resumida em três fases: de meados dos 60 a meados dos 70, quando eles eram um clone australiano dos Beatles especializados em canções choramingas; a virada dos 70 para os 80, quando eles se reinventaram como os reis da disco music; e dos 80 em diante, época em que eles ficaram chatinhos e lançaram muita coisa que não fez o menor sucesso (o grupo acabou em 2003, depois da morte repentina de Maurice). Mas não dá para negar que os irmãos Gibb, principalmente Barry, estão entre os melhores compositores de todos os tempos da música pop. Fiquei espantado ao perceber que "You Should be Dancing" - que embala uma das cenas mais famosas do "Saturday Night Fever", mas foi feita antes do filme - continua moderna. Mas a minha favorita no momento é "Love You Inside Out", que foi regravada pela Feist mas é ainda melhor na versão original. Os gritinhos de "ah-aaahhh-aaaaahhhhh" em falsete irritam um pouco e estão completamente datados, e as faixas mais lentas fazem disparar meu nível de açúcar no sangue. Mas os Bee Gees são como sorvete de doce de leite coberto de doce de leite: fazem mal à saúde, mas não dá para resistir.
SEM PRESSA DE IR A LUGAR NENHUM
Eu estava de viagem marcada para o Uruguai na semana que vem, para acompanhar uma filmagem. A produção foi transferida para o Brasil e a minha viagem escorreu pelo ralo. Fiquei desapontado: ir para Montevidéu sempre me dá a sensação de estar num universo paralelo, mais despovoado e onde o tempo anda para trás. Fui marinar minha frustração assistindo ao filme "Além da Estrada", um autêntico road movie uruguaio. Um rapaz argentino sai da capital rumo a Rocha, no norte do país, onde tem uma propriedade que herdou dos pais, e no caminho dá carona a uma turista belga. O Uruguai é minúsculo, mas mesmo assim eles levam dias para chegar ao destino. A falta de pressa é tão grande que eles param para dormir em Piriápolis, a meio caminho entre Montevidéu e Punta del Este - um trajeto que pode ser feito em uma hora e meia. A falta de roteiro também é enorme: as situações vão se sucedendo por acaso, meio desamarradas umas das outras, e até Naomi Campbell aparece a certa altura, no papel de si mesma. As paisagens vão se repetindo monotonamente e o inevitável caso de amor entre os protagonistas não chega a empolgar. Saí do cinema com a sensação de ter mesmo viajado ao Uruguai: no primeiro dia a gente acha tudo incrível, mas no terceiro já está aborrecido e quer voltar logo para casa (ou atravessar o rio e se jogar em Buenos Aires).
A BRUXINHA QUE ERA MÁ
Ainda adoro "True Blood", mas não é mais meu programa-favorito-de-todos-os-tempos-desta-semana. A quarta temporada terminou ontem na HBO Brasil e foi a que menos me agarrou pelo pescoço. Havia uma boa trama central, o embate entre os vampiros e a bruxa Marnie. Mas também uma multidão de historinhas paralelas bem desinteressantes, que pareciam estar ali só para preencher o tempo. Um pouco como acontece nas novelas. Também estou enjoado do dilema de Sookie, eternamente indecisa entre Bill ou Eric: este é o mesmíssimo conflito básico do outro fenômeno vampiresco atual, a "saga" adolescente "Crepúsculo" (chamar aquilo de "saga" é realmente de foder), e faz tempo que eu deixei de ser uma menininha romântica. A próxima temporada promete ser melhor: os paralelos políticos vão ressurgir com força, já que o líder daquela igreja que era contra os vampiros apareceu ontem com duas presas na boca. Se bem que vou ter saudades da confusa Marnie, uma personagem tão contraditória quanto a Norma de "Insensato Coração". A inglesa Fiona Shaw arrebentou no papel. Ela, que fez a antipática tia Petunia da "saga" "Harry Potter", aqui teve a chance de destilar maldade temperada com insegurança, uma combinação sempre assustadora.
domingo, 25 de setembro de 2011
REVISTANDO AS TROPAS
Veio bem a calhar: ontem o canal Telecine Premium exibiu os dois "Tropa de Elite" em sequência, e eu aproveitei para rever os filmes. Ambos são ótimos, e claro que nessa segunda vez deu para perceber um monte de detalhes que o impacto inicial ofuscou. Um dos companheiros do capitão Nascimento na primeira parte é o Juliano Cazarré, o Ismael de "Insensato Coração"; na segunda, a jornalista que se estrepa é a Tainá Müller, que fez a Paula Cortez na mesma novela. Na época não conhecia nenhum dos dois. A parte técnica continua impressionante como sempre, e mais uma vez me maravilhei com os recursos infinitos do Wagner Moura. Também não mudei minha opinião original: "Tropa 1" é melhor. É mais porrada, mais visceral, menos pretensioso. Foca mais no drama individual e não se propõe a salvar o Brasil. Além disso, fiquei com a sensação de que o "Tropa 2" não tem a menor chance no Oscar. Justo o contrário do que eu disse numa coluna no F5 semana passada. Além de ser violento demais para o gosto da Academia, trata de um problema um pouco local demais - as milícias - e bem difícil para um gringo entender. No mais, saí incomodado porque o agora coronel Nascimento, esse super herói nacional, me lembrou demais o Bolsonazi.
sábado, 24 de setembro de 2011
SODADE
Cesária Évora anunciou que vai encerrar a carreira. Aos 70 anos de idade, a "diva dos pés descalços" está com a saúde debilitada demais para continuar cantando profissionalmente. A notícia me deixa muito mais triste do que o fim do R.E.M.: as mornas de Cesária eram para mim o equivalente sonoro de um cafuné na rede, coisa que Michael Stipe e sua turma nem desconfiem o que seja. A maior divulgadora da música de Cabo Verde estourou tarde a nível global, já beirando os 50 anos, e fez sucesso na França antes de chegar ao Brasil. Uma injustiça, já que sua maior "ídala" é a nossa Ângela Maria. Vi Cesária ao vivo duas vezes e adorava como ela se sentava numa cadeira durante o show, deixava os músicos tocando e acendia um cigarro em pleno palco. Sua voz traz uma tristeza conformada de quem está acostumada a sofrer e me traz uma lembrança atávica das mães pretas do passado. É difícil entender o que ela canta, quase sempre em dialetos do arquipélago onde nasceu. Mas sempre mexe comigo: estimo as melhoras, e já estou com "Sodade".
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
SE CASAR, NÃO BEBA
"Missão Madrinha de Casamento" está sendo vendido no Brasil como uma versão feminina de "Se Beber, Não Case". É verdade, porque há um grupo de amigas que partem numa viagem a Las Vegas para despedir a solteirice de uma delas. E também porque há algumas cenas francamente nojentas, inclusive uma que é um insulto à culinária brasileira. Mas também não é verdade, porque o "Se Beber..." original é um filme profundamente masculino, heterossexual e cafajeste. Já as personagens de "Madrinha..." (por que o "Missão" no título brasileiro?) são imperfeitas, mas no fundo são todas mulherzinhas. E digo isto no bom sentido, sem nenhuma ofensa. O filme começa como uma comédia rasgada, e fazia tempo que eu não ria tanto como na cena do duelo de brindes. Mas lá pelo meio o ritmo se altera e os problemas da protgonista vivda por Kristen Wiig - fracassada no trabalho, no amor e na vida - quase jogam o humor do espectador para baixo. Ainda bem que Kirsten é ótima e o resto do elenco também. Principalmente Rose Byrne, da série "Damages", que faz uma perua que comeria a Teresa Cristina no brunch, e a imensa Melissa McCarthy, recém-premiada com o Emmy de melhor atriz cômica. A sessão onde fui estava quase vazia, porque essas atrizes vindas da TV são meio desconhecidas por aqui. Mas tomara que o boca-a-boca funcione: até agora, é o filme mais engraçado do ano.
ROCK É ROCK MESMO
Tenho lido por aí muita reclamação de que o Rock in Rio está repleto de artistas que não são exatamente rock. Como se a palavra "rock" ainda quisesse dizer alguma coisa... Faz tempo que ela não se refere a um estilo musical específico: é, no máximo, um sinônimo metido a besta para “pop”. Mas "Pop in Rio" soa como marca de refrigerante, não? Os puristas têm memória curta, ou então ainda eram espermatozóides quando rolou o primeiro festival. Sabe quem foi a noite mais cheia daquela época? A que reuniu cabeludos doidaços como George Benson e James Taylor. E ainda teve Elba Ramalho, a Janis Joplin do Nordeste, presente também na edição de 91. “Rock” é um termo cunhado pela imprensa na virada dos anos 60 para os 70, e não tem xongas a ver com o rock’n’roll dos anos 50. Nem o que os Beatles faziam era chamado de rock: aqui no Brasil, ainda sob alguma influência francesa, dizia-se “iê-iê-iê”. Mas proto-metaleiros como o Led Zeppelin e o Black Sabbath gostaram do rótulo, e ele resistiu ao tempo e ao desaparecimento desses grupos. Hoje “rock” serve como denominação genérica para qualquer sonzinho feito por garotos brancos, tipo Coldplay ou A Banda Mais Bonita da Cidade. Que nem de longe se encaixam na definição do arquiteto I. M. Pei, que desenhou o prédio do Rock’n’Roll Hall of Fame: para ele, que só foi conhecer o gênero já adulto, rock é energia. Ponto.
(O Tony Bellotto dos Titãs tem uma opinião parecida, que ele desenvolveu hoje na página "Debates/Tendências" da "Folha de São Paulo". Assinantes do jornal e do UOL podem ler o artigo dele aqui.)
(O Tony Bellotto dos Titãs tem uma opinião parecida, que ele desenvolveu hoje na página "Debates/Tendências" da "Folha de São Paulo". Assinantes do jornal e do UOL podem ler o artigo dele aqui.)
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
IT'S THE END OF THE WORLD AS WE KNOW IT
Então o R.E.M. acabou. Fiquei triste não - o último CD da banda que eu comprei foi em 90 e tantos. Nem lembro o nome: era aquele que veio depois do "Monster" e até que era bem legalzinho. Mas eu encano com banda indie e mais ainda com banda que soa como indie mas na verdade faz parte do sistema, como era o caso do Rapid Eye Movement. Meu negócio é mesmo superprodução, vocalzão, bigodão. Ou seja, Freddie Mercury. Claro que gostei bastante de Michael Stipe e sua turma, além do mais porque em 91 eles eram inescapáveis. O álbum "Out of Time" é uma obra-prima e o clip de "Losing My Religion" é um dos 10, talvez 5 melhores de todos os tempos. Comenta-se por aí que o grupo acabou por causa do vídeo e das fotos descontraídas que Stipe andou postando na internet (e olha que ele está muito bem para a idade). Claro que não: não é a primeira vez que o cara apronta uma dessas, e faz tempo que seus (agora ex-) companheiros estão acostumados. O que me espanta é esse moralismo furado das novas gerações, que não viram os Red Hot Chilli Peppers escondendo os paus em meias ou Boy George fazendo qualquer coisa que fosse.
DILMA FASHION WEAK
Meu post de ontem provocou um debate animado nos comentários. Um leitor se atreveu a criticar os modelitos de Dilma Rousseff na viagem a Nova York e foi chamado de "preconceituoso", a ofensa favorita de nós brasileiros. Seguiu-se uma acalorada discussão que logo enveredou por aspectos bem mais sérios do atual governo, com réplicas e tréplicas cada vez mais consistentes e relevantes. Foram expostos com clareza diversos pontos de vista, que formam um painel de opiniões bem fundamentadas e interessantzzzzzzzz. Então chegou a hora de desviar a conversa de volta para os modelitos. Nem toquei no assunto lá embaixo, mas agora me sinto no dever. Não vou nem entrar no mérito das rendinhas e babados que a presidente desfilou no plenário das Nações Unidas; só fico aliviado dela ter evitado o vermelho sólido em todas essas aparições.
Mas alguém aí já reparou como é difícil vestir Dilma Rousseff? Absolutamente nada cai bem nela. Dilma é troncuda, tem ombros de barrica, e daí para baixo a coisa só piora. Seus quadris parecem largos como a foz do Amazonas. Nada disso seria problema se ela tivesse uma certa leveza que é frequente em alguns gordos, como o Jô Soares - que dançando parece estar num planeta de gravidade mais fraca que a da Terra. Mas não: Dilma é pesadona, quase paquidérmica. Um pesadelo para qualquer estilista, pois não há pano no mundo que consiga suavizar aquele shape. Portanto acho válido seu esforço para parecer sempre bem-arrumada e penteada, ainda que erre de vez em quando. E aplaudo a equipe que caiu com essa tarefa hercúlea. Porque, além do mais, Dilma é uma mulher que nunca deu a mínima por moda, beleza ou maquiagem. Desconfio até que, se pudesse, ela iria despachar de bermudas e chinelo com meia.
Mas alguém aí já reparou como é difícil vestir Dilma Rousseff? Absolutamente nada cai bem nela. Dilma é troncuda, tem ombros de barrica, e daí para baixo a coisa só piora. Seus quadris parecem largos como a foz do Amazonas. Nada disso seria problema se ela tivesse uma certa leveza que é frequente em alguns gordos, como o Jô Soares - que dançando parece estar num planeta de gravidade mais fraca que a da Terra. Mas não: Dilma é pesadona, quase paquidérmica. Um pesadelo para qualquer estilista, pois não há pano no mundo que consiga suavizar aquele shape. Portanto acho válido seu esforço para parecer sempre bem-arrumada e penteada, ainda que erre de vez em quando. E aplaudo a equipe que caiu com essa tarefa hercúlea. Porque, além do mais, Dilma é uma mulher que nunca deu a mínima por moda, beleza ou maquiagem. Desconfio até que, se pudesse, ela iria despachar de bermudas e chinelo com meia.
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
A GAROTA DA CAPA
Assim como a revista "Newsweek", eu também quero muito gostar de Dilma Rousseff. A revista, que agora é ligada ao site Daily Beast e editada pela mesma Tina Brown, pôs nossa presidente na capa da edição desta semana, e traz uma matéria (que pode ser lida aqui, de graça e em inglês) onde é nítido o esforço para pintá-la como uma líder forte, totalmente livre da sombra de Lula. O objetivo não é alcançado, porque no fundo isto não é verdade. Dilma só está lá porque o "ômi" quis, e só ficará lá se o "ômi" quiser. Ainda não anda com as próprias pernas, apesar das diferenças gritantes e da simpatia de eleitores que não votaram nela, mas estão gostando do que viram até aqui (como eu). Seu discurso hoje na ONU foi uma maravilha, e só teve um defeito, de ordem técnica: Dilma falou muito rápido, sem pausas, e deu o maior trabalho para os pobres tradutores. Falha típica de quem não está acostumada aos palanques. No mais, acho encantador que em Nova York ela tenha ido a museus e livrarias. Não é elitismo de minha parte:, é que a falta de interesse do Lula nessas coisas revelava um desinteresse por tudo que fosse alheio ao seu quintal, um defeito grave para quem se imagina um líder com alcance planetário. Dilma me parece mais estadista e menos política que seu antecessor, se é que me expresso bem. Mas nem por isto é a paladina da retidão que gostaríamos. É bom lembrar que Erenice Guerra foi seu braço-direito durante anos a fio. E também, e principalmente, que a tal da "faxina" nos ministérios é reativa. Só acontece quando a imprensa divulga alguma coisa. Não duvido de que ela gostaria de desinfetar a esplanada de todos os fisiologistas e prevaricadores, mas o modelo de governabilidade criado por FHC e aperfeiçoado por Lula não deixa. Então ela faz o que pode - vá lá, concordo, não é tão pouco assim.
FOI DADA A LARGADA
Ontem foi anunciado o representante do Brasil na disputa pelo próximo Oscar de filme estrangeiro: “Tropa de Elite 2”, a maior bilheteria nacional de todos os tempos. Na minha coluna de hoje no F5 eu avalio as chances do filme emplacar uma indicação, que são boas. Mas claro que, com cerca de 80 concorrentes no páreo, não vai ser fácil (o número varia de um ano para o outro, e muitos países ainda não definiram seus candidatos). Entre os nossos rivais mais fortes, aqui estão alguns que podem fazer o capitão Nascimento pedir para sair:
“Pina”, da Alemanha – A lendária coreógrafa Pina Bausch morreu em 2009, logo no início das filmagens, mas seus bailarinos convenceram o diretor Wim Wenders a concluir o projeto. O resultado é um documentário em 3D que me dá vontade de acampar na porta do cinema, e olha que eu vi várias vezes a companhia de frau Bausch ao vivo. É uma aposta ousada, pois o único documentário jamais indicado na categoria de filme estrangeiro foi o israelense “Valsa com Bashir”, há dois anos – e que também acumula a glória de ser a única animação. Portugal também se arriscou ao escolher “José e Pilar”, mas este aqui parece ter mais chances. Se bem que a Alemanha nunca fica entre os cinco finalistas quando seu indicado não fala sobre nazismo nem comunismo.
”La Guerre est Declarée”, da França – Geralmente os franceses inscrevem uma super-produção, mas dessa vez preferiram um filiminho independente. A diretora, roteirista e atriz principal Valérie Donzelli encenou sua própria história: a luta dela e do marido para salvar o filho, diagnosticado com câncer no cérebro. Já é um grande sucesso de bilheteria, e tem tudo para comover a Academia.
”Where Do We Go Now?”, do Líbano – Mas neste momento eu diria que este é o grande favorito, pela simples razão de ter levado o prêmio do público no Festival de Toronto. Sabe quem ganhou ano passado? “O Discurso do Rei”. E em 2008? “Quem Quer Ser Milionário?”. Duvido que não indiquem essa comédia dramática, onde mulheres cristãs e muçulmanas de uma aldeia libanesa se unem para impedir que seus maridos continuem se matando. Como no candidato francês, a diretora (Nadine Labaki) também faz um dos papéis principais. E pelo trailer acima, parece que a trama se inspira no clássico grego “Lisístrata”, com direito a biscoitos temperados com haxixe.
Estes e muitos outros pré-candidatos devem ser exibidos em outubro no Festival do Rio e na Mostra de SP. Será que o “Tropa 2” vai conseguir metralhá-los?
“Pina”, da Alemanha – A lendária coreógrafa Pina Bausch morreu em 2009, logo no início das filmagens, mas seus bailarinos convenceram o diretor Wim Wenders a concluir o projeto. O resultado é um documentário em 3D que me dá vontade de acampar na porta do cinema, e olha que eu vi várias vezes a companhia de frau Bausch ao vivo. É uma aposta ousada, pois o único documentário jamais indicado na categoria de filme estrangeiro foi o israelense “Valsa com Bashir”, há dois anos – e que também acumula a glória de ser a única animação. Portugal também se arriscou ao escolher “José e Pilar”, mas este aqui parece ter mais chances. Se bem que a Alemanha nunca fica entre os cinco finalistas quando seu indicado não fala sobre nazismo nem comunismo.
”La Guerre est Declarée”, da França – Geralmente os franceses inscrevem uma super-produção, mas dessa vez preferiram um filiminho independente. A diretora, roteirista e atriz principal Valérie Donzelli encenou sua própria história: a luta dela e do marido para salvar o filho, diagnosticado com câncer no cérebro. Já é um grande sucesso de bilheteria, e tem tudo para comover a Academia.
”Where Do We Go Now?”, do Líbano – Mas neste momento eu diria que este é o grande favorito, pela simples razão de ter levado o prêmio do público no Festival de Toronto. Sabe quem ganhou ano passado? “O Discurso do Rei”. E em 2008? “Quem Quer Ser Milionário?”. Duvido que não indiquem essa comédia dramática, onde mulheres cristãs e muçulmanas de uma aldeia libanesa se unem para impedir que seus maridos continuem se matando. Como no candidato francês, a diretora (Nadine Labaki) também faz um dos papéis principais. E pelo trailer acima, parece que a trama se inspira no clássico grego “Lisístrata”, com direito a biscoitos temperados com haxixe.
Estes e muitos outros pré-candidatos devem ser exibidos em outubro no Festival do Rio e na Mostra de SP. Será que o “Tropa 2” vai conseguir metralhá-los?
terça-feira, 20 de setembro de 2011
CHA-CHA-CHAZ
Ontem à noite estreou na TV americana a nova temporada de "Dancin' with the Stars" (cuja versão brasileira é o quadro "A Dança dos Famosos" no programa do Faustão). Também foi a estreia no concurso de Chaz Bono, o filho transexual da Cher. Nas últimas semanas a extrema direita dos EUA promoveu um fuzuê contra a participação do moço, alegando que sua mera presença no vídeo já incitaria milhares de crianças inocentes a querer mudar de sexo. É o mesmo raciocínio perverso que esfriou o romance entre os gays discretos em "Insensato Coração": "não podemos mostrar que alguém pode ser gay e feliz ao mesmo tempo! Gays, lésbicas e trans na TV? Só quando aparecerem sofrendo e/ou forem motivos de chacota". Chaz é um cara simpático que ainda não completou seu processo de transição, e tem na mami uma defensora feroz. Acho hiper-saudável que ele surja num campeão de audiência como o "DWTS", assim como foi importante (apesar de fulminante) a participação de Ariadna no último "BBB". É uma maneira de levar a discussão a lugares onde ela nem existia. Agora, no quesito específico das habilidades bailarinas, vou ser politicamente escroto. Mesmo descontados a falta de treino prévio e o corpanzil, achei canhestros os moves do Chaz. Se eu não soubesse de quem se tratava, diria que era um gordinho afeminado.
VOLTAIRE QUE ME PERDOE
Então quer dizer que o Bolsonazi foi escorraçado de um evento na UFF de Niterói? Gente, que coisa feia. Num estado democrático, todos têm direito a manifestar sua opinião. Como dizia Voltaire: "Eu posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte..." Ah, quem estou enganando? Bem feito! E digo mais: tomou, papudo? Claro que o Xeque agora vai se fazer de vítima e dizer que foi hostilizado por uma horda se bárbaros, mas desde quando estudante universitário tem que dar exemplo de boas maneiras? É bom para ele saber que tem muita, mas muita gente que não o suporta. Claro que toda publicidade é boa e ele provavelmente será recordista de votos quando concorrer à reeleição, mas esse bafafá de ontem só confirma o que escrevi domingo: os homofóbicos não têm apoio entre os jovens e suas ideias estão condenadas à extinção. A médio prazo, já perderam. Só teremos que dar a descarga.
SUECÍDIO
Sabe aquele seu amigo irritante que está sempre de bom humor? Aliás, "bom humor" é pouco - o cara vive eufórico, apesar de ter sido demitido injustamente por justa causa e ter só três meses de vida. Não, não é aquele tipo ainda pior que se força a ser otimista e repete chavões de auto-ajuda. É o ensolarado por natureza, que teve a sorte de nascer sem o chip do aborrecimento. Por alguma razão misteriosa, o pop sueco está cheio de figuras assim. Talvez seja uma reação ao inverno de onze meses: o fato é que, per capita, nenhum outro país do mundo produz tanta música animada, nem mesmo o Brasil. Do Abba a produtores como RedOne e Max Martin, a Suécia é pródiga em refrões pegajosos e alegria contagiante. Um exemplo recente é o conglomerado I'm From Barcelona. O troço está mais para orquestra do que banda, e dependendo do dia pode contar com até 29 membros. É como se fosse um clube onde todo mundo quer (e pode) entrar. Todas as músicas e letras são escritas por Emanuel Lundgren, e o cara provavelmente nunca sofreu uma mísera rejeição na vida. "Forever Today", o 3o. álbum da turma, saiu no começo do ano lá fora e está sendo lançado agora por aqui. São dez faixas curtas, todas saltitantes. Tanta animação soa postiça à primeira audição, mas lá pela terceira já estamos levantando os bracinhos e cantando junto. É um som low-tech, sem muita eletrônica, e que poderia ter sido feito em qualquer momento dos últimos 30 anos. Baixe daqui, inteiramente grátis e dentro da lei, o primeiro single, "Get in Line". Tem mais música de graça no site do I'm From Barcelona (na verdade, eles são de Jönköping, mas deixa pra lá). Vai ver que são essas melodias empolgadas que impedem os suecos de se matar.
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
AS CARTAS NÃO MENTEM JAMAIS
Eu meio que já tinha desistido das comédias românticas e só fui ver “Uma Doce Mentira” por falta de opção (se não for ao cinema pelo menos uma vez por semana, entro em crise de abstinência e como papel de parede). Acabei tendo uma doce surpresa: o filme é quase bom. Digo “quase” porque o diretor e roteirista Pierre Salvadori não consegue chegar a uma resolução plenamente satisfatória para o imbroglio que criou. Como toda CR, esta também termina da maneira mais feliz possível – o que soa um tanto falso, pois a premissa original merecia um desenlace mais interessante. Audrey Tautou, ainda em pleno mode “Amélie”, faz uma jovem cabeleireira que recebe uma carta de amor anônima. O autor é o faz-tudo de seu salão de beleza, a quem ela ignora solenemente. Primeiro a moça joga a missiva no lixo. Depois, condoída com a solidão da mãe, copia a carta e a envia para ela. Um ótimo pretexto para mal-entendidos e várias piadas simpáticas. Pena que o galã Sami Bouajila não seja dos mais charmosos. Em compensação, a maman é feita pela grande Nathalie Baye: uma premiadíssima atriz francesa que nunca atingiu o status de diva internacional de uma Deneuve ou uma Ardant. Aqui ela engole a careteira Tautou com seus recursos dramáticos, e ainda o faz parecer fácil
NA MÃO CERTA
E se os famosos ataques homofóbicos na Av. Paulista tivessem resultado em morte? Esta possibilidade horripilante é explorada pelo autor Lucianno Maza em sua nova peça, "Contramão", que vai ganhar uma leitura dramática logo mais às 19:30 de hoje. O local não podia ser mais apropriado: o auditório do MASP, bem perto de onde as lâmpadas fluorescentes se estilhaçaram em novembro passado. A direção é do próprio Lucianno e o elenco conta com nomes consagrado como Débora Duboc, Rosaly Papadopol e Gustavo Haddad. Ah, e o melhor de tudo: a entrada é franca. Manifestações deste tipo são um dos aspectos mais bacanas da luta pelos direitos igualitários: lá nos Estados Unidos, uma iniciativa semelhante é a peça "8", de Dustin Lance Black - que ganhou um Oscar pelo roteiro do filme "Milk" - inspirada pela famigerada Proposition 8, a lei que proibiu o casamento gay na Califórnia. "8" terá uma leitura dramática com um elenco estelar na Broadway, e deve ser montada em breve. Tomara que aconteça o mesmo com "Contramão".
SIMONE BOLÍVAR
Ontem à noite aconteceu em Los Angeles mais uma entrega dos prêmios Emmy. Minha opinião sobre a cerimônia pode ser conferida aqui, na minha coluna de hoje no F5. Achei que houve muita injustiça e os prêmios repetidos de costume. Mas também fiquei feliz com alguns troféus, como os de ator coadjuvante em drama para o verticalmente desafiado Peter Dinklage, de "Game of Thrones", ou o de atriz coadjuvante em drama para Margo Martindale, por "Justified". Nunca vi esta série, mas tenho certeza de que ela está fantástica. Margo é o que os americanos chamam de "character actor", um nome simpático para quem raramente sai do elenco de apoio e assume um papel de protagonista. Já a vimos em dezenas de filmes e programas, geralmente como secretária ou testemunha de acusação. O físico avantajado não a ajudou a se tornar uma estrela, mas ontem ela finalmente teve seu talento reconhecido. Que não era novidade para quem viu "Paris Je t'Aime", um filme em episódios de 2006. Essa coleção de curtas sobre a capital francesa é muito irregular, mas o segmento de Margo - que encerra o filme e é dirigido por Alexander Payne, de "Entre Umas e Outras" - é uma jóia. Tente não se emocionar com a história da americana casca grossa que pouco a pouco "entende" Paris (e para quem não manja inglês nem francês, aqui está uma versão dublada em português, infelizmente sem o sotaque carregado da atriz).
domingo, 18 de setembro de 2011
DEIXA QUE DIGAM, QUE PENSEM, QUE FALEM
Outro dia me ocorreu uma coisa. É super-válido reagirmos aos ataques de Bolsonazis, Malafaias e similares; não podemos deixar barato a mais leve ofensa. Mas é preciso termos um pouco de perspectiva histórica e percebermos que, a médio e longo prazo, os homofóbicos já perderam. Eles podem impedir a aprovação de uma lei agora, ou retardar a distribuição de um kit pró-igualdade mais adiante. Mas, mais cedo ou mais tarde, o casamento gay será uma realidade legal. Lutar contra ele é enxugar gelo. Senão, vejamos: muitos países avançados já oficializam a união entre casais do mesmo sexo. O próximo será a Grã-Bretanha, onde a união civil já é uma realidade há anos: em breve eles terão casamento com todas as letras, todos os direitos, todos os deveres. Nos Estados Unidos, a questão será resolvida estado por estado, como aconteceu há pouco na enorme Nova York e em breve na ainda maior Califórnia. Ali na Argentina, gays já se casam há mais de um ano, e adivinha? O tecido social não se desfez e a presidente Cristina Kirchner será reeleita com facilidade em outubro. Não bastasse o cerco geográfico, há o demográfico também. Os contrários ao casamento igualitário se concentram nas camadas mais velhas da população. Ou seja, morrerão em pouco tempo. Não há renovação na base: os jovens são, cada vez mais, totalmente favoráveis - e, surpreendentemente, até entre os evangélicos. Além do mais, gays em cargos importantes são cada vez mais visíveis, na iniciativa privada e até nos governos. Apesar de tudo, o Cheque Bolsonazi provavelmente será reeleito, assim como toda sua ninhada. Mas isto não quer dizer que eles venceram. Uma sociedade democrática dá voz para todos, até para os mais reacionários, e eles agora estão com mais notoriedade do que nunca. Mas deixa que digam, que pensem, que falem, deixa isso pra lá, vem pra cá, o que é que há: são todos perdedores, assim como eram os que defendiam a escravidão no final do século 19. A história irá jogá-los no lixo, e é assim que eles devem ser tratados. Como lixo.
sábado, 17 de setembro de 2011
ONDE FOI QUE EU ERREI?
Simpático vídeo do site Parafernalha, que eu nem conhecia e faz muito sucesso. Os mais velhos vão lembrar de um esquete da "TV Pirata" onde uma família negra e rica ficava chocada quando o filho começava a namorar uma garota branca, "uma tal de Laís", que tocava violoncelo. Ed Junior, obrigado pela dica,
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
ELA NEM DESCONFIA
Qualquer vídeo que termine com um sabonete caindo no chão do banheiro já merece minha atenção, mas a estreia do cantor Hussy Cowboy vai muito além. A música é oteeema e a letra é épica: "She doesn't know that her husband is gay / She doesn't know that he was with me today..." Claro que a produção podia ser mais rykah e os boys mais magia, mas é reconfortante ver o Grindr finalmente chegar ao YouTube. E atenção, amigos DJs: com um remix adequado, "She Doesn't Know" pode virar o novo hino das pistas. Reste la dique.
QUAL PIUMA AL VENTO
Aquela amiga minha que tem altos contatos no Theatro Municipal de São Paulo atacou novamente. Ontem pintaram dois ingressos para o "Rigoletto", a ópera que está celebrando os 100 anos do teatro. E lá fomos nós para o balcão nobre, radiantes no Vasco da Gama. Nunca tinha visto esse clássico de Verdi. Apesar de conhecer a história do palhaço mais trágico de todos os tempos, as legendas me ajudaram muito. Também ajudou, claro, a montagem ágil de Felipe Hirsh e o cenário criativamente prático de Daniela Thomas e Felipe Tassara. O último ato se passa inteirinho sobre um espelho d'água, e a pobre soprano russa Alexandra Lubchansky terminou completamente ensopada. Li que ela rendeu pouco na estreia segunda passada; ontem ela estava impecável, e o tenor irlandês Bruno Caproni ainda melhor. A partitura de Verdi é um assombro de tessituras e dramaticidades, e ouvi-la executada ao vivo foi um presente. Para completar, o "Rigoletto" ainda traz duas árias de sair assobiando: "Caro Nome" (que eu conheci quando pequeno na versão satírica do Henri Salvador, "Juanita Banana") e aquela que, ao lado da "Habanera" da "Carmen", talvez seja o greatest hit de toda a história do bel canto: "La Donna è Mobile", um autêntico hino à putaria e à pegação. Impossível não ir para casa cantando "muta d'accento/ e di pensiero..."
(Alguém reclamou que o vídeo de "Juanita Banana" não estava mais disponível no meu antigo post sobre Henri Salvador. Fui lá e já consertei.)
(Alguém reclamou que o vídeo de "Juanita Banana" não estava mais disponível no meu antigo post sobre Henri Salvador. Fui lá e já consertei.)
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
NOPE! CHUCK TESTA
Agora você já sabe para onde mandar aquele monte de bicho morto que tem na sua casa. Pena que o cara também pareça empalhado.
AGORA ENCONTREI VOCÊ
Tenho raiva da Marisa Monte. Como ela se atreve a ficar tanto tempo sem lançar nada? Suspeito até que ela goste mais dos filhos do que dos fãs. Ontem ela começou a quebrar o jejum, postando em seu site sua primeira música em quase três anos - e uma prévia de seu novo disco, o primeiro depois de mais de meia década. Assim não dá. Mas ainda bem que "Ainda Bem" é ótima. Se tivesse sido lançada nos anos 70, a canção teria sido taxada de "brega", pois lembra muito o que as empregadas daquela época ouviam em seus radinhos de pilha. Hoje em dia estamos liberados para gostar. Que saia logo o resto do CD.
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
QUE BONITO É
Que pena que eu não dou a menor bola para o futebol. Se eu acompanhasse o esporte bretão mais de perto, talvez tivesse vibrado mais com a história de Jonathan de Falco, ex-jogador do time belga Racing Mechelen. O sujeito se machucou e acabou deixando os gramados recentemente, mas já engatou - literalmente - uma nova carreira de sucesso. Com o nome artístico de Stany Falcone, o craque é a nova sensação do pornô gay. Para vê-lo entrando com bola e tudo e balançando as redes, clique aqui. Mas, se você quiser manter seu emprego, é melhor clicar de casa.
PERRY-OR IMPOSSÍVEL
Não acho que o governo Obama esteja sendo sensacional, mas as alternativas republicanas para as eleições do ano que vem nos Estados Unidos são apavorantes. Com exceção do ex-governador Mitt Romney, todos os pré-candidatos são alucinados da extrema-direita. A maioria não tem muita chance: nem Sarah Palin, que já está cansando com suas declarações bombásticas e vazias, nem sua versão piorada, Michelle Bachmann. Mas tem um deles que vem encabeçando as pesquisas, e ai dos americanos se o cara chegar à Casa Branca. Rick Perry, o governador do Texas, tem ar de presidente de cinema, mas suas ideias são medievais e/ou absurdas. É um fanático religioso que já convocou a população a rezar pelo fim da seca que assola seu estado (Deus não deu ouvidos). Também chama de "traidor" a qualquer um que não concorde em tudo com ele, e se orgulha do número altíssimo de execuções durante seu mandato. Promete acabar com o Social Security, o INPS deles, e é desnecessário dizer que acha os gays uns pecadores dignos do inferno. Dizem que a cúpula do partido já está conspirando contra ele. Que o derrubem o quanto antes: Rick Perry na presidência vai deixar o mundo com saudades não do Obama, mas de George W. Bush.
(Na foto, o afresco de Michelangelo foi photoshopado. A salsicha, não)
(Na foto, o afresco de Michelangelo foi photoshopado. A salsicha, não)
MY HEART IS SAD AND LONELY
Amy Winehouse faria hoje 28 anos. Por isto, a data foi escolhida para o lançamento de sua derradeira gravação, um dueto com Tony Bennett. "Body and Soul" é um dos maiores standards do jazz, e foi gravada por Billie Holliday e Ella Fitzgerald. E Amy junta-se a elas no panteão das grandes interpretações: no vídeo acima ela aparece focada, relaxada, completamente sóbria. Repare que depois do primeiro verso ela olha para cima e beija uma medalhinha: isto é um gesto kosher? Trechos do clip foram apresentados nos VMAs há duas semanas, quando Bennett disse que ela era uma das maiores cantoras de jazz que ele havia conhecido na vida. Amy cresceu ouvindo os discos dele - o pai dela é um grande fã - e ver esta performance me deixa triste por tanto potencial desperdiçado. Este encontro certamente será indicado para o Grammy de melhor colaboração, e pode ter certeza: vem prêmio póstumo por aí.
terça-feira, 13 de setembro de 2011
A SEWING MACHINE! EEEK!
"Segura a Onda" passa na HBO há mais de 10 anos, mas aqui no Brasil nunca virou cult entre o povo que tem TV paga como "Friends" ou "Will & Grace". É uma pena, porque a série é escrita por Larry David - ninguém menos do que um dos criadores do "Seinfeld" e a inspiração para o personagem George Constanza. Aqui ele faz o papel de si mesmo: um roteirista bem-sucedido que leva uma vida confortável em Los Angeles. Apesar da fama e da grana, Larry jamais contém seu monumental mau humor e sua capacidade insuperável de gerar mal entendidos. O programa já abordou tópicos delicados como racismo, anti-semitismo e câncer, sempre de maneira impiedosa. No final da 8a. temporada, que foi ao ar nos EUA anteontem, surgiu um tema ainda mais tabu: criancinhas que dão pinta. Larry continua um chato de galochas, mas mostrou que sabe que as pessoas são born this way. Talvez esta temporada seja a última, porque o cara já ganhou tanto dinheiro e não tem mais porque trabalhar tanto. Tomara que mude de ideia.
ADEUS, BELÉM DO PARÁ
A subdivisão de capitanias, províncias e estados é uma constante na história do Brasil. Sabia que o Paraná já fez parte de São Paulo? E que o antigo Grão-Pará englobava toda a nossa Amazônia? À medida em que essas regiões foram se desenvolvendo, também foram se fragmentando: ficaram muito mais fáceis de serem administradas, e cristalizaram características próprias. Num passado mais recente, surgiram os estados de Mato Grosso do Sul e Tocantins. Foram separações tranquilas, e hoje dá para dizer que até Mato Grosso e Goiás estão melhores do que antes. Mas nada disso quer dizer que a partilha do Pará em três estados menores seja uma boa ideia. Ao contrário: é tão polêmica que dessa vez a população será consultada diretamente (o que não aconteceu no Centro-Oeste). Haverá um plebiscito em dezembro, e a campanha começou hoje. Fica difícil acreditar nas boas intenções dos que defendem a criação de Tapajós e Carajás. Serão unidades pobres e violentas, sem muita infra-estrutura, e com uma representação desproporcional no Congreso. Se o duplo "sim" vencer - as urnas trarão duas perguntas separadas, com resultados independentes - uma epidemia de novos estados vai se alastrar pelo Brasil. No entanto, é bem possível que a divisão seja rejeitada, pois o eleitorado se concentra ao redor de Belém. Torço por isto. Como diz a campanha do "não": "Eles não querem nosso bem. Querem nossos bens."
SERÁ QUE ELA MEXE O CHOCALHO?
Ou é o chocalho que mexe com ela? Só sei que Leila Lopes, Miss Angola e agora também Miss Universo, mexeu comigo. Fui um dos primeiros a "angolar" ontem à noite, na plateia do Credicard Hall. Oscar e eu nos encantamos com a bela africana e passamos a gritar por ela. Temos certeza que contaminamos o resto da torcida e acabamos influenciando o júri, olha só quanta pretensão. No mais, achei o resultado bastante justo. Com exceção da gigantesca Miss China, uma aberração de três metros de altura, as demais finalistas mereciam estar ali: Filipinas era um estouro, Ucrânia tinha o olhar aveludado, e a nossa Priscila Machado talvez tivesse chegado além do terceiro lugar se tivesse um teco a mais de sal. Minha coluna de hoje no F5 traz mais detalhes da finalíssima do Miss U. Só tenho a lamentar que não sentei ao lado do Celso Dossi no auditório, o maior especialista em garotas de faixa que eu conheço.
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
SO F**K I LIKE ROSES!!
Madonna não ia perder a chance de voltar a ser notícia mais alguns dias. Depois do escândalo das hortênsias no festival de Veneza - que em inglês recebem o estranho nome de "hydrangeas" - ela lançou hoje um vídeo que funciona como um pedido de desculpas. É um mini-filme mudo, em alusão ao microfone que estava ligado quando ela recebeu as flores de um fã durante uma entrevista coletiva (para quem ainda não viu, o original está aí embaixo). E claro que, Madonna sendo Madonna, ela não está exatamente arrependida.
NÃO ACETO
Quando eu era pequenininho, minha guloseima favorita não era Frumelo nem Galak. Era pão com vinagre. E, naquela época, no Brasil só havia vinagre Castelo e olhe lá. De vinho tinto. Só me lembro de ver vinagre branco muito mais tarde, e eu já era adulto quando o aceto balsamico se tornou figura fácil por aqui. Até gosto, mas não acho que esse condimento viscoso e adocicado seja para todos os dias. Na minha salada obrigatória, ainda prefiro o bom e velho vermelhinho. Por isto fico irritado quando vou a restaurantes onde a única opção de vinagre é o balsâmico. Parece que todo mundo é obrigado a adorar. Ele funciona bem como base para molho de carnes e é insubstituível em cima de um morango, mas num simples alface? Não orna. E se você está achando que meu paladar é infantil, espere até saber que meu molho de macarrão favorito é o catchup.
domingo, 11 de setembro de 2011
IT'S UP TO YOU
Muitos edifícios destruídos na 2a. Guerra foram refeitos exatamente como eram antes: a Ópera de Viena, por exemplo, ressurgiu idêntica de seus escombros. Mas a controvérsia em Nova York foi tão grande e tantos os interesses envolvidos que, no final, os novos prédios no Marco Zero foram erguidos ao redor de onde ficavam os antigos. Dois quadriláteros afundados no chão marcam a posição dos tombados. Entendo que as cicatrizes ainda não se fecharam e acho até bonitos os novos arranha-céus, mas eles não têm potencial icônico. Não vão se transformar em cartões-postais da cidade. Eu teria reconstruído o World Trade Center igualzinho, no mesmo lugar. As mesmíssimas torres, como se fossem dois gigantescos dedos em riste dizendo "fuck you" para os terroristas.
sábado, 10 de setembro de 2011
O OCASO DE DUAS ESTRELAS
Tom Hanks e Julia Roberts dominaram os anos 90. Emplacaram um sucesso atrás do outro, foram indicados a dezenas de Oscars, ganharam alguns. Escaparam por um triz de filmarem juntos: era Julia quem devia ser a mocinha de "Sintonia do Amor", não Meg Ryan. Os dois só se encontraram na tela em 2007, num filme que passou meio batido chamado "Charlie Wilson's War". Agora estão juntos outro vez em "Larry Crowne", o primeiro trabalho como diretor de Tom desde "That Thing You Do" quinze anos atrás (mega-preguiça de pesquisar os títulos em português). O troço flopou estrondosamente nos Estados Unidos, e não era para menos. Em plena recessão americana, com cerca de 10% da população desempregada, Tom achou que seria relevante contar a história de um cara de meia idade que é demitido e meio que não tem onde cair morto, pois deve ao banco mais do que vale sua casa. Improvável que milhões de pessoas que estão passando por esse drama queiram gastar seus poucos dólares para reviver seus problemas no cinema. O pior é que quase tudo vai às mil maravilhas para o protagonista depois: ele faz um monte de novos amigos, arranja um bico, corta o cabelo, troca o guarda-roupa e se apaixona. A felizarda é a professora infeliz feita por Julia Roberts, que como sempre paga de antipática toda vez que cai com um personagem que não sorri o tempo todo. Quase nada no roteiro é muito crível, e nem o elenco bacaninha segura o interesse. Nem mesmo o casal de astros, que hoje só tem uma fração do glamour de há alguns anos. Um dos filmes mais tolinhos de 2011.
BUENOS ALIENS
"Medianeras" são as paredes cegas dos edifícios, aquelas superfícies feias e enormes que tornam a cidade ainda mais opressiva. Também é o nome de um filme argentino moderninho que venceu o festival de Gramado e estreou no Brasil antes mesmo de entrar em cartaz em Buenos Aires. A capital portenha aparece nele de maneira bem diferente da metróple civilizada que nós brasileiros apreciamos tanto: o diretor Gustavo Toretto se esforça para captar os piores ângulos, o emaranhado de fios elétricos, a selva de prédios desarmoniosos. Quase consegue deixá-la feia - quase. A história é simples e pretensiosa ao mesmo tempo: um rapaz e uma moça vivem em profunda solidão e carência, apesar de serem vizinhos e feitos um para o outro. A culpa é da internet, que os absorve e os mantém alienados do mundo real. "Medianeras" nasceu como um curta-metragem e realmente não tem assunto suficiente para um longa: o ritmo é irregular, e há algumas sequências enfadonhas. Mas quando a edição resolve trabalhar tudo fica interessante, e acabamos sabendo até a história do edifício Kavannagh - aquele arranha-céu dos anos 30 no final da calle Florida. Os casal de atores só se encontra no final, mas tem uma química evidente. A espanhola Pilar López de Ayala manda bem no sotaque plateño, e Javier Drolas tem aquele ar simpático de quem parece ter acabado de acordar. Simpática também é a ideia central de que há alguém que nos completa, e que está bem na frente do nosso nariz.
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
QUEM TEM MEDO DE ELIZABETH TAYLOR?
Kate Winslet é que não. Ela não é uma mulher deslumbrante, mas sua beleza corriqueira - com a ajuda de excelentes maquiadores e fotógrafos - de vez em quando se transforma numa beldade lendária. Kate já encarnou Catherine Deneuve num ensaio para a "Vanity Fair". Agora, clicada por Mario Testino, surge como Liz no novo número da revista "V". Gosto especialmente deste look, que era a marca registrada da falecida: toalha enrolada na cabeça e um bilhão de dólares nas orelhas e no pescoço. Dá a impressão de que ela não tirava as jóias nem para tomar banho.
CRÔ-MAGNON
O Crodoaldo da novela "Fina Estampa" é um retrocesso para os gays na TV? Eu acho que sim, e explico por que na coluna "Pensata" da "Junior" de setembro. Depois de tantas bibas bacanas em "Ti Ti Ti" e "Insensato Coração", eis agora uma bicha louca à moda antiga, reprimida e "ciente do seu lugar". Depois do fechamento da revista, soube que Crô irá apanhar dos boys na praia: pelo menos seu personagem não servirá só como alívio cômico. Ou como exemplo de homossexual pré-histórico, encontrado congelado e em perfeito estado de conservação no cérebro do Aguinaldo Silva.
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
FAZENDO AMOR COM A CÂMERA
E aí, todo mundo pronto para o Miss Universo? Tá fraco! Aaaaare yoooou reaaaaady? É muita emoção, Braseeel. Hoje fui à Band aqui em SP buscar meus convites para a cerimônia desta segunda-feira, que uma amiga que trabalha lá me conseguiu. E descobri que o concurso já começou! Claro, as misses já estão no Brasil há três semanas e até já deram pinta nas boates, mas estou falando do concurso em si. No exato momento em que cometo essas mal traçadas está rolando uma eliminatória no Credicard Hall, com transmissão pela internet no site da rede americana NBC. As 89 candidatas serão reduzidas a apenas 15, e só estas entrarão segunda na passarela. Fora que a parte que eu estava mais ansioso para ver - o desfile em trajes típicos - também já aconteceu. Então, como não tenho saco para ver os 14 minutos do vídeo onde cada uma das misses responde qual bichinho gostaria de ser, vou ter que conhecer algumas através desses clipes aqui, em estilo "flip book". É divertido para ver como é limitado o repertório de poses das meninas.
GRANDE DE ESPAÑA
María del Rosario Cayetana Fitz-James Stuart y Silva, a duquesa de Alba, é a mulher mais nobre do mundo. Ela tem nada menos do que 53 títulos diferentes de nobreza - mais até do que seu sobrinho, o rei Juan Carlos da Espanha. Talvez também seja a mais feia: até que dava um caldo quando jovem, mas depois fez tantas plásticas que hoje parece uma figurante do "Planeta dos Macacos". A incansável duquesa acaba de anunciar para outubro seu 3o. casamento, dessa vez com um homem 24 anos mais novo (ela tem 85 e ele 61). Alfonso Díez seria chamado antigamente de "confirmed bachelor", mas hoje em dia é viado mesmo. A princípio a família da duquesa foi contra, mas acabou jogando a toalha: os dois fazem par constante há anos, e ai de quem não fizer as vontades de uma mulher tão rica e poderosa. Quem sai ganhando , além do noivo gilipollas, é a imprensa espanhola, que está achando essa história de amor totalmente de la hostia.
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
O MACACO ESTÁ CERTO
Eu era pequeno demais para ter visto no cinema o primeiríssimo "Planeta dos Macacos", aquele que tem um dos finais mais surpreendentes de todos os tempos - para a época. Hoje a plateia mataria a charada nos primeiros cinco minutos, de tão blasés que ficamos. Passei a acompanhar a macacada a partir da terceira continuação, "Fuga do Planeta...", considerado por alguns críticos como o melhor filme da série. A doutora Zira me impressionou muito com sua erudição e entrou para o meu vocabulário, porque a irmã de um amigo era a cara dela. Depois ainda vi os episódios 4 e 5, bem ruinzinhos, e voltei a conviver com as máscaras simiescas no "Planeta dos Homens", um programa humorístico que a Globo exibia às segundas-feiras na virada dos anos 70 para os 80. Aí os macacos sumiram, superados por aliens e E.T.s. Voltaram em 2001, num remake fraquíssimo assinado por Tim Burton, que deu a si mesmo a tarefa impossível de superar o final-choque de 1968 - e fracassou gostosamente, claro. Essa overdose primata me deixou sem muita vontade de ver "Planeta dos Macacos: a Origem", mas hoje acabei levando meu sobrinho de 11 anos. Ele adorou, e eu gostei bem mais do que esperava. Esse reboot é quase um thriller psicológico, e só explode em violência no final. A sequência na ponte Golden Gate é de tirar o fôlego, e olha que eu não sou chegado em filme de ação. A crítica da revista "Entertainment Weekly" disse que este é um raro ficção-científica que não simboliza nada, mas não é verdade: a ascensão dos macacos pode ser interpretada como uma metáfora do nosso medo de sermos ultrapassados por outra civilização (a China?), ou como uma virada de mesa nas relações raciais. Também é uma variação do mito de Frankenstein: o homem não pode interferir na criação divina e criar novos tipos de vida, pois sempre será punido. Não importa. Só sei que torcemos todos pelos macacos.
MAIS UM PRIVILÉGIO QUE SE VAI
O vereador Carlos Apolinário tem toda razão: os gays têm milhares de regalias que são negadas ao resto da humanidade. Sabemos combinar marrom com preto, entendemos a diferença entre Kylie e Christina e só em ocasiões especiais temos que acordar no meio da noite para de dar de mamar. Mas uma das nossas mais exclusivas conquistas acaba de ser estendida aos reprodutores. Agora eles também poderão cancelar o resto de suas vidas para passar o dia inteiro no Grindr, que está finalmente lançando uma versão HT (e outra para as lésbicas). Dizem que vai funcionar mais como um aplicativo "para conhecer gente nova" do que para pegação. Afinal, a maioria das mulheres não fica louca para dar para o primeiro torso sem cabeça que lhe passar pela frente.
terça-feira, 6 de setembro de 2011
VOCÊ PINTA COMO EU PINTO?
6 de setembro só é o "Dia do Sexo" nos países que escrevem a data com o dia antes do mês. Nos Estados Unidos seria o dia de dar as costas e olhar para a parede (9/6).Como ainda faltam uns minutinhos para a meia-noite, dá tempo de prestar uma homenagem. Eis aí uma das melhores cenas de "Eu Matei Minha Mnae", o filme que há dois anos revelou para o mundo os talentos do canadense Xavier Dolan. O rapaz atuou, escreveu e dirigiu uma sequência onde é inequivocamente enrabado - tem que ser muito macho. E por baixo dessa tinta toda também está meu crush atual, François "Borgia" Arnaud. Bon appétit.
SADISMO
Este ano os VMBs caem no dia do meu aniversário, 20 de outubro. Como voltei a ter contatos no mais alto escalão da MTV, já estava conformado em festejar meus anos curtindo Restart, Pitty e NX Zero. Até que semana passada explodiu a notícia: Sade se apresentará em SP no mesmo dia! No "Ibirapuera" - o que me levou a pensar que seria no Auditório. Um lugar confortável, apesar de ter sido desenhado pelo Niemeyer. Mas a euforia foi minguando aos poucos. O show na verdade será no Ginásio do Ibriapuera, de acústica sofrível e mais apropriado para o Holiday on Ice. E os ingressos, pãta que pãriu: o mais caro custa 750 reais; o mais barato, 300. Para uma tal de "cadeira superior", que pela planta eu desconfio ser a arquibancada em tucanês. Culpa da porra da meia entrada, que faz com que os shows no Brasil sejam os mais caros do planeta. Como todo mundo e seu pai paga meia - menos o imbecil aqui - os sádicos dos empresários jogam os preços nas alturas. Claro que tem os impostos absurdos, a distância do hemisfério norte, as 700 toalhas brancas. Mas não gosto tanto assim da Sade para torrar uma grana preta, pagar a taxa de conveniência e ainda correr o risco de ter o carro arrombado, porque ao redor do ginásio não tem muito onde estacionar. Vou ter que acionar meus mais elevados contatos para ver se descolo no Vasco.
EQUIVALÊNCIAS
Já tem programa para o feriado? Que tal passar o 7 de setembro brincando com os mapas interativos do site da revista "The Economist"? A ideia não é nova: ano passado circulou por aí um mapa dos EUA onde os nomes dos estados eram trocados pelos dos países com produto interno bruto equivalente. Depois fizeram o mesmo com o Brasil. Agora a revista foi além: acrescentou China e Índia ao grupo, e também modalidades como população e renda per capita. Basta um clique para sabermos que o estado de São Paulo tem PIB e renda equivalentes aos da Polônia, mas população parecida com a da Argentina. E quem diria que o Tibete produz tanta riqueza quanto a pequena ilha de Malta, ou que o estado indiano de Uttar Pradesh é tão populoso quanto o Brasil inteiro? É diversão garantida para toda a família.
CORDA E HOLOFOTES
Esse lance de escrever coluna para o F5 tem deixado meus radares super focados em tudo o que tem a ver com entretenimento. E meio desligados para o que anda rolando no último desdobramento da eterna luta do bem contra o mal, também conhecido como direitos igualitários vs. homofóbicos. A ausência de um ataque violento ou uma declaração ultrajante nos últimos dias também fez com que o assunto fosse esquecido aqui no blog. E não, não tenho nada a comentar sobre o duplo assassinato na Oscar Freire semana passada: não conhecia nenhuma das vítimas, não sei de nenhuma fofoca dos bastidores e nem o suficiente sobre o caso para enfiar minha colher. Mas de lá para cá surgiram dois pequenos fatos que chamaram minha atenção. O primeiro foi a participação do Cheque Bolsonazi no "Quem Convence Ganha Mais", aquele programa do SBT onde participei como jurado. Não sei se foi no mesmo em que um professor largou abruptamente da gravação, mas é provável que sim - e, seja lá como foi, ainda bem que eu pulei fora. O outro factóide foi o perfil do Carlos Apolinário, o vereador evangélico que propôs o "Dia do Orgulho Hétero", na coluna da Monica Bergamo no domingo passado. Que uma emissora descompromissada com muitas causas sociais chame alguém como o Bolsonazi para apimentar sua audiência não me espanta. Mas ver o Apolinário ganhar uma página inteira na "Ilustrada" de domingo me doeu um pouco, porque, além de assinante, hoje também sou colaborador do jornal. Sei que o bom jornalismo tem a obrigação de ouvir todos os lados da questão, mas a matéria era quase um desagravo ao parlamentar - que não só teve seu projeto vetado pelo prefeito Kassab como ainda teve que engolir quatro páginas de reprimendas. Alguém acharia justo que um neo-nazista - ou talvez aquele maluco carioca que prega praticamente a volta da escravidão - ganhasse um espaço tão nobre? É duro quando até pessoas supostamente esclarecidas acham válido dar voz aos arautos do atraso. Por outro lado, junto com os holofotes, também estão dando corda para esses caras se enforcarem: chega a ser cômica a insistência com que Bolsonazi e Apolinário juram não ter nada contra os gays, ao mesmo tempo em que nos atiram pedras. Nenhum deles assume o manto do preconceito, mas nem precisava: ele cai sobre seus ombros de qualquer jeito.
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
MÚSICA PARA A MELHOR IDADE
Às vezes me sinto rdículo comprando discos da Britney Spears. Sei que ela já tem mais de 30 anos e que está por aí há um tempaço, mas não faz exatamente um som adequado para cacuras como eu. Não, ainda não paguei o gorila de ouvir Justin Bieber, mas não sei o que me deu neste fim de semana: adquiri de uma só vez três CDs bem comportados. Alguns vão dizer que se trata de música da mais alta qualidade. Outros, que é ideal para quando me sinto sem forças de ir ao Bailão. Só sei que ouvir LMFAO o tempo todo me dá dor de cabeça.
Gosto de Barbra Streisand desde quando nós dois éramos bem jovens. Ela já está beirando os 70 e, se sua voz tem algum defeito, é porque é perfeitinha demais. Seu novo CD é dedicado a um casal de letristas, Alan e Marilyn Bergman, de quem ela gravou coisas durante toda a carreira. Mesmo assim, conseguiu achar 10 faixas que nunca tinha cantado antes - inclusive "The Windmills of Your Mind", que surge com um arranjo de arrepiar. A versão deluxe traz um disco extra com clássicos como "The Way We Were" e uma curiosa versão em inglês de "Começar de Novo" do Ivan Lins.
Woody Allen nunca encomenda trilhas originais para seus filmes: ele só dá uma sapeada em sua monumental coleção de discos, e pronto. Esse álbum duplo foi criado na França e dá uma panorâmica na obra do cara, chegando até o Gershwin que tornou "Manhattan" ainda mais inesquecível. Tem muito jazz, claro, mas também um pouco de ópera, Philip Glass e até mesmo o pop meio kitsch de Giulia y Los Tellarini, usado em "Vicky Cristina Barcelona". Um CD que me faz sentir culto, sofisticado e velho, tudo ao mesmo tempo. Dá vontade de rever os filmes.
O pacote cacurístico ficaria incompleto sem uma prima donna. Aqui está ela, justo a maior de todas: Maria Callas. Já tinha muita coisa da maior soprano de todos os tempos, mas esta coletânea é prática porque junta todos os hits num só lugar. Tem a trágica "La Mamma Morta", dublada por Tom Hanks em "Philadelphia" - aliás, esta cena aparece na TV durante "Io Sono l'Amore", talvez para justificar o fato do nome do filme ter sido tirado de sua letra (sabia, Fer?). E tem também a infame "Ária das Jóias" do "Fausto" de Gounod, o carro-chefe da atroz Bianca Castafiore. Para quem sempre quis saber como se canta aquele "Eu rio / de me ver tão bela nesse espelho / hahaha..." das aventuras de Tintin, voilà.
Gosto de Barbra Streisand desde quando nós dois éramos bem jovens. Ela já está beirando os 70 e, se sua voz tem algum defeito, é porque é perfeitinha demais. Seu novo CD é dedicado a um casal de letristas, Alan e Marilyn Bergman, de quem ela gravou coisas durante toda a carreira. Mesmo assim, conseguiu achar 10 faixas que nunca tinha cantado antes - inclusive "The Windmills of Your Mind", que surge com um arranjo de arrepiar. A versão deluxe traz um disco extra com clássicos como "The Way We Were" e uma curiosa versão em inglês de "Começar de Novo" do Ivan Lins.
Woody Allen nunca encomenda trilhas originais para seus filmes: ele só dá uma sapeada em sua monumental coleção de discos, e pronto. Esse álbum duplo foi criado na França e dá uma panorâmica na obra do cara, chegando até o Gershwin que tornou "Manhattan" ainda mais inesquecível. Tem muito jazz, claro, mas também um pouco de ópera, Philip Glass e até mesmo o pop meio kitsch de Giulia y Los Tellarini, usado em "Vicky Cristina Barcelona". Um CD que me faz sentir culto, sofisticado e velho, tudo ao mesmo tempo. Dá vontade de rever os filmes.
O pacote cacurístico ficaria incompleto sem uma prima donna. Aqui está ela, justo a maior de todas: Maria Callas. Já tinha muita coisa da maior soprano de todos os tempos, mas esta coletânea é prática porque junta todos os hits num só lugar. Tem a trágica "La Mamma Morta", dublada por Tom Hanks em "Philadelphia" - aliás, esta cena aparece na TV durante "Io Sono l'Amore", talvez para justificar o fato do nome do filme ter sido tirado de sua letra (sabia, Fer?). E tem também a infame "Ária das Jóias" do "Fausto" de Gounod, o carro-chefe da atroz Bianca Castafiore. Para quem sempre quis saber como se canta aquele "Eu rio / de me ver tão bela nesse espelho / hahaha..." das aventuras de Tintin, voilà.
EACH MORNING I GET UP I DIE A LITTLE
Já visitou o Google hoje? O logo habitual do site foi substituído por um grafismo em homenagem ao Freddie Mercury, e quem clicar nele vê este simpático desenho animado aí em cima. Se estivesse vivo, hoje o cantor do Queen estaria completando 65 anos. Não consigo imaginar meu ídolo na terceira idade: a morte talvez seja o melhor tratamento para rejuvenescer que existe. Também fez um bem imenso para sua carreira. Enquanto vivo, Freddie jamais teve o respeito que merecia da crítica, que não reconhecia nele o melhor vocalista de todos os tempos, period. Mas sua reputação só aumentou nesses 20 anos, quando novas estrelas como Lady Gaga e Katy Perry não tiveram pudor de dizer que foram muito influenciadas por ele. Hoje a página oficial do Queen no YouTube amanheceu repleta de pequenos tributos a Farroukh Bulsara: tem até da Miss Piggy. Só assim para suportar a falta que ele me faz.
domingo, 4 de setembro de 2011
MORTE EM VENEZA
E continua a relação acidentada de Madonna com o cinema. Os críticos aassasinaram seu filme "W.E.", que teve estreia mundial no festival de Veneza. O título faz um trocadalho com "we" (nós) e as inciais de Wallis e Edward, os duques de Windsor. Para quem ainda não sabe, a trama se desenvolve em dois planos paralelos: nos anos 30, o herdeiro da coro britânica renuncia ao trono para se casar com uma divorciada maericana; em 1998, um casal visita a exposição das peças do duques, então já falecidos, que iriam a leilão. Visualmente parece que "W.E." é uma beleza, e a inglesa Andrea Riseborough tem grandes chances de ser indicada ao Oscar de atriz coadjuvante pelo papel de Wallis Simpson. Mas dizem que os diálogos são ruins de doer, e que Madonna devia se concentrar mais no novo álbum, encalacrado há anos. Semana passada surigiram esses dois fragmentos do filme na internet, que não chegam a ser trailers. Não dá para julgar, mas pelo jeito a história de um dos romances mais polêmicos do século 20 vai continuar sem um filme à altura.
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