quarta-feira, 31 de agosto de 2011

BUONA SERA A TUTTI

Questo è il mio primo post in italiano. Ho cominciato ieri a leggere il nuovo libro d'Umberto Eco, "Il Cimitero di Praga". Ma non ho capito molta cosa: c'e tantissime parole difficile per me, non ho la più putana idea de che cazzo parlano i prime paggine. Fa tre mese ch'io ho deciso d'imparare la bella lingua di Dante sin andare alla scuola, solo con il aiuto dei libri. La nuova opera dal mio scrittore italiano prediletto era la scelta naturale per cominciare. "Il Nome della Rosa" ed "Il Pendolo di Foucault" me piascevono tanto... Ma leggere così, da solo, senza un dizionario, senza nessuno per me dire "bravo", ah, questo non è facile. Ma è bello. È bellissimo.

A SOLUÇÃO FINAL

Cremação é tão cinco minutos atrás. A onda agora é li-que-fa-zer os cadáveres: uma maneira muito mais ecológica de lidar com os restos mortais, sem deixar aquela monumental pegada de carbono. Uma casa funerária na Flórida vai começar a oferecer aos consumidores com consciência verde a opção de dissolver os corpos dos entes queridos em água alcalinizada, aquecida a 180 graus. Leva no máximo três horas para todos os tecidos se desmancharem - e a água depois é escoada para o esgoto da cidade! Os papa-defunto garantem que o caldo resultante é totalmente estéril, não contém traços de DNA e não apresenta nenhum risco para o meio ambiente. Agora, não me parece mais limpo do que a solução adotada pelos zoroastrianos, que seguem uma antiga religião persa e hoje estão concentrados na Índia. Em Mumbai existem as Torres do Silêncio, onde os mortos são deixados para servir de almoço aos abutres. Tá-dá!

O HOMEM SEM ASSUNTO

Uma hora ia acontecer. Abordando os mesmos assuntos em lugares diferentes, é praticamente impossível não escrever as mesmas coisas. Não posso reproduzir minhas colunas do F5 no blog, nem mandar para lá os posts sem vergonha que cometo (apesar de já ter elaborado mais no site alguns temas pincelados por aqui). Hoje cheguei a um impasse: não tenho mais a dizer sobre "O Homem do Futuro" do que já disse no F5. Para ler minha opinião sobre o filme, é só clicar aqui - não precisa ser assinante do UOL nem da Folha. E agora fiquei sem assunto para esta manhã. Vamos ver se alguém é atacado na Paulista na hora do almoço, assim a tarde será salva.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

JE DÉTESTE LES GARÇONS

O vídeo "Não Gosto dos Meninos" finalmente ganhou legendas em inglês, e agora está ganhando o mundo. Ontem saiu no blog Made in Brazil; hoje está no Towleroad, o mais importante blog gay americano. Pelos comentários, dá para perceber que o pessoal está rindo com a pobre mãe que quase desmaiou quando o filhinho se assumiu...

O GAY MAIS PODEROSO DO MUNDO

Não é novidade que Tim Cook, o novo CEO da Apple, seja gay. Ele encabeçou a lista dos "Gays Mais Poderosos do Mundo" da revista "Out" em 2010, quando já se comentava que seria o herdeiro de Steve Jobs. Mesmo assim, um artigo do jornalista Felix Salmon, da agência Reuters, causou uma pequena celeuma semana passada. "Não ignore a sexualidade de Tim Cook", era o nome da peça. Salmon estava inconformado pelo fato da grande mídia americana ter evitado mencionar que o novo capo da empresa mais poderosa do mundo não é Coca, é Fanta. "O que ele faz ou deixa de fazer na cama não interessa", defenderam-se alguns. Até entendo o ponto. Mas concordo com Salmon: é necessário, sim, dizer qual é a orientação sexual de Cook. Além do mais, porque ele está fora do armário há muitos anos. O cara adota a linha discreta: não esconde, mas também não sai trombeteando aos quatro ventos (seu perfil na Wikipedia nem toca no assunto). Por isto mesmo, acho que deve-se informar que ele é gay, mas en passant, como se fosse a coisa mais natural do mundo - o que de fato é. Ninguém reclamaria se as notícias dessem que ele é casado com uma mulher e tem três filhos. No mais, acho maravilhoso que de agora em diante Bolsonaros, Malafaias e Myrians vão ter nojinho de usar os melhores computadores do mundo, com medo de se contagiarem.

(Em tempo: aqui no Brasil, grande parte da mídia também ignorou solenemente a sexualidade de Tim Cook. A honrosa exceção foi o caderno "Mercado", da "Folha de São Paulo".)

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

GROUND CONTROL TO MAJOR TOM

Era uma vez um astronauta chamado Major Tom. Um belo dia ele foi para o espaço em sua espaçonave. A nave quebrou e ele ficou lá em cima para sempre. Qual pai não gostaria de contar essa historinha tão meiga para seu filho? E agora ele ainda pode mostrar as lindas figuras do livro "Space Oddity", onde o ilustrador Andrew Kolb deu uma cara meio retrô para a letra do clássico de David Bowie. Ah, e se seu filho ficar triste com o final da história, explique para ele que o Major Tom não morreu de verdade. É só uma metáfora para o vício em drogas pesadas.

BOLLI-STOLI, ANYONE?

Sou um fanático por sitcoms. Acho que é uma das expressões artísticas mais sofisticadas de toda a história da humanidade. E qual é a Capela Sistina do gênero? Não, não é “Seinfeld” nem “Friends”, apesar de eu beijar o chão que foi pisado por estas séries. Na minha informada opinião, a melhor sitcom de todos os tempos é a britânica “Absolutely Fabulous”. Nenhum outro programa me fez rir tanto em toda a minha vida. A série original teve apenas três temporadas, exibidas entre 92 e 96. E eram bem curtas: apenas 6 episódios cada. Mas o sucesso foi tão grande que ainda rendeu alguns epeciais, e mais duas temporadas completas ao longo da década passada. A própria barata que não morre nunca, por mais que a gente puxe a descarga. Agora saiu a notícia de que “AbFab” vai ressuscitar novamente, desta vez em três especiais para o canal a cabo Logo – que tem programação voltada para o public gay e é afiliado à MTV. O curioso é que o derradeiro episódio da primeira encarnação mostrava como estariam Edina Monsoon e Patsy Stone, a dupla de malucas fashionistas, 20 anos depois. O futuro já chegou: vamos ver se elas continuam cheirando pó de giz e achando que ficaram doidas.

(para os novatos em "AbFab": bolli-stoli é o drink oficial da série, uma mistura letal de champagne Bollinger com vodka Stolichnaya, sweetie dahling)

PROVA FRACASSADA

Então é isso? Podemos desistir de uma vez por todas das comédias românticas? Eu estava cheio de esperança por "Amor à Toda Prova", que estreou no Brasil embalado por ótimas críticas na imprensa americana. Não tenho mais muito saco para a persona de macho-carente do Steve Carrell, mas um filme que ainda tem Julianne Moore e Ryan Gosling no elenco não pode passar batido. Este último, inclusive, quase que vale o ingresso: além de ser um dos melhores atores de sua geração, está tão esculpido que lá pelas tantas alguém pergunta se o torso do cara foi photoshopado. Esta é uma das boas cenas, e há algumas outras. Mas o todo não se sustenta. A premissa "jovem-comedor ajuda divorciado-sem-noção a conquistar mulheres" é pouco crível, e o número de tramas paralelas é digno de telenovela. A mensagem final é a mais otimista e conservadora possível, claro, e minha queridinha Marisa Tomei rouba todas as poucas cenas em que aparece. Mas "Amor..." termina quase 20 minutos depois do que deveria, e acaba se transformando numa provação.

domingo, 28 de agosto de 2011

ENCRE DE CHINE

A música não é lá essas coisas, mas o vídeo de "Chinese Walk", da minha idolatrada Amanda Lear, é um dos mais bonitos dos últimos tempos. Adoro esse efeito de tinta nanquim escorrendo e respingando na tela. Mas o que eu estou ouvindo sem parar é "Mi Mujer", do chileno Nicolas Jaar, de apenas 21 anos, que no se parece a nada. Nem só de divas beeshas vive o meu iPod.

sábado, 27 de agosto de 2011

QUE RESTE T-IL DE CLAUDE LELOUCH?

E pensar que um dia Claude Lelouch foi moderno. "Um Homem e uma Mulher" ainda é uma maravilha: a narrativa solta, as experiências com filtros e texturas, a música, a música, a música. Eu era pequeno quando este filme surgiu (1966) e só fui vê-lo em vídeo depois de ter me apaixonado por "Retratos da Vida", que ficou mais de um ano em cartaz em São Paulo. O sucesso de público não se repetiu entre a crítica, que malhou absolutamente tudo: da câmera rodopiante à maquiagem que envelhecia mal os atores. Na época eu não liguei, mas agora estamos todos na mesma página. Lelouch virou uma paródia de si mesmo. Seu filme mais recente, "Esses Amores", foi feito para celebrar seus 50 anos de carreira e era para ser auto-referente. Mas ficou foi auto-indulgente, para não dizer péssimo. A trama requenta muitos dos temas já exauridos em "Retratos...", como a colaboração francesa aos nazistas e os campos de concentração, e inclusive reaproveita muitas cenas daquele filme (e de muitos outros da obra lelouchiana também). Até aí zuzo bem se o resultado fosse bom, mas não é. Apesar de uma ponta da divindade que é Anouk Aimée, o elenco é todo de segunda. Nem mesmo Audrey Dana está bem - justo ela, uma atriz interessante que foi revelada no filme anterior do diretor, "Roman de Gare". Aqui ela aparece feia e sem-graça, defeitos fatais para quem faz uma mulher por quem todos se apaixonam. Mais uma vez Lelouch se arrisca na metalinguagem e faz da personagem uma lanterninha de cinema. Mas depois de "Bastardos Inglórios", qualquer tentativa de misturar a paixão pelo cinema com a 2a. Guerra e alguns toques de absurdo está fadado ao fracasso. A trama rocambolesca deixaria Janete Clair envergonhada. E no final, quando parece que nada pode piorar, todo mundo começa a cantar uma música totalmente fora de propósito. Mas tem mais: Lelouch termina "Esses Amores" com uma auto-homenagem, um clipão com closes de quase todos os grandes atores que desfilaram em frente à sua câmera nesses anos todos. Estão lá Jean-Paul Belmondo, Catherine Deneuve, Fanny Ardant, Charlotte Rampling, quase toda a história do cinema francês. Nessa hora me caiu a ficha. A verdadeira paixão de Claude Lelouch não é pelas histórias de amor, nem mesmo pelo cinema. É por ele mesmo.

(O título do post é uma referência a "Que Reste t-il de Nos Amours", talvez a mais bela chanson da história, e fartamente usada ao longo do filme)

UN PASITO PA'LANTE

Ricky Martin ao vivo é até melhor do que eu pensava. Ele é hoje o melhor e mais completo showman do mundo: canta, dança, vibra, rebola, toca bongô. Acho até que já era quando Micahel Jackson ainda era vivo, porque transpira uma alegria de estar no palco que o falecido já não possuía mais. A turnê "Música + Alma + Sexo" traz poucas músicas do disco do mesmo nome e praticamente todos os hits da carreira do cantor, e é uma grande celebração da saída do armário . Agora gay assumido, Ricky está mais forte e seguro do que nunca. E a plateia adora: conversei com várias meninas no Credicard Hall, e absolutamente nenhuma deixou de gostar menos dele depois da confissão do ano passado. Talvez porque as fãs de hoje já não têm a fantasia de que irão se casar com seus ídolos, talvez porque a boiolice de Ricky não fosse exatamente segredo de estado. O show tem apenas uma hora e meia, dezenas de trocas de roupa e mais energia do que Belo Monte jamais produzirá. É pau duro do começo ao fim.

(Minha coluna de hoje no F5 também é sobre Ricky Martin e está aqui)

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

E ESSE SEU DELICIOSO CURRÍCULO?

Um livro está causando furor entre as feministas americanas por constatar o óbvio: mulher bonita e bem arrumada tem mais chance de se dar bem profissionalmente. "Erotic Capital", de Catherine Hakim, diz que o sex-appeal é uma arma que pode e deve ser usada no escritório. Não, não se trata de comprar um modelito da grife Geisy Arruda e esperar pela promoção. O que a autora define como "capital erótico" é uma mistura de elegância, boas maneiras e, sim, beleza - mas aquela beleza que pode ser comprada, quer dizer, cultivada. Afinal, "não existe mulher feia - existe mulher preguiçosa". Soa como um conselho que Paris Hilton ou Kim Kardashian dariam, mas Catherine Hakim é uma economista respeitada, com anos de estudo das relações nos locais de trabalho. Claro que há uma linha tênue entre ser atraente e ser vulgar, mas não há dúvida de que a boa aparência realmente ajuda - e não só às mulheres. Mas como os homens hétero ainda dominam a maoria das empresas, elas ainda são privilegiadas. Já conheci algumas que ocupavam cargos que seus talentos não justificavam, só por causa de seus looks.

(para entender a refinadíssima citação do título deste post, visite os comentários do post "Encurrylado" no blog "Mundo em Meus Olhos")

RALANDO CÔCO EM TEERÃ

Alguns dos melhores filmes sobre o Irã têm sido feitos fora do país, por cineastas da diáspora persa. Era o caso do apavorante "O Apedrejamento de Soraya M." e parece ser o de "Circumstance", rodado numa Beirute maquiada para parecer Teerã. A diretora Maryam Keshavarz nasceu nos EUA e já esteve no país de sua família várias vezes quando pequena, mas se voltar agora provavelmente não vai poder sair mais. Porque seu filme toca num assunto para lá de tabu para os aiatolás: o namoro entre duas garotas. Elas se conhecem na escola e passam a frequentar a animadíssima rede clandestina de boates na capital iraniana, mesmo sob o risco de serem apanhadas pela polícia religiosa. Mas a ameaça maior vem de dentro de casa. O irmão de uma delas é um ex-junky que sai do rehab e se converte ao fundamentalismo islâmico, num processo parecido com o da Cleycianne. E passa a espionar a própria irmã, até que... O trailer dá a entender que o caldo entorna legal, e eu já estou angustiado para saber como termina. Tomara que venha para a Mostra de Cinema de SP.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A GUIANA BRASILEIRA

Hoje faz 50 anos que Jânio Quadros renunciou à presidência do Brasil. Li alguns artigos que saíram esta semana sobre o assunto e todos confirmam que o cara estava mesmo blefando: o próprio Jânio confessou ao neto, já próximo da morte, que queria dar uma espécie de auto-golpe. Mas a minha surpresa mesmo foi saber que ele pensou em anexar a Guiana Francesa (falha minha, porque não era nenhum segredo). Sob a alegação de que minério brasileiro estava sendo desviado por lá, tropas brasileiras iriam invadir a ex-colônia - já naquela época a Guiana tinha o status de département d'outre-mer, ou seja, tecnicamente é um pedaço da França que faz fronteira consoco. Surpresa maior foi saber, da boca de um militar, que a empreitada tinha chance de dar certo. A Guiana Francesa era (e é) despovoada e desimportante, e Paris talvez preferisse chegar num acordo. Naquele mesmo ano de 1961, em dezembro, tropas indianas entraram no enclave português de Goa e ficou por isto mesmo. Hoje a grita ia ser grande, mas fiquei imaginando como seria legal se o Brasil chegasse um pouquinho mais perto do Caribe.

QUAL CISNE BRANCO EM NOITE DE LUA

Quando eu cheguei ao trabalho já era tarde. Meu marido Oscar havia polidamente recusado dois ingressos grátis para a apresentação de ontem do ballet Kirov, no Theatro Municipal de São Paulo, oferecidos por uma amiga pelo Facebook. É que já tínhamos outro compromisso, um jantar – mas acontece que um evento do porte do Kirov (que eu finalmente aprendi que se pronuncia “kírov” e não “kiróv”) é zerinho-corta-tudo. Passa na frente de tudo e todos, menos de parente próximo na UTI.

Ainda tentei intervir, mas nossa amiga já havia passado os convites adiante. Fiquei de mau humorzinho o dia inteiro, pensando quanto me custaria um advogado que deixasse o Oscar na miséria. No final da tarde, a boa notícia: ela havia conseguidos mais ingressos. E assim, por um triz, meu casamento de quase 21 anos foi salvo.

Chegando ao Municipal, o deslumbramento começou antes da cortina levantar. O teatro acabou de ser reformado e está tudo tinindo de tão lindo. Só estranhei o veludo das poltronas ter voltado ao vermelho convencional e abandonado mais uma vez o verde do projeto original. Dizem que os músicos reclamavam; que o verde esfriava o ambiente e desafinava vozes e intrumentos.

E aí começou o espetáculo, nada menos que “O Lago dos Cisnes”. Com a coreografia original de Marius Petipa e cenários inspirados em Walt Disney. A música de Tchaikowsky agarra desde o primeiro acorde: ele é o mais pop dos compositores eruditos. A crítica sempre o acusou de facinho e pouco elaborado, mas até aí, um doce de leite também é – e nem por isso a gente gosta menos.

Aquilo não é balé clássico, é ortodoxo. Tive a nítida impressão de que poderia ter visto esse “Lago” em qualquer momento do século 20. E não há nada de mau nisto: é sempre bom revisitar as bases entre uma vanguardice e outra.

Claro que, depois do “Cisne Negro”, meus olhos mudaram para o balé. Via as pobres bailarinas e imaginava as unhas quebradas, os olhos vermelhos, as asinhas nascendo nas costas. A protagonista Ekaterina Kondurova deixa qualquer Maurren Maggi ou Dayane dos Santos com a cara na poeira. Passar 98% do tempo fazendo ponta (e os restantes 2% no ar) é uma façanha sobre-humana, muito mais admirável do que um reles salto com vara.

E ainda tem que ser linda, boa atriz, passar emoção… Do lugar onde estávamos, víamos até o suor no rosto dos bailarinos: plateia, fila F, poltronas 2 e 4, bem ao lado do corridor central. 390 reais cada. No intervalo tivemos um upgrade. Fomos para um camarote bem ao lado do do Prefeito. Minha amiga é influente. Por favor não me odeie.

No meio de tantas prima-donnas de aspecto frágil (se bem que cada batata da perna delas daria para umas três raclettes), havia uma bem forte e grandalhona, que lembrava a lendária Ida Nevasayneva dos Les Ballets Trockadero de Monte Carlo. Já os rapazes, se não soubessem dançar, teriam feito belas carreiras nos estúdios Bel-Ami.

Hoje a “Folha” tascou um “regular” nessa temporada do Kirov, alegando que quem veio ao Brasil foi a equipe júnior da companhia e não os titulares, que estão de férias. Se isto são os reservas, põhan, etc. Saímos do Municipal em estado de graça, além do mais porque foi mesmo de graça. Devo ter sido um menino muito bom ano passado.


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

QAI, QAI, QADDAFI

Que ninguém tenha dúvida: se puder, o agora ex-ditador Muammar Q/K/Gaddafi ainda vai fazer um estrago enorme. O cara não tem a necessária grandeza de espírito para assumir a derrota e tentar uma saída honrosa, talvez um exílio. Vai tentar matar o maior número possível de pessoas, porque esta é a única linguagem que entende. Mas já vai tarde. Apesar de parecer domado nos últimos anos, muito por medo do que aconteceu a Saddam Hussein, o sujeito espalhou o terror na Líbia e mundo afora. Claro que foi constrangedor ver líderes de muito países irem beijar sua mão depois que a Líbia deixou de ser pária, no começo da década passada. Até a Condoleezza Rice foi a Trípoli, só para a OTAN agora dar aquela forcinha decisiva para os rebeldes. Lula também foi, claro: nosso ex-presidente nunca conheceu um tirano do qual não gostasse. E o que acontece daqui para a frente? Será que o país vai se esfacelar? A Líbia tem fronteiras artificiais, como muitas ex-colônias europeias, e é composta por três grandes regiões que mais ou menos não se bicam. Mas é um pouco próxima demais da Europa para se tornar um novo Iraque: esperemos que as potências do lado de lá do Mediterrâneo ajudem (e forcem) o Conselho de Transição a agir com prudência. No meio dessa barafunda toda, foi descoberto como o próprio Muammar gosta de escrever seu nome em caracteres ocidentais. O passaporte de um de seus filhos, encontrado nas ruínas de seu QG, traz a grafia "Gathafi" - apenas uma das 112 possíveis.

VÁ SE FODER


Dave Franco, irmão do ator James Franco, numa interpretação bastante literal de "go fuck yourself". Gosto especialmente da trilha com Charles Trenet.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

ELES ESTÃO ENTRE NÓS

"Esse papo de bissexualismo é coisa de viado". A frase de Glauber Rocha entrou para a imortalidade justamente porque parece verdadeira. Afinal, quantos bissexuais para valer você conhece? Tipo fifty-fifty? Entre as mulheres soa até mais crível, mas homem bi? Bi...cha, certo? Hmm, nem tanto. Pessoalmente, sei de muitos caras com graus diferentes de homo/heterossexualidade. Eu mesmo já tive namoradas no passado, gostei muito, e quer saber? Não sou indiferente à mulherada. Mas o tal do bissexual em estado puro, com igual atração pelos dois sexos, parecia um ser mitológico, como um unicórnio de crina dourada. Só que ele existe. Foi comprovado por um estudo da Northwestern University, dos EUA. E claro que já tem neguinho reclamando, dizendo que a bissexualidade não precisa ser metade/metade para ser verdadeira. E nem que ela se limite à mera atração sexual: o fator emocional nunca pode ser ignorado. Tendo a concordar. E vou além: sou daqueles que acham que todo mundo é bi, uns mais, outros menos, não importa. E que esse negócio de rótulo é que é coisa de viado. No mau sentido.

PERU FRIO

"Cold turkey": esta expressão não tem equivalente em português. Significa a interrupção abrupta de um hábito pernicioso, seja ele o tabaco, as drogas ou os discos de Kenny G. Neguinho para de uma hora para a outra de consumir o vício que o estava matando, mas às vezes o tiro sai pela culatra. A família jura que foi isto o que aconteceu com Amy Winehouse. A cantora teria cortado radicalmente a bebida e entrado em convulsão. É raro, dizem os médicos, mas acontece. Ainda mais se a pessoa for mulher e frequentar outras substâncias. Os resultados da autópsia divulgados hoje reforçam essa teoria: não foram encontrados traços de substâncias ilícitas no organismo de Amy. Mas não sei se o "cold turkey" se sustenta, porque álcool, sim, foi encontrado. De qualquer forma, parece coerente com a personalidade radical da moça um corte assim, tipo 0 ou 800. E tomara que o esclarecimento das causas de sua morte sirva para calar a boca dos pseudo-moralistas que tripudiaram em cima do sofrimento dela e da família. Não sou especialista no assunto, mas sei que a adição a drogas (e a qualquer outra coisa) é uma doença que tem inclusive raízes genéticas. Vão atacar o Sarney, seus urubus, porque este sim está precisando de uma forcinha para morrer.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

É UMA CASA PORTUGUESA COM CERTEZA

Minha casa sempre foi muito ajeitadinha, mas esta semana estou achando-a horrorosa. É difícil não sentir vergonha dos próprios móveis quando se tem uma hóspede como Nini Andrade Silva. Ela é simplesmente a maior designer de interiores de Portugal e uma das maiores da Europa. Também é minha ex-cunhada: foi casada por mais de 10 anos com meu irmão mais velho, e me recebeu duas vezes em sua casa na ilha da Madeira. Nini também é ótima pintora, mas seus trabalhos que mais me impressionam são mesmo os hotéis. Entre muitos outros, ela assina o Fontana Park de Lisboa, o The Vine no Funchal e o fabuloso Hotel Teatro no Porto, construído sobre a carcaça de uma antiga sala de espetáculos. Também está tocando diversos projetos ao redor do mundo: depois do Brasil, vai dar um pulinho em Singapura, Bali e Kuala Lumpur. Mas acho que a veremos mais amiúde por aqui. Depois de abrir filiais de sua loja de decoração em Lisboa e Paris, Nini está procurando um bom ponto em São Paulo. Aceitam-se sugestões.

NOVIOS VISIBLES

Há anos que eu falo aqui no blog que eu adoro a banda venezuelana Los Amigos Invisibles e que é uma pena que ninguém os conheça aqui no Brasil. E não é que eles vão tocar em São Paulo esta semana? Cantei, pulei, vibrei, e de repente cai em mim. O show deles está marcado para esta sexta dia 26, com participação especial do Seu Jorge. É dentro do festival Sonidos, de música latina: como se fosse pouco, depois ainda tem Julieta Venegas e Marisa Monte finalmente juntas, e o megacombo cubano Los Van Van com Carlinhos Brown. Só que, na mesma data e horário, também rola o show do Ricky Martin. Entrei em parafuso: e agora? Marisa já vi várias vezes, Julieta vi em 2008, Los Van Van nem faço tanta questão. Mas nunca vi Los Amigos. E nem Ricky. Depois se semanas a fio sendo corroído pela dúvida, sexta passada tomei uma decisão. Comprei ingressos para o Ricky Martin, de pista. Ainda prefiro o som dos venezuelanos, mas acho que ao vivo o boricua manda melhor. Fora que ele está adquirindo proporções míticas para mim, desde que saiu do armário ano passado. Corajoso para carajo, digno idem. Nem se preocupa mais em ser visto com o namorado: olha aí os dois juntos num hotel na Sardenha, onde Ricky foi se apresentar numa festa particular neste fim de semana. Perdoem-me, Amigos, mas para mim vocês vão continuar invisibles por mais algum tempo.

domingo, 21 de agosto de 2011

GATÃO DE MEIA-IDADE

Eu quase desisti do Chico Buarque. Achei um porre seu disco de 2006, "Carioca". A crítica elogiou muito: as músicas seriam "sofisticadas", "elaboradas", "que exigem atenção do ouvinte". Já eu prefiro uma música que não me exija nada - afinal, tô pagando. Mesmo depois dessa experiência infeliz, comprei o novo CD do cara, intitulado simplesmente "Chico". E estou me deleitando. Chico está de namorada nova, a cantora Thaís Gulin, mais jovem que sua filha Sílvia. Ela canta em dueto com ele a faixa "Se Eu Soubesse", talvez a melhor do disco. Dá para perceber na hora que os dois estão mesmo apaixonados. Mas a paixão de Chico não é aquela coisa adolescente, meio doída, impetuosa. É leve, tranquila, madura e contagiosa. Os arranjos são simples, as letras fáceis, as melodias agradáveis, e ele quase que está cantando bem (a voz nunca foi seu forte). Quem te viu, quem te vê.

sábado, 20 de agosto de 2011

OH, CATCHPHRASE

"Um Trailer para Todos os Filmes que Já Ganharam um Oscar".
Laugh, laugh, laugh, laugh.

INSENSATO NOVELÃO

Desde "Vale Tudo", em 1988, que eu não ficava tão enlouquecido por causa de uma novela. Assisti a pedaços de várias, eu confesso, e me interessei por uma ou outra coisinha. Mas voltar correndo para casa? Numa época em que eu tenho DVR? E que, se esquecer de gravar, depois vejo tudo no YouTube? Culpa do Gilberto Braga, claro. Se bem que estão dizendo que "Insensato Coração" foi mais do Ricardo Linhares, o co-autor. Whatever. A novela começou em janeiro e eu demorei para ser fisgado. Achei o começo muito confuso. Personagens demais, tramas paralelas demais, tudo muito corriqueiro. Mas quando a Norma foi para a prisão - mais precisamente, quando ela matou a Araci - eu me rendi. Passei a torcer desbragadamente por ela, talvez porque eu me identifique tanto com sua história de sofrimento e humilhação (NOT). E, justamente por isto, fiquei puto quando ela morreu assassinada na terça passada. Achei que não ornava. Que não era um final digno para a protagonista. Que seu arco dramático não fechava. Que o "quem matou?" era só um truquezinho barato para uma novela que não precisava disto. Mas o final de ontem foi plenamente satisfatório. A culpada ser a Wanda fez total sentido, não foi uma solução improvisada tipo Leila x Odete Roitman. E o melhor de tudo é que, mesmo do além, Norma continuou sua vingança.

No mais, algumas impressões de despedida:

- Quem come o Eriberto Roberto na Globo? Única explicação.

- A cerimônia de união estável entre Hugo e Eduardo foi mais importante do que qualquer beijo gay. Mas foi estranhíssimo ver os pombinhos se abraçando depois de assinar os papéis.

- Carol para Raul: "...este susto que você passou." Vejamos: o filho psicopata finalmente foi em cana. A ex-mulher enlouqueceu, por matar a amante do filho. Ainda bem que foi só um susto.

- "Meses depois"... A barriga da Marina cresceu, mas o filho da Carol não? O sêmen do André já estava bichado antes do câncer?

- Sabe o que o Leo falou para a Norma quando a encontrou no inferno? "Pronto, morri."

- "A panqueca do Hugo". Os autores doidinhos para emplacar mais um Trending Topic no Twitter.

- Como o povo beija fácil nessa Barão da Gamboa, né? Que absurdo. Nada a ver com a vida real.

- Quando é que o Dãglas e a Bibi ganham sua própria sitcom?

- O show do Juninho Play no encerramento teve uma versão de "Coração em Desalinho" com 23 minutos de duração.

- Entre o lindíssimo pessoal de trás das câmeras presente na plateia, a promoter Liège Monteiro e o namorado, que ela vai transformar em vampiro para lhe fazer companhia por toda a eternidade.

Ufa! Acabou. Agora posso retomar minha vida?

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

APERTAMENTO

Sabe quando você lê um livro e o filme sai completamente diferente do que você tinha na cabeça? Estou passando por algo parecido, apesar de nunca ter precisado imaginar "O Deus da Carnificina". Vi a peça quatro vezes, em quatro línguas diferentes: em Londres, em Paris, no Rio e em Buenos Aires. E o apartamento onde se passa toda a ação era sempre amplo e arejado - e pouco naturalista também. Hoje caiu na rede o trailer de "Carnage", o filme de Roman Polanski que adapta a peça genial da francesa Yasmina Reza. Os atores combinam todos com os personagens, e qual é o actressexual (na definição do cineblogueiro Nat Rogers) que não está se umidificando para ver o embate entre Jodie Foster e Kate Winslet? Mas o apê do filme é apertado, bem michuruca. Tudo bem que transferiram a trama para Nova York e lá o metro quadrado custa uma fortuna, mas a história envolve dois casais de classe alta. Esperávamos mais. Enfim, deve ter sido uma escolha do diretor para acentuar a claustrofobia do roteiro. Confio no taco do Polanski, apesar deste taco já ter comido uma adolescente. E voltando ao assunto de sempre: quero só ver como o exibidor brasileiro vai traduzir o título, já que "Carnificina" só atrairá moscas ao cinema. "Uma Confusão dos Diabos"? "Essa Gente Muito Louca"? Eu tremo.

VICE CREAM

Abre hoje em Londres um sorveteria pop-up (temporária) voltada para o público gay. A Queens of the Dessert fica em pleno Covent Garden e só vai permitir a entrada de maiores de 18 anos (imagino que os héteros não serão barrados). Os atendentes serão modelos bonitões e um massagista de plantão, o "Vice Cream", oferecerá massagens faciais para os clientes que quiserem sentir toda a suavidade do chocolate amargo na própria cara. Já pensou se fosse por aqui? Vereadores evangélicos iriam protestar contra mais esse privilégio absurdo, e exigir do governo a criação de uma sorveteria focada nos héteros - como, aliás, já são todas as que existem no mundo.

SONHO RUIM

Regozijai, irmãos: "Io Sono l'Amore", um filme que eu queria tanto ver que acabei encomendando o DVD, estreia hoje no Rio e em São Paulo. Mas como nada é perfeito, o exibidor nacional tinha que cagar no título. Que porra é essa de "Um Sonho de Amor"?? Sei que não tem assunto mais batido do que reclamar dos nomes absurdos que muitos filmes ganham no Brasil, mas este me parece um caso digno de apedrejamento. O título original é meio enigmático - "Eu Sou o Amor" - mas é perfeitamente entendível depois que se assiste ao filme. A personagem da sublime Tilda Swinton é acometida por um amor tão avassalador que se vê obrigada a deixar tudo para trás: é um amor que se impõe, que se afirma. Mas a imbecil da distribuidora brasileira preferiu esse nominho tolo, de comediazinha romântiquinha, que é tudo o que "Io Sono l'Amore" não é. É um filme adulto, sofisticado, que não vai agradar a todo mundo. E é dirigido a uma plateia que não está exatamente procurando por Meg Ryan ou Sandra Bullock. Enfim, ignore esse "Sonho" mau e vá ao cinema de qualquer jeito. Eu vou, apesar de ter o DVD há meses: quero ver essa maravilha na telona.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

PADRECOS DO BABADO

A polícia de Madri conseguiu impedir o beijaço gay que iria saudar a visita do papa Adolf I à cidade, mas Deus escreve certo por linhas tortas e mandou um escândalo daqueles para atazanar a Igreja esta semana. Foram presos em Isernia, no sul da Itália, dois sujeitos que há meses vinham chantageando mais de 100 padres homossexuais da região. Os caras marcavam encontros pelo Facebook, conseguiam fotos ou mensagens comprometedoras, e lá se ia o dinheiro das esmolas para um destino pouco nobre. Por um lado, bem feito para todo mundo, não? Por outro, está mais do que na hora da carreira eclesiástica ser a saída honrosa para as bibas de lugares mais conservadores e atrasados. Aliás, não é por outra que o Vaticano é tão firme na defesa do famigerado "casamento tradicional": se os gays fossem vistos pela Igreja como seres humanos plenos, com os mesmos direitos de todo mundo, os seminários se esvaziariam e muitas vocações se evaporariam como por milagre.

MAD WOMEN

O sucesso da série "Mad Men" (mais de crítica do que de público, é verdade) está gerando filhotes. A próxima temporada da TV americana, que estreia em setembro, traz dois programas que também se passam nos anos 60. Um tempo em que até as aeromoças fumavam dentro dos aviões e ser bonita e gostosa eram requisitos essenciais para as poucas carreiras oferecidas à mulherada. Aliás, salta aos olhos como tanto "Pan Am" como "The Playboy Club" sentem nostalgia da época em que mulher era objeto sim. E salta aos ouvidos a voz de Frank Sinatra, presente nos dois trailers. Ambas as séries já vêm enfrentando protestos de feministas e até de agumas afiliadas das redes ABC e NBC, que são abertas. Só sei que vão precisar fazer muito sucesso para se manterem no ar, dados os custos de produção. Fora que a chamada de "Pan Am" ressalta destinos glamurosos como Paris e Roma, quando o forte da companhia eram mesmo Guayaquil e Tegucigalpa - a Europa era a especialidade da rival TWA, hoje também extinta. E para mostrar que a saudade pelas bimbos é mesmo tendêêênnncia este ano, vem aí também um remake de "As Panteras". Mais um.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

PAS UNE CHANSON DÉPRIMANTE

A canção foi lançada em julho, mas só esta semana surgiu o clipe de "Elle me Dit", do Mika. O rapaz fala francês desde pequeno, e, para mostrar que está podendo, conseguiu Fanny Ardant para estrelar o vídeo. Que, aliás, é bem plus ou moins, assim como a musiquinha em si. O CD completo, "The Origin of Love", só sai no começo de 2012. Adoro o Mika e me arrependo de não tê-lo visto em SP ano passado, mas às vezes ele não parece contente demais?

LE DOUCHE DORÉ

Gentem, e o Gérard Depardieu? O mastondôtico ator francês estava ontem num voo de Paris para Dublin, da companhia CityJet - afiliada ao conglomerado Air France/KLM. O avião estava naquela fila interminável para decolar quando GéGé percebeu que iria explodir de tanta vontade de ir ao banheiro. Não deve ser fácil se segurar com aquele corpanzil todo, ainda mais quando o cara é capaz de entornar SEIS garrafas de vinho num único dia. A pobre bexiga depardieana deve viver mais oprimida que a de uma elefanta grávida de gêmeos. Pois bem: o pauvre petit pediu à aeromoça para ir ao toalete. E ela respondeu que ele tinha que esperar o avião estar em velocidade de cruzeiro. Depardieu então decidiu que ça suffit, levantou da poltrona, abriu a braguilha e se alivou ali mesmo, no corredor. Na frente de todo mundo e seu pai. O avião teve que voltar ao portão e atrasou mais um tempaço, mas pelo menos os demais passageiros agora têm uma história para contar aos netos. Nos EUA um caso desses daria prisão perpétua, mas, como era na França, reagiram com bom humor. Estava lá, no Twitter da companhia hoje cedo: "Como vocês talvez tenham visto no noticiário, ontem estávamos ocupados limpando o chão de uma de nossas aeronaves. Gostaríamos de lembrar aos passageiros que elas são equipadas com toaletes".

terça-feira, 16 de agosto de 2011

OS FILMES DA MINHA VIDA

Domingo passado o canal TCM exibiu "O Expresso da Meia-Noite" logo depois do 2o. capítulo de "Os Borgias", que eu estou acompanhando. Quase corri para gravar, até que lembrei que tenho o filme em DVD há muito tempo. E nem poderia ser de outro jeito: o "Expresso", que eu vi no cinema pela 1a. vez em 1979, é um dos filmes que mais me marcaram ever. Faz parte da lista dos 10 mais da minha vida - não exatamente os melhores, mas o que formaram o meu gosto. Não por acaso, vi todos antes de fazer 30 anos. Lá vai:

Annie Hall – Odeio com todas as minhas forças o título brasileiro “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”. Mas amo de paixão este filme que praticamente relançou Woody Allen: até então ele era tido como um ótimo diretor de comédias, e mais nada. “Annie Hall” também é comédia, mas com uma profundidade que muito drama não tem. É a D.R. mais divertida de todos os tempos. Um descendente óbvio (e ótimo) é "Harry & Sally, Feitos Um para o Outro", que chupou de "Annie Hall" até os créditos de abertura - mas deu um final feliz para o casal.

Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu – Simplesmente o filme mais engraçado da história da humanidade. Tenho em DVD e já vi umas 200 vezes, e sempre encontro uma piada que tinha me passado despercebida antes. Teve muitas continuações e inaugurou todo um sub-gênero, mas continua insuperável. As citações são infinitas: "devo fingir o orgasmo?"; "Timmy, você gosa de filmes de gladiadores?"; e a intraduzível "don't call me Shirley".

Cinderela em Paris – Vi numa “Sessão da Tarde” poucos meses antes de ir a Paris pela primeira vez, em 1978. Depois, o revi num cinema EM Paris e desatei em prantos. Audrey Hepburn, Fred Astaire, o mundo da moda dos anos 50, piadas ótimas e músicas de George e Ira Gershwin. O céu não fica melhor do que isto.

O Expresso da Meia-Noite – Sexo, drogas e música eletrônica (de Giorgio Moroder, o produtor de Donna Summer, que ganhou o Oscar de mlehor trilha). Um americano é preso na Turquia tentando traficar heroína e amarga um bom tempo na cadeia. Parece deprimente, mas é sensacional. E ainda tem a primeira cena com sugestão de sexo gay que vi na vida. Fala sério, o que era o Brad Davis?

Fama – Não queria incluir dois filmes de um mesmo diretor, mas não deu. No ano seguinte ao “Expresso”, Allan Parker veio com esse musical realista sobre os alunos de uma escola de artes performáticas em Nova York, muito mais impactante do que qualquer “Glee” dos dias de hoje. Além do elenco fantástico (quase todos foram tragados pelo vórtex espaço-tempo), a trilha era do grande caralho. A cena em que os alunos dançam em cima de um carro foi copiada por metade dos comerciais dos anos 80.

Fantasia – Tinha que ter um desenho da Disney, que absolutamente dominou a minha infância. Mas “Fantasia” é praticamente um filme adulto, que eu só fui entender direito quando vi depois de grande. É a introdução perfeita à música clássica e à arte abstrata. Mas meu segmento favorito continua sendo “A Dança das Horas”, o balé dos hipopótamos e jacarés. Pena que o trecho desenhado por Salvador Dali nunca tenha sido finalizado - já imaginou?

Godspell – Outro musical, o terceiro da lista. Eu tinha 13 anos e fiquei tão chapado que revi no cinema quase 20 vezes. Sei as músicas de cor até hoje. Provavelmente não teria gostado tanto se tivesse visto quando mais velho. Direção e montagem tão ágeis que o filme parece ter um único take. É tudo tão leve e engraçado que a gente se esquece que se trata de uma adaptação do Evangelho de São Mateus. Se eu fosse o papa, mandaria que a trilha sonora fosse tocada em todas as missas. Ia conter a evsão dos fiéis das igrejas.

Ligações Perigosas – Roteiro com requintes de crueldade, produção suntuosa e minha atriz favorita, Glenn Close, no melhor papel de sua carreira. Também tem Michelle Pfeiffer no auge da formosura e John Malkovich mais lagarto do que nunca, além de Uma Thurman e Keanu Reeves cheirando a leite. É o melhor trabalho de Stephen Frears, um grande diretor. Infinitamente superior a "Valmont", a versão da mesma história feita por Milos Forman - e olha que o elenco deste tinha ninguém menos que Annette Bening e Colin Firth.

Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos – Pedro Almodóvar explodiu globalmente com esta obra, praticamente um teatro filmado. Mas com cores berrantes e diálogos ferinos, além de uma história de amor e solidão que transcende em muito o tom kitsch do projeto. Ainda lembro do choque de ver pela primeira vez a cara de Rossy de Palma, a mulher-Picasso. Foi por causa de "Mulheres" que fiquei com vontade de provar gazpacho, até hoje meu prato favorito. E Almodóvar jamais fez um filme de que eu não gostasse.

A Última Tentação de Cristo – Não podia faltar um de Martin Scorsese. Escolhi este porque não só me impressionou muito, como é o retrato de uma crise espiritual – da qual, de certa forma, não saí até hoje. Engraçado, é o 2o. filme sobre a vida de Jesus Cristo que tenho na lista (o outro é “Godspell”). Lançado em 88, foi proibido na cidade de São Paulo pelo então prefeito Jânio Quadros, em mais um golpe de marketing demagógico de direita (acabou lierado alguns dias depois). Tive que ir até Santos para conseguir vê-lo, e não me arrependi.

Claro que existem milhares de outros filmes que adorei, mas foram basicamente estes os que me fizeram ser esta pessoa adorável que sou hoje. Uma lista mais extensa incluiria muito Woody Allen (a começar por “Crimes e Pecados”), muito Fellini, e dezenas de coisas que vi já bem grandinho: “O Talentoso Mr. Ripley”, "Les Uns et les Autres", “Cidade de Deus”, “8 Mulheres”, "O Último Imperador"…

E você, quais são os seus?

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

IMPRENSA MAROON

Sabe o que eu acho ainda mais bacana do que uma celebridade que sai do armário? Uma que demonstra apoio a um parente gay. Isso mostra para os reaças que os homossexuais não vieram de Marte. E que quem mexe com um gay também está mexendo com a família toda dele – e aí, vai encarar? O último famoso a entrar para essa lista de ouro é o cantor Adam Levine, da banda Maroon 5. Além de fazer um som legal pacas e ser completamente delicioso – como se vê nessa foto que ele fez para uma campanha contra o câncer nos testículos – o cara é um ser iluminado. Saca só o que ele disse numa entrevista para a revista “Out”: “Eu posso afastar sozinho qualquer ideia de que a sexualidade é adquirida. Confia em mim, você nasce com ela. Meu irmão é gay, e nós já sabíamos quando ele tinha dois anos de idade. Todos nós sabíamos”. Achou bom? Tem mais. “Nós queríamos dar a ele algum tipo de proteção e deixá-lo sempre saber que estava tudo bem. Muita gente não quer que seus filhos sejam gays e vai lutar contra isso a qualquer custo. Mas eu deixa eu dizer: é uma porra de uma batalha perdida. Quanto mais você lutar contra, mais fodido seu filho vai ficar. Temos que aceitar desde o começo. É o único jeito de uma família lidar com isto. Se não, você só está prejudicando a si mesmo, e destruindo a vida do seu filho”. Dá para imprimir um milhão de cópias e jogar de helicóptero em cima da Marcha para Jesus?

O DIA DO ORGULHO DESTRO

Eles existem em todas as culturas, mas foram persegidos durante séculos. Assim que se manifestavam os primeiros sinais de seu desvio, eram severamente punidos e forçados a adotar o comportamento da maioria dominante. Só conquistaram o direito de ser como são em meados do século passado, e atualmente têm até um dia especial para celebrar suas conquistas: foi anteontem, 13 de agosto, o Dia do Canhoto. Ou, para usar uma linguagem mais moderna, o Dia do Orgulho Canhoto. O que leva à pergunta inevitável: por que é que então não existe o Dia do Orgulho Destro? Isto é discriminação! Um nobre parlamentar, de preferência evangélico, deveria propor logo a criação desta data que falta ao calendário nacional de efemérides. Porque ser destro é ser normal, é seguir a norma, é ser como a imensa maioria. E com os canhotos celebrando a si mesmos, daqui a pouco vamos viver numa ditadura canhota e seremos todos obrigados a escrever com a mão esquerda.

domingo, 14 de agosto de 2011

O DIA QUE NÃO ACONTECEU

Kassab deu para trás. Depois de uma declaração que podia ser entendida como apoio ao Dia do Homofóbico Enrustido, o prefeito de SP mudou de ideia e anunciou ontem que irá vetar o famigerado projeto do vereador Carlos Apolinário. Eu meio que já esperava por isto, apesar do Kassab não merecer confiança. Não foi só por esprit de corps que ele agiu dessa maneira: o fundador do PSD tem ambições nacionais, e não fica bem para um político de grande envergadura endossar qualquer tipo de preconceito. Pena que para os políticos mignon essas patacoadas sirvam como promoção pessoal. Assim como Jair Bolsonaro, agora Carlos Apolinário se tornou conhecido como o grande defensor da boçalidade, e provavelmente os dois serão reeleitos facilimente. De olho na projeção alcançada por ambos, projetos semelhantes estão pipocando por todo o Brasil. Tem até um deputado federal, crivado de acusações de corrupção, que está querendo aprovar um D.H.E. nacional. Não tem a menor chance, mas assim ele põe a cabecinha para fora do mar de lama e ganha uns holofotes. Teremos que conviver com esses parasitas por muito tempo. Eles não irão embora nem quando tivermos todos os nossos direitos garantidos.

ARQUEOLOGIA DA VIADAGEM

Agora que o YouTube aceia vídeos de longa duração, estão surgindo pérolas de valor inestimável. Como este episódio de 1967 do programa "CBS Reports", um antepassado do "Globo Repórter": "The Homosexuals". Um documentário que levou três anos para ser feito e passou por vários produtores, de tão polêmico que era o assunto na época. Alguns dados levantados são assustadores. 90% dos americanos de então achavam que a homossexualidade era uma doença, e queriam que até mesmo atos consensuais entre adultos fossem punidos com prisão. O programa entrevista psiquiatras, religiosos e advogados, e todos apontam para o binômio "mãe dominadora/pai ausente" como a grande causa desta enfermidade - aliás, curável através de terapia. Mas o depoimento mais contundente vem logo no começo, de um gay sem medo de aparecer na TV.

"O aspecto mais íntimo da personalidade de uma pessoa é a orientação sexual, e eu não consigo me imaginar abandonando-a. Acho que a maioria das pessoas que estão seguras de sua sexualidade, homossexuais ou não, também não conseguiriam mudar isto."

E como foi que você ficou assim?

"Já pensei no assunto, mas na verdade eu não me preocupo muito com isto. Nunca pensei que se eu tivesse cabelo louro eu iria ficar me preocupando sobre quais genes e quais cromossomos me deixaram louro, ou se eu fosse castanho... Minha homossexualidade cai na mesma categoria. Não me sinto mais culpado sobre minha homossexualidade e minha orientação sexual do que uma pessoa de cabelo louro ou pele morena sentem culpa por essas características".


Que palavras lúcidas, e isto há quase 50 anos. O rapaz é identificado como "Warren Adkins", mas na verdade ele se chama Jack Jichols e se tornou um grande ativista da causa gay. E se por um lado é incrível que Apolinários e Bolsonaros ainda não consigam entender essas simples verdades, é admirável o progresso que fizemos em relativamente pouco tempo.

sábado, 13 de agosto de 2011

PRETENSÃO E ÁGUA BENTA

"A Árvore da Vida" é um filme lindíssimo, pretensiosérrimo e profundamente religioso, de um ponto de vista protestante. O diretor Terrence Malick quis fazer uma espécie de tratado definitivo sobre tudo. As sequências que mostram planetas, células, dinossauros, são simplesmente deslumbrantes. Mas a historinha de uma família americana nos anos 50 é minimalista demais para emocionar de verdade o espectador. Nenhum personagem tem nome, o que só contribui paa aumentar o distanciamento. E o pai interpretado por Brad Pitt é vendido como um monstro de rigor e exigência, mas o fato é que já conheci pais muitíssimo piores na ida real. Aliás, este é o tema central de todo o cinema americano: a relação conflituosa com o pai. No mais, o círculo não fecha, e vai ver que era isto mesmo o que pretendia a montagem não-linear. O único fato realmente grave na vida da famíia acontece logo nos primeiros minutos, mas não vemos suas consequências. E o final tem sabor de "Nosso Lar", com Sean Penn, que faz o filho quando adulto, caminhando por um plano onde encontra as figuras de seu passado. Música, fotografia, direção de arte, é tudo primoroso. Mas "Árvore da Vida" também é frio e meio monótono, como uma escola dominical.

ATUALIZAÇÃO:
Um comentáro anônimo e bem mal-criado apontou um erro neste post. De fato, a família retratada no filme é católica. Pensei até que poderia ser episcopal ou algum outro ramo do protestantismo que tenha imagens de santos nas igrejas, mas uma rápida pesquisa na internet confirmou: são católicos mesmo. O diretor Terrence Malick também é. Ele ficou 20 anos sem filmar, entre 78 e 98, porque achou que Hollywood estava "corrompendo-o", e entrou numa brava crise espiritual. Malick se reconverteu ao catolicismo e desde então seus filmes têm uma conotação transcendental bastante saliente ("Além da Linha Vermelha", sobre a batalha de Guadalcanal na 2a. Guerra, e "O Novo Mundo", a história real da índia Pocahontas). "A Árvore da Vida" começa com uma citação do Livro de Jó do Antigo Testamento, e encontrei na internet o comentário (em inglês, sem legendas) do padre Robert Barron, crítico de cinema do jornal britânico "Catholic Herald". Ele explica com clareza todo a simbologia do filme e as intenções do diretor. Mas continuo que "A Árvore da Vida", apesar de toda a beleza áudio-visual, é simplista e emocionalmente árido. E quem não acreditar em Deus vai achar tudo uma bobajada colossal.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

VOCÊ NÃO VAI SE ARRUMAR?

Ah, você já está arrumado... Essa é a sua roupinha de sair à noite. No meu tempo, se a gente saísse assim, ia presa. Mas também, coitado, com aquela merreca que você ganha, não dá para comprar nada melhor, né? Até que você faz milagre: mistura uma calça velha com uma blusa do seu irmão... Ah, essa blusa é sua? Achei que era dele, está um pouquinho apertada em você. Você parou de malhar, né? Não? Não sei porque continua pagando academia, não está fazendo muito efeito... Você vai para a balada? Então eu vou junto. Como assim, meu nome não está na lista? Claro que está. Aquela hostess é minha amiga. Mas ela é meio fraquinha, né? A outra era muito melhor. Escuta, você não vai tomar nada proibido, vai? Estou perguntando porque eu me preocupo com a sua saúde. De onde eu tirei essa ideia? Eu vi uma mensagem de texto meio estranha no seu celular. Mas sua mãe me garantiu que não era nada de mais. Ué, não podia mostrar para ela? Desculpa! Eu não sabia. Bom, vamos? Você paga o táxi?

Bom fim de semana para todo mundoooo

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O DIABO VAI DE ELEVADOR

Só hoje fiquei sabendo da existência de uma das contas do Twitter mais engraçadas de todos os tempos: @CondeElevator, ou o elevador da Condé Nast. Para quem não está ligando o nome à p'ssoa, é a editora que publica um monte de revistas importantes, inclusive as glamurosas Vogue, New Yorker e Vanity Fair. E afinal de contas, se até uma cobra e um pavão tuítam, porque não um elevador? E ele jura que são verdadeiros esses fragmentos de conversas entreouvidas, principalmente entre os assistentes/escravos da todo-poderosa Anna Wintour. Desde que começou no sábado passado a conta conseguiu mais de 60 mil seguidores, e o bafafá foi tão grande que a diretoria da Condé Nast resolveu conduzir uma caça às bruxas. A pressão foi tanta que John Januzzi - editor de estilo da revista Lucky e apontado por muitos como a identidade secreta - jogou a toalha e encerrou hoje a brincadeira. É uma pena: alguns dos diálogos são tão fabulosos que parecem escritos por roteiristas com veneno nos dedos. Ainda bem que os 36 tuítes continuam no ar. Aqui vão alguns dos melhores, devidamente traduzidos:

Garota 1: Ela me mandou fazer um milhão de coisas na rua hoje à tarde!
Garota 2: Ooooh, me traz um café gelado na volta?

Mulher ao telefone: Sinto muito que você esteja no hospital, mas eu preciso muito dessas fotos.

(um cara entra usando uma camiseta onde se lê "Legalize Gay")
Alguém da "Teen Vogue" - Essa camiseta é tão dois meses atrás.

Editor das antigas: Você vai naquele troço hoje à noite?
Editor novinho: Que troço?
Editor das antigas: Ah, acho que não vai.

Mulher: O pior é que não posso usar o do Cartier porque a pulseira me dá coceira.

Garota 1: Adoro esse colar! Vi na Banana Republic semana passada e quase comprei.
Garota 2: É Gucci.

Garota 1: Para onde você foi nas férias?
Garota 2: Para o sul da França.
Garota 1: Ouvi falar muito bem de lá.

Alguém da Teen Vogue para outro alguém: Não entendi porque ela ficou brava. Eu gostaria de saber se algo me deixa gorda.

(silêncio) (silêncio) (silêncio) (silêncio) (silêncio)
Estagiária 1: Essa aí era...
Estagiária 2: Era.
#annawintour


GIGANTE EM EXTINÇÃO

"Mamute" é o filme francês mais argentino que eu já vi na vida. Tem muita coisa parecida com o cinema que nossos vizinhos fazem: o roteiro sobre pessoas comuns, os detalhes que misturam ternura e humor negro e até mesmo a câmera, quase sempre parada. Gérard Depardieu faz um recém-aposentado que sai de moto atrás de comprovantes de antigos empregos, que lhe faltam para começar a receber a grana. A moto é uma antiga Mammuth, e este é também o apelido do personagem - totalmente justificado, basta olhar para a gigantesca silhueta do ator. No caminho, ele cruza com parentes que não via há anos, amigos novos e antigos e também o fantasma de uma ex-namorada, feita pela fantasmagórica Isabelle Adjani. A fotografia dói um pouco no olho: é tão granulada que o filme parece ter sido inteirinho rodado com um celular das antigas. O ritmo vacila um pouco, mas há uma cena lá pela metade que quase me fez cuspir o Hall's que eu tinha na boca. É o reencontro com um primo, e é um momento grotesco, engraçadíssimo e melancólico. Valeu o ingresso.

EU TAMBÉM AMO ESCREVER

Agora chega de falar sobre o que os outros escrevem. A "Junior" de agosto chega hoje às bancas, e mais uma vez eu assino a coluna "Pensata" - se não me engano, pela terceira vez em menos de um ano. Claro que o assunto não poderia ser outro: a redução da nota dos EUA pela agência Standard & Poor's. Hahaha, antes fosse. Claro que eu falo da interminável novela do beijo gay na TV, além da pesquisa sobre o casamento igualitário que foi divulgada no final de julho. Ah, e esqueci de linkar aqui no blog minhas última colunas no F5. A de segunda foi sobre o deslocamento de foco que o "Pânico" deu à invasão do funeral de Amy Winehouse. A matéria bombou e recebeu mais de 100 comentários. A de ontem conta em luxo de detalhes minha experiência como jurado no "Quem Convence Ganha Mais". Foi um flop estrondoso e não recebeu nenhum comentário. Que é para não perder a graça.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

PAREDÃO LITERÁRIO

Há dias que o Diego Rebouças, do blog Câmera de Vigilância, vem infernizando os amigos no Facebook para votarem nele. Seu conto "Ponto de Partida" está participando de um concurso chamado "Eu Amo Escrever". É uma espécie de reality show literário, e para passar para a próxima fase o Diego precisa estar entre os 50 mais votados. Bom, eu votei semana passada, mas só hoje tive a pachorra de ler o conto. E adorei - tanto que estou abraçando a causa e divulgando no FB, no Twitter e aqui. Sem a autorização de ninguém, transcrevi o texto na íntegra aí abaixo: é curto e tem um final surpreendente. Depois de ler e gostar, não esqueça de clicar aqui e votar no Diego, quantas vezes puder.


Ponto de partida


Ela era uma dessas personagens de ficção bastante óbvias, muito confortável em sua solidão enquanto o autor não sabia por onde começar ao certo. Foi quando bateram na sua porta.

- É à porta.

- Só que eu prefiro na porta.

- Mas na porta está errado.

- Só que o texto é meu.

- Mas está errado.

Foi quando tocaram a campainha: uma mulher de aparência cansada, respirando com dificuldade, mas sorridente.

- Querida!

- Pois não?

- Finalmente! Me dá um abraço?

- Eu conheço a senhora?

- Como não? Sou sua mãe.

- Que história é essa? Eu não tenho mãe.

- Pois agora você tem. Me dá um abraço?

- Dou coisa nenhuma!

- Mas por quê?

- Minha senhora: eu sou uma personagem de ficção. Desde quando personagem de ficção precisa de mãe? A senhora é uma fraude!

A mulher deu um passo:

- Vê lá como fala com sua mãe.

- O que é isso? Sai daqui ou eu não respondo por mim!

- É assim que você me trata depois de tudo o que eu fiz por você?

- A senhora é uma estranha.

- Então você está começando a me reconhecer?

- A senhora é surda? Não ouviu o que acabei de dizer? Eu nunca estranharia a minha mãe se tivesse uma!

- Você fala isso porque nunca foi mãe.

- E como você sabe?

A mulher deu uma risada.

- Como sua mãe, sei coisas sobre você que talvez nem você mesma um dia vá saber.

- A senhora está me assustando.

- Mais uma prova de que sou sua mãe.

- Com licença. Vou fechar a porta.

- É assim mesmo: um dia, todas fecham.

- Todas quem?

- Todas vocês, filhas ingratas.

- Sai daqui! Quem sabe de mim sou eu!

Os olhos da mulher se encheram de lágrimas. Parecia cansada de tanto tentar. E, no entanto, o sorriso continuava a iluminar seu rosto com obstinação:

- Agora você falou que nem eu falava com a mamãe quando comecei a querer sair de casa.

- Essa é boa! E quem disse que eu quero sair de casa?

- Claro que quer. Todas queremos.

- Não quero não.

- Quer sim. Venha, eu te ajudo.

- Não encosta!

- Não tenha medo, vai ser melhor pra você. Venha.

- Não encosta em mim! Socorro!

- Isso, assim mesmo. É pro seu bem. Venha, venha!

- Alguém tire essa mulher daqui!

- Isso, filha, isso!

- Socorro!

Foi tudo tão rápido que, quando deu por si, já estava toda suja de sangue, tremendo de frio; e então seus pés foram agarrados e seu corpo erguido no ar. Ali, de cabeça para baixo, ela sentiu uma palmada. Não conseguindo mais suportar tanto horror, chorou - chorou o mais forte que podia.

Era um bebê lindo e cheio de saúde. Pesava três quilos e quatrocentos.

Exausta, mas com o sorriso ainda mais obstinado, a mãe olhou e disse:

- Vai se chamar Maria.




E aí, já votou? Aqui, ó.

A sorte do Diego é que eu ainda não sou uma pessoa de posses, senão já contratava um assassino de aluguel. Detesto concorrência.

CHILE CON CARNE

A Igreja Católica tem uma força no Chile que nem em sonho ela teria no Brasil. Lembro que nos anos 90 um dos apresentadores do maior telejornal do país era um padre de batina, que lia as notícias do Vaticano ("o santo papa continua de férias em Castelgandolfo..."). Mais recentemente, conseguiram até mesmo proibir um concerto da satânica banda Guns'n'Roses. Por tudo isto, fico ainda mais admirado com os cojones do presidente Sebastián Piñera, que esta semana cumpriu uma promessa de campanha e enviou para o Congresso um projeto de lei oficializando a união civil para casais do mesmo sexo. Aliás, já na campanha ele fez algo que nem Dilma nem Lula - que se dizem suuuper simpatizantes - jamais fizeram: apareceu ao lado de um casal gay de mãos dadas, como se vê na foto acima. Piñera é conservador e está com a popularidade no subsolo, enquanto Santiago arde com os protestos dos estudantes. Mesmo assim, o sujeito manteve a palavra e assinou o projeto de lei. Claro que ninguém é perfeito: como bom político sabonete, o presidente chileno também disse que é contra o casamento gay. De qualquer forma, esse direitista já deixou os nossos mandatários de esquerda com a cara na poeira.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

FAROFA E SAL GROSSO

"Músicas para Churrasco" é um título apropriado para o novo disco do Seu Jorge. São só 10 canções, a maioria com refrões pegajosos, gostosas feito carne mal passada. Aliás, tudo soa um pouco meio cru - por sinal, o nome do primeiro trabalho do cara, há quase 10 anos. Não há nada de errado com isto. Faixas como a ótima "A Doida" ou "Amiga da Minha Mulher" foram mesmo feitas para se cantar em voz alta, de preferência levemente embriagado e com a boca cheia de vinagrete. A heterossexualidade explícita das letras às vezes descamba para a grosseria: "Japonesa, vou dizer arigatô / anteontem eu comi o seu sushi" não é exatamente um hai-kai. Mas Seu Jorge nunca perde a simpatia, e só no finalzinho é que vislumbramos o planeta melancolia. Tanta despretensão também me deixou faminto: desde que surgiu que Seu Jorge é louvado como um gênio da MPB, um grande inovador, o raio que o parta. O talento desse carioca é evidente, seja como músico, cantor ou mesmo ator. Mas, já com tanto tempo de estrada, acho que ele ainda nos deve um disco fenomenal que justifique essa fama toda, daqueles que dividem a história da música em antes e depois. Algo um pouco mais elaborado do que uma simples carninha grelhada.