terça-feira, 21 de junho de 2011

NINGUÉM QUER SER HOMOFÓBICO

“O Supremo está fora do contexto social, porque o que vemos na sociedade não é aceitação desse tipo de comportamento. Embora eu não discrimine, não há na minha formação qualquer sentimento de discriminação, ainda demandará tempo para isso se tornar norma e valor social”. Essas palavras são do juiz Jeronymo Pedro Villas Boas, aquele que anulou a primeira união estável registrada em Goiás e determinou a todos os cartórios do estado que não registrem mais contratos semelhantes. A decisão é risível e vai ser facilmente derrubada no Supremo, que ainda detém a última palavra sobre o que é ou não constitucional. Mas sem dúvida que é uma manifestação clara do desconforto de amplos setores da sociedade brasileira com a homossexualidade. No entanto, nem mesmo quando respaldado por argumentos supostamente sólidos, legais ou religiosos, esse desconforto assume seu verdadeiro nome: homofobia.

Ninguém quer ser chamado de homofóbico. Num país que teve a História marcada pelos preconceitos, principalmente o racial, ninguém veste de bom grado a carapuça de preconceituoso. Este é o maior defeito que um brasileiro pode ter nos dias de hoje, e todos fogem dele - ou melhor, fogem de seu nome. Mas na prática continuam com as mesmas ideias e atitudes de sempre, agora disfarçadas de "liberdade de expressão" ou "incorreção política".

Nem os mais ferrenhos inimigos dos gays suportam a pecha. Numa marcha evangélica em Brasília, há duas semanas, surgiu a seguinte faixa: "Daqui a pouco vão chamar a Bíblia de homofóbica". Daqui a pouco? A Bíblia SEMPRE foi homofóbica. E machista, escravocrata, racista, incitadora da violência e obcecada por sexo. Praticamente qualquer comportamento pode ser justificado por alguma passagem bíblica. Mesmo quem diz seguir fielmente o que está na Bíblia faz uma leitura seletiva. Mas voltando ao assunto principal: não deixa de ser curioso como padres, pastores, políticos e pessoas comuns correm para se auto-desculpar, ao mesmo em tempo em nos negam direitos iguais. "Não tenho nada contra gays; só não acho certo eles se casarem..." Tem sim, cara. Não existe meia homofobia, assim como não existe meia gravidez. Quem nos acha indignos de um único direito é homofóbico sim, e merece ser apontado na rua.

Palavras são poderosas e precisam ser usadas. Não podemos deixar barato quando um Cheque Bolsonazi vomita barbaridades, ao mesmo tempo em que jura de pés juntos que não está discriminando também. Claro que está. Vamos revidar esse jogo verbal, porque os reaças já não gostam de ser chamados pelo que realmente são. Daqui a pouco vão pensar duas vezes antes de "expressar livremente" suas ideias "politicamente incorretas". E quem sabe, no futuro, mudá-las um pouco.

10 comentários:

  1. CNJ nele. GO é um bastião do Brasil que vai pra frente. #NOT

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  2. Como sempre digo aos militantes de uma causa que considero justa: "I hope you win". Apesar de nunca ter levantado bandeira alguma e ter visto a militância - seja ela qual for - invariavelmente se dissolver com grande parte de seus quadros passando para o lado do "deixa disso" na primeira oportunidade de obter maiores vantagens e benesses. Daí que direitos iguais são uma lógica inquestionável, mas observo sempre uma sucessão de mal entendidos, demagogias e, principalmente, falta de consciência política da parte de quem ingressa nesse tipo de luta. A vitimização e a glamurização do lado que se diz prejudicado é um desses sintomas que me faz sair imediatamente de perto de qualquer ativismo/militância. Assim, outro dia vc classificou o embate homossexuais X homofóbicos como "Guerra Santa" (ahãn, Claudia, senta lá...). Hj vc escreve com todas as letras: "Quem nos acha indignos de um único direito é homofóbico sim, e merece ser apontado na rua". Daí a apoiar a execração pública e o apedrejamento de supostos "inimigos da causa" é uma questão de dois palitos (lembrei daqueles filmes sobre os franceses da resistência indo à forra com os colaboracionistas). Ao mesmo tempo, enquanto passeio pelos comentários desse e de outros blogays, fico pasmo com o caráter super preconceituoso das declarações da maioria que supostamente está "lutando" (sorry, mas quando peso nisso tenho vontade de rir) pelo BEM MAIOR. São tiradas racistas, piadas com pessoas "diferenciadas" , desprezo por quem já passou de uma certa idade e por aí vamos - todos se sentindo superiores e especiais porque, afinal, estão ao lado dos justos. Acredito então, a partir da sua afirmação, que todos esses tb devam ser apontados nas ruas, certo? Passando assim de glamurosas vítimias (homossexuais oprimidos) a algozes raivosos (preconceituosos praticantes). Aí como é que fica? Sobra quem do lado dos bonzinhos, dos justiceiros, da liga "do bem"? Cadê o debate claro, objetivo e adulto? O que vejo na blogaysfera é um monte de meninos agindo como se estivessem brincando de boneca prontos para deixar tudo de lado no primeiro convite para uma boa balada com o DJ da hora, muita bala e darkroom (aliás, onde esperam encontrar o príncipe encantando). A gente ainda não passou dessa lição? Que ano é hj? Grow up, please!

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  3. O Brasil é o país onde até bem pouco tempo atrás se ouvia "Eu não sou racista nem preconceituoso - só não gosto de preto!".
    É preciso que venha a lei e que alguns sejam punidos para que os outros vistam a carapuça.
    Muque de Peão

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  4. Alguns vão para a frente, outros para trás.
    Notícia publicada no site do TJ de SP:
    "O juiz da 8ª Vara Cível de São José do Rio Preto, Paulo Roberto Zaidan Maluf, autorizou o registro de união estável de duas pessoas do mesmo sexo.
    Trata-se de procedimento administrativo de dúvida provocada pelo Ofício de Registro de Títulos e Documentos e Registro Civil de Pessoa Jurídica da comarca, após requerimento de união estável de duas pessoas do mesmo sexo. A fundamentação está prevista no artigo 198 e seguintes da Lei 6.015/73 que dispõe sobre os registros públicos e dá outras providências.
    De acordo com a decisão, “deve ser reconhecida a união de pessoas do mesmo sexo, até mesmo com fator de evolução das relações sociais e seu reflexo no direito, possibilitando o reconhecimento e o exercício da dignidade da pessoa humana, que não podem ficar à margem da sociedade, mas inseridas no contexto social e na nossa realidade cultural, preservando-se até mesmo direitos patrimoniais decorrentes desta união”.
    O magistrado concluiu, ainda, que “a existência de uma nova configuração de família, que não obstante ser formada por pessoas do mesmo sexo biológico, mas ligada pelos laços de afetividade, merece reconhecimento pelo nosso ordenamento como entidade familiar. A união pelo amor é que caracteriza a entidade familiar e não apenas a diversidade de gêneros. E, antes disso, é o afeto a mais pura exteriorização do ser e do viver, de forma que a marginalização das relações mantidas entre as pessoas do mesmo sexo constitui forma de privação do direito à vida, bem como viola os princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade".

    Assessoria de Imprensa TJSP – HS (texto) / AC e Internet (fotos) / DS (arte)

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  5. MM: Debate claro, objetivo e adulto? Com evangélicos? Só posso ter ouvido mal. Eles não conhecem o verbo debater, tente outros verbos como pregar, louvar, curar ou expressões ridículas como "vitória em Cristo", "ex-gay", "escarnecedores"... Não há o que debater com esse povo, são cegos pelo fanatismo. Sua raiva tem a ver com homossexuais que estão one step ahead, isso é o que ficou claro. Luta de classes em Berverly Hills no mungo lgbt não vale, o post trata de homofobia externa.

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  6. Só acho que é uma boa reflexão a do MM, desde que as idéias possam ser debatidas, com pontos discordantes e seus fundamentos... Para mim é temerário uma caça às bruxas, sejam elas quais forem, pois da divergência de idéias pode sim nascer um modo de respeitá-las, através da tolerância. Agora, sobre Bolsonazis e evancegos, não precisamos perder tempo, já que eles não têm fundamento, não têm argumentos, são papagaios repetindo papagaiadas, só isso.

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  7. Ya está Toni !!! Uma Desembargadora "Cojonuda !!!" do TJ de Goiás, nao só anulou as duas senteças, como está pedindo abertura de inquérito disciplinar !!! Ele é Juiz de 1ª Instancia e tem mais é que cumprir o que sentencia o Supremo !

    Fonte : oglobo.com.br

    Saludos desde Tenerife

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  8. Lindo texto, Tony. Parabens! Deveria ser replicado em todos os veículos decentes pra abrir a cabeça dos ainda reticentes...

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  9. vitória em Cristo: já anularam a decisão desse juizinho de m*, ele que agora retorne a sua insignificância.

    melhor ainda, ele e todos os haters desse país deveriam se mudar para Uganda: lá continua em discussão a lei de pena capital para os gays. Esse é o tipo de civilização que pessoas dessa laia querem viver.

    poderia ser até tema da parada gay: vai pra Uganda, cretino! E já leva o deputado bolsochuca junto!

    enquanto nós seguimos nos espelhando - pelo menos nisso - no modelo da Holanda, Dinamarca, Canada... sonhar é preciso! :)

    ivan

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