Perdoe-me por não mudar de assunto, mas tenho a sensação de que ainda vou falar muito da repercussão do "Não Gosto dos Meninos". Adivinha só quem postou o filme em seu blog e, pasme, falou super bem dele: Reinaldo Azevedo, o "tio Rei", colunista da "Veja" e tido por amplos setores da esquerda brasileira como a encarnação de Satanás. Ele é um crítico frequente da militância gay e foi contrário ao kit anti-homofobia recém-abortado pelo governo para salvar Palocci. Mas é a favor da união civil e da adoção de crianças por casais gays, com as mesmas ressalvas que se aplicariam aos casais héteros. Eu só soube disto agora, depois de ler o post em que ele comenta o curta de André Matarazzo e Gustavo Ferri. Pois é - o cara não é o inimigo que eu imaginava ser. Nada como prestar um pouco de atenção antes de atirar pedra, não é mesmo? Enfim, ainda não concordo com muita coisa que o "tio" escreve, mas fico feliz que ele nos seja simpático. E é sensacional que ele tenha divulgado o "Não Gosto...": seus leitores dificilmente frequentam a "blogaysfera", e dá para ver pelos comentários que muitos se emocionaram com o vídeo (outros continuam querendo que a gente arda no mármore do inferno). Enfim, estou achando que esta bola de neve ainda está no alto da montanha. Vem muito mais por aí.
(obrigado ao Marco Antonio pela dica preciosa)
terça-feira, 31 de maio de 2011
A TÍTULO DE EXPLICAÇÃO
Absolutamente NINGUÉM entendeu porque o curta-metragem de André Matarazzo e Gustavo Ferri recebeu o enigmático título de "Não Gosto dos Meninos". Nos blogs e nas redes sociais, as pessoas estão estranhando - e clamando por um esclarecimento. Bom, eu estive na estreia em São Paulo e abri o debate que se seguiu à exibição com a pergunta que estava na cabeça de todos (fui aplaudido). Vou tentar reproduzir aqui a resposta dada pelo André. Segundo ele, muitos dos rapazes que aparecem no filme são rejeitados pelos coleguinhas do mesmo sexo na infância, e a recíproca acaba sendo verdadeira - portanto, eles "não gostam dos meninos". Mais tarde, na adolescência, são as moças entrevistadas que descobrem que não apreciam muito o sexo oposto. E por trás disto tudo está a figura do menino-mor, o pai, uma figura que costuma ser meio ausente na vida de muitos homossexuais (mas não na de todos). Convenceu? Não muito, né? Bom, o André também é publicitário, e claro que também quis dar ao trabalho um título intrigante e chamativo. Não gostou? Então faça o seu proprio vídeo, beee! Digo e repito, quanto mais vídeos melhor.
segunda-feira, 30 de maio de 2011
ANTE-SALAS DO PARAÍSO
É engraçado como as áreas VIP cumprem funções diferentes nas boates gays e héteros. Sim, nas duas só entram os eleitos dos donos da casa: os mais ricos, os melhores clientes, as celebridades, os formadores de opinião. Mas as pessoas têm motivos diferentes para entrar. Os gays a-do-ram se sentir escolhidos, depois de uma vida inteira de rejeição. Somos desprezados desde a escolha dos times de futebol nas aulas de educação física, temos dezenas de direitos elemntares negados pelo Estado e a maioria das religiões nos condena sumariamente ao inferno. Faz um bem desgraçado achar que estamos por cima da carne seca, nem que seja por algumas horas. Daí aquele tumulto habitual na entrada, com o amigo do amigo do vendedor do shopping implorando por uma pulseirinha. Nossos colegas HT também curtem um tratamento diferenciado, mas para eles o maior atrativo não são a vista privilegiada nem os banheiros menos concorridos. São as mulheres. As boas casas do ramo costumam lotar seus reservados de modelos, e entrar lá significa duas coisas para os mancebos: acesso fácil a essas garotas e a oportunidade de pavonear status, o mais potente afrodisíaco que existe. O camarada exala poder, riqueza, conexões - e a beldade se deixa seduzir. Já nas maricotecas esses lugares são quase anódinas. Os meninos mais bonitos não estão forçosamente lá. Quer se dar bem? Então vai para a pista, para o bar, para a fila do estacionamento. Não tem nada menos erótico que uma área VIP de boate gay.
QUEM AMA NÃO MATA
Já disse algumas vezes aqui no blog que os casos de violência contra homossexuais tendem a aumentar. E não é só porque mais vítimas estão prestando queixas à polícia: vão aumentar mesmo, em números absolutos e até em ferocidade. A razão é meio paradoxal. É justamente a maior visibilidade e assertividade de gays e lésbicas que atrai a ira dos homofóbicos. A mesma visibilidade que nos torna aceitáveis pelas pessoas que têm cabeça e coração nos torna alvos fáceis para os trogloditas. Gente que não se conforma com as mudanças e que quer nos "colocar no devido lugar". Um fenômeno semelhante ocorreu na virada dos anos 70 para os 80. Os casos de crimes passionais aumentaram muito, em todas as esferas sociais do Brasil - inclusive nas mais altas. Homens supostamente esclarecidos matavam suas esposas ou namoradas porque elas os traíam, ou pareciam que traíam. Elas também eram mortas por usar minissaia, trabalhar fora, fumar fora ou - num caso ocorrido em Minas - assistir ao programa "Malu Mulher". Em seu livro "Histórias Íntimas", a historiadora Mary del Priore deixa clara a ligação entre esses crimes e o movimento feminista, que estava tornando as mulheres cada vez mais independentes dos homens. Um paralelo claro com os dias de hoje, quando os gays se cansaram de se esconder e sofrer calados. Portanto, preparem-se: vem chumbo grosso por aí. Literalmente.
domingo, 29 de maio de 2011
UMA HISTÓRIA SÓ
Pronto: aqui está em todo seu esplendor e glória o curta-metragem "Não Gosto dos Meninos", que foi inspirado pelo projeto anti-bullying "It Gets Better". A partir de quase 13 horas de material gravado, os diretores André Matarazzo e Gustavo Ferri montaram 18 minutos de depoimentos de um jeito que, apesar das diferenças óbvias entre os participantes, ressalta o que há de comum nos processos de descoberta e aceitação da própria homossexualidade. O filme teve sua estreia mundial quinta passada, na mostra "Possíveis Sexualidades" em Salvador, e na sexta foi exibido no MASP, em São Paulo, para uma plateia de convidados. Nas duas sessões os aplausos foram estrondosos, mas mesmo assim houve quem criticasse. Mais uma vez reclamaram da "pouca" diversidade dos entrevistados. "Mas não tem um travesti sergipano?" "Porque não trouxeram uma velha cafusa do atol de Abrolhos?" É curioso como nós gays reagimos. Fomos muito excluídos a vida toda, começando pelas brincadeiras na escola. Quando alguém se propõe a fazer algo inclusivo, é logo tachado de preconceituoso se não incluir todas as letras da sigla LGBTXYZ, de todos os recantos da Terra. Menas, pessoár: o "Não Gosto dos Meninos" reúne apenas umas 30 pessoas que atenderam voluntariamente ao chamado dos produtores pela internet e que estavam em SP no dia 18 de janeiro, dispostas a dar meia hora de seu tempo. O trabalho nunca se propôs a ser o único, nem o definitivo. Quem se sentiu de fora, que faça o seu - aliás, quanto mais vídeos melhor. Outro comentário negativo foi com respeito à montagem adotada. "As histórias não são iguais para todo mundo, vocês fizeram parecer que são". Claro que não são, dãã. Um mauricinho dos Jardins teve uma trajetória bem distinta de uma trans da favela. Mas esta foi a linha escolhida pelos diretores: mostrar o quanto somos parecidos. E este é exatamente o objetivo do "It Gets Better" original: contar para a bichinha do interior (ou lésbica, ou bi, whatever) que ela não está sozinha no mundo. Que tem muita gente como ela, em todas as classes sociais. E que as coisas podem estar difíceis agora, mas um dia vão melhorar. Só isto.
sábado, 28 de maio de 2011
EMPAREDADOS
O filme cult do momento aqui em São Paulo é o argentino "O Homem do Lado". As poucas salas que o exibem estão com sessões quase lotadas; todas metida a intelectual gosta. Porque, apesar da câmera minimalista e dos planos longuíssimos, o argumento tem evidente apelo populista. Um designer premiado vive numa casa projetada por Le Corbusier. Sua vida de luxo e badalação é literalmente abalada quando o vizinho dos fundos resolve abrir uma janela numa parede comum, com vista para o interior da casa. É uma clássica situação onde todo mundo está errado: o vizinho por não ter conversado antes, o designer por não querer conversar depois. Na verdade, ele não consegue conversar com ninguém. Estea emparedado em si mesmo. A filha mal o olha, sua mulher fala sozinha e uma aluna é mal interpretada em suas verdadeiras intenções. Jé o vizinho é praticamente seu antípoda: grosseiro, expansivo, cafona, quase uma caricatura. Mas tem um bom coração, deixando claro onde estão as preferências da dupla de diretores. Já eu não simpatizei muito com ninguém. Nem mesmo com a casa, a única assinada por Le Corbusier nas Américas. Como detesto o "Corbu" e o acho culpado ou antepassado de algumas das maiores atrocidades arquitetônicas do século 20, queria mais que se abrissem muitos buracos em todas as paredes.
sexta-feira, 27 de maio de 2011
FUI HÉTERO, JESUS ME LIBERTOU
Em meio a tanta treva emanada pelos parlamentares ligados aos evangélicos e à Igreja Católica, é reconfortante perceber que muita gente religiosa também apoia a campanha pelos direitos igualitários. O Diversidade Católica é um grupo leigo que busca conciliar a fé e a homossexualidade - algo que eu até tentei, mas não consegui. Faz tempo que renunciei à minha identidade católica, mas admiro muitíssimo quem insiste nessa luta. De vez em quando eles comentam aqui no blog ou me citam no Twitter e acho que são parceiros fundamentais no longo caminho que ainda temos pela frente. Esta semana um leitor chamado Flavio me indicou outro blog interessante, o Ex-Hétero, que reúne depoimentos de pessoas que passaram por "terapias" para deixarem de ser gays. É fascinante como muitos não abandonaram a religião, apesar de terem sido forçados por suas igrejas a lutar contra si mesmos. Existem muitos, muitos outros grupos e blogs que batalham pela causa LGBT a aprtir de uma perspectiva religiosa - até mesmo um de mórmons, geralmente tidos como alguns dos nossos piores "inimigos". São praticamente agentes infiltrados dentro do campo adversário, e por isto mesmo precisamos todos conhecê-los e apoiá-los.
quinta-feira, 26 de maio de 2011
PROPAGANDA DE OPÇÕES SEXUAIS
Dilma está mesmo disposta a passar recibo de escrota? Que merda foi essa de dizer que "não aceita propaganda de opções sexuais"? Ouvi direito? "Opção"? Ela mesma admitiu não ter visto os vídeos do famoso Kit Anti-Homofobia, só um trechinho pela televisão - e que "não concordava". Mas com o Palocci ela concorda, né?
Bom, aqui estão os vídeos. Evidentemente, eles não "ensinam" ninguém a ser homossexual. Só dizem que a ORIENTAÇÃO sexual de uma pessoa não é nada para se ter vergonha, seja ela qual for. As crianças das escolas públicas não os verão mais em sala de aula, mas o mínimo que podemos fazer agora é passá-los adiante. Poste, tuíte, facebookeie, divulgue como puder.
O governo de fato está cagando para os gays, com a honrosa exceção do Poder Judiciário. Resta a iniciativa privada. Muitos especialistas já disseram que os retratos positivos de gays e lésbicas nas novelas são mais poderosos do que esses vídeos. E o filme "Não Gosto dos Meninos", inspirado na campanha "It Gets Better", finalmente está pronto. Amanhã à noite será exibido para convidados no MASP, em São Paulo, e com certeza depois estará disponível na internet. Claro que o postarei aqui no blog. A luta continua.
Bom, aqui estão os vídeos. Evidentemente, eles não "ensinam" ninguém a ser homossexual. Só dizem que a ORIENTAÇÃO sexual de uma pessoa não é nada para se ter vergonha, seja ela qual for. As crianças das escolas públicas não os verão mais em sala de aula, mas o mínimo que podemos fazer agora é passá-los adiante. Poste, tuíte, facebookeie, divulgue como puder.
O governo de fato está cagando para os gays, com a honrosa exceção do Poder Judiciário. Resta a iniciativa privada. Muitos especialistas já disseram que os retratos positivos de gays e lésbicas nas novelas são mais poderosos do que esses vídeos. E o filme "Não Gosto dos Meninos", inspirado na campanha "It Gets Better", finalmente está pronto. Amanhã à noite será exibido para convidados no MASP, em São Paulo, e com certeza depois estará disponível na internet. Claro que o postarei aqui no blog. A luta continua.
AUMENTA QUE ISSO AÍ É ROCK'N'ROLL
Depois de um período de "teasers" e vazamentos mais longo que os 14 meses da gestação de Mariah Carey, finalmente saiu "Born This Way". São 17 faixas tumultuadas, gravadas nas madrugadas da recém-terminada turnê "Monster Ball". Lady Gaga é uma estrela hiper-ativa e parecer sofrer de déficit de atenção: o novo disco não tem lá muita coerência interna e a ordem das músicas parece ter sido decidida no par ou ímpar. Mas quem prestar atenção vai perceber uma certa dualidade. As letras abandonaram o escapismo de "Just Dance" e agora têm um tom político, com mensagens de liberdade e "empowerment". Gaga parece ver a si mesma como uma nova messias - o que até faz sentido, pois de certo modo ela é filha de Madonna. Mas musicalmente o CD mostra outra pessoa: Stefani Germanotta, a garota roqueira que cresceu entre os 80 e os 90 ouvindo Bon Jovi e Guns'n'Roses. Várias canções têm pegada de "power ballad"; "Yoü and I" traz até a participação de Brian May, o guitarrista do Queen. Outras ecoam melodias conhecidas - como a introdução de "Americano", quase idêntica à do clássico kitsch "Mambo Italiano". A edição "deluxe" vem com um CD extra de remixes, nenhum deles indispensável. Mas pelo menos mostra só um detalhe da capa original, uma das mais medonhas de todos os tempos. "Born This Way" não é a oitava maravilha do mundo, mas é um retrato fiel de sua autora: tem momentos de brilho e outros excessivos, muitas vezes simultâneos.
quarta-feira, 25 de maio de 2011
O FIM DA LUA-DE-MEL
E não é que eu estava gostando desse começo de governo? Não votei na Dilma, mas só o fato dela ter um estilo pessoal totalmente diferente do de Lula já é um alívio. Difícil imaginar o ex-presidente mantendo o Museu da Acrópole, em Atenas, aberto até mais tarde porque quer fazer uma visita minuciosa. Melhor ainda: Dilma me passava a impressão de estar realmente engajada na luta pelos direitos igualitários (coisa que com Lula nunca passou da boca para fora). Mas se ela estava, não está mais. É uma vergonha o governo ter cedido à chantagem da bancada evangélica e o aberto mão do kit anti-homofobia. Pior ainda é a determinação de que tudo que envolva "costumes" seja submetido à consulta popular - como é do conhecimento geral, minorias não vencem eleições. Começo a suspeitar que temos uma presidente fraca e refém do que existe de pior no PT. O tal do apartamento do Palocci está saindo realmente caro: Dilma acabou de nos vender para pagar as prestações.
A GUERRA DA CIRCUNCISÃO
Soldados ingleses que lutaram no norte da África durante a 2a. Guerra Mundial fizeram uma descoberta desagradável. A areia fina do deserto conseguia atravessar suas roupas e chegar até uma região íntima e super sensível do corpo: o prepúcio. Ingleses não costumam ser circuncidados, o que levou alguns pesquisadores a concluir que a circuncisão surgiu no antigo Egito por uma questão prática. Só mais tarde ela adquiriu conotação religiosa. Os judeus circuncidam seus filhos logo ao nascer. Os muçulmanos, na adolescência. Sempre em rituais sem anestesia…
Os Estados Unidos são o único país do Ocidente onde a maioria doos homens adultos são “cut” – cerca de 80% dos adultos enfrentaram a faca. Mas nos últimos anos apenas um terço dos recém-nascidos passa pela operação. Além do crescimento da população latina – que, culturalmente, prefere manter suas partes intactas – há também um forte movimento contrário à circuncisão. Essa turma nem quer saber dos benefícios comprovados da prática, como a prevenção de alguns tipos de câncer e mais proteção contra a contaminação pelo HIV durante o sexo hétero. Os mais extremados chamam-na de “mutilação” e apelam até para os direitos humanos. E acabam de conquistar uma vitória política: conseguiram colocar na cédula das eleições municipais de São Francisco a consulta sobre um projeto de lei que proibiria a circuncisão na cidade. Nenhum menino poderia ser submetido a esta “barbaridade” antes dos 18 anos, só por razões médicas.
E por razões religiosas? O projeto diz explicitamente que não. E aí o debate entra no terreno minado da liberdade religiosa. Muitos advogados já estão dizendo que uma lei dessas seria simplesmente inconstitucional. Mas existe um precedente perigoso: há alguns anos, a Suprema Corte dos EUA proibiu que os integrantes de uma seita marginal consumissem peyote, um cacto com propriedades alucinógenas. “Nenhuma religião pode estar acima da lei”. Faz sentido, se esta religião pregar coisas como sacrifícios humanos. Mas o judaísmo e o islã são religiões tradicionais. Entre os judeus, a circuncisão tem uma dimensão metafísica: é o símbolo da aliança entre o homem e Deus. Querer proibir esta tradição milenar por decreto cai em algum ponto entre a ingenuidade e o antissemitismo. O debate mal começou por lá e tenho sérias dúvidas de que a tal lei seja aprovada, mesmo num lugar odara como é São Francisco. Mas não deixa de ser uma discussão interessante.
(Leitores com interesse jurídico e que entendam inglês podem baixar o projeto de lei daqui.)
Os Estados Unidos são o único país do Ocidente onde a maioria doos homens adultos são “cut” – cerca de 80% dos adultos enfrentaram a faca. Mas nos últimos anos apenas um terço dos recém-nascidos passa pela operação. Além do crescimento da população latina – que, culturalmente, prefere manter suas partes intactas – há também um forte movimento contrário à circuncisão. Essa turma nem quer saber dos benefícios comprovados da prática, como a prevenção de alguns tipos de câncer e mais proteção contra a contaminação pelo HIV durante o sexo hétero. Os mais extremados chamam-na de “mutilação” e apelam até para os direitos humanos. E acabam de conquistar uma vitória política: conseguiram colocar na cédula das eleições municipais de São Francisco a consulta sobre um projeto de lei que proibiria a circuncisão na cidade. Nenhum menino poderia ser submetido a esta “barbaridade” antes dos 18 anos, só por razões médicas.
E por razões religiosas? O projeto diz explicitamente que não. E aí o debate entra no terreno minado da liberdade religiosa. Muitos advogados já estão dizendo que uma lei dessas seria simplesmente inconstitucional. Mas existe um precedente perigoso: há alguns anos, a Suprema Corte dos EUA proibiu que os integrantes de uma seita marginal consumissem peyote, um cacto com propriedades alucinógenas. “Nenhuma religião pode estar acima da lei”. Faz sentido, se esta religião pregar coisas como sacrifícios humanos. Mas o judaísmo e o islã são religiões tradicionais. Entre os judeus, a circuncisão tem uma dimensão metafísica: é o símbolo da aliança entre o homem e Deus. Querer proibir esta tradição milenar por decreto cai em algum ponto entre a ingenuidade e o antissemitismo. O debate mal começou por lá e tenho sérias dúvidas de que a tal lei seja aprovada, mesmo num lugar odara como é São Francisco. Mas não deixa de ser uma discussão interessante.
(Leitores com interesse jurídico e que entendam inglês podem baixar o projeto de lei daqui.)
terça-feira, 24 de maio de 2011
DE QUATRO
Este ano resolvi fazer algo de diferente. Hoje meu blog completa quatro anos de glórias, mas, ao invés do tradicional banquete para 200 talheres, preferi entrevistar a mim mesmo. Não é só uma egotrip: também estou expondo algumas das perguntas que me faço o tempo todo, porque afinal de contas blog é para a gente se expor. Simbora:
Você não está enjoado?
Alguém enjoa de escovar os dentes? Não estou dizendo que o blog virou obrigação, mas faz parte da minha rotina. Desde agosto de 2007 que eu escrevo aqui todos os dias. Só faltei uma vez, por causa do trabalho. Chova ou faça sol, esteja onde eu esteja, lá vou eu atrás de uma conexão estável.
Mas blog é uma coisa meio 2003, né não?
É. E olha que eu cheguei tarde, demorei muito para criar coragem. Mas 2007 foi o ano do boom da "blogaysfera" (odeio essa palavra). De repente parecia que todas as guei tinha blog. Muitos já acabaram, outros surgiram mais tarde, e muita gente hoje só quer saber do Twitter e do Facebook. Nada contra, mas sinto um pouco de saudade daquela época.
Quais seus blogs favoritos?
Tenho um carinho especial pelos meus "filhos", os blogs que de alguma maneira foram influenciados por mim. Não passo um dia sem ler meus "3M": Marta Matui, Mundo em Meus Olhos e Muque de Peão. Hoje são eles que me influenciam. Também queria que o Introspective escrevesse com mais frequência.
Não tem dias em que não tem assunto?
Ô se tem. Já pensei em postar receita de bolo e acrescentar "é o que temos para o momento". Mas sempre pinta alguma coisa. Além do mais, tenho a sensação de que se eu faltar um só dia nunca mais ninguém vai me ler.
Muita gente não lê mais...
É verdade. Percebo isto pelos comentários: pessoas que comentavam quase todos os posts há uns dois anos hoje não dão mais o ar de sua graça. É natural, a fila anda, as coisas mudam. É meio cíclico: neguinho descobre o blog, se encanta, vicia, depois descobre coisa melhor para fazer. Mas a audiência nunca esteve tão alta.
Porque você publica tantos comentários negativos?
Para me forçar a ouvir os outros. Na verdade, eles diminuíram um pouco. Não aceito mais os muito ofensivos, que descambam para o insulto pessoal e são sempre assinados por anônimos. Mas o que incomodam mesmo são os que vêm de gente que eu conheço.
Os temas mudaram muito?
Já falei bem mais da noite, hoje não falo tanto. Por outro lado o combate à homofobia e a luta pelos direitos igualitários cresceram de importância, apesar de eu sempre ter me manifestado. Hoje virei militante da causa.
Você nunca dá o braço a torcer?
Como não? Já corrigi mil coisas, já pedi desculpas, já dei voltas de 180 graus. Mas não faço blog para me aborrecer. É minha válvula de escape e minha rede social particular.
Quando que seu blog vai acabar?
No dia 21 de maio de 2011, quando serei arrebatado aos céus.
Você não está enjoado?
Alguém enjoa de escovar os dentes? Não estou dizendo que o blog virou obrigação, mas faz parte da minha rotina. Desde agosto de 2007 que eu escrevo aqui todos os dias. Só faltei uma vez, por causa do trabalho. Chova ou faça sol, esteja onde eu esteja, lá vou eu atrás de uma conexão estável.
Mas blog é uma coisa meio 2003, né não?
É. E olha que eu cheguei tarde, demorei muito para criar coragem. Mas 2007 foi o ano do boom da "blogaysfera" (odeio essa palavra). De repente parecia que todas as guei tinha blog. Muitos já acabaram, outros surgiram mais tarde, e muita gente hoje só quer saber do Twitter e do Facebook. Nada contra, mas sinto um pouco de saudade daquela época.
Quais seus blogs favoritos?
Tenho um carinho especial pelos meus "filhos", os blogs que de alguma maneira foram influenciados por mim. Não passo um dia sem ler meus "3M": Marta Matui, Mundo em Meus Olhos e Muque de Peão. Hoje são eles que me influenciam. Também queria que o Introspective escrevesse com mais frequência.
Não tem dias em que não tem assunto?
Ô se tem. Já pensei em postar receita de bolo e acrescentar "é o que temos para o momento". Mas sempre pinta alguma coisa. Além do mais, tenho a sensação de que se eu faltar um só dia nunca mais ninguém vai me ler.
Muita gente não lê mais...
É verdade. Percebo isto pelos comentários: pessoas que comentavam quase todos os posts há uns dois anos hoje não dão mais o ar de sua graça. É natural, a fila anda, as coisas mudam. É meio cíclico: neguinho descobre o blog, se encanta, vicia, depois descobre coisa melhor para fazer. Mas a audiência nunca esteve tão alta.
Porque você publica tantos comentários negativos?
Para me forçar a ouvir os outros. Na verdade, eles diminuíram um pouco. Não aceito mais os muito ofensivos, que descambam para o insulto pessoal e são sempre assinados por anônimos. Mas o que incomodam mesmo são os que vêm de gente que eu conheço.
Os temas mudaram muito?
Já falei bem mais da noite, hoje não falo tanto. Por outro lado o combate à homofobia e a luta pelos direitos igualitários cresceram de importância, apesar de eu sempre ter me manifestado. Hoje virei militante da causa.
Você nunca dá o braço a torcer?
Como não? Já corrigi mil coisas, já pedi desculpas, já dei voltas de 180 graus. Mas não faço blog para me aborrecer. É minha válvula de escape e minha rede social particular.
Quando que seu blog vai acabar?
No dia 21 de maio de 2011, quando serei arrebatado aos céus.
segunda-feira, 23 de maio de 2011
FALTOU RADICALIZAR
Não é de bom tom discutir política ou religião em ocasiões meramente sociais. Por isto mesmo estes dois assuntos são ótimos para a comédia, ou pelo menos deveriam ser. Mas não foi o que aconteceu em "Santa Paciência": este filme inglês parte de uma premissa tentadora, mas não consegue ir muito longe. A história de um muçulmano que descobre ser filho adotivo e que seus pais biológicos eram judeus poderia ter rendido muitas gargalhadas e ofendido metade da humanidade, mas não foi isto o que aconteceu. O roteiro trata com luvas de pelica até mesmo os radicais islâmicos e acaba andando em círculos, até desembocar numa resolução totalmente absurda. É uma pena, porque há alguns bons momentos e uma discussão que prometia ser interessante - a arbitrariedade das nossas identidades culturais. O elenco é esforçado e conta com a linda Archie Panjabi, que ganhou o Emmy de atriz coadjuvante por seu papel na série "The Good Wife". Mas a boa ideia do argumento é jogada fora. Agora, paciência mesmo a gente tem que ter com o exibidor brasileiro, que não teve coragem de traduzir "The Infidel", o título original.
TRISTEZA MODERNA
Os patrocinadores dos festivais de música eletrônica gostam de vender o gênero como se fosse uma atualização das marchinhas de carnaval. Vamos pular! Jogar os braços para cima! Beijar estranhos! Mas a verdade é que nem mesmo a house music é alegre o tempo todo. Veja só o novo disco do Hercules & Love Affair. A melancolia começa já no título, "Blue Songs". Muitas das faixas até têm BPM para enfrentar uma pista, mas o clima geral é de contenção, quase recolhimento. Talvez não por acaso, o CD termina com uma leitura lentíssima de "It's Alright" dos Pet Shop Boys, cuja versão original aparecia num disco daquela dupla chamado - ahá - "Introspective". Mas claro que um remix animadérrimo pode transformar "Painted Eyes" num hino quase à altura da já clássica "Blind".
"The Fall", dos Gorillaz, é ainda mais para dentro. O grande diferencial deste trabalho da banda semi-virtual de Damon Albarn é que os instrumentos são quase todos aplicativos do iPad. Gravado em quartos de hotel durante uma turnê pela América do Norte, muitas músicas têm nomes das cidades onde foram feitas. Aliás, chamá-las de "músicas" é exagero. São colagens de sons ambientes, peças atmosféricas, loops que talvez façam sentido se o ouvinte já estiver em alfa. "Phoner to Arizona" tem até clip, mas só vai tocar nas rádios de Marte.
Moby sempre foi tristonho. Até mesmo seu mega-sucesso "Play" tem passagens de extremo desalento. "Destroyed" é menos deprê que seu antecessor "Wait for Me", apesar do título agourento. Confesso que já gostei mais do Moby: tem horas em que o acho seu bom-mocismo irritante, e olha que ele nem é tão bonzinho assim. Admitiu ter problemas com drogas e escreveu o novo disco durante longas noites de insônia. O single "The Day" tem um quê de David Bowie e não chega a ser totalmente para baixo. Mas juro que depois de ouvir esses três CDs de enfiada fiquei com vontade de me jogar no Pré-Caju.
"The Fall", dos Gorillaz, é ainda mais para dentro. O grande diferencial deste trabalho da banda semi-virtual de Damon Albarn é que os instrumentos são quase todos aplicativos do iPad. Gravado em quartos de hotel durante uma turnê pela América do Norte, muitas músicas têm nomes das cidades onde foram feitas. Aliás, chamá-las de "músicas" é exagero. São colagens de sons ambientes, peças atmosféricas, loops que talvez façam sentido se o ouvinte já estiver em alfa. "Phoner to Arizona" tem até clip, mas só vai tocar nas rádios de Marte.
Moby sempre foi tristonho. Até mesmo seu mega-sucesso "Play" tem passagens de extremo desalento. "Destroyed" é menos deprê que seu antecessor "Wait for Me", apesar do título agourento. Confesso que já gostei mais do Moby: tem horas em que o acho seu bom-mocismo irritante, e olha que ele nem é tão bonzinho assim. Admitiu ter problemas com drogas e escreveu o novo disco durante longas noites de insônia. O single "The Day" tem um quê de David Bowie e não chega a ser totalmente para baixo. Mas juro que depois de ouvir esses três CDs de enfiada fiquei com vontade de me jogar no Pré-Caju.
domingo, 22 de maio de 2011
ÁGUAS PASSADAS
"Piratas da Caribe" já faz parte da paisagem. É um dos features do mundo moderno, como os celulares ou as bebidas energéticas. Por isto, a chegada de mais um filme da série - o quarto - é quase um não-evento. Parece que o capitão Jack Sparrow e sua turma estão aí desde sempre. O que é até uma pena, porque o personagem, na interpretação genial de Johnny Depp, é iconoclasta. Maquiado, desmunhecado, de sexualidade dúbia, é um marco na história do cinema. Mas depois de tantas continuações já está quase domesticado. Dessa vez arranjaram uma namorada para ele: Penélope Cruz, que tem uma química evidente com Depp e aparece com peitos enormes por causa da gravidez durante as filmagens. O par funciona muito bem na tela, mas o resto não. Quase toda a ação se passa à noite e o resultado são imagens quase sempre escuras. A trama é uma corrida pela mítica fonte da juventude e evapora da cabeça antes mesmo de subirem os créditos. Mas pelo menos assiti a este "Navegando por Águas Misteriosas" do jeito certo: em 3D, com um balde de pipoca na mão e meu sobrinho de 10 anos ao lado. Ele adorou, e é isto o que importa.
sábado, 21 de maio de 2011
BEIJEI A BOCA DE QUEM NÃO DEVIA
Conforme o previsto, o mundo acabou hoje, às 6 horas da manhã. Ou melhor, começou a acabar. Às 6 em ponto, sempre em hora local, um tremor de terra de intensidade inédita destruiu praticamente tudo o que estava em pé. À medida em que a Terra foi girando e novos fusos horários marcavam as 6, o mega-terremoto chegava, derrubando muita gente que ainda estava na cama direto para a tumba. Muitos, mas não todos. Cerca de 200 milhões de "cristões" subiram diretamente aos céus. Ungidos como Malafaia, Garotinho, Kaká e Regininha Poltergeist se foram, ao encontro de Deus - quero só ver a cara deles quando descobrirem que Deus é mulher, negra e lésbica. Dessa cambada toda, só vou ter saudades da Cleycianne. Quanto ao resto de nós, finalmente livres dos evangélicos e afins, só tenho uma coisa a dizer: LET'S PAAAAARTY!!!
Bom demais para ser verdade, não é mesmo? O que mais me irrita é que esses fanáticos não se arrependem, mesmo com a chapa de ferro da realidade enfiada em suas fuças. Dizem que foi tudo um erro de cálculo e que o fim continua próximo - isto depois de darem entrevistas e mais entrevistas garantindo que dessa vez o mundo acaba mesmo, não tem erro, pode vir cobrar depois. O pessoal da minha geração talvez se lembre dos Borboletas Azuis, que surgiram na Paraíba e pregavam o apocalipse para o dia 13 de maio de 1980. Não aconteceu nada, dããã, mas até o ano passado a seita ainda tinha duas seguidoras (OK, não exatamente um sucesso de bilheteria). O "pastor" americano Harold Camping, que difundiu através de um programa de rádio a ideia de que a tão esperada "rapture" aconteceria hoje, disse que a ira de Deus se deve ao casamento gay. Já que Deus não se manifestou contra, então isto quer dizer que Ele nos apoia? Vamos comemorar o tempo extra que nos foi concedido ao som do samba clássico de Assis Valente, "E o Mundo Não se Acabou", lançado por Carmen Miranda e muitas vezes regravado:
Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar
Por causa disto a minha gente lá em casa começou a rezar
Até disseram que o sol ia nascer antes da madrugada
Por causa disto nesta noite lá no morro não se fez batucada
Acreditei nessa conversa mole
Pensei que o mundo ia se acabar
E fui tratando de me despedir
E sem demora fui tratando de aproveitar
Beijei a boca de quem não devia
Peguei na mão de quem não conhecia
Dancei um samba em traje de maiô
E o tal do mundo não se acabou
Peguei um gajo com quem não me dava
E perdoei a sua ingratidão
E festejando o acontecimento
Gastei com ele mais de quinhentão
Agora soube que o gajo anda
Dizendo coisa que não se passou
Ih, vai ter barulho e vai ter confusão
Porque o mundo não se acabou
Repare como a Paula Toller não canta exatamente "peguei na mão"...
Bom demais para ser verdade, não é mesmo? O que mais me irrita é que esses fanáticos não se arrependem, mesmo com a chapa de ferro da realidade enfiada em suas fuças. Dizem que foi tudo um erro de cálculo e que o fim continua próximo - isto depois de darem entrevistas e mais entrevistas garantindo que dessa vez o mundo acaba mesmo, não tem erro, pode vir cobrar depois. O pessoal da minha geração talvez se lembre dos Borboletas Azuis, que surgiram na Paraíba e pregavam o apocalipse para o dia 13 de maio de 1980. Não aconteceu nada, dããã, mas até o ano passado a seita ainda tinha duas seguidoras (OK, não exatamente um sucesso de bilheteria). O "pastor" americano Harold Camping, que difundiu através de um programa de rádio a ideia de que a tão esperada "rapture" aconteceria hoje, disse que a ira de Deus se deve ao casamento gay. Já que Deus não se manifestou contra, então isto quer dizer que Ele nos apoia? Vamos comemorar o tempo extra que nos foi concedido ao som do samba clássico de Assis Valente, "E o Mundo Não se Acabou", lançado por Carmen Miranda e muitas vezes regravado:
Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar
Por causa disto a minha gente lá em casa começou a rezar
Até disseram que o sol ia nascer antes da madrugada
Por causa disto nesta noite lá no morro não se fez batucada
Acreditei nessa conversa mole
Pensei que o mundo ia se acabar
E fui tratando de me despedir
E sem demora fui tratando de aproveitar
Beijei a boca de quem não devia
Peguei na mão de quem não conhecia
Dancei um samba em traje de maiô
E o tal do mundo não se acabou
Peguei um gajo com quem não me dava
E perdoei a sua ingratidão
E festejando o acontecimento
Gastei com ele mais de quinhentão
Agora soube que o gajo anda
Dizendo coisa que não se passou
Ih, vai ter barulho e vai ter confusão
Porque o mundo não se acabou
Repare como a Paula Toller não canta exatamente "peguei na mão"...
FALTA MUITO PARA CHEGAR?
"Caminho da Liberdade" cumpre o que promete. O espectador realmente sai do cinema com a sensação de que andou a pé por milhares e milhares de quilômetros. Não é exatamente um filme chato, mas é exaustivo. O roteiro é baseado numa história mais ou menos verídica (há controvérsias): um grupo de prisioneiros consegue escapar de um gulag soviético na Sibéria e foge rumo ao sul. Enfrentam florestas geladas, nuvens de mosquitos às margens do lago Baikal e areias escaldantes nos desertos da Mongólia. Quando finalmente alcançam o Tibete, eu já estava feito criança chata no banco de trás do carro: "falta muito para chegar?" Até o diretor Peter Weir - que cometeu obras-primas como "Sociedade dos Poetas Mortos" e "O Show de Truman" - parece sentir a exasperação do público, tanto que a travessia do Himalaia dura apenas alguns minutos. Mas o maior problema de "Caminho..." nem é o caminho em si. É a pouca profundidade dos personagens. O protagonista Jim Sturgess é um ator tão pouco marcante que, toda vez que ele se misturava ao grupo, eu não lembrava mais quem era. Talentos como Ed Harris, Colin Farrell e Saoirse Ronan fazem papéis coadjuvantes que não acrescentam tudo o que poderiam. Sobram as paisagens exóticas da Ásia (na verdade filmadas na Romênia e no Marrocos) - o mínimo que se espera de uma produtora chamada National Geographic Entertainment.
sexta-feira, 20 de maio de 2011
¡VENGAAAANZAAA!
Todo publicitário é um popstar frustrado. Essa característica da minha profissão está maravilhosamente captada por este filminho dirigido por Adriana Laham, com quem trabalhei em Buenos Aires há dois meses. É para o prêmio Lapiz de Platino, um dos mais importantes da propaganda argentina. Detalhe curioso: todos os atores são, na verdade, profissionais de criação. Já sentiram na pele que habitam o que estão interpretando...
quinta-feira, 19 de maio de 2011
CONCURSO DE MISTER
Que Bel Ami que nada. Ninguém consegue reunir mais e melhores meninos bonitos do que o Juliano Corbetta. Hoje fui ao lançamento de mais um número da revista "Made in Brazil", o 3. É um tapa na cara atrás do outro: confira aqui neste preview no site Models.com. E também no vídeo acima - dá para não amar a maneira como os garotos se apresentam? "I'm André Ziehe, I'm from Rio de Janeiro, I'm 27 years old"... Só faltou dizer "and I dream of world peace". Ah, e clique na foto que ela CRESCE!
YES WE CANNES
São três os grandes festivais de cinema no mundo: Berlim, Cannes e Veneza. O primeiro acontece no auge do inverno numa cidade que não é exatamente deslumbrante. O último é o mais antigo e tem bastante glamour, mas empalidece perto do rvial francês. Cannes é O festival, um evento mítico que chega a vencer os Oscars nos quesitos escândalos e badalação. A edição 2011 está rolando desde a semana passada e termina no próximo domingo. Jornalistas apontam que o vencedor deve ser "A Árvore da Vida", do semi-recluso Terrence Malick, ou algum filme obscuro que passou meio desapercebido até agora. Mas o que importa mesmo é a enorme quantidade de títulos que estreiam lá, para depois dominar as mostras do resto do ano (inclusive as do Rio e São Paulo). Lá vão alguns trailers que me deixaram intrigado:
Não sou muito fã do Lars Von Trier. Odiei "Dançando no Escuro", adorei "Dogville", achei o recente "Anticristo" um manifesto misógino. Hoje a direção do festival declarou-o "persona non grata" por ele ter se assumido "nazista" durante uma coletiva de imprensa. Já tem gente defendendo-o e reclamando do patrulhamento ideológico, mas acho que o buraco é mais em cima. Von Trier teve sua família perseguida pelos nazis e "Dogville" é uma alegoria deste episódio pessoal. Mas, conscientemente ou não, ele investe na imagem de enfant terrible que fala asneiras travestidas de grande arte. Acho que Cannes se encheu dele, só isto. Vamos ver se sobra algum premiozinho para "Melancholia", que pelo que se vê aí em cima pode ser tanto uma obra-prima ou uma barafunda sem pé nem cabeça (ou ambas, já que não são coisas excludentes).
"O Artista" entrou na competição oficial na última hora e já desponta como um dos mais cotados. É um filme mudo e em preto-e-branco, mas parece que esta aposta arriscada do diretor Michael Hazanavicius deu certíssimo. Assisti aos dois filmes anteriores do cara, comédias sobre o espião trapalhão OSS 117, e nem suspeitei de que havia um artista de verdade ali dentro.
Causando celeuma numa das mostras paralelas está "A Conquista", sobre a campanha eleitoral de Sárkozy. Ao contrário dos americanos, os franceses não estão acosutmados a ver seus políticos na tela, ainda mais "em tempo real". E muito menos tendo suas intimidades devassadas: o filme conta como Cécilia, a antecessora de Carla Bruni, se apaixonou por outro homem mas esperou até o final da eleição para se divorciar do marido. Será que Sarko irá se vingar dos produtores, como - dizem - armou para cima de seu rival potencial no ano que vem, Dominique Strauss-Khan? Não resisto a citar o humorista americano Andy Borowitz: o ex-chefe do FMI não irá mais concorrer à presidência da França, mas já é o favorito para primeiro-ministro da Itália.
Agora, nenhum filme promete ser mais polêmico do que o alemão "Michael". O diretor Markus Schleinzer foi assistente de Michael Haneke e parece ter herdado deste a câmera lacônica. O assunto é simplemente horripilante: um sujeito que mantém um garotinho em cárcere privado. Tenho medo que este filme reforce a noção bolsonazi de que homossexualidade e pedofilia são a mesma coisa, mas o que seria da vida se não houvesse controvérsia?
Não sou muito fã do Lars Von Trier. Odiei "Dançando no Escuro", adorei "Dogville", achei o recente "Anticristo" um manifesto misógino. Hoje a direção do festival declarou-o "persona non grata" por ele ter se assumido "nazista" durante uma coletiva de imprensa. Já tem gente defendendo-o e reclamando do patrulhamento ideológico, mas acho que o buraco é mais em cima. Von Trier teve sua família perseguida pelos nazis e "Dogville" é uma alegoria deste episódio pessoal. Mas, conscientemente ou não, ele investe na imagem de enfant terrible que fala asneiras travestidas de grande arte. Acho que Cannes se encheu dele, só isto. Vamos ver se sobra algum premiozinho para "Melancholia", que pelo que se vê aí em cima pode ser tanto uma obra-prima ou uma barafunda sem pé nem cabeça (ou ambas, já que não são coisas excludentes).
"O Artista" entrou na competição oficial na última hora e já desponta como um dos mais cotados. É um filme mudo e em preto-e-branco, mas parece que esta aposta arriscada do diretor Michael Hazanavicius deu certíssimo. Assisti aos dois filmes anteriores do cara, comédias sobre o espião trapalhão OSS 117, e nem suspeitei de que havia um artista de verdade ali dentro.
Causando celeuma numa das mostras paralelas está "A Conquista", sobre a campanha eleitoral de Sárkozy. Ao contrário dos americanos, os franceses não estão acosutmados a ver seus políticos na tela, ainda mais "em tempo real". E muito menos tendo suas intimidades devassadas: o filme conta como Cécilia, a antecessora de Carla Bruni, se apaixonou por outro homem mas esperou até o final da eleição para se divorciar do marido. Será que Sarko irá se vingar dos produtores, como - dizem - armou para cima de seu rival potencial no ano que vem, Dominique Strauss-Khan? Não resisto a citar o humorista americano Andy Borowitz: o ex-chefe do FMI não irá mais concorrer à presidência da França, mas já é o favorito para primeiro-ministro da Itália.
Agora, nenhum filme promete ser mais polêmico do que o alemão "Michael". O diretor Markus Schleinzer foi assistente de Michael Haneke e parece ter herdado deste a câmera lacônica. O assunto é simplemente horripilante: um sujeito que mantém um garotinho em cárcere privado. Tenho medo que este filme reforce a noção bolsonazi de que homossexualidade e pedofilia são a mesma coisa, mas o que seria da vida se não houvesse controvérsia?
quarta-feira, 18 de maio de 2011
CARA NA POEIRA
Impressionante como sempre tem um idiota que consegue transformar uma brincadeira inocente num perigo mortal. O "planking" surgiu na Austrália em 2004, mas só de uns tempos para cá se tornou uma febre nacional. O teor de bobagem é altíssimo: neguinho deita de bruços no chão, endurece o corpo todo, estica mãos e pés, tira uma foto e posta no Facebook. Quanto mais inusitada a situação, melhor - quer dizer, melhor porque sim, já que não há prêmios em jogo. Mesmo assim, a rapeize tenta se superar e acaba fazendo merda. Um camarada foi se esticar no parapeito do terraço de seu apartamento no sétimo andar, despencou e mór-reu. E tudo isto em vão, porque nem deu tempo de tirar a foto.
THE SPERMINATOR
Oito anos atrás, quando Arnold Schwarzenegger se candidatou pela primeira vez ao governo da Califórnia, explodiram acusações de que ele costumava molestar mulheres a torto e a direito. Foi preciso sua esposa Maria Shriver vir a público para declarar sua total confiança no bom comportamento do marido. Schwarzenegger fo eleito e reeleito, e acabou fazendo um governo bastante moderninho para um republicano. Liberou as pesquisas sobre células-tronco no estado, por exemplo. Mas, apesar de se dizer favorável aos direitos igualitários, por duas vezes o "governator" vetou o casamento gay na Califórnia, alegando inconstitucionalidades e coisas afins. Na verdade, queria bajular o eleitorado conservador às nossas custas. Fico especialmente puto quando alguém defende em público a santidade do casamento "tradicional" e na vida privada desrespeita gostosamente este mesmo casamento. O cara teve um filho com uma empregada de sua casa, o que acabou provocando sua separação de Maria depois de 25 anos juntos. Meu consolo é que esse escândalo todo exterminou qualquer futuro político de Arnie. Hasta la vista, escroto.
terça-feira, 17 de maio de 2011
FRANCAMENTE FAVORÁVEL
Hoje é o Dia Internacional de Combate à Homofobia. E justo hoje recebi o link para um post super didático num blog que eu não conhecia, o Desfavor, explicando todos os pontos da recente decisão do Supremo a respeito da união estável no Brasil. A autora assina apenas como Sally e é hétero. Também é muito esclarecida e bem-humorada. Estou com vontade de imprimir santinhos com este texto e andar com eles no bolso, para distribuir toda vez que ouvir alguém dizer que casamento igualitário "é contra as leis de Deus" ou que o STF "violou a Constituição". Nada como um pouco de lucidez de vez em quando.
(dica do Wilson Moreira)
(dica do Wilson Moreira)
O SEGREDO DO CARANGUEJO TERRÍVEL
"O Segredo do Licorne" (ainda uso a antiga tradução brasileira que conheci quando criança, ao invés do mais provável "Unicórnio" que o título do filme vai ganhar no Brasil) é uma das aventuras menos agitadas do Tintin. A ação toda se passa em Bruxelas e os cenários exóticos só aparecem na continuação, "O Tesouro de Rackham o Terrível". Então de onde foi que Steven Spielberg tirou esse acidente de avião que aparece no teaser, liberado hoje? E essas cenas no deserto? Dizem que ele misturou elementos de um álbum anterior, "O Caranguejo das Tenazes de Ouro". Alterações desse tipo fazem meu sangue de tintinólogo purista ferver. Quero bater na cabeça do diretor com o cetro de Otokar ou as sete bolas de cristal. Não é a primeira vez que Spielberg tenta juntar vários livros num só filme: ele quis fazer o mesmo quando lhe foi oferecida a série "Harry Potter". Mas os fãs do bruxinho espernearam, no que foram apoiados pela Warner Bros - de olho na bilheteria que o maior número de filmes possível traria. Tintin não tem o mesmo lobby nos EUA, onde é praticamente desconhecido. Temo pelo pior: temo que lhe arranjem uma namorada.
ISABELLITA EVITA PERÓN
Por quê remontar "Evita" a essa altura do campeonato? A peça já esteve em cartaz no Brasil nos anos 80, depois virou filme, camiseta, pano de prato. Talvez por isto mesmo. O público brasileiro de musicais só quer ver títulos recentes e famosos. Nada do que a Broadway tem de mais moderno ou ousado (sim, isto existe). As senhoras que lotam vans e assentos de teatros como o Alfa ou o Abril querem cantar junto, ou pelo menos reconhecer alguma das canções. E "Evita" tem uma das mais famosas de todos os tempos, a choramingas "Don't Cry for Me Argentina" - também já gravada por todo mundo e seu pai, de Susan Boyle ao Chiclete com Banana. É até meio injusto com o resto da trilha de Andrew Lloyd Webber e Tim Rice, uma das melhores que a dupla já escreveu. A montagem atualmente em cartaz em São Paulo deixa isto evidente. É quase minimalista, com um palco todo branco (que serve de tela para algumas projeções) e poucos objetos de cena. O luxo só aparece nos figurinos. Daniel Boaventura está ótimo sempre, apesar de um pouco jovem para o papel de Perón. Fred Silveira faz um Che mais engraçadinho do que deveria, mas também tem ótima voz. Já Paula Capovilla soa esganiçada nas notas mais altas, e apresenta certa dificuldade nas coregorafias (que aliás não são espetaculares). O ritmo imposto por Jorge Takla é ágil e a função toda não passa de duas horas, incluindo o intervalo. O preço salgadíssimo dos ingressos me deixaram esperando algo deslumbrante, e quem sabe menos careta. Mas é disto que as senhoras das vans gostam.
(O título do post não tem nada a ver com o espetáculo: foi uma das melhores manchetes do "Planeta Diário", um dos antepassados do "Casseta & Planeta".)
(O título do post não tem nada a ver com o espetáculo: foi uma das melhores manchetes do "Planeta Diário", um dos antepassados do "Casseta & Planeta".)
segunda-feira, 16 de maio de 2011
SAINDO DO BURACO
Qual assunto poderia assustar mais o público do cinema do que a perda de um filho? A perda de dois filhos? Não é por outra razão que os exibidores brasileiros mudaram o título "Rabbit Hole" (que em si não quer dizer muita coisa) para o otimista "Reencontrando a Felicidade". Apesar do tema barrão, o filme não é baixo astral do começo ao fim. Tem até uma cena que me fez explodir de dar risada (só posso adiantar que envolve maconha). Nicole Kidman está mesmo ótima e mereceu a indicação ao Oscar: ela não tem medo de deixar sua personagem bem antipática, uma mulher ainda tão cheia de raiva e tristeza que qualquer esforço para melhorar lhe parece uma traição ao filho que morreu. O clima relativamente leve talvez se deva à escolha do diretor: John Cameron Mitchell, que até agora só havia feito comédias ousadíssimas cmo "Hedwig and the Angry Inch" e "Shortbus". "Reencontrando..." não vai tão fundo quanto o buraco do título original sugeria, mas é um estudo interessante sobre uma das piores experiências por que uma pessoa pode passar. Tome coragem e vá assistir.
RADAMÃ
A descoberta de vídeos caseiros no cafofo do Bin Laden tornou esta cena de 2005 de "Family Guy" curiosamente premonitória.
JESUS MANEIRÍSSIMO
Só agora, duas semanas depois, é que fiquei sabendo da existência do concurso "Hunky Jesus", realizado em São Francisco todo domingo de Páscoa por uma organização chamada "Irmãs da Eterna Indulgência". Este ano o certame foi acompanhado por uma pequena polêmica: o colunista conservador (e gay assumido) acha a coisa toda uma provocação desnecessária e que dá munição ao inimigo, ao reforçar os esterótipos negativos dos homossexuais. "Querem fazer algo realmente corajoso? Promovam um concurso "Hunky Mohammed" (Maomé Gato) durante o mês do Ramadã". Mas as críticas não surtiram efeito e o evento correu na mais compelta tranquilidade. Como Madonna disse há mais de duas décadas: "crucifixos são sexy porque há um homem pelado neles".
domingo, 15 de maio de 2011
AZERBAIJÃO NA CABEÇA
É bastante discutível se o Azerbaijão faz mesmo parte da Europa. Esta antiga república soviética fica às margens do mar Cáspio e culturalmente está muito próxima do Irã. Quer dizer, nem tanto: difícil imaginar uma iraniana de minissaia e cabelo tingido de louro rebolando em frente às câmeras, sem medo de ser apedrejada. O fato é que há anos o Azerbaijão vem chegando entre os primeiros colocados do festival Eurovision e ontem finalmente conquistou o prêmio máximo. A baladinha "Running Scared" nem é tão horrível assim: parece tema de novela das 7 e não tem nenhum elemento que sugira sua origem inusitada. Não era a minha favorita, mas quem não gosta de ver um paiseco triunfar? E como o país vencedor é a sede da próxima versão do festival, ano que vem estaremos todos (nem que seja pela TV) em Baku. Com acento na última sílaba.
A Itália tinha de longe a melhor canção entre todas as concorrentes. O país ficou 13 anos sem participar e voltou com a vencedora da seção "jovens talentos" do festival de Sanremo, "Madness of Love" com Raphael Gualazzi (que mereceu este post exclusivo há algumas semanas). Levou o segundo lugar, talvez por não ser um número elaborado com coreôs absurdinhas e gatinhos bonitinhos. Tudo o que não falta na candidata da Suécia, "Popular", cantada por Eric Saade, filho de libaneses e lindo de morrer, e vencedora da 2a. semi-final, na quinta (apesar de rimar "impossible" com "possible"). Na final chegou em terceiro.
Aliás, homem bonito não faltou: ainda não sei se prefiro Amaury Vassili, que representou a França com "Sognu", uma ária cantada em dialeto da Córsega...
...ou Loucas Yorkas, da Grécia, que venceu a 1a. semi-final terça passada com a soturna "Watch My Dance". A noite seguinte desclassificou sem dó nem piedade a transexual israelense Dana International, vencedora em 1998 com "Diva" e produzida por ninguém menos que Offer Nissim. Pois é, Eurovision is a bitch.
Adoro o festival porque é uma tempestade perfeita de hiper-produção, breguice, congraçamento entre as nações e, obviamente, muita viadagem. Saca só a dupla de gêmeos Jedward, da Irlanda, que parecem os filhos do casamento gay entre Tintin e Pinóquio. A animada "Lipstick" estava entre as favoritas mas não foi muito longe, apesar da encenação à la Pet Shop Boys.
Para encerrar este longuíssimo post, aí está "Caroban", na voz de Nina, um iê-iê-iê da Sérvia. Precisa dizer mais alguma coisa?
A Itália tinha de longe a melhor canção entre todas as concorrentes. O país ficou 13 anos sem participar e voltou com a vencedora da seção "jovens talentos" do festival de Sanremo, "Madness of Love" com Raphael Gualazzi (que mereceu este post exclusivo há algumas semanas). Levou o segundo lugar, talvez por não ser um número elaborado com coreôs absurdinhas e gatinhos bonitinhos. Tudo o que não falta na candidata da Suécia, "Popular", cantada por Eric Saade, filho de libaneses e lindo de morrer, e vencedora da 2a. semi-final, na quinta (apesar de rimar "impossible" com "possible"). Na final chegou em terceiro.
Aliás, homem bonito não faltou: ainda não sei se prefiro Amaury Vassili, que representou a França com "Sognu", uma ária cantada em dialeto da Córsega...
...ou Loucas Yorkas, da Grécia, que venceu a 1a. semi-final terça passada com a soturna "Watch My Dance". A noite seguinte desclassificou sem dó nem piedade a transexual israelense Dana International, vencedora em 1998 com "Diva" e produzida por ninguém menos que Offer Nissim. Pois é, Eurovision is a bitch.
Adoro o festival porque é uma tempestade perfeita de hiper-produção, breguice, congraçamento entre as nações e, obviamente, muita viadagem. Saca só a dupla de gêmeos Jedward, da Irlanda, que parecem os filhos do casamento gay entre Tintin e Pinóquio. A animada "Lipstick" estava entre as favoritas mas não foi muito longe, apesar da encenação à la Pet Shop Boys.
Para encerrar este longuíssimo post, aí está "Caroban", na voz de Nina, um iê-iê-iê da Sérvia. Precisa dizer mais alguma coisa?
sábado, 14 de maio de 2011
AS TECNICALIDADES DO BEIJO
Esqueci de ver o tão propalado primeiro beijo gay da televisão brasileira. Estava mais interessado no centésimo episódio de "30 Rock" e nem lembrei de virar para o SBT. Acho que fiz bem, pois assim fui poupado de um capítulo de "Amor e Revolução", e depois consegui ver a bicoca no YouTube. De fato, ela não decepciona: Luciana Vendramini e Giselle Tigre se agarram com vontade, demonstrando amplo domínio do chamado "beijo técnico" - sem língua, só com as bocas se esfregando para as câmeras. Claro que eu preferia que tivessem sido dois bofões, mas é inegável que duas mulheres se beijando ainda são mais aceitas nesta sociedade machista em que vivemos. E agora já estão querendo tirar o pioneirismo da novela de Tiago Santiago. Dizem que o primeiríssimo beijo da TV brasileira teria acontecido em 1963, no "Teleteatro Tupi", numa cena da peça "Calúnia", de Lillian Hellman (bons tempos em que a TV transmitia obras teatrais). Foi entre a recém-falecida Geórgia Gomide e Vida Alves - curiosamente, também protagonista do primeiro beijo hétero da nossa TV, com Walter Foster. Não há um único registro da cena, mas Vida ainda está viva; leitores jornalistas, porque um de vocês não vai até a casa dela? E o primeiro bejo entre dois homens aconteceu numa esquecida minissérie da extinta TV Manchete, "Mãe de Santo", em 1990. As imagens estão há tempos no YouTube, mas voltaram à evidência esta semana. Mas este assunto só irá se esgotar quando a Globo exibir um beijaço entre rapazes no horário nobre. É só uma tecnicalidade, mas até lá, os outros beijos serão apenas preliminares.
(dica do Lucas Gentil)
(dica do Lucas Gentil)
sexta-feira, 13 de maio de 2011
FASCISTINHA EM FORMOL
Muita gente não gosta do que diz ou escreve o Arnaldo Jabor. Eu acho quase tudo brilhante. Mas fica difícil qualquer pessoa de bom senso discordar desta "cabeça" que ele fez ontem no "Jornal da Globo". Agora, acho que temos que dar um gelo no Bolsonazi. Depois do episódio de papagaio de pirata de ontem, ficou claríssimo que ele está adorando aparecer e causar. Cheguei a pensar que ele teria se assustado com a repercussão negativa de seu bate-boca com a Preta Gil, mas não. Cheque Bolsonara está se deliciando com essa atenção toda, ainda mais agora que é conhecido em todo o Brasil e não só no Rio de Janeiro. O movimento gay, quem diria, está fazendo um bem enorme para a carreira dele. Está na hora de virarmos os holofotes para quem mereça mais.
DIFICULDADES TÉCNICAS
Sinto-me meio desconfortável em criticar um serviço que é gratuito, mas põhãn, Blogger! Quase 24 horas fora do ar? E cadê meus posts de quarta e quinta? Tenho vontade de aderir dicumforça à tal da campanha que o Facebook estaria fazendo para desmoralizar vocês. Uma das explicações que eu li é a de que estariam tentando criar uma barreira para os comentários-spam. É verdade que tenho recebido muitos, geralmente para posts antigos, tentando vender Viagra ou sites de pôquer. Tá bom, vai, a causa é nobre, mas juro que eu prefiro excluir esses comentários do que ficar tanto tempo desconectado. Pareço um homenzinho de cartum se arrastando pelo deserto: "blogar... blogar...". Enfim, já estou de volta, e o post que deveria ter saído ontem à noite sobre o embate Marinor x Bolsonazi só conseguiu aparecer agora há pouco aí em baixo, já meio datado. Que ÓDIA. Nessas horas queria ter a fleuma dos britânicos. Reza a lenda que a TV estava em transmissões experimentais em Londres quando estourou a 2a. Guerra, em setembro de 1939. Tiveram que interromper um desenho animado do Mickey e só retomaram as transmissões em 1945, depois de terminado o conflito - exatamente do ponto onde haviam parado.
CALMA, MARINOR
Entendo perfeitamente a fúria da senadora Marinor Brito, do PSOL do Pará. Até me identifico com ela: também tenho vontade de sair no braço com a Cheque Bolsonazi, inclusive para mostrar que os dias da bicha que apanha calada are over. Dá para perceber que ela estava tentando impedir que a Xuca invadisse uma entrevista da sen adora Marta Suplicy com seu panfleto anti-gay, vulgo papel higiênico de má qualidade. Não deu muito certo, porque a entrevista foi interrompida assim mesmo. Mas ela teria agido melhor se tivesse mantido o sorriso zen de Marta e deixado a Bolosnara vomitar merda sozinha. Marinor está coberta de razão, mas acabou dando a chance para o bosta humana posar de agredido – uma vítima inocente da “heterofobia”, veja só. Mas a burrice dele é tamanha que conseguiu desperdiçar a oportunidade ao insinuar grosseiramente que o problema da senadora é falta de homem, e que ele não está interessado. É preciso rebater os argumentos patéticos do Xuca-Cheque sem descer ao nível dele, pelo menos em público (aqui no blog zuuuuzo bem). No mais, deixa o brucutu falar à vontade: estamos dando corda para ele se auto-enforcar.
quinta-feira, 12 de maio de 2011
TRAIR E CHORAR É SÓ COMEÇAR
Acho que o adultério é um dos temas mais espinhosos para o cinema e a literatura. Mesmo obras-primas como "Madame Bovary" de Flaubert ou "A Mulher do Lado" de Truffaut passam mensagens algo moralistas, com a adúltera sendo punida por si mesma. Quando o cinema americano fala do assunto, então, o resultado costuma ser constrangedor. Como no "Infidelidade" de Adrian Lyne - que tinha uma ótima interpretação de Diane Lane, mas um final totalmente babaca. Aliás, é sintomático que a protagonista seja sempre uma mulher; um homem adúltero é só um pegador, não um pecador. Tudo isto para dizer que "Que Mais Posso Querer", do diretor italiano Silvio Soldini, é um retrato bastante realista de um romance ilícito. Realista porque doloroso: os dois amantes são casados e mais ou menos felizes, com a vida relativamente em ordem. O caso que vivem é tórrido, mas também um labirinto de mentiras, tensões, culpas e ciúmes. É uma versão sem glamour de "Io Sono l'Amore", que também se passa em Milão e tem no elenco Alba Rohrwacher, hoje um estrela de primeira grandeza na Itália. Aqui ela parece muito mais velha que no outro filme, fazendo um bom par com o bonitão Pierfranceso Favino (ri muito quando seu personagem disse ser da "Calábria Saudita"). "Que Mais Posso Querer" é o anti-"Atração Fatal": é lento, internalizado, sofrido. Muito tesão explode na tela, mas a conclusão em fogo baixo é mais crível do que cozinhar um coelhinho.
PAPEL HIGIÊNICO
Então a Xuca Bolsonazi já está distribuindo seu nojento panfleto anti-gay para escolas e residências no Rio de Janeiro. O pior é que muita gente vai aplaudir: não tenha dúvida, essa celeuma pós-“CQC” vai ajudar o deputado e sua prole a se reelegerem. Meu primeiro impulso é mandar calar a boca, processar, chamar pro pau. Mas ele não merece tanto. Reagir com violência é cair no jogo dele; é negar a democracia em que vivemos, a mesma democracia que a Cheque Bolsonara adoraria mandar pelos ares. Andei lendo suas declarações e assistindo a algumas entevistas, e o que mais assusta é a ignorância absoluta do sujeito. “Casais gays transformarão seus filhos adotivos em homossexuais, e destes, quase todos se tornarão garotos de programa”. Oi? Já não basta a relação absurda entre pedofilia e homossexualidade que ele e sua laia teimam em insistir que existe? De onde saiu esse dado? De um canto podre de sua cabeça imunda, porque é óbvio que ele não faz a mais puta ideia do que seja um gay, ou uma lésbica, ou uma trans, e por aí vai. É até compreensível: nunca deve ter tido contato com homossexuais assumidos que não vivessem na marginalidade. Por isto, o melhor antídoto contra as bobagens que ele propaga é a nossa visibilidade. Sei que isto não é possível para muita gente, mas precisamos sair do armário e mostrar que não somos mais “pervertidos” que o resto da humanidade. Já cansei de ver gente preconceituosa que mudou de ideia depois de conviver no trabalho, na escola ou mesmo na família com um homossexual. É por isto que a maré está mudando em muitos países: nos EUA já há mais gente a favor do casamento igualitário do que contra, e esta tendência é irreversível. Porque os jovens são francamente favoráveis; a cada velho homofóbico que morre, nossa causa avança mais um pouco. É questão de tempo sim, mas nem por isto podemos ficar quietinhos. Temos que nos mostrar na rua, no escritório, no espelho. Não é fácil, mas não tem outro jeito.
(O panfleto pode ser baixado daqui. O curioso é que, apesar das chamadas odiosas na capa, no interior ele praticamente só lista as medidas propostas pelas lideranças LGBT. Quem ler com calma e isenção é capaz de ficar do nosso lado.)
(O panfleto pode ser baixado daqui. O curioso é que, apesar das chamadas odiosas na capa, no interior ele praticamente só lista as medidas propostas pelas lideranças LGBT. Quem ler com calma e isenção é capaz de ficar do nosso lado.)
quarta-feira, 11 de maio de 2011
GENTE DIFERENCIADA
São Paulo não tem outro assunto hoje: está todo mundo comentando o não-metrô de Higienópolis. Os moradores daquele bairro conseguiram alterar o projeto da Linha 6, e a estação prevista para a Avenida Angélica, quase em frente à praça Buenos Aires, foi transferida para a praça Charles Miller, em frente ao estádio do Pacaembu. "São apenas 600 metros", alegam - em linha reta no mapa. Na vida real é uma subida enorme. O mais curioso é que a chegada do metrô costuma valorizar o entorno; talvez o pessoal que mora lá queira conter a especulação imobiliária? É mesmo difícil de entender. Em Paris vai-se absolutamente a qualquer lugar de metrô. Dá até para escolher a estação: a mais próxima dificlmente vai ficar a mais de três quadras de onde se estiver. Mas aqui no Brasil o raciocínio é o oposto. A elite quer dificultar o acesso do povão - no caso, suas próprias empregadas domésticas, o rapaz da farmácia, o frentista do posto, tudo gente que serve a ela. A tal da "gente diferenciada", na expressão já consagrada, identificada pelo jornalista James Cimino. Como se Higienópolis fosse um santuário pacato e isolado, um oásis de elegância que não pode ser contaminado pela vida real. Não é nada disto: o bairro é central, é passagem para muitos lugares e tem dezenas de colégios, igrejas, lojas e até mesmo um enorme shopping center. Aliás, como é que topam a chegada de um shopping e dos milhares de carros que vêm atrás, e não a de uma estação de metrô, que poderia desafogar o trânsito? E aí me dá uma tristeza no meu peito. É gente diferenciada, que vontade de chorar.
terça-feira, 10 de maio de 2011
DERMATITE
Mais alguém com aflição do teaser do novo filme do Almodóvar ou sou só eu?
(Dica do Marcus de Tenerife)
(Dica do Marcus de Tenerife)
O QUE OS OLHOS NÃO VEEM
Fala-se muito em burca e em como os muçulmanos oprimem as mulheres, mas a verdade é que os fundamentalistas das três religiões abrâmicas não lidam bem com o sexo feminino. O site "Daily Beast" traz uma seleção de fotos adulteradas por judeus ortodoxos - como esta aí ao lado, publicada num jornal da comunidade hasídica de Nova York. O curioso é que a mesma publicação apoiou a candidatura de Hillary Clinton à presidência dos EUA. Parece que não se importam que uma mulher ocupe o cargo; o problema é VER a tal mulher.
Se é para alterar fotos, melhor que seja assim, não é mesmo? Rindo alto até agora.
Se é para alterar fotos, melhor que seja assim, não é mesmo? Rindo alto até agora.
AS BRUXAS DE GUARATUBA
Fiquei surpreso ao saber que o crime atribuído às "bruxas de Guaratauba" - a mulher e a filha do prefeito daquela cidade no litoral do Paraná - foi cometido há quase 20 anos. O episódio ainda está nítido na minha cabeça, e não só pelos detalhes horripilantes (um garotinho teria sido sacrificado numa cerimônia satânica, e depois desfigurado para dificultar sua identificação). As suspeitas foram presas quase que imediatamente, e lembro delas confessando na TV: teriam encomendado o ritual a um suposto pai-de-santo para trazer poder e fortuna para a própria família. Depois desmentiram tudo e alegaram terem sido torturadas na delegacia, inclusive sexualmente. O que me marcou também foi o depoimento de um investigador de polícia. Ele disse ser muito comum criminosos de primeira viagem confessarem tudo ao serem pegos, para depois negarem tudo a mando dos advogados. O caso de Guaratuba comoveu o país e se arrastou durante anos. A defesa até hoje alega que o cadáver encontrado não é do menino que teria sido morto, apesar dos testes de DNA apontarem para uma probabilidade maior do que 99%. As duas acusadas foram absolvidas depois de um julgamento que levou 34 dias, um recorde, mas agora a filha será submetida a um novo júri popular. Estou convencido de que ela é culpada, mas não cabe a mim decidir. Também tenho a sensação de que a Justiça brasileira melhorou nesses anos todos. Vou prestar atenção.
segunda-feira, 9 de maio de 2011
PRINCESAS NÚBIAS
Achou que eu ia falar do novo disco da Jennifer Lopez, né? "Love?" nem é ruim - na verdade, é o melhor CD da carreira dela, o que não quer dizer muito - mas não há muito mesmo o que comentar a respeito de J. Lo. Prefiro dar uma dica que pouca gente conhece aqui no Brasil: a dupla Les Nubians. As irmãs Célia e Hélène Faussart têm pai francês e mãe camaronense, e passaram a infância entre Bordeaux e o Tchad. Por isto mesmo se gabam de fazer um som "afropeu" - uma mistura de soul, ritmos africanos e lounge. É música para adultos, apesar das letras politicamente ingênuas. Quem se cadastrar no site das moças recebe um link gratuito para baixar "Liberté", o carro-chefe do recém-lançado "Nü Revolution". Acho meia brëga quem põe umlaut nas palavras para pagar de sofisticado, mas Les Nubians são mesmo elegantes. Agora, voltando a miss Lopez: quem sabe porque ela não larga daquele monstrengo do Marc Anthony? Eu sei, tralala...
"Have you ever danced with your hair?"
"Have you ever danced with your hair?"
LINHA CRUZADA
Uma das experiências mais curiosas que alguém pode ter é cruzar a Linha Internacional da Data. Cruzei uma única vez, num voo do Tahiti para a Nova Zelândia. Decolamos na sexta à noite, voamos cinco horas e chegamos em Auckland no domingo de manhã. O sábado, 8 de julho de 1978, não existiu para mim. Agora tem um país inteiro que quer fazer esta travessia. É a Samoa, que desde o século 19 decidiu estar no mesmo dia que os Estados Unidos, então seu maior parceiro comercial. Mas os tempos mudam e os parceiros também: agora ela quer ficar mais perto no tempo da Austrália e da Nova Zelândia. Hoje em dia a Samoa está 21 horas atrás das potências da Oceania; com a mudança de fuso, que ocorrerá a 29 de dezembro deste ano, ficará três horas à frente. Dizem os samoanos que assim terão todos os dias úteis casados com os outros dois países, ao invés dos apenas três atuais. Não há nenhuma lei internacional que obrigue as nações estarem nesta ou naquela data; cada uma escolhe a que lhe for mais conveniente. Em 1995, o arquipélago de Kiribati - que tem suas ilhas espalhadas dos dois lados da Linha - resolveu se alinhar com o horário do oeste, provocando essa protuberância no mapa. A Samoa acha até que poderá atrair turistas vindos da vizinha Samoa Americana, que manterá o antigo calendário. Gente interessada em comemorar o aniversário ou o Réveillon duas vezes, quem sabe na companhia de uma bonita fa'afafine.
EXPERIMENTANDO A FANTASIA
Adorei "O Senhor dos Anéis", mas em geral não tenho a menor paciência para o que os americanos chamam de "fantasy genre": reinos mitológicos, dragões, feiticeiros, acho tudo uma bobajada. Quando os personagens começam a se chamar de Bogomir ou Galadriel, então, tenho que fazer força para não rir. E não sei se a série "Game of Thrones", que estreou ontem na HBO, vai me fazer mudar de ideia. Tem mais sangue e muito mais sexo do que costumamos ver no cinema, inclusive alguns nus totalmente gratuitos. Mas o que me interessa mesmo é a história, não os efeitos especiais, e acho cenas de luta perfeitas para ir buscar alguma coisa na cozinha. De qualquer forma, o 1o. episódio teve bons momentos, apesar de ainda ser difícil entender quem é quem. Vamos ver se melhora: minha querida "True Blood" também demorou para engrenar.
domingo, 8 de maio de 2011
ROMAIN-TIQUE
Adoro filmes-cabeça, mas de vez em quando é bom ver algo descaradamente comercial porém bem feito. "Como Arrasar um Coração" é uma comédia romântica francesa que não trata o espectador feito idiota. Segue o formato tradicional, tem final feliz e não inova um átomo sequer, mas tem roteiro amarradinho, boas piadas, lindas locações e ótimos atores. A premissa inicial é absurda, mas quem se importa? Romain Duris está ainda mais delicioso do que de costume como um profissional especializado em separar mulheres de namorados ou maridos incovenientes. Só não o transformo em mais um de meus noivos imaginários porque ele tem cara de pilantra e tenho certeza de que me fará sofrer. A mocinha é feita por Vanessa Paradis, que tem nome de vedete de teatro rebolado (mas é de batismo) e é casada há mais de 10 anos com Johnny Depp. Ela é uma megastar na França mas pouco conhecida por aqui, talvez por se dedicar mais à música do que ao cinema; foi quem lançou "Joe le Taxi" há mais de 20 anos, depois transformada em "Vou de Táxi" na voz de Angélica. Mas retomando o assunto: "Como Arrasar..." fez sucesso na Europa e chegou a ser indicado para vários Césars, inclusive o de melhor filme. Não ganhou nenhum e nem merecia, mas é divertido. Pode levar a mamãe depois do almoço que ela vai gostar.E ainda cita esta cena de "Os Safados", uma das mais engraçadas ever.
sábado, 7 de maio de 2011
A SERENÍSSIMA
"Ela é um dos nossos", dizia a rainha-mãe da Inglaterra. Era verdade: Grace Kelly não nasceu nobre, mas encarnou com perfeição tudo o que se espera de uma Alteza Serena. Foi talvez a mulher mais bonita do século 20 e seguramente a mais elegante. Chega a ser irritante ver suas roupas e objetos pessoais reunidos na mostra "Os Anos Grace Kelly, Princesa de Mônaco", em cartaz na FAAP em São Paulo. É uma coleção absolutamente fabulosa, pois nada saiu de moda e tudo pode ser usado até hoje. E põe tudo nisto: só faltou a roupa de baixo. O resto está lá, do Oscar de melhor atriz ao deslumbrante vestido de noiva - antepassado direto do usado por Kate Middleton semana passada. O de Grace é até mais ousado, com os seios mais valorizados (para não dizer expostos) e a cintura marcada, contido e sensual ao mesmo tempo.
Sim, o estilo dela era clássico, mas jamais boring. Muitas peças são de vanguarda e até bem humoradas; as inúmeras interpretações da bolsa Kelly de Hermès me deram vontade de virar ladrão de casaca e levar todas para casa. E ainda tem as jóias, a mesa posta para um banquete, cartazes de seus filmes em várias línguas, fotos de família, modelos da época em que alta costura existia e dezenas de capas de revista. Grace parecia incapaz de errar a roupa, o cabelo, a pose. Era naturalmente aristocrática e passava mesmo a ilusão de serenidade. Dizem que sua vida no palácio era bem diferente desta imagem idealizada: ela e o príncipe Rainier viviam às turras, e existe a versão de que foi depois de uma briga particularmente áspera que ela saiu à toda no volante de seu carro, só para se esborrachar no fundo de um precipício aos 52 anos de idade (outra versão, bem mais popular, é que quem estaria guiando era a princesa Stéphanie, então menor de idade). Pode até ser e a gente sabe que toda essa papagaiada de família real não passa de um grande teatro, mas saí da exposição em estado de - perdão, mas não dá para escapar - graça.
Sim, o estilo dela era clássico, mas jamais boring. Muitas peças são de vanguarda e até bem humoradas; as inúmeras interpretações da bolsa Kelly de Hermès me deram vontade de virar ladrão de casaca e levar todas para casa. E ainda tem as jóias, a mesa posta para um banquete, cartazes de seus filmes em várias línguas, fotos de família, modelos da época em que alta costura existia e dezenas de capas de revista. Grace parecia incapaz de errar a roupa, o cabelo, a pose. Era naturalmente aristocrática e passava mesmo a ilusão de serenidade. Dizem que sua vida no palácio era bem diferente desta imagem idealizada: ela e o príncipe Rainier viviam às turras, e existe a versão de que foi depois de uma briga particularmente áspera que ela saiu à toda no volante de seu carro, só para se esborrachar no fundo de um precipício aos 52 anos de idade (outra versão, bem mais popular, é que quem estaria guiando era a princesa Stéphanie, então menor de idade). Pode até ser e a gente sabe que toda essa papagaiada de família real não passa de um grande teatro, mas saí da exposição em estado de - perdão, mas não dá para escapar - graça.
sexta-feira, 6 de maio de 2011
BURACO QUENTE
Está na hora do Supremo aprovar a união literário-afetiva estável no Brasil. Estou apaixonado pela historiadora Mary del Priore e quero me casar com os livros dela. Depois de "O Príncipe Maldito" e "A Condessa de Barral", agora estou mergulhado em "Histórias Íntimas" - nada menos que a vida sexual dos brasileiros desde os tempos da colônia. Federico Andahazi está fazendo algo parecido na Argentina em muitos volumes, mas ele não tem a densidade nem a elegância do texto de Mary. É fascinante ver como evoluímos de um povo imundo e barbaramente machista para a permissividade (ainda que aparente) atual. O pudor ibérico na época do Descobrimento soa absurdo nos dias de hoje: a rainha espanhola Isabel, a Católica, morreu de uma ferida que ela se recusou a mostrar para os médicos. O século 19 é marcado pelo adultério e pela descoberta surpreendente da ovulação: até então achava-se que os filhos eram apenas do homem e que a mulher só servia de terra para a semente masculina. Ainda estou na metade do livro, mas posso recomendar sem dúvidas. "História Íntimas" é ajuda a entender a complexa sexualidade brasileira, tão vulgar e repressora ao mesmo tempo.
ÍNDIA-GESTÃO
Dá até peninha gongar um projeto tão simpático como "Bollywood Dream". Quando o filme passou na Mostra, achei que se tratava de um documentário. Afinal, há mesmo muitas atrizes brasileiras tentando a sorte no cinema indiano, e algumas já se deram bem - ano passado assisti num avião a um filme com uma delas, Giselle Monteiro. Mas a estreia da diretora Beatriz Seigner em longa-metragem se pretende ficção, quando na verdade é pouco mais que um vídeo caseiro, com produção invisível e roteiro frouxo. Mas sobra boa vontade, e as paisagens são bonitas. A trama é só um fiapo: três amigas vão para a Índia, primeiro para um cidade do sul - talvez Chennai, a antiga Madras; o nome nunca é dito - atrás de um contato, e só muito depois fazem testes em Mumbai. Mas o glamour de Bollywood nunca aparece, muito pelo contrário. Alguns planos são longos demais e as interpretações pouco mais que amadoras, apesar de esforçadas. Aos poucos cada menina vai seguindo seu próprio caminho, e todas se deixam envolver pela espiritualidade hindu. "Bollywood Dream" vale pela curiosidade de ser o primeiro filme brasileiro rodado na Índia, mas só vai interessar aos aficcionados pelo subcontinente.
(chupei o nome do psot do ótimo blog de uma brasileira que mora na Índia)
(chupei o nome do psot do ótimo blog de uma brasileira que mora na Índia)
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