sábado, 30 de abril de 2011

DUBLÊ DE CORPO

Saiu há pouco a notícia de que Saif Gaddafi, o filho bom do ditador da Líbia, morreu no bombardeio do complexo residencial onde estava, além de três netos de Muammar. "Bom", neste caso, é muito relativo: ele era o membro de mais fino trato da família, e até propôs eleições livres para encerrar a guerra civil que destrói o país. Um anjo de candura se comparado a seus irmãos sanguinários, que chegaram a lutar, através de suas milícias pessoais, pelo controle de uma engarrafadora de Coca-Cola. Mas dizem os entendidos que o clã Gaddafi é fichinha perto do que foi Saddam Hussein e sua prole. É sabido que ele e seus filhos Uday e Qusay usavam sósias para representá-los em aparições públicas, tão grande era o medo de um atentado (houve vários). Esta semana saiu o trailer de "The Devil's Double", que foca justamente num dublê do monstruoso Uday. O filme parece ser meio sensacionalista e talvez - eu disse TALVEZ - exagere os fatos, mas mesmo assim fiquei curioso para ver. Em tempo: os filhos de Saddam, assim como um neto, foram mortos pelos americanos logo no primeiro ano da invasnao do Iraque. Trágico, sem dúvida - mas meu lado negro vibra quando homens maus perdem seu maior tesouro, a descendência.

BRODAGEM

"Broder" ganhou uma pá de prêmios em muitos festivais, mas está fazendo carreira discretíssima nos cinemas. É uma pena, porque o filme é sólido e tem ótimas atuações. Mas até consigo entender por quê: a temática barra pesada pessimista não seduz o público que vibrou com o revanchismo de "Tropa de Elite 2". Sim, é mais um filme-favela - mas desta vez estamos em São Paulo, mais precisamente no Capão Redondo. Macu, o personagem central, vive a um passo da marginalidade, e recebe para a feijoada de seu aniversário dois amigos que conseguiram escapar dali: um que casou com sua ex-namorada, outro que se tornou um astro do futebol e agora vive na Espanha. A coisa engrossa quando a bandidagem local decide sequestrar o jogador. Mas não é uma trama de ação, apesar de algumas cenas violentas: o que interessa aqui é a relação entre três amigos de infância que seguiram rumos bem diferentes. A lentidão dos acontecimentos acaba prejudicando o envolvimento do espectador: "Bróder" tem só uma hora e meia, mas parece ter duas. Mas Jefferson De - talvez o diretor único negro do Brasil - tem a mão seguríssima para um estreante em longa. Todo o elenco está muito bem, mas Caio Blat está realmente excepcional. Ele nasceu longe daquele mundo, mas incopora tão bem a dicção e até mesmo a expressão corporal de um mano que chego a pensar que ele foi adotado.

YOUTUBE KILLED THE VIDEO STAR

Não importa quantos milhões Lady Gaga ou Britney Spears gastem em seus videoclips. Nem com todos os product placements do mundo ele ficam melhores do que as versões que o próprio público faz, nesta era de inclusão digital. Fala sério: tem tradução visual de "Born This Way" melhor do que a do garoto Trevor, aquele que dança na Apple Store? Nem Martin Scorsese teria feito algo mais cool ou pertinente. O babado desta semana é "Hold It Against Me" gravado por marines americanos no Afeganistão. Não, não é um bando de bibas reprimidas soltando a franga já que o "Don't Ask, Don't Tell" vai terminar. São só jovens tentando curtir a vida, que pode acabar a qualquer momento por uma bomba do Taliban. Fora que as performances, a edição e a fotografia estão dignas de VMA. Muito melhor do que ver a Gaga com chifres ou Nonô rebolando flácida.

SILLY WILLY

Só para encerrar o assunto casamento real: já saiu a paródia pornô.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

O DIA EM QUE A TERRA CASOU

Admito numa boa: acordei às 6 e meia da manhã para assistir ao casamento real. Liguei a TV bem na hora em que mum Middleton entrava na Abadia de Westminster. A mãe da noiva tem uma silhueta fantástica para sua idade, o que é um bom presságio para William (meu pai sempre dizia: antes de namorar uma menina, olhe para a mãe! OK, namorei poucas meninas, mas este conselho vale para todas as orientações). A chegada das famílias foi rápida, sem buracos. E logo depois da rainha, radiante de amarelo, eis que surge Kate. Num vestido impecável e totalmente esquecível. Mesmo que ele se torne febre entre todas as noivas do futuro, dificilmente vamos lembrar automaticamente deste casamento real. Falta-lhe a personalidade daquelas mangas imensas de Diana, até hoje um hit do Oiapoque a Kamchatka. O que me chamou a atenção mesmo foi o véu. Kate entrou na igreja coberta da cabeça aos pés, como se usasse uma burca transparente. Claro, véu é para isto mesmo, não para arrastar no chão, mas tão poucas noivas fazem isto hoje em dia - culpa da al-Qaeda?

A moda britânica tem muito pouco a ver com a francesa, que acabou ditando os padrões seguidos por quase todo o resto do mundo. É sempre chocante ver aquelas senhoras embrulhadas em tailleurs de corte quadrado e cores sólidas, geralmente berrantes como verde-limão ou roxo-bofetada. Os chapéus são um capítulo à parte. Adoro, acho divertidíssimos, além do mais porque não dá para fazer a linha discreta com um troço da envergadura de um porta-aviões na cabeça. Melhor escancarar de uma vez. Por isto, meu favorito é mesmo o da duquesa Beatrice de York. "Vou aparecer em todas as revistas da face da Terra!" Não fosse ela filha da Sarah Ferguson.


Já no quesito feiúra, não sei o que me assustou mais: se Victoria Beckham ou aquela daminha de três anos que parece ter hidrocefalia. A ex-Spice Girl foi criticada por usar um tom escuro num evento matutino, mas este realmente era o menor de seus problemas. Já a menininha é horrenda mesmo e temo pela adulta que ela um dia se tornará. Comentei sobre o assunto no trabalho e quase fui crucificado. Descobri que dizer que uma criança é feia é um tabu maior do que chamar trans de homem.


E como é que um jornal de esquerda e pouco simpático à monarquia cobre um casamento real? O "The Guardian" resolveu o dilema de maneira democrática. Ao abrirmos sua página na web, nos deparamos com uma imensa foto do beijo no balcão do Palácio de Buckingham. Mas ali no cantinho há um botão: "Republicanos, cliquem aqui". Pronto: todas as notícias sobre Will e Kate desaparecem, e o 29 de abril se torna um dia como outro qualquer (bocejo).

No momento em que escrevo este post já está rolando o arrasta-pé para 300 convidados, os VIPs dos VIPs dos VIPs. Kate despiu o vestido de noiva e mudou para este outro aí ao lado, também perfeito e sem graça. Aliás, o evento todo foi meio perfeito e sem graça. Nada deu estrondosamente errado, nenhuma gafe histórica foi cometida, nenhum penetra conseguiu beijar a noiva antes de ser fuzilado pela guarda. Resta torcer para que a rainha Sofia ou o sultão do Brunei se excedam por causa do álcool. Ou quem sabe por causa dos sanduíches de bacon - sim, você leu certo - que serão servidos aos sobreviventes da festa às 6 da manhã. Em pão amanteigado...




Buu!

quinta-feira, 28 de abril de 2011

PAREM O CASAMENTO

Este mundo está perdido.

DIRE SI, DIRE MAI

Não contavam com a minha astúcia. Este ano lembrei da existência do festival Eurovision a tempo de ir conhecendo as músicas antes das eliminatórias. Isto quer dizer que vou cantar junto e levar faixas para a frente da TV nos dias 10, 12 e 14 de maio (a Televisión Española transmite para a América Latina). Claro que a maioria das concorrentes é dance trash de lugares como a Estônia ou o Azerbaijão. Mas já descobri pelo menos uma canção realmente boa: é "Follia d'Amore", do italiano Raphael Gualazzi. O rapaz já venceu com a ela a competição de novos talentos do último Festival de Sanremo e agora tem a enorme responsabilidade de marcar a volta da Itália ao Eurovision, depois de 13 anos sem participar. Para conquistar a plateia internacional, a faixa ganhou um novo título ("Madness of Love") e alguns versos em inglês, e entrou para a trilha do filme "Manuale d'Amore 3", estrelado por Robert De Niro e Monica Bellucci - talvez a mulher mais bonita do mundo. É uma musiquinha absolutamente deliciosa, daquelas da gente assobiar enquanto passeia de bicicleta pelas ruas de Roma antes de se atirar na Fontana di Trevi. Já estou torcendo por ela.

YOU'RE FIRED

Quando a gente acha que nada pior do que a Sarah Palin pode acontecer na política americana, eis que surge Donald Trump e seu eterno bad hair day. O sujeito posa de arqui-bilionário, mas a verdade é que já quebrou várias vezes e hoje depende de seu programa de TV para pagar a pensão para suas 300 ex-mulheres. Ou seja, nem de longe é um empreendedor de sucesso e um administrador consciencioso. Mas é um oportunista escroto: depois de anos contribuindo com o partido Democrata, Trump bandeou-se para o lado dos republicanos e acha que tem chance de derrotar Obama no ano que vem. Lançou-se candidato retomando uma falsa polêmica, a de que o presidente teria nascido no Quênia e portanto não deveria sequer ter concorrido. Obama ontem apresentou uma certidão de nascimento em formato longo, um documento cuja obtenção não é da mais simples por lá. Trump agora trombeteia que isto foi uma vitória pessoal sua, quando na verdade desenterrou um problema que nunca existiu. Como se não bastasse, o dono do “combover” mais apavorante de todos os tempos já se declarou ser contra o casamento igualitário e que tem ótimas relações com “the blacks”. Ele provavelmente sera tragadopelo vortex espaço-tempo quando a campanha começar para valer, mas nem por isto fico tranquilo. Os Estados Unidos já deram provas suficientes de que não são um povo de muitas luzes.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

SER HOMEM

Fico meio puto quando ouço alguém fazer diferença entre "homem" e "gay" - tipo, "fulano não é gay, é homem". Sou gay e sou homem; não são coisas mutuamente excludentes. Não acho que seja a orientação sexual o que define a hombridade de alguém. Também não é a vontade de se vestir ou não de mulher, nem mesmo a de cortar fora o próprio pinto. Calma, não vou dizer que ser homem é ter caráter, honestidade, coragem, nem que tem mulher por aí que é mais homem que muito marmanjo. O que faz alguém ser homem, na minha opinião, é o desejo sexual na velocidade cinco. Homem não precisa de flores nem bombons para sentir tesão. Batemos o olho e já sabemos se queremos ou não transar com a pessoa a quem acabamos de conhecer. Não estou dizendo ter filhos, nem casar, nem amar pelo resto da vida: estou dizendo transar. Claro que mulheres também ficam de periquita acesa, mas a sexualidade feminina é diferente. É mais seletiva, é mais complexa, mais difícil de ser despertada. A do homem, não. A priori, homem quer transar com todo mundo. Quando meus amigos héteros dizem que gays são promíscuos, eu proponho a a eles seguinte comparação: imagine uma boate que só tenha mulheres. Bonitas, feias, gordas, magras; algumas a fim de você, outras não. Mas todas - TODAS - a fim de transar naquela noite. Agora transforme as rachas em viados e voilà, eis uma boate gay. Somos promíscuos porque podemos, já que nossos objetos do desejo também o são. Ser homem é ser facinho.

SE 4.972 PESSOAS MORRESSEM...

...Karin Vogel seria a rainha da Inglaterra. Essa alemã de Rostock é uma descendente direta da princesa Sophie de Hannover, antepassada da atual casa de Windsor. Um genealogista deu-se ao trabalho de revirar todo o Almanaque do Gotha para chegar à conclusão de que ela é a última na longa fila de possíveis herdeiros ao trono britânico. Karin tem 38 anos e está aliviadíssima de não ter que assumir coroa nenhuma no futuro próximo. E não, ela não foi convidada para o casamento real.

E já que o assunto é realeza: este galã de cinema aí ao lado na verdade é o príncipe Carl Philip da Suécia. Este sim, parece encantado, né não? Perto dele William e Harry ficam ainda mais com a cara de cocheiros que sempre tiveram. E atenção, monoglotas: ele deve falar português! Ou pelo menos entender algumas palavras, já que sua mãe é a meio-brasileira rainha Silvia. Quem se arrisca a convidá-lo para uns bons drink?

DESCE PRO PLAY

Longe de mim querer posar de expert em revista de mulher pelada, mas até onde eu sei a "Sexy" sempre foi mais pobrinha e vulgar do que a "Playboy". O tipo de publicação especializada em fotos ginecológicas de mascaradas do funk e mulheres-fruta fora da estação. Mas parece que eu preciso rever meus conceitos. Afinal, que mundo é este em que as ex-BBB Micehlly (vesga!) e Ariadna (homem!) são consideradas material playboyano, e a minha favorita Diana, não? A amazona loura assinou ontem com a "Sexy" e será a capa da edição de junho. Custo a crer que a "Playboy" não lhe tenha feito uma oferta melhor. Ou vai ver que a "Sexy" está mesmo fazendo um esforço de reportagem para melhorar a imagem? Seja lá o que for, em junho irei a uma banca fazer algo raro para mim: comprar revista de mulher pelada.

terça-feira, 26 de abril de 2011

UMA VEZ FLAMENCO

Há quase 10 anos, o cineasta espanhol Fernando Trueba teve uma ideia: colocar o gitano Diego "El Cigala" para cantar os maiores clássicos do cancioneiro latino-americano, acompanhado pelo piano sublime do cubano Bebo Valdés. O disco "Lágrimas Negras" estourou em todos os países de habla hispana e, apesar de um certo aroma de armação, deixava clara a genealogia do bolero e da rumba. Esses ritmos não vêm só da África mas também do chamado aos fiéis dos muezzins muçulmanos, tão frequentes na Península Ibérica de 700 anos atrás. Este é o antepassado imediato da música flamenca e está no DNA de quase tudo que se faz na América Latina, até mesmo a bossa nova - "Eu Sei que Vou te Amar" virou um lamento de toureiro ferido na voz do Cigala. Descoberto o filão, ele passou a gravar todas as cumbias e guarânias que lhe passassem pela frente. O novo CD "Cigala & Tango" foi registrado ao vivo no Teatro Gran Rex de Buenos Aires e, apesar do nome, tem um pouco de tudo. Mas é nos tangos propriamente ditos que a coisa fica mesmo salerosa, pois a impetuosidade do flamenco lhes é muito próxima. Até a manjada "El Día que me Quieras" ficou interessante: ganhou um sotaque rústico bem longe do empostamento almofadinha de Carlos Gardel.

NEM A PAU

Qual é o maior tabu de Hollywood? Aquele que o cinema americano não mostra nem a pau? Pois é: o próprio. Cabeças explodindo, corpos partidos ao meio, Kevin Costner, nada disto provoca maior celeuma. Mas basta aparecer um mísero bilau para a plateia arrebentar em vaias. Na Europa e no Brasil a genitália masculina é bem mais frequente na telona, mas nos EUA os atores que fizeram nu frontal são tão poucos que puderam ter suas cenas compiladas pelo site "Daily Beast". A maioria aparece de longe e por poucos segundos. A exceção honrosa é Ewan MacGregor, que exibe quase todo seu esplendor em "Young Adam" (e também em "O Livro de Cabeceira", que não entrou na lista). Mas verdade seja dita: Ewan não é americano, é escocês. Daí tanta desinibição.

PILLOW TALK

Pronto, lá se foi a Araci de "Insensato Coração". Uma das mais assustadoras personagens da teledramaturgia brasileira EVER e uma das únicas da novela de Gilberto Braga que não conhecíamos de alguma encarnação anterior. Durou tão pouco que chego a me perguntar se valeu a pena para Cristiana de Oliveira engordar 15 quilos e se enfeiar a ponto de esquecermos que ela um dia foi Juma Marruá. Mas claro que valeu: ela não só voltou de modo retumbante à TV como ainda venceu um imenso demônio pessoal (parênteses para quem chegou agora: Crica foi enorme de gorda na adolescência e só emagreceu à custa de muito sacrifício. Voltar a engordar nessa altura da vida requer cojones maiores que os da Madonna). Enfim, entendo que a bandidaça precisasse morrer para impelir a trama pra a frente, mas preferia vê-la mil vezes do que a cafoninha da Paola de Oliveira. E sabe o que mais? Acho muito salutar termos um vilão gay na televisão brasileira. Chega de nos fingirmos de santos.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O CASAMENTO IRREAL

Tô achando até pouco o fuzuê em torno do casamento do príncipe William com Kate Middleton. Pelo menos nada que se compare com o media frenzy que foi o casório de Charles e Diana trinta anos atrás, e olha que naquela época não havia internet nem trezentos canais a cabo. A história toda era vendida como “um conto de fadas da vida real”. Até aí tudo bem – o pior é que a gente acreditava. Caímos todos feito uns patinhos na esparrela de que o príncipe, há uma década e meia considerado o solteirão mais cobiçado do mundo, havia se apaixonado de uma hora para a outra por uma garota muitos anos mais nova e decidido se casar com ela num rompante. Até a pobrezinha da Diana acreditou. Faltou alguém que lhe explicasse que aquilo tudo era um grande teatro. Que o príncipe, já meio entrado em anos, simplesmente não podia mais se casar com uma mulher de sua própria geração, já que entre elas não havia mais virgens. Que a função dela seria gerar um ou mais herdeiros (um estepe é sempre providencial) e pronto – depois disto, ela poderia ter uma discretíssima vida particular. “Tudo permitido, contanto que não assuste os cavalos na rua”. Mas não: Di achou que estava se casando por amor, e quando se deu conta da verdade engendrou uma vingança tão maligna que acabou sendo consumida por ela. Não foi sequer o único caso de divórcio na família real: dos quatro filhos de Elizabeth II, três desfizeram seus casamentos. Por causa disso tudo, hoje olhamos com curiosidade para Will e Kate, mas sem aquela inocência de antes. Ela é praticamente perfeita, da beleza não-ameaçadora às credenciais de “classe média” (na verdade, é uma legítima nova-rica). O namoro entre os dois também foi longo e, ao que parece, natural e espontâneo. Mas será que vai durar? Não dá para saber, como em qualquer casamento. Por enquanto, quem quiser se inspirar num autêntico caso de amor dentro da família real britânica deve olhar para Charles e Camilla. Um romance que desafia não só o tempo, como também a imprensa e a opinião pública.

OUR WHOLE UNIVERSE WAS IN A HOT DENSE STATE

Não importa quantos milhares de canais estejam disponíveis, dizem os estudiosos do assunto: você nunca vai assistir regularmente a mais do que sete. Esta teoria é totalmente verdadeira para mim, que ignoro solenemente tudo que é esporte, desenho animado ou notícia de economia quando zapeio a minha TV. Também embirro gratuitamente com algumas emissoras, como o Warner Channel – devo ter me irritado alguma vez com a duração do intervalo comercial e despachei-o para o mesmo limbo onde penam a TV Senado e o Canal Universitário. Bobagem minha, porque só agora, na 4a. temporada, é que descobri para valer a pérola que é “The Big Bang Theory”. Sim, já tinha visto uma ceninha ou outra, e claro que li sobre o suposto noivado gay do Jim Parsons. Mas só fui assistir a um episódio completo no avião, e por completa falta de opção. Foi um feliz alinhamento planetário, porque gostei tanto que comprei a 3a. temporada em DVD e agora recupero parte do tempo perdido. “Big Bang” é uma série à moda antiga, com risadas gravadas, dois ou três cenários e só cinco personagens fixos. Ou seja, texto e atores têm mesmo que ser bons – e são. Como toda boa sitcom, esta também é focada num único defeito humano. A imaturidade emocional já havia sido explorada antes em “Friends” (adultos que teimavam em se comportar como crianças), mas aqui ela vem disfarçada de sofisticação intelectual (gênios da ciência totalmente despreparados para a vida real). E ainda tem aquela tensão permanente de achar que o Jim Parsons vai soltar a franga a qualquer momento e nunca mais recupaturá-la.

domingo, 24 de abril de 2011

PLUS SIZE

Volta e meia surge um disco que, se não é exatamente o melhor do ano, torna-se O disco do ano. Aquele que toca sem parar em todos os lugares, no rádio, na TV, nas lojas, nas padarias. Foi assim com o primeiro da Sade, no distante ano de 1985. Mais tarde aconteceu o mesmo com "Mezzanine" do Massive Attack e "Tanto Tempo" da Bebel Gilberto. Um exemplo mais recente é "Back to Black" da Amy Winehouse. Agora chegou a vez de Adele. "21", seu segundo CD, quebrou o recorde de Madonna como o disco de cantora que mais tempo ficou em primeiro lugar na parada britânica. Nos Estados Unidos, ela conseguiu a maior consagração da atualidade: a faixa "Turning Tables" será incluída na série "Glee". Só no Brasil é que "21" ainda não foi lançado. Talvez a gravadora esteja esperando que todo mundo baixe o álbum de graça da internet para aí reclamar que o mercado fonográfico está morrendo. O fato é que se trata mesmo de um trabalho grandioso, à altura do tamanho da estrela. Aliás, tudo é extra-large no universo adeliano, a começar pelo nome de sua produtora (XL). E segue pela qualidade das canções, todas ótimas; pelos arranjos acústicos e atemporais; pela emoção à flor da pele. Adele canta e compõe com uma maturidade supreendente para alguém tão jovem (21 é também sua idade atual). Mas aí fiquei sabendo que ela acabou de levar um pé na bunda: poucas coisas doem tanto na vida como as primeiras decepções amorosas, e ela aqui se rasga toda, sem o menor pudor mas também sem jamais perder o bom gosto. Minha favorita é a faixa de abertura, a épica "Rolling in the Deep", mas todas as músicas são boas. Deixe-se arrebatar também: é melhor aderir logo, pois daqui para a frente Adele vai ser inevitável. Dos próximos Grammys à proverbial padaria.

sábado, 23 de abril de 2011

ALELUIA

Estou meio contemplativo neste sábado de Aleluia - ou talvez esteja com sono mesmo, já que ontem fomos para a naitchy aqui em SP. De qualquer forma, adorei estes dois vídeos sem palavras. O de cima busca a simetria, coisas complementares, começo e fim, e as bordas arredondadas das telinhas dão um ar que seria vintage se não fosse eterno. O de baixo foi filmado pelo fotógrafo norueguês Terhe Sorgjerd em El Teide, nas ilhas Canárias, o pico mais alto da Espanha, e tem um lance tipo "Koyaanisqatsi". Para meditar e malhar os judas que trazemos dentro da gente, porque amanhã é dia de ressuscitar.

The Mountain from Terje Sorgjerd on Vimeo.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

AVERSÃO AO AMOR

Assisti a "A Minha Versão do Amor" com a sensação de que o livro original devia ser melhor. Não li "Barney's Version", do escritor canadense Mordecai Richler, mas cheguei do cinema e fui fuçar a respeito na internet. Minha sensação só aumentou: o romance é a autobiografia fake de um homem com mal de Alzheimer, cheia de contradições e buracos, com notas explicativas de seu filho para esclarecer alguns pontos obscuros. Um exercício literário que me pareceu interessante, mas que não conseguiu ser transplantado direito para o cinema. O que vemos na tela é um protagonista meio desagradável, volúvel e egoísta, e que fica quase repelente por causa da interpretação de Paul Giamatti. Vai ver que era esse mesmo o objetivo: ele é um puta ator, de quem sempre gostei em tudo o que vi até hoje. Mas é feio demais, e na pele de um tipo antipático chega a dar engulhos. Ainda bem que o resto do elenco segura a onda, especialmente Rosamund Pike como a terceira esposa e grande amor da vida do personagem. Giamatti venceu o último Globo de Ouro como melhor ator de comédia, mas "A Minha Versão do Amor" - que ainda tem uma subtrama policial que não chega a lugar nenhum - não é engraçado nem romântico. É uma meditação sobre a passagem do tempo que, tenho cada vez mais certeza, devia ser muito mais profunda no papel.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

COSQUINHA

Neste feriadão eu estou que nem o pinguinzinho: só quero relaxar e dar risada.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

LE MERAVIGLIE IN QUESTA PARTE DI UNIVERSO

Cheguei do México hoje de manhã e fui trabalhar à tarde, apesar de estar morrendo de sono. Só não caio de cara no chão porque tem uma musiquinha tocando sem parar dentro da minha cabeça, a melhor que conheci durante esta viagem. Mas não é mexicana: trata-se de "Tutto l'Amore che Ho', do italiano Jovanotti. O ragazzo é um superstar em seu país e até já teve disco lançado por aqui, mas acho que poucos brasileiros o conhecem. Aliás, é uma pena que não se ouça mais música italiana no Brasil (ou francesa, ou portuguesa, ou etc.). Só temos ouvidos para nós mesmos e para as babas americanas. Houve um momento no final dos anos 90 em que eu achei que essa barreira iria cair, quando Shakira e Ricky Martin estouraram por aqui antes de fazerem sucesso nos EUA. Enfim, isto é assunto para outro dia e agora eu simplesmente não tenho neurônios suficientes. Melhor continuar ouvindo este novo singolo, em versão original ou em remix para as pistas. Buona Settimana Santa per tutti.

terça-feira, 19 de abril de 2011

À SOMBRA DE REBECCA

Estou encantado com Rebecca de Alba, protagonista da campanha publicitária que vim rodar aqui no DF. Ex-Miss Zacatecas e 2o. lugar no Miss México de 1985, ela logo emendou uma carreira de sucesso como apresentadora de TV que dura até hoje. Ontem estávamos filmando no centro histórico da cidade e uma menininha conseguiu furar o cerco dos seguranças para lhe pedir um autógrafo. Foi o que bastou para todas as outras 300 criancas quererem também, além de tirar fotos e dar presentes. Rebecca atendeu a todas com a maior boa vontade e simpatia. Grandes estrelas são assim: sabem de onde vêm seu sustento, então dão tratamento VIP ao público. Claro que ela também teve outros comportamentos típicos de diva, como levar três horas se arrumando, o que atrasou bastante as filmagens. Fez e refez cabelo e maquiagem várias vezes, e olha que estava com o cabeleireiro e o maquiador que a acompanham há anos. Normal para uma mulher que ainda tem que parecer deslumbrante depois dos 40. Comigo ela também foi especialmente gentil, o que nem sempre acontece quando gravo comerciais com gente famosa. Conversamos sobre o Brasil e outras amenidades, e óbvio que não tive coragem de lhe perguntar sobre sua extensa lista namorados. Entre outros, ela já foi novia de Miguel Bosé e Ricky Martin... Saque tu propia conclusión estupida.

HOMEM USADO

Atiradinho esse anúncio de uma concessionária canadense de carros usados, não? "Você sabe que não é o primeiro. Mas você se importa?" É bacana o apelo direto ao público gay , mas tenho certeza de que estão usando sem permissão a foto do Tom Ford. O estilista é um control freak que exige aprovar cada detalhe de tudo o que leva o seu nome, e duvido que quissesse se associar a uma concessionária de automóveis. A não ser que ela pertença a um primo dele. Ou - o mais provável - o cliente nem sabe de quem se trata. Digitou "homem sexy mais velho" no Google Images e deu nisto.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

JÁ COMEU ESQUITES?

É a comida ideal para depois da balada (ou parranda, como dizem por aqui). Primeiro o tio da barraquinha enche um copo de papel com grãos de milho fervidos em água com cebola, sal, salsinha e às vezes até pés de galinha. Depois cobre tudo com maionese, queijo canasta ralado e tajín, uma pimenta vermelha em pó. Cura ressaca na hora e deve levantar até quem tombou de G. E acredita que é gostoso? Minha amiga local disse que também é servido no final das festas de casamento, para reanimar o povo que vai embora. Os esquites vêm do tempo dos astecas e tem mil variações regionais. Só aparecem à noite: conheci-os agora há pouco, assim que escureceu, pela primeira vez nesses dez anos em que frequento o México. Agora tenho que recuperar o tempo perdido.

MÚSICA CACHONDA

Sempre que venho ao México deixo a TV do quarto de hotel sintonizada no Ritmoson Latino, porque a programação da Televisa é engraçada durante cinco minutos. Já o Ritmoson diverte quase o tempo todo: é um canal de clips em espanhol - se bem que de vez em quando rola o italiano Jovanotti ou a francesa Alizée (brasileiros, nunca). Então lá vai uma seleção dos melhores vídeos que vi desta vez, acompanhados por seus respectivos mp3:

Natalia Lafourcade é uma cantora moderninha que já lançou uns discos bem esquisitos. Aqui ela se junta à banda Los Daniels para uma musiquinha bem legal, "Quisiera Saber". Vai fundo, não tem nada de cafona.

O mesmo já não se pode dizer de Gloria Trevi, cuja biografia parece ter sido escrita pelo Celso Dossi. Ela foi a cantora de maior sucesso no México até ser presa por envolvimento com a rede de tráfico de escravas sexuais comandada por seu então marido e empresário. Passou cinco anos em cana, parte deles no Brasil. Foi aqui que alegou ter sido estuprada na prisão, quando na verdade tinha engravidado do próprio marido, com esperma trazido dentro de uma caneta esferográfica... Nem a imaginação do Celso não chega a tanto. Gloria foi libertada há alguns anos e voltou ao topo das paradas mexicanas. Está lá novamente com a sacudida "Me Río de Tí". Repare nos cabelos lisos no alto e cacheados nas pontas: es tendencia.

O Calle 13 não é mexicano, é portorriquenho, e faz um reggaetón no limite entre o bacana e o irritante. Mas gostei do toque oriental de "El Baile de los Pobres" e mais ainda do vídeo acima, com um cafuçu latino correndo pelado pelas ruas de San Juan. Cachondissimo.

domingo, 17 de abril de 2011

JÁ COMEU NOPAL?

NopaL, bee, com "L" no final. É aquele cacto de desenho animado, e que também aparece na bandeira do México. Pois aqui as pessoas também o comem, em saladas ou como recheio de tacos. Não tem gosto de nada, mas isto não é problema para os mexicanos. Eles cobrem de salsa picante qualquer coisa que põem na boca. Hmmm... nopal com salsa picante... Mais uma razão para conhecer o México.

O QUE A GENTE NÃO FAZ POR UM COCK

Saímos do hotel uma hora antes do espetáculo. Chovia muito na Cidade do México. Algumas ruas estavam alagadas, outras cobertas de granizo. Desnecessário dizer que o trânsito já normalmente caótico conseguiu ficar ainda pior. Depois de muito zig-zag, chegamos ao teatro em cima da hora marcada. Que obviamente foi desrespeitada: o início da peça foi atrasado em meia hora, para dar tempo aos muitos retardatários. E quando finalmente começou, puf - acabou a luz. O que falta agora? Um terremoto? Não estava acreditando. Parecia que não estava mesmo no meu destino ver Diego Luna em pessoa. Mas estava. A luz voltou em cinco minutos e "Cock" finalmente deslanchou. Meu, que peça. Que privilégio ter visto. Sempre gostei do Diego, apesar de, como quase todo mundo, preferir seu amigão Gael García Bernal. Agora acho que mudei de ideia. O chavo não só é bom ator, como tem uma enorme disponibilidade artística. Não tem o menor prurido de beijar outro homem no palco, de lhe apalpar as partes, de fazer uma cena de sexo totalmente nu. E tudo isto com a mesma cara de garotinho que tinha há 10 anos, quando explodiu para o mundo em "Y Tu Mamá También". O melhor é que todo o resto está à altura de seu talento, a começar pelos demais atores. O texto, do inglês Mike Bartlett, é atualérrimo: um rapaz comunica a seu namorado de 7 anos que está pela primeira vez apaixonado por uma mulher, e quer que os dois se conheçam para poder se decidir. O cenário, não consigo descrever. Imagine um palco italiano colocado de comprido no meio de um teatro de arena, com as pontas inclinadas. Tudo se mexe, buracos se abrem, mesas viram cadeiras, uma piração. Uma das melhores peças que já vi na puta da minha vida, e o melhor texto de teatro desde "Um Deus Selvagem". Agora quero ver "Cock" montada no Brasil, porque meu espanhol não foi suficiente para entender muitas das piadas.

sábado, 16 de abril de 2011

TAJ SOUMAYA

Quando morreu Muntaz Mahal, sua esposa favorita, o rei indiano Shah Jahan ficou tão devastado que mandou erigir para ela o mais belo mausoléu de todos os tempos. O Taj Mahal é hoje a maior atração turística da Índia e tido por muita gente como a mais esplêndida construção jamais feita pela mão do homem. A Cidade do México acaba de ganhar o seu Taj: é o novo Museu Soumaya da Plaza Castro, que abriga a coleção particular de Carlos Slim, o homem mais rico do mundo, e que leva o nome de sua falecida mulher. Eu já conhecia grande parte das obras, que antes ficavam expostas no Museu Soumaya da Plaza Loreto, na zona sul da capital mexicana e bastante fora de mão para os turistas. Mas o novo prédio está em Polanco, o equivalente local dos Jardins, bem mais à mão para um programa que já é obrigatório. Só não tem uma aparência romântica como a do Taj Mahal: suas linhas curvas lembram mais um reator nuclear.

O acervo é realmente impressionante, ainda mais quando lembramos que pertence a uma única pessoa. Logo à entrada há um "Pensador" de Rodin - um de muitos, eu sei, mas autêntico - além de cópias em bronze de esculturas clássicas e um mural em mosaico de Diego Rivera de tirar o fôlego, "Rio Juchitán", que tem frente e verso. Os quatro andares seguintes são dedicados à arte mexicana. Tem muita coisa pré-hispânica, uma coleção de moedas, notas e ações digna de Banco Central, pinturas dos séculos 18 ao 20 e até mesmo latas de biscoito decoradas. Na cobertura, a maior coleção particular de Rodin do mundo faz lado a esculturas de Dalí como a "Vênus Girafa" e o "Elefante Espacial". Essas estátuas europeias não têm muito a ver com a mexicanidade que impregna os outros pisos, mas quem está reclamando? A entrada do museu é gratuita todos os dias. Justo o que se espera do homem mais rico do mundo.

(Fiz uma pequena galeria de fotos tiradas com celular do acervo do museu aqui, no meu perfil do Facebook)

LIVING LA VIDA LOCA

Passeando pelo Paseo de la Reforma, passei por um casarão gótico cercado de tapumes. Será que vem abaixo? Ali funcionou uma das encarnações da Living, se não me engano a segunda, uma das locações mais espetaculares que já vi para um antro gay. A mansão pode desaparecer, mas a boate continua. A Living é uma instituição da noite mexicana ainda maior que a The Week no Brasil. Agora está instalada na colonia Juárez, mais perto do centro, como sempre num prédio histórico. Ontem fui conhecer y lo pasé muy bien. Depois de esquentar no bar do modernérrimo hotel W ("dobleú") eu e uma amiga chegamos lá logo depois da meia-noite, bem a tempo de perder a lista de desconto. Morremos em 200 pesos para entrar (uns 35 reais), mas valeu a pena.

São duas pistas, sendo que a maior delas parece menor que a pistinha da TW de São Paulo. Quem tocava era a grande estrela da casa, Oscar Velázquez, com um som bem mais suave que o pancadão tribal a que estamos acostumados, e bem mais baixo também. Mas a maior diversão era mesmo a outra pista, onde predominavam as babas latinas. Teve um show de drags dublando Katy Perry e Jennifer Lopez, mas o melhor mesmo era ver o povo - infelizmente bem feinho - se jogando na Thalía, Anahí, Gloria Trevi e outras divas mariconas ainda mais assustadoras. Com a cabeça cheia de palomas - o drink alto de tequila com refri cítrico que sobe que é uma beleza - nos juntamos a eles e nos esbaldamos. ¡Todas canta! (todas canta em espanhol).

sexta-feira, 15 de abril de 2011

MAIS, BEM MAIS

Rica Perrone acusou o golpe e hoje soltou um loooongo texto em seu blog com o catita título de "Menos, Bem Menos", provando por A + B que não tem nada de homofóbico - imagine, o cara foi até a show da Maria Gadú e aplaudiu de pé! - só que continua achando que a homossexualidade é uma opção, portanto ele tem a opção de não gostar, etc. etc. (aqui entram os violinos chorosos). Pois bem, se não tem mesmo nada contra os gays - porra, o cara tem até um gay na família! - então fica aqui o desafio: mande a sua foto, Rica, para o projeto #EuSouGay. Não, não é uma declaração de preferência por sentar na rosca. O vídeo vai reunir fotos de bichas, lésbicas, trans, travas, bis, héteros, pais, mães, amigos, colegas de trabalho, independente de suas ORIENTAÇÕES sexuais (vai anotando, Rica, você tem muito o que aprender e depois vai ter chamada oral). Pessoas que respeitam as diferenças e sabem conviver com elas. Ou seja, tudo o que você diz que já faz, mas foi tããão incompreendido e injustiçado. Vamos lá, mande sua foto. Seja homem. Mais, bem mais.

VÃO-SE OS ANÉIS

A coisa tá feia mesmo aqui no México. Olha só o que aconteceu no começo do show da Shakira em Monterrey, no começo desta semana. Ela já soltou uma nota oficial jurando que não lhe roubaram nada, mas não importa: si non è vero è bene trovato.

(dica do Diego Rebouças, do Câmera de Vigilância)

O TSUNAMI COR-DE-ROSA

Os homofóbicos estão apavorados. Há, sim, um tsunami cor-de-rosa se avizinhando: a maré na praia já retrocedeu, e muitos deles já perceberam. O deputado Xuca Bolsonazi correu esbaforido e trepou na palmeira mais grossa que encontrou. O jornalista Rica Perrone soltou gritinhos de pânico em seu blog, achando que vai ser tragado pela onda. Vai mesmo, mas o que vem por aí é uma onda do bem: é uma onda de amor, de tolerância, de esclarecimento. Gente como os senhores citados vai ter que descer do pedestal machista onde sempre estiveram, pois não são os gays que estão pleiteando privilégios: são eles quem estão perdendo os deles, de homens héteros senhores do mundo desde priscas eras.

O texto de Rica vai ser estudado no futuro como uma espécie de carta-testamento, um dos últimos bramidos de uma espécie ferida de morte. O macho preconceituoso está em extinção e no futuro só existirá em laboratório, feito o vírus da varíola. O mundo está mudando rápido demais para essas cabeças fracas, tadinhas. Rica está se gabando de que recebeu farto apoio no Twitter; Cheque Bolsonara e sua prole posam de paladinos da liberdade de expressão - mas a verdade é que essa turma já perdeu. É só olhar para os países mais ricos e desenvolvidos, onde os direitos igualitários já são uma realidade e de onde vão se esparramando para o resto do mundo. A onda vai engolir vocês, seus trouxas. Podem reclamar à vontade: cada palavra que sai de suas boquinhas podres depõe contra vocês mesmos e revela preconceitos assustadoramente arraigados. Mas as novas gerações estão chegando ao poder e vocês logo entrarão para os livros de história, como os senhores de escravos. E parem, PAREM de dizer que queremos tratamento VIP. Só queremos o mesmo tratamento dado a todo mundo, pois pagamos os mesmos impostos e temos os mesmos direitos. Vocês é que querem manter um privilégio absurdo: o de permanecer nas trevas da ignorância. Venham para a luz que ainda dá tempo.

(Leia aqui uma excelente resposta de Ivan Trindade ao post nojento de Rica Perrone, e aqui a convocação do André Fischer a um boicote à Olympikus, patrocinadora do jornalista.)

quinta-feira, 14 de abril de 2011

MIS PAPÁS Y MI MADRE

Atenção, programadores do Festival MixBrasil: "La Otra Familia" merece participar da próxima edição. Este filme mexicano trata de um tema super em voga, a adoção de crianças por casais gays, e é bem menos xaroposo do que o trailer aí em cima faz parecer. Na verdade, é quase um novelão, com diversos núcleos de personagens. Uma mulher drogada deixa o filho três dias sem comer; uma amiga sequestra o garoto e o entrega aos cuidados de um casal gay elegantérrimo. Enquanto isto, o pai bandido do menino tenta vendê-lo para um casal sem filhos, e a tal da amiga, que é lésbica, planeja ter um filho com sua namorada. Ah, esqueci do padre bichona ultra-simpatizante. "La Otra Familia" tem o mesmo DNA dos dramalhões mexicanos, mas sua mensagem não pode ser mais consequente - a verdadeira família é aquela que nos dá amor. Pontos-bônus: o bonito casal de protagonistas troca autênticos beijos de língua. Pontos perdidos: o garotinho disputado é feito por um ator-mirim tão fraco que só entendi porque o escalaram quando vi os créditos. Trata-se do filho do diretor.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

AVANT-PREMIÈRE

Até que enfim! Foi divulgado hoje o trailer do vídeo "Não Gosto dos Meninos", aquele que André Matarazzo e Gustavo Ferri rodaram em São Paulo inspirados pelo projeto "It Gets Better". A versão completa só sai em maio e imagino que eles estejam enfrentando problemas para editar: são 12 horas de material, com depoimentos de 40 pessoas diferentes. Eu fui uma delas e apareço aí no meio gesticulando feito uma loca loca loca, junto com meus quatro queixos. Agora é torcer para que aconteça uma pré-estreia de gala, com tapete vermelho e paparazzi. Bora convidar a Boçalnara?

terça-feira, 12 de abril de 2011

Y QUE ME TRAIGAN AQUÍ

E lá vou eu para o México lindo y querido hoje à noite, pela 2a. vez este ano e 18a. na vida. Ficarei lá toda uma semana: dois dias enfiado num instituto de pesquisa e três acompanhando a filmagem de uma campanha, com um e meio de liberdade no meio (até o momento - acabei de perder uma das manhãs livres para uma reunião). Gosto muito da Cidade do México e sei me virar razoavelmente bem nela, mas juro que não estou felicíssimo de ficar tanto tempo por lá. Pelo menos volto às vésperas do feriadão da Semana Santa, quando pretendo ficar bem quietinho em São Paulo. Alguma encomenda de pimenta?

PERUANO NÃO SABE VOTAR

Imagine se o segundo turno para presidente aqui no Brasil fosse disputado por José Rainha e Paulo Maluf. É este pesadelo que vivem agora os peruanos. De um lado, Ollanta Humala, um Chávez-wannabe. Do outro, Keiko Fujimori, filha do ex-ditador preso por corrupção. Dois extremistas que podem por a pique o crescimento excepcional do Peru na última década, o mais alto da América do Sul. Verdade que esse crescimento começou na época de papai Fujimori, que cortou muitas amarras para modernizar a economia do país e conseguiu dizimar o Sendero Luminoso, a mais alucinada organização terrorista do hemisfério. Mas el china se deu um auto-gople, dissolveu o Congresso, perseguiu a imprensa e saqueou o quanto pôde os cofres públicos. Keiko promete pegar mais leve, mas não sei não. Já Humala-sem-alça vem de uma família de militares que já propôs a execução dos homossexuais, mas vem tentando suavizar o populismno de esquerda para ser aceito pela classe média. Apesar do crescimento, o Peru continua terrivelmente desigual e dividido. Agora sua elite desalmada está pagando o preço por não ter investido em educação.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

CONOCERLAS UNA A UNA

Não consigo parar de ver este vídeo desde ontem. Não sei qual das QUARENTA E SEIS candidatas a Miss Porto Rico 1989 eu gosto mais: se da antepassada do Cisne Negro ou da que veio fantasiada de saca de café. Nem ia postar essa maravilha, pois meu amigo André de Genève, fominha como sempre, mandou a dica também para o Celso Dossi e a Lindinalva, que foram bem mais rápidos do que eu. Mas como o importante é dar, não dar primeiro, não resisto. Essa "autopresentación de las candidatas" já se tornou uma parte importante demais da minha vida para eu ignorá-la aqui no blog.

OS TEMPOS ESTÃO A-MUDANDO

Nunca fui fã de Bob Dylan. Não suporto ouvir sua voz por muito tempo, mas, por sua importância e longevidade, respeito o cara. Ou melhor, respeitava. Fica difícil manter qualquer resquício de admiração depois de saber que ele deixou o governo chinês aprovar o repertório dos shows que fez em Beijing e Shanghai. Clássicos como "Blowin' in the Wind" e "The Times They Are A-Changin'" foram sumariamente limados do setlist, e Dylan concordou alegremente. Bons tempos em que ele convencia como cantor de protesto, não? Dizem os entendidos que Dylan nunca quis ser ícone da contracultura nem teve grandes ideais políticos: só está interessado em faturar, desde sempre. Até acredito, mas não deixa de ser chocante vê-lo entrar no panteão dos topa-tudo-por-dinheiro da música pop. Lá já estavam Beyoncé, Mariah Carey, Nelly Furtado e todos os outros que tocaram para Gaddafi; também estava meu adorado Queen, que fez shows na África do Sul em plena vigência do apartheid. Por outro lado, prefiro quem assuma estar ali pelo vil metal do que essa chorumela do U2, outros que nunca me conquistaram. Acho o Bono e sua pregação messiânica um porre de Steinhäger, e queria que um atirador tivesse acertado nele quando os nomes das vítimas de Realengo foram projetados no show de sábado em São Paulo.

UM LUGAR NO LEBLON

A última vez em que fiquei num hostel foi em 1983, quando viajei pela Europa com um Eurailpass. Com a ajuda de um guia que não existe mais - "Europe on 5 Dollars a Day", hahaha - eu e dois amigos descobrimos um albergue da juventude bastante razoável em Paris. Passar pela experiência de quarto coletivo (com estranhos!) e banheiro no corredor não foi exatamente agradável, mas sem dúvida que ajudou a forjar o meu caráter. Quase 30 anos depois, eis-me de volta a um hostel, evidentemente não da juventude. O Leblon Spot abriu há menos de um ano no Rio e se pretende "design", quando na verdade é só limpo e bonitinho. Nunca tinha ouvido falar dele até ler este post do Introspective há duas semanas, e resolvi arriscar. Era o meu primeiro final de semana no Rio sem ter mais apartamento, então queria algo que fosse legal e barato ao mesmo tempo. Deu certo. Claro, nem tudo foi perfeito: para reservar um quarto, precisei depositar metade do valor da diária com antecedência, coisa que hotéis normais não costumam fazer, e paguei o resto no momento do check-in. Mas não gastei uma fortuna: 290 reais por duas pessoas, com direito a café da manhã. Ficamos na suíte master-plus-ultra-blaster, na verdade um quarto amplo e confortável com vista para a rua. E também uma ótima TV de tela plana com programação Sky, um ar condicionado potente, mais secador de cabelo e espelho de maquiagem no banheiro. Na verdade, não tinha cara de hotel. Parecia que estávamos hospedados na casa de alguém. Tanto que faltavam algumas coisas, como telefone, frigobar, shampuzinhos e até mesmo sabonete. Wi-fi, só na recepção. Nada grave, claro. A localização na rua Dias Ferreira, onde ficam alguns dos melhores restaurantes do Rio, é mesmo fenomenal, se bem que não muito perto da praia. Logo abaixo do nosso quarto fica a Boucherie CT, o novo restaurante de carnes do Claude Troigros e um grande sucesso de público. Passamos uma única noite no Leblon Spot e gostamos. Como a festa a que fomos no sábado foi óteeema, perdemos o café da manhã, então não posso avaliar. Mas dá para recomendar tranquilamente este lugar despretensioso e que, por tudo o que oferece, não custa os olhos da cara

domingo, 10 de abril de 2011

BODY, BODY, WANNA FEEL MY BODY?

Alguém aí gostou de “Macho Man”? Não, né? A nova série de Alexandre Machado e Fernanda Young de fato não é homofóbica como cheguei a temer, mas acaba cometendo um pecado maior: é absolutamente sem graça. E isto é ainda mais surpreendente por ela ser assinada pelo casal que nos deu “Os Normais”, o ponto mais alto do humor brasileiro na primeira década do século 21. Lá os autores sabiam do que estavam falando. Rui e Vani, com todos os exageros e descalabros, eram personagens totalmente críveis, parecidos com dezenas de pessoas que a gente conehce na vida real. Já o Zuzu de Jorge Fernando jamais ultrapassa a caricatura. Talvez muito por culpa do ator, que exagera nos trejeitos como se estivesse na “Praça É Nossa”. Mas também por causa do texto, repleto de clichês e piadas fraquíssimas. E Marisa Orth fazendo escada é um desperdício. Alexandre e Fernanda são simpatizantes e têm muitos amigos gays, mas em “Macho Man” estão fora de seu elemento. É uma visão hétero do universo homossexual, o que não chega a ser um problema. Mas não faz rir, e isto sim é indesculpável.

sábado, 9 de abril de 2011

OLHA QUE COISA MAIS LINDA

Estamos de volta ao Rio pela primeira vez depois que nos desfizemos do apartamento na Gávea. Viemos para a festa de aniversário de um amigo, pretexto excelente para estar aqui novamente e entender que a cidade vai continuar sendo um cenário importante da minha vida. Mesmo assim, chorei várias vezes durante a sessão de "Rio", que fiz questão de assistir no Cinépolis Lagoon. O berreiro teria sido maior se o tivesse visto em São Paulo: aqui pelo menos eu estou na Maravilhosa, saio do cinema e o filme continua. "Rio" é um delírio e uma delícia, um digníssimo descendente de "Você Já Foi à Bahia" e outras brasileirices de Walt Disney. Todos os cartões postais cariocas explodem na tela: o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar, o desfile no sambódromo e até mesmo a hoje pouco badalada Vista Chinesa. Mas nem tudo é sonho - com uma nítida influência de "Cidade de Deus", grande parte da ação se passa na favela da Rocinha, evidentemente numa versão liberada para crianças. A história é fofa a mais não poder, apesar de previsível: a última arara azul macho, que vive no gélido estado americano de Minnesota, volta à sua terra natal para encontrar a última fêmea e assim salvar a espécie (só faltava elas descobrirem que são irmãs...). Vi a versão original em inglês, com as vozes perfeitamente escolhidas de Jesse Eisenberg e Anne Hathaway, mas a verdade é que o DNA do filme é brasileiro mesmo. Palmas para o diretor Carlos Saldanha, que usa todo o esplendor da tecnologia americana para recriar encantos mil. "Rio" não tem um roteiro perfeitinho como costumam ser os das animações da Pixar (assim como A Era do Gelo" também não tinha), mas é uma coisa linda, mais cheia de graça. Só de lembrar meus olhos se enchem de lágrimas outra vez.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

TV SELVAGEM

Meu ídolo Dan Savage vai ganhar um programa na MTV americana chamado "Savage U", onde responderá às dúvidas sobre sexo de estudantes de diversas universidades. Como Savage está mais conhecido agora por causa de sua campanha "It Gets Better", uma boçalnara resolveu se promover às custas dele. Maggie Gallagher é a presidente da National Organization for Marriage, um daqueles grupos cristo-fascistas que acha que a aprovação do casamento gay promoverá a imediata dissolução de todos os casamentos héteros (talvez porque todo mundo resolva sair do armário). Maggie, como boa obscurantista, despreza qualquer tipo de educação sexual, e tenta desqualificar Dan por ele ser gay. Afinal, diz ela, como é que um cara que não transa com mulher pode dar conselhos sexuais para mulheres? A resposta do meu ídolo justifica plenamente a devoção que tenho por ele. Dan Savage chama-a na chincha, pois Maggie é católica - e portanto segue os conselhos sexuais de um cara que não transa com mulher, hahaha. O texto integral da réplica pode ser lido aqui, em inglês. Quando eu crescer, quero ter essa mesma lucidez e senso de humor.

(dica do Luciano, que cavalheirescamente não aproveitou este assunto em seu blog "Muque de Peão".)

PRIMEIRAS IMPRESSÕES

A Globo sempre estreou novos programas em abril, mês de seu aniversário. Nos últimos anos este período passou a lembrar cada vez mais a estreia da nova temporada na TV americana, que acontece em setembro. O verão deles é marcado por reprises e a audiência despenca; o nosso tem “BBB”, e mesmo assim a audiência tem despencado. Dei uma olhada nas novidades da Globo e também na nova novela do SBT. É injusto julgar um programa por apenas um episódio, mas, como dizia Santo Oscar Wilde: “Só as pessoas superficiais não se deixam levar pelas primeiras impressões”. Então lá vai:

TAPAS & BEIJOS – Impressionante este título genérico não ter sido usado antes para uma novela das sete, néam? Cabe nesta série sobre duas vendedoras de uma loja de noivas, assim como caberia numa trama que envolvesse uma andróide, um prédio falante e um macaco pintor. Fernanda Torres e Andrea Beltrão estão ótimas como sempre, mas o primeiro capítulo se ressentiu tanto das indefinições do texto quanto do excesso de bagagem das protagonistas (impossível não lembrar de Marilda e Vani). E vem cá, o que aconteceu com o ótimo “Programa Piloto”, estrelado pelas duas e que teve um único episódio exibido no Réveillon do ano passado? Era sobre duas atrizes – vai ver que a direção da emissora considerou a piada interna demais.

DIVÃ – Já o veículo de Líla Cabral nasceu pronto. Pudera: tanto ela quanto o roteirista Marcelo Saback convivem há anos com a protagonista, a divorciada Mercedes. Primeiro no teatro, depois no cinema e agora na TV. Lília é simpática e carismática, e deixa Mercedes vaga o suficiente para que qualquer mulher se identifique com ela. A trama de estreia (que só conclui na semana que vem) foi bem urdida, com a personagem ficando amiga justo da esposa de seu amante (e mãe da namorada de seu filho - ai). Pena que serão só 8 episódios: Lília precisa descansar a imagem para estrelar “Fina Estampa”, a próxima novela de Aguinaldo Silva.

LARA COM Z – E por falar no Aguinaldo, o que é que ele tanto vê em Susana Vieira? Todos os últimos trabalhos ela na TV foram assinados por ele. Tenho a sensação de que o autor se projeta na atriz, fazendo-a viver todas suas fantasias. “Lara com Z” é um spin-off de “Cinquentinha”, do ano passado: a protagonista e alguns personagens vêm de lá, como o gay malvado feito pelo divino Pierre Baitelli. A estreia ontem foi um festival de susanices, com la Vieira fazendo uma versão até mais comportada de si mesma. Teria preguiça de acompanhar, não fosse pela presença do Baitelli e de Beatriz Segall. Ela surgiu ontem no finalzinho, surpreendemente bem para quem fez Odette Roitman há quase 23 anos. Tomara que continue má.

AMOR E REVOLUÇÃO – O SBT também esperou acabar o “BBB” para lançar sua grande aposta para 2011. Primeiro me espantei com o fato de uma emissora que, durante o governo Figueiredo, exibia uma patética “Semana do Presidente” no horário nobre, agora fazer uma novela onde os mocinhos são os comunistas e os vilões os militares. Mas aí lembrei que a única política de Silvio Santos é estar sempre bem com o governo de plantão. No mais, é inegável que os valores de produção melhoraram muito, mas um olho bem treinado percebe na hora que não estamos na Globo. A luz um pouco forte demais, os atores manjados e sumidos há anos que ressurgem evelhecidos, as atuações over… O texto ultra-didático de Tiago Santiago também não ajuda. E quem disse que as torturas começaram no dia 1o. de abril de 1964, logo apó o golpe? Deslizes históricos à parte, foi esquisito ver a Gabriela Alves, que eu conheço por amigos comuns, sendo eletrocutada.

Hoje estreia a série mais aguardada de todas, “Macho Man”. Amanhã eu conto o que achei. Expressei minhas apreensões quando fiquei sabendo do projeto, e as chamadas do programa só me fizeram sentir uma coisa: meda. Muita meda.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

ALGO DE PODRE

Ontem finalmente fui ver "Em um Mundo Melhor", que ganhou o mais recente Oscar de Filme Estrangeiro. É bom pacaray: a diretora dinamarquesa Susanne Bier entrelaça duas narrativas paralelas de maneira magistral. Na África, num campo de refugiados num lugar que parece ser Darfur, um médico vive o dilema de tratar ou não o senhor da guerra que vem aterrorizando a população. Nos arredores de Copenhague, o filho deste médico sofre bullying no colégio e é incitado por um novo colega a partir para a ignorância. Essas duas situações são ligadas por uma questão que não poderia ser mais pertinente: como reagir à violência? Como peitar os boçalnaros da vida sem tornar um deles? Foi ainda com essas perguntas na cabeça que recebi na manhã de hoje as notícias terríveis que vêm do Rio. As informações ainda não são claras, mas dizem que o assassino de 12 pessoas numa escola em Realengo estaria reagindo ao bullying sofrido pela filha (e é impressionante a rapidze com que essa palavra se incorporou ao vocabulário corrente: vi na TV uma senhora de idade falando em "bule"). Há mesmo algo de podre no ar, e não só no reino da Dinamarca.

CRISE DE ABSTINÊNCIA

O "BBB 11" terminou há mais de uma semana, mas eu ainda não me recuperei. Estou sentindo a maior falta da minha coluna diária na Folha.com e morrendo de saudades de brigar com os leitores. Hoje saiu o último sub-produto das minhas críticas ao programa: um artigo na revista "Junior", já nas bancas de São Paulo. Escrevi o texto antes da vitória de Maria, mas já sabendo que este ano seria bem diferente do ano passado. Em 2010, o mal e a homofobia venceram, na pele do execrável Marcelo Dourado. Dessa vez, o grupo de machões que se formou dentro da casa foi sendo eliminado um a um, e tanto uma periguete quanto um gay destrambelhado conseguiram chegar à final. Sinal de que o Brasil mudou? Nem tanto - mas, pela imensa repercussão, o "Big Brother" não deixa de ser um termômetro. Agora estou torcendo/receando que me chamem para comentar "A Fazenda". Pois é, os "reality shows" já fazem parte da minha realidade.

A BIBA DAS CAVERNAS

Fundamentalistas e bolsonazis adoram dizer que a homossexualidade é "contra as leis da natureza" e que Deus teria criado Adão e Eva, não Adão e Ivo. Essa cambada de ignorantes não enxerga um palmo além do próprio nariz: o mundo animal é coalhado de espécies que praticam algum tipo de ato homossexual, e ainda não surgiu cultura humana livre de viadagem ou travestismo. Nem a Pré-História escapou: arqueólogos tchecos acabam de anunciar a descoberta de um túmulo da Idade do Bronze nos arredores de Praga. É o esqueleto de um homem - só que ele está enterrado com a cabeça voltada para o leste e cercado de potes, como a cultura local daquela época costumava fazer com as mulheres. Os homens eram sepultados voltados para o oeste e cercado de armas. Os cientistas duvidam que se trate de um erro: afinal, nossos antepassados levavam os ritos fúnebres muitíssimo a sério. Mais provável que se trate de um homem de orientação homossexual, que assumiu funções femininas dentro do grupo em que vivia - como é comum em certos povos da América do Norte e da Oceania. O indivíduo em questão parece ter sido respeitado por seus contemporâneos até mesmo na morte. E aí fico com a sensação de que quem vive nas cavernas somos nós.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

O DIABO VESTE PIJAMA

Sabe a categoria filmes-para-ver-no-avião? Aqueles filmes que você até tem interesse de ver, mas não o suficiente para se abalar até o cinema, pagar estacionamento, ingresso, pipoca, etc. Talvez para alugar em DVD, se as suas 15 primeiras opções não estiverem disponíveis. Ou para assistir por acaso na TV a cabo, numa noite em que você estiver zapeando a esmo. "Manhã de Glória", que estreou sexta passada no Brasil, se encaixa com KY nesta categoria. Tive a sorte de vê-lo no voo para Buenos Aires, há pouco mais de três semanas. Digo sorte porque antes de vê-lo ele estava na grupo Especial A-Plus: afinal, tem Diane Keaton! Harrison Ford! Pela primeira vez juntos! Numa comédia adulta e sofisticada e blábláblá. Mas a realidade não é bem esta. Os astros veteranos fazem papéis menores (o dela é quase uma ponta de luxo) e a verdadeira protagonista é Rachel McAdams. Uma jovem jornalista que se vê, de uma hora para a outra, num ambiente hostil, trabalhando com feras temperamentais e enfrentando mil obstáculos, até conseguir provar seu valo... Sim, já vimos este filme. É "O Diabo Veste Prada" transplantado para a redação de um telejornal matutino, daqueles que a gente assiste ainda de pijama. Ou seja, nada de moda, desfiles, top models ou Meryl Streep. Em seu lugar temos mr. Ford, o rei do underacting, que acha que falar baixo e franzir o cenho é mais do que suficiente. De fato, "Manhã de Glória" foi escrito pelo mesmo roteirista de "O Diabo..." (que era adaptado de um livro), mas não tem um terço do humor ou do glamour deste. Não é um programa ruim, mas nem de longe indispensável. Assista se o filme que você realmente queria ver estiver com a lotação esgotada. Ou se as outras opções nos canais de bordo forem Bob Esponja ou reprises de "Friends".

CLOSE TO YOU

Será possível que Glenn Close, minha atriz favorita, finalmente vá ganhar um Oscar? Ela foi indicada cinco vezes nos anos 80 e perdeu todas. Depois se afastou um pouco do cinema para fazer a série "Damages", que lhe rendeu alguns Emmys. Agora está de volta à telona num papel que é uma autêntica isca de prêmios: um homem. Ou melhor, uma mulher que se veste de homem. Glenn já havia feito "Albert Nobbs" no teatro e há muito tempo vinha tentando adaptar o texto para o cinema. Conseguiu: as filmagens acabam de terminar na Irlanda, e os sites especializados já a apontam como uma das favoritas para o troféu da Academia no ano que vem. Seria uma barbada, não fosse um pequeno detalhe. Glenn terá que enfrentar sua amyga e ryval Meryl Streep, que interpreta Margaret Thatcher em "The Iron Lady". Há um certo consenso em Hollywood de que Meryl merece um terceiro Oscar. Mas e a pobre Glenn, que nunca ganhou? Além do mais, há um toque de justiça divina se ganhar uma atriz com nome de homem fazendo um papel masculino.

terça-feira, 5 de abril de 2011

O PAI DO ANO

Perdi o "CQC" de ontem. Esqueci que o programa provavelmente repercutiria o affair Boçalnara da semana passada, e fui assistir a um DVD pirata de "O Jardim dos Finzi-Contini" comprado em Buenos Aires que feriu meu olho mais do que a conjuntivite poderia. Por isto, só hoje fiquei sabendo do que o Marcelo Tas disse. Está no vídeo aí em cima, na marca dos 12 minutos. Depois do Bolsanazi mostrar uma foto de seu cunhado negro como prova irrefutável de seu não-racismo, Tas fez algo surpreendente: mostrou um retrato de sua filha Luiza, e contou para todo o Brasil que ela é gay. Não, ele não está expondo a menina: está dando um chega-pra-lá no deputado e seus seguidores. Está usando a linguagem que eles entendem: "sabe com quem está falando?" Essa corja parte do princípio que todo homossexual assumido é marginalizado pela sociedade, que vivemos na sarjeta sem família nem amigos. Isto já foi quase verdade, mas não é mais. Cada vez mais gente não tem o menor pudor de assumir seus parentes gays, e isto é ótimo. São nossos aliados mais fortes, porque provam que não caímos de Marte nem somos desvios da natureza. Somos parte da natureza, como todo o resto da humanidade. Conheço o Marcelo há muitos anos, já assisti ao "CQC" da plateia e até fiz uma crítica negativa do programa para a "Folha de São Paulo". Também conheci a Luiza quando pequena. Hoje quero dizer para os dois: que sorte que vocês têm de ter um ao outro, e parabéns pela coragem. Parabéns pelo amor, que é contagiante e poderoso. E tomara que este exemplo anime outros famosos a apoiarem publicamente seus filhos, netos e irmãos gays. Abril mal começou, mas Marcelo Tas já pode se considerar o Pai do Ano.