terça-feira, 30 de novembro de 2010

VOVÓ TÁ NA JANELLE

A pergunta que não quer calar: será que a Amy vai dar vexamy? É grande a probabilidade dela entrar bêbada em cena, ou esquecer das letras das músicas, ou cair do palco e morrer. No mínimo, aposto que a vovó vai estar na janela acenando para o público. Foi por isto que não tive coragem de comprar ingressos para a pista VIP do show que ela fará em São Paulo em janeiro. 500 reais para ficar horas em pé, num lugar sem o menor conforto, para ver um espetáculo que não tem nada de pirotécnico? Preferi a plateia normal, que já custa duzentão. Ainda bem que antes da srta. Casadovinho tem a melhor cantora deste ano que ora finda, a formidável Janelle Monaé. Seu disco "The ArchAndroid" é um dos 5 melhores de 2010. Tão bom que me dá preguiça de falar de coisas como "Loud", o novo da Rihanna - legalzinho, animadinho, mas sem outra ambição do que vender muito. Antes também tem um tal de Mayer Hawthorne, de quem nunca ouvi falar até esta semana. Espero que valham o ingresso, o táxi, a chuva de verão e o possível fiasco de Amy Winehouse.

BLACK CHATTERLEY

Sobre um fundo lilás – a cor favorita do estilista – víamos a silhueta imóvel de uma modelo, ao som de um texto de Fernanda Young. Mas o tom predominante na coleção inverno 2011 da marca R.Rosner foi mesmo o preto. Roupa de festa para mulheres com vida secreta, declaradamente inspirada no romance “Lady Chatterley”. Esta foi a 6a. participação do Rodrigo na Casa de Criadores, que precede a São Paulo Fashion Week. E foi de longe a mais impactante, não só pela produção esmerada do desfile, mas principalmente pelos vestidos dramáticos de corte esvoaçante (veja mais fotos aqui).

Aliás, acho que o evento como um todo melhorou. Não é mais o jardim de infância da moda. Depois de uma limpa geral na edição passada, o número de jovens designers caiu drasticamente, o que é bom – haja saco para aguentar 11 desfiles de enfiada (ontem foram só 6), com qualidade oscilante. Menos e melhores looks, esta parece ser a orientação. A noite começou bem, com uma coleção fantástica do Walério Araújo. Adorei os véus que encerraram sua apresentação, dignos da Virgem Maria se não fossem negros – a cor mais presente de ontem. Também gostei da atitude dos modelos da Sumemo, que iam de Junior (ex-Sandy) a Alex Atalla a Dudu Bertholini, ovacionadíssimo – mas nem tanto dos modelitos rock’n’roll. Estampas de caveira? Gente, que ousado, ninguém nunca fez até hoje… Saí do shopping Frei Caneca com overdose de pretinhos não-básicos. Pelo jeito, o inverno de 2011 será o mais black de todos os tempos. Tudo bem, ouvi dizer que emagrece.

OFNER ASSIM

É só pensamento positivo, ou as coisas estão mesmo mudando? Acho sensacional que um incidente menor como o pito levado por um casal gay numa das filiais da doceira Ofner em São Paulo tenha resultado num processo e num pedido de desculpas formal da empresa. Parabéns a Lucio Henrique Serrano, um dos namorados, que não se intimidou e registrou boletim de ocorrência mesmo após sair do local com o gerente tentando passar uma borracha no ocorrido. São atitudes assim que vão fazer com que seguranças sejam melhor treinados e passem a tratar com o mesmo respeito todos os clientes, o que não costuma acontecer na prática. Agora é torcer para que a Ofner seja mesmo obrigada a ressarcir o casal. Podemos fazer marchas, passeatas, paradas, mas não existe argumento melhor que o dinheiro. É uma pena, mas é asism que funciona o mundo.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

FALA QUE EU TE ESCUTO

Por indicação do Gilberto Scofield, hoje vou participar ao lado do André Fischer do programa "Notícia em Foco" da rádio CBN, apresentado por Roberto Nonato e Mariza Tavares. Vamos conversar sobre a cobertura da mídia aos recentes episódios de homofobia - será que melhorou? Eu acho que sim, mas também acho que tivemos a "sorte" (põe aspas nisto) dos ataques terem acontecido numa semana meio devagar. Alguns dias mais tarde, teriam sido completamente ofuscados pelos confrontos entre a polícia e os traficantes no Rio de Janeiro. O programa vai ao ar ao vivo pela internet, das 19 às 20 horas de hoje: clique aqui para ouvir. E será transmitido pela própria rádio no próximo sábado, às 22:30, além de ficar disponível no site da CBN. Lá também estão as frequências das 29 afiliadas por todo o Brasil. Espero não falar muita besteira.
ATUALIZAÇÃO: Adorei participar do programa. Acho que me comportei direitinho e deixei todo mundo falar - ao contrário do que costumo fazer no podcast, hahaha. A gravação na íntegra está aqui, na página do "Notícia em Foco" no site da CBN. Escuta aê.

FINITE INCANTATEM

Os seis filmes anteriores do Harry Potter viraram um borrão na minha mente. Não sei mais o que aconteceu em qual, qual personagem apareceu pela primeira vez, qual morreu. Porque todos seguiam mais ou menos o mesmo esquema: o começo de mais um ano letivo em Hogwarts, novos professores, novas ameaças e final relativamente feliz, à espera da tempestade que se aproxima. Pois bem, a tempestade chegou. A primeira parte de "As Relíquias da Morte", o último episódio da série, já deslancha tensa, com os bonzinhos em fuga e os malvados se regozijando. A escola nem aparece; alguns personagens clássicos surgem em pontas rápidas, outros sequer são citados. O foco está mais do que nunca sobre Harry, Hermione e Ron, agora bem crescidinhos e descambando para um triângulo amoroso. A ação frenética da primeira hora transforma-se em melancolia e meditação na segunda, mas o filme nunca fica chato. Não olhei uma única vez para o relógio durante quase duas horas e meia. Nunca li os livros mas sei bastante do que ainda está por vir. Mesmo assim, não vejo a hora da segunda parte estrear, em julho do ano que vem. A série vai acabar, mas seu feitiço jamais.

DON'T CALL ME SHIRLEY

O mundo amanheceu menos engraçado hoje. Morreu Leslie Nielsen, que depois de uma longa carreira em filmes sérios encontrou sua verdadeira vocação já na maturidade: o astro de comédias impagáveis como "Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu" e "Corra que a Polícia Vem Aí". Leslie usava seu jeitão de americano branco e sisudo (na verdade, era canadense) para dizer os maiores absurdos com cara de quem está acima do bem e do mal. Aí em cima está uma de suas cenas clássicas, com um diálogo absolutamente intraduzível: "Surely you can't be serious". "I am serious. And don't call me Shirley".

domingo, 28 de novembro de 2010

NA LETRA FRIA DA LEI

Acordei com um e-mail irado do Luciano Guimarães, do blog "Muque de Peão"."Vc já leu o editorial da Folha de S. Paulo de hoje com o título “Lei da Homofobia”? Será que fui eu quem não entendeu direito? Será que li as entrelinhas erradas?" Não tinha lido ainda. Aqui está o editorial:

Lei da Homofobia

Legislação deve punir atos de discriminação contra homossexuais, mas precisa ser equilibrada para para não ferir a liberdade de opinião

Desde 2006 tramita no Senado Federal, depois de já aprovado pela Câmara, o projeto da chamada "Lei da Homofobia", criminalizando atitudes resultantes de "preconceito de sexo, orientação sexual e identidade de gênero".
A polêmica em torno do assunto ganhou intensidade nas últimas semanas. Houve, em primeiro lugar, as justificadas reações de choque e de repúdio diante dos recentes casos de agressão, supostamente por preconceito antigay, de jovens na avenida Paulista. Pressionar pela aprovação da Lei da Homofobia surge, assim, como forma de dar vazão institucional às condenações que o episódio justificadamente suscita.
Reações contrárias ao projeto, contudo, surgem nos setores religiosos, que contam com a crescente influência da bancada evangélica para barrar a iniciativa.
Nos dois lados do debate, há quem se veja vítima de censura e preconceito. O direito constitucional à liberdade de expressão e consciência, sem dúvida, é um dos valores que cumpre reiterar na análise do assunto.
Na verdade, a chamada Lei da Homofobia constitui-se de uma ampliação, no que diz respeito à orientação sexual, de um texto em vigor desde 1989, punindo atos e manifestações de preconceito racial. Trata-se de uma espécie de reforço a direitos de grupos que já encontrariam proteção na Carta e em códigos vigentes.
Há um risco potencial de que a aplicação dessas legislações fira o princípio da liberdade de expressão, embora não conste que ele tenha sido, até aqui, afrontado.
Do mesmo modo, espera-se que ninguém estará impedido pela nova lei de considerar o homossexualismo atentatório aos mandamentos de Deus; até a Bíblia teria de ser censurada, nesse caso.
Depende do bom senso do Ministério Público e da magistratura a aplicação adequada da lei. Há de se considerar, ademais, o excessivo rigor nas punições, que chegam a vários anos de cadeia, em casos que não são de violência física -quanto a estes, sempre foram coibidos pelo Código Penal.
A aplicação sensata da lei, tal como foi redigida, ou a busca de um acordo razoável em torno de possíveis modificações em detalhes do texto, evitariam os inconvenientes reais ou imaginários que se antepõem à sua aprovação.
Mas o bom senso e o equilíbrio são, sem dúvida, as primeiras vítimas quando está em jogo, mais uma vez, a explosiva mistura de sexualidade e religião. Dessa verdadeira neurose do mundo contemporâneo, o Brasil tem-se saído razoavelmente bem, dada a autoimagem, nem sempre confirmada na prática, de tolerância que cultivam seus habitantes.
É essencial preservá-la; mas, a julgar pela celeuma com relação ao projeto, e pelos recentes casos de perseguição a homossexuais, o espectro da intolerância resiste e se renova sem descanso.


Preciso admitir que não fiquei tão furioso quanto o Luciano. Sim, o texto usa a expressão inocrreta "homossexualismo" e foi obviamente escrito por um heterossexual que não faz a puta ideia de quanto os homos sofrem. E falar em censura à bíblia, francamente - olha aí o medo da tal ditadura gay de novo, gente! Mas concordo que as punições previstas pela lei são mesmo excessivas. No mais, já disse e repito: não adianta legislar sobre uma religião. O Estado não pode dizer no que os fiéis podem ou não acreditar. Claro que uma igreja que pregasse o sacrifício de criancinhas ou mesmo defendesse o preconceito racial seria considerada criminosa, mas isto é o reflexo do consenso que a sociedade chegou quanto à violência ou ao racismo. Consenso que ainda está muito distante no caso da homossexualidade, porque o debate está apenas começando. Não sou contra a Lei da Homofobia, de jeito nenhum. Mas acho que ela precisará passar por ajustes no texto se quiser ser aprovada pelo Senado. É assim que se faz política: negociando, abrindo concessões. Infelizmente, mas o machismo é algo profundamente enraizado na nossa cultura e não será derrotado de uma hora para a outra. Como é nos outros países? Que lugares aprovaram leis semelhantes? Seria interessante aprender desses exemplos. Ainda temos um caminho enorme pela frente.

sábado, 27 de novembro de 2010

NADA PODE DAR CERTO

"Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos" é um dos filmes mais cruéis de Woody Allen. Ele não tem pena de humilhar seus personagens nem de puni-los por mentirem a si mesmos. Todos são insatisfeitos com suas vidas mas incapazes de enxergar os próprios problemas. Alguns temas recorrentes da obra alleniana estão de volta, como o homem mais velho que troca a esposa por uma mulher bem mais nova, só para descobrir que não tem assunto com ela. Ou a ridicularização de quem recorre ao sobrenatural. Mais uma vez filmando em Londres com um elenco basicamente inglês, Woody fez uma comédia pessimista, bem ao contrário do anterior "Tudo Pode Dar Certo". Aqui quase nada dá: sonhos são quebrados, amores ignorados, esquemas desmascarados. Seria um filme melhor se perdesse cerca de meia hora. Mas não é ruim - o diretor é incapaz disto - e certamente superior a quase tudo que está em cartaz.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

ABAFANDO

Hoje dei uma entrevista por e-mail para o Everton Lopes e o Marcel Zama do blog Abafa o Babado. Já está no ar. Como me exponho pouco por aqui (*fina ironia*), quem quiser saber mais da minha misteriosa personalidade deve dar um pulo lá. Ah, também revelo qual é a tara secreta do Gérson de "Passione" (nada como uns truques para levantar a audiência - aprenderam, rapazes?).

PAPAI WALT DISNEY

"Enrolados", uma versão em 3D da manjada história de Rapunzel, estreia hoje nos Estados Unidos e em 7 de janeiro no Brasil. É o 50o. desenho em longa metragem dos estúdios Walt Disney. Para comemorar, a produtora montou este vídeo acima, em contagem progressiva mas sem os nomes dos filmes. Quantos você já viu? Quantos você consegue identificar? Curioso perceber como a maioria dos clássicos está entre os 20 primeiros e como a produção se acelerou dos anos 90 para cá ("A Bela e a Fera" é apenas o de no. 30). Podem me chamar de colonizado, mas não faz mal: a Disney faz parte do meu DNA mental.

CAPITÃO RENASCIMENTO

Não dá para negar o efeito “Tropa de Elite” sobre a nova guerra em curso no Rio de Janeiro. Parece que a população desta vez está não só torcendo como até colaborando com a polícia. Parece óbvio, mas há até pouco tempo era difícil saber quem eram os malvados nessa bagunça toda. Agora o BOPE é saudado como a Liga da Justiça, cada homem de negro um herói em potencial. Claro que a realidade não é tão maniqueísta como dá a entender a cobertura da Globo, que chegou a mostrar os ônibus queimando ao som de música clássica no “Bom Dia Brasil” de hoje. Mas é fato que os traficantes “jumped the shark” – exageraram na dose, passaram do ponto e não contavam com uma reação tão forte das autoridades. É ótimo que o governo de Sérgio Cabral não tenha pruridos em pedir ajuda federal, como tiveram os tucanos nos ataques de 2006 em São Paulo. E melhor ainda que não se debata mais se as Forças Armadas têm ou não que intervir: hoje seu engajamento é praticamente ponto pacífico. Mas ainda se perde tempo discutindo se os bandidos são terroristas ou não. Muitos intelectuais alegam que não, já que não há uma ideologia política por trás das ações violentas. Mas é evidente que são, pois o que eles querem é instaurar o pânico na cidade e voltar à maciota dos tempos do Garotinho. Como que tacar fogo numa van com gente dentro não é terrorismo? Mas o Rio vai sair desta – ou melhor, vai renascer.

VAI MELHORAR

A agência digital Grïngo, onde um dos sócios é meu amigo André Matarazzo, está com um projeto super legal inspirado pela campanha "It Gets Better". Não se trata de uma simples tradução: afinal, os casos de suicídio de gays adolescentes provocados por bullying ainda são raros por aqui, ou pelo menos abafados. Mas é importante que essa garotada espalhada Brasil afora, muitas vezes isolada em rincões do interior, saiba que não tem nada de errado com ela. Que ser homossexual é mais do que normal - é absolutamente fabuloso. O pessoal da Grïngo está em busca de 20 gays adultos e assumidos dispostos a gravar entrevistas de meia hora contando como são suas vidas. Estes depoimentos serão editados num único vídeo que será postado na internet e, espera-se, amplamente divulgado (podem contar comigo). Leia a convocação aqui, no blog da agência, e, se estiver a fim, escreva para amo@gringo.nu. A imensa maioria dos brasileiros ainda acha que bichas, lésbicas e trans são seres de outro planeta, ou que estamos condenados a uma vida de sofrimento e a uma eternidade no inferno. É só mostrando a cara (e, muitas vezes, dando-a a tapa) que vamos conseguir melhorar alguma coisa. Quem se candidata?

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

MAG IN BRAZIL

Acabo de chegar do coquetel de lançamento da 2a. edição da revista "Made in Brazil". Não é uma versão impressa do blog do mesmo nome, e sim um calhamaço de fotos de modelos brasileiros em poses e situações pra lá de sugestivas, um autêntico coffee table book para se guardar no banheiro. A festinha em si me deu a sensação de ter morrido e ido para o céu: vários dos rapazes que enfeitam a revista estavam lá em pessoa, numa prova irrefutável da existência de Deus. A "Made in Brazl Magazine"#2 está à venda online por 30 dólares. Cerca de 100 exemplares (de uma tiragem numerada de apenas mil) estarão disponíveis nas filiais da Livraria Cultura de todo o Brasil a partir da próxima segunda, por 55 reais. É um presente de Natal tão irresistível quanto os ensaios que recheiam suas páginas, com o padrão de qualidade que é a marca registrada do Juliano Corbetta.

APENAS MAIS UM

Não falei que os ataques homofóbicos iam se tornar ainda mais frequentes? Ontem fiquei sabendo da agressão sofrida por Daniel Sena, diretor e roteirista da série "Apenas Heróis". A história é cabeludérrima: Daniel foi sequestrado por três brutamontes que o obrigaram a beber gasolina e comer terra. Só escapou de ter um cano enfiado no fiofó porque foi socorrido por um caminhoneiro. Não está claro pela notícia divulgada pelo blog da galera onde ocorreu o ataque; segundo o Made in Brazil, foi no Rio, mas o programa é gravado em Salvador. Pelo menos esse horror todo serviu para divulgar a série, que já faz sucesso no YouTube e está indo para o 5o. webisódio. Assisti o primeiro com a maior das boas vontades, mas achei meio amadoresco e, desculpem, ruinzinho. Dizem que depois melhora: vou conferir. De qualquer forma, aplaudo mais esta iniciativa de dramatizar a vida gay brasileira - "a primeira vez que os homossexuais etc. etc." - e torço para que seja melhor sucedida que as tentativas anteriores.

O SEGREDO DOS SEUS OLHOS

Lembra do Daniel Cassús? Aquele que tinha um dos melhores blogs de todo o Brasil mas foi tragado pelo vórtex espaço-tempo de uma hora para a outra? Jamais saberemos direito por que ele sumiu tão de repente, nem onde ficou escondido esses meses todos. A versão oficial é que o avião onde ele estava sofreu uma acidente sobre a cordilheira dos Andes; outros dizem que o gato preto deu um novo sentido à palavra "jogação". O fato é que seu novo blog, "Mundo em Meus Olhos", entrou no ar à zero hora desta quinta-feira. Quero ser um dos primeiros a saudar seu regresso e assim poder concorrer ao sorteio de uma valiosa torradeira. Daniel, bem-vindo de volta: a blogosfera fica muito mais divertida com você. E eu tenho que ficar mais esperto, porque sempre tenho que checar (hmm) se você não postou primeiro o que eu ia postar. Amygas e ryvais para siempre...

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

E SEGUINDO A CANÇÃO

Por qual misteriosa razão um protesto marcado para a quarta à tarde atrai mais gente do que um no domingo? Talvez porque no fim de semana as pessoas tenham mais o que fazer, talvez porque queiram uma boa razão para matar aula ou trabalho. Não importa: a manifestação em frente ao Mackenzie teve cerca de 500 participantes segundo a polícia, o que significa que deve ter tido mais. Apesar dos ovos jogados pelos moradores de um prédio, tudo correu na santa paz. E, embalada pelo fogo cívico, a galera ainda teve ânimo de subir a Consolação e seguir pela Paulista até a altura do 777, o novo Stonewall brasileiro. Tomara que essa animação não feneça tão cedo, porque é certo que os ataques - tanto físicos como verbais - vão continuar. Tudo por causa da nossa visibilidade: quando estávamos encolhidinhos, eram raras as agressões explícitas (implícitas sempre houve). Mas o remédio para isto é mais visibilidade, mais diálogo, mais convivência. Muita gente tem preconceito porque não conhece nenhum homossexual de perto, ou nem desconfia que aquele colega de trabalho é gay. Quando descobre, percebe que não mordemos. Só quando provocados.

TODOS AO MACKENZIE

É hoje a manifestação na porta do Mackenzie. A concentração foi marcada originalmente para as 17:30 e depois remarcada para cada vez mais cedo: o último horário que me foi passado é o das 16 horas. Deve ser porque a petizada precisa dormir cedo... Infelizmente, só estarei lá em pensamento: alguém tem que trabalhar, não é mesmo? Mas o protesto promete reunir mais gente que o da Paulista domingo passado. Só espero que não descambe para a selvageria, já que tem muito ma(cken)zista que vai se escudar atrás da interpretação equivocada do reverendo para justificar sua boçalidade homofóbica. Ou atrás do longo post que Reinaldo Azevedo, da "Veja", publicou anteontem em seu blog, chamando o PL 122/2006 (vulgo Lei da Homofobia) de "AI-5 gay". O colunista chega a dizer que a lei poderá se voltar contra os homossexuais, já que ninguém mais irá contratá-los. Por que, no entender dele, não poderiam ser demitidos - caso contrário, os patrões seriam porcessados por preconceito. Ora, ora, ora. Racismo é crime, mas não é por isto que muitos negros não encontram trabalho. Não é por causa da lei que criminaliza o preconceito racial que eles deixam de ser contratados; é por causa do preconceito em si. O projeto de lei tem muitas falhas e seria aprovado mais facilmente com algumas correções, mas é um passo na direção correta. Porque a homofobia é tão grave quanto o racismo e, portanto, também deve ser classificada como crime. Nenhuma igreja defende hoje o racismo, e a que defendesse não poderia se esconder atrás das liberdades de expressão ou religião: seria enquadrada na certa. Mas muitas religiões já o defenderam com base em seus textos sagrados - e absolutamente TODOS têm trechos que podem ser interpretados como argumentos pela desigualdade racial. Enfim, a luta dos homossexuais está só começando, mas é a grande batalha pelos direitos civis do nosso tempo. Quando a igualdade for conquistada, os intelectuais que foram contra vão soar tão ridículos e ultrapassados quanto os que defendiam a escravidão no século 19.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

CHA-CHA-MUCHACHA

Quem ler "Muchacha" procurando por indícios da personalidade crossdresser do Laerte vai encontrá-los, e muitos. A começar pelo persongem-título, um ator fracassado que revive a própria carreira ao se travestir de cantora cubana. E a continuar pela trama rocambolesca - várias histórias dentro de outras com inúmeros homens usando máscaras ou se vestindo de mulher. "Muchacha" foi publicada em capítulos semanais na "Folha de São Paulo", mas era praticamente impossível de ser seguida. As mudanças bruscas de marcha só funcionam direito quando reunidas em livro. E trazem uma revelação assombrosa: Laerte é ainda melhor do que eu pensava. Ele nem precisava ter uma vida pessoal tão interessante para ser meu cartunista brasileiro favorito.

ANIMANDO A GAROTADA

O vídeo viral mais comentado de hoje é a contribuição dos funcionários da Pixar para a campanha "It Gets Better" do colunista Dan Savage, aquela que pretende mostrar aos adolescentes gays vítimas de bullying que eles não estão sozinhos e que suicídio, nem pensar. Quando eu soube que esta nova mensagem vinha da Pixar pensei logo que era uma magnífica animação em 3D, talvez com a peixinha Dory de "Procurando Nemo" confessando que sempre foi lésbica. Mas não, são só os empregados da companhia - e são tantos que tenho a sensação que vai da vice-presidência executiva à moça do café. Os depoimentos são realmente emocionantes: se você é gay, certamente vai se identificar com pelo menos um deles.

(Celso e Rafael, obrigado por mais esta dica)

WE ARE THE SCISSOR SISTERS AND SO ARE YOU

Sabe aquele amigo do Pinóquio que se transforma num burro? Sou eu, muito prazer. O asno aqui teve a manha de comprar dois ingressos para o show dos Scissor Sisters há mais de um mês, pela módica quantia de 200 pilas cada. Achava que o show ia bombar; mas o alinhamento planetário que misturou uma segunda-feira de chuva torrencial com trânsito caótico e Paul McCartney no Morumbi fez com que o Via Funchal não lotasse. Nem mesmo com ingressos rebaixados para 50 reais, numa promoção da Gambiarra, na porta corrigidos para irrisórios 30. Quase twittei para as amigues largarem o que estivessem fazendo e correrem para a Vila Olímpia, mas tive a ideia justo quando as luzes se apagaram e o show começou. E que show do enooorme caralho. A plateia não era imensa, mas era animadérrima. Sabia todas as letras e estava disposta a pular sem parar. Isto deu ainda mais energia à banda, que estava visivelmente feliz por tocar em SP. A vocalista Ana Matronic, uma mistura ideal de Julianne Moore com Fernanda Young, fazia as vezes de anfitriã, conversando longamente em inglês com o público (que aparentemente entendia tudo). Mas claro que a grande estrela é mesmo Jake Shears, que começou a apresentação enfiado num modelito de látex preto tão apertado que deve ter sido moldado ao redor de seu corpo a partir da seiva que pingava de uma seringueira. O saboroso cantor foi se despindo aos poucos ao longo da noite e chegou a mostrar a bunda no final, mostrando que está no mesmo time de seu ex-namorado Lukas Ridgestone - sim, ele mesmo, o Lukas da Bel-Ami. Aliás, sabia que o pornstar aparece na capa do CD "Ta-Dah"? É ele de oclinhos, lá no fundo do elevador.

Tirando os figurinos impecáveis, o show não tem muita produção. Nada de painel de LED ou cenários. Mas quer saber? Não fazem a menor falta. Ao vivo os Scissor Sisters têm uma pegada mais rock que nos discos e fica claro que eles fazem parte da tradição de grandes bandas nova-iorquinas. Uma linhagem que começa lá atrás com o Velvet Underground, passa pelos New York Dolls, Blondie, Television, meio que desaparece nos anos 90 e ressuscita com eles, que nunca fizeram muito sucesso em seu país natal. A base da apresentação de ontem foi o álbum "Night Work", um dos 5 melhores deste ano, mas em uma hora e meia sobrou tempo para todos os hits antigos. Quase desfaleci no final, quando a melhor música de cada um dos 3 discos dos SS foi tocada em sequência, começando com "Comfortably Numb". Aí veio uma versão apoteótica de "Invisible Light" com luzes roxas e coreografia dramática, o melhor momento da noite. Depois de uma breve pausa para troca de figurino, eles abriram o bis com "I Don't Feel Like Dancing". Quem não precisava trabalhar ainda ficou no local, porque rolou uma edição da festa Gambiarra. Foi uma pena o show não ter acontecido num sábado: seria o começo perfeito de uma jogação épica. Mas saí feliz do Via Funchal, convencido pelas palavras de Ana Matronic que dão nome a este post. Valeu cada centavo.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

PINTOU BOBEIRA

O cinema brasileiro começou a fazer filmes bobos, e isto é ótimo. Digo bobo no sentido de francamente comercial, sem maiores pretensões do que divertir a plateia por duas horas e encher as burras de dinheiro. "Muita Calma Nessa Hora" é um exemplo honesto, bem fetinho e esquecível. Foi lançado justo no momento em que Bruno Mazzeo está se tornando uma celebridade a nível nacional e uma espécie de líder da nova geração de comediantes. "Muita Calma..." foi escrito e produzido por ele, que também aparece no cartaz. Mas quem for para vê-lo vai se decepcionar: sua participação é pouco mais que uma ponta. As estrelas são quatro jovens atrizes e felizmente o roteiro escapa da armadilha de ser mais uma variante de "Sex and the City". Todas estão bem, mas me surpreendi expecialmente com a Gianne Albertoni, a quem só conhecia como modelo. Ela mostra que tem toda uma nova carreira pela frente, além de ser linda de morrer. No mais, o filme funciona como um catálogo do novo humor nacional, com vários nomes vindos de diferentes canais de televisão: Marcelo Tas, Marcos Mion, Maria Clara Gueiros, Marcelo Adnet... Poucas cenas atingem o nível de graça de "Junto e Misturado", que é de longe o melhor programa de humor da TV brasileira atual. Mas uma já pode entrar para os anais da história: é a do "vomíto", presente no trailer. Pronto, quem já viu não precisa mais ir ao cinema.

¿QUIEN ES EL VERDADERO MARICÓN?

"Viado é quem bate em mulher". Esta é a tradução livre do tema de uma campanha chilena contra a violência doméstica que vem causando muita controvérsia. São vários comerciais e anúncios estrelados por duas celebridades locais: o juiz de futebol Pablo Pozo (que, como todos os juízes, é frequentemente xingado em campo) e o apresentador de TV Jordi Castell, que é gay assumido. O Movihl (Movimento de Integração e Libertação Homossexual), uma das maiores organizações LGBT do Chile, é plenamente a favor da campanha. Seu presidente Rolando Jiménez diz que assim se desvencilha do teor gay a palavra "maricón", usada no país como sinônimo de covarde ou mentiroso. Já a ONG Soy Hombre Soy Mujer é contra e diz que os anúncios só servirão para aumentar a homofobia por lá. Assim como no Brasil, os ataques homofóbicos vêm crescendo de maneira assustadora no Chile. Mas o recém-eleito presidente Sebastián Piñera, tão conservador que pertence à Opus Dei, já se declarou a favor do casamento gay e é óbvio que a campanha é bem-intencionada. Ainda não tenho opinião formada: acho ótimo que palavras equivalentes a "viado" ganhem novo significado, mas também acho que elas devem deixar de ser ofensas. Dia chegará em que chamar alguém de bicha será tão banal quanto chamar alguém de louro.

PAUL McCARTNEY NO CORREIO

Não me mobilizei para ir ao show do Paul McCartney. Claro que gosto dele: os Beatles são que nem samba, quem não curte é ruim da cabeça ou doente do pé. E seus discos com o Wings marcaram muito a minha adolescência, principalmente "Band on the Run" e "Venus and Mars" - duas obras-primas que não ficam a dever em nada aos trabalhos com sua outra banda. Teria ido com prazer ao Morumbi se um convite me tivesse caído no colo, de preferência para o setor VIP A-gargalhada. Mas entrar na luta de foice para comprar ingresso, acampar na frente do estádio, enfrentar uma turba caudalosa? Ainda nem me recuperei do show da Madonna de dois anos atrás. Preferi ver sir Paul pela TV. Pena que a Globo sacaneou e mostrou só uma hora das quase três que ele ficou no palco. O cara é profissionalérrimo e simpaticíssimo, principalmente quando se esforçava em dizer longas frases em português. Como todo grande artista, Paul McCartney tem um respeito enorme por seu público e dá a ele exatamente o prometido. Nem mais, nem menos: mais supresas do nível de "Something" teriam feito bem ao concerto. Mas Macca está muito, muito acima do bem e do mal. Não pude deixar de pensar em como ele e Roberto Carlos são parecidos, além de pertencerem à mesma geração. Apesar de nunca terem parado de gravar, ambos não emplacam um grande sucesso há quase 30 anos. O que absolutamente não importa: o repertório de clássicos é tão grande que atravessa gerações e se torna atemporal. Nunca vi um show do Rei (só na Jovem Guarda, quando eu era bem pequeno) e acho que perdi a última chance de ver um Beatle ao vivo. Não terei Paul McCartney no currículo, mas já o tinha no coração.

domingo, 21 de novembro de 2010

CAMINHANDO E CANTANDO

Cheguei ao vão do MASP pontualmente às 3 da tarde, a bordo da minha bacanérrima camiseta do FCKH8. Já estava animado, mas tinha menos gente do que eu esperava. Flop à vista? Também, quem mandou marcar protesto para o domingo tão cedo, pois as bichas todas se jogaram no sábado... Mas aos poucos foi mais gente chegando e às 3 e meia já éramos uns 300 (a PM divulgou que mal passou das 100 pessoas, mas foram bem mais). Inúmeras lideranças LGBT fizeram seus discursos e a gente aguentou bravamente, apesar do sol de matar passarinho na árvore. Às 4 nos transferimos todos para a outra pista da Paulista, na faixa da direita. Uma passeata à moda antiga, com palavras de ordem moderninhas como "você aí parado / também é do babado". Caminhamos até o número 777, o prédio em frente ao qual aconteceu o ataque das lâmpadas. Quase acendi velas embaixo das câmeras que registraram tudo. Aí paramos, e tome discurso. Teve uma hora em que eu estava tão cansado que deu vontade de dizer "já está bom, mudei de ideia, não sou mais homofóbico". Encerramos cantando o hino nacional e me surpreendi de saber a letra interinha, culpa de ter estudado na época da ditadura - toda terça tinha hasteamento da bandeira no meu colégio. Entre os participantes da manifestação estavam dois dos três rapazes agredidos. O que faltou foi justamente a primeira vítima, o que levou as lâmpadas na cabeça. Parece que o cara ainda está no armário e não quer se expor; periga até nem processar seus agressores. Isto é grave, pois é justamente o silêncio das vítimas que permite que esta violência continue. Tomara que o cara mude de ideia: uma vez assumido, poucas coisas que lhe acontecerão serão piores que apanhar por nada no meio da rua.

sábado, 20 de novembro de 2010

PAPA ÁFRICA

"Um Homem que Grita" é um filme que vem de um lugar sem cinemas, o Tchad. E sem muita coisa mais: só o extremo sul é habitável, às margens do lago que dá nome ao país. O resto é o deserto do Sahara. Para completar, há anos que grassa por lá uma guerra civil que não trepa nem sai de cima. Mesmo com tantos "atrativos", fiquei curioso para ver este filme. Não sabemos quase nada da África, e ainda menos desse quinhão esquecido no interior do continente. Também achei que seria um bom programa para este feriado da Consciência Negra, olha só que engajado. Apesar de tantas estranhezas, a história contada por "Um Homem que Grita" trata do medo universal de envelhecer e ser substituído pelos mais novos. O personagem principal é um ex-campeão de natação, hoje salva-vidas da piscina de um hotel "de luxo" (para os padrões de lá). O hotel agora pertence aos chineses (que de fato estão invadindo a África com investimentos). Os novos patrões então resolvem mandar o sujeito para a guarita e colocar seu filho no lugar, um rapagão forte e bonito. E aí o que é o que o papai faz para recuperar seu posto? Dá um jeito de enviar o garoto para a guerra. Claro que no segundo seguinte já se arrepende, mas aí é tarde. "Um Homem que Grita" é lento e meio chato, mas entrou para a lista "gostei de ter visto". Só não deu a menor vontade de visitar o Tchad.

EU TENHO, VOCÊ NÃO TEM

Quem mandou não ser amigo do Celso Dossi? Aí quem sabe ele teria dado para você esta babadérrima camiseta do movimento FCKH8. Mas não, ele deu para mim, e deu gostoso. O Celso, o blogueiro mais fantástico do Brasil, encomendou algumas lá nos States e fez a delicadeza de entregar uma delas aqui na portaria do meu prédio. Agora vou ser a pessoa mais elegante da manifestação na Paulista no domingo, como se já não fosse antes. E fique ligado: vem aí as ainda mais fervidas camisetas do "Não se Meta!". Nos tamanhos XXXL e baby look.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

TODOS AO MASP

Convocação geral: se você é gay, lésbica, trans ou simpatizante e estiver em São Paulo neste domingo, dia 21 de novembro, venha para o vão do MASP às 15 horas. De lá faremos uma caminhada até a estação do metrô Brigadeiro, perto da qual aconteceram as agressões de domingo passado. A marcha é muito mais do que uma reação aos cinco desclassificados da lâmpada fluorescente. É uma manifestação que há muito tempo já devia ter acontecido, um grito de "basta!" a tanta violência e ignorância. Tem a ver também com os tiros de Copacabana, um exemplo absurdo de homofobia patrocinada pelo Estado. Idem com o reverendo do Mackenzie, que deu o puta azar (para ele) de soltar seu equivocado "manifesto presbiteriano" logo antes de ocorrerem dois ataques pavorosos. Chega de aguentar tudo calados, chega de nos escondermos em guetos e closets. Somos muitos, pagamos impostos, não aguentamos mais.

Aproveitando a onda, alguns membros (hmmm...) do grupo de blogueiros gays estão pensando em se reunir depois da passeata em algum bar da região. Entre outros assuntos está a gravação do "Não se Meta!", a versão tupiniquim do vídeo "FCKH8". A esta altura do campeonato já estou achando que a nossa adaptação está soft demais. Talvez um "Vai se Fuder!" seja mais adequado.

COPACABANA NÃO ME ENGANA

Agora já se sabe com mais clareza o que de fato aconteceu no parque Garota de Ipanema, no Rio de Janeiro, na noite do domingo passado. Inúmeras testemunhas confirmaram que são frequentes os achaques de soldados do Forte de Copacabana aos gays, no parque e nas pedras do Arpoador. Os recos saem fardados e armados e, ao flagrar um casal se pegando, dizem que ali é área militar (não é), que tá todo mundo preso e que as famílias serão devidamente informadas. Claro que tudo com muita violência e palavrão. As bibas se apavoram e, como muitas vivem dentro do armário, soltam uma grana para não irem em cana. Mas com Douglas Igor Marques Luiz foi diferente. Ele não se acovardou. Quando o ameaçaram de ser desmascarado, Douglas deu de ombros: os pais sabem dele faz tempo. Como o terror não fez efeito, os milicos bateram no cara e o jogaram no chão. Douglas foi baleado deitado de bruços. Depois ainda foi chutado. Precisou andar 15 minutos para encontrar socorro. Pagou um preço altíssimo por sua coragem. Poderia ter sido morto. Não vou entrar aqui no mérito do que ele estava fazendo no parque: quem transa em lugar público está mesmo sujeito a ser preso por ato obsceno. Mas daí até levar um tiro de um soldado são outros quinhentos mil. Também é impressionante o fato do terceiro-sargento Ivanildo Ulisses Gervásio (o autor do disparo) e seus comparsas terem ido embora calmamente, na certeza da impunidade. Perderam, seus bandidos: o Exército bem que tentou acobertar vocês – e é óbvio que os oficiais do Forte devem saber faz tempo como seus subordinados reforçam o caixa – mas a PM carioca fez um trabalho valoroso. Como cidadãos que pagam impostos e sustentam as Forças Armadas, agora cabe a nós ficar de olho para que esse caso estarrecedor não escorra pelo ralo como tantos outros.

(Quer encher o saco dos milicos? Acesse o site oficial do Forte de Copacabana e deixe seu recadinho no livro de visitas. Eu já deixei. Não vai ser publicado, mas é bom eles saberem que estamos putos.)

FILMES-COMFORT

O 18o. Festival MixBrasil foi encerrado ontem com uma overdose de fofura. O grande vencedor foi o curta brasileiro “Eu Não Quero Voltar Sozinho”, que levou uma pá de prêmios. A história do garoto cego que se apaixona por um novo colega de classe é de derreter corações e foi exibida logo após a premiação. E o lindinho Guilherme Lobo quase não levou o “Coelho de Prata” de melhor ator: o júri custou a acreditar que ele não é cego de verdade. O filme ainda não está disponível na íntegra no YouTube, só o trailer abaixo. Ainda vai rodar diversos festivais Brasil afora e quem tiver a chance não deve perder. O outro amaciante cinematográfico da noite foi o longa alemão “Sasha”, do diretor Denis Todorovic. Outra história delicada: o personagem-título é o filho caçula de uma família de Montenegro (que fazia parte da antiga Iugoslávia) que emigrou para Colônia. O pai é um machão boçal e a mãe uma neurótica que quer porque quer que o filho seja uma virtuose do piano. Nem desconfiam que o garoto é gay: Sasha está apaixonado por seu professor de música e entra em parafuso quando este anuncia que está de mudança para Viena. O trailer acima entrega muita coisa e deixa a história parecendo muito mais barra pesada do que é na verdade. Apesar dos conflitos familiares que resvalam para o quebra-quebra, “Sasha” também é um filme-gracinha sobre o complicado processo de saída do armário. Um bálsamo mais do que bemvindo para esta semana violenta.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

AMOR ENTRE OS GOLFINHOS

Isabella Rossellini ataca novamente. Depois de explorar a vida sexual dos insetos com sua série de minisódios "Green Porno", exibida nos EUA pelo canal pago Sundance, ela se voltou para o erotismo de outras formas de vida animal em "Seduce Me". A nova temporada do programa está para estrear, mas aí vai uma amostra. Eu já sabia que a pegação gay é frequente entre os golfinhos, mas que eles enfiam a piroca até no buraco de respiração dos amigos? Ôloco! Quero vir golfinho na próxima encarnação. Pelo menos eles não se agridem uns aos outros com lâmpadas fluorescentes.

FAROESTE CABOCLO

Juro que eu não acreditei que eram mesmo soldados do exército os responsáveis pelo tiro que um rapaz levou no Arpoador logo após a Parada Gay carioca. Era surreal demais: três caras fardados e armados atirando num civil indefeso? Assim, sem mais nem menos? Acho que nem na época da ditadura militar. Mas a vítima reconheceu seus algozes e um exame de perícia no fuzil "culpado", feito pela PM, revelou que a bala saiu mesmo dali. Ivanildo Ulisses Gervásio e Jonatas Fernandes da Silva, dois dos terceiro-sargentos envolvidos no caso, estão presos no Forte de Coapacabana, assim como um terceiro milico cujo nome não foi revelado. Não se sabe qual deles foi o autor dos disparos, mas, segundo o delegado Fernando Veloso, todos confessaram. Agora o que esperamos é uma punição exemplar para os três, seguida de expulsão das Forças Armadas. Este caso é ainda mais chocante que a agressão da Avenida Paulista, porque se trata do Estado perseguindo o cidadão comum. Não tenho palavras para expressar meu horror. Mas tenho para cobrar, gritar, espernear. Estão querendo que o Brasil se transforme numa Uganda gigante, e não podemos deixar que isto aconteça.

(Leia aqui a matéria sobre o assunto na versão online de "O Globo")

OUI MAIS... OUI

Mal saí da fase Mylène Farmer e lá vem ela com disco novo. "Bleu Noir" sai na Europa no dia 6 de dezembro e o primeiro single, "Oui Mais... Non", em 29 deste mês. Mas claro que já pode ser baixado ici. Adoro tudo o que a Madonna francesa faz, ainda mais agora que ela está sendo produzida por RedOne. Para quem não está ligando o nome à pessoa, é o produtor do Mika e da Lady Gaga. Inclusive dizem as mauvaises langues que o clip da música, que ainda nem saiu do forno, é cópia descarada de "Bad Romance". Je m'en fout, beijo o chão por onde Mylène pisa.

Outra dica de música: um tal de Greg Gillis, que se assina como Girl Talk, disponibilizou um disco inteirinho só de mash-ups neste site aqui. Chama-se "All Day" e dá para baixar 'di grátis'. Depois a graça é ficar reconhecendo os trechos de músicas manjadas. Tem "Gypsy Woman", "Our House", "Can't Get You Out of My Head", o diabo. Não sei como o cara consegue: só de direitos autorais dos outros já deve estar devendo bilhões.

BRITISH WEDDING OF THE YEAR

Não, não é o do príncipe William com Kate Middleton. Este só acontece no ano que vem. O enlace mais badalado em terras britânicas de 2010 será o de Ben Daniel Collins e John Mark Ireland, e olhe que por lá só existe a união civil. E tudo porque um deles foi um dos vencedores de um concurso para criar uma capa do "Metro", o jornal gratuito que começou em Londres antes de se espalhar pelo mundo. Imagine a cara do outro ao pegar seu tablóide de manhã e dar de cara com um pedido de casamento do namorado. Desejo todas as felicidades aos pombinhos, apesar deles terem complicado a vida de todo o mundo daqui para a frente. Já pensou? "Sim, eu topo, e obrigado pela pantera do Cartier - mas não é a capa do 'Metro'."

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

XOU DA XUCA

Vai ver que a plateia do "Show do Gongo" estava revoltada com os ataques na Paulista e resolveu descontar nos vídeos inocentes. O fato é que só uns 5 dos 18 concorrentes inscritos conseguiram chegar até o final. E olha que muitos se valeram do manjado truque de ter menos que 30 segundos, a duração mínima para que Marisa Orth possa gongá-los. Nem mesmo a animação "E Agora, Luke?", que venceu uma edição do "Gongo" em Brasília, escapou à sanha assassina do público. É uma pena, porque prometia elevar o nível da competição. Não me lembro de ter visto uma safra tão fraca como a deste ano. O ganhador da noite, "Travileirinho", é até bem bacana. A drag Dillah Dilluz é simpática e corajosa, e mereceu todos os aplausos que recebeu. Mas posso ser super sincero? O clip não está no nível de campeões passados como "Furico Li, Furico Lá", "Telebambies" ou "O Viado Veste pra Dá". Na verdade, nem o júri estava muito inspirado. Paula Burlamaqui, Didi e Bianca Exótica juntos não chegam aos pés de uma única Silvetty Montilla. No mais, a noite parecia ter dois leit-motifs. Um era a própria Marisa, que estrelou à revelia uns três vídeos na linha "quero ver se você tem coragem de gongar a si mesma" (ela teve). O outro tema recorrente foi a xuca, blergh, que apareceu até mesmo no outros dois vídeos que subiram ao pódio. O 2o. colocado, "Aviso do Cinemão", é bem trash e pode ser conferido abaixo. O 3o., "Passivel Líquido", segue outra fórmula consagrada: a sátira a um comercial famoso (no caso, o filme de Ariel com as Fernandas). Mas a produção era tão pobrinha que o vídeo nem está ainda no YouTube. Não faz mal: ninguém está perdendo grande coisa. Deixei o teatro Gazeta com a sensação de que, se o "Não se Meta" tivesse ficado pronto a tempo, teríamos saído vencedores...


ATUALIZAÇÃO: Aqui está "Passivel Líquido", o 3o. colocado do "Show do Gongo" no 18o. Festival MixBrasil. Só ontem ele chegou ao YouTube. Se este era um dos melhores, imagina então os vídeos que foram gongados...

QUE TEMPOS OS NOSSOS!

Dizem que está um forrobodó lá no Mackenzie. Muitos alunos estão revoltados com o famigerado "Manifesto Presbiteriano sobre a Lei da Homofobia", assinado pelo chanceler da universidade, o reverendo Dr. Augustus Nicodemus Gomes Lopes. O texto se apoia na Bíblia para condenar os homossexuais. Foi publicado no site da instituição e logo retirado, mas já era tarde: aconteceu, virou manchete, e agora já existe até um protesto marcado para a próxima quarta-feira, dia 24, em frente ao portão principal da escola. A concentração começa às 16:30 e a manifestação em si está prevista para as 18 horas, no intervalo entre as aulas da tarde e da noite. Acho formidável, mas todo cuidado é pouco: aposto que tem muito mackenzista a favor do manifesto, e não por convicção religiosa. Por machismo mesmo, espírito de porco, barbárie pura e simples. Na década de 60 foram muitos os embates ali na rua Maria Antonia entre os reaças do Mackenzie e os "subversivos" da vizinha FAU. Tomara que esta tradição de violência não tenha sobrevivido aos anos da ditadura. Enquanto isto, muita gente está mandando comentários para o blog do reverendo, "O Tempora! O Mores!" (claro que ele não está aceitando nenhum). O Wilson Moreira, um leitor que não consegue acessar meu blog do trabalho, me mandou por e-mail a lista de passagens bíblicas que também enviou para lá. São versículos do Deuteronômio que dizem coisas como "Se uma noiva virgem for estuprada na cidade e não gritar alto o bastante, então os homens da cidade a apedrejarão até a morte". De fato, a Bíblia tem muita coisa que soa absurda nos dias de hoje, como a proibição de se comer frutos do mar ou a permissão para se vender a propria filha como escrava. Pois é, reverendo, os tempos e os costumes estão mesmo mudando. E quem não mudar junto será atropelado por eles.

ATÉ DAQUI A POUCO

Não tive a sorte de conviver com o Dirceu Fernandez. Fomos apresentados uma vez na The Week e mantínhamos contato via Facebook, além de frequentarmos os blogs mútuos (o dele, que durante muito tempo se chamou simplesmente "Blog do Dirceu", havia passado recentemente por um upgrade luxuoso e se transformado em DirceuMag). O cara era A referência da cena gay de Curitiba, além de circular com frequência pelas noites do Rio e de São Paulo, onde fez centenas de amigos. Estamos todos triste com a notícia de sua morte súbita. Dirceu Fernandez faleceu ontem, com apenas 45 anos, em decorrência de uma infecção contraída depois de uma operação realizada neste final de semana (os detalhes ainda não estão muito claros). Apesar de inevitável, a morte sempre deixa a gente meio estupefato - ainda mais quando acontece assim de repente. Ficam aqui meus abraços para a família do Dirceu e para todas as pessoas que gostavam dele. Essa dor só não é maior do que a falta que ele fará.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

BONITO, HEIN?

Este deus grego da foto aí ao lado é Jonathan Lauton Domingues, o único maior de idade entre os cinco trogloditas que atacaram três rapazes na manhã de domingo na Avenida Paulista. O pai de Jonathan disse que ele é "um menino muito bonito e foi assediado por homossexuais. Ele pediu para parar, eles não pararam. Aí, virou briga". De fato, Jonathan é mesmo deslumbrante e acho que nenhuma biba em sã consciência deixaria de assediá-lo no meio da rua, mesmo que isto lhe custasse ter o rosto desfigurado a golpes de lâmpada fluorescente. Aliás, não conheço um único gay que não saia por aí cantando em voz alta todos os homens lindos que lhe passem pela frente: nem mesmo a repressão da sociedade em que vivemos é capaz de conter nossos impulsos mais primitivos. Impulsos estes que, felizmente, suscitam outros em garotos de vida pacata, muitíssimo bem educados por seus pais, que se vêem forçados a limpar com sangue a honra subitamente maculada. Ah, mas vale a pena. Jonathan Lauton Domingues, você é um pedaço de mau caminho.

(O jovem galã bem que tentou se esconder dos fotógrafos quando foi solto ontem. Mas o que é belo merece ser mostrado, não é mesmo?)

O "DIREITO" DE SER HOMOFÓBICO

A semana homofóbica começou animada: agressões na Av. Paulista, tiros na Parada Gay carioca e agora o tal do "Manifesto Presbiteriano sobre a Lei da Homofobia", publicado no portal da universidade Mackenzie, de São Paulo. O manifesto, que saiu na página das Homílias do portal, já não está mais lá. Talvez tenha sido retirado por causa dos comentários contrários; mas o fato é que uma busca por "Lei da Homofobia" no próprio portal leva o internauta a esta página. De qualquer forma, o texto original pode ser lido aqui, no Blog da Folha de Pernambuco. Já tem até campanha de boicote contra a escola em andamento, mas gente, na boa - qual é a novidade? Nunca ninguém reparou no nome "Universidade PRESBITERIANA Mackenzie"? Ninguém sabe o que isto quer dizer? O Mackenzie é uma instituição religiosa, como muitas das escolas pagas do Brasil. Não é só ele que pensa assim. Teríamos que estender o boicote à PUC, à Metodista, a todos os colégios com nome de santo... Isto me faz mais uma vez pensar se a luta pela aprovação da Lei da Homofobia é mesmo uma estratégia acertada. Não sou contra a lei, evidentemente. Mas ela enfrenta uma resistência ferrenha por parte das igrejas, que se sentem atacadas numa liberdade que é garantida pela consituição. Ninguém vai conseguir mudar uma religião por decreto. Por outro lado, é claro que o que é pregado nos púlpitos também é reflexo do que pensa a sociedade ao largo. O racismo já foi defendido com base na Bíblia, mas hoje nenhuma denominação se atreve a ensinar a discriminação racial. Seria enquadrada na mesma hora. Falta muito para a homofobia chegar neste ponto, apesar dela ser tão grave quanto o racismo. Por isto, apesar de achar a lei extremamente necessária, ainda mais tendo em vista os ataques cotidianos a gays por todo o Brasil, penso que a luta pelos direitos iguais talvez deva acontecer por outro lado. Pela adoção por casais homo, que é mais e mais aceita; pelo casamento entre pessoas do mesmo sexo, que é a tendência nos países avançados. Lutar abertamente contra a religião é dar murro em ponta de faca.

O COELHO ENTALADO NA CARTOLA

Bem que o Jabor tentou. Gastou uma baba nos figurinos e cenários de "A Suprema Felicidade". Chamou atores consagrados, dos quais quem mais brilha no filme é o Marco Nanini. E construiu cenas elaboradíssimas, como uma erupção de dança espontânea no meio da rua ou um assassinato no terraço de um bordel, tudo envolvendo centenas de figurantes. Mas não deu certo: em nenhum momento ele consegue fazer mágica. E a falha nem é do roteiro, que não chega a ter uma trama com começo, meio e fim. É mais um alinhavado de lembranças ficcionalizadas, um retrato da infância e juventude do diretor num Rio de Janeiro pra lá de idealizado. "Amarcord", de Fdederico Fellini, também era um punhado de recordações de seu autor - mas era pura magia e encantamento. Sei que não é justo comparar o que quer que seja com Fellini, mas que mais eu posso fazer? Foi o Jabor que se enveredou pelo mesmo caminho. Ele ainda põe o Jayme Matarazzo boquiaberto em todas as cenas, mas nem assim construiu um clima de assombro sincero. Para piorar, "A Suprema Felicidade" é longo demais. Toda a sequência da Maria Flor é totalmente dispensável, além do mais porque a atriz está péssima. As novas gerações só o conhecem como comentarista, mas Arnaldo Jabor fez obras maravilhosas, que entraram para a história do cinema brasileiro. Ficou 25 anos sem filmar, um tremendo desperdício. Mas é melhor fingir que seu retorno às câmeras ainda não aconteceu.

DATADA FEITO UM DINOSSAURO

"Pterodátilos" é uma das sensações da atual temporada carioca. A crítica adora e o público lota a sala. Tem Marco Nanini, talvez o maior ator brasileiro vivo, fazendo dois papéis: uma garota adolescente e o pai dela. Tem também um cenário espetacular da Daniela Thomas, um palco hidráulico que sobe, se inclina e por pouco não causa um acidente fatal com o elenco. E mesmo assim eu achei mais ou menos. Culpa do texto, do americano Nicky Silver, que trata de uma família que já é complicada quando recebe de volta um filho sumido há muito tempo. O rapaz se revela não só gay, como também doente de AIDS. Sem nenhum desrespeito aos muitos que enfrentam a barra dessa doença terrível, mas este conflito é um pouco anos 80 demais. A trama soa datada e até previsível. É uma pena, porque Nanini está fantástico como sempre. Também gostei muito de Felipe Abib, um garoto que eu nunca tinha visto antes. E bem menos de Álamo Facó e Mariana Lima, que soam meio forçados. Talvez não tenha sido só eu que não se empolgou com "Pterodátilos": na sessão a que eu fui, a plateia não aplaudiu de pé, como é de praxe no teatro brasileiro. Pois é - quando muitos elementos são fortes, o mais fraco acaba se sobressaindo.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

PAQUERA NÃO É AGRESSÃO

Pelo menos há alguma coisa boa nessa história do ataque selvagem sofrido por três rapazes na Av. Paulista no domingo de manhã. O assunto foi manchete por todos os lados, até no "Jornal Nacional" - bem diferente do assassinato daquele garoto de São Gonçalo em julho, que foi ofuscado pelo caso do goleiro Bruno. O "JN" abriu segunda-feira com a notícia de que os vândalos já foram todos soltos, o que é ainda mais absurdo quando se lembra que o cara de 18 que beijou outro de 13 num cinema continua preso. Mas fiquei ainda mais revoltado com o advogado de defesa dos brucutus. Tá certo que o papel do cara é defender o indefensável, mas a linha adotada é de dar engulhos. Segundo ele, seus clientes teriam sofrido "uma ameaça, uma agressão, uma paquera". Assim mesmo, tudo junto numa mesma frase, como se fossem sinônimos. Já surgiram várias testemunhas que declararam que as vítimas não fizeram nada disto. Simplesmente foram agredidas do nada, a golpes de lâmpadas. Mas, e se tivessem mesmo paquerado seus agressores? Se tivessem soltado "e aí, gostoso"? Isto é ofensa moral? É triste viver num país onde essa linha de pensamento pode até justificar um crime bárbaro. "Fulano mexeu comigo, então eu tentei matá-lo", como se fosse em legítima defesa da honra. Agora é torcer para que este caso caia nas mãos de um juiz esclarecido, que felizmente há muitos. E lembrar aos queridos católicos e evangélicos que demonizam os homossexuais: sim, vocês também são culpados de crimes como estes. Suas mãos em prece estão sujas de sangue. Parem de nos atacar, pois são suas palavras supostamente sagradas que põem em marcha essa espiral de violência.

A VOLTA DA QUE NÃO FOI

Cher está "de volta". De volta ao cinema, quer dizer: "Burlesque", que estreia semana que vem nos EUA, é seu 1o. filme em mais de 10 anos. Mas o fato é que ela nunca se foi para valer, apesar de ter ameaçado várias vezes. No começo da década passada, Cher embarcou numa longa turnê "de despedida". Tenho amigos que gastaram pequenas fortunas e se mandaram para os Estados Unidos, apavorados de perder a última chance de ver a diva ao vivo. Terminado o giro, acha que ela se aposentou? Que nada: assinou um contrato com Las Vegas, onde já está há quase 3 anos fazendo um show num cassino (termina em fevereiro, corra). Verdade que ela não lança um disco desde 2002: já estava mesmo mais que na hora de fazer algo novo. Agora ela está a todo vapor promovendo o filme, na capa da "Vanity Fair" e no programa do David Letterman. Os assuntos são sempre os mesmos: os homens que ela teve, a mudança de sexo da filha Chastity, o que ela faz para se manter tão linda aos 64 anos. Ao que ela responde na lata: plástica. Apesar de tanta máscara e tanta produção, Cher nunca se escondeu, nunca teve papas na língua, e é isto que a faz tão interessante. Diz até que se arrepende de ter entrado na faca tantas vezes, pois acha que sua amigona Meryl Streep, que nunca fez nada, parece melhor do que ela. "That stupid cow".

domingo, 14 de novembro de 2010

O HOMEM-BOMBA

Ver um pornstar em pessoa é sempre meio decepcionante. Eles invariavelmente são mais normais do que parecem na tela. Lembro quando o festival MixBrasil trouxe Lukas Rigestone, há mais de 10 anos: sim, o cara é lindo, mas não mais que dezenas de meninos que passam batido por aí. Este ano o Mix veio com François Sagat, em quem eu nunca achei graça e que é ainda pior ao vivo. Ontem na The Week Rio vi o húngaro Julian Vincenzo. O cara faz a linha garanhão insaciável em seus filmes, aquele gênero de top agressivo que costuma fazer muito sucesso. Em carne e osso é bem mais baixo do que eu pensava, mas não foi isto o que me incomodou. Foram os músculos a ponto de explodir - Julian está muito mais bombado do que na foto aí ao lado, como se precisasse. Enfim, vida de ator pornô não é fácil: os rapazes vivem de seus corpos e a concorrência é acirrada. Não é raro que um deles exagere na quimica e passe do ponto. Perto de um deles, é melhor não acender fósforos ou manusear qualquer objeto que possa produzir faísca.

VIRGEM AOS 50 ANOS

Revendo a Aldeíde de "Vale Tudo", é até difícil acreditar que Lília Cabral se tornaria uma das maiores atrizes brasileiras. Não que ela estivesse mal naquela novela: pelo contrário, estava ótima, mas o personagem não tinha muita densidade. Como muitos outros a que ela foi relegada durante anos na Globo. Mas na última década Lília explodiu e fez vários papéis impactantes, no teatro, no cinema e na TV. Agora ela volta aos palcos depois de uma ausência de três anos. Escolheu uma comédia agitadíssima de Newton Moreno, o mesmo autor do incrível "As Centenárias". "Maria do Caritó" fala de uma mulher que chega virgem aos 50 anos: o pai decidiu que ela permaneceria assim para pagar um promessa a "São Djalminha" ("caritó" é a parateleira alta muito comum em casas do Nordeste, onde se guardam coisas fora do alcance das crianças). O espetáculo tem muito de circo e, apesar das marcações exaustivas e precisas, dá para perceber que todo o elenco está se divertindo muito. A plateia abarrotada também, e chega a aplaudir em cena aberta um inacreditável pot-pourri romântico que Lília canta a certa altura. Assim como "Divã", "Maria do Caritó" deve ficar em cartaz por alguns anos e rodar o Brasil. Não perca quando passar perto de você.

A MULHER-FOCA

"Ondine" não estava no alto da minha lista de filmes a ver, mas este post da Marta Matui me deu uma animada. Além do mais, fazia tempo que eu não via nada de Neil Jordan, o diretor de maravilhas como "Entrevista com o Vampiro" e "The Crying Game" (me recuso a dizer "Traídos pelo Desejo"). Este novo filme se passa em sua Irlanda natal e é estrelado pelo tudo-de-bom do Colin Farrell. Ele faz um pescador que um dia puxa uma mulher em sua rede. Uma sereia? Não, a moça não tem rabo de peixe. Mais provável que seja uma selkie, diz usa filha: uma foca que perde o pelo e vem morar um tempo em terra firme, entre os humanos. "Ondine" mantém esse clima de fábula durante um bom tempo e, apesar do final convencional, não deixa de ser um conto de fadas moderno. Fora que mostra um céu eternamente nublado: um programa a calhar para esse feriado chuvoso no Rio.

sábado, 13 de novembro de 2010

BOFES DE ANTIGAMENTE

Toda biba sofisticada conhece Tom of Finland, o ilustrador que ficou célebre por seus desenhos homoeróticos em preto e branco. Mas poucas - inclusive eu - já ouviram falar do americano George Quaintance, seu "antepassado" artístico. Quaintance morreu em 1972, o que torna ainda mais surpreendentes suas imagens de bofões musculosos e bundinhas arrebitadas. Muitos de seus desenhos foram feitos para revistas com nomes sugestivos, como "Your Physique" ou "Body Beautiful" - teoricamente, dedicadas à musculação (numa época em que mal existiam academias), mas que acabavam cumprindo o papel das "G Magazine" de hoje em dia. O trabalho de Quaintance é cafona como um bolo colorido, e tão gostoso quanto. Depois de décadas de ostracismo, foi reunido num volume da Taschen, "The Art of George Quaintance".Aliás, viva a Taschen: esta editora alemã de livros de arte volta e meia recupera algum talento esquecido da arte gay, sempre em edições de luxo a preços bem razoáveis.