sábado, 7 de agosto de 2010

DREAM A LITTLE DREAM OF ME

Lembro dos meus sonhos todos os dias. Sei que tenho sorte: muita gente não lembra e por isto acha que não sonha. Penso até que o sonho é permanente, interminável - estamos sonhando o tempo todo, mas só quando dormimos é que conseguimos prestar atenção em alguma coisa. Por isto a premissa de "Inception" é tão atraente (não vou usar o título brasileiro, "A Origem", mas me solidarizo com o tradutor - alguém sugere um nome melhor?). Sonhar de olhos abertos é algo que o cinema faz desde sempre, mas poucas vezes o sonho em si é o assunto principal. "Inception" vem encantando plateias no mundo inteiro com sua pretensa sofisticação, mas é mais complicado do que complexo, mais confuso do que profundo. As personagens femininas têm nomes em código fácil de decifrar. Ellen Page é Ariadne, a princesa da mitologia grega que dá um fio a Teseu para que ele não se perca no labirinto. E a francesa Marion Cotillard, mais linda do que nunca, é Mal, que além do significado óbvio também quer dizer "sofrimento" em francês. Sem querer estragar nada, dá para definir "Inception" como uma mistura de "Matrix" (por causa dos diversos níveis de realidade) com "Solaris" (o reencontro de um homem com a esposa morta). Os efeitos são absolutamente espetaculares, mas quem ainda se impressiona com efeitos? E Leonardo Di Caprio precisa dar um tempo nos papéis de viúvo de mulher suicida, este é o terceiro consecutivo. Mas ele e todo o elenco estão bem, e aposto que o diretor Christopher Nolan finalmente será indicado para o Oscar. "Inception" é um programaço, ainda mais se visto em IMAX (uma das únicas salas do Brasil fica no shopping Bourbon em SP, seguramente o mais difícil de se entrar e sair do país). Só não esconde grandes revelações nem mistérios transcendentais.
Agora é sério: só dê play no vídeo acima depois de ver o filme. Muita gente sai frustrada do cinema, sem saber se... Nolan faz a sacanagem de cortar para os créditos antes de dar a resposta, o que gerou esse final alternativo feito pelo site "College Humor". Ah, bom! Então era isso.

9 comentários:

  1. Tony,
    Vc matou a charada ao dizer que o filme "só não esconde grandes revelações nem mistérios transcendentais". Com isso consegui definir o que senti no final do filme: ele é grandioso demais para propósito tão fútil. Quando o filme acaba a gente fica pensando 'tudo aquilo para isso?'.
    Acho que ficamos mal acostumados com os filmes onde os heróis estão sempre salvando o planeta ou descobrindo a razão suprema da existência da raça humana.
    **

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  2. Só lembrando que as distribuidoras é que dão a palavra final na escolha dos títulos em português. Não adianta tradutor argumentar.
    Abraços.

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  3. Acho que o final ficou aberto, cada um vê da maneira que quiser. Eu amei o filme.
    Só Tony, o Imax do Bourbon não é o único do Brasil. Tem um em Curitiba, e é um tantinho maior que o de Sampa ;)

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  4. Ah, e o filme é interessante para mim pelo mesmo motivo que o seu, sempre lembro dos meus sonhos. Mas se tivesse a opção tentaria lembrar menos.

    E é impressão minha ou este é o 4º filme do Nolan que o Michael Caine reprisa o mesmo papel? :P Tá enjoando..

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  5. Concordo com a Marta e o Rafael. É um programaço mesmo.

    Mudando um pouco de assunto, o misterioso novo filmes dos irmãos Watchowski (o Larry virou Lana), CN9, deve ter um casal gay como protagonista. Não se sabe nada sobre o drama de guerra, mas o povo já está chacotando o filme.

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  6. Contém spoilers.

    Fui ao cinema vê-lo ontem e achei engraçado quando algumas pessoas comentavam entre si, sem disfarçar sua irritação com o final. Como disse o Luciano, o cinemão gosta de entregar tudo prontinho no final, e o povo espera por isso.

    O curioso de Inception é que ele não tem um final. Se fosse tentar definir sua geometria, diria que ele se aproxima dum fractal - aquelas formas geométricas que se desdobram em outras que são uma reprodução de si mesmas, em uma recursão infinita. Como um floco de neve que contém todos os seus filetes de gelo reproduzidos num único filete, ou como a superfície de uma floresta de pinheiros, que reproduz a textura de um único pinheiro. Não foi por acaso, eu creio, que é numa floresta de pinheiros na neve que o protagonista encontra sua camada mais profunda. Também não é por acaso que o labirinto correto de Ariadne é o circular.

    Eu gostei do filme, e poderia ficar bastante tempo achando referências nele. Meu grão de sal na conversa, no entanto, vai de encontro ao que você diz. O clímax de Inception é uma grande revelação, um grande insight, que é ao mesmo tempo muito simples, mas trabalhoso de ser alcançado. E existe algum mistério mais transcedental do que olhar para dentro? Pois ao fim e ao começo, Inception é um filme sobre olhar para dentro de si mesmo.

    Abraços.

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  7. Tony, existem duas salas de IMAX no Brasil. A outra fica em Curitiba.

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  8. "Inserção" vc acha que seria muito pouco comercial??

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