terça-feira, 31 de agosto de 2010

A LIBERDADE DE SER PARCIAL

É engraçado como muita gente cobra "isenção" da imprensa no Brasil. "Neutralidade". Onde é que está escrito que a imprensa sempre tem que ser apartidária? Na França, a tendência política dos jornais é cristalina: o "Libération" é socialista, o "L'Humanité" é comunista, o "Le Monde" é de centro, o "Le Figaro" de direita... Mas ai do grande jornal brasileiro que declarar sua preferência. Isto talvez por causa da ditadura militar que tanto sufocou a liberdade de expressão por aqui. Explico: quando as amarras amainaram, muitos órgãos trombetearam-se "sem rabo preso", em busca de credibilidade e objetividade. Evidente que não ter rabo preso é um bom diferencial: inúmeros veículos brasileiros são escandalosamente atrelados aos caciques locais (vai ver se o "Estado do Maranhão" fala mal da família Sarney, vai). Mas neutralidade total é impossível, e era bom nos acostumarmos com isto. Muita gente reclama que a "Veja" é direitista. E daí? Veja bem, não estou defendendo o ponto de vista da revista. Mas defendo o direito dela ter esse ponto. OK, a "Veja" ainda se vende como imparcial, quando é óbvio que não é. Mas nem todo jornal ou revista precisa trazer no título para que lado pende. O "New York Times", por exemplo, tem como slogan "Todas as notícias que puderem ser publicadas" (all the news that's fit to print) - mas, apesar da presença de alguns colunistas conservadores, é descaradamente liberal (ou seja, costuma pender para os Democratas). Claro que o bom jornalismo busca sempre a verdade, ouve todos os lados envolvidos e não se deixa empapuçar por ideologias. Mas para sermos totalmente objetivos primeiro precisaríamos deixar de ser humanos.

DISCO-CABEÇA

Nada como seguir um post que teve um monte de comentários com outro que provavelmente não terá nenhum. Mas hoje ainda não tenho outro assunto além de "The Seduction of Ingmar Bergman", o mais recente disco da dupla Sparks. Os caras são quase desconhecidos no Brasil, mas eu lhes acompanho a carreira desde 1974. É desse passado distante que vem a sensacional "This Town Ain't Big Enough for Both Us", que já foi tema de um post meu e apareceu há pouco tempo na trilha do filme "Kick-Ass". O Sparks sempre fez um pop elaborado, com harmonias complexas e letras dificílimas. Como o passar do tempo eles foram se tornando cada vez mais vanguarda: o álbum "Lil' Beethoven", de 2002, foi todo gravado com uma orquestra sinfônica,por exemplo. E dessa vez foram tão longe que acho que não podem mais ser considerados pop. "The Seduction of Ingmar Bergman" é a trilha de um musical ainda não montado, encomendada pela rádio estatal da Suécia. E conta uma história que nunca aconteceu: uma visita do famoso diretor a Hollywood nos anos 50, quando os produtores locais teriam lhe feito várias propostas e usado até os serviços de uma puta para tentar convencê-lo. Temendo perder sua integridade artística, Bergman foge de volta para a Suécia. A obra toda dura menos de uma hora e é composta por faixas curtas, que misturam rock, cabaré e sons inclassificáveis, cantadas e faladas em inglês e sueco. Aqui vão duas palhinhas: a abertura, "1956 Cannes Film Festival", e "Here He Is Now", que quase soa normal. "The Seduction of Ingmar Bergman" não serve como música de fundo, mas cresce muito quando saboreado com fones de ouvido. É o disco mais intrigante que ouvi este ano até agora.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

PELA CULATRA

Ainda vou votar nele, mas estou quase com raiva do José Serra. Aliás, do PSDB inteiro. Ao longo de oito anos, o partido deixou que Lula reescrevesse a história recente do Brasil. Aguentou calado quando o presidente chamou o governo FHC de "herança maldita", como se as reformas daquele período não tivessem sido fundamentais para o que veio depois. Quem foi que acabou com a inflação? Quem lançou o Bolsa-Escola, semente do Bolsa-Família? Mas os tucanos reagiram às lorotas dos petistas ("nunca antes neste país...") feito criancinhas que sofrem bullying na escola. Nesses anos todos, só o próprio Fernando Henrique teve coragem de reagir. Os outros todos se acovardaram, e agora se dizem candidatos da "continuidade". Serra ainda teve o desplante de exibir fotos suas com Lula na campanha, numa tentativa desesperada de arrancar votos dos indecisos - mas acho que só conseguiu afastar aqueles que já votariam nele de qualquer jeito. O presente governo teve mil e um escândalos, do mensalão aos aloprados, e mil e um defeitos, do amor incondicional pelo Irã aos atentados contra a liberdade de imprensa. Mas a oposição não soube explorá-los e acabou permitindo que Lula se tornasse praticamente invulnerável. Ele conseguiu construir uma armadura impressionante para si mesmo - o mito do iletrado de bom coração - e ai de quem ousar criticá-lo. Será sempre xingado de "preconceituoso", "elitista", "direitista" e outros palavrões. Muitos políticos caíram nessa, preferindo poupá-lo. O resultado é este que agora se desenha: vitória acachapante de Dilma no primeiro turno. Bem feito para o Serra e o PSDB, eu diria, se não temesse coisas piores vindo por aí. A única coisa que me consola é que Dilma não é Lula: não tem o mesmo carisma, nem o mesmo poder de comunicação. Um passo em falso poderá lhe custar bem caro. Vamos ver se quem sobrar na oposição vai ter culhão para peitá-la.

CADÊ A LIZA?

Kylie Minogue deu uma canja num show ao ar livre do Rufus Wainwright neste final de semana. Os dois cantaram "Locomotion" e também, "Can't Get You Out of My Head", "All the Lovers" e "Don't Go Breaking My Heart" (estes três vídeos estão com uma qualidade bem piorzinha que o lá de cima). Senti falta da Liza Minnelli. Afinal, é uma conhecida lei da física: quando há tanta energia gay concentrada num único lugar, Liza se manifesta.

IT'S ON, BITCHES

Sou viciado nos programas de premiação americanos. Assisto a todos que posso, faço previsões e acerto quase todas (nunca entre num bolão comigo). Ontem deixei gravando meus favoritos “The Office” e “True Blood” só para ver a entrega dos Emmys do começo ao fim. Ao contrário do que dizem os luminares da esquerda brasileira, a TV americana está atravessando uma fase de ouro. Nunca houve tanta coisa boa no ar ao mesmo tempo, e o show de ontem foi um reflexo disto: para cada premiado havia pelo menos uns 6 ou 7 inustiçados, tão alto que anda o nível. E por quê que a qualidade subiu tanto? Talvez porque a concorrência tenha se acirrado nos últimos 20 anos, tanto por causa da chegada de uma 4a. grande rede (a Fox) como do crescimento dos canais a cabo. Por aqui a Globo ainda domina, apesar de não ter mais os índices estratosféricos de alguns anos atrás. Por isto seria impensável numa premiação brasileira um número de abertura como o que foi exibido ontem, reunindo atores de vários programas e emissoras diferentes. Eu batia palminhas de alegria: olha a Tina Fey! Olha a Jane Lynch (que agradeceu à esposa quando ganhou seu troféu)! Olha a Betty White! Olha o Hurley do “Lost”! That’s entertaiment.

domingo, 29 de agosto de 2010

OS PRIMOS GAYS DE SABRINA

Olhe bem para estas senhoras inglesas. As duas são hétero e a da esquerda é casada com filhos. E adivinha o que elas fazem para viver? Escrevem romances históricos e eróticos com protagonistas gays, recheados de cenas explícitas de sexo. E seu público é basicamente como elas: mulheres heterossexuais. Já tinha me surpeendido com o fato de várias lésbicas se excitarem com filmes pornôs gays. Como o erotismo feminino está muito na mais cabeça do que no olhar, até que não é de todo espantoso saber que a vertente "M/M" (man on man) é a que mais cresce dentro do bilionário mercado da literatura para moças, conhecido aqui no Brasil pelas séries "Sabrina", "Bianca" e "Julia". A revista "Out" deste mês, que tem o Daniel Radcliffe / Harry Potter na capa, traz uma matéria sobre este fenômeno, que pode ser lida aqui em inglês. O repórter praticamente não se conforma com a situação das duas senhoras, e fica provocando-as o tempo todo: têm certeza que vocês não são homo, bi, pansexuais? É então que a grandalhona da direita responde: sou um gay ativo aprisionado no corpo de uma mulher. O próprio pseudônimo com que ela assina seus livros já dá uma dica. É Erastes, o termo que definia o parceiro dominante (vulgo comedor) das relações homossexuais da Grécia antiga (o passivo era o erômenos). A outra senhora, Alex Beecroft, vai à Igreja e leva uma vida caretérrima, mas admite que se fosse jovem nos dias de hoje talvez tivesse explorado "outros lados". As feministas não sabem o que fazer destes livros: as personagens femininas são todas umas tontas, que sangram pelo nariz e estão sempre choramingando. Já os homens são viris, galantes, intrépidos, a fantasia costumeira. Só que preferem transar com outros homens, ou melhor, amar. Moral da história? A mesma a que já cheguei outras vezes: a sexualidade humana é muito mais rica e vasta do que os rótulos que lhe queremos aplicar.

sábado, 28 de agosto de 2010

MARCOS PORTEÑO

Esqueci de dizer: já está no ar desde ontem o 5o. Popcast que gravei com o Marcos Carioca. Ficamos uma semana em silêncio porque ele foi passar o rodo em Buenos Aires. A cidade é praticamente o único tema, e pela primeira vez deixei-o falar mais do que eu. Porque Marquiños viveu muitas aventuras na capital portenha: foi a bares, restaurantes, saunas e "conheceu" um monte de gente. Ah, de vez em quando é muito bom estar solteiro... E fique ligado: semana que vem, se as agendas baterem, traremos uma exclusivíssima entrevista com a Diva do Senhor.

DIRETO AO PONTO

Tudo que Cee Lo Green faz é bom. Nunca ouviu falar? Ah, mas já o ouviu cantar: ele é metade da dupla Gnarls Barkley, que fez "Crazy" - talvez a melhor música de 2006. E também já ouviu suas composições: Cee Lo é um dos autores de "Don't Cha", o primeiro sucesso das Pussycat Dolls e um hino para todas as cachorras do planeta. Dessa vez ele ataca sozinho com "Fuck You", que está tocando sem parar nas rádios americanas e criando problemas para os locutores dizerem seu nome. É mais um retro-soul animado, que gruda no ouvido e acaba funcionando como uma catarse coletiva (lembra do "Vai Tomar no Cu" de três anos atrás?). Quem se inscrever no site do cara ganha duas outras faixas grátis. Mas o que eu quero mesmo é a delicada camiseta com o refrão: Fuck you, and fuck her too.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

UM BAILE DE FORMATURA

Toda hora eu decreto que não vou mais ver filme-favela, mas fazer o quê? Ainda costuma ser o que o cinema brasileiro faz de melhor. "5 x Favela - Agora por Nós Mesmos" é, por enquanto, a mais bem realizada obra nacional de ficção de 2010. É uma coletânea de cinco curta-metragens, a exemplo do filme com quase o mesmo nome que marcou o início do Cinema Novo meio século atrás. Cacá Diegues estreava na direção e aqui ele produz, ao lado de sua mulher Renata Almeida Magalhães. A primeira versão foi feita por jovens que vinham "do asfalto"; dessa vez, foi tudo escrito e dirigido pelo pessoal das "comunidades" (outra palavra que me dá urticária, mas vamo que vamo). Como todo filme em episódios, o resultado é heterogêneo, com quebras de ritmo ocasionais. Mas visto como um todo é consistente, emocionante e verdadeiro. Os argumentos são todos bons, e melhores que a maneira como foram roteirizados. Os atores misturam amadores e profissionais, e também derrapadas com momentos sublimes. Nada tem o impacto de um "Palace II", o curta de Fernando Meirelles que precedeu "Cidade de Deus", mas ele também já era mais que rodado quando encarou o lado B do Rio de Janeiro. Aqui são todos estreantes mas também todos talentosos, e daqui a uns anos "...Agora por Nós mesmos" talvez seja considerado o marco zero de outra grande geração. Começou bem, rapaziada: o desafio agora é manter o nível lá em cima, como a pipa que aparece no poster.

NIC IN RIO

Lembra do comercial com Sarah Jessica Parker que lançou o Shopping Cidade Jardim há dois anos? Ela deve ser o maior pé-frio, porque o lugar vive às moscas e já sofreu dois grandes assaltos em 2010. Agora estão usando outra celebridade internacional para um projeto parecido, desta vez no Rio. SJP até tem uma imagem consumista, mas o kika Nicole Kidman tem a ver com as calças? Achei meio gratuito, mas de grátis claro que ela não tem nada. Nic é bonita, o Rio também é, ela parece sofisticada, o Rio tenta ser...Neste passeio de limo pela cidade, fiquei esperando pela bala perdida. Tá certo que estou de má vontade, porque o filme até que é bem feitinho. Mas também é óbvio que Ms. Kidman não precisou por os pés no Brasil para faturar seu cachê zilionário. Este comercial está passando também em São Paulo e, implicâncias à parte, me encheu de saudade da minha outra terra. Se Deus quiser, matarei-as em breve.

VITÓRIA DA SERIEDADE

Ontem o ministro Carlos Ayres Brito, do STF, suspendeu a lei absurda que proibia os humoristas de satirizarem os candidatos às próximas eleições. O caso ainda será julgado por todo o Supremo, mas até lá a galhofa já está liberada. E tomara que continue assim, porque essa legislação é digna de república bolivariana. Já pensou se nos EUA os caras do "Saturday Night Live" fossem impedidos de imitar a Sarah Palin ou o Obama? Liberdade de expressão ainda é um conceito muito frágil na nossa jovem democracia - e pode ter certeza de que o PT virá com tudo para coibi-la no ano que vem, caso vença em outubro. Aliás, o cartunista Nani está sendo processado pelo partido: é sintomático que também seja dele o logo da campanha "Humor Sem Censura", que domingo passado mobilizou artistas para uma passeata em Copacabana. A decisão de ontem não foi uma vitória apenas deles, mas de toda a sociedade. O Brasil está finalmente se tornando um país sério.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

PODRE MESMO

De vez em quando meus posts são mal interpretados, seja porque estavam realmente confusos, seja porque o leitor nem terminou o "Caminho Suave". Olha só que injustiça: anteontem fui chamado de "podre" só porque fantasiei como seria passar quatro meses longe das pressões do dia-a-dia, sem em momento algum ter menosprezado o sofrimento dos mineiros presos no Chile. Mas acontece que eu sou podre mesmo. Tanto que estou rindo desde a manhã de hoje desta tirinha do Dr. Pepper postada pela fabulosa Libanesa no Facebook. E pensar que eu já trabalhei duas vezes no Teleton...

QUANDO OIEI A TERRA ARDENDO

Demorou, mas finalmente comecei a sentir os efeitos da tal grande massa de ar seco que cobre quase todo o Brasil. Parece que minhas mãos estão eternamente empoeiradas, não importa quantas vezes eu as lave. Devem estar mesmo: o ar de São Paulo está ainda mais carregado de partículas em suspensão, pois não chove há quase um mês. Fora isto, mais nada: não estou com os olhos irritados, como reclama o Oscar, nem apresento nenhum sintoma grave como os que a televisão não se cansa de mostrar. Aliás, tenho a ligeira sensação de que a TV exagera o problema e contribui para criar um certo clima de pânico. Quando eu era pequeno, não me lembro de um único dia de aula cancelado por causa do tempo seco. Vai ver que é culpa do aquecimento global… Ou então é porque nós brasileiros estamos cada vez mais mimados, por culpa da natureza que nos foi tão generosa. Basta a temperatura cair a 19 graus no Rio para os cariocas se revoltarem, como se isto não estivesse no contrato que firmaram com a cidade. Menos alarmismo, gente. Só vou reclamar da secura do ar quando meu cabelo ficar cheio de estática e qualquer esbarrão resultar num choque elétrico.

SEM VERGONHA


Robbie Williams contruiu toda sua carreira em cima da dúvida: afinal, ele queima a rosca ou não? Está sempre posando pelado e/ou abraçando outros homens, e raramente aparece em público com uma mulher a tiracolo. Talvez por isto nunca tenha feito muito sucesso nos Estados Unidos, onde as coisas têm que ser pretas ou brancas. E agora é que não vai fazer mesmo: seu novo vídeo, para a música "Shame", é desavergonhadamente inspirado em "Brokeback Mountain". É um dueto com Gary Barlow, seu ex-colega da boy band Take That, e fará parte de seu 2o. volume de greatest hits, que sai em outubro. A canção é uma balada tristonha, mas o clip em si é bacaninha. Faltou a cena da cabana, néam?

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

DEATH TO MARY BALE

Osama Bin Laden é tão cinco minutos atrás... A nova pessoa mais odiada do mundo é a britânica Mary Bale, solteirona e quarentona como sua conterrânea Susan Boyle. Mas é o oposto desta, que adora gatos e conquistou o planeta com sua fofura. Mary jura que também gosta de felinos, mas o vídeo acima, gravado por uma câmera de segurança, prova exatamente o contrário. É o novo sucesso do YouTube, e a infeliz não só vai ser processada por crueldade com os animais como já tem uma página no Facebook criada por seu anti-fã-clube, que divulgou até o telefone de sua casa. O inferno em que a vida de Mary se transformou talvez já seja castigo suficiente. Ah, em tempo: a gata Lola, de quatro anos de idade, foi resgatada depois de 15 HORAS na lata de lixo sem um arranhão, e passa bem. Que este episódio sirva de lição para todos nós: a vida moderna está coalhada de câmeras. Ninguém mais pode fazer o que quer que seja, pois será gravado e postado na internet.

CAVALOS DE TRÓIA

Entreouvido no corredor do escritório: um faxineiro e uma copeira debatiam se deveriam votar no Tiririca, o candidato-sensação nas eleições de São Paulo. Não resisti e me meti na conversa. “O Tiririca está lá só para conseguir votos para o PR, um dos piores partidos que existem! Se ele tiver uma votação muito grande, vai levar junto para a Câmara de Deputados um monte de candidatos terríveis!” Os dois me olharam como se eu estivesse falando de física quântica e acho que vão votar no Tiririca assim mesmo, “contra tudo o que está aí”. De fato, pouca gente entende que, além de votar na pessoa, também está votando no partido, o que costuma criar casos bizarros. Como Enéas conseguindo eleger um camarada que teve 16 votos. Ou Clodovil sendo substituído por um militar truculento e ainda mais homofóbico. Se algum dia a reforma política vier, este voto proporcional à legenda precisa ser revisto. Porque a política brasileira ainda está muito longe de ser partidária. Continua tão personalista como sempre foi (só quero ver o que vai acontecer com o PT, por exemplo, quando não puder mais contar com o Lula). Por isto, eu imploro a todo mundo que estiver inclinado a votar na Simony, no marido da Mara Maravilha ou na Mulher Pera: se você quer mesmo fazer um voto do protesto, se quer avacalhar com o sistema, vote nulo, vote em branco, vote no rinoceronte Cacareco ou no macaco Tião. Mas não vote nesses candidatos folclóricos, que servem de chamariz para os partidos mal-intencionados. Eles só estão para lá para encher as bancadas com candidatos corruptos e incompetentes - exatamente os que você mais detesta.

(Não tenho coragem de postar a propaganda eleitoral do Tiririca na TV, uma das coisas mais deprimentes que já vi. Quem tiver estômago pode clicar aqui.)

terça-feira, 24 de agosto de 2010

A COPA DO MUNDO DELES

Sempre achei que os países que mais se mobilizassem com o concurso de Miss Universo fossem a Venezuela ou Porto Rico, mas mudei de ideia depois que vi o vídeo acima. As quatro bibinhas filipinas praticamente explodem enquanto são anunciadas as 15 finalistas. E o nome da Miss Filipinas é tão bom que parece ter sido inventado: Maria Venus Raj! Quase mandei a dica para o Celso Dossi, mas, como sou mau e egoísta, resolvi postar primeiro. Depois eu compenso, dahling.

DE VOLTA AO ÚTERO

É estarrecedora e apavorante a história dos mineiros chilenos que só serão resgatados em dezembro. Não sou claustrofóbico como a Marta Matui, que fez um post de terror sobre o assunto, mas nem posso imaginar o sofrimento pelo qual eles e as respectivas famílias ainda terão que passar. Será que existe alguma espécie de banheiro lá embaixo? Os caras estavam num tipo de refúgio, mas tiveram que sair porque a água invadiu. O calor é de 33 graus. Não há luz nem água corrente. Se alguém tiver uma doença séria, baubau. Por outro lado, ando tão estressado que a ideia de passar quatro meses sem ter que me preocupar com nada não deixa de ser atraente. Nada de contas a pagar, nada de trânsito engarrafado nem ligações de telemarketing. Só a luta pela sobrevivência imediata, com alguém lá em cima enviando pacotinhos de gel protéico e bilhetes de encorajamento. Algo como uma nova gestação, sem dúvida o período mais feliz da vida de um ser humano. Lá no fundo da mina eles poderão dormir à vontade e deixar de malhar sem culpa, que inveja... E serão devolvidos à luz na época do Natal, quando assinarão contratos milionários para terem suas vidas adaptadas para o cinema. Se ainda estiverem vivos, é claro.

ENTRE A MORENA E A MAIS MORENA

Só assisti ao finalzinho do concurso de Miss Universo ontem à noite. "True Blood", que eu perdi no domingo por causa do Café com Vodka, tinha prioridade. Mas sintonizei bem a tempo de ver as cinco finalistas no palco, aguardando os resultados. De cara a Miss México me chamou a atenção: mais do que beleza, a mulher parecia ter atitude. As "princesas" foram sendo anunciadas, e logo sobraram só duas no páreo. Ao lado da mexicana estava a escultural Miss Jamaica, uma mulata de quatro metros de altura. Aí entrei numa mini-crise de correção política: para quem torcer? Pelo que eu lembro, nunca houve uma Miss Universo negra ou mulata. As latinas predominam, seguidas pelas americanas e uma ou outra oriental. Seria "importante" que uma afro-descendente fosse coroada como a mulher mais bela do mundo, não? E a jamaicana realmente é linda, não ia soar forçado. Estava em plena divagação quando avisaram que a mexicana tinha vencido. Ufa. De fato, era mesmo a mais bonita. E dane-se o politicamente correto.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

ISSO É BOSSA NOVA, ISSO É MUITO NATURAL

Uma matéria na "Folha" de hoje me fez ir atrás do novo disco de Lisa Ono, "Asia". Lisa é brasileira de pais japoneses, e foi morar no Japão ainda adolescente. Mas nunca rompeu os laços com o Brasil, muito pelo contrário. Tornou-se cantora e a maior divulgadora da bossa nova no Oriente. Tenho um CD seu de 2003 chamado "Dans Mon Île" onde ela recriava clássicos da chanson francesa com arranjos jobinianos. Também já gravou em inglês, italiano e japonês. Agora, depois de muito excursionar pela região, lançou um disco com canções em chinês, malaio, indonésio, tailandês, mongol, cingalês, o diabo. São standards locais que ela abrasileira sem pudor. E nem tudo é bossa nova: "Rasa Sayang", da Malásia, virou forró. Mas a faixa mais gostosa é a última, "Begawan Solo", onde Bali e Ipanema viram uma coisa só. It's a small world after all.

NEM MORTA

Quase todas as religiões têm um lado cafona. Os hinduístas veneram elefantes cor-de-rosa e os católicos, um coração sangrando crivado de punhais. Mas acho que ninguém supera os espíritas no quesito mau gosto. Antes de prosseguir, um esclarecimento: não estou entrando no mérito da fé em si. Longe de mim querer discutir no que as pessoas acreditam ou deixam de acreditar. Mas a estética do espiritismo é brega demais, né não? Quase denunciei o trailer de "Nosso Lar" para o Esquadrão da Moda. Gentem, o que é aquela cidade dos Jetsons para onde se vai depois da morte? E por quê é que todo mundo usa túnica branca? Os espíritos de Coco Chanel e Christian Dior bem que podiam organizar uma Além-Túmulo Fashion Week. Mais horroroso do que os modelitos, só mesmo as atuações. Tem ator aí que não passaria em teste para a "Paixão de Cristo" em Nova Jerusalém (aliás, outra coisa über-cafona). "Nosso Lar" estreia dia 3 de setembro e um amigo jornalista que o viu numa cabine disse que não é tão pavoroso quanto parece. Acho que não vou conseguir não ver: é um dos grandes lançamentos da Globo Filmes para o segundo semestre, e talvez faça uma bilheteria tão grande quanto a de "Chico Xavier". Pode ser até que eu goste. Mas, pelo menos para mim, o filme já falhou como catequese. A doutrina espírita é super atraente - vida eterna, uêbaaaa - mas passar a eternidade de sarongue esovaçante? Nem morta.

domingo, 22 de agosto de 2010

MEL ESCORRENDO

Assistir ao filme turco "Um Doce Olhar" é como ver um fio de mel escorrendo para fora do pote: lindo, poético e chato para caralho. O título original é "Bal", "mel", e forma uma trilogia com "Ovo" e "Leite", que contam a história do mesmo personagem em idades diferentes. Aqui ele é uma criança ensimesmada que mora numa região montanhosa do norte da Turquia. Tem dificuldade para aprender a ler e passa grande parte do tempo espiando a natureza pela janela. Seu pai coleta mel nas florestas vizinhas e a única coisa que de fato acontece se passa com ele, logo antes dos créditos. Dali para a frente, muita contemplação, muita fotografia deslumbrante e nenhuma trilha sonora. Achava que esse tipo de filme-tartaruga já tinha saído de moda, mas "Um Doce Olhar" faturou o Urso de Ouro no festival de Berlim deste ano. Para mim valeu para passear com os olhos por uma região desconhecida, pensar na vida, no meu set do Café com Vodka, na campanha do Tiririca e lembrar que eu tenho uma conta para pagar na terça-feira.

sábado, 21 de agosto de 2010

VIDA DE BAILARINA

Quem não gosta de filme com duas mulheres brigando? Grrrmeeaow! Se não for por homem, então, pode até virar um clássico como "A Malvada" ou "O Que Aconteceu com Baby Jane". Duvido que "Black Swan" chegue a tanto, mas o trailer promete boas risadas. Natalie Portman faz uma bailarina apavorada com a chegada de uma rival, Mila Kunis (de "That 70's Show"). Sofre muito, acha que está sendo perseguida e acaba dando até o beijo lésbico obrigatório em qualquer filme que tenha duas atrizes bonitas. O diretor Darren Aronofsky costuma fazer coisas mais cabeça, mas "Black Swan" está acumulando prestígio antes da estreia nos EUA, em dezembro. Vai abrir o festival de Veneza e também passar em Toronto. Um grand jetée rumo ao Oscar?

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

TIAS FOFINHAS

Hoje me bateu um súbito ataque de nostalgia e comprei a edição "deluxe" de "Songs from the Big Chair", o 2o. álbum da dupla Tears for Fears. Tive o disco em vinil em 1985 e assisti a um show deles no Radio City, em Nova York, no mesmo ano, no que foi minha primeira viagem ao exterior como adulto. "Everybody Wants to Rule the World" foi um dos meus hinos daquela época, quando ainda me iniciava no trabalho e no amor. Eu tinha 25 anos, e agora é o disco que tem essa idade. Pois bem: "Songs from the Big Chair" não é tão bom quanto eu lembrava... A versão comemorativa tem lados B, sobras de estúdio, remixes. Tudo perfeitamente dispensável. Salvam-se a épica "Shout", a fofa "Head Over Heels" e, claro, "Everybody..." So glad we've almost made it...

ATÉ JÁ, ZSA ZSA

A garotada de hoje nem desconfia, mas Zsa Zsa Gabor foi uma legítima antecessora de Paris Hilton. Explicando melhor: ela praticamente inventou a arte de ser famosa por ser famosa, sem nenhum grande feito ou talento que lhe justificasse a fama. OK, foi atriz de cinema, mas seu único filme mais ou menos importante foi "Moulin Rouge" - a versão de 1952, bem entendido - e ela ainda teve a manha de ser a única do elenco a não receber uma indicação para o Oscar. Também foi bonita, sem dúvida, mas não do calibre de suas colegas Ava Gardner ou Rita Hayworth. Junto com suas irmãs Eva e Magda, Zsa Zsa (pronuncia-se "já já") apimentou a Hollywood dos anos 50 e 60. Teve 9 maridos, nunca escondeu sua paixão por peles e diamantes e sempre tratou mal a "criadagem" - isto é, quase todo mundo. Em 1989, ao ser parada por um guarda de trânsito que queria multá-la por excesso de velocidade, ela não teve dúvidas: estapeou o insolente.

Zsa Zsa Gabor está com 93 anos e foi desenganada pelos médicos. Deixou o hospital para morrer em casa, a qualquer momento. Ela talvez seja uma das culpadas pela cultura das falsas celebridades em que vivemos hoje, mas vai deixar para a História um legado muito mais precioso do que o de qualquer ex-BBB: um punhado de frases ferinas. Aqui vai uma pequena seleção:

- Sou boa dona de casa. Sempre que me divorciei, fiquei dona da casa onde morávamos.

- Divorciar-se porque o amor acabou é quase tão tolo quanto se casar por estar amando.

- Quantos maridos eu tive? Quer dizer, além daqueles com que eu me casei?

- Os homens amam com os olhos. As mulheres, com os ouvidos.

- Grandes?? Mas estes são os diamantes que eu uso para trabalhar, dahling.

- Eu chamo todo mundo de dahling porque não lembro o nome de ninguém.


Bon voyage, dahling.

A JUDY GARLAND DA DIREITA

Ann Coulter é a mais escrota dos comentaristas americanos de direita. Ela faz de tudo para manter sua fama de má, e consegue. Disse que a solução para o terrorismo islâmico era simples: bastava invadir todos os países muçulmanos, matar seus líderes e converter as populações ao cristianismo. De vez em quando pega pesado demais: afirmou que as viúvas das vítimas do 11 de setembro, que reivindicavam pensões e indenizações, eram todas putas querendo aparecer, e que fariam melhor se posassem na "Playboy". Não tem papas na língua para xingar os democratas, os liberais ou qualquer um que lhe cruze o caminho. Sua briga mais recente é com uma organização de extrema direita que cancelou o convite que lhe havia feito para uma palestra. Isto porque Ann será uma das oradoras de um evento do GOProud, um grupo de gays republicanos (sim, isto existe, apesar de não fazer muito sentido). Chegou a ser anunciada no poster do certame bibístico como "a Judy Garland da direita" (como se a verdadeira Judy fosse conhecida como socialista). Ms. Coulter chamou seus novos desafetos de "suínos" e lembrou que não fala só para gente com quem concorda. Assim como Diogo Mainardi, Ann Coulter está muito mais para uma entertainer do que para uma comentarista política séria. É uma espécie de Sarah Palin que sabe ler e escrever. Suas posições são quase sempre absurdas e repulsivas, mas ela é muito divertida. Por isto a odeio com todas as forcas - e a-do-ro odiá-la.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

SOLUCIONES INTEGRALES

A Cidade do México é um posto avançado do inferno. O trânsito é caótico, a poluição é avassaladora, a violência é aterrorizante. Mas também tem muita coisa boa, como o casamento igualitário. Hoje o prefeito do DF anunciou que vai processar o cardeal de Guadalajara, porque Sua Eminência declarou outro dia que os juízes da Suprema Corte mexicana foram subornados para decidir que os casamentos gays celebrados na capital - ainda o único lugar do país onde eles são legais - precisam ser reconhecidos a nível nacional. E em mais uma prova de que a igualdade de direitos é fa-bu-lo-sa para a economia, já estão surgindo serviços voltados para este público exigente. Recebi um e-mail da Anodis Bodas, especializada em "soluções" (AMO esta palavra acima de todas as outras) para festas de casamento entre pessoas do mesmo sexo. Vale a pena visitar o site da empresa: até mariachi eles arrumam. Aliás, a palavra "mariachi" vem do francês "marriage". Nada mais justo que estes músicos toquem também no casório dos pinches maricones.

DE VOLTA ÀS CARRAPETAS

O Café com Vodka completou um ano de existência no último dia 9, mas a comemoração oficial será no próximo domingo, dia 22. Toquei na segunda festa e mais outras duas vezes (três contando com o fiasco no Rio). Acho que fui o DJ convidado mais frequente, talvez porque meu filhinho Duda Hering não se aperte em me chamar toda vez que uma celebridade cancela sua participação. Vou tocar novamente no domingo, mas o Duda impôs uma condição: nada de músicas latinas, jajaja. "Toca de novo o set da primeira vez", pediu ele. Será? Talvez, mas com algumas novidades, claro. Não adianta inventar coisas muito estranhas, porque em domingueira o povo só quer cantar junto e ser feliz. Ainda estou montando a lista e aceito sugestões. Devo entrar às 19 horas, entre Las Bibas from Vizcaya e a Dri Toscano from Rio de Janeiro. Acho bom todo mundo estar lá.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

SANGUE BOM

Sei que estou obcecado por "True Blood", mas fazer o quê? É de longe a melhor série americana do momento. A revista "Rolling Stone" também concorda, tanto que colocou os três atores principais na capa de sua última edição. Como o que é bom sempre pode melhorar, o site "Pretty on the Outside" foi rápido no gatilho e já propôs uma capa com os três mais gostosos.

BEIJINHO BEIJINHO PSOL

Quando era oposição, o PT usou por muito tempo o slogan "oPTei". Agora sua dissidência, o PSOL, quer fazer um trocadilho parecido com a palavra "opção". Eu sempre me incomodo quando "opção" aparece num congtexto que envolva homossexuais. Mas, mesmo não concordando com o programa estatizante e autoritário do PSOL, amei de paixão eles terem feito a Globo exibir um beijo gay em pleno horário nobre.

(dica do Marçal, do Adriano Queiroz, do Marcos Carioca... a blogaysfera está em chamas por causa deste comercial)

MARRY A MAN, MAN

O comercial do sabonete líquido Old Spice com o galã negro Isaiah Mustapha venceu o Grand Prix no festival de Cannes deste ano, gerou várias continuações e, óbvio, algumas paródias. A melhor é esta aí, feita por um humorístico da TV australiana. Vale lembrar que a avançada Austrália, que se orgulha tanto de sua viadérrima Mardi Gras, está bem atrasada no quesito casamento gay. Os dois partidos que costumam se alternar no poder são contra. Pelo menos os humoristas de lá tiram sarro dessa situação. Melhor que os boçais do "Casseta & Planeta" e do "CQC", que tiram sarro dos gays que querem direitos iguais.

A FRANÇA PARA MARCIANOS

A editora Contexto publicou uma coleção de livros sobre alguns dos povos mais interessantes do planeta. Comecei por "Os Franceses", para continuar na minha cabeça a viagem que fiz em junho. O autor Ricardo Corrêa Coelho morou alguns anos na França e foi casado com uma francesa, o que lhe deu autoridade para escrever um verdadeiro catálogo arrazoado sobre o país. A riqueza de detalhes é tã grande que às vezes passa a impressão de que ele está falando para um público que não tenha a menor ideia do que seja um croissant, um camembert ou Edith Piaf. Marcianos, talvez? Mas é claro que o livro traz um monte de informações interessantes, como o fato dos gauleses terem inventado a calça comprida. Ou a razão por quê Paris parece ter sido construída toda ao mesmo: a cidade foi mesmo construída ao mesmo tempo, ou melhor, reconstruída, ao longo dos 17 anos em que o barão Haussmann foi prefeito. A França é um país variadíssimo, cheio de contrastes regionais, mas muito mais homogêneo que a vizinha Espanha, por exemplo. Ler "OS Franceses" só aumenta minha vontade eterna de voltar para lá.

MÃES E FANTASMAS

O diretor Rodrigo García é filho de Gabriel García Márquez e está se especializando em filmes de mulherzinha. "Destinos Ligados" (título absurdo para "Mother and Child") é sua terceira obra com várias protagonistas femininas. Desta vez há um tema comum entre elas: a maternidade e a adoção. Annette Bening está soberba (e envelhecida demais, estava na hora de um refresh) como a enfermeira de meia idade que se remói até hoje por ter engravidado na adolescência e dado o bebê para pais adotivos. A filha que ela não conhece é Naomi Watts, que transa com vários homens e engravida sem saber de qual. E Kerry Washington faz uma esposa estéril em busca de um bebê para adotar. Todas assoladas pelos fantasmas das mães que gostariam de ser ou ter. O filme é longo e cheio de cenas desnecessárias. Um defeito típico quando o roteirista e o diretor são a mesma pessoa, que se recusa a cortar o que quer que seja. Também tem elementos de melodrama que entregam as raízes latinas de García, como uma garota cega ou uma medalhinha preciosa. Mas não merecia passar tão batido pelos cinemas brasileiros - só havia Oscar e eu na sessão em que o assistimos. Maternidade e adoção são mesmo assuntos que põem o público para correr.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

FRIO NA ESPINHA

Atenção: se você não quer saber o que acontece no próximo episódio de "True Blood", NÃO assista ao vídeo acima. Não assista. Não assista.

OK: agora que você já assistiu, podemos continuar. São notórios os paralelos entre os vampiros da série e os gays da vida real. Os dois grupos viveram na clandestinidade por milênios, foram perseguidos pelo estado e pela religião e finalmente vêm à tona para reivindicar seus direitos iguais. Quer dizer, agora só na vida real: no capítulo que foi ao ar nos EUA domingo passado (e que passa aqui no próximo), Russell Eddington, o "rei dos vampiros do Mississippi", faz um discurso na TV que põe por terra qualquer esperança de tolerância e igualdade. Ainda bem que o público do programa é maciçamente simpatizante. Caso contrário, esta ceninha de arrepiar já estaria servindo de munição ao inimigo.

RYKAH

Depois de tantos anos lendo o blog da Katylene, não tinha como não me decepcionar ao finalmente vê-la na estreia de seu programa da MTV. A Katylene Beezmarcky que existe na minha cabeça tem uma voz muito mais bagaceira, muito maish cariuócan (também dizem que minha voz no podcast não se "parece" comigo). Mas isto é fácil de corrigir e acho que de resto há muito mais acertos do que erros. Tanto que o "Katylene TV" tem gostinho de quero mais: é muito curto e só passa uma vez por semana. Se é para ser tão rápido, que pelo menos fosse diário, néam? Soocesso para a Katy e para o Daniel Carvalho, que eles merecem. E vem cá, quando começa o programa da Cleycianne?

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

COMO CANSA A MILITÂNCIA

O 1o. Encontro dos Blogueiros Gays foi promovido pelo Mix Brasil, dentro da programação da Parada Gay de São Paulo. Não passou de um bate-papo entre alguns blogueiros no palco - nem os mais lidos nem os mais "importantes", mas apenas os que o André Fischer e o Ailton Botelho, organizadores do evento, conheciam pessoalmente - e uma pequena plateia composta, em grande parte, também por blogueiros. Tínhamos tanto assunto represado e tão pouco tempo que um 2o. Encontro foi praticamente exigido ao final. Todos os que deram seus nomes e e-mails foram convidados, e muitos compareceram. Foi então que se adotou um formato mais democrático: um grande círculo de cadeiras, que acabou provocando uma discussão interessante. Era a semana em que o casamento gay havia sido aprovado na Argentina e claro que este foi o assunto dominante. Combinamos que talvez fosse útil para a causa copiarmos algumas das táticas empregadas no país vizinho, como o uso do termo "casamento igualitário". Já o 3o. Encontro foi precedido por uma saraivada de e-mails que por pouco não desanda em quebra-pau. Deveríamos convidar as lésbicas, os travestis, os transexuais? Afinal, não somos todos a favor da igualdade?

No final o encontro teve a participação de apenas uma garota. O consenso geral é de que somos um grupo de blogueiros homens querendo discutir assuntos de homens, mas que quem quiser participar será sempre bem-vindo. Mesmo assim, ainda me chegaram uns comentários chamando-nos de preconceituosos. Gozado: acho que se fôssemos um grupo de lésbicas, não haveria esta pressão para convidarmos os viados. O mesmo aconteceria num grupo de travas. Mas como somos homens, ah... Daqui a pouco vão dizer que os negros estão sub-representados, ou os orientais, ou os canhotos. Pas de sac pra esse papo.

Ou talvez o que esteja incomodando é que saímos da reunião com um logo e cheios de gás para viralizá-lo. Queremos espalhá-lo em adesivos, camisetas, camisinhas. Mas é claro que não queremos impor nada, nem estamos falando em nome de ninguém - só no nosso. Digo e repito que os encontros são abertos, que não temos estatutos da gafieira, que não cobramos o dízimo. É só um chá das cinco? E se for, qual é o problema? É por isto que eu admiro o André Fischer, que há uns 20 anos convive com militantes dos mais variados matizes e sempre com um sorriso no rosto. Ser militante é bom, é importante. Mas como cansa, cacete.

Em tempo: finalmente está no ar, com alguns dias de atraso, o 4o. Popcast com Marcos Carioca e eu. Acho que o motorista do Mix perdeu a fita entre as compras do Santa Luzia. Enfim, estamos mais curtos e mais grossos. Dessa vez não ficamos enrolando para entrar num assunto caliente. Oiça.

ACONTECE NAS MELHORES FAMÍLIAS

Aqui no Brasil, artistas em fim de carreira costumam enveredar pela pornografia para faturar uns trocados e voltar à mídia, ainda que por alguns segundos. Quem acha que vai ganhar papéis na Globo se dá mal, e o exemplo mais trágico é o da Leila Lopes. Se por aqui o estigma ainda é grande, imagine nos EUA. É por isto que está causando celeuma a estreia no pornô de Montana, a filha de Laurence Fishburne (do filme "Matrix" e da série "CSI"). A garota tem só 19 anos, nasceu em berço de ouro e parece perfeitamente bem ajustada. Ela diz nas entrevistas que perdeu a virgindade há apenas dois anos e que a-do-rou o sexo. Uma paixão tão grande que ela fez questão de escancará-la, para o mundo inteiro ver. E não, ela não sonha com uma carreira em Hollywood. Também jura que não quer machucar o pai, mas isto só seu pisquiatra poderá dizer com certeza. Montana talvez seja jovem demais para avaliar as consequências. Atrizes pornô têm carreira curta e aos 28 já estão "velhas" - além de serem consideradas putas, como bem já o disse o pessoal do "CQC". Já com os atores nossa sociedade machista é bem mais leniente. Os héteros são aplaudidos como garanhões, ainda mais se forem horrendos como o veterano Ron Jeremy. E os gays têm status de semideuses: Jeff Stryker, Lukas Ridgeston, François Sagat, estão todos acima do bem e do mal. De qualquer maneira, boa sorte para Montana Fishburne. Ela vai precisar.

TIRA O PÉ DO CHÃÃÃO

Cheguei em casa do 3o. Encontro dos Blogueiros Gays e encontrei meu marido Oscar acidentado. Ele foi atravessar a rua, pisou de mau jeito numa ondulação do asfalto e estatelou-se no chão. Ficou com um inchaço no peito do pé esquerdo do tamanho de uma bola de tênis. Gelo e Cataflam aliviaram um pouco as dores, que foram suficientes para nos cancelar todo o resto da programação do sábado. No domingo a dor continuava e fomos a um pronto-socorro tirar uma radiografia. Não deu outra: uma pequena fratura. Que mesmo assim o obrigou a por uma tala de gesso que vai até o joelho. Não pode por o pé no chão por no mínimo uma semana. Já alugamos muletas e eu estou tentando ser um enfermeiro só um pouco desajeitado. Acho que vou processar a Leiloca: a ex-Frenética e hoje astróloga garantiu que a tal da quadratura funesta havia acabado semana passada.

domingo, 15 de agosto de 2010

TRANSPARÊNCIA RADICAL

Antes que o Encontro dos Blogueiros terminasse ontem, perguntei aos presentes se eles já sabiam em quem votar para deputado federal e estadual. Eu não sabia. Acho que era o único, porque vários responderam ao mesmo tempo: Ale Youssef. Roussef?, engasguei. Não, um dos sócios do Studio SP, ex-chefe de gabinete da Soninha e namorado da Leandra Leal. Um hétero?? Sim, mas plenamente simpatizante. Na saída do Sonique peguei um santinho dele, em meio aos flyers de festas e boates. E o que eu li me agradou muito (está tudo aqui no site dele, com direção de arte moderna e termos irados como "transparência radical"). Ale Youssef é a favor do casamento gay, da descriminalização do aborto e de um amplo debate sobre as drogas. É apoiado por gente bacana como Marina Person ou Hermano Vianna. E é do PV, ainda o partido mais limpo do Brasil. Não o conheço pessoalmente, mas quem conhece só fala bem. Estou muito inclinado a votar nele. E para estadual? Alguém tem alguma sugestão? Aliás, quem souber de candidatos bacanas em São Paulo, no Riou ou alhures, me indique que eu falo aqui no blog. Informação é poder.

sábado, 14 de agosto de 2010

LOGO EXISTO

Esta tarde aconteceu o 3o. Encontro dos Blogueiros Gays de São Paulo, promovido pelo André Fischer do Mix Brasil. Foi no Sonique e a casa ofereceu água, refri ou breja aos convivas: mais uma razão para eu fazer propaganda grátis de lá. Éramos uns 20 dessa vez, menos do que no último encontro. Talvez alguns tenham se irritado com a troca frenética de e-mails que rolou durante a semana. O Marçal do Ugay sugeriu que convidássemos lésbicas, trans e travestis. Muita gente foi contra, outros tantos a favor e eu fiquei quietinho. Não tinha opinião formada, até o próprio Fischer intervir. Ele, que tem vasta experiência na militância do Oiapoque ao Chuí, disse que quase não há grupos voltados exclusivamente para os homens gays. As ONGs todas, que de não-governamentais têm cada vez menos, por isto mesmo querem ser o mais inclusivas possível. Como não recebemos dinheiro público e nem sequer definimos com clareza qual o objetivo desses saraus, acho que ainda não é o momento de abrir para as outras letras do alfabeto. O que não impediu uma moça de comparecer (e ser bem recebida).

E já temos um resultado prático desses encontros. É o logo lá no alto do post, descaradamente chupado desse aí do lado, da Human Rights Campaign. Nada simboliza melhor a igualdade que o próprio sinal de igual. Chegamos a pensar em usar o da HRC sem tirar nem por, mas as cores azul e amarela poderiam levar alguém a achar que somos atrelados ao PSDB. Aí o Gilberto Scofield sugeriu trocar o azul pelo verde. O Henrique Luz fez esta artezinha, com os tons oficiais da nossa bandeira e pronto. Agora é só virar adesivo, camiseta, Mica Card, tatuagem... Ah, também vamos registrar no Creative Commons, para não aparecer um vagabundo dizendo que a ideia foi dele (hello? o sinal de igual?) e querendo faturar. Ajuda com isto, Introspective? Aliás, por quê você não foi hoje?

Por enquanto o logo deve ficar assim mesmo, sem slogans, sem palavras de ordem. Vou colar no meu carro, vou botar no blog, vou desfilar por aí. E todo mundo está convidado a fazer o mesmo, não só os blogueiros que foram ao encontro (que aliás não tem lista na porta). O intuito é gerar um misteriozinho, provocar perguntas e até causar constrangimento. Afinal, quem vai ter coragem de se declarar contra a igualdade? Eu sei, é só um loguinho, é pouco, mas já é alguma coisa. Tomara que daqui a pouco tenha tanta gente usando, mas tanta, que mais um pouco e não precisaremos mais fazer campanha nenhuma.

A MÁQUINA DE MOER IDEIAS

O cineasta André Klotzel nunca teve um grande sucesso de bilheteria. Seu filme mais bem-sucedido foi justamente o primeiro, "A Marvada Carne", que devorou quase todos os prêmios no Festival de Gramado e lá vai pedrada. Mesmo assim, ele estava com medo de que sua nova obra, "Reflexões de Liquidificador", fosse triturada pelo monstro da indiferença, que faz com que a maioria dos filmes brasileiros não resista a duas semanas em cartaz. Bom, então vamos combinar que o título deveria ter palavras como "sexo", "amor" ou "espírito", e nunca "reflexões" e "liquidificador", que juntas se tornam radioativas. A estratégia de lançamento também me parece simpaticamente equivocada. O filme está numa única sala de SP, com preço variáveis ao longo do dia. Antes dele ainda passa um curta nacional e - Jesus feche meus olhos - um cômico de stand-up. Minha vergonha alheia atinge o ponto de ebulição ao ver alguém semi-engraçado tentando divertir uma plateia pela metade. E o "Reflexões" em si, que tal? Também é simpático, até modesto. O próprio Klotzel não é fiel à ideia original: contar uma história a partir do ponto de vista do liquidificador. O eletrodoméstco narra o começo e o fim, mas some da cena por longos períodos. O que é bom, porque deixa Ana Lúcia Torre brilhar. Trabalhei com ela na sitcom "Santo de Casa", da Band, em 99. É uma atriz fabulosa e uma pessoa idem, que nunca foi posta no mesmo pedestal de Fernanda ou Marília - talvez porque de diva não tenha nada. E agora vai ganhar todos os prêmios dos próximos festivais. O filme é a vitamina que sua carreira precisava.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

KARATE KID

Anúncios para uma escola de karatê na Flórida. Talvez seja mesmo uma boa ideia matricular o garoto lá: ele vai precisar se defender quando crescer.

FASE MYLÈNE

Encasquetei. Faz dez dias que eu só ouço Mylène Farmer. Praticamente desconhecida no Brasil, ela é a cantora francesa que mais vendeu discos em todos os tempos. Na Europa é tão famosa e amada quanto Madonna. O curioso é que muitas de suas letras são mórbidas, falando de sexo, morte e religião. Os vídeos não ficam atrás, como este aí em cima para "C'est Dans l'Air" (baixe aqui o remix do Tiësto para esta música). Trouxe da viagem o CD e o DVD do show que ela fez ano passado no Stade de France, o que me levou a revisitar toda sua obra. Tem muita coisa boa, outras são bem cafoninhas. Às vezes ela também não acerta o visual e fica parecendo uma vendeuse da província casando no civil. Mas no geral seu trabalho é mais eletronicamente radical que o das colegas. Ah, e é desnecessário dizer que seu público é uns 70% pédé...

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

WHEN YOU WISH UPON A STAR

Hoje é a Noite das Perseidas, quando a Terra faz sua visita anual à cauda do cometa Swift Huttle. O céu ficará todo riscadinho de estrelas cadentes. Ano passado fiz um post a respeito reclamando por não estar no hemisfério norte. O ignorantão aqui não sabia que as Perseidas podem ser vistas de todo o planeta. Tem até um site que indica a melhor hora para assistir ao espetáculo de onde você estiver: é o Fluxtimator, que faz parte do portal da NASA. As únicas cidades brasileiras listadas são o Rio e Brasília - aliás, São Paulo, a 3a. maior do mundo, raramente aparece nessas listas internacionais, mas isto é assunto para outro dia - mas quem souber suas coordenadas exatas pode inseri-las para descobrir o horário do show. Segundo o gráfico, não teremos por aqui mais do que uma estrelinha caindo por hora. Que pena, tinha tanta coisa para desejar.

IRREVERSÍVEL

Este gráfico aí ao lado mostra a evolução da opinião dos americanos sobre casamento gay. É um verdadeiro terremoto: em pouco mais de 20 anos, os 10% que eram a favor tornaram-se praticamente 50% e em breve serão maioria incontestável. Nem o racismo, nem o feminismo, nenhum outro fenômeno social passou por uma mudança tão drástica em tão pouco tempo. A tendência é mesmo irreversível, porque os mais jovens são esmagadoramente a favor - ao contrário dos mais velhos. Ou seja: a cada véio que morre, a linha azul sobe um tiquinho... Também é interessante notar que o último momento em que essa onda se inverteu foi em 2004, quando Bush conseguiu ser reeleito manipulando o preconceito contra os homossexuais. Hoje até sua mulher passou para o nosso lado. Dona Laura não quer ficar outra vez contra o rumo da História... Outro dado engraçado é que ultimamente, quando esquenta o debate, os reaças sempre saem perdendo. É que seus argumentos ditos "racionais" (não-religiosos) são tão fraquinhos que fazem com que gente que não tinha opinião formada de repente tenha, e a nosso favor. Imagino que este gráfico seja bem diferente no Brasil, mas aposto que a tendência é a mesma. Tudo questão de tempo.

O QUE ACONTECEU A BABY ROSE?

Aham, Cláudia, tem programa para hoje? Se você estiver em São Paulo, a boa da noite é a festa Invitation Only, que marca mais uma ressurreição da SoGo. A tradicional boate dos Jardins está com novos sócios, nova decoração e cheia de amor para dar. Para entrar DE GRAÇA na festinha é só mandar o(s) nome(s) para lista@invitationonly.com.br. A Chandon ainda irá oferecer, durante toda a noite, double drinks de Baby Rose Chandon (mais masculino, impossível). O DJ residente da casa, Maicon Ribeiro, divide as pick-ups com a glamurosa Grá Ferreira. Katia Miranda estará na porta (mas quem tiver nome na lista não tem o que temer) e, lá dentro, Marcelo Rocha - também conhecido como Speedy para os íntimos ou Sleepy para os realmente íntimos - recebe os amiguinhos. Bora!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

EMPATA-FODA

Caí feito um patinho. Acreditei nas críticas boazinhas que diziam que "Eclipse" é o melhor filme da série "A Saga Crepúsculo". Talvez seja mesmo, no sentido de que um único cocô é melhor do que dois. Continua tudo sendo cocô. E continua tudo como estava no final do segundo filme, assim como no do primeiro: Bella dividida entre o vampiro e o lobisomem, sem ir às vias de fato com nenhum. Literalmente, ninguém trepa nem sai de cima. À pobreza do roteiro juntam-se efeitos especiais comprados no saldão do barateiro e o resultado foram duas horas torturantes na poltrona do cinema. Além do mais porque na noite anterior eu tinha visto mais um capítulo de "True Blood", onde todo mundo trepa com todo mundo e os monstros são muito mais assustadores e engraçados. OK, não sou o público-alvo de "Eclipse", mas até aí também não sou do "Harry Potter" e gosto do bruxinho. Esses vampiros assexuados de Stephenie Meyer, que moram todos juntos num casarão feito os Dzi Croquettes, realmente são insuportáveis. Agora que cheguei ao terceiro filme, será que terei estômago para ir atré o final? Acho bom acontecer alguma coisa.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

MEU HERÓI

Quantas vezes por dia você pensa em chutar tudo para o alto? O (agora ex-) comissário de bordo Steven Slater fez isto ontem, e em grande estilo. O avião da companhia Jet Blue em que ele estava (e fabricado pela Embraer, olha só) havia acabado de pousar no aeroporto JFK, em Nova York. Ainda taxiava pela pista quando um passageiro se levantou para pegar sua bagagem. Steven se aproximou e pediu para ele (ou ela, não está claro) se sentar. A pessoa não só se recusou como abriu o compartimento de bagagens, e sua mala de mão acertou em cheio a cabeça do comissário. Steven exigiu desculpas, mas o passageiro começou a xingá-lo. E o que foi que ele fez então? Passou a mão no microfone e começou a xingar o passageiro de volta. Em seguida, disse que já estava farto depois de 20 anos na aviação, pegou uma cerveja na geladeira e... acionou a rampa inflável do avião. Deslizou para fora e foi tranquilamente para casa em seu próprio carro. Foi preso horas depois, enquanto trepava com o namorado - you go, girl - acusado arriscar a vida de inocentes com seu gesto tresloucado. Mas aí já era tarde. Steven Slater é o novo herói americano, o padroeiro de todos que querem mas não podem abandonar seus empregos. Já existem site e página no Facebook em sua homenagem, com coleta de fundos para pagar sua fiança e despesas legais. Não demora e ele vai assinar contrato para livro, filme, reality... You go, girl [2].

O PECADO MORA AO LADO

Estão quebrando um pau homérico nos EUA por causa da tal “Mesquita do Ground Zero”. O próprio nome que a imprensa vem dando ao templo é errôneo, por que ela não será construída exatamente na imensa cratera formada no 11 de setembro, mas a duas quadras de distância. Demagogos de direita como Sarah Palin e Newton Gingrich já se manifestaram contra, assim como entidades judaicas e muitos parentes das vítimas. Mas o prefeito de Nova York é a favor – e além do mais, não há muito como impedir. A mesquita é uma iniciativa privada e vai ser construída num terreno particular, e proibi-la seria atentar contra a liberdade religiosa prevista na constituição americana. Pessoalmente, também sou a favor e concordo com as entidades islâmicas que dizem querer promover o diálogo e a paz (embora torça para que a linha adotada não seja a wahabbita, seguida pela al-Qaeda). Também concordo com a provocação do jornalista e blogueiro Greg Gutfeld, que apresenta um programa de humor no Fox News, o canal de notícias mais conservador e tendencioso. O cara simplesmente quer construir uma boate gay bem ao lado da mesquita. Gutfeld vai mais longe e diz que tentará atrair as bibas muçulmanas com um andar onde não será servido álcool (a íntegra da proposta pode ser lida em seu blog “The Daily Gut”, em inglês). Não querem o diálogo e a paz? Então que convivam com as outras liberdades do país, nhé nhé nhé.

ATUALIZAÇÃO: A "Mesquita do Ground Zero" seguirá uma linha moderada, ufa. Mas apenas duas quadras mais adiante já existe outra, a Masjid Manhattan, esta sim radical. No site eles juram que são da paz, mas são salafitas - vulgo wahhabitas. Curiosamente, a maior parte da imprensa americana está ignorando esta turma. E mais curiosamente ainda, esta mesquita já tem um bar gay em sua vizinhança imediata, assim como uma loja de vinhos.

ABENÇOADO ESPERMA

Raramente compro a "Playboy", mas não resisti à capa deste mês. Não foi a primeira vez: ano passado comprei a da Fernanda Young e há muitos anos a da Marisa Orth, todas mulheres que eu tinha curiosidade de ver as bacurinhas. Agora é a Cleo Pires, que está inegavelmente batendo um bolão. São dois ensaios diferentes, um assinado por Jacques Duqueker e outro por Bob Wolfenson. Gostei mais do primeiro, com fotos mais ensolaradas. O segundo, aliás, é meio decepcionante: muito se falou sobre a presença de dois rapazes junto com Cleo, mas eles estão de cueca e não revelam absolutamente nada, nem os rostinhos. O público-alvo da "Playboy" não vai reclamar: a filha de Gloria Pires está sensacional, muito mais bonita do que a mãe jamais foi. Aliás, Glorinha é muito charmosa, mas nunca foi uma beldade nem teve corpão. Cleo teve muita sorte de ser filha do Fábio Jr. e não daquele pastel vencido que é o Orlando Morais (sua meio-irmã Antonia já não saiu tão deslumbrante). É o tal do "esperma abençoado" do Fábio, que gerou também o Fiuk. Enfim, que bom que vivemos num país onde uma estrela em ascensão como Cleo Pires pode posar nua, faturar alto e continuar a carreira. E que pena que o mesmo não acontece com o gostoso de seu meio-irmão.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

ABERTO PARA REFORMA

Raramente compro a "Época", mas não resisti à capa desta semana. Evangélicos que rejeitam o mercantilismo das igrejas neopentecostais? Oi? A revista os chama de "novos", mas a verdade é que não se trata de dissidências da Universal ou da Renascer. A maioria desses rebeldes tem raízes mais antigas, que remontam aos luteranos. Costumam ser mais educados (e mais ricos) que os fiéis desesperados que depositam seus dízimos e sua fé na horrenda "teologia da prosperidade". E estão organizados em pequenos grupos que buscam emular as primeiras comunidades cristãs. Ainda é um movimento incipiente, que não vai acabar de uma hora para a outra com os pastores televisivos que falam em línguas e arrancam grana dos miseráveis. Mas é mais um sinal de que algo está mudando. Junto a isto o apoio maciço que a recente "desconversão" de Anne Rice vem recebendo, e fico com a impressão de que o cristianismo está prestes a passar por mais um de seus ciclos periódicos de catarse e renovação. Menos intolerância, menos ganância e mais amor - será? Hana Macantarava Suya!

E A VIDA VAI SER COR-DE-ROSA

Charles Möeller e Cláudio Botelho não vão sossegar enquanto não montarem no Brasil todos os musicais clássicos da Broadway, mesmo os mais antigos e distantes da nossa realidade. A memória afetiva de um gay é como o iceberg que afundou o Titanic, ninguém segura. O último fruto dessa obsessão dos "reis do musical" (eles se autoproclamaram, mas é verdade) é "Gypsy", que fez muito sucesso em curta temporada carioca e agora está em cartaz em SP até outubro. É a história verdadeira de Mamma Rose, a mais apavorante stage mother de todos os tempos. No começo do século passado, ela empurrava as filhas pequenas para todos os concursos de calouros e shows de vaudeville possíveis, mesmo contra a vontade das garotas. Hoje estaria tentando encaixá-las em comerciais, como muitas que já conheci. A determinação era tanta que a filha menor fugiu com um corista assim que entrou na adolescência. A maior, desprovida de talento dramático, acabou enveredando pelo teatro burlesco, o antepassado do strip-tease e da dança do poste. Naquela época as mulheres não ficavam nuas no palco, e Gypsy Rose Lee arrebentava mostrando pouco e provocando muito. Foi a maior stripper de todos os tempos, uma espécie de Rita Cadillac dos anos 30. O musical foi baseado em suas memórias e é remontado até hoje, porque tem um papel perfeito para grandes atrizes de meia idade. Totia Meirelles enfrenta o maior desafio de sua carreira como Rose e dá conta total do recado, com vigor e desepero na medida certa. Adriana Garambone canta bem, mas não é a bomba sexual que Gypsy era. E Ada Chaseliov está simplesmente perfeita como uma stripper decadente e engraçadíssima. O espetáculo se ressente de um primeiro ato longuíssimo e algo desinteressante, mas ganha força no segundo. Apesar do êxito alcançado a duras penas por suas personagens, "Gypsy" não tem exatamente um final feliz. Na vida real foi ainda pior: a verdadeira Mamma Rose matou um homem durante uma discussão e morreu de câncer relativamente jovem, no que foi seguida anos depois pela filha célebre. Bem longe do hino otimista que é o grande hit da peça, "Everything's Coming Up Roses".

(Fui ao teatro com a Marta Matui. Ela fez um ótimo post inspirado pela peça que pode ser lido aqui.)