Jovem gay: ao completar 18 anos, dirija-se ao cinema mais próximo e assista ao documentário "Dzi Croquettes". Isto é uma ordem. O filme é obrigatório para qualquer um que se interesse pela história dos homossexuais no Brasil. De onde viemos, onde estamos, para onde vamos: tudo isto está lá, nas entrelinhas para quem souber ler. Para os mais novinhos, então - aqueles que acham que Dicésar e Serginho são as figuras mais modernas e ultrajantes de todos os tempos - "Dzi Croquettes" vai ser uma revelação.
Para quem ainda não sabe: os Dzi Croquettes foram uma trupe de atores-bailarinos comandada por Wagner Ribeiro e Lennie Dale que causou furor nos anos 70. Um bando de rapazes que se montavam em cena, mas não eram travestis. Barbas, pelos, músculos, tudo isto convivia com toneladas de maquiagem e figurinos absurdos. Fizeram sucesso com seu show em boates do Rio, depois em teatros de São Paulo, depois no Brasil todo e finalmente em Paris. Quando estavam no auge, brigaram e se separaram, feito os Beatles. No comecinho dos anos 90 ainda fizeram um revival-despedida, e o burraldo aqui teve a manha de jamais vê-los no palco. Nem quando eu já era 'di maior'.
O filme é dirigido por Raphael Alvarez e Tatiana Issa, que é filha de um técnico do grupo (ela também fez novelas na Globo e a Ceci no horrível "O Guarani" da Norma Bengell, mas deixa pra lá). Reúne uma preciosidade em material de arquivo, com registros de shows e cenas dos Croquettes na intimidade. E mais um monte de depoimentos de estrelas de grande magnitude, como Liza Minnelli, Marília Pera, Betty Faria e Ney Matogrosso. Aliás, este último não deixa claro o quanto os Croquettes o teriam influenciado. Alguém poderia focar agora nos Secos & Molhados, o trio andrógino que lançou Ney em 73 com uma linguagem visual parecidíssima com a dos Dzi e que fez um sucesso estrondoso no Brasil inteiro. Dá para se imaginar, nos dias de hoje, um homem com voz de mulher rebolando na TV e tocando em todas as rádios AM do país?
Saí do cinema mais mexido do que eu esperava. Por quê é que não temos mais essa pororoca de talento que foram os Dzi Croquettes, onde cada um dos integrantes era um performer excepcional? O apogeu do grupo foi uma espécie de paraíso gay, com todos morando juntos, fazendo sucesso, ganhando dinheiro e se amando entre si. A mensagem deles continua tão revolucionária como sempre foi, mais política do que qualquer drag candidata a vereador. Claro que nem tudo foi purpurina: dos treze originais só restam cinco. Quatro morreram de AIDS, três foram assassinados e só um teve morte natural (aneurisma), mesmo assim jovem demais. Mas estava mais do que na hora deles serem lembrados, voltarem às conversas, voltarem a inspirar. Saí do cinema me sentindo como um fã do grupo diz em seu depoimento: minha vontade era chegar em casa, rasgar minhas roupas e me montar, nem que fosse só por dentro. Porque ser Dzi Croquette é, antes de tudo, uma questão de atitude.
Acredita que eu nunca tinha ouvido falar deles até semana passada? Pois é. Esse tipo de pauta ainda é proibida aqui em casa.
ResponderExcluirQuanto ao filme, até tinha me animado a ver, mas está em circuito reduzidíssimo e alternativérrimo aqui no Rio. A crítica elogiou bastante como você. as únicas ressalvas foram a quase obrigatória tentativa de relacionar o grupo a alguma forma de protesto contra a ditadura e o tom pessoal em excesso da diretora em frequentemente focar no papel que seu pai desempenhou na história deles.
nao concordo com isso. relacionar com a ditadura e notorio, e foco principal da diretora nao foi esse, assista o filme, Daniel.
ResponderExcluirCaro Tony,
ResponderExcluirAcompanho seu blog desde que li sobre ele na revista J, gosto muito dos comentarios expostos.
Quanto ao filme achei muito bom, nao os conhecia antes, e vi o filme durante a mostra de cinema do ano passado, engracado como vc percebe como e quanto eles influenciaram, que marco foram.
Enfim, gostaria de fazer so uma ressalva, a de que a direcao eh de Raphael Alvarez e nao Ricardo.
Cara tenho 26 e só descobri a existencia do grupo graças a um amigo older que era apaixonado pelos caras.
ResponderExcluirP.s: sugestão de pauta: saka o jornal O Lampião ? anda meio esquicido até pela militancia gay..mas foi t.u.d.o nesta terra.
Já corrigi, meu amorrrrrr (como se diz em croquetês),
ResponderExcluirTony:
ResponderExcluirAssisti ao emocionante documentário sobre os Dzi Croquettes no Mix do ano passado.
Na platéia, além dos diretores, a família do Wagner Ribeiro (um irmão, a cunhada dele e os sobrinhos). Se já havia chorado durante a projeção, imagina qdo o irmão se levantou e falou da emoção e o orgulho q estava sentindo do irmão! As lágrimas jorravam na platéia! Só um pequeno adendo: o Ney declara q os Secos & Molhados eram pura inspiração nos Dzi.
Passei a conhecer seu blog a partir do encontro na Livraria Cultura e agora q já estivemos em dois outros encontros, fiquei seu "fã"! Seu bom humor e as ótimas tiradas são perfeitas!
Parabéns
bjs
Maurício
Não sabia da existencia desse grupo no brasil, conhecia os de São Francisco, que tem o nome de The Cockettes, que actuaram entre 69 e 72 e donde vieram entre outros o cantor Sylvester
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=gnTLffNuVr4
http://en.wikipedia.org/wiki/The_Cockettes
há um documentario muito bom deles
http://www.imdb.com/title/tt0303321/
Ahh e a grande Divine também passou por lá :)
ResponderExcluirTony será que vai sair em DVD????
Tony, você traduziu exatamente a forma que eu me senti após sair do cinema ontem, uma vontade de me montar e sair por ai "revolucionando"
ResponderExcluiré uma tristeza que nos dias de hoje não exista nada que passe perto do fenomeno Dzi.
Os tempos atuais agradeceriam uma manifestação cheia de originalidade como esses rapazes ousaram fazer!
Fiquei emocionadíssimo com o filme. Um retrato poderoso da revolução artística em plena ditadura e não só da cena gay. Também não tive o privilégio de vê-los, mas este documentários mais que homenageá-los, os resgata e nos mostra como vivemos tempos medíocres. Ao contrário do que disseram, achei honestíssima a decisão da diretora partir de sua infância e da lembrança de seu pai e assim mesmo consegue retratar toda uma geração que nos deixa saudosos daquilo que não vivemos. O único porém, que de forma alguma compromete o resultado, é um certo didatismo sobre a situação política do Brasil na época. A propósito do comentário do Daniel acima: no filme eles citam que o nome do grupo surgiu de forma hilária a partir do grupo americano The Cockettes. Tens razão Tony: filme obrigatório!
ResponderExcluirTô ensaiando de ir desde sábado.
ResponderExcluirAmei o post.
Bruno, eu não vi o filme. O que eu disse foi o que eu li em 2 críticas diferentes. E nenhuma disse que o foco principal do filme era o pai da diretora, mas que ela frequentemente entrava nesse assunto com os entrevistados.
ResponderExcluirLendo o teu texto e depois assistindo o trailer deu super vontade de assistir, mas jura que vai passar aqui em Blu..
ResponderExcluirQuando sai em dvd? :P
Mudando de assunto, já viu a nova cara da Givanchy?
ResponderExcluirhttp://homotography.tumblr.com/post/833753310/current-givenchy-face-transgender-model-lea-t-in
Estou louco para este documentario que ja se tornou umm dos mais premiados do Brasil.
ResponderExcluirLi umas três críticas que acusavam o doc. de ser muito didático e um pouco sentimental, mesmo assim fui ver no domingo.
ResponderExcluirSabia da existência, mas nada mais do que isso. Não sabia nem do que se tratava e gostei muito, acho que a linguagem adotada pela dupla de diretores (que a crítica acusou de ser didática) é apropriada para falar com um público que pouco conhece sobre o grupo. valeu cada centavo.
Não lembro exatamente se foi no fim dos anos 80 ou inicio dos 90, mas eu assisti uma apresentação deles no Scala, no que seria um "volta" com quem ainda estava vivo, foi de longe a coisa mais gay (no sentido homo e alegre) que já vi num palco e ao vivo.
ResponderExcluirNão, não vi a nova cara da "GIVANCHY"! Pq? Um tal de Monsieur Hubert... decidiu fazer uma daquelas plásticas só possíveis em filmes de ficção científica ou para traficantes internacionais de high-profile? Humm...quero ver, quero ver...! Essa doeu, dôô..rrrr de barriga.
ResponderExcluirPS:Sim, a Leaaa.. já aparece em campanhas da marca há várias temporadas...lembro dela com milhares de correntes do pescoço, e n era querendo se enforcar não, viu?
Parabéns pelo texto. Bem escrito e emocionante, assim como foram Dzi Croquette e o documentário sobre eles.
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