quarta-feira, 14 de julho de 2010

PRECONCEITO VELADO?

O Parlamento da França aprovou por maioria esmagadora, com apenas um único voto contra, a proibição à burca e a outros véus islâmicos que impossibilitam a identificação da pessoa. O argumento mais usado é que esses véus ferem o caráter laico do estado francês e que podem até por em risco a segurança, já que terroristas poderiam se ocultar por baixo deles. A Espanha e a Holanda devem votar leis parecidas nos próximos dias. Não sei muito o que pensar. Sinto que há uma intenção boa por trás dessa proibição: forçar a integração da cada vez maior comunidade muçulmana ao mainstream da sociedade francesa e combater a violência contra a mulher, muito comum nesta comunidade. Sinto que também há uma má: racismo puro e simples, e o medo infundado de que todo árabe é membro da al-Qaeda. Os opositores do véu dizem que ele é uma prisão para as mulheres, algo impensável no liberado Ocidente. Tendo a concordar. Mas aí li um artigo de uma estudiosa americana que diz que o Ocidente também tem suas prisões para as mulheres, estabelecendo um padrão de beleza inalcançável e expondo tetas e bundas como meros objetos. Também tendo a concordar. E agora?

24 comentários:

  1. A verdade é que estamos em estágios diferentes da evolução sim. O Ocidente já racionalizou a questão do preconceito contra mulheres e liberdades individuais, enquanto algumas nações ainda não. Alguém duvida que (caso o mundo não acabe antes), algum dia, todo mundo vai achar religião uma perda de tempo e essas tradições um completo atraso de vida?

    O problema é que, dada a facilidade de intercâmbio entre as culturas, os choques estão ocorrendo e o Ocidente está caíndo na pegadinha de abdicar de alguns de seus princípios sagrados.

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  2. Tony,
    Eu também achava no começo que era um cerceamento à liberdade, até me lembrar do que acontece com os estrangeiros em um país islâmico. Trabalhei na Arábia Saudita, e lá não tem choro nem vela - a mulher que chega do Ocidente tem que se submeter ao padrão que eles decidiram e fim de papo.
    Por isso, o que estão fazendo na Europa é um pouco da questão de reciprocidade - mostrar que o outro lado não pode chegar e tentar impor seus padrões, que aqui o buraco é mais embaixo.
    Um índio em São Paulo não pode andar nu pelas ruas embora isso possa ser o padrão para ele em sua aldeia. Como diz o velho ditado "When in Rome do as the Romans".
    **

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  3. Sim, fazer as mulheres muçulmanas serem obrigadas a não usar uma vestimenta que faz parte dos costumes da religião que elas praticam é para integra-las ao "liberado" ocidente!!!! E desde de quando "integração" acontece a força? Para integrar não devíamos pregar a tolerância. Não é isso que as paradas gays pregam mundo a fora? E o que a burca tem de violência contra a mulher? Ah, esqueci! É pq o Ocidente é uma socidade mto mais evoluída e tolerar os costumes muçulmanos seria uma sinal de relativismo cultural como vc falou em outro post? Meu caro, a burca existe pq o livro sagrado islâmico exige q homens e mulheres se vistam e se comportem modestamente em público. Esta exigência esteve aberta a todo tipo de interpretação, é verdade. Algumas com um caráter repressor contra a mulher. Outras que acreditam q os preceitos do Islam se referem a hulmidade e modéstia e são aplicáveis a homens e mulheres. Mas o bottom line é que a burca faz parte de uma opção religiosa. A estudiosa americana que vc cita parece entender que culturas diferentes apresentam opções diferentes. Nosso padrão de beleza inalcançável deve parece uma barbárie para as muçulmanas talvez...Já vc , olhando pelos seus posts mais recentes que acabo de ler, parece acreditar bastante na supremacia ocidental, não? Acho tb mto curiosa a idéia de que existe uma intenção boa ( puro maniqueísmo ) em "forçar" alguém a fazer algo que não quer. Parece uma mistura de ingeniudade com a arrogância do homem ocidental. O colonizador e o jesuíta. Interessante como nossos preconceitos aparecem qdo estamos nos achando os mais liberais... Enfim, o único argumento razoável que vi aqui é o do parlamento Francês. De fato, nos dias intolerantes e violentos que vivemos pode ter um terrorista escondido atrás de uma inocente burca. E esse terrorista provavelmente é fruto da intolerância tb...
    PS: Tenho que dizer que o post sobre os bebês me deixou pasma!!

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  4. Esse é o grande dilema da pós-modernidade. Discordo do Daniel; não acredito que as culturas e civilizações evoluam todas no mesmo sentido. Aliás, acho que desde Claude Lévi-Strauss que a antrpologia abandonou essa ideia. E quem disse que a cultura é melhor para as mulheres? De acordo com a Fundação Perseu Abramo, uma mulher é agredida a cada minuto no Brasil. Por outro lado, os países ocidentais não são obrigados a tolerar "hábitos" que não estão de acordo com suas leis. Também não sei bem o que pensar a respeito.

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  5. Tony,
    Eu trabalhei durante muitos anos na Arábia Saudita. As pessoas que consideram a proibição do véu um cerceamento da liberdade deveriam passar um tempinho na Arábia Saudita para ver a "liberdade" que a lei local reserva para as mulheres do Ocidente. Eu também acho que o véu deve ser proibido - quando vejo estas mulheres assim eu tenho até um arrepio.
    Um índio não pode andar nu pela cidade de São Paulo só porque na aldeia dele isto é permitido. Como diz o velho ditado, "When in Rome do as the Romans".
    Abraço,
    **

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  6. Observar as leis locais é necessário. Concordo plenamente. O que me deixa perplexo é a crença de q civilização ocidental é mais ou menos evoluída. As civilizacões estão em pleno movimento e o q o faz uma se sobrepor a outra na maioria das vezes é a força. As sociedades tb não seguem um caminho "evolutivo". São fluídas. Veja a nossa recente história para ver as mudanças na sociedade em 1000 anos. Nem sempre no caminho da "evolução". Acreditamos que nossa sociedade é mais evoluída pq fazemos parte dela e acreditamos em seus valores. O mesmo vale para outra civilizações. Não acho q a religião vá deixar de existir, tampouco os seus costumes. Eles vão entrar em desuso em alguns lugares por se tornarem anacrônicos a um determinado estilo de vida. Mas a verdade é que o direito da escolha não pode ser usurpado do cidadão. Este é um dos pilares da sociedade ocidental, o respeito as individualidades. Concordo com a Luiza. Por questões de segurança entendo a proibição da burca. Mas a condenação como se fosse um hábito errado ou atrasado parte do ponto de vista de que nossa cultura é superior e de fato é um comportamente intolerante. Como gays não podemos concordar com isso. Como cidadãos ocidentais idem. Para os mulçumanos radicais não partilhar dos ideais deles é o argumento necessário para deflagrar uma guerra. Não se vai a lugar algum combatendo intolerância com intolerância.

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  7. Matou Luiza! Tô besta com os comentários equivocados. As pessoas defendem as liberdades individias e caem de pau nos costumes de outros países colocando no mesmo balaio religião, cultura e política. Tudo fica misturado como se fosse a mesma coisa. O absurdo é dizer para as mulheres usarem ou não usarem isso. Vamos sair por aí caindo de pau nos judeus que usam solidéu? Nos africanos de turbante? Nos árabes de túnica? As muçulmanas que acreditam no Alcorão temd todo direito de usar. Se não fosse por questão de segurança não vejo sentido em obriga-las a não usar.

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  8. Tony,

    (teclado sem acentos, sorry!)

    A questao da seguranca eh fundamental nesse ponto. O "screening" que nos brasileiros fazemos para ver se um lugar eh seguro ou nao (se tem trombadinhas por perto, etc e tal) eh o screening que os europeus estao se acostumando a fazer, principalmente nas grandes capitais. A questao da seguranca eh serissima, e se os franceses ate hoje eram tranquilos com isso, fica claro como a situacao mudou quando se percebe fatos como... a proibicao de se fazer simples fotos dentro dos terminais do CDG.

    Ja comentei isso faz algum tempo: quando morava em Hamburgo ano passado, todo dia pegava metro com uma mulher que usava o niqab. Angustiante. Nao dava para saber o que era aquilo ali: homem, mulher, travesti, ET, whatever. Os alemaes nao ligavam muito. Mas era muito estranho nao SABER quem esta ali do lado. Quando chegaram as eleicoes (a a Al-Qaeda ameacou a Alemanha com um ataque), essa angustia ainda aumentou mais. Principalmente depois que eu lembrei do fato que Hamburgo foi uma das principais celulas para o ataque do 11 de Setembro (alias, um que pilotou o aviao estudou na mesma universidade que eu!).

    E Tony, sinceramente, eu super concordo com o post da Luzia ai de cima. Acho que voce acredita demais na "supremacia de uma cultura ocidental". E esquece que essa "supremacia" depende imensamente de algum grau de barbarie dos outros, em qualquer momento da historia que isso tenha acontecido. Afinal, fica bem mais facil falar de democracia e direitos humanos quando se vive numa sociedade onde o minimo ja esta garantido, nao? E ai esse assunto ja vai para desenvolvimento do capitalismo, bla bla bla...

    Abracos,
    Fernando.

    @Luciano: Legal que voce tenha morado na Arabia Saudita. Mas cara, ate onde eu saiba, as sauditas tem que usar aquele lencol preto cobrindo TUDO (que tem as maravilhosas gradacoes grosso, muito grosso, lona tapa-tudo), nao? Comento isso porque todo arabe (inclusive as sauditas, que desfilam por Londres felizes com cabelos ao vento) fala que o que acontece na Arabia Saudita realmente eh o maximo do hardline que se chega.

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  9. Xiii, lá vem as Cruzadas!

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  10. Estava trabalhando na França no final do ano passado e este assunto já estava pegando fogo. Houve uma manifestação em frente a um tribunal e outra em frente a uma escola pública, em ambas, mulheres manifestavam o direito de usar o véu para 'ensinar os alunos e julgar processos'! Achei um pouco demais. Daí sai no dia seguinte uma reportagem bastante lúcida, e que eu concordo, dizendo tb que o uso do véu em outras países seria uma forma das mulheres 'darem um recado' aos homens e as que ficaram (ou simplesmente não puderam emigrar) que em outros paises elas tem a liberdade de ensinar, trabalhar e se divertir, seja com o véu ou sem (mas que com a 'imagem' era mais forte!).
    Como se vê tem de tudo e acho que a discussão não é só pela 'liberdade' de uns ou a 'laicidade' de um País.
    Eu apoio o uso facultativo em celebrações e dias sagrados (coisa que esta 'determinação' já contempla) e sinto muito se mulheres querem usá-los em escolas, por exemplo, para lecionar. Acho um desrespeito aos que não praticam da sua fé em países 'laicos'.

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  11. Nem precisa ir tão longe, no Brasil há cidades que proíbem adolescente de sair a noite, teve aquela história de proibir moto com duas pessoas, há colégio que proíbe certos cortes de cabelos, no Rio tem lugar na zona sul, colado à praia, em que é proibido entrar sem camisa ou de chinelo. Enfim, a lista de "proibições" é infinita, todas baseadas em algum critério "cheio de bom senso" e definitivo. Mas, assim como a paranóia do terrorista muçulmano, todas tem em sua base o medo, sempre colocando o "inadequado" como algo que ameaça.

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  12. Achei que este assunto do véu não iria interessar muito aos leitores brasileiros, mas vejo que estava enganado. E estou adorando esse debate aqui nos comentários. Adoro pensar, adoro mudar de ideia. Obrigado a todos.

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  13. Eu tenho colegas árabes aqui em Madrid que usam o véu como um signo de identidade, e não vêem nada de errado nisso, nem são obrigadas a fazê-lo.
    É uma expressão de identidade, como usar um boné, um moicano, uma peruca.
    Já a burka é outra coisa, aí está explícita a repressão à mulher.
    Mas a pergunta é:
    Será que algum dia no Brasil vamos ter essa mesma discussão?

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  14. tb acho o assunto muito complicado, mas acho que se tiver que tomar uma posição, ficaria pelo lado de proibir a burca.

    não porque ache que ocidente seja superior ao mundo árabe (em algumas coisas até acho, eu outras acho o contrário...), mas pelos argumentos de segurança e que o que vale é a regra/cultura do país onde se vive. sim, se pode respeitar as tradições de outros povos, mas até o ponto onde isso incomoda a cultura local.

    vi os comentário de moças aí em cima... gostaria de saber se a posição de defesa da burca vale tb para a mutilação genital feminina que existe em certos países africanos... se vale tb para a prática de assassinar irmãs/parentes que perderam a virgindade antes de casar (ainda rola no Egito e outros países...). aonde se põe o limite de respeito a outras tradições?

    sou da opinião que, quem imigrou para outro país, tem sim que aprender a língua, cultura, hábitos etc do país que o recebeu. Vc pode manter a sua cultura, mas não pode querer ignorar as regras de onde vc escolheu (e foi aceito) para viver. Nos EUA sempre bati de frente com amigos hispânicos que insistiam que era DIREITO deles terem serviços do governo etc em espanhol... Imagina se aqui em SP (ou no México, El Salvador) os bolivianos, coreanos, nigerianos etc fossem insistir em algo parecido? Qual seria a reação de 99% dos brasileiros?

    Lógico que tem algo de racismo e islamofobia nessa coisa da burca, mas só porque tem uns mal-intencionados no meio não se pode desqualificar o resto dos argumentos.

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  15. pode fazer com que elas nao saiam de casa.

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  16. E só para complementar: também acredito totalmente no "Em Roma como os romanos". Mas isso só faz sentido enquanto os romanos são a maioria, certo?

    Na minha universidade a gente tinha uma aula sobre o tema, e lembro muito do que uma professora alemã falava: as sociedades europeias não estão preparadas para integrar de fato esse fluxo de imigrantes que chegou e que vai ficar na Europa (porque importante dizer, a grande maioria já é composta de europeus, com direiros garantidos como qualquer outro cidadão). Os europeus em geral não perceberam que algum grau de adaptação na cultura e na sociedade vai ser inevitável. Ignorar o problema é gerar uma bomba-relógio de altíssimo poder destrutivo. O que resta é integrar e mostrar efetivamente as vantagens e valores de um país democrático.

    E importante ressaltar mais uma vez: uma esmagadora maioria dos usuários de véus nos países europeu-ocidentais são da segunda geração de imigrantes. Ou seja, filhos de imigrantes, nascidos em territórios europeus. E que vêem no véu (e na religião islâmica) uma forma de se encaixar em alguma identidade (já que dentro da identidade europeia eles não se sentem parte).

    Só para esclarecer: a França proibiu a burca, certo? (Pelo menos isso que está no site do Le Monde)

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  17. A França proibiu a burca, o niqab e qualquer véu que esconda a identidade de sua portadora.

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  18. Do jeito que andamos aqui, o similar nacional vai ser um dia o poder legislativo evangélico tentar proibir qualquer manifestação do candomblé e da umbanda.

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  19. Enquanto isso, Berlusconi tenta trazer os crucifixos de volta às escolas.

    A sincronicidade dos temas é perfeita.

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  20. Sim Tony, então todos os da figura acima estão proibidos?

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  21. Não, os que deixam ver olhos, nariz e boca, não.

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  22. A FRANÇA SEMPRE TENDEU PARA O ESTADO ABSOLUTAMENTE LAICO. QUANDO NAPOLEÃO BONAPARTE CHAMOU O CARDEAL DE PARIS, PARA AVISÁ-LO QUE, ACABADA A MONARQUIA (VOLTARIA DEPOIS), ELE IRIA ACABAR COM A IGREJA CATÓLICA, O CARDEAL DEU UMA RISADA E DISSE: "MEU CARO, ISSO NEM NÓS CONSEGUIMOS...".
    ATUALMENTE, ATÉ MESMO OS CRUCIFIXOS FORAM RETIRADOS DAS SALAS DE AULAS EM TODAS AS ESCOLAS PÚBLICAS FRANCESAS. ACHO QUE EU GOSTO MAIS DESSA MANEIRA.
    ABRAÇÃO DO GUI LACOMBE

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  23. (Teclado sem acentos) Se um dos argumentos contra o uso da burca eh a questao de seguranca, o uso de capacete com viseira tambem esta proibido?

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  24. Não está no DNA da Europa receber imigrantes. Ela os enxota ao mundo e pouco se interessa em acolher os que a procuram. É um continente que coloniza e que tolera - disse, tolera - outras culturas. Não as integra. Quando acontece, isso é raro. E mesmo assim dá pano pra manga, assustando incautos cidadãos comuns e estimulando atitudes xenófobas e/ou fascistas por parte de extremistas. Integrar à forceps também é muito comum nos países europeus. A França é exemplo; o faz até com seu(s) próprio(s) povo(s). Com um governo centralizado em Paris e em nome da unidade nacional, sucessivas medidas políticas, tomadas por governos de direita, centro ou de esquerda, sufocaram culturas regionais, matando línguas como o bretão, occitão (parente do catalão) e provençal. O Estado francês chegou ao cúmulo de proibi-las: "Il est interdit de parler breton et de cracher par terre" ("É proibido falar bretão e cuspir no chão"). Enfim, em nome do laicismo republicano, agora, a França usa das mesmas "armas" que os intolerantes islâmicos: a ignorância e opressão.

    Milton.

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