segunda-feira, 19 de julho de 2010

A HORA DA REAÇÃO

Recebi em três comentários diferentes o link para o artigo de Jefferson Lessa que saiu ontem no site do jornal "O Globo". O Marcos Carioca já fez um post a respeito, e agora chegou a minha vez. A história é estarrecedora: Jefferson, jornalista "no auge da meia-idade" (palavras dele), vem sofrendo ataques homofóbicos de "playboys" no bairro carioca em que vive. Ele não diz o nome do bairro, o que eu acho errado: é importante sabermos onde é, tanto para acabar com a sensação de que essas coisas só acontecem na periferia (pela descrição, imagino que seja na Zona Sul) quanto para alguém ir até lá e pegar esses trogloditas no flagra. O artigo de Jefferson é corajoso, mas é preciso fazer mais. O 'bullying" é o ato mais covarde que existe, e só é feito quando há a certeza da impunidade. Se é praticado por um único indivíduo, é anônimo, como nos milhares de casos que andam pipocando pela internet. Mas geralmente é um ato coletivo, na base do muitos-contra-um. A vítima tem a sensação de que tem algo mesmo de errado com ela e que toda a sociedade está no seu encalço. Eu sofri "bullying" no colégio. Tinha 11, 12 anos de idade, e aguentei calado. Não reclamei, não denunciei, não falei nem com os meus pais. Tinha vergonha, pois era chamado de bicha. Se algum adulto, pai ou professor, tivesse se manifestado, aquela violência teria terminado na hora. Por isto acho que o jornalista fez bem, mas ainda é pouco. Quando digo que "alguém" deveria flagrar os brutamontes, não estou pregando a violência física, apesar desta ser a linguagem que o "bully" mais entende. Mas penso que Jefferson poderia levar um fotógrafo do jornal junto, ou tentar ele mesmo registrar a agressão. Sei que é fácil falar, porque não sou eu quem está sendo ameaçado. Mas é mais do que provável que, se ele for se queixar na delegacia, vai ser ignorado e talvez ainda mais ridicularizado. Os ataques a Jefferson estão sendo feitos a cada um de nós, e não estou me referindo só aos gays. É um ataque a homens, mulheres, crianças, cidadãos, todo mundo. O "bully" não aguenta uma reação. Geralmente foge com o rabo entre as pernas. Tá na hora de reagir.

Em tempo: outro dia esperneei que a grande imprensa dá pouca atenção à luta dos homossexuais por direitos iguais. Reclamei especialmente da "Folha de São Paulo". Pois bem, hoje a "Folha" publicou não só um editorial a favor do "casamento gay" (que nós blogueiros "decretamos" sábado que é um termo equivocado, mas zuzo bem) como também um artigo do diplomata Alexandre Vidal Porto conclamando o presidente Lula a ter a mesma coragem de Cristina Kirchner (estes links só servem para assinantes do UOL, mas quem não for pode ler tudo na íntegra no Bota Dentro, o blog do Gustavo Miranda). Fiquei especialmente feliz pelo jornal não ter dado voz ao "outro lado". Não há imparcialidade possível quando o assunto é a igualdade de direitos.

13 comentários:

  1. Todos aguentamos bullying desde cedo. Eu, na escola, denunciei e tive ainda mais problemas... porque fora da escola, a lei é de ninguém. Mesmo assim, acho que esse foi o melhor caminho que ele poderia ter adotado, para escancarar a coisa toda... Seguimos nessa. "Só quem já foi fogueira sabe o que é ser carvão"
    =)

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  2. Aliás, Tony, vc viu o editorial da Folha de S. Paulo defendendo o casamento entre gays, batendo justo na questão da igualdade? Vale a pena ler. Publiquei ele na íntegra no Bota Dentro: http://www.botadentro.com.br/?p=1693
    beijos

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  3. Tony, falta não sóo nomedo Bairo como o nome da rua e quantos são, aparência e hora. Esse ovo tá pedindo uma tunda de laço, como se diz de lá de onde eu venho.

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  4. Acredite se quiser, o bairro onde aconteceu foi na Urca!!!

    Minha mãe disse que saiu uma nota no Globo de sábado falando a mesma coisa. Já revirei a edição digital do jornal toda e não achei. Acho que só saiu na edição impressa que nós recebemos em casa. Quando eu chegar, vou procurar o jornal para ver se acho e compartilho também.

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  5. não lembro onde li, mas o bairro é a Urca, o que bate com a descrição dele no artigo como bairro-tranquilo-sonho-de-consumo-dos-cariocas.

    a dúvida que tenho é essa: o Estado do RJ tem uma lei que criminaliza atitudes homofóbicas como existe no Estado de SP? Pois, se tiver, facilita muito a reação e não se fica dependendo da boa vontade alheia.

    Apesar de pouco usada, essa lei é a base para mais de 40 processos em andamento (outros tantos foram arquivados por falta de provas etc).
    Taí a lei em SP pra quem precisar:

    Lei 10.948/01 – Estabelece sanções a serem aplicadas à prática de discriminação em razão de orientação sexual e identidade de gênero, recentemente regulamentada pelo Decreto nº. 55.589/10. Nele fica estabelecido que a apuração dos atos discriminatórios e a aplicação das penalidades previstas na Lei 10.948/01 serão realizadas por uma comissão especial. Na hipótese de configuração de infração penal, a comissão especial, no prazo de 48 horas, contados de sua ciência, deve comunicar o fato ao Ministério Público.

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  6. Estou passado na manteiga clarificada de saber que é a Urca, o Principado da Urca, também meu sonho de consumo. Achei que fosse Ipanema ou Leblon.

    Agora, será que o Rio não tem uma lei dessas? Sérgio Cabral já mostrou que é o governador mais simpatizante do Brasil. Além do mais, se o Rio quer mesmo ser a meca do tursimo gay, providências sérias têm que ser tomadas.

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  7. o bairro é Urca. O jornalista é amigo do Gil Scofield. Conversei sobre isso com ele ontem e soube do bairro. Absurdo!

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  8. Na verdade, nenhum estado tem lei que "criminaliza" homofobia porque estado não legisla sobre direito penal. A lei de SP só prevê sanções administrativas. O RJ também tem uma lei parecida. É a Lei 3406/00 (autoria do Carlos Minc), mas ela só se aplica a estabelecimentos.

    http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/contlei.nsf/e9589b9aabd9cac8032564fe0065abb4/cdee250b14447c00032568ea006760e4?OpenDocument

    Mas isso não significa que o jornalista não tenha sido vítima de crime (injúria)ou de contravenção (vias de fato, perturbação de tranquilidade). Mas se ele não for a uma delegacia registrar a ocorrência, nada poderá ser feito.

    Bom, volta e meia eu leio algo sobre capacitação das polícias do RJ para atender ao público homossexual vítima de crimes de ódio. Até hoje nunca precisei usar para descobrir se é verdade ou não, mas o governo do estado já tem uma ouvidoria para receber esse tipo de denúncia funcionando na Central do Brasil.

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  9. Eu tenho uma leve lembrança sobre bullying.

    De brincadeiras bobas, como xingamentos era bem comum, mas eu nem ligava. O negócio ficou feio quando rolava agressão física.
    E o colégio tinha psicóloga que conseguiu extrair de mim quem eram os agressores, mas isso só fez piorar a situação. Os amigos não queriam se meter para não sofrer a mesma retaliação, ficou quase insustentável pra mim, ir a escola era um suplício.

    Até que num belo dia não aguentei mais, e no primeiro tapão, eu revidei e quebrei o menino, daí em diante tudo parou.

    Violência nunca é a solução, mas no meu caso, pelo menos voltei a frequentar a escola com prazer.

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  10. A principio quando começei a ler o texto no jornal, pensei que ele tivesse falando de algum garoto, mais chocante ainda pensar que se trata d eum adulto. A nota falando que é na Urca está na crônica da Ana Cristina Reis do Ela.

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  11. Isso me feriu profundamente. Rebriu algo que, pensei, tinha superado. Imagino quanto meu sobrinho, de apenas seis anos, que dá mostra de ser/de será gay, terá de aguentar. Aliás, já aguenta. Menina evangélica quando foi anunciar seu amigo secreto lhe disse ano passado: "Meu amigo secreto é uma bichinha". Como disse uma vez aqui neste espaço: estou certo que em poucas décadas, não mais que três, teremos vergonha do nosso presente, que será pretérito. Acredito no futuro. Não posso imaginar que ele será uma laranja mecânica.

    PS: Colocaria meu nome de bom grado, mas quero preservar meu querido e lindo sobrinho.

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  12. ... durante uns bons dois anos sofri bullying de um vizinho meu, ele era maior que eu, náo muito, mas o suficiente para me manter quieto e aguentar sem fazer muita cara feia as suas agressões verbais ... claro que tudo tem limite e a paciëncia um dia acaba ... aconteceu enfim, a minha adrenalina foi nas alturas, virei Hulk e dei uma surra no moleque mas tão grande tão grande que os pais deles foram reclamar do galos, cortes, dentes partidos, entre outras cositas mas que infligi ao pequeno filho da puta.
    deste dia em diante ele só olhava para mim de lado.. numa mais me encarrou e eu continue, lindo, a brincar de médico com o irmão mais velho dele.. huahuahua.. a vingança ! libera !

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  13. Falando em Folha, eles lançaram uma enquete "sim/nao" se o Brasil deveria legalizar a união gay.
    E bem, os números não são nada animadores..

    http://polls.folha.com.br/poll/1019504/

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