domingo, 25 de julho de 2010

EMBORAMENTE CINEMÍSTICO

"O Bem Amado" foi a primeira novela a cores da televisão brasileira, em 1973. Eu ia vê-la na casa de um vizinho, e nos deliciávamos com os figurinos pós-tropicalistas: saia verde, blusa laranja, casaco roxo... Ficou quase um ano no ar e depois ainda virou seriado. Marcou tanto a carreira de Paulo Gracindo que até um documentário recente sobre o ator o chamava de bem-amado no título. Parecia que um jamais se descolaria do outro. Até que há dois Guel Arraes veio com uma nova montagem da peça original de Dias Gomes, com Marco Nanini no papel-título. Assisti na época e gostei muito: espertamente, Nanini nem tentava imitar Gracindo e fazia uma coisa totalmente diferente. Seu Odorico Paraguaçu é mais balofo, menos viril, mais gorduroso - mas igualmente corrupto e amoral. A peça fez muito sucesso mas teve sua carreira interrompida pelo incêndio do teatro Cultura Artística, em São Paulo, que destruiu cenários e figurinos. Guel então partiu para o cinema. Atualizou o roteiro, manteve Nanini e recheou de globais os outros papéis. O resultado estreou ontem em todo o Brasil, e, pelo menos aqui no Rio, está com salas cheias. Mas é um filme bom? É médio. O roteiro tem achados divertidos, como o ataque de um tubarão, mas peca ao situar a ação no começo dos anos 60 e fazer uma relação direta entre os acontecimentos de Sucupira e o golpe militar de 64. Termina louvando a redemocratização (e aqui Guel não resiste à vaidade de mostrar seu pai, o falecido governador de Pernambuco Miguel Arraes), como se políticos imundos como Odorico fossem coisa do passado. A direção também é pouco criativa, além do mais quando lembramos que é de um cara que revolucionou a linguagem da TV. Mas o elenco todo está bem, e meu destaque vai para José Wilker. Ele também se recusa a replicar o template estabelecido por Lima Duarte e faz um Zeca Diabo soturno, atormentado, muito mais apavorante que o da TV. O filme tirou da novela o galardão de versão definitiva da obra de Dias Gomes, sem tomar o seu lugar. Mas isto até que é bom: "O Bem Amado" está em vias de se tornar um clássico shakesperiano da cultura brasileira, que permitirá diferentes interpretações ao longo dos anos.

8 comentários:

  1. Ai, Tony Goes,

    Pela segunda vez vou fazer uma correçãozinha gramatchykal no teu texto, tsá? E nesse caso é pela segunda vez, viu? Da última, vc usou a expressão "TV a cores" e agora me vem com essa "novela em cores"? tsk, tsk, tsk... A sua resposta deve ser a mesma: "como eu não poderia usar 'TV a preto e branco'"... do you remember? E eu já estou contabilizando umas 12 correçõezinhas do tipo aqui no blog... todas diligentemente corrigidinhas por vc! sorry, baby, é que eu tenho um incorrígivel "complexozinho de professorinha de português"... Ok: bobagenzinhas que "não-vai-nem-vem", neam? Mas pode apostar: um dia eu me livrarei dessa mania idiota de tentar corrigir os textos alheios... Ah, e quero aproveitar para reafirmar aqui que o meu voto para a sua candidatura àquela Academia está firme e forte, viu?
    bjim.

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  2. Me pegou num dia ruim. Não vou corrigir. Que se dane.

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  3. Tudo bem, amô. Tá certíssimo! Não corrija meeeesssmo. Onde já se viu, né?: uma bicha anônima ficar implicando com esse tipo de coisa... Se eu fosse vc eu diria: Se manca, cafona! Ah, mas deixa só eu dizer que me incomoda quando começam frases com pronome oblíquo, vai? ah, falei! Eita, esse meu trauma é uma merda, viu?

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  4. Começar frase com pronome foi uma decisão consciente. Todo mundo que eu conheço fala assim. Muita gente já escreve assim. A língua é um organismo em perene mutação. Que se dane.

    Mudando de assunto: qual pedaço de "dia ruim" você não entendeu?

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  5. Entendi o "dia ruim" em todas as suas 24 horas. Ou seja: num dia "ruim" é possível alguém ficar mais vulnerável a "dançar na sintaxe" ou estar "cagando e andando" pra esse tipo de comentário e não se importar em corrigir porra nenhuma. É um direito seu que eu respeito - "esse blog não é uma democracia!"
    Já te falei que tenho uma certa compulsão em relação a fazer tais correções. Minhas sobrinhas ficam loucas comigo ("que saco, tio!!"). Às vezes penso até em fazer terapia... Em tempo: eu também coloco os pronomes no início das frases quando falo (o problema é escrever ou ver escrito, entende?). Na verdade não aprecio quem conversa como se estivesse com a gramática na ponta da língua - pois tais pessoas sempre me parecem muito artificiais. Ah, TG, liga não, a minha intenção não é tentar atazanar a sua paciência. E tem mais: até acho que um blog deve ter esse caráter mais proverbial, relaxado, no que diz respeito à linguagem... Agora vc imagine quando eu percebo que professores universitários são capazes de falar (e escrever!) cada coisa... que me deixam louco! Vc acredita que um deles emprega um "possa ser que..." quando quer dizer "pode ser que...?"Pasme: é doutor (phd concluído) em comunicação, ensina num curso de jornalismo... Já que eu cheguei até aqui vou te contar o que me ocorreu agora há pouco: acabo de constatar que um amigo tem um álbum no Orkut cujo título começa com um inacreditável "SIMPLISMENTE"... Eu aguento? Não! Só não ligo agorinha mesmo pra ele porque sei que ele não poderá me atender nesse momento. Mas, não tenha dúvida, amanhã preciso fazer isso... senão sou capaz de não dormir direito.

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  6. Alguém explica para ele o que quer dizer "dia ruim", por favor. Eu desisto.

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  7. Seria "estar sem tempo?" hã?

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  8. Não seria SUcupira, Tony? Saudade

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