sábado, 31 de julho de 2010
ERA UM, ERA DOIS, ERA CEM
Este ano ainda não vi nenhum filme brasileiro de ficção que fosse realmente bom. Em compensação, os documentários estão cada vez melhores. A bola da vez é o ótimo "Uma Noite em 67", sobre a final do Festival da Música Popular Brasileira (mais conhecido hoje em dia como Festival da Record) daquele ano. Os diretores Renato Terra e Ricardo Calil se concentram nas cinco primeiras colocadas: "Maria, Carnaval e Cinzas", com Roberto Carlos; "Alegria, Alegria", com Caetano Veloso; "Roda Viva", com Chico Buarque e o MPB4; e a grande vencedora, "Ponteio" com Edu Lobo e Marília Medalha. Como exceção da primeira, talvez o único samba gravado por Roberto em toda sua carreira, todas as outras se tornaram grandes clássicos da MPB e tocam por aí até hoje. O filme lhes faz justiça mostrando todas na íntegra, além do grande escândalo do ano: a vaia a Sérgio Ricardo, que fez com que ele quebrasse o violão e o atirasse na plateia (hoje seria preso e processado). A vaia, aliás, foi merecida, pois "Beto Bom de Bola" é simplesmente horrorosa. Saímos do cinema assombrados: como foi que canções tão elaboradas, tão sofisticadas, caíam tão fundo no gosto popular e provocavam verdadeiros tumultos entre os fãs presentes ao teatro naquela noite? E feitas por uma gente tão novinha: Chico tinha 23, Caetano um ano a mais. Eram realmente outros tempos. Aquela foi talvez a última geração da elite brasileira (nem todos "tinham berço", mas todos eram cultos e educados) que se interessou a sério por música. O resultado é que só agora seu domínio está arrefecendo, sem que outra geração do mesmo quilate tenha aparecido. Por quê, hein? Uma das minhas teorias é que o Plano Real favoreceu o take over da cultura brasileira pelas classes C e D. Claro que a música brega (hoje chamada de "romântica") sempre existiu, mas era relegada a um gueto, ao quarto das empregadas. Sertanejo, então, era o supra-sumo do ruim (e eu acho que ainda é...). O Brasil melhorou (um pouco) a distribuição de renda, mas a educação foi ladeira abaixo. E os um, dois, cem de 67 hoje parecem tão poucos.
WALK ACROSS AMERICA
A técnica é manjada. O tom de patriotada irrita um pouco. Para completar, é um comercial da Levi's. Mas sabe que eu até me emocionei com essa caminhada de Nova York até San Francisco, passando por tudo pelo caminho? O mapa da viagem pode ser visto aqui. Queria que fizessem algo parecido no Brasil.
sexta-feira, 30 de julho de 2010
ESQUERDA, VOLVER
Quer saber? Sou bem capaz de votar num partido de extrema esquerda no primeiro turno das eleições presidenciais. Deus nos livre e guarde de que alguma dessas siglas algum dia chegue ao poder: não há um único caso de "socialismo real" bem sucedido em todo o planeta. Mas os candidatos Plínio de Arruda Sampaio, do PSOL, e Zé Maria, do PSTU, tiveram a coragem que nem Serra nem Dilma nem Marina tiveram: declararam-se plenamente a favor do casamento igualitário, com todas as letras e todos os direitos garantidos. Nem tudo é perfeito - Zé Maria ainda fala em respeito à "opção sexual" de cada um. Tenho vontade de discutir a "opção racial" cada vez que ouço alguém dizer essa bobagem. Mas pelo menos os dois não têm papas na língua, talvez porque não tenham a mais remota chance de passar para o segundo turno (e aí eu talvez não votasse em nenhum deles). Vou pensar no assunto.
Em tempo: já está no ar o 2o. "popcast" com Marcos Carioca e eu. Ouça ou baixe aqui, no MixBrasil. Dessa vez tentamos pegar mais leve e começamos discutindo a festa com sexo explícito que rolou na Flexx semana passada. Tentamos, não conseguimos...
Em tempo: já está no ar o 2o. "popcast" com Marcos Carioca e eu. Ouça ou baixe aqui, no MixBrasil. Dessa vez tentamos pegar mais leve e começamos discutindo a festa com sexo explícito que rolou na Flexx semana passada. Tentamos, não conseguimos...
AS SETE RAZÕES
O vídeo acima é de 2007, mas eu só o conheci ontem graças a uma dica do Diego Rebouças. É um resumão de todos os argumentos que os homofóbicos e os defensores da desigualdade usam para negar os direitos dos homossexuais. Irônico, direto ao ponto e demolidor. Fora que o apresentador é um gatcheeenho... Lá vai uma tradução livre para quem matou as aulinhas de inglês:
Existem várias razões pelas quais a homossexualidade deveria ser proibida.
A primeira é que a homossexualidade é completamente anti-natural.
Assim como os óculos, o poliéster e os métodos anticoncepcionais são anti-naturais.
A segunda é que o casamento homossexual não é apoiado pela religião. E numa teocracia como a nossa, os valores de uma religião são sempre impostos ao país inteiro. É por isto que temos apenas uma única religião aqui nos Estados Unidos.
A terceira é que os casamentos homossexuais são inválidos porque não geram filhos. É por isto que casais estéreis ou de idosos não podem se casar legalmente, porquer o mundo precisa de mais crianças.
Quatro: o casamento gay vai encorajar mais gente a ser gay, do mesmo jeito que andar com gente alta faz com que você fique alto também. As evidências científicas provam que se trata de uma doença contagiosa.
Cinco: se permitirmos que os casais gays adotem, então eles
obviamente vão educar seus filhos para serem gays também, já que casais héteros só têm filhos héteros.
Seis: os casamentos homossexuais são simplesmente estranhos. Assim como os casamentos interraciais e a aveia instantânea, que também deveriam ser proibidos.
Sete: com relação à adoção por casais gays, as crianças jamais podem se dar bem sem ter um modelo masculina e outro feminino em casa. É por isto que pais solteiros são proibidos de educar seus filhos.
A maioria dos americanos acha que a homossexualidade deveria ser ilegal. E o que é popular é SEMPRE o certo.
Lembre-se: vivemos num país livre. Temos o direito de comer o que quisermos, de saltar por aí feito idiotas e de usar camisas havaianas ridículas em público. Também temos o direito de impedir duas pessoas que se amam de se casarem.
Portanto, vote pela justiça. Porque os gays não merecem as liberdades básicas. Obrigado.
ENTREVISTA COM A APÓSTATA
Tive uma fase braba de Anne Rice assim que me casei, assim como tive uma fase de Agatha Christie no começo da adolescência. Lia um livro dela atrás do outro: "Entrevista com o Vampiro", "O Vampiro Lestat", A Rainha dos Condenados"... Aos poucos eles foram ficando mais longos e mais chatos, e a fase foi superada. Há alguns anos lhe dei uma nova chance. Ela havia abandonado a literatura de terror, voltado para sua Nova Orleans natal e retomado "di cum força" a fé católica. Encarei "Cristo Senhor: a Saída do Egito", o primeiro volume de uma série romanceada sobre a vida de Jesus. Chatíssimo, benzadeus. Risquei Anne Rice do meu caderninho. Mas agora vou por de volta. Anteontem ela simplesmente repudiou o cristianismo - via sua página no Facebook, nada menos - por causa das injustiças cometidas pelos auto-proclamados "cristões" (sim, assim mesmo, à la Cleycianne). O mais interessante é que ela não repudia Jesus Cristo, muito pelo contrário:
Para aqueles que se importam, e eu entendo quem não o fizer: hoje eu deixei de ser cristã. Estou fora. Eu continuo dedicada a Cristo como sempre mas não mais a ser “cristã” ou a ser parte do Cristianismo. É simplesmente impossível para mim “pertencer” a este grupo briguento, hostil, conflituoso e merecidamente infame. Eu tentei durante dez anos. Eu falhei. Sou uma 'outsider'. Minha consciência não permite nada além disto.
Anne tem um filho gay, o também escritor Christopher Rice. Veja o que ela diz em outra mensagem:
Como disse antes, deixei de ser cristã. Estou fora. Em nome de Cristo, eu me recuso a ser anti-gay. Eu me recuso a ser anti-feminista. Eu me recuso a ser contra os métodos anticoncepcionais artificiais. Eu me recuso a ser anti-Democrata. Eu me recuso a ser contra o humanismo secular. Eu me recuso a ser contra a ciência. Eu me recuso a ser contra a vida. Em nome de Cristo, eu deixo o Cristianismo e deixo de ser cristã. Amém.
Falou e disse.
Para aqueles que se importam, e eu entendo quem não o fizer: hoje eu deixei de ser cristã. Estou fora. Eu continuo dedicada a Cristo como sempre mas não mais a ser “cristã” ou a ser parte do Cristianismo. É simplesmente impossível para mim “pertencer” a este grupo briguento, hostil, conflituoso e merecidamente infame. Eu tentei durante dez anos. Eu falhei. Sou uma 'outsider'. Minha consciência não permite nada além disto.
Anne tem um filho gay, o também escritor Christopher Rice. Veja o que ela diz em outra mensagem:
Como disse antes, deixei de ser cristã. Estou fora. Em nome de Cristo, eu me recuso a ser anti-gay. Eu me recuso a ser anti-feminista. Eu me recuso a ser contra os métodos anticoncepcionais artificiais. Eu me recuso a ser anti-Democrata. Eu me recuso a ser contra o humanismo secular. Eu me recuso a ser contra a ciência. Eu me recuso a ser contra a vida. Em nome de Cristo, eu deixo o Cristianismo e deixo de ser cristã. Amém.
Falou e disse.
quinta-feira, 29 de julho de 2010
DOSE DUPLA
A Holanda só não é mais bacana porque não cabe, o país é pequeno demais. Saca só o anúncio da agência BSUR ("be as you are") para uma promoção da rádio 538, de música eletrônica. O prêmio é uma viagem a Ibiza para duas pessoas...
(chupei esse anúncio do blog do Marcello Queiroz, diretor de redação do jornal Propmark - o antigo Propaganda & Marketing - e baladeiro profissional)
(chupei esse anúncio do blog do Marcello Queiroz, diretor de redação do jornal Propmark - o antigo Propaganda & Marketing - e baladeiro profissional)
A MARINA AUSTRALIANA
O que mais me dói quando vejo a Marina Silva é pensar como que uma mulher de origem humilde, meio negra e meio índia, ligada à causa ecológica e cristã praticante, pode ser a favor da desigualdade. O pior é que ela não é um caso único: do outro lado do mundo, na Austrália, também há uma política de origem minoritária que é contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Penny Wong é Ministra para a Mudança Climática (olha só que chique), filha de imigrantes chineses e - pasme - lésbica assumida. Nada disso a impediu de se alinhar com a posição de seu partido, o Trabalhista (pasme de novo: de esquerda), que é hostil à reforma das leis matrimoniais. "Quanto ao casamento, existe uma visão cultural, histórica e religiosa que nós precisamos respeitar". Pois é, sua cachorra: você se esquece que a cultura, a história e a religião mudam o tempo todo. Caso contrário, uma mulher não poderia fazer parte do governo. Muito menos uma descendente de orientais (até os anos 70, a Austrália só aceitava imigrantes europeus). E menos ainda uma sapata. O que eu posso desejar para uma traidora desse porte? A morte mais dolorida possível, atropelada pelo trem-bala da história.
MALAYSIA'S NEXT TOP IMAM
Existem reality shows sobre tudo o que é assunto: viagens, culinária, alta costura, drag queens. Até que demorou para aparecer um de cunho religioso. O grande sucesso na Malásia neste momento é "Imam Muda" ("Jovem Líder"), que vai escolher o mais promissor imam (espécie de sacerdote muçulmano) do país. A finalíssima acontece nesta semana, quando sobraram apenas dois candidatos dos dez originais (e dos milhares que se inscreveram). As provas são de tombar a Tyra Banks de inveja: os rapazes tiveram que matar animais seguindo os preceitos do halal (cortar a garganta, deixar o sangue escorrer todinho) e preparar cadáveres para serem enterrados - cadáveres de indigentes, mas de verdade. E os prêmios são de dar água na boca: dinheiro, um carro zero, uma bolsa de estudos na Arábia Saudita e uma peregrinação a Meca com todas as despesas pagas. Fora a fama de popstar, é claro: os finalistas vêm recebendo de pedidos de autógrafos a propostas de casamento. Confira aqui a página dos fãs do programa no Facebook e aqui o canal do YouTube onde podem ser vistos episódios completos. E como seria a versão católica desse reality? Os seminaristas teriam que molestar sexualmente os coroinhas sem chamar muita atenção, que tal?
quarta-feira, 28 de julho de 2010
QUARTA SEM LEI
Qualquer investigador de polícia sabe que criminosos de primeira viagem, quando vão presos, tendem a confessar tudo. O medo e o remorso fazem com que a verdade saia aos borbotões. Depois, aconselhados por advogados, esses novatos costumam mudar seus depoimentos e dizer que foram pressionados ou até torturados para admitir suas culpas inexistentes. É o que está acontecendo no caso do goleiro Bruno: o tal do menor, o grande dedo-duro do assassinato de Eliza Samudio, agora voltou atrás. Vai colar? Acho que não. A opinião pública está em peso contra o goleiro e seus comparsas, coisa de que o bobo alegre do Bruno ainda não se tocou (ele fala até em “processar o Estado”, como se fosse vítima de um crime de lesa-majestade). Já estão todos condenados.
A revista “São Paulo”, que circula aos domingos junto com a “Folha”, traz uma chamada contraditória na capa de sua última edição: “Como funciona o Paulistano, o clube mais exclusivo da cidade e que deve ter Ronaldo como sócio”. Aham, clube exclusivo de verdade não revela seu funcionamento, nem deixa fotógrafo entrar. Ia dizer “nem aceita Ronaldo como sócio”, mas vou ser mal interpretado. Deixa pra lá.
O Finlandia é uma dupla ecumênica, formada pelo argentino Mauricio Candussi e o brasileiro Raphael Evangelista. Está numa longuíssima turnê pela América do Sul e vai passar por várias cidades meio fora de mão. A base do som dos caras é o folclore latino, mas eles acrescentam elementos do tango, da música eletrônica e até da bossa nova. É um instrumental sofisticado, que não combina muito com as cervejarias e casas noturnas onde os shows costumam acontecer. Confira datas e locais no site da banda. Aproveite para baixar, de graça e dentro da lei, o excelente disco “Nandhara”. Gracias, muchachos.
A revista “São Paulo”, que circula aos domingos junto com a “Folha”, traz uma chamada contraditória na capa de sua última edição: “Como funciona o Paulistano, o clube mais exclusivo da cidade e que deve ter Ronaldo como sócio”. Aham, clube exclusivo de verdade não revela seu funcionamento, nem deixa fotógrafo entrar. Ia dizer “nem aceita Ronaldo como sócio”, mas vou ser mal interpretado. Deixa pra lá.
O Finlandia é uma dupla ecumênica, formada pelo argentino Mauricio Candussi e o brasileiro Raphael Evangelista. Está numa longuíssima turnê pela América do Sul e vai passar por várias cidades meio fora de mão. A base do som dos caras é o folclore latino, mas eles acrescentam elementos do tango, da música eletrônica e até da bossa nova. É um instrumental sofisticado, que não combina muito com as cervejarias e casas noturnas onde os shows costumam acontecer. Confira datas e locais no site da banda. Aproveite para baixar, de graça e dentro da lei, o excelente disco “Nandhara”. Gracias, muchachos.
PROGRAMA DE GAROTOS
Não tem jornalístico mais fofo na televisão brasileira do que o “Profissão Repórter”. O veterano Caco Barcellos comanda uma equipe ultra-jovem, com sobrenomes incomuns e carinhas de recém-saídos da faculdade. A garotada se atira às reportagens com o entusiasmo e a ingenuidade de quem ainda está fazendo o TCC. O programa de ontem foi bem ilustrativo: o tema era caliente, garotos de programa. Um universo sombrio e cercado de tabus, o que não impediu a turminha de ir a campo como se fossem bandeirantes vendendo caixas de biscoito. Dava vontade de por no colo o jornalista lindinho, chateado porque o casal que contratou um michê não o deixou acompanhá-los ao quarto do motel com câmera e tudo. Em compensação, uma sauna modesta em Curitiba foi invadida por dois intrépidos diletantes, com autorização do proprietário mas sem aviso prévio aos frequentadores. Já pensou? Você lá de toalha na cintura e tentando engatar um xaveco, e de repente entra a rede Globo filmando tudo? “Pô, ninguém quer dar entrevista”.
Calma, sempre se encontra algum exibicionista sem noção do perigo. Como o coitado sem casa, sem família e sem clientes, talvez o prostituto mais feio de São Paulo. Ou o escort carioca que atendeu a reportagem com tanta desenvoltura que acabou transformando metade do programa num infomercial de si mesmo. O desembaraço era tamanho que o aprendiz de jornalista chegou a desconfiar: “acho que o cara tá armando, disse que ganhou 600 reais por uma noite mas só mostrou 400…” Peraí, 400 reais?? Só se fosse o Lukas Ridgeston. O espertalhão estava tentando valorizar seu passe, e sua freguesa – que não mostrava o rosto, só as unhas pintadas de verde – não cansava de dizer como ele era carinhoso, “muito mais que o meu namorado”. Só faltou aparecer um telefone de contato na tela. Mesmo com tantos tropeços, o “Profissão Repórter” é bacana. Além de ser simpatizante à causa gay, ainda traz aquele frescor de quem está vendo o mar pela primeira vez e precisa contar como é para o pessoal que ficou em casa. Aproveitem, meninos: a juventude passa rápido.
terça-feira, 27 de julho de 2010
ESCRITO NAS ESTRELAS
E aí, tá sentindo os efeitos da tal da quadratura barra-pesada que ocupa os céus neste momento? Segundo os astrólogos, a coisa fica preta até dia 7 de agosto. Dizem que este raro alinhamento marca o fim de uma era e o começo de outra, e citam datas em que ele ocorreu: 1762, 1845, 1927. Todos anos marcados por guerras, cataclismas e yadda yadda yadda: qual ano que não foi? Embromation à parte, o fato é que sim, estou sentindo os efeitos. Uma semana marcada pela perda de entes queridos foi coroada por um roubo. Oscar e eu fomos almoçar com a família dele no Gargalo, um restaurante no centro do Rio. Quando saímos, cadê o carro? E olha que era um modelo antigo, nada chamativo - depois descobrimos que as peças são as favoritas dos taxistas cariocas. Para completar, minha mala de mão estava no porta-malas. Foram-se documentos, chaves, óculos, livros, gadgets. Como faço toda vez que sou roubado, estou substituindo tudo por coisas ainda mais lindas e mais caras. Vão-se os anéis e eu compro outros melhores. Afinal, posso comprar, enquanto que o filho da puta do ladrão precisa roubar. Mas também não vejo a hora dessa quadratura maligna evanescer. Outra semaninha dessas eu não aguento.
segunda-feira, 26 de julho de 2010
SKY HIGH
A cantora americana Sky Ferreira tem um nome improvável e um excelente tino para os negócios. Ela queria um hit e foi bater na porta certa: a dos produtores suecos Bloodshy & Avant, que ganharam um Grammy pelo "Toxic" da Britney Spears, já produziram faixas para Madonna e Kylie e são dois terços da excelente banda Miike Snow. O resultado é "One", cheia de tecladinhos e vocaizinhos. Justo o que eu precisava hoje.
ENSABOA, MULATA, ENSABOA
E por falar em Mr. Burns, o Serra soltou uma pérola na "Folha" semana passada que justifica toda a fama de em-cima-do-muro dos tucanos. Tudo bem que ele queira capitalizar em cima do repúdio do bispo de Guarulhos a Dilma por causa do apoio desta à descriminalização aborto - apoio, aliás, que ela agora renega de pés juntos. E tudo bem que também queira manter a vantagem que tem entre os evangélicos, que são aproximadamente um quarto do eleitorado brasileiro. Mas, quando perguntado se pretendia legalizar as uniões homoafetivas, precisava ter dado uma resposta tão ensaboada? "É um assunto que Estado não entra, é problema das pessoas. Cada crença tem a sua orientação. Se uma igreja não quer casar, mesmo reconhecendo união civil, a igreja não pode ser obrigada a isso. Se duas pessoas querem viver juntas, ter herança, é problema delas, não é do Estado." Como assim, não é problema do Estado? Ele está certíssimo em separar o casamento civil do religioso, mas o Estado tem tudíssimo a ver com isto, sim senhor. Nessas de não querer melindrar os "bíblia", Serra meio que conseguiu melindrar todo mundo. Pelo menos a Dilma já disse que é a favor da união civil. Mas pelo jeito nenhum candidato brasileiro vai ser macho como a Cristina Kirchner e defender o casamento igualitário, com todas as suas sílabas.
(Fausto, valeu ela dica. Deixei escapar essa materia no dia em que saiu, mas você me salvou. Aprendi que o preço da igualdade é a eterna vigilância.)
(Fausto, valeu ela dica. Deixei escapar essa materia no dia em que saiu, mas você me salvou. Aprendi que o preço da igualdade é a eterna vigilância.)
ANIMADÉRRIMOS
A "Out" é a revista gay não-pornô de maior circulação dos Estados Unidos e, provavelmente, do mundo. Eles adoram fazer listas. Algumas são realmente importantes, como os "100 Gays Mais Inlfuentes" ou os "100 Maiores Inimigos da Causa Igualitária". Outras são bobagens puro-sangue, como a recém-lançada "Os Personagens Mais Gays dos Desenhos Animados". Em primeiríssimo lugar está o Smithers, o assumido assistente do Mr. Burns dos "Simpsons" e colecionador ferrenho das bonecas Malibu Stacey. Mais abaixo vêm o bebê Stewie de "Family Guy", um dos Smurfs (um só?), uma das Tartarugas Ninjas (uma só?) e o meu favorito: o Leão da Montanha, o rei do applomb e do savoir-vivre. As meninas estão pobremente representadas, apenas por Carmen San Diego. E eu ainda senti falta do Tinky Winky e sua bolsinha, se bem que "Teletubbies" não é desenho animado. Quem mais? Hmmm... O pioneiro casal gaulês Asterix e Obelix? O threesome belga Tintin, Capitão Haddock e Professor Girassol? A Mônica?
(obrigado pela dica, Diego Rebouças. Você nunca me enganou.)
(obrigado pela dica, Diego Rebouças. Você nunca me enganou.)
domingo, 25 de julho de 2010
ROMBO
Antes de abrir a boquinha para falar merda sobre o Brasil, Sylvester Stallone deveria saldar sua dívida com a O2. A produtora de Fernando Meirelles é uma das maiores do Brasil e costuma fazer production services para longas e comerciais estrangeiros rodados por aqui, fornecendo toda a infra-estrutura necessária. Stallone filmou com a O2 em abril de 2009 e até junho passado ainda não tinha honrado seus compromissos com ela. E nem agradeceu pelo macaco que ganhou de presente... Paga aê, seu caloteiro!
EMBORAMENTE CINEMÍSTICO
"O Bem Amado" foi a primeira novela a cores da televisão brasileira, em 1973. Eu ia vê-la na casa de um vizinho, e nos deliciávamos com os figurinos pós-tropicalistas: saia verde, blusa laranja, casaco roxo... Ficou quase um ano no ar e depois ainda virou seriado. Marcou tanto a carreira de Paulo Gracindo que até um documentário recente sobre o ator o chamava de bem-amado no título. Parecia que um jamais se descolaria do outro. Até que há dois Guel Arraes veio com uma nova montagem da peça original de Dias Gomes, com Marco Nanini no papel-título. Assisti na época e gostei muito: espertamente, Nanini nem tentava imitar Gracindo e fazia uma coisa totalmente diferente. Seu Odorico Paraguaçu é mais balofo, menos viril, mais gorduroso - mas igualmente corrupto e amoral. A peça fez muito sucesso mas teve sua carreira interrompida pelo incêndio do teatro Cultura Artística, em São Paulo, que destruiu cenários e figurinos. Guel então partiu para o cinema. Atualizou o roteiro, manteve Nanini e recheou de globais os outros papéis. O resultado estreou ontem em todo o Brasil, e, pelo menos aqui no Rio, está com salas cheias. Mas é um filme bom? É médio. O roteiro tem achados divertidos, como o ataque de um tubarão, mas peca ao situar a ação no começo dos anos 60 e fazer uma relação direta entre os acontecimentos de Sucupira e o golpe militar de 64. Termina louvando a redemocratização (e aqui Guel não resiste à vaidade de mostrar seu pai, o falecido governador de Pernambuco Miguel Arraes), como se políticos imundos como Odorico fossem coisa do passado. A direção também é pouco criativa, além do mais quando lembramos que é de um cara que revolucionou a linguagem da TV. Mas o elenco todo está bem, e meu destaque vai para José Wilker. Ele também se recusa a replicar o template estabelecido por Lima Duarte e faz um Zeca Diabo soturno, atormentado, muito mais apavorante que o da TV. O filme tirou da novela o galardão de versão definitiva da obra de Dias Gomes, sem tomar o seu lugar. Mas isto até que é bom: "O Bem Amado" está em vias de se tornar um clássico shakesperiano da cultura brasileira, que permitirá diferentes interpretações ao longo dos anos.
sábado, 24 de julho de 2010
TAKE A BOW
E aqui está tudo o que você queria saber sobre o "shazai", a milenar arte japonesa de se inclinar para a frente como um pedido de desculpas. As nuances são quase infinitas e variam de acordo com a ofensa cometida, que vão desde um esbarrão no metrô até a ultra-corriqueira "ser pego em flagrante numa orgia do mal".
NEM DE BRINCADEIRA
Eu estava a fim de um filme bobo, desses que não fazem a gente pensar. "Encontro Explosivo" parecia perfeito, a começar pelo título genérico. Que, para minha surpresa, faz até mais sentido que o trocadilho do original, "Knight and Day". A pouca ambição da obra é comovente. Tem Tom Cruise fazendo o papel de Tom Cruise, com a pele e o corpo perfeitos demais para um cara de 48 anos. O sorriso, o corte de cabelo e até os óculos escuros que ele usa em cena são vintage, iguaizinhos aos que ele usava nos anos 80. Cameron Diaz não tem uma imagem tão cristalizada, mas também faz o papel de sempre: a moça simpática meio assustada e meio durona, perfeita para se namorar. O roteiro peca por não ser mais absurdo. É tudo tão exagerado que faz falta a ironia e o humor dos James Bond pré-Daniel Craig (que estragou a série com sua sisudez e sua falta de modos à mesa) ou mesmo das versões para o cinema das "Panteras", bobagens deliciosas estreladas pela mesma Cameron. "Encontro Explosivo" não passa de um sub-"Missão Impossível", com reviravoltas tão espetaculares que simplesmente não dá para se importar com qualquer personagem. Nem como passatempo descerebrado o filme funciona.
sexta-feira, 23 de julho de 2010
PAPAGAIADA
Já está no site do Mix Brasil o primeiro podcast estrelado por Marcos Carioca e yours truly. A qualidade do som é sofrível, pois gravamos no histórico computador a lenha do Marcos. A qualidade do conteúdo também: desembestamos a falar feito dois papagaios cheirados. O assunto predominante foi a aprovação do casamento igualitário na Argentina, claro. Quem tiver 40 minutos para jogar fora e baixo nível de exigência pode clicar aqui. Coragem: semana que vem tem mais.
ANDAR SEM FÉ EU VOU
O som do Faithless não variou muito ao longo de 15 anos. Eles não têm exatamente uma fórmula mas uma dinâmica própria, facilmente reconhecível. Podem estar mais calminhos, como no disco anterior, "To All New Arrivals", ou mais agitados, como o nome do novo CD já entrega - "The Dance". Podem até variar os vocalistas convidados, mas o Faithless é sempre o mesmo. E isto a crítica não perdoa. Fica naquela histeria adolescente de exigir novidades que "condigam com o momento", já que o trance dramático do grupo marcou uma época em que as balas batiam mais forte. Tudo isto é baboseira. O Faithless continua sendo uma das melhores bandas dance de todos os tempos. "Banda", é claro, é um conceito elástico. Rollo, o líder, não toca nada. Só produz, e nunca aparece nem em shows nem nas fotos. Sua irmã, a cantora Dido, uma das rainhas da Alfa FM, não é membro oficial, mas sempre dá uma palhinha. O grosso do trabalho fica com o cantor Maxi Jazz e a multi-tudo Sister Bliss, que além de tocar absolutamente todos os intrumentos ainda é uma das melhores DJs do planeta. Dá para baixar um preview com quase 10 minutos de todas as faixas de "The Dance" aqui. "Sun to Me", o primeiro single, está aqui na versão original e aqui remixado por Alex Morph . Tudo 'de grátis' e dentro da lei. Experimente, e vá atrás do disco: é inteirinho bom. Vou continuar fiel ao Faithless por muito tempo.
MISS SIMPATIZANTE
Lembra da Carrie Prejean? Aquela idiotinha que perdeu o título de Miss América ano passado porque se disse contra o casamento gay? Uma loura burra no sentido clássico: como é que alguém se declara contra as bibas em pleno concurso de miss, cercada de cabeleireiros, maquiadores e personal stylists por todos os lados? A anta ainda tentou capitalizar em cima da derrota se posicionando como a paladina da moral de dos bons costumes. Mas, como sói acontecer, logo surgiram vídeos dela se masturbando - nada de mais para pessoas de bom senso, mas uma condenação no meio reacionário em que ela tentava se inserir. E nada como um dia após o outro. Este ano a candidata de Nova York, Claire Buffie, está concorrendo à faixa com uma plataforma pró-igualdade. Pois é, plataforma: lá para ser miss não basta ser bonita, tem que ter algum talento e ser articulada. É praticamente uma campanha política. E não, o discurso da moça não é jogada de marketing. Claire diz que tem uma irmã lésbica e zilhões de amigos homossexuais. Já estou torcendo por ela, apesar de não me parecer a mais gostosa do mundo. Isto é só um dos primeiros salvos da artilharia que vai pegar os homofóbicos de surpresa: o apoio dos parentes e amigos dos gays, que vai ser decisivo para se vencer essa guerra. Hahaha, não contavam com a nossa astúcia.
Quer ver outro exemplo sensacional de colaboração entre gays e héteros contra as forças da escuridão? O "reverendo" Fred Phelps, notório militante anti-gay, montou uma de suas odiosas manifestações em frente à Comic-Con, a gigantesca feira de cultura pop que está acontecendo em San Diego, na Califórnia. Aquele tipo de passeata em que malucos mal-comidos levantam placas do tipo "Deus odeia as bichas". Péssima escolha de local: os participantes do evento promoveram uma contra-passeata. Só que, ao invés de agredir os imbecis, ridicularizaram-nos ao extremo com placas geniais: "O Super-Homem Morreu pelos Nossos Pecados", "Deus Ama o Robin Gay" e "Alguém Viu Minhas Chaves?". Alguns manifestantes foram a caráter, como se vê na foto ao lado. Assista ao vídeo aqui. Mais um tiro pela culatra dos malvados!
Quer ver outro exemplo sensacional de colaboração entre gays e héteros contra as forças da escuridão? O "reverendo" Fred Phelps, notório militante anti-gay, montou uma de suas odiosas manifestações em frente à Comic-Con, a gigantesca feira de cultura pop que está acontecendo em San Diego, na Califórnia. Aquele tipo de passeata em que malucos mal-comidos levantam placas do tipo "Deus odeia as bichas". Péssima escolha de local: os participantes do evento promoveram uma contra-passeata. Só que, ao invés de agredir os imbecis, ridicularizaram-nos ao extremo com placas geniais: "O Super-Homem Morreu pelos Nossos Pecados", "Deus Ama o Robin Gay" e "Alguém Viu Minhas Chaves?". Alguns manifestantes foram a caráter, como se vê na foto ao lado. Assista ao vídeo aqui. Mais um tiro pela culatra dos malvados!
quinta-feira, 22 de julho de 2010
HIPOCRISTIA
Nenhum país da Europa Ocidental é tão atrasado na igualdade de direitos para os gays quanto a Itália. Por lá não só inexiste sequer a união civil como os tribunais raramente dão qualquer ganho de causa aos homossexuais. Culpa de quem? Da Santa Madre Igreja, que exerce sobre os italianos a mesma influência nefasta que ainda gostaria de exercer sobre o resto da humanidade. Por isto, é mais do que bem feito o golpe aplicado pela revista “Panorama”, uma das mais importantes de lá. Um repórter da revista simplesmente saiu a campo para seduzir padres em salas de bate-papo. Marcou vários encontros, foi a festinhas com garotos de programa e filmou muita coisa. Ficou especialmente surpreso com três sacerdotes que levam uma vida dupla, linda, leve e solta. Um trailer da matéria pode ser lido aqui, em italiano (coragem, é quase tão fácil quanto o espanhol). A revista chega às bancas da Itália amanhã e promete abalar os hipócritas de Cristo.
(Celso Dossi, Deus te abençoe por mais esta dica)
(Celso Dossi, Deus te abençoe por mais esta dica)
É UM PÁSSARO... É UM AVIÃO...
…são dois homens lindos juntos! Um livro que está prestes a ser lançado nos EUA garante que Christopher Reeve, o mais famoso Super-Homem do cinema, teve um caso com Cal Culver, também conhecido como Casey Donovan – o astro de “Boys in the Sand”, o primeiro pornô gay em longa-metragem, rodado no comecinho dos anos 70. Os pombinhos teriam se conhecido em meados daquela década durante os testes para uma peça na Broadway e ficado juntos por uns dois meses. O namoro terminou quando Reeve descobriu a carreira paralela de Cal/Casey. E antes que alguém diga que o Super-Homem nunca enganou ninguém, com aquela malha justa e aquele pega-rapaz que leva 6 horas para ser arrumado: o próprio Culver/Donovan teria dito que Reeve estava mais para “bi-curious”. Será verdade? Nenhum dos dois está mais entre nós e o livro é mais um volume da série sensacionalista “Hollywood Babylon”. Mas, como fantasia sexual, essa história já está em cartaz no cineminha imaginário da minha cabeça.
POR BAIXO DA ABAYA
Sou fascinado pela Arábia Saudita, o país onde tudo é proibido e quem fizer qualquer coisa será preso e decapitado em praça pública. Por isto, caí de boca em "Sex and the Saudis", uma matéria escrita pela jornalista Maureen Dowd para o número atual da revista "Vanity Fair" (que tem Angelina Jolie na capa). Maureen é a colunista mais liberal ("de esquerda" em americanês) do "New York Times" e uma das minhas 'ídalas' na imprensa americana (a outra 'ídala' é Dan Savage, que assina a coluna "Savage Love", de conselhos eróticos, no "Village Voice"). Esta foi a terceira vez de ms. Dowd no "Reino" (para os íntimos), mas a primeira a passeio. Uma mulher de férias na Arábia Saudita é uma contradição em termos, e é isto que torna a reportagem tão engraçada. As restrições são tantas e tão absurdas que geram aberrações como o "burquíni" - sim, isto mesmo, a burca para se ir à praia. O site da revista traz uma seleção de fotos da viagem, mas quem quiser ler o relato completo vai ter que passar na banca. Recomendo especialmente aos defensores dos pesados véus islâmicos, que animaram um debate aqui no blog semana passada.
quarta-feira, 21 de julho de 2010
EM PROL DA COLETIVIDADE
Um cardume de peixes. Uma alcateia de lobos. Uma vara de porcos. Os substantivos coletivos são uma espécie de parque temático da língua portuguesa (e de outras também), diversão garantida. Nos anos 80 cheguei a ouvir no Rio o que seria o coletivo de mocreias: uma somba. "Fui à boate mas saí logo, porque tinha uma somba..." Hoje o site americano Gawker pediu sugestões aos leitores: qual seria um bom coletivo de gays? Teve gente que não embarcou na piada. "Você não criaria um coletivo para um grupo de negros". Alguns separaram as moças dos rapazes, outros misturaram. E algumas das palavras propostas até que fazem sentido. Um glitter. Um gaga. Uma festa! Claro... Quem tem ideia melhor?
DEUS TÁ VENDO
Como seriam algumas passagens da Bíblia vistas pelo Google Earth? A resposta para esta questão torturante consumiu três meses de trabalho do artista australiano James Dive. Ele misturou fotos de satélite de vários lugares, não necessariamente os indicados pelas escrituras - alguém aí sabe onde a localização do Jardim do Éden? As árvores que Dive usou para reconstruí-lo ficam na Bélgica... E ele ainda acrescenta um toque blasfemo ao trabalho, ao dizer que este seria o ponto de vista de Deus.Onde estão Adão e Eva? O artista garante que os incluiu nesta visão do Paraíso.A arca de Noé encalhada no pico do monte Ararat, esperando o dilúvio baixar.Os hebreus cruzando a pé o Mar Vermelho. Era mais emocionante no cinema.Jesus crucificado, ao lado dos dois ladrões. Mas com tão pouca gente em volta? Sempre imaginei uma zona ao redor das cruzes: apóstolos, soldados, curiosos, crianças, cães, vendedores de salgadinhos kosher...
AGORA SHREGA
É difícil ter boa vontade com uma franquia cinematográfica que chega ao quarto episódio. A primeira continuação já costuma ser forçação de barra; a terceira, então, é espremer o bagaço até que não saia mais nada. Mas os produtores de "Shrek 4" fizeram milagre e o filme não é ruim como andam dizendo por aí. Claro, não há mais novidade. Mas a marca registrada da série - as referências incessantes à cultura pop - continuam firmes, fortes e engraçadas como sempre. A trama é uma espécie de "Shrek Reloaded": o que teria acontecido no reino de Tão, Tão Distante se o ogro nunca tivesse nascido? Sim, é um sinal inequívoco de esgotamento quando a TV ou o cinema recorrem ao manjado recurso do universo paralelo, o maravilhoso mundo do "e se...?" Mas aqui a trama cai bem, pois vai ao encontro da crise de meia idade do monstrengo. Casado, acomodado, cheio de filhos, Shrek sente falta da liberdade de sua vida anterior (é bom lembrar que ele vivia perfeitamente feliz e ajustado no começo do primeiro filme). Muitas peripécias depois, chegamos a um final totalmente conformista, que só reafirma as delícias de uma vidinha medíocre - a mesma vida de quase todos os pais da plateia, por isto é bom não incomodá-los muito. Mesmo assim, "Shrek Para Sempre" dá conta do recado e é um final digno para a série de animação que rachou o predomínio da Disney no gênero. Mas agora chega.
terça-feira, 20 de julho de 2010
SAIA JUSTA
I'M ON A HORSE
Isaiah Mustafa é o primeiro negro americano a fazer sucesso exclusivamente como símbolo sexual. Claro, existem outros bonitões afro-descendentes - Denzel Washington, Lenny Kravitz , até mesmo O.J. Simpson - mas todos se firmaram em áreas como cinema, música ou esporte antes de serem considerados uns tesões. Mustafa é o negro-objeto pioneiro. E isto, apesar das conotação negativa, é muito bom. Signfica que, em plena era Obama, a sociedade dos EUA está perdendo o medo racial e que um negão já pode ser apontado como o modelo a ser seguido. A bem da verdade, ele é mais do que um rostinho bonito (e um corparalhaço). Sua interpetação irônica foi fundamental para o enorme sucesso da nova campanha do sabonete líquido Old Spice. Aí em cima está o primeiro comercial, que ganhou nada menos que o Grand Prix no festival de propaganda de Cannes em junho passado. Muitos outros se seguiram, inclusive mini-respostas aos fãs que o seguem no Twitter e que só podem ser vistas no canal Old Spice do YouTube. Nem acho a ideia mais genial do mundo, mas gosto do approach de se falar com a mulher para se vender um produto para o homem. Os textos, para quem entender inglês, são tão bons que mais parecem sitcom do que propaganda. E Isaiah Mustafa é tão delicioso que até mesmo a Ellen DeGeneres, lésbica registrada em cartório, se derreteu por ele.
TRANSBRASIL
Hoje a imprensa brasileira despertou para a existência de Lea T., que já foi Leo e já foi Leandro. Tudo por causa de uma matéria publicada da versão francesa da “Vogue”, que logo repercutiu em sites e jornais. Lea é modelo de prova faz tempo – aquela que não desfila nem posa para fotos, mas fornece o corpitcho perfeito para o estilista melhorar o caimento da roupa. Morava em Miami e agora mora em Milão, mas em suas visitas frequentes ao seu Rio de Janeiro natal sempre dá um rolé pela The Week, onde nunca chamou muita atenção. Mas agora passou para a frente das câmeras e aparece na nova campanha da Givenchy. O rebuliço no exterior é considerável, pois ainda não é comum vermos transexuais em fotos de moda. E no Brasil é maior ainda, pois Lea é filha do ex-jogador Toninho Cerezo, astro da seleção brasileira nos anos 80. Que simplesmente a rejeita, recusando-se a falar sobre ela e até mesmo negando sua paternidade. Mesmo sem o apoio da família, Lea foi em frente e está brilhando cada vez mais. Isto é ser macho na verdadeira definição do termo.
(obrigado ao Rafael e ao Emiliano pela sugestão)
(obrigado ao Rafael e ao Emiliano pela sugestão)
segunda-feira, 19 de julho de 2010
QUERO SER DZI CROQUETTE
Jovem gay: ao completar 18 anos, dirija-se ao cinema mais próximo e assista ao documentário "Dzi Croquettes". Isto é uma ordem. O filme é obrigatório para qualquer um que se interesse pela história dos homossexuais no Brasil. De onde viemos, onde estamos, para onde vamos: tudo isto está lá, nas entrelinhas para quem souber ler. Para os mais novinhos, então - aqueles que acham que Dicésar e Serginho são as figuras mais modernas e ultrajantes de todos os tempos - "Dzi Croquettes" vai ser uma revelação.
Para quem ainda não sabe: os Dzi Croquettes foram uma trupe de atores-bailarinos comandada por Wagner Ribeiro e Lennie Dale que causou furor nos anos 70. Um bando de rapazes que se montavam em cena, mas não eram travestis. Barbas, pelos, músculos, tudo isto convivia com toneladas de maquiagem e figurinos absurdos. Fizeram sucesso com seu show em boates do Rio, depois em teatros de São Paulo, depois no Brasil todo e finalmente em Paris. Quando estavam no auge, brigaram e se separaram, feito os Beatles. No comecinho dos anos 90 ainda fizeram um revival-despedida, e o burraldo aqui teve a manha de jamais vê-los no palco. Nem quando eu já era 'di maior'.
O filme é dirigido por Raphael Alvarez e Tatiana Issa, que é filha de um técnico do grupo (ela também fez novelas na Globo e a Ceci no horrível "O Guarani" da Norma Bengell, mas deixa pra lá). Reúne uma preciosidade em material de arquivo, com registros de shows e cenas dos Croquettes na intimidade. E mais um monte de depoimentos de estrelas de grande magnitude, como Liza Minnelli, Marília Pera, Betty Faria e Ney Matogrosso. Aliás, este último não deixa claro o quanto os Croquettes o teriam influenciado. Alguém poderia focar agora nos Secos & Molhados, o trio andrógino que lançou Ney em 73 com uma linguagem visual parecidíssima com a dos Dzi e que fez um sucesso estrondoso no Brasil inteiro. Dá para se imaginar, nos dias de hoje, um homem com voz de mulher rebolando na TV e tocando em todas as rádios AM do país?
Saí do cinema mais mexido do que eu esperava. Por quê é que não temos mais essa pororoca de talento que foram os Dzi Croquettes, onde cada um dos integrantes era um performer excepcional? O apogeu do grupo foi uma espécie de paraíso gay, com todos morando juntos, fazendo sucesso, ganhando dinheiro e se amando entre si. A mensagem deles continua tão revolucionária como sempre foi, mais política do que qualquer drag candidata a vereador. Claro que nem tudo foi purpurina: dos treze originais só restam cinco. Quatro morreram de AIDS, três foram assassinados e só um teve morte natural (aneurisma), mesmo assim jovem demais. Mas estava mais do que na hora deles serem lembrados, voltarem às conversas, voltarem a inspirar. Saí do cinema me sentindo como um fã do grupo diz em seu depoimento: minha vontade era chegar em casa, rasgar minhas roupas e me montar, nem que fosse só por dentro. Porque ser Dzi Croquette é, antes de tudo, uma questão de atitude.
Para quem ainda não sabe: os Dzi Croquettes foram uma trupe de atores-bailarinos comandada por Wagner Ribeiro e Lennie Dale que causou furor nos anos 70. Um bando de rapazes que se montavam em cena, mas não eram travestis. Barbas, pelos, músculos, tudo isto convivia com toneladas de maquiagem e figurinos absurdos. Fizeram sucesso com seu show em boates do Rio, depois em teatros de São Paulo, depois no Brasil todo e finalmente em Paris. Quando estavam no auge, brigaram e se separaram, feito os Beatles. No comecinho dos anos 90 ainda fizeram um revival-despedida, e o burraldo aqui teve a manha de jamais vê-los no palco. Nem quando eu já era 'di maior'.
O filme é dirigido por Raphael Alvarez e Tatiana Issa, que é filha de um técnico do grupo (ela também fez novelas na Globo e a Ceci no horrível "O Guarani" da Norma Bengell, mas deixa pra lá). Reúne uma preciosidade em material de arquivo, com registros de shows e cenas dos Croquettes na intimidade. E mais um monte de depoimentos de estrelas de grande magnitude, como Liza Minnelli, Marília Pera, Betty Faria e Ney Matogrosso. Aliás, este último não deixa claro o quanto os Croquettes o teriam influenciado. Alguém poderia focar agora nos Secos & Molhados, o trio andrógino que lançou Ney em 73 com uma linguagem visual parecidíssima com a dos Dzi e que fez um sucesso estrondoso no Brasil inteiro. Dá para se imaginar, nos dias de hoje, um homem com voz de mulher rebolando na TV e tocando em todas as rádios AM do país?
Saí do cinema mais mexido do que eu esperava. Por quê é que não temos mais essa pororoca de talento que foram os Dzi Croquettes, onde cada um dos integrantes era um performer excepcional? O apogeu do grupo foi uma espécie de paraíso gay, com todos morando juntos, fazendo sucesso, ganhando dinheiro e se amando entre si. A mensagem deles continua tão revolucionária como sempre foi, mais política do que qualquer drag candidata a vereador. Claro que nem tudo foi purpurina: dos treze originais só restam cinco. Quatro morreram de AIDS, três foram assassinados e só um teve morte natural (aneurisma), mesmo assim jovem demais. Mas estava mais do que na hora deles serem lembrados, voltarem às conversas, voltarem a inspirar. Saí do cinema me sentindo como um fã do grupo diz em seu depoimento: minha vontade era chegar em casa, rasgar minhas roupas e me montar, nem que fosse só por dentro. Porque ser Dzi Croquette é, antes de tudo, uma questão de atitude.
QUE FALTA EU SINTO DE UM BEM
Conheço as preferências sexuais de quase todos os meus amigos mais chegados, e eles conhecem as minhas. São comuns as conversas sobre quem faz o quê com quem e aonde. Em compensação, os hábitos das minhas amigas sapatas são um mistério envolvido num segredo embrulhado num enigma. Garotas simplesmente não têm esse tipo de papo com garotos, não importa a orientação sexual dos envolvidos. Por isto, fiquei tão surpreso como quase todos os não-lésbicos ao saber que várias lésbicas curtem pornô gay masculino. Essa bola foi levantada pelo filme "The Kids Are All Right", que tem estreia no Brasil prometida para 20 de agosto. Logo numa das primeiras cenas, o casal formado por Annette Benning e Julianne Moore aparece se aquecendo para um transa assistindo a um vídeo com dois homens. O espanto dos leigos foi geral, e logo surgiram porta-vozes da comunidade bolachal confirmando que sim, isto é mais comum do que se pensa. As razões são muitas: vão desde a aversão às cenas all-girl disponíveis por aí, que são feitas para o público hétero masculino, até a inevitável falta-que-faz-um-caralho. O fenômeno é discutido em mais detalhes aqui, num artigo em inglês do portal "Daily Beast". Êita mundo véio sem porteira, hein? Duas bibas JAMAIS se excitariam com a imagem de duas sapas raspando velcro. Mas a uma bela enrabada, pelo jeito, ninguém resiste.
A HORA DA REAÇÃO
Recebi em três comentários diferentes o link para o artigo de Jefferson Lessa que saiu ontem no site do jornal "O Globo". O Marcos Carioca já fez um post a respeito, e agora chegou a minha vez. A história é estarrecedora: Jefferson, jornalista "no auge da meia-idade" (palavras dele), vem sofrendo ataques homofóbicos de "playboys" no bairro carioca em que vive. Ele não diz o nome do bairro, o que eu acho errado: é importante sabermos onde é, tanto para acabar com a sensação de que essas coisas só acontecem na periferia (pela descrição, imagino que seja na Zona Sul) quanto para alguém ir até lá e pegar esses trogloditas no flagra. O artigo de Jefferson é corajoso, mas é preciso fazer mais. O 'bullying" é o ato mais covarde que existe, e só é feito quando há a certeza da impunidade. Se é praticado por um único indivíduo, é anônimo, como nos milhares de casos que andam pipocando pela internet. Mas geralmente é um ato coletivo, na base do muitos-contra-um. A vítima tem a sensação de que tem algo mesmo de errado com ela e que toda a sociedade está no seu encalço. Eu sofri "bullying" no colégio. Tinha 11, 12 anos de idade, e aguentei calado. Não reclamei, não denunciei, não falei nem com os meus pais. Tinha vergonha, pois era chamado de bicha. Se algum adulto, pai ou professor, tivesse se manifestado, aquela violência teria terminado na hora. Por isto acho que o jornalista fez bem, mas ainda é pouco. Quando digo que "alguém" deveria flagrar os brutamontes, não estou pregando a violência física, apesar desta ser a linguagem que o "bully" mais entende. Mas penso que Jefferson poderia levar um fotógrafo do jornal junto, ou tentar ele mesmo registrar a agressão. Sei que é fácil falar, porque não sou eu quem está sendo ameaçado. Mas é mais do que provável que, se ele for se queixar na delegacia, vai ser ignorado e talvez ainda mais ridicularizado. Os ataques a Jefferson estão sendo feitos a cada um de nós, e não estou me referindo só aos gays. É um ataque a homens, mulheres, crianças, cidadãos, todo mundo. O "bully" não aguenta uma reação. Geralmente foge com o rabo entre as pernas. Tá na hora de reagir.
Em tempo: outro dia esperneei que a grande imprensa dá pouca atenção à luta dos homossexuais por direitos iguais. Reclamei especialmente da "Folha de São Paulo". Pois bem, hoje a "Folha" publicou não só um editorial a favor do "casamento gay" (que nós blogueiros "decretamos" sábado que é um termo equivocado, mas zuzo bem) como também um artigo do diplomata Alexandre Vidal Porto conclamando o presidente Lula a ter a mesma coragem de Cristina Kirchner (estes links só servem para assinantes do UOL, mas quem não for pode ler tudo na íntegra no Bota Dentro, o blog do Gustavo Miranda). Fiquei especialmente feliz pelo jornal não ter dado voz ao "outro lado". Não há imparcialidade possível quando o assunto é a igualdade de direitos.
Em tempo: outro dia esperneei que a grande imprensa dá pouca atenção à luta dos homossexuais por direitos iguais. Reclamei especialmente da "Folha de São Paulo". Pois bem, hoje a "Folha" publicou não só um editorial a favor do "casamento gay" (que nós blogueiros "decretamos" sábado que é um termo equivocado, mas zuzo bem) como também um artigo do diplomata Alexandre Vidal Porto conclamando o presidente Lula a ter a mesma coragem de Cristina Kirchner (estes links só servem para assinantes do UOL, mas quem não for pode ler tudo na íntegra no Bota Dentro, o blog do Gustavo Miranda). Fiquei especialmente feliz pelo jornal não ter dado voz ao "outro lado". Não há imparcialidade possível quando o assunto é a igualdade de direitos.
domingo, 18 de julho de 2010
PROGRAMA DE BICEI
Bicei: bicha de uma certa idade. Em inglês, gaoca: gay of a certain age. Aproveitando a cabeça leve já que não saímos ontem, Oscar e eu fizemos hoje um programa totalmente de acordo com nossa cacurice. Fomos à Casa Cor de São Paulo. Era o último dia do evento, que mais ma vez aconteceu no Jockey Clube. O lugar certo para se encontrar gays não-fervidos, daqueles que ouvem Judy Garland e transam com michês. O problema é que a Casa Cor está cada vez maior, mais comercial e mais cafona. Os grandes nomes da decoração brasileira, como Sig Bergamin e João Armentano, nem se dão mais ao trabalho. Não precisam dessa vitrine caríssima, já têm nome e clientela. É uma pena, porque isto faz com que metade dos espaços seja ocupada por deslumbrados e puxa-sacos. A outra metade, por empresas fazendo merchandising. E daí saem monstruosidades como o Casa Hotel, teoricamente uma boa ideia. Afinal, hotéis design são tendêêência no mundo todo, certo? Mas faltou alguém explicar pra esses jecas que "hotel" é um lugar transitório. Não faz o menor sentido criar suítes "personalizadas" em homenagem a paradigmas da elegância como Gugu Liberato ou Adriane Galisteu. A de Ana Maria Braga tinha até um altar à apresentadora, com vela e tudo. Também fiquei horrorizado com a profusão de colchas prateadas, que dariam vergonha a uma puta. Ah, e qual é a engnhoca da moda? Aquela que aparece em todo e qualquer ambiente? Mesmo nos menos adequados, como a "garagem conceitual" ou o "quarto de costura da filha aleijada". Em outros anos foi o CD player (geralmente tocando Kenny G.), o DVD Player (passando um show da Sade), o laptop e a TV de plasma. Este ano é a máquina de Nespresso. Saí de lá duvidando voltar no ano que vem, quando estarei ainda mais cacura. A Casa Cor é um verdadeiro programa de índio.
UMA GELADEIRA
Como não morrer de vontade de ver um filme com a sinopse de "Almas à Venda"? Paul Giamatti faz o papel de si mesmo. Cansado do peso da própria alma - e que, segundo ele, o está impedindo de encontrar o tom certo para interpretar "Tio Vânia" - o ator resolve extraí-la e estocá-la numa clínica especializada. É, isto mesmo. A crítica americana adorou essa produção indepentente. Chamou de "comédia inteligente com toques existencialistas" e daí para cima. Mas a triste verdade é que há muita pouca comédia. O roteiro se prestaria a milhares de piadas ótimas, quase todas desperdiçadas. E o tom imprimido pela diretora Sophie Barthes é uma de frieza absoluta, totalmente condizente com o título original ("Cold Souls") e reforçado pelas paisagens congeladas da Rússia, para onde a ação se transfere na segunda metade do filme. Talvez eu tivesse gostado muito se não estivesse esperando rir à pampa. É o que dá ir ao cinema com muita expectativa.
sábado, 17 de julho de 2010
HOUVE ASSUNTO
Cheguei ligeiramente atrasado ao 2o. Encontro de Blogueiros Gays - e ligeiramente bêbado. O enterro da minha amiga hoje de manhã foi seguido por um almoço entre várias pessoas que não se viam faz tempo e se encontraram no cemitério. Uma tradição que é comum nos EUA e na Europa: nos reunimos para falar dela, comer, beber, beber e beber. O resultado foi que eu estava especialmente animado no encontro do Studio SP, mas ainda bem que o formato ajudou. Ao invés do "sofá da Hebe" da edição passada, com poucos no palco e muitos na plateia, dessa vez formou-se um círculo de cadeiras. Éramos uns 30 e não havia público, só um ou outro namorado. A discussão logo pegou fogo, puxada pelo meteoro que nos atingiu esta semana: a aprovação do casamento gay na Argentina. O que os blogs podem fazer para ajudar essa aprovação no Brasil? Muita coisa, a começar por não insistir no termo "casamento gay". Isto só serve para dar munição aos inimigos, que veêm com aquela lenga-lenga de que "casamento é sagrado" e "deus isto, deus aquilo" (com minúsculas mesmo, porque esse deus deles não existe). Devemos é copiar os argentinos, que bateram na tecla da IGUALDADE. Essa palavra tão corriqueira abriu um clarão na minha cabeça. Quem há de ser contra a igualdade? Direitos iguais, direitos humanos, um amor não é melhor do que outro. Na Argentina deu certo. Claro que não foi só isto. Foram anos e anos de mobiização, tribunais, campanhas e uma presidente safada que aproveitou a oportunidade de entrar para a história pela porta da frente. Enfim, foram só duas horas de encontro, mas a sensação geral foi de que o saldo foi bem maior que o do primeiro. Pelo menos não ficamos rodando em torno dos nossos umbigos.
HAJA ASSUNTO
Acontece na tarde de hoje o 2o. Econtro dos Blogueiros e Twitteiros Gays, organizado pelo MixBrasil. Vamos discutir o papel dos blogs num ano eleitoral e, novamente, as oportunidades de negócios e a viabilidade de um blog ou site gay. Temos muito assunto represado, e espero que não fiquemos num só como da outra vez. Vai ser no Studio Augusta, 591, das 16 às 18. Nos vemos daqui a pouco.
sexta-feira, 16 de julho de 2010
A MELHOR MARCA QUE SE PODE DEIXAR
Conheci o irmão dela no pré-primário e de cara ficamos muito amigos. Essa amizade puxou as outras: primeiro entre as mães, que se encontravam na porta do colégio e nas festinhas. Depois entre os pais, pois frequentávmos todos o mesmo clube. Logo as famílias passavam férias juntas, na fazenda ou na Disney. Todos brincavam que ela e meu irmão menor deviam namorar, mas os dois jamais demonstraram qualquer interesse romântico um pelo outro. Em compensação, se tornaram praticamente irmãos de criação.
Ela foi a primeira da nossa turma a se casar e a primeira a engravidar. Antes de dar à luz, um susto enorme: linfoma de Hodgkins, diagnosticado no 6o. mês de gestação. Ela esperou até o 8o. mês, fez uma cesariana e imediatamente começou a quimioterapia, o que a impediu de amamentar a filha. O tratamento durou um ano, mas foi bem sucedido. Depois ela ainda teve gêmeas, e viveu bastante tempo feliz e despreocupada.
Cinco anos atrás, o câncer voltou. Primeiro no seio. Depois no fígado. Depois no estômago. A vida dela virou um entra-e-sai de hospital e uma via-crucis de operações. Perdeu peso e cabelos, mas nunca o bom humor. Há dois meses nos encontramos na porta do Suplicy. Ela não tinha nem cílios mais, mas continuava engraçada como sempre.
Semana passada foi internada novamente. Sabíamos todos que era a reta final. Fui visitá-la anteontem e fiquei impressionadíssimo. Nunca tinha visto um paciente terminal de câncer. A barriga estufada, a pele quente e úmida por causa da febre. Ela dormia e respirava com dificuldade. A enfermeira garantiu que não sentia mais dor. E eu, apatetado, contava piadas inadequadas para os presentes, depois de ter chorado no carro.
Ela morreu na tarde de hoje, 10 dias antes de completar 46 anos. A família, com exceção das filhas, demonstra aquela dor serena de quem teve tempo de se acostumar com o inevitável. Amigos vieram de longe para um velório que começou ainda em vida. Ela era querida – a melhor marca que se pode deixar neste mundo. E mais uma vez não estou revoltado com Deus. Estou é agradecido por ter convivido com ela por tantos anos.
Ela foi a primeira da nossa turma a se casar e a primeira a engravidar. Antes de dar à luz, um susto enorme: linfoma de Hodgkins, diagnosticado no 6o. mês de gestação. Ela esperou até o 8o. mês, fez uma cesariana e imediatamente começou a quimioterapia, o que a impediu de amamentar a filha. O tratamento durou um ano, mas foi bem sucedido. Depois ela ainda teve gêmeas, e viveu bastante tempo feliz e despreocupada.
Cinco anos atrás, o câncer voltou. Primeiro no seio. Depois no fígado. Depois no estômago. A vida dela virou um entra-e-sai de hospital e uma via-crucis de operações. Perdeu peso e cabelos, mas nunca o bom humor. Há dois meses nos encontramos na porta do Suplicy. Ela não tinha nem cílios mais, mas continuava engraçada como sempre.
Semana passada foi internada novamente. Sabíamos todos que era a reta final. Fui visitá-la anteontem e fiquei impressionadíssimo. Nunca tinha visto um paciente terminal de câncer. A barriga estufada, a pele quente e úmida por causa da febre. Ela dormia e respirava com dificuldade. A enfermeira garantiu que não sentia mais dor. E eu, apatetado, contava piadas inadequadas para os presentes, depois de ter chorado no carro.
Ela morreu na tarde de hoje, 10 dias antes de completar 46 anos. A família, com exceção das filhas, demonstra aquela dor serena de quem teve tempo de se acostumar com o inevitável. Amigos vieram de longe para um velório que começou ainda em vida. Ela era querida – a melhor marca que se pode deixar neste mundo. E mais uma vez não estou revoltado com Deus. Estou é agradecido por ter convivido com ela por tantos anos.
EU SOU VOCÊ AMANHÃ?
Ainda estou sob o impacto da aprovação do casamento gay na Argentina. Já tem deputado brasileiro “preocupado” com a repercussão da notícia por aqui, o que prenuncia uma longa e árdua batalha política. Talvez os nobres parlamentares nem precisem se preocupar tanto: nosso movimento gay é desunido e desorganizado, ao contrário do lado de lá da fronteira. Aqui também pouca gente tem coragem de peitar a Igreja e os evangélicos, que se escondem alegremente atrás de uma interpretação distorcida do que seja liberdade religiosa e de expressão para nos atacar à vontade. Também faltam grandes veículos da mídia que se posicionem claramente a favor da causa. Fico pasmo que a “Folha de São Paulo”- a minha querida “Folha”, da qual sou assinante e colaborador - não publique um editorial atrás do outro defendendo os homossexuais (o “New York Times” publica). Esta é a grande luta por direitos civis do nosso tempo, e, quando eles finalmente forem aprovados, o silêncio atual da grande imprensa vai ficar tão constragedor (para eles) quando aqueles anúncios de venda de escravos na capa dos jornais do século 19. Enfim, acho que nos falta mais radicalização. Historicamente, a Argentina sempre foi mais “longe” do que o Brasil, o país da pizza. Nem sempre isto é bom, é claro. Tanto a direita quando a esquerda por lá são mais extremas (e malucas) que por aqui, e a ditadura militar deles matou muito mais gente do que a nossa. Mas é admirável a intransigência do governo Kirchner em exigir o casamento gay, sem uma vírgula a menos. Foi engraçado ver setores caretões defendendo a união civil. O estilo tudo-ou-nada do casal cleptocrata já causou imenso dano aos argentinos, mas dessa vez valeu a pena. Talvez seja a grande lição que los hermanos podem nos dar agora.
quinta-feira, 15 de julho de 2010
HEY BIG SPENDER
Quem já frequentava a noite gay de São Paulo no começo da década passada certamente tem ótimas lembranças do Ultralounge, a lendária boate que marcou época na rua da Consolação. A decoração suntuosa, a presença de modelos e fashionistas e um certo clima de festinha particular deram ao lugar uma aura mítica, que nem ele próprio conseguiu reproduzir totalmente quando mudou de endereço e se instalou do outro lado da rua da Consolação. O Ultra pagou um preço caríssimo por sua localização privilegiada: perseguido pela vizinhança, a casa cansou de brigar na justiça e fechou de vez há uns três anos. Mas agora ressurge das cinzas, a princípio como uma noite mensal, no badalado Lions Club. A estreia é amanhã, 16 de julho e a lista de DJs reúne profissionais do ramo com figurinhas carimbadas, bem ao estilo do velho Ultra. Já estou tirando o casaco de peles do congelador.
¡AL GRAN PUEBLO ARGENTINO SALUD!
Oid ¡mortales! el grito sagrado:
¡Libertad, Libertad, Libertad!
Oid el ruido de rotas cadenas:
Ved en trono a la noble Igualdad.
¡Ya su trono dignísimo abrieron
Las provincias unidas del Sud!
Y los libres del mundo responden:
¡Al Gran Pueblo Argentino Salud!
¡Al Gran Pueblo Argentino Salud!
¡Al Gran Pueblo Argentino Salud!
Sean Eternos Los Laureles
Que Supimos Conseguir
Que Supimos Conseguir
Coronados de Gloria Vivamos
O Juremos con Gloria Morir
O Juremos con Gloria Morir
O Juremos con Gloria Morir
Eu sou você amanhã?
¡Libertad, Libertad, Libertad!
Oid el ruido de rotas cadenas:
Ved en trono a la noble Igualdad.
¡Ya su trono dignísimo abrieron
Las provincias unidas del Sud!
Y los libres del mundo responden:
¡Al Gran Pueblo Argentino Salud!
¡Al Gran Pueblo Argentino Salud!
¡Al Gran Pueblo Argentino Salud!
Sean Eternos Los Laureles
Que Supimos Conseguir
Que Supimos Conseguir
Coronados de Gloria Vivamos
O Juremos con Gloria Morir
O Juremos con Gloria Morir
O Juremos con Gloria Morir
Eu sou você amanhã?
quarta-feira, 14 de julho de 2010
MANO A MANO
O Senado argentino está em sessão há mais de 12 horas e ainda nem começou a votação sobre o casamento gay no país. Discursos pró e contra inflamam o plenário; dois senadores governistas viraram casaca e agora vão votar contra o projeto igualitário do casal Kirchner. Por outro lado, muitos oposicionistas dizem que vão votar a favor. Ontem uma passeata de 50 mil pessoas, convocada pela Igreja Católica e pelos evangélicos, emporcalhou a Avenida de Mayo de laranja - a cor escolhida pelos reaças de lá para ser o anti-arco-íris. Estão usando os mesmos argumentos furadíssimos que não impediram a lei do divórcio em 1983, jajaja, tipo "mamá solo hay una" y "los derechos de los niños". Claro que não contavam com tantos filhos de homossexuais vindo a público defender seus pais, matéria de capa da revista "Veintitres". A mesma capa mostra vários dos artistas engajados na campanha, como o onipresente Ricardo Darín e Norma Aleandro, a Fernanda Montenegro portenha. Vou dormir angustiado, sem saber que bicho deu. Tomara que amanhã o sol da bandeira argentina esteja brilhando mais lindo do que nunca. Boa sorte, hermanos.
ATUALIZAÇÃO: APROVAAAAADOOO! 33 a 27, 3 abstenções. Brilha o sol da bandeira argentina, primeiro país da América Latina a aprovar o casamento gay, décimo do mundo. ¡Felicitaciones! E nunca na vida eu quis tanto ter nascido lá.
ATUALIZAÇÃO: APROVAAAAADOOO! 33 a 27, 3 abstenções. Brilha o sol da bandeira argentina, primeiro país da América Latina a aprovar o casamento gay, décimo do mundo. ¡Felicitaciones! E nunca na vida eu quis tanto ter nascido lá.
WILF
Vampiro é totalmente temporada passada. A onda agora é lobisomem, e não estou falando daquele cara-de-pobre do Taylor Lautner. O assunto aqui é Joe Manganiello, que faz o romântico Alcide Herveaux em "True Blood" - um autêntico werewolf I'd like to fuck. Perto dele, na boa, o branquelo do Eric/Alexander Sârsgard parece um bichinho do queijo. Manganiello é o que a extinta revista "Around" chamava de "lasanha", uma profusão de carne e massa que faz muito mal à saúde mas é gostosa a mais não poder. Fora que, ao que parece, o bonitón é do babado: sua página na Wikipedia, no quesito "vida pessoal", não cita mulher, filhos ou namorada, mas estressa que ele é ativista em várias ONGS que combatem a AIDS. Sei, sei. Enfim, estou pensando em promovê-lo à condição não de noivo, mas de amante imaginário. Esse aí não é para casar, é para fazer indecência. Suck it, Sookie.
PRECONCEITO VELADO?
O Parlamento da França aprovou por maioria esmagadora, com apenas um único voto contra, a proibição à burca e a outros véus islâmicos que impossibilitam a identificação da pessoa. O argumento mais usado é que esses véus ferem o caráter laico do estado francês e que podem até por em risco a segurança, já que terroristas poderiam se ocultar por baixo deles. A Espanha e a Holanda devem votar leis parecidas nos próximos dias. Não sei muito o que pensar. Sinto que há uma intenção boa por trás dessa proibição: forçar a integração da cada vez maior comunidade muçulmana ao mainstream da sociedade francesa e combater a violência contra a mulher, muito comum nesta comunidade. Sinto que também há uma má: racismo puro e simples, e o medo infundado de que todo árabe é membro da al-Qaeda. Os opositores do véu dizem que ele é uma prisão para as mulheres, algo impensável no liberado Ocidente. Tendo a concordar. Mas aí li um artigo de uma estudiosa americana que diz que o Ocidente também tem suas prisões para as mulheres, estabelecendo um padrão de beleza inalcançável e expondo tetas e bundas como meros objetos. Também tendo a concordar. E agora?
terça-feira, 13 de julho de 2010
A OUTRA VÍTIMA
Duas pessoas foram assassinadas com requintes de crueldade no Brasil durante o mês de junho. Ambas sofreram sessões de tortura nas mãos de seus carrascos e jamais tiveram a menor chance de defesa. Uma delas foi morta a mando de uma celebridade. A fama e o dinheiro do cara garantiram que o crime não saísse das manchetes durante dias da fio, com direito a reconstituição na TV e a uma enorme comoção nacional. O outro assassinato não mereceu mais do que algumas notinhas nas páginas internas dos jornais e já sumiu do noticiário. Só os sites gays ainda tocam no assunto, como se esta monstruosidade só afetasse uma minoria. A primeira vítima, é óbvio, é Eliza Samudio, um caso escabroso que certamente entrará para a história policial do país. A outra é Alexandre Tomé Ivo Rajão, que foi torturado com paus e pedras e depois enforcado com a própria camisa na noite de 19 para 20 de junho. Seu corpo foi achado num terreno baldio em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro. Alexandre tinha apenas 14 anos e já militava na causa GLBT, tendo participado do comitê de organização da parada gay de sua cidade - apesar de sua mãe dizer que ele "só atravessava uma fase". Três skinheads foram presos esta semana sob suspeita de terem praticado esse crime bárbaro, que não está mais no radar da grande imprensa. Num mundo melhor, a morte de Alexandre estaria ganhando tanto destaque e causando tanto escândalo quanto a de Eliza. Num mundo perfeito, eles ainda estariam vivos.
A VOZ DA IDADE
Um sinal seguro de que se está ficando velho é quando começamos a rejeitar as coisas novas em benefício das antigas. Isto ficou claro para mim desde que comprei dois CDs na semana passada. Um é “Love and its Opposite” da veterana Tracey Thorn, ex-vocalista do Everything but the Girl. Para quem não está ligando o nome à pessoa, é do EBTG a clássica “Missing” (..and I miss you… like the deserts miss the rain), que começou a tocar em 1995 e não parou nunca mais. Foi o único hit global da banda (na verdade, uma dupla), que na verdade começou bem antes, em 1983. Desde aquela época Tracey já tinha uma voz inconfundível, com um traço comum a muitas grandes cantoras: mesmo na mais tenra idade, ela parecia já ter sofrido o suficiente para interpretar com veracidade as mais distintas emoções. Seu disco novo não tem nada de inovador, mas traz canções pop bem feitinhas. No site da moça dá para baixar de graça e dentro da lei a triste “Oh the Divorces” e a saltitante “Why Does the Wind”.
Marina Diamandis é jovem o bastante para ser filha de Tracey. Ela usa o nome artístico de Marina and the Diamonds, apesar de ser uma artista solo; que malandra, não? E é tão bonita que vem sendo convidada para posar em editoriais de moda e capas de revista. A crítica internacional também não resiste a uma gostosa que se dá ao respeito (ao contrário das Pussycats Dolls, por exemplo) e vem saudando o disco “The Family Jewels” como a melhor coisa desde que inventaram o pão quente. Marina é boa compositora e seus arranjos são bem mais up-to-date que os de Tracey (os quais, para ser sincero, poderiam ter sido feitos em qualquer momento dos últimos 30 anos). Seus singles têm sido disputados pelos mais badalados remixers e ela é a nova queridinha da Inglaterra. Mas não me convenceu, pela mais básica das razões: não gostei de sua voz. Seu fraseado descamba volta e meia para um “ioleriiiti” que me incomoda muito. Confira aqui se a minha implicância é gratuita: o site rcrdlbl tem muita coisa dela baixável, de graça e dentro da lei. Nada me empolgou muito. É a idade chamando?
Marina Diamandis é jovem o bastante para ser filha de Tracey. Ela usa o nome artístico de Marina and the Diamonds, apesar de ser uma artista solo; que malandra, não? E é tão bonita que vem sendo convidada para posar em editoriais de moda e capas de revista. A crítica internacional também não resiste a uma gostosa que se dá ao respeito (ao contrário das Pussycats Dolls, por exemplo) e vem saudando o disco “The Family Jewels” como a melhor coisa desde que inventaram o pão quente. Marina é boa compositora e seus arranjos são bem mais up-to-date que os de Tracey (os quais, para ser sincero, poderiam ter sido feitos em qualquer momento dos últimos 30 anos). Seus singles têm sido disputados pelos mais badalados remixers e ela é a nova queridinha da Inglaterra. Mas não me convenceu, pela mais básica das razões: não gostei de sua voz. Seu fraseado descamba volta e meia para um “ioleriiiti” que me incomoda muito. Confira aqui se a minha implicância é gratuita: o site rcrdlbl tem muita coisa dela baixável, de graça e dentro da lei. Nada me empolgou muito. É a idade chamando?
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