quarta-feira, 30 de junho de 2010

LOLA LÁ

A blogosfera está em chamas: Lourdes Maria, a filha da Madonna, estreou ontem seu blog. Que ela assina com seu apelido, Lola, e onde revela que não vê a hora de fazer 14 anos (em outubro) porque finalmente sua mãe vai deixá-la tingir o cabelo. Tudo muito engraçadinho, se não fosse - como tudo que envolve Sua Madgestade - um tremendo golpe de marketing. O blog na verdade está dentro do site da Material Girl Collection, a linha de roupas que Madonna lançará em breve (e para a qual Lola teria "desenhado" alguns modelitos). Fora que duvide-o-dó que seja a própria garota quem escreve. Deve haver um batalhão de jornalistas contratados a peso de ouro, e os textos são aprovados pela 2a. assistente da secretária da assessora de imprensa da mamãe. A verdadeira Lola deve estar muito mais interessada em falar no telefone com as amigas, como aliás é próprio da idade.

BAT-CAVERNA

Olha só ti toisa maisi fofa: um morceguinho escolheu pousar numa planta no terraço do meu apartamento em São Paulo. É horripilantemente meigo. Ou talvez seja de péssimo agouro, já que a planta em questão é uma árvore da felicidade. Mas eu me sinto honrado por uma criatura selvagem ter escolhido o meu lar como seu porto seguro. Nada me derrete mais o coração do que sentir que um animal confia em mim. OK, o tal do mocego nem me viu: faz dias que ele está lá imóvel e pendurado, feito um casulo gigante. Eu que não me atrevo a acordá-lo. Será que está morto? Mas aí, já não teria caído no chão? Pensei até em colocar um pratinho com frutas ou insetos, mas fiquei com medo atrair o bando todo. Pena que não seja um vampiro - já pensou se fosse o Eric de "True Blood"?

ATUALIZAÇÃO:
O morceguinho estava morto. Nunca soube que eles podiam morrer e continuar pendurados, desafiando a lei da gravidade. Agora eu sei.

DOIS VOVÔS


A filha do Oscar está grávida de um menino, que deve nascer no final de outubro. Ela faz questão de dizer que eu também vou ser avô. Por um lado, fico em pânico. Agora não tem mais jeito, lá se foi a aurora da minha vida. Por outro arrebento de orgulho. Criamos essa moça direitinho, hein? Ela jamais teve problema algum comigo, e olha que me conheceu quando tinha só 10 anos de idade. Esta é a grande arma secreta dos casais gays, que está começando a ser desembainhada: os filhos, adotivos ou não, que foram criados dentro dessa nova estrutura familiar. Ao contrário do que pregam a Igreja e todos os homofóbicos boçais, não são pessoas nem piores nem melhores que as criadas por héteros. São, em sua imensa maioria, pessoas normais e bem ajustadas. Como canta esse garoto num programa da TV holandesa - aliás, é de dar gosto ver um corinho infantil louvando dois papais, bein? Se bem que esse vídeo é antigo, tem uns quatro anos. A Holanda é tão liberal e moderna que a essa altura o garoto já deve ter três papais.

(Obrigado ao Anônimo que me passou essa dica)

terça-feira, 29 de junho de 2010

VOCÊ FARIA?

Tá vendo o mancebo pensativo aí na foto ao lado? Até que dava um caldo, não? Pelo menos para quem gosta do gênero emo/quaquá. E não, não é mais um cover do Serginho. É um tal de Jo Calderone, mais conhecido como... Lady Gaga. Ela vai aparecer assim num ensaio para a revista "Vogue Hommes". Ficou tão convincente que tem muito neguinho que brigadeiro faria linda.

SHOW DE BOLA

Fala a verdade: futebol é chato pacarai, né não? Ontem bem que eu tentei fazer um esforço de reportagem e me instalei em frente à TV para assistir Brasil x Chile. Aguentei uns 10 minutos. Aquela jabulani que não vai a lugar nenhum, sinceramente, tenho mais o que não fazer. Claro que foi só eu levantar que o Brasil marcou um gol, e logo em seguida outro. Voltei correndo para ver o replay, porque de gol eu gosto. O que eu não suporto é tiro de meta, impedimento e outras regras que, para mim, parecem escritas em alfabeto cirílico. Acho que é mal de família: enquanto o jogo rolava em Durban, mamãe e Oscar discutiam quem era quem do Gotha nas fotos do casamento da princesa Victoria publicadas pela revista “Hola”.

Não gosto de futebol, mas gosto do drama que o rodeia. Decisão por pênaltis, por exemplo, é um tesão. Por mim a Copa já começava pelos pênaltis. Fiquei grudado na TV enquanto Japão e Paraguai descobriam quem era o menos ruim (e, sim, torci para os paraguaios). Gosto das lágrimas, do nervosismo, dos torcedores fantasiados e da Fátima Bernardes. Gosto das superstições dos jogadores, que eles juram que é a mais pura religião. Maradona e Kaká, por exemplo, têm certeza de que Deus lhes têm um carinho especial, esquecendo-se que com isto o Todo-Poderoso estaria penalizando os adversários. Deus torce por todo mundo, gentem: isto é que é cristianismo, o resto é mandinga.

Apesar dos engarrafamentos-monstro, adoro dos feriados forçados que os jogos do Brasil provocam. É o maior ritual religioso do país, e não há empregador que não compreenda a necessidade total que as pessoas têm de largar tudo para o alto e correr para a frente da TV. Nenhum outro país do mundo para tanto quanto o Brasil por causa de um jogo. Nem mesmo a Argentina – que, aliás, eu acho que vai ganhar esta Copa.

QUE COMAM BOLOS

Aqui no Brasil a comediante Joan Rivers só é conhecida por quem assiste ao canal E! Entertainment Television. É ela quem está sempre no tapete vermelho das grandes premiações, fazendo perguntas embaraçosas aos convidados. Depois do prêmio ela ainda comanda um programa que tem um dos melhores nomes EVER, "Fashion Police", onde dá notas para os melhores e piores modelitos da noite. Joan deve ter uns 150 anos de idade, mas é difícil dizer por causa das 3.200 plásticas que já fez. E depois de uma carreira repleta de altos e baixos, ela está em voga outra vez. Culpa do documentário "Joan Rivers: a Piece of Work", que saiu premiado do festival de Sundance e já está cotado para o Oscar do ano que vem. Dificilmente vai passar por aqui, mas quem se esforçar consegue ver online. Vou tentar, porque ms. Rivers é uma über-bitch absoluta. Saca só o que ela diz quando aparece no trailer acima o apartamento suntuoso em que mora em Nova York: "é assim que seria a casa da Maria Antonieta - se ela tivesse dinheiro."

segunda-feira, 28 de junho de 2010

ÓPERA FUNK

Antigamente, quando as pessoas ainda compravam discos, de vez em quando surgiam uns concept albums. Alguns chegavam a contar uma história propriamente dita e foram até adaptados para o teatro e o cinema, como "Tommy" do The Who. Outros eram mais vagos, mas nem por isto menos ambiciosos; exemplos clássicos são "Sargent Pepper" dos Beatles e "A Night at the Opera", do Queen. Aí veio a internet, a iTunes Store e os downloads ilegais, e os álbuns começaram a ser esquartejados em musiquinhas independentes. Por isto foi grande a minha surpresa com "The Archandroid", CD de estreia da cantora americana Janelle Monáe (onde elas arranjam esses nomes?). A moça já tinha lançado um EP em 2007 chamado "Metropolis: The Chase Suite", e este novo disco traz as partes II e III de um projeto que ela batizou de "Afrofuturism". Não há exatamente um libreto, mas é um concept album à moda antiga. A produção é grandiosa e a salada de estilos mistura soul, rap e funk com orequestra sinfônica e trilhas ao estilo de Walt Disney. Baixe aqui o single "Tightrope", que já é bastante variado, mas não dá nem ideia do que o disco inteiro oferece. Apadrinhada por pistolões como a dupla Outkast e Sean "Diddy" Combs, Janelle tem uma voz linda e potente, mas não muito marcante. Isto ela compensa com bom gosto e boas ideias. Adorei o fato de em momento nenhum ela gemer que sua xoxotinha está molhadinha, como fazem tantas Aguileras por aí. "The Archandroid" com certeza será indicado para uma pá de Grammys ano que vem. Na minha lista dos melhores de 2010 ele também já entrou.

O DIA DAS NOIVAS

Johanna Sigurdardottir já era a primeira e única chefe de estado assumidamente gay em todo o mundo. Agora também é a primeira a se casar com alguém do mesmo sexo enquanto exerce o poder. O parlamento islandês aprovou o casamento homossexual no último dia 12, e ontem a primeira-ministra aproveitou para fazer de sua namorada uma mulher honesta. Depois de muitos anos vivendo juntas, ela e a escritora Jonina Leosdottir casaram-se de papel passado. Enquanto isto, no Brasil, um adolescente nem precisa ser gay para ser morto por skinheads. A simples suspeita já basta para condená-lo à morte, como acontceu semana passada em São Gonçalo. Dá vontade de torcer pela Islândia na Copa.

domingo, 27 de junho de 2010

BACK TO BLACK

Agora chega, né? Depois de quase uma semana experimentando layouts e cores novas, está na hora de parar. Estou tentado a manter este design aqui, que é bem simples e sem firulas. Mas ele oferece recursos que o anterior não tinha, como controlar a largura dos elementos ou alterar o corpo das letras. Para amenizar a mudança, trouxe de volta alguns elementos do padrão antigo: o tipo de letra voltou a ser Trebuchet e as cores das letras, verde e roxo. Sem eles o blog parecia falso; agora voltei a ser eu mesmo. Claro que não vai ser possível agradar todo mundo, que tem gente que vai continuar reclamando do fundo preto, patati patatá. Bem que eu avisei que isto aqui não é uma democracia.

BARBARA LHES ADORA

Barbara Heliodora é a mais implacável crítica teatral do Rio de Janeiro. Suas resenhas rigorosas não deixam escapar nada. Ela cita os atores um por um, fala da direção, da luz, da cenografia, dos figurinos, da pipoca e da limpeza dos banheiros. E geralmente fala mal - tanto que a classe artística lhe deu o carinhoso apelido de "Barbara Não lhe Adora". Por isto, foi recebida com certo espanto a matéria que ela publicou no "Globo" semana passada. Ms. Heliodora simplesmente adorou duas peças de um autor jovem e semi-desconhecido, um tal de Jô Bilac. E adorou tudo: texto, atores, direção, pipoca. Na hora fiquei curioso para ver. Preferia ter visto "Rebú", que se passa no século 19, mas circunstâncias diversas fizeram com que eu caísse em "Savana Glacial". E não é que a mulher tinha razão? Tudo é bom mesmo. O texto tem toques de teatro do absurdo, mas fala sobre uma mulher que está enlouquecendo. Os atores são todos novinhos e todos excelentes. A direção, a luz, etc., tudo funciona para valer. O teatro do Plantário da Gávea estava abarrotado por causa da crítica, e a peça, que fica em cartaz lá só até hoje, volta em julho para mais 3 semanas no Gláucio Gill. É um programa bárbaro.

sábado, 26 de junho de 2010

SANGUE FRESCO

Amanhã estreia na HBO a 3a. temporada de "True Blood". Mas minha crítica já saiu na "Folha de São Paulo" de hoje; quem for assinante do UOL pode ler aqui. Penei um pouco para assistir aos dois episódios já exibidos nos EUA. Os sites que oferecem programas "de graça" costumam pedir seu e-mail e até mesmo o número do seu cartão de crédito (para quê, se é de graça?). Tive que rebolar rebolar rebolar, mas consegui. E adorei: a nova temporada está um looosho, cheia de personagens novos. O mais engraçado até agora é o rei dos vampiros do Mississippi, casado há 700 anos com um vampiro mais jovem. Os dois são tão requintados que oferecem banquetes de pratos à base de sangue humano, como bisque (uma sopa) ou gelatto (sorvete). "True Blood" (que se chama "Sangue Fresco" em Portugal) tem tanto sexo e tanta gente gostosa que este poster aí ao lado é plenamente justificado: "vilf" é a sigla de vampires I'd like to fuck.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

VITROLINHA EUROPEIA

Não vou me emendar nunca. Por mais que seja fácil e/ou gratuito baixar músicas da internet, para mim nada se compara ao frisson de entrar numa megastore e me empanturrar de CDs novos. Felizmente na Europa elas ainda não estão extintas: me esbaldei na Virgin de Paris e na Fnac de Genebra. Comprei 19 discos ao todo, dos quais aqui vai uma pequena amostra. Clique no nome das músicas em destaque e, se gostar, monte sua mini-playlist.

Atrizes que acham que cantam costumam se dar pior do que cantoras que acham que representam. A portuguesa Maria de Medeiros não é exceção. Sua voz tem até uma certa extensão, mas o timbre é infantil e as desafinadas, frequentes. Nada disto a impediu de estar lançando seu já 2o. disco, com um repertório meio jazzístico que lhe é totalmente inadequado. A única faixa que se salva é um cover com arranjo bossa-nova de “La Dolce Vita”, o clássico de Nino Rota para o filme de Fellini. Aqui Maria não soa como a crooner profissional que gostaria de ser, mas sim como uma grã-fina bêbada que se anima a dar uma palhinha numa festa. Gostoso como o whisky com coca de que fala a letra.

Raúl Paz é um dissidente cubano radicado há mais de 10 anos em Paris, porque ele não é bobo nem nada. Seu som mistura suas raízes na ilha com o pop europeu: o novo disco, “Havanization”, traz até um dueto com Camille, a mais cool cantora francesa do momento. Mas o melhor momento é “Mejor”, que traz um melodia tão agradável que a gente jura que é conhecida.

Françoise Hardy é imortal. Ao longo de seus quase 50 anos de carreira gravou canções próprias e de todos os grandes compositores franceses, de Gainsbourg a Biolay. Como seu contemporâneo Roberto Carlos, estourou no tempo do yéyéyé, o pop francês dos anos 60 que teve o nome surrupiado pelo pessoal da Jovem Guarda brasileira. E hoje, tal como Roberto, está acima do bem e do mal. Ela soa jovial, mas não juvenil, no novo CD “La Pluie Sans Parapluie”. “Noir sur Blanc” traz a diva em plena forma, sem sinal de aposentadoria à vista.

Minitel é um antepassado da internet: um aparelho de vídeo-texto que se espalhou pela França nos anos 80, e em mais nenhum país da face da terra. Tinha até versão pornô, o “minitel rose”. É um nome bom demais para uma banda, mas pena que o Minitel Rose não lhe faça jus. Seu 2o. disco, “Atlantique”, é de electropop bem anos 80 e 90, sem nada de muito especial. A não ser a música “She’s Lost”, onde o sotaque gaulois dos rapazes fica evidente na letra em inglês.

A libanesa Elissa é uma das cantoras mais famosas do mundo árabe. Seu novo disco, “Tesada’a Bemeen”, tem toques orientais, mas é technopop da melhor qualidade. A faixa-título (“Em Quem Você Acredita?”) é cantada em dialeto egípcio. Se a moça também cantasse em inglês, a esta altura seria tão famosa globalmente quanto Shakira.

PREPARATIVOS DE GUERRA

Muita gente diz que hoje é feriado, com esse jogo do Brasil começando às 11 da manhã. Pois eu vou além: está tudo tão calmo em volta do meu apê carioca que algo muito mais grave parece estar acontecendo. Às 10 e pouco a padaria não tinha mais pão nem a banca tinha jornal. É uma guerra que se avizinha, com as pessoas estocando mantimentos (o jornal deve ser para acender fogueiras caso cortem a energia elétrica). A comoção é tão grande que eu me rendi. Estou aqui em frente à TV, tentando me interessar pelo jogo.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

NÃO É BRINQUEDO NÃO

A Pixar é foda. Vou repetir: la Pixar es fueda. É, mole mole, o estúdio de cinema mais bem-sucedido de todos os tempos. Fez apenas 11 longa-metragens em 15 anos, e todos arrebentaram nas bilheterias. Melhor: não há um único que não seja, no mínimo, muito bom. Alguns são obras-primas absolutas, como "Os Incríveis" ou "Procurando Nemo". E a trilogia "Toy Story" é a jóia da coroa. 0 3o. filme da série, mais de 10 anos depois do 2o., é uma meditação pungente sobre o envelhecimento e a passagem do tempo. Também é um prodígio técnico e um golpe certeiro de marketing, voltado especialmente para o público que era criança na época dos dois primeiros e hoje está em vias de entrar na faculdade. Além de tudo isto, também é o melhor filme de prisão ao ano, com tensão e intriga que deixam "O Profeta" no chinelo. The Pixar is fuck.

COUGAR TOWN

Já tomou Orangina? É um refrigerante francês que parece suco de laranja com gás e vem numa garrafinha tão icônica quanto a da Coca-Cola. A versão vermelha então, feita com oranges sanguines, é o céu em forma líquida. Como se não bastasse ser o melhor refri do mundo FIFA, a Orangina também faz campanhas publicitárias malucas de dar com pau. A atual mostra animais usando a bebida para os mais diversos fins, e por quê não? Um camaleão passa na pele para evitar espinhas, uma girafa põe na máquina de lavar porque ela "lava mais amarelo" e assim por diante. Mas tem um comercial que não foi pra TV, só pra internet: é este aí em cima, que mostra um cougar (puma em inglês) usando Orangina como loção pós-barba. Dá até vontade de experimentar.

TARANTEEN

Já disse aqui várias vezes que não gosto de filmes de super-herói. Mas acabo vendo os que eu considero "importantes", tipo "Homem de Ferro 2" - sim, de vez em quando até eu me engano. Com "Kick-Ass - Quebrando Tudo" foi diferente: fiquei todo assanhadinho para ver desde que postei o trailer em janeiro. Crianças praticando atos ultra-violentos em clima de gozação, o que mais que eu posso querer? Pensei até que o filme fosse fazer um sucesso enorme nos EUA e provocar uma polêmica estrondosa. Só que o sucesso foi apenas mediano e a polêmica inexistente, o que talvez revele o quanto a sociedade americana está anestesiada. Ninguém se importou muito com a Hit-Girl, a garota de 11 anos que sai por aí dando tiros e facadas a esmo, numa total reversão dos valores cristãos que a extrema-direita de lá finge que segue. Talvez porque no fundo "Kick-Ass" não tenha nada de revolucionário. Começa como uma sátira aos nerds que sonham em ser super-heróis e, por algumas cenas, é totalmente impiedoso com o protagonista, que chega a parar no hospital de tanto apanhar. Mas o roteiro logo o redime e valida não só os delírios absurdos de se vestir uma máscara e fazer justiça com as próprias mãos, como também a violência mais extrema como a única resposta possível para qualquer problema. Tem muitas piadas boas que fazem o filme parecer um Tarantino para adolescentes. Mas é tão longo e tão cheio de sopapos, punhaladas e explosões que senti que a surra estava sendo dada em mim mesmo.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

COITADINHOS DOS HÉTEROS

A maior parte do mundo vive, há milhares de anos, sob uma ferrenha ditadura heterossexual. Os gays sentem isto na própria carne, enquanto os héteros se fingem de inocentes - mas, no fundo, morrem de medo que a situação se inverta e os perseguidos passem a ser eles. É uma leitura totalmente errada e até maliciosa da luta pela igualdade de direitos. Biba nenhuma jamais propôs que os héteros sejam discriminados, mas um projetinho de lei bem do safado está servindo para o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) sair na imprensa sem as habituais acusações que o assolam. O nobre parlamentar fala no "direito de ser normal", apesar de respeitar qualquer "opção" sexual. É mais um projetinho de merda que deve se perder no vórtex espaço-tempo do Congresso Nacional. Mas enquanto isto o portal R7, ligado à rede Record, faz uma enquete onde um terço dos internautas acha que sim, os héteros são discriminados. Ah, não vejo a hora da ditadura gay se instalar de uma vez por todas e essa turma enfrentar o paredão.

(obrigado ao Thiago A. pela sugestão)

MEU PEQUENO UNICÓRNIO

Há anos que a indústria da carne suína nos Estados Unidos usa o slogan "a outra carne branca" em suas campanhas publicitárias, numas de aliviar a má reputação de seu produto. Mas pelo jeito os porquinhos fazem mesmo mal para o cérebro. Os executivos da associação mandaram um documento de DOZE páginas aos autores do anúncio ao lado, ameaçando-os com um processo monstruoso caso eles continuassem a usar o slogan "a nova carne branca". Só não perceberam que o anúncio era fake: carne de unicórnio? Oi? O site Think Geek, autor da patacoada, está deitando e rolando nos louros da glória. Quanto à carne de porco, bem, ela agora vai se dedicar a novos projetos e passar mais tempo com sua família.

terça-feira, 22 de junho de 2010

BANQUEIRO POR UM DIA

Minha sala de cinema favorita em todo o universo é a do Instituto Moreira Salles, vizinho ao meu apartamento no Rio. Na verdade, o prédio onde eu fico foi construído num pedaço do terreno da antiga casa do Walter Moreira Salles, hoje transformada em centro cultural. O cinema já estava lá antes disto, que era para o banqueiro ver seus filminhos em paz antes da invenção do vídeocassete. Hoje me senti um pouco como ele. Oscar e eu éramos os únicos na sessão das 6, junto com mais dois gatos literalmente pingados por causa da chuva que caiu o dia todo. O quórum perfeito para "A Jovem Rainha Victoria", que finalmente estreou no Brasil depois de eu ter postado o trailer no começo do ano passado. É um dos filmes mais deslumbrantes de todos os tempos. A luz é tão linda que irrita. Os figurinos foram premiados com o Oscar. E como foi que conseguiram filmar dentro do Palácio de Buckingham? Os detalhes são tão primorosos que o diretor só podia ser gay. É o canadense Jean-Marc Vallée, que fez "C.R.A.Z.Y.", o melhor filme sobre rapaz-que-se-descobre-homossexual jamais feito. O elenco, só de feras inglesas, também está magnífico, apesar de Emily Blunt ser muito mais bonita e vivaz que a Victoria verdadeira. Já o roteiro faz o que pode para extrair intriga e romance de uma história real que não é das mais arrebatadoras. Victoria aparece como uma proto-feminista, que conseguiu se impor com teimosia e elegância sobre as intrigas palacianas que pretendiam transformá-la num fantoche. De qualquer forma, foi o filme perfeito no lugar perfeito para um perfeito dia chuvoso. Só faltou o mordomo Santiago nos servir um cafezinho na saída.

TESTANDO

De vez em quando me pedem para mudar o lay-out do blog. Nunca mudei, por três razões. A primeira é preguiça mesmo. A segunda é o fato de eu não conhecer nenhum webdesigner que tope obedecer a todos os meus caprichos sem cobrar um tostão por isto. E a terceira é a mais importante: eu gosto do lay-out do meu blog. Acho que fundo preto com letras verdes é o supra-sumo da beleza e do bom gosto. Mas enfim, até a embalagem da Maizena já teve que mudar. Respondendo ao clamor popular e aproveitando que o Blogger está propondo novos modelos, vou usar o resto da semana para testar novos visuais. Críticas e sugestões são muito bem-vindas, mas gostaria de lembrar que isto aqui não é uma democracia. Não vou abrir votação para escolher o novo lay-out, porque aqui mando eu. Pode ser até que eu nem mude nada. Para começar, não me arrisquei muito. Mantive o fundo escuro tradicional, mas será que essas letras douradas não dão dor na vista? Sei lá; por hoje elas ficam. Amanhã tem mais.

O CÓDIGO MICHELANGELO

O cérebro humano é Deus? Esta é a conclusão que parece surgir da descoberta anunciada por um neurocirurgião e um ilustrador medico no ultimo número da revista “Neurosurgery”. Eles alegam que uma das imagens do Todo-Poderoso pintadas por Michelangelo na Capela Sistina mostram um cérebro escondido entre os traços do divino pescoço. Muitos especialistas concordam, porque Michelangelo adorava dissecar cadáveres e produziu alguns dos desenhos anatômicos mais avançados de sua época. Além disso, os pescoços de outros personagens do afresco no Vaticano aparecem lisinhos, sem arabescos misteriosos. Mas também tem gente dizendo que tudo isto é bullshit: basta traçar linhas sobre qualquer imagem e qualquer coisa aparecerá, de receitas de bolo à fórmula da vida eterna. Eu já me sinto tentado a ficar com o primeiro time. Uma mensagem subversiva dessas, à vista de todos por mais de 500 anos na sede mundial do cristianismo, é tão interessante que quase parece ficção barata.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

UMA EDUCAÇÃO

O filme francês "O Profeta" tem algo de morbidamente gratificante para o espectador brasileiro. É quase um consolo saber que, mesmo num país mais rico e supostamente mais civilizado do que nós, as prisões também são um inferno. A principal diferença é que por lá a violência ainda é temperada por conflitos étnicos. O tal "profeta" é um rapaz de origem árabe que, ao ser preso, é co-optado pela gang de corsos que domina a penitenciária e acaba virando uma espécie de mensageiro entre as diversas tribos encarceradas, além de ser rejeitado por todas. Sua resposta é se tornar ainda mais violento - apesar de, mesmo barbado e coberto de cicatrizes, nunca perder o ar de moleque. O filme tem cenas horripilantes, como um assassinato cometido com uma gilete escondida na boca. Também é um pouco longo demais. Mesmo com a crítica inteira babando, ainda acho que "O Segredo de Seus Olhos" mereceu mais o Oscar de filme estrangeiro. Mas "O Profeta" vale a pena: é incrivelmente tenso, e um lembrete sombrio que o crime não é privilégio de 3o. Mundo.

CAI CAI BALÃO

É impressionante a capacidade dos cariocas de infringir dano à própria cidade. Cheguei ao Rio bem a tempo de presenciar o tal do "vulcão da zona sul", o grande incêndio sobre o morro dos Cabritos, entre a Lagoa e Copacabana, na madrugada de sábado para domingo. Estávamos no táxi a caminho da The Week e custamos a crer nos nossos olhos - afinal, foram só uns drinks em casa. Na hora achei que fosse culpa de um raio ou até mesmo de uma bituca de cigarro, mas é óbvio que foi um balão (ou, provavelmente, mais de um). Estamos em junho, e para piorar o ar está mais seco do que de costume. O prefeito chamou os baloneiros de "palhaços", mas todo mundo sabe como é difícil reprimir esse hábito nefasto. Mesmo quando são apanhados no flagra, os incendiários amadores pagam multas irrisórias ou fazem trabalhos comunitários, e ninguém vai em cana. E ainda tem gente que defende os balões, porque são "uma manifestação autêntica da cultura popular". Queria só ver a gritaria se fosse o contrário: um bando de playboys que soltasse um balão e este caísse em plena comunidade, provocando um fogaréu.

domingo, 20 de junho de 2010

A ILHA DESCONHECIDA

Li pouco Saramago. Só "A Jangada de Pedra", "Memorial do Convento" e "A Viagem do Elefante". Ah, e também o lindo "Conto da Ilha Desconhecida", em pé numa fila da Expo 98 em Lisboa. Seus livros são árduos, passam bem longe do entretenimento ligeiro. É muito fácil se perder naquele mar de vírgulas, praticamente a única pontuação que ele usava. Eu chegava a me irritar: a vírgula pede uma entonação totalmente diferente do ponto final, mas Saramago passava olimpicamente por cima das regras. É quase como se alguém resolvesse usar a letra b para o som do p. Mas prestar atenção em sua escrita vale a pena. Lembro de uma passagem do "Memorial" que me tirou o fôlego, a descrição de um músico tirando notas de seu instrumento que é uma das coisas mais extasiantes escritas em português.

Saramago teve uma carreira prodigiosa. Foram apenas 18 anos entre o lançamento de seu primeiro livro importante ("Levantado do Chão") e o prêmio Nobel. Que aliás ele ganhou meio por decurso de prazo: já estava pegando mal a Academia Sueca nunca ter premiado um escritor da 5a. língua mais falada do mundo. Sua vitória foi merecida, mas com ela se enterraram as chances dos brasileiros cotados, Jorge Amado e João Cabral de Melo Neto, que morreram de mãos abanando (o Nobel só é dado a autores em vida). A morte de Saramago deve ter reduzido em uns 10% o número de comunistas sinceros ainda vivos; pelo menos, desde que rompeu com Cuba, ele não era mais um comunistossauro empedernido como o Niemeyer. Com sua desaparição, temo que Brasil e Portugal voltem a se afastar culturalmente. Ele era o único português contemporâneo que vendia bem por aqui, e acho que esta vaga não será ocupada tão cedo. É uma pena, porque o Brasil muitas vezes reluta em assumir sua entidade lusófona. A cultura que compartilhamos com Portugal e ainda teimamos em não reconhecer é a verdadeira ilha desconhecida: bela, vasta, inexplorada.

sábado, 19 de junho de 2010

SHE'S TOO SHORT FOR ME


Os Tony Awards foram entregues em Nova York domingo passado, mas só agora fiquei sabendo desse beijaço entre o mestre-de-cerimônias Sean Hayes, o Jack de "Will & Grace", e sua colega Kristin Chenoweth. É uma resposta ao artigo que a evista "Newsweek" publicou há mais de um mês, dizendo que atores assumidamente gays não convencem como hétero - e citava como exemplo o próprio Sean. Acontece que o Jack da TV era um personagem, e muito mais desmunhecado que o ator na vida real. Para mim, Sean convence como hétero sim: saca só como ele enfia a língua na boca da moça. Por outro lado, isto talvez não prove nada. Várias meninas já me disseram que gays costumam beijar muito melhor do que HTs.

A IRMANDADE DA VUVUZELA

Nem mesmo a Copa do Mundo faz com que eu me interesse muito pelo futebol. Na Europa, então, foi fácil ignorar esse boleio todo. Principalmente na Suíça, onde só vi umas poucas bandeiras penduradas nas janelas e nenhuma do próprio país. As notícias sobre o Mundial soam para mim como uma vuvuzela: um zumbido permanente, irritante e sem muito sentido. Por isto me identifiquei tanto com esse mash-up em cima do "Senhor dos Anéis". É a Copa da Meia-Terra FIFA.

OLHA A COBRA

Meu filhinho Duda Hering pediu para eu falar aqui no blog da festa Supersonique e da edição arraiá do Café com Vodka. Mas ontem eu cheguei destruído na minha casa em SP e não tive forças nem de tirar nem as roupas da mala. Só lembrei de fazer o post hoje de manhã, olha só que pai extremoso. Agora é tarde para o Supersonique, que já aconteceu. Mas para a festa junina ainda dá tempo: é o Café com Paçoca, amanhã à tarde no Sonique. Prepare sua camisa de flanela, pinte um bigodinho falso e um dente de preto e vá dançar quadrilha com os caipiras mais bonitos de São Paulo.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

COMME UN OISEAU QUI S'ENVOLE

Zut alors, c’est fini. Neste momento estou penando para fechar as malas. Daqui a pouco saímos do hotel rumo ao aeroporto. Chego a SP ainda hoje, às 5 e meia da tarde, a tempo de pegar o delicioso trânsito da hora do rush de sexta-feira na Marginal. Vou aproveitar o voo para dormir: estou exausto. A viagem foi uma maratona tanto física quanto emocional. Minha santa mãezinha deu o trabalho que eu esperava, mas foi ótimo ter vindo com ela. Teve momentos em que ela ficou bem triste, e eu entendi por quê: esta talvez seja sua última viagem. Mas que bom que eu pude proporcionar isto para ela. Para encerrar meus posts franco-suíços, aqui vai mais um petit cadeau: uma gravação rara de Grace Jones para um sucesso francês dos anos 80, “Comme un Oiseau qui s’Envole”. Foi ripada do lado B de um compacto simples, por isto o chiado. E agora au revoir – o próximo post já será no Brasil.

AMADEUS ÀS ILUSÕES

Paris é o melhor lugar do mundo para se ir ao cinema. Não por causa do conforto das salas – lembro de uma tão pequena que a entrada parecia a porta de um quartinho de vassouras – mas por causa da programação. É o único lugar do mundo onde filmes do mundo inteiro entram em cartaz normalmente, sem depender de mostras ou festivais. A oferta é sempre enorme, e eu custei a escolher. Sim, fui ao cinema em Paris: a cidade bombando lá fora e eu quietinho no escurinho. Pelo menos os dois filmes eram franceses. O primeiro foi “L’Illusioniste”, o novo longa de animação de Sylvain Chomet, que foi indicado para o Oscar há alguns anos pelo magnífico “As Bicicletas de Belleville”. Agora ele adapta um roteiro inédito de Jacques Tati. É a história de um mágico decadente que larga Paris por Londres e acaba nos confins da Escócia, onde uma adolescente o segue até Edimburgo. Quase não há diálogos, algo bem tatiesco. As paisagens são hiperrealistas, mas em nenhum momento Chomet permite que os efeitos de computação se sobreponham à beleza das imagens, uma verdadeira aquarela em movimento. Isto sim é desenho animado - desenho desenhado para valer. O jantar com mamãe acabou cedo e ela se recolheu pouco depois das 9 e meia. Saí para dar uma banda e acabei me enfiando outra vez no cinema da esquina, o UGC Danton. Desta vez par aver “Nannerl, la Soeur de Mozart” – quem me conehce pessoalmente sabe que este está sendo um ano amadeusiano lá em casa. A história da irmã do compostior é quase trágica. Ela não morre jovem nem nada, mas vê frustrado tanto seu enorme talento musical – por ser mulher, o pai não lhe permitia compor nem tocar violino – quanto seu amor pelo delfim da França, filho do rei Luís XV. Talvez não seja assunto suficiente, porque o filme é lento, quase chato. Sabe aquela categoria “não gostei , mas gostei de ter visto”? Pois é.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

iPUTA FALTA DE SACANAGEM

Foram dias e dias de hesitação. Dezenas de comentários pró e contra, aqui e no meu perfil no Facebook. Finalmente me resolvi a comprar um iPad. Claro que a decisão não tinha nada de racional: nem tenho wi-fi em casa, e provavelmente iria cansar dele depois de meia hora. Fora que 2 segundos depois de fechar a compra a Apple lançaria a versão 1.2, com muito mais funções e bem mais barata. Tant pis: eu queria TER um, SABER que eu tinha um. Quase comprei em Genebra; fiz as contas e verifiquei que os preços eram idênticos na França e na Suíça. Então, pra quê carregar peso? Melhor deixar para o fim da viagem. Rompi dessa forma o Mandamento No. 1 do Viajante Experiente: quando vir alguma coisa que você queira, compre na hora. Não deixe para depois, é capaz de não encontrar mais. E foi exatamente o que aconteceu. Tanto na Fnac quanto na Darty, aqui em Paris, a porra do iPad está es-go-ta-da. Só reservando e esperando vááários dias. Para mim não dá, embarco de volta amanhã cedo. Ainda resta a tênue esperança de encontrar a joça no duty free do aeroporto, mas duvido. Aqui só tem perfumes e charcuterie. Pelo menos economizei uma graninha. Tant mieux.

J'AI TUÉ MON GIGOLO

Uma das cenas mais divertidas do filme "Gainsbourg (Vie Heroïque)", que eu vi no avião da vinda (e cujo DVD já comprei), é o encontro casual do pequeno Serge com Fréhel, uma antecessora de Edith Piaf que fez muito sucesso nos anos 30. O garoto declara sua admiração pela artista, e ela propõe que eles cantem juntos seu maior sucesso, "La Java Bleue". Mas Serginho prefere algo totalmente inadequado para sua idade: "La Coco", ou, em bom português, "O Padê". Olha só que refrãozinho mais meigo:

Quando estou travada
Eu faço besteiras
Eu matei meu gigolô
Na frente das minhas colegas
Feito uma boboca
Enfiei minha faca em seu coração
Quero padê
Que me confunde o cérebro


- - Frehel la coco
Found at abmp3 search engine
Gostou? Quer baixar ou transformar num ringtone? Clique aqui. E, para quem não entender diga, que a letra é parecida com a de "La Vie en Rose".

quarta-feira, 16 de junho de 2010

ONDE AS CULTURAS DIALOGAM

Mais um dia de museus. A manhã foi gasta empurrando a cadeira de rodas da minha santa mãezinha no Louvre, que é muito menos preparado para receber os handicappés do que museus mais modernos como o d'Orsay. Inúmeras salas terminam em lances de escada, o que obriga os PPD e seus acmpanhantes a dar voltas imensas em busca de um elevador e a passar diversas vezes pelo mesmo lugar. Pelo menos mamãe queria ver apenas o que uns 90% dos turistas procuram no Louvre: a Mona Lisa, a Vênus de Milo e, principalmente, a Vitória de Samotrácia. À tarde ela foi com uma amiga comprar maquiagem nas Galeries Lafayette, e eu fiquei livre para flanar pela margem do Sena até o Musée du Quai Branly. Este é o mais novo grande museu de Paris, inaugurado em 2006, e eu o perdi de bobeira quando estive aqui em 2008. Também é o que reúne a coleção mais "exótica": peças da Ásia, Áfirca, Oceania e Américas que estavam espalhadas (e meio esquecidas) no Louvre e no Musée Guimet. O prédio "orgânico" de Jean Nouvel causou bastante polêmica a princípio, como é costume em Paris. Mas agora já faz parte da paisagem.

Logo na rampa de acesso há uma obra de impacto: "The River", uma instalação de Charles Sandison. Um rio de palavras projetaqdas no chão, que se emaranham e se desenrolam, numa visualização do slogan do museu: "là ou les cultures dialoguent". A coleção em si é interessantérrima e não-avassaladora - ou seja, dá para se ter uma boa noção em menos de duas horas. Vi tanta coisa de que nem desconfiava: amuletos fálicos da Indochina, colares das Antilhas pré-colombianas, casacos de mulheres judias da África do Norte. Só faltou o fetiche Arumabaya de "O Ídolo Roubado", clássica aventura do Tintin. O Brasil está representado por estatuetas do candomblé e um enorme tacape encontrado no que é hoje o Rio de Janeiro. Mesmo assim, o museu me deixou um pouco para baixo. Talvez por culpa da iluminação meio escura ou da viagem estar acabando. Saindo de lá, não tive dúvidas: passei na Agnès B. e no Paul Smith e imeidatamente me senti melhor. Vive l'achat-hérapie.

A MALLU MAGALHÃES FRANCESA

Ainda não tenho "a" música da viagem. A candidata mais forte até agora é "Non, Non, Non (Écouter Barbara)", de Camélia Jordana. Essa garota de 17 anos quase ganhou uma versão local do "American Idol" e é a sensação do momento. Pelo clip aí em cima, dá pra notar que ela não se leva tão a sério quanto sua similar brasileira. A faixa pode ser baixada aqui: não traz grandes novidades, mas até aí um croissant também não traz. E todo mundo gosta.

terça-feira, 15 de junho de 2010

BARCO-MOSCA

Hoje foi o dia do Sena. De manhã fomos ao magnífico Museu d'Orsay, que fica numa antiga estação de trem às margens do rio. Mamãe fez sua estreia triunfal na cadeira de rodas e absolutamente adorou. Depois almoçamos com uma amiga brasileira que mora nos arredores de Paris. Ela escolheu um restaurante que fica meio fora de mão, o River Café, instalado num barco dentro do rio em Hauts-de-Seine. À tarde escapuli para a minha adorada Virgin Megastore no Champs-Elysées, onde consegui me aliviar de uns euros que doíam na carteira. E ao cair da noite lá estávamos mamãe, minha cunhada e moi a bordo de um bateau-mouche. Esta é a 8a. vez que venho a Paris e nunca tinha feito esse programa, que é breguérrimo e interessante em partes equivalentes. Hordas de turistas disputam a tapa os assentos "na janela" do barco, mas não há maneira melhor de se conhecer as pontes de Paris. Só mesmo do meio do Sena é que dá pra ver as armas da Rússia na ponte Alexandre III ou as caretas dos ministros de Henrique V no Pont-Neuf. Terminamos a noite no Procope, um restaurante que funciona ininterruptamente desde 1686. Dada a lentidão do serviço, é de se supor que alguns garçons datam da mesma época. Mas valeu a pena: comi o melhor magret de canard da minha vida.

MAKE AN EDUCATED GUESS

Engraçadinho esse comercial do Nespresso que está no ar aqui na Europa. George Clooney, o garoto-propaganda da marca, encontra John Malkovich numa situação-limite. Conheci um cara que transou com um deles. Só não vou dizer qual dos dois.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

CARREFOUR DE L'ODÉON

Já estou em Paris, depois de cinco dias de atividades familiares em Genebra (ontem teve o tal do brunch na casa dos pais da noiva e pizza na casa da minha pseudo-irmã, mas nada que mereça post aqui no blog). É engraçado como sou desligado: escolhi o Hotel de l'Odéon pela internet, visitei todo o site, conferi a localização no Google Maps e só quando cheguei aqui me dei conta que é no meu antigo caminho da roça. Em 1995 Oscar e eu ficamos com a filha dele no Relais de Médicis, duas ruas mais para cima, e eu passava pelo Carrefour de l'Odéon todos os idas para pegar o metrô no Boulevard Saint-Germain.

Meu quarto é todo vermelho em motivos chineses, e muito menor do que parece ser nesta foto surrupiada do site do hotel. Mal me instalei e saí para dar uma reconhecida na vizinhança. Certas coisas não mudam: "A Cantora Careca" e "A Lição", de Ionesco, continuam em cartaz no minúsculo Théatre de la Huchette - há mais de 53 anos!! Assisti em 83, ou seja, ainda na primeira metade dessa longuíssima carreira. Ou seja, sou oficialmente velho. Também ainda existe a Théatr'Hall, uma lojica que vende camisas bufantes e figurinos de teatro que a gente achava o máximo nos anos 90. Hoje não seria pego morto usando algo de lá. Mas de modo geral o quartier me pareceu mais animado que antes; talvez porque seja quase verão e as ruas estejam cheias. Tinha até acordeonista tocando no meio da rua, o maior clichê parisiense. Só faltou aparecer a Amélie Poulain.

HANNIBAL THE CANNIBAL

Há dias que os jornais suíços não têm outro assunto. Foi finalmente libertado pela Líbia, depois de quase dois anos confinado na embaixada ou preso numa cela comum, o empresário suíço Max Göldi. O pretexto tinha a maior cara de pretexto mesmo: visto expirado. A razão verdadeira é ainda mais absurda. Em julho de 2008, a polícia de Genebra prendeu Hannibal, o filho-problema do ditador Muammar Khadafi, junto com sua esposa, grávida então. Os dois eram acusados de dar surras violentas em suas empregadas filipinas na mansão que alugavam à beira do lago Léman. Na ultra-democrática Suíça não tem essa do camarada ter as costas quentes ou ser filho de quem quer que seja: quebrou a lei, vai em cana. Khadafinho e sua mulher pagaram uma multa e ainda tiveram suas fotos tiradas na delegacia divulgadas pelo jornal "Tribune de Genève". Foi demais para o papai, que mandou prender imediatamente os dois primeiros suíços que seu serviço secreto encontrasse na Líbia. Os caras ainda conseguiram se refugiar na embaixada em Trípoli, mas foram sequestrados pelos líbios - é, bebé, se-ques-tra-dos, num flagrante desrespeito a todas as convenções diplomáticas. Um deles foi libertado em fevereiro sem grande alarde, mas o coitado do Max Göldi precisou amargar até junho para conseguir voltar a Zürich. Foi uma vitória completa para a Líbia e uma humilhação inédita para a Suíça, que precisou pagar uma indenização - na verdade, um resgate - de mais de um milhão de euros e ainda pedir desculpas por escrito pela divulgação das fotos. Por isto, faço questão de reproduzir aqui no blog o mugshot do Khadafinho. O rapaz tem um longo histórico de escaramuças com as polícias de vários países da Europa: já mandou seus seguranças atirarem nos gendarmes que o tentavam multar em Paris por excesso de velocidade, abriu um extintor de incêndio sobre uns carabinieri italianos (e mandou três para o hospital) e quase foi preso em Londres por quebrar o nariz de sua mulher num quarto de hotel. Nada disto aconteceria no Brasl, é evidente. À menor rusga com o nosso pífio aparato legal e policial, Lula imediatamente se ofereceria para chupar a rola do enfant terrible, ou quem sabe lhe oferecesse a bunda da dona Marisa. Nosso presidente, como se sabe, não resiste a bajular um ditador.

MEU PEQUENO PÔNEI

A especialidade suíça que turista nenhum tem coragem de experimentar.

domingo, 13 de junho de 2010

LA CHARTREUSE DE POMIER

Ontem foi o casamento do meu sobrinho, a razão pela qual me abalei até a Europa com mamãe a tiracolo. Uma linda cerimônia seguida por um cocktail, um jantar e uma festa. Quase 12 horas de evento.

Chegamos às 3 e meia da tarde à Chartreuse de Pomier, um antigo convento que foi saqueado na Revolução Francesa, transformado em hotel no século 20 e que hoje serve de cenário para convenções e festejos. A construção data de 1170, mas foi tão alterada ao longo do tempo que conserva pouco do caráter medieval. De qualquer forma, a localização é espetacular: nos flancos de uma montanha, com vista para toda a zona fronteiriça entre o cantão de Genebra e a região francesa da Haute-Savoie.

Ah, sim, a Chartreuse fica na França. Os brasileiros geralmente moramos muito longe das fronteiras. Para nós é curiosa a sem-cerimônia como esse pessoal de Genebra passa de um lado para o outro, indo às compras ou jantando fora. Aqui é perfeitamente normal fazer toda uma festa de casamento num outro país. E depois da instituição do Espaço Schengen, que engloba toda a comunidade europeia mais a Suíça, quase não há mais alfândegas ou controles. Pelas estradinhas por onde fomos, não havia sequer uma placa informando o ponto da fronteira.

Por causa disto, a cerimônia do casamento de Yann e Aurélie não teve nenhum valor legal. Eles não podem se casar na França pelas leis da Suíça. Também não teve nenhum valor religioso: Yann é judeu, Aurélie é católica. Mesmo assim, o prefeito de Genebra, grande amigo das famílias, conduziu os trabalhos. Seguiram-se depoimentos espirituosos dos amigos do casal e leitura de trechos de Khalil Gibran. Tudo isto ao som de um duo de cellos que tocava Bach e Beatles, num pátio com 120 cadeiras onde se aglomeraram umas 200 pessoas.

O cocktail teve um drink que os franceses juravam que era caiprinha, mas que na verdade era uma vitamina de abacaxi com banana levemente alcoolizada, e um trio tocando bossa nova. Às 8 seguimos para o jantar, uma enorme tenda repleta de mesas. Aqui na Europa as pessoas não se sentam onde quiserem: todo mundo tem seu lugar marcado, geralmente ao lado de pessoas que nunca viu na vida. Caí ao lado de uma americana e de uma brasileira e fui obrigado a conversar com elas – aliás, este é o propósito dessa demarcação rígida: evitar que a festa se quebre em panelinhas estanques. Mas bem que eu preferia ficar junto com a sobrinhada, que eu vejo tão pouco.

Uma atração à parte foi Spock, o cachorro do prefeito de Genebra. Os europeus costumam levar seus cães a restaurantes, mas a uma festa de casamento nunca tinha visto. Spock se sentou à mesa e ficou absolutamente quietinho, sem pedir comida a ninguém – um gentleman, muito mais educado que metade dos convivas. Eu e minha vizinha brasileira não resistimos e demos a ele pedacinhos de vitela, e quase fomos fuzilados pelo prefeito. Que aliás, deve ser gay: qual homem com mais de 50 anos que vai a uma festa sem companhia feminina e levando um cachorrinho pela guia?

Fazia tempo que eu não ia a um casamento. Minha geração já se casou toda, e só agora estão começando os casórios da geração seguinte. Fiquei espantado com as homenagens-gozações que os amigos dos noivos fizeram, que antigamente eram raras. Teve um slide-show contando a vida do Yann, um vídeo com Barbies em stop-motion contando a vida de Aurélie e uma coreografia à la “Macarena” que a família inteira da noiva, velhos inclusive, preparou para “Tik Tok” da Ke$ha. E antes do bolo ainda surgiu um acordeonista judeu, que tocou “Hava Nagila” e outras pérolas do cancioneiro judaico, com a festa inteira levantando os pombinhos em cadeiras e pulando até quase quebrar o assoalho.

Chegamos de volta à casa de Cologny quase às 3 da manhã. Eu estava semi-bêbado e semi-enforcado pela gravata, a que não estou acostumado. Desmaiei na cama, mas dormi só 6 horas. Já estou de pé, por que daqui a pouco tem brunch na casa dos pais da noiva perto de Lausanne. Amanhã eu conto como foi.

sábado, 12 de junho de 2010

49 A 0

País civilizado é outra coisa. O parlamento da Islândia aprovou o casamento gay por unanimidade: 49 votos a favor, nenhum contra. É a 8a. nação a permitir casamento para valer entre pessoas do mesmo sexo, depois de Holanda, Bélgica, Suécia, Noruega, Espanha, Portugal, África do Sul e Canadá (vários países da Europa, como França e Grã-Bretanha, têm leis que praticamente equiparam a parceria civil ao casamento). Todos esses lugares sabem que o casamento é um direito civil básico, como disse este maravilhoso editorial do "New York Times" publicado anteontem. Nada de defender que o casamento entre homem e mulher é uma instituição milenar, como certos candidatos pouco instruídos andam dizendo por aí. A pena de morte e a tortura também são insituições milenares, certo?

(A foto que ilustra este post é tirada de um vídeo da banda islandesa Sigúr Rós, uma das mais bibas de todos os tempos. E obrigado ao João por mais esta dica)

sexta-feira, 11 de junho de 2010

1o. POST A PARTIR DE UM iPAD

Não resisti. Estou na Fnac de Genebra brincando com um iPad, na verdade um iPhone grandão sem telefone. Compro ou não compro?

Atualização: Acho que não. O iPad é pouco mais do que um brinquedo. É difícil escrever nele: tem que ficar mudando o teclado toda hora para passar de letra para números e acentos, como num iPhone. Fora que não consegui subir imagem nenhuma para ilustrar o post. Só agora quando cheguei em casa, do meu bom e velho laptop.