
Domingo passado estreou na HBO a minissérie “The Pacific”, que se pretende uma versão detalhada e intimista do luta dos americanos contra os japoneses na 2a. Guerra Mundial. O programa é co-produzido por, entre outros, Steven Spielberg e Tom Hanks, que fizeram juntos o ótimo “Resgate do Soldado Ryan”. Mas pelo menos o 1o. episódio ficou bem aquém desse filme, com uma linguagem bastante convencional e draminhas pessoais rasteiros. Tampouco resiste à comparação com o inovador “Além da Linha Vermelha” de Terrence Malick, que também foca na batalha de Guadalcanal. Ouvi dizer que a série melhora daqui para a frente; veremos. De qualquer forma, é impressionante o interesse permanente que o público dos EUA têm por todos os conflitos bélicos em que o país se envolveu, e olha que são muitos – da Guerra de Secessão, até hoje a que mais matou soldados americanos, ao fracasso no Vietnã e à bagunça atual no Iraque e no Afeganistão. A cultura de lá tem o militarismo impresso em seu DNA, talvez por causa das lutas sangrentas pela independência, e isto se reflete em milhares de livros, filmes e programas de TV.

Já o interesse que o Brasil tem por suas próprias guerras é praticamente zero. Acreditamos no mito que criamos para nós mesmos, de povo pacífico e cordial. Mas basta uma folheada num livro de história para sabermos que já nos metemos num monte de escaramuças, principalmente durante o século 19. A maioria, é verdade, foi contra nós mesmos: o Exército precisou sufocar dezenas de rebeliões regionais, de norte a sul. Nossos historiadores costumam ficar do lado dos revoltosos, como Frei Caneca ou Antônio Conselheiro, e acusar o poder central de truculência. Mas foi graças a essas reações violentas que o Brasil não se fragmentou em dezenas de paisecos, como aconteceu com a América espanhola. Hmm, pensando melhor, se tivéssemos nos dividido, talvez hoje o Lula fosse apenas o presidente vitalício da República Bolivariana de Pernambuco…

Enfim, o que quero dizer mesmo é que sinto falta de um filme sobre a campanha da Força Expedicionária Brasileira na Itália. Não um documentário, que já existe: queria ver um filme de ficção, uma super produção cheia de efeitos especiais – e olha que eu não sou muito chegado em filmes de guerra. Por um lado, acho perfeitamente compreensível que exista esta lacuna: tal filme custaria caríssimo e precisaria de locações no exterior. Além do mais, a
intelligentsia brasileira ainda tem ojeriza a qualquer assunto que cheire a caserna, por causa dos 21 anos de ditadura militar. Nossos milicos não têm um décimo do prestígio de seus colegas americanos, e isto é bem feito – afinal, os de lá nunca deram um golpe de estado. Por outro lado, acho que um filme sobre a FEB, se bem realizado, cumpriria todos os requisitos para ser um grande sucesso de público e crítica. Nossa participação foi longe de ser decisiva, mas nossos soldados, mesmo despreparados, lutaram bem. E ajudaram a derrotar o fascismo não só na Europa, como também por aqui – o Estado Novo de Getúlio Vargas caiu logo depois da volta dos pracinhas, simplesmente porque não havia mais clima para ele. Queria muito ver essas história na telona. Inclusive por que,
last but no least, meu pai lutou na FEB. Até hoje temos um capacete nazista que ele trouxe de lembrança.