sexta-feira, 30 de abril de 2010

CINCO DE GAYO

Circula pelos sites americanos o boato de que a cantora country Shelby Lynne vai se assumir lésbica na capa da revista "People" que sai no dia 5 de maio - um importante feriado mexicano, e que gerou a brincadeira que dá título a esse post. Como música caipira não é o meu forte, lá fui eu googlar a cara da dita cuja. E não é que eu me surpreendi? Estava esperando uma fanchona mais clássica como k. d. lang ou Melissa Etheridge, todas oriundas do universo country. Mas não: Shelby faz a linha loura gostosona muito mais comum da dance music. Boa sorte para ela, ainda mais porque seu público não deve ser tão simpatizante e compreensivo como o das divas beeshas.

E por falar em diva beesha... tô com uma peninha MASTER da Christina Aguilera. Santa Cher, que equívoco que não é o clip de "Not Myself Tonight"? Não vou postar aqui, além do mais porque todo mundo já postou. Inclusive apontando as inúmeras semelhanças/chupadas de vídeos da Madonna e da Gagolina. O pior é que nem parece de propósito, não era para ser uma sátira ou uma homenagem. Christina é uma cantora de enorme talento, mas nunca soube escolher repertório nem visual. Já tentou até mudar a grafia do nome ("Xtina"), mas não deu certo. Não tem identidade definida. Que judiação.

ATUALIZAÇÃO em 3/5: Não foi Shelby Lynne quem se assumiu lésbica, e sim Chely Wright, uma cantora country ainda menos conhecida no Brasil. Claro que ela está lançando disco novo, e promete um livro de memórias para breve. Meio cínico - mas que bom que sair do armário hoje em dia pode ajudar uma carreira.

BRINCANDO DE TRENZINHO

Deve ser ótimo ser uma centopéia: pelo menos se tem uma boa desculpa para justificar a fortuna gasta em Manolo Blahniks e Jimmy Choos. Mas as pobres turistas americanas capturadas por um cirurgião maluco na Alemanha parecem não ver a coisa pelo lado bom. Elas gritam, sofrem e se descabelam em "The Human Centipede", um filme de horror trash que está provocando um eeeeewwwww coletivo onde quer que seja exibido. O diretor jura que checou com médicos de verdade e que a operação que aparece no filme é perfeitamente possível. O pior é que sei de algumas pessoas que gostariam mesmo de ser costuradas pela boca à bunda de alguém. Coragem, assista ao trailer.

DON'T ASK, DON'T TELL

A coisa lá no Afeganistão está mesmo feia. Tanto que os rapazes da 82a. Divisão do exército americano acharam um tempinho para criar mais uma paródia do "Telephone" da Lady Gaga, a de no. 23.738.992. Adoro a coreô com palminha e rebolada mas acho que a Beyoncé podia ter rendido mais, 'cause this is a disaster. Só fico imaginando a cara dos talibans vendo esse vídeo. Com soldados como esses, ninguém precisa perguntar nem contar nada.

DOCE E AMARGA

Sophie Ellis-Bextor é tudo o que Victoria Beckham gostaria de ser: naturalmente refinada e dona de uma voz que, se não chega a ser estrondosa, é imediatamente reconhecível. Foi modelo antes de emplacar seu primeiro sucesso musical há uns 10 anos, fazendo vocais para o DJ italiano Spiller em "Groovejet". Depois disso teve uma carreira meio acidentada, com um único hino de repercussão planetária, "Murder on the Dancefloor", e vários bons singles que mereciam ter vendido mais. Ano passado ela teve seu segundo filho num parto bem complicado, mas agora estão todos bem. A nova música "Bittersweet" já está bombando por aí: baixe aqui um extended remix dos Freemasons que pode se tornar um dos hits da Parada. Já o vídeo é meio dececpionante: fiquei com o gostinho amargo de que, em tempos de Lady Gaga, alguém com credenciais fashion como Sophie poderia ter se esforçado mais.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

ESCRAVIDÃO EM DEBATE

Eu me sinto ultrajado toda vez que um programa de TV promove um debate ou uma enquete sobre os direitos dos homossexuais. OK, OK: vivemos numa sociedade que se pretende democrática, que garante a liberdade de opinião e de expressão. Mas fico de estômago virado quando vejo um militante da causa tendo que se defender da sanha de um pastor hidrófobo, como se eles tivessem posições de valor equivalente e a verdade estivesse num hipotético meio termo. Também tenho consciência que este tipo de embate pode trazer alguma luz para a imensa parcela da população que não tem posição definida, mesmo com tanto sensacionalismo e apelação. Mas torço que eles se tornem em breve tão absurdos e anacrônicos como, por exemplo, um debate sobre a escravidão. Já pensou? E aí, você é a favor ou contra? Não seria uma boa para a economia brasileira? Fora que a Bíblia inteira não tem uma única linha condenando a prática, nem no Novo nem no Antigo Testamento. Então quer dizer que Deus é escravocrata? E viva a demcocracia.

FESTAS JUNINAS

Ainda falta mais de um mês para a Parada Gay de São Paulo, mas já começaram a surgir notícias sobre a programação das boates durante o feriadão de junho. Já que eu tenho um canal privilegiado com meu filhinho Duda Hering, vou soltar aqui no blog algumas novidades que ele me passou em primeira mão. Como é tido e sabido, o Duda asumiu a "promotoria" da Megga. O clubão da Barra Funda vai abrir só dois dias, quinta e sábado, e para este último dia tem uma grande atração: a cantora Amuka, aquela do "Appreciate Me". Mas o melhor é que os preços da Megga não vão sofrer acréscimo durante a Parada. Serão os mesmos dos dias normais - uma boa notícia para as ricas e finas que tiveram as finanças abaladas pela crise na Grécia. Outra boa nova é a primeira edição da festa Clube Café, que vai rolar num dos lugares mais translumbrantes de SP, o Mokaï, em data ainda não definida. É um reduto hétero em plena rua Augusta, e costuma cobrar os preços nas alturas de balada hétero. Mas Dudinha encarnou o espírito de Robin Hood, e vai tirar dos ricos para dar - rárárá - aos pobres. O ingresso custará só 50 reais, e 25 para quem tiver o cartão do Café com Vodka. Fora que os preços do cardápio do Mokaï ainda serão reduzidos em 20%. Kaï, kaï, balão...

PEDOFILISTÃO

Esta semana assisti a um documentário interessantíssimo na HBO chamado “Afghan Star”. O filme acompanha 4 concorrentes da versão afegã de um concurso tipo “American Idol”. O país inteiro parava na hora do programa, com torcidas organizadas e muita empolgação. Acontece que o entusiasmo ia só até certo ponto: uma das candidatas resolveu apimentar seu número fazendo uma dancinha, e o mundo quase veio abaixo. É bom lembrar que, nos tempos do governo do Taleban, a televisão e a música eram simplesmente proibidas no Afeganistão. Agora não são mais, mas uma mulher dançando em público ainda é considerado um crime passível de pena de morte. E olha que a coitada estava vestida da cabeça aos pés, inclusive com um véu sobre os cabelos. Mas a reação do público não seria pior se ela tivesse dançado pelada na boquinha da garrafa. 

No dia seguinte recebi do Luciano de SJC dois artigos sobre os garotos bailarinos do Afeganistão. “Bailarinos” é quase um eufemismo: são meninos de 12, 14 anos, vendidos por suas famílias paupérrimas para senhores com mais idade e dinheiro. Os moleques dançam em festas para animar os convidados, já que as mulheres não podem fazê-lo – aliás, homens e mulheres frequentam festas separadas. Mas sua serventia vai bem além disto, claro. São escravos sexuais que satisfazem seus donos, que nem por isto são considerados homossexuais. Os “bacha baresh” (literalmente, “garotos imberbes”) costumam ser libertados quando chegam à idade adulta, mas muitos permanecem trabalhando para os mesmos velhos tarados. E todo mundo acha ótimo, num dos países mais repressores do mundo. A sexualidade humana é mesmo muito mais complexa do que as nossas cabecinhas sujas conseguem imaginar. 

(Quer ler os artigos originais, em inglês? Tem um aqui e outro aqui)

quarta-feira, 28 de abril de 2010

UM PTERODÁTILO EM PARIS

Apreciadores de bande dessinée vão vibrar com esta notícia: estreou com sucesso na Europa, no fim de semana passado, o primeiro filme baseado nas aventuras de Adèle Blanc-Sec, a detetive da Belle Époque criada pelo belga Tardi. O diretor é o hiper-ativo Luc Besson, e não sei se curto sua opção pela beleza loura de Louise Bourgoin para o papel principal. A Adèle dos quadrinhos é feia e mau humorada; talvez uma Audrey Tautou sem maquiagem? Hélas, duvido que passe no Brasil. Os álbuns da personagem jamais foram lançados por aqui. Azar nosso: um filme que tem uma múmia e um pterodátilo aprontando na Paris de 100 anos atrás é absolument à voir.

DETALHES TÃO PEQUENOS DE NÓS DOIS

Nós dois, no caso, somos Roberto Carlos e o público, do qual faço parte. Digo isto porque a exposição em cartaz até o Dia das Mães na Oca do Ibirapuera, em SP, não é só sobre a carreira do Rei, mas também - mas principalmente - sobre sua relação com os fãs. Além dos prêmios, das roupas vintage (algumas viadérrimas) e dos carros de coleção, há centenas de presentes expostos. Inclusive toda uma galeria de imagens religiosas, o que só confirma que RC é uma espécie de semideus que vive entre nós. A mostra é repleta de imagens e sons, bastante interativa e tecnológica na medida, para não assustar o batalhão de senhoras que lota o espaço em plena hora do almoço. Para uma descrição mais completa, visite o blog da Marta Matui, que foi comigo. Eu ainda estou sob o impacto das emoções que vivi ao rever tantas cenas de especiais de fim de ano, tantos bonequinhos que eu tive quando era pequeno, tantas letras de que eu me orgulho de saber de cor.

EMBARAÇOS E VEXAMES

Claro que já existem projetos de lei tramitando na Câmara tentando proibir a adoção de crianças por casais homossexuais. Na verdade o projeto é um só, mas um pretende alterar o Estatuto da Criança e o outro, o Código Civil. Seus autores são os deputados Zequinha Marinho (PSC-PA) e Olavo Calheiros (PMDB-AL), o gatão aí ao lado. Entre outros argumentos estapafúrdios, eles alegam que "é dever do Estado colocar a salvo a criança de situações que possam causar-lhes embaraços e vexames". Citam que datas como o Dia dos Pais ou o das Mães podem trazer "constrangimentos marcantes" aos pimpolhos. Se seguirmos essa lógica perversa, crianças órfãs de um dos pais também sofrerão muito nestas datas, e portanto devem ser separadas do pai remanescente e encaminhadas à adoção. Podemos ir mais longe: filhos de evangélicos fanáticos também irão para o orfanato, pois é muito embaraçoso ter pais que rejeitam a evolução e dão parte de seus salários para os "bispos" de suas "igrejas" se refestelarem em Miami. Mas não consigo pensar em vexame maior do que portar o sobrenome Calheiros - Olavo é nada menos do que sobrinho do augusto senador Renan. Já se envolveu em vários escândalos e é tido como o tesoureiro da família (também no sentido mafioso). Coitados de seus filhos e netos, que vergonha...

terça-feira, 27 de abril de 2010

É A ADOÇÃO, ESTÚPIDO

Em muitos países onde o casamento gay já é legalizado, não é permitida a adoção de crianças por homossexuais. No Brasil, onde não existe sequer a parceria civil, casais do mesmo sexo já podem adotar. O Superior Tribunal de Justiça reconheceu hoje o direito à adoção de um casal de lésbicas gaúchas. As duas vivem juntas há muitos anos, com um par de irmãos adotados por uma delas. Agora os meninos serão legalmente filhos de ambas, um precedente sensacional na história da luta pelos direitos gays no Brasil. A decisão, por unanimidade (wuhuuu), não é vinculante – ou seja, não precisa ser acatada por todos os tribunais do país. Mas, de agora em diante, quem levar um “não “ pela frente com certeza seguirá lutando até o STJ, o que enche meu coraçãozinho de esperança.

Esta notícia também encheu de minhoca a minha cabeça. As lideranças do movimento gay brasileiro usam como ponta-de-lança, já há um bom tempo, a luta pela aprovação de leis que criminalizem a homofobia. Quando são criticadas por raramente falar em casamento gay - a bandeira mais usada pela causa no exterior - dizem que algo como o PLC 122/2006 teria uma abrangência muito maior do que uma lei “burguesa” que formalizasse as uniões entre homossexuais, pois esta só beneficiaria a minoria que tem patrimônio para deixar como herança.

Agora estou começando a achar que as duas estratégias estão erradas para o contexto brasileiro. Para fazer avançar os direitos da bicharada no Patropi, a adoção é o caminho correto. Porque gera pouca polêmica: os casais que querem adotar geralmente são estáveis, sem “aspecto ameaçador”, com jeito de pessoas “normais”. A maioria, inclusive, me parece que são formados por mulheres, o que já de cara desarma grande parte dos medos (absurdos) de que esses órfãozinhos seriam criados como escravos sexuais. A imensa maioria dos juízes alegaria que os direitos da criança estão em primeiro lugar, e que é muito melhor ser adotada por duas sapatas de mullet e camisa de lenhador do que ser esquecida num orfanato miserável.

As lideranças religiosas não investiriam com o mesmo ímpeto contra uma lei federal que oficalizasse, de uma vez por todas, a adoção de crianças por casais gays. Não conseguiriam alegar que seu "direito à opinião" estaria sendo violado. Até numa novela já houve um caso parecido, e a maior parte do público aprovou. Maternidade e infância são valores preciosos demais para o brasileiro médio. Por isto, tenho a sensação de que, pela brecha aberta pela adoção, seguiriam mais facilmente todos os demais direitos que nos são devidos. Agora, por quê cargas d’água tudo tem que acontecer ao contrário neste país?

(com um empurrãozinho da Isadora)


(Para os mais jovens, que não entenderam o título do post: estou fazendo uma brincadeira com uma frase que Bill Clinton usou à exaustão em sua primeira campanha para a presidência dos Estados Unidos, em 1992: "it's the economy, sutpid". George Bush pai era considerado imbatível por causa da vitória na Guerra do Golfo; Clinton lembrou aos eleitores que o que interesava mesmo era a economia, que ia mal. Bater nessa tecla revelou-se uma estratégia vitoriosa.)

GUERRA AOS RUIVOS

Bem-vindo ao escândalo da semana: este aí em cima é "Born Free", o clip ultra-violento da M.I.A. que está provocando celeuma no mundo inteiro. Como agora é moda, trata-se de um quase curta-metragem, com 9 minutos de duração - como o "Telephone" da Lady Gaga, a quem M.I.A. acusou de plagiá-la há alguns dias. Apesar de, musicalmente, as duas habitarem universos diferentes: enquanto uma escreve canções sobre roma-roma e u-la-la, a outra é escancaradamente política. "Born Free", dirigido por Romain Gavras - filho do Costa, o premiado diretor grego - pega bem pesado, com o exército americano perseguindo e matando ruivos num país desértico. M.I.A. quer chamar atenção para o que ela diz ser o "genocídio" do povo tamil no Sri Lanka. O pai dela foi um dos líderes dos Tamil Tigers, um "exército de libertação" considerado por muitos como uma organização terrorista mais sanguinária que a Al Qaeda. A guerra civil no Sri Lanka durou mais de duas décadas e só acabou no ano passado, com a derrota final dos Tigers, que queriam proclamar um estado independente no norte da ilha. Não tenho opinião formada sobre esse conflito: não sei quem tem "razão". Só sei que "Born Free" é perturbador. Também é apelativo: inclui até uma cena de sexo entre gordos, para garantir que todo mundo vá se incomodar com alguma coisa. Todo mundo mesmo.

A GENTE SE VÊ POR AQUI

Podemos falar mal da Globo à vontade: a maior emissora de TV do Brasil apoiou o regime militar, prega uma agenda conservadora, sufoca a cultura regional, impõe um “padrão de qualidade” distante da realidade nacional e assim por diante (os petistas chegam a jurar que o canal resolveu comemorar 45 anos em 2010 só para ajudar na campanha do Serra). Mas a verdade é que a Globo está entranhada na memória sentimental de todos os brasileiros. Duvida? Então folheie “TV Globo – Novelas e Minisséries”, que reúne todas as 252 novelas e 66 minisséries produzidas por ela até hoje. É impossível não se lembrar da aurora da sua vida, da sua infância querida, ao se deparar com fotos e sinopses de histórias que estavam esquecidas em algum canto da sua cabeça (“Feijão Maravilha”? “Pão Pão Beijo Beijo”??). Formatado como esses guias de viagem fartamente ilustrados, o livro é simplesmente irresistível. Mostra até o processo de produção em detalhes, mas não é isto o que interessa. Muito mais divertido é comparar os logos horrorendos que Hans Donner criava em meados dos anos 80. Ou se perguntar por quê tantas mocinhas tiveram nomes como “Lara” ou "Serena”, raríssimos na vida real. Os textos não são muito profundos, mas é fácil identificar fracassos e sucessos: os primeiros ganham só meia página, os últimos chegam a ocupar três inteiras. Dessa viagem pelo tempo, só resta uma conclusão: goste-se ou não, a Globo faz parte das nossas vidas.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

A CAIPIRA NA CIDADE GRANDE

Será que o Brasil finalmente acordou para a música de seus vizinhos? Depois de Jorge Drexler e Fito Paez, agora é a mexicana Julieta Venegas que tem seu novo disco lançado aqui simultaneamente com o resto da América Latina. Depois de mais de 10 anos de carreira, ela só ficou conhecida dos brasileiros por causa de "Ilusión', um lindo dueto com Marisa Monte incluído em seu "MTV Unplugged". Os arranjos daquele CD eram de Jacques Morelenbaum, e eu acho que ele fez falta em "Otra Cosa". Aqui parece que o som de Julieta retrocedeu: está mais pobrinho, mais rural, apesar (e talvez por isto mesmo) do predomínio do acordeon, meu instrumento favorito. Aos 39 anos, ela ainda parece uma menina recém-chegada do interior, meio assustada com a capital. Não tem mais a experimentação de suas amigas Natalia Lafourcade ou Ely Guerra, e que estava presente no trabalho anterior, "Limón y Sal". Mas "Otra Cosa" é agradável, quase inofensivo (experimente aqui o primeiro single, "Bien o Mal", composta junto com Ale Sergi do Miranda!). Pelo menos Julieta continua sendo a anti-cachorra: rara mulher entre os "cantautores" latinos, ela não precisa sacudir el culo como tantas Shakiras e Paulinas por aí.

EIAFILHADAPUTA

Ainda não entendi a pronúncia certa.

FALTOU LOUCURA

A primeira montagem brasileira do musical "A Gaiola das Loucas", em cartaz no Rio de Janeiro, tinha tudo para dar certo. Uma história consagrada, canções conhecidas, elenco de estrelas e muito, mas muito dinheiro para a produção. Todos esses elementos estão visíveis no palco, mas faltou aquele je ne sais quoi que tornaria o espetáculo inesquecível. Talvez o problema esteja em Diogo Villela, um ator que eu adoro - e que simplesmente arrasou como Cauby Peixoto há alguns anos. Ele faz Albin/Zazá, a grande estrela de um cabaré em St. Tropez. Quando está de Albin, fora do palco, o personagem é uma senhora frágil e recatada. Mas em cena ele se transforma em Zaza di Napoli, o travesti mais famoso da França, e é justo nessa hora que Diogo peca. Ele não assume a ferocidade da drag e continua fazendo a senhora recatada. Também canta com uma voz encorpada, masculina demais para uma bicha louca. Miguel Fallabella, por sua vez, repete novamente os tiques de Caco Antibes, seu papel definitivo. O que funciona muito bem quando o diálogo é mordaz, mas não quando precisa passar ternura. Os dois acabam ofuscados por Jorge Maya, o criado do casal e o único que consegue soltar a tnao esperada franga. A produção é luxuosa, com muito brilho e lamê, e todo o elenco de apoio dá, literalmente, um show. Mas o público parece aplaudir por obrigação, principalmente no primeiro ato. Quanto ao texto em si, conseguiu ficar velho e atual ao mesmo tempo. Velho porque mostra um casal gay que reproduz fielmente um casal hétero, com as funções de marido e mulher claramente definidas. E atual porque a mensagem final é de tolerância, coisa que nunca sai de moda.

domingo, 25 de abril de 2010

ALICE NÃO MORA MAIS AQUI

A rigor, o novo filme do Tim Burton deveria se chamar "De Volta ao País das Maravilhas" ou "Alice 2: a Missão". O roteiro só usa os personagens dos livros de Lewis Carroll para criar uma história totalmente nova. Aliás, o original nem tinha propriamente uma história: era mais uma série de encontros entre uma menina e criaturas bizarras, todas inspiradas na elite britânica da época, sem "arco", "resolução" ou qualquer dessas modernices. Agora tem: o filme chega ao clímax numa batalha digna do feriado carioca de São Jorge. Alice, já adulta e vestida de santo guerreiro, enfrenta o dragão da maldade. Por quê, meu Deus, por quê? Para livrar o "Underland" (este o verdadeiro nome do "país", outra escolha arbitrária) do jugo tirânico da Rainha Vermelha (Helena Bonham-Carter, mais divertida do que nunca). Ou seja, uma metáfora colorida da invasão do Iraque pelos EUA? O filme é de encher os olhos e repleto de bons atores - só não gostei da protagonista feita por Mia Kasikowska, tristonha e mal-humorada - mas também é raso feito um pires. O "Alice" original permitia um monte de leituras diferentes, e a minha favorita é o deslumbramento ante a descoberta do mundo. Esta nova versão virou uma fábula feminista óbvia e açucarada.

sábado, 24 de abril de 2010

O URSO POR TRÁS DA CLEY

O caderno "Ela", do jornal "O Globo", traz hoje uma bombástica revelação em Cristo: a identidade secreta da Cleycianne, a serva do Senhor no mundo da internet. Trata-se de Thiago Henrique Ferreira, de 26 anos e paulista de São Mateus. Como se não bastasse, o cara ainda estuda na Uniban, ou seja: a Cley é colega da Geisy! Thiago confirma que vive cercado por fanáticos religiosos - o que muitos já suspeitavam, dada sua familiaridade com os termos usados por essa laia. E conta que criou o blog em julho do ano passado, quando estava de férias e sem nada para fazer. Hoje a blogueira loura recebe mais de 20 mil visitas diárias (eu mal chego a mil, #invejinha em Cristo), e seu autor recebe até ameaças. Gostei especialmente do visual bear de Thiago, um prato cheio para o ungido programa Photoshop. Cuidado, Cley, tem um urso atrás de você!

(agora só falta a Lindinalva sair do armário)

THE COPA REDIVIVO

No já distante ano de 2004, meu antro favorito no Rio de Janeiro era o The Copa. Num espaço que parecia mínimo por causa da superlotação, gays de várias idades e muitas meninas rebolavam em frente a monitores que só passavam clipes manjados, de Britney Spears a Mãe Loira. A decoração era over, com peças kitsch dos anos 50, e os garçons esfregavam pratos de hamburger na cara do povo na pista de dança, que ficava entre a cozinha e as mesas. O lugar fechou há uns dois anos, mas agora a cacurada órfã encontrou refúgio no TV Bar, que também fica em Copacabana e tem proposta semelhante. Com décor cinquentista, o mesmo VJ Gregg e o ar condicionado mais forte do Rio. Abriu em dezembro, mas só ontem fui conhecer - e adorei. Até que encontrei aguns conhecidos, mas a maioria dos rostos me era estranha: acho que já tem toda uma nova geração de velhos na noite, kkkkk. Ah, como é bom de vez em quando ir a um lugar onde a droga mais forte é o screwdriver.

LANÇE-MERDAS

Claro que não era para valer o "desafio" lançado pelo "Parasita", o jornalzinho enviado por e-mail aos alunos da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP. Um sujeito que assina como Joãozinho Zé-Ruela pede que o leitor "lançe-merdas" num gay para ganhar um convite para uma festa. Rárárá, que puta sarro, não? Pena que esse tipo de piada também seja crime, e já tem até polícia envolvida na história. O tal do Zé-Ruela precisa ser identificado logo e expulso: o que é inadmissível é alguém fazer uma gracinha escrota como esta na maior universidade do país, financiada com dinheiro público (ou seja, o meu, o seu, o nosso dinheirinho). E vamos combinar que merda mesmo é alguém que escreve "lance" com ç.

(Leia aqui a matéria completa, que me foi enviada pelo João Gabriel)

sexta-feira, 23 de abril de 2010

DESCONFIÁ

Lembro bem da primeira vez em que ouvi Fito Paez. Foi numa festa em Buenos Aires, no réveillon de 92 para 93. Começou a tocar "El Amor Después del Amor", e eu fiquei paralisado: o que era aquilo, tão moderno, tão profundo? Comprei o CD do mesmo nome no dia seguinte - até hoje, o mais vendido da história do pop argentino - e ouvi quase até furar. O cara fazia um som léguas na frente de qualquer coisa que se ouvia no Brasil na época, com toques eletrônicos e melodias sofisticadas, mas sempre muito acessível. Virei fã, fui a shows, adquiri todos os discos seguintes. E pouco a pouco fui me desencantando. Já tenho o recém-lançado "Confiá", que foi parcialmente gravado na Bahia e no Rio de Janeiro, e sinto dizer que a decepção continua. Fito parou no tempo e hoje soa como um roqueiro envelhecido, preso ao velho esqueminha guitarra-baixo-bateria. Como todo argentino que se preza, o pelotudo é louco pelo Brasil, e além de gravar por aqui ele chega a citar Niterói e seu Museu de Arte Contemporânea em "La Nave Espacial". Essa faixa, como todo o resto do álbum, não é ruim, mas também não traz nada de especial. Rodolfito perdeu o trono de bam-bam-bam hispânico para seu vizinho Jorge Drexler, e hoje seu trabalho é déjà entendu, ya escuchado. Uma pena.

TRICÔ IRANIANO

Adoro tudo que a quadrinista franco-iraniana Marjane Satrapi faz. Seu livro de estreia, o monumental "Persépolis", era uma epopéia sobre a revolução dos aiatolás do ponto de vista de uma adolescente - a própria autora. Agora Marjane reaparece num tom mais intimista, mas também muito interessante. "Bordados" é uma expressão equivalente ao nosso "tricô", vulgarmente conhecido como fofoca. Também é o nome que se dá no Irã à cirurgia de reconstrução do hímen, uma necessidade num país onde a mulher que não se casa virgem pode até ser morta pelo marido. Marjane reconstrói uma sessão de "bordados" entre as mulheres de sua família, reunidas depois do almoço em torno de um samovar (aquele imenso bule de chá, também comum na Rússia). Cada uma conta um "causo", todos relacionados ao sexo. Alguns são familiares, outros exóticos; alguns são engraçados, outros trágicos. A "graphic novel" (odeio esse termo) foi chamada de "Sex and the City" persa. Não chega a tanto, pois as protagonistas nem de longe têm a independência ou o sentido fashion de Carrie e sua turma. Mas é muito divertida, e mais uma janela aberta por Marjane sobre um país que ainda é misterioso.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

QUANDO ELE ERA OCO

O ator mexicano Eduardo Verástegui é um dos homens mais lindos do mundo. E um dos mais escrotos também: depois de alguns anos de carreira, o bofe entrou em crise existencial e "reafirmou" seu catolicismo ultra-conservador, tornando-se um opositor ferrenho do aborto e do casamento gay. Chegou a participar da campanha pela famigerada Propositon 8, aquela lei que fez a Califórnia retroceder à Idade da Pedra onde ainda vive o Brasil (veja aí embaixo os vídeos que ele gravou para convencer os eleitores latinos do estado, e confira como o texto é capcioso e cruel). Agora a revista mexicana "TV y Novelas" publica que Verástegui foi namorado de ninguém menos que a loca do Ricky Martin. Existe até o boato de que ele seria o pai biológico dos filhos de Ricky. Pela antiguidade da foto na capa, parece que foi antes da "reconversão", quando ele ainda era oco. Se for verdade, estamos diante de uma autêntica Cleycianne cucaracha. Tá amarrado 3 x!E já que hoje é o Dia da Terra, sente só que desperdício:

ÁREA DE SERVIÇO

Amanhã começa nos EUA a 2a. temporada de uma das séries mais aclamadas pela crítica de lá, "Party Down". Nunca ouviu falar? Nem eu: o programa é exibido pelo Starz, um canal a cabo bem pouco badalado que não tem filial no Brasil. É uma pena, porque parece engraçadíssimo. Gira em torno de uma equipe de garçons em Hollywood, e claro que todos sonham em ser atores. Mas quem está se dando bem mesmo são os atores da série: uma das coadjuvantes da primeira temporada era Jane Lynch, que logo foi abiscoitada pela Fox para fazer a Sue Sylvester de "Glee" (ela tem uma participação especial na segunda, como se vê acima). Agora nada menos que o protagonista Adam Scott ameaça largar o barco, pois está sendo paquerado pela NBC. Em compensação, minha adorada Megan Mullally, a Karen de "Will & Grace", acaba de entrar para o elenco - sim, é ela mesma, de óculos e peruca. Vou garimpar os episódios na net, especialmente aquele em que a trupe vai servir os convidados de uma orgia.

TELENOVELA EMBARALHADA

Hoje os dois estão brigados, e Arriaga resolveu arriscar-se na direção com "Vidas que se Cruzam", mais um título brasileiro genérico e infeliz - o original era "The Burning Plain" ("A Planície Ardente"). Depois desta decepção, agora estou curioso para ver "Biutiful", o primeiro filme de Iñárritu sem roteiro de Arriaga. Salvam-se as atrizes, ambas lindas e excelentes: Charlize Theron e Kim Basinger, ainda de tirar o fôlego aos 54 anos. Os roteiros de Guillermo arriaga são verdadeiros quebra-cabeças. É estrelado por Javier Bardem e vai passar no próximo festival de Cannes. O resultado ficou bem aquém do esperado: apesar da montagem picotada, a trama é previsível e trai suas origens mexicanas no tom telenovelesco. As histórias são contadas fora da ordem cronológica, e é preciso prestar muita atenção para não perder nenhum detalhe. Foi ele quem escreveu "Babel" e "Amores Perros", as duas obras-primas do diretor mexicano Alejandro González Iñárritu.

(embaralhei as frases do post para ficar parecido com um roteiro do Arriaga, jajaja)

quarta-feira, 21 de abril de 2010

IMPLICÂNCIA CAPITAL

Implico com Brasília. Não com a cidade em si, que eu nem posso dizer que conheço. Estive lá apenas uma vez, ou melhor, uma tarde, desperdiçada tomando chá de cadeira no Ministério do Trabalho. Fui apresentar uma campanha para um assessor do ministro que simplesmente não apareceu. Vi os prédios famosos pela janelinha do táxi. Meu pitico com Brasília se deve ao fato dela ter roubado o título de capital do Brasil do Rio de Janeiro. O Rio, a corte imperial, ainda hoje a caixa de ressonância do país. Pobre Rio, que desceu ladeira abaixo depois de ser rebaixado a Estado da Guanabara, que perdeu milhares de empregos e muito da sua importância. Vão dizer que Brasília cumpriu seu objetivo fundamental, que era povoar um rincão abandonado no Brasil Central. Pois eu já acho que ela trouxe as favelas para o Centro-Oeste, além de ter provocado uma espiral inflacionária que levou mais de 30 anos para ser debelada. Desculpem-me, brasilienses, sei que vocês têm mil razões para amar sua cidade. Mas, no meu Brasil sentimental, a capital continua sendo o Rio de Janeiro.

terça-feira, 20 de abril de 2010

SEGUINDO A TRILHA

Alicia Keys regravou "Rapture", do Blondie, com um arranjo que incorpora o tema da série. As quatro atrizes principais atacam com "I Am Woman". E Liza Minnelli emplacou duas faixas, inclusive uma versão de... "Single Ladies". Falta muito para 25 de maio?

A FRANÇA NÃO É AQUI

Filmes de arte podem ser belíssimos, profundos, etc., mas não revelam tão bem o caráter de um povo quanto os campeões de bilheteria. Tirando os blockbusters americanos, estes são raros no circuito comercial brasileiro: os filmes em “não-inglês” que entram em cartaz por aqui costumam ser queridinhos da crítica e premiados em festivais, e não sucessos de público em seus países de origem. Foi por isto que corri para ver “Nos Embalos da Disco” e “A Riviera não é Aqui”, dois grandes hits franceses – o último, aliás, é a produção local mais vista de TODOS os tempos. São duas comédias bobas, cheias de expressões que se perdem na tradução. Mesmo assim, as pessoas que estavam nos mesmos cinemas que eu pareciam estar se divertindo muito – mais do que eu, para falar a verdade.

“Nos Embalos…” conta a história de um desempregado crônico que entra num concurso de dança para reconquistar o filho, ou seja: é previsível e sentimental como qualquer joça americana. A era da discoteca é pintada como uma época do mais absoluto ridículo, mas o fato inegável é as músicas de então estão as melhores jamais feitas. Para mim, o mais interessante do filme foram as locações em Le Havre, a grande cidade portuária do norte da França, bem mais bonita do que eu imaginava. O outro filme se passa ali perto: “A Riviera…” fala de um funcionário dos Correios que é transferido para Bergues, no extremo norte do país, um lugar desprezado por todos os outros franceses por causa do clima gélido e do sotaque incompreensível. É justamente este sotaque a razão da maioria das piadas, e o bravo tradutor brasileiro fez o que pôde para a graça não se perder. Nenhum desses filmes é uma obra-prima, e estão passando meio batidos por poucas salas de SP. Mas aposto que, se fossem made in USA, iam ter filas imensas na porta.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

ALICE NO iPAD DAS MARAVILHAS

9 dólares na App Store. Que ódio.

A IGREJA DO BOLINHA

Hoje se "comemoram" os 5 anos do pontificado de Adolf I - ou, como dizem os otimistas, a primeira metade. A esta altura já se sabe que sua eleição foi uma cagada monumental: suas posições rígidas, sua falta de carisma e seu despreparo para os holofotes estão causando um enorme dano à Igreja. Com os padres pedófilos mais uma vez ocupando as manchetes dos jornais, muita gente vem dizendo que a causa principal dessa putaria desenfreada é o celibato. Não deixo de concordar, mas acho que se a Igreja realmente quisesse reconquistar corações e mentes, teria que passar por uma reforma ainda mais radical: o ordenamento de mulheres. Não há mais nenhuma razão plausível para que uma mulher não possa rezar uma missa. Mulheres foram ao espaço, aos gabinetes presidenciais e à Academia Brasileira de Letras; porque não podem chegar aos altares? Porque menstruam? Por "tradição" - os 12 apóstolos eram todos homens? E Maria Madalena? Hein? Hein? Enquanto a Igreja Católica for um Clube do Bolinha, vai perder crentes e credibilidade. Deus não criou as almas dos homens melhores que as das mulheres.

BATE, REBATE, FINGE QUE BATE

Como você sabe que sua vida fracassou? Quando você está sábado à noite em casa, sem nada melhor para fazer do que ver "Zorra Total". Não só você não tem amigos nem programa, como também não tem TV a cabo. Bom, eu tenho todos esses quesitos, mas confesso: sábado passado assisti a um pedacinho do "Zorra". Estava zapeando e de repente dei de cara com o novo quadro do Serginho, ex-"BBB". E logo me surgiu a pergunta na cabeça: estaria ele "traindo" a causa gay? Sim, porque o "ZT" não é exatamente um bastião na luta pelos direitos humanos. Todas as minorias são humilhadas por lá, estereotipadas da forma mais óbvia e primária. OK, não é tão horroroso quanto "A Praça É Nossa", este sim um autêntico caso de polícia. Mas Serginho ir para lá me pareceu dar munição ao inimigo. Esperando pelo pior, assisti o quadro até o fim - e mudei de ideia. Claro, Serginho incorpora de vez a bicha louca, um clássico dos programas de humor desde a Mesopotâmia. Mas não faz a vítima, nem se dá mal. Ele e seu clone "Celinho" (Andy Gercker) formam uma dupla de frenemies que até tem uma certa graça (não muita, suspiro). E a verdade é que não acho ruim o Brasil inteiro aprender a falar coisas como "bi", "maldita" e "carão". Já pensou se a moda pega?

domingo, 18 de abril de 2010

TABLEAUX VIVANTS

Tanta gente me mandou ver o clipe da música "Paradise Circus", do Massive Attack, que eu não tive outro remédio senão obedecer. No que fiz muito bem, porque é mesmo ótimo. Logo no começo já dá para perceber o estilo do diretor indiano Tarsem Singh, que fez o lendário "Losing My Religion" do R.E.M.: imagens que lembram pinturas clássicas, autênticos tableaux vivants. Deve ter custado uma fortuna, pois há locações no mundo inteiro. A música em si nem é das minhas favoritas do disco "Heligoland". Mas o vídeo, claro , já entrou na lista dos melhores do ano.

sábado, 17 de abril de 2010

CAFETINA DE SI MESMA

O mais impressionante na Rita Cadillac não é o fato dela se manter como um grande símbolo sexual brasileiro há quase 4 décadas - e olha que isto não é pouco. É o fato dela não ter um pingo de auto-piedade, não se fazer de vítima, jamais perder a dignidade. A mulher rebola, posa nua, faz filme pornô e continua se dando ao respeito. Muito diferente, por exemplo, da burrinha da Leila Lopes, que achava que filmar com a "Brasileirinhas" ia levá-la de volta à Globo. Rita conhece a vida e, mais do que isto, conhece seus talentos e limitações, e faz uso pleno deles. É a única ex-chacrete que continua famosa, mais de 20 anos depois da morte do Chacrinha. Também é incrivelmente articulada, talvez por causa da educação num colégio de freiras que ela diz ter sido sua prisão. Nas palavras imortais de sua xará Rita Lee, é "uma bunda que pensa". Já gostava dela e agora virei seu súdito, depois de assitir o ótimo documentário "Rita Cadillac - a Lady do Povo". Acho que não sou o único: o cinema onde vi só tinha homens na plateia e, aparentemente, todos gays. Temos uma nova rainha?

sexta-feira, 16 de abril de 2010

NOS LENÇÓIS MACIOS

Pelo jeito, Jorge Drexler desencalhou. Seus últimos discos foram de fossa colossal, amores desfeitos, corações partidos. Mas só pela capa do novo, “Amar la Trama”, dá para perceber que ele tirou a barriga da miséria. As músicas também estão mais alegres, com letras e levadas celebrando a alegria de comer, aham, viver. Difícil escolher a melhor: talvez “Una Canción me Trajo Hasta Aquí”? São todas boas, o que só comprova que Drexler é o melhor “cantautor” de toda a América Latina - e sim, estou incluindo o Brasil. “Amar la Trama” é para se enfronhar.

PODE VIR QUENTE QUE EU ESTOU FERVENDO

(Cau, mi turroncito, gracias por el regalito)

MAMÃE E O REI

Minha mãe não queria ver a montagem de “O Rei e Eu” que está em cartaz dem SP. “Vi com o Yul Brinner na Broadway; para quê preciso ver outra?”. Eu insisti, nós fomos e ela adorou. Eu, nem tanto: o primeiro ato é meio arrastado, e texto envelheceu que é uma beleza. Afinal, não pega nada bem nesses tempos de correção política a história de um monarca asiático que quer se ocidentalizar a todo custo, apesar de seu país ter uma cultura refinadíssima. Mas cenários e figurinos são translumbrantes, e nunca desconfiei que o Tuca Andrada cantasse tão bem (que ele tem um corpaço, sabia faz tempo). As coisas melhoram muito no segundo ato, e há uma versão para o teatro tailandês da “Cabana do Pai Tomás” que consegue ser hilária, espetacular e respeitosa, tudo ao mesmo tempo. Fikdik para quem precisa fazer programa com a mamãe: afinal, o dia dela está chegando.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

TOY STORY

Amanhã tem a festa de 7o. aniversário da festa Toy. Adoro festa que faz festa, mas peraí: 7 anos? Então quer dizer que aquilo que rolou na Casa das Caldeiras em meados de 2003, enquanto o Ultralounge estava de mudança para o outro lado da Consolação, já era Toy? Olôco! Não lembro mais o nome, foi há muitos neurônios atrás. Então a "festa que deu origem à The Week" teve sua origem ali, que por sua vez se originou no Ultra, que se originou... naonde mesmo? Aí não sei mais, eu não tinha idade para sair à noite (é verdade, só virei clubber depois dos 40). Enfim, amanhã lá estaremos no Moinho Santo Antonio, aliás Eventos, um lugar onde não piso há séculos. E tomara que o Isaac Escalante toque o remix de "You're the First, the Last, My Everything" que tanto me abalou quando ele esteve pela última vez na TW Rio.

DOBLE CARA

Susan Boyle é para os fracos. A onda agora é Reggie Ramirez, vulgo "Doble Cara". Ele causou sensação no programa "Pilipinas Got Talent" com seu dueto consigo mesmo - nada menos que "Endless Love", imortalizado por Lionel Ritchie e Diana Ross. Tudo bem que essa fantasia metade homem, metade mulher já é manjada desde o carnaval de 1930, mas eu nunca tinha visto alguém levar a androginia tão longe. Segure o riso se for capaz.

MATTHEW, O BOM

Meu gosto às vezes vai contra a corrente. Enquanto que muitas bibas se amarram num bombado/tatuado/mau-encarado, eu já prefiro os bonitinhos com cara de moço de família e banho recém-tomado. Meu favorito no cinema atual é o inglês Matthew Goode. Ele faz o namorado do Colin Firth em "A Single Man" e estrela a nova versão de "Brideshead Revisited", em cartaz em SP. O romance clássico de Evelyn Waugh ganhou uma minissérie da BBC que fez muito sucesso nos anos 80 e revelou Jeremy irons. Essa versão para a tela grande é de encher os olhos - a mansão-castelo que dá o nome à obra é tão grande que parece o Vaticano - mas se arrasta muito da metade para o fim. Outro erro foi escalarem Emma Thompson para a matriarca: além de ser ligeiramente jovem para o papel, ela não é racée, não convence muito como aristocrata. Mas Matthew está goode mesmo como o estudante de classe média que é primeiro atraído pelo filho gay da família quaquilionária e depois se envolve com a irmã deste, sem jamais conseguir penetrar para valer no catolicismo empedernido deles. Se bem que em outras coisas ele penetra.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

FAMÍLIA MODERNA


O Oscar para o melhor filme de 2009 acabou de ser entregue e os sites especializados já apontam um indicado para o ano que vem. "The Kids Are All Right" pode pegar a vaga que costuma ficar com comédias familiares tipo "Little Miss Sunshine" ou "Juno". A história não pode ser mais contemporânea: um casal de lésbicas tem dois filhos adolescentes do mesmo homem, que elas sequer conheceram. Os rebentos vão atrás do pai biológico e... bom, o trailer aí em cima entrega praticamente tudo. Mas nem por isto perdi a vontade de ver, pelo contrário: as sapatas são feitas pelas deusas Annette Bening (super convincente como a butch da dupla) e Julianne Moore (a femme), e ainda tem o totoso do Mark Ruffalo e a "Alice" do Tim Burton, Mia Kasikowska. Estreia no Brasil em agosto. Agora, a pergunta que não quer calar: será que elas fazem scissor sisters?

(mais uma do Luciano de SJC)

PEGA NO MIIKE

Já ouviu falar em Bloodshy & Avant? Não? E "Toxic" da Britney Spears, já ouviu? Pois é, essa faixa foi composta e produzida por eles, que são suecos. Os caras também já fizeram músicas para Madonna, Kylie Minogue, Jennifer Lopez e mais uma pá de gente. Seus nomes verdadeiros são Christian Karlsson e Pontus Winnberg, e desde 2007 eles se juntaram ao americano Andrew Wyatt para formar a banda Miike Snow (assim mesmo, com dois ii). "Animal", o álbum de estreia, traz um som bem menos baba do que o currículo dos rapazes faz prever. Saiu já faz um ano, mas os remixes e faixas-bônus continuam pipocando a todo instante. Dá para baixar um montão no site "rcrdlbl", totalmente grátis e dentro da lei. Recomendadas: "Billie Holiday" e "Silvia (Hook N Sling & Goodwill Remix)", melodiosas e moderninhas na medida certa. Aliás, dizem que esta última foi escrita para ninguém menos que S.M. a rainha Silvia da Suécia, aquela que é meio brasileira.

SUE SYLVESTER, DANCE ON AIR

O clip de "Vogue" cantado pela Sue Sylvester da série "Glee" foi postado pela Fox esta noite no site Hulu, que não pode ser acessado do Brasil. Zuzo bem: já há várias versões hackeadas por aí, quase todas "espelhadas" como essa aí em cima, que é para não serem detectadas tão cedo. Duvido que não sejam, então assiste logo que deve cair daqui a pouco. Oooh, let your body move to the music.

ATUALIZAÇÃO: Caiu, né? Eu avisei. Quem viu, viu. Quem não viu, pode tentar no YouKu, o YouTube chinês. Obrigado, Guilhermino, por este link aqui. E alguém sabe como se escreve "embed em chinês"? Quero por o clip de volta no blog.

Ah, e quem quiser pode baixar o mp3 aqui, ó. Chupa, Fox.

terça-feira, 13 de abril de 2010

ABAIXO OS SURUMÁTICOS

Um militar faz um discurso em Moçambique, com tradução instantânea para a linguagem dos sinais.

POMPOARISMO

Demoreca: 4 anos depois de "Ta-dah!", finalmente os Scissor Sisters voltam a dar o ar de suas graças (entre outras coisas). A banda acaba de anunciar o lançamento de seu 3o. álbum, "Night Work", no dia 28 de junho. Mas hoje, e somente hoje, uma das faixas do disco estará tocando no site das irmãs-tesoura. É "Invisible Light", que tem um monólogo de sir Ian McKellen meio thilleresco: “painted whores, sexual gladiators, fiercely old party children all wake from their slumber to debut the bacchanal..." Corre lá para ouvir, beee, que a música é boa. Ou espera até amanhã, quando deve estar dando sopa em todos os fileshares da rede.

(Momento culturinha: sabia que "scissor sisters" é uma posição de sexo lésbico? Nem eu.)


ATUALIZAÇÃO: Na Lindinalva já tem a música inteirinha para baixar. Vão lá, suas macacas!!

UM PAÍS PACÍFICO?

Domingo passado estreou na HBO a minissérie “The Pacific”, que se pretende uma versão detalhada e intimista do luta dos americanos contra os japoneses na 2a. Guerra Mundial. O programa é co-produzido por, entre outros, Steven Spielberg e Tom Hanks, que fizeram juntos o ótimo “Resgate do Soldado Ryan”. Mas pelo menos o 1o. episódio ficou bem aquém desse filme, com uma linguagem bastante convencional e draminhas pessoais rasteiros. Tampouco resiste à comparação com o inovador “Além da Linha Vermelha” de Terrence Malick, que também foca na batalha de Guadalcanal. Ouvi dizer que a série melhora daqui para a frente; veremos. De qualquer forma, é impressionante o interesse permanente que o público dos EUA têm por todos os conflitos bélicos em que o país se envolveu, e olha que são muitos – da Guerra de Secessão, até hoje a que mais matou soldados americanos, ao fracasso no Vietnã e à bagunça atual no Iraque e no Afeganistão. A cultura de lá tem o militarismo impresso em seu DNA, talvez por causa das lutas sangrentas pela independência, e isto se reflete em milhares de livros, filmes e programas de TV.

Já o interesse que o Brasil tem por suas próprias guerras é praticamente zero. Acreditamos no mito que criamos para nós mesmos, de povo pacífico e cordial. Mas basta uma folheada num livro de história para sabermos que já nos metemos num monte de escaramuças, principalmente durante o século 19. A maioria, é verdade, foi contra nós mesmos: o Exército precisou sufocar dezenas de rebeliões regionais, de norte a sul. Nossos historiadores costumam ficar do lado dos revoltosos, como Frei Caneca ou Antônio Conselheiro, e acusar o poder central de truculência. Mas foi graças a essas reações violentas que o Brasil não se fragmentou em dezenas de paisecos, como aconteceu com a América espanhola. Hmm, pensando melhor, se tivéssemos nos dividido, talvez hoje o Lula fosse apenas o presidente vitalício da República Bolivariana de Pernambuco…

Enfim, o que quero dizer mesmo é que sinto falta de um filme sobre a campanha da Força Expedicionária Brasileira na Itália. Não um documentário, que já existe: queria ver um filme de ficção, uma super produção cheia de efeitos especiais – e olha que eu não sou muito chegado em filmes de guerra. Por um lado, acho perfeitamente compreensível que exista esta lacuna: tal filme custaria caríssimo e precisaria de locações no exterior. Além do mais, a intelligentsia brasileira ainda tem ojeriza a qualquer assunto que cheire a caserna, por causa dos 21 anos de ditadura militar. Nossos milicos não têm um décimo do prestígio de seus colegas americanos, e isto é bem feito – afinal, os de lá nunca deram um golpe de estado. Por outro lado, acho que um filme sobre a FEB, se bem realizado, cumpriria todos os requisitos para ser um grande sucesso de público e crítica. Nossa participação foi longe de ser decisiva, mas nossos soldados, mesmo despreparados, lutaram bem. E ajudaram a derrotar o fascismo não só na Europa, como também por aqui – o Estado Novo de Getúlio Vargas caiu logo depois da volta dos pracinhas, simplesmente porque não havia mais clima para ele. Queria muito ver essas história na telona. Inclusive por que, last but no least, meu pai lutou na FEB. Até hoje temos um capacete nazista que ele trouxe de lembrança.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

IMPUNIDADE E PROGRESSO

A Justiça brasileira vive um eterno paradoxo: temos presídios infectos e superlotados que são verdadeiras sucursais do inferno, mas também um horror atávico a qualquer tipo de punição severa. São tantos os recursos, apelações e brechas jurídicas que é difícil acreditar que alguém chegue a pagar pelo crime que cometeu. Os pobres pagam, claro: estas benesses todas foram sendo desenvolvidas desde os tempos da colônia com o objetivo implícito de favorecer os poderosos pegos com a boca na botija. Mas chegamos num ponto de tamanho descalabro que agora até criminosos pés-rapados se beneficiam da cultura da impunidade. É chocante e imperdoável a Justiça ter concedido progressão de pena ao tarado que matou a pauladas 8 rapazes em seu primeiro mês no regime semi-aberto. Claro que o cara demonstrou bom comportamento enquanto esteve em cana: lá não existem adolescentes, como bem disse um advogado na TV. Também é inconcebível que Bida, o mandante do assassinato da irmã Dorothy Stang, esteja passando por um 3o. julgamento, sem que ninguém consiga mandar o homem pro xadrez. Ou que aquele jornalista que matou a namorada pelas costas ainda esteja livre. Ou que Guilherme de Pádua e Paula Thomaz tenham "pago suas dívidas com a sociedade"... Bom, a condenação do casal Nardoni dá esperança de alguma coisa esteja mudando. Tomara que, dentro de alguns anos, ninguém precise soltar fogos quando achar que justiça está sendo feita.

VINDE A MIM AS CRIANCINHAS

O cardeal Tarcisio Bertone, secretário do Vaticano, declarou hoje em Santiago do Chile que os escândalos de pedofilia na Igreja não são provocados pelo celibato, mas sim pela homossexualidade. Ah, vá: jura que muitos dos padres pedófilos são gays? Mas Sua Eminência deveria ter ido um pouco mais fundo e dito que o grande culpado não é exatamente a boiolice, mas sim o tratamento espúrio que o catolicismo dá aos homossexuais. Somos, se tanto, cidadãos de segunda classe perante a Santa Madre Igreja, condenados a reprimir para sempre a orientação sexual que Deus teria enviado para nos "provar". Se os gays fossem aceitos pela sociedade como um todo e gozassem dos mesmos direitos e dignidade que as outras pessoas que pagam dízimos e impostos, provavelmente o número de casos de molestação de menores cairia muito. Não estou dizendo que acabariam: quem sabe o mal que se esconde nos corações humanos? Mas enquanto a própria Igreja não reconhecer que ela é, sim, a grande culpada por toda essa merda que a aflige, vai continuar perdendo credibilidade. E fiéis.

O BEIJO NA ARANHA DA MULHER

Gentem, eu não sabia que a Jane Lynch - que faz a Sue Sylvester na série "Glee" - também botava as aranhas para brigar na vida real. Ela e sua noiva Lara Embry aparecem neste vídeo convidando para a comemoração do 33o. aniversário do National Center for Lesbian Rights, e também lembrando que foi na festa do ano passado que as duas se conheceram. Achei bárbaro, mas o que eu quero ver mesmo é Sue Sylvester cantando "Vogue". No site "Towleroad" tem a chamada do episódio de "Glee" só com músicas da Madonna que vai ao ar nos EUA na semana que vem, e também um preview do CD do programa. Esperava algo mais diferente das versões originais, mas tá valendo.

(um beijo ao Luciano de SJC por mais esta dica)

MÃE EM FÚRIA

"Mother" passou em São Paulo durante as minhas férias, e eu acabei perdendo-o. Consegui vê-lo no Rio neste final de semana e gostei bastante. O filme foi o escolhido pela Coréia do Sul para concorrer a uma indicação ao Oscar e chegou a ser considerado um dos favoritos, mas não ficou nem entre os 9 semi-finalistas. Talvez porque a história da mãe que faz de tudo para livrar da cadeia o filho acusado de assassinato não siga o padrão clássico de Hollywood, com uma reviravolta supreendente no final. O rapaz tem um ligeiro retardo mental e é impossível deixar de se comover com o drama de sua mãe, que o criou sozinha, ensinou-o a se defender e agora arca com as consequências de uma educação que talvez não tenha sido a melhor possível. A atriz Hye-Ja Kim é uma espécie de Fernanda Montenegro coreana e dá um show no papel principal. Hoje em dia se questiona muito se o instinto materno realmente existe ou se é inoculado pela cultura na cabeça das mulheres. "Mother" mostra que o amor de mãe pode mesmo ser uma das forças mais poderosas do universo, e ai de quem resolver se meter com ele.

domingo, 11 de abril de 2010

UM A MENOS

Um desastre aéreo é sempre algo terrível, e ninguém merece morrer desse jeito. Mas a verdade é que o mundo está um pouquinho melhor sem Lech Kaczyński, o presidente da Polônia que morreu ontem num acidente de avião na Rússia. O cara era ultra-conservador, o que em bom português quer dizer homofóbico. Quando era prefeito de Varsóvia, ele chegou a proibir a parada gay da cidade alegando falta de documentação, e logo em seguida promoveu uma absurda "parada da normalidade". Seu gêmeo idêntico chegou a ser primeiro-ministro do país, este sim um cargo com poder de verdade, mas foi varrido pelas urnas nas eleições de 2007. O cargo de presidente que Lech Kaczyński ocuparia só até este ano era apenas cerimonial, e ele não tinha mais a capacidade de vetar o que quer que fosse. Mas ainda está por chegar o dia em que eu lamentarei a morte de um inimigo.

OS ANTIPÁTICOS

É muito bom que a Globo procure renovar seus programas de humor de vez em quando, mas a verdade é que nem sempre dá certo. "S.O.S. Emergência" me pareceu uma cópia mal-ajambrada de "Scrubs", e "A Vida Alheia" está sem ritmo e com jeito de piada interna. Mas minha maior decepção foi mesmo "Separação?!", a começar pela pontuação malandrex no título. Claro que eu estava esperando algo no nível dos "Normais", e de fato o texto típico de Alexandre Machado e Fernanda Young está lá, com as escatologias e alfinetadas de sempre. Mas o elenco foi desastrosamente mal escalado. Vladimir Brichta e, principalmente, Débora Bloch, não têm aquela cumplicidade imediata com o público que é natural em Luís Fernando Guimarães e Fernanda Torres. Chegam a ser antipáticos e o programa, que retrata um casal em pé de guerra, acaba virando um suplício de se assistir. Posso estar sendo injusto: afinal, só foi um episódio para o ar, e de repente eles acertam o tom nos próximos. Mas não vou ficar em casa só para vê-los.

sábado, 10 de abril de 2010

FOI ELE

O governador Sérgio Cabral, numas de salvar o próprio pavilhão retro-furicular, disse que a tragédia no estado do Rio é culpa de todos. Ele não deixa de ter razão: a cultura de desigualdade que impera no Brasil nos anestesiou de tal forma que hoje achamos perfeitamente normal o abismo que existe entre ricos e pobres, mesmo que esse abismo deslize de vez em quando. Mas a declaração de Cabral também é tão óbvia que chega a ser burra - porque, se pensarmos bem, no fundo todo mundo é culpado de tudo e qualquer coisa. OK, aqui tem culpa todo mundo, mas eu acho que existe alguém que tem mais culpa que os outros. Ou melhor, existia: o falecido Leonel Brizola, que praticamente destruiu o Rio de Janeiro em seus dois mandatos não-consecutivos de governador. A expansão das favelas, o descontrole do tráfico, a escalada da violência, tudo pode ser traçado de volta a esse gaúcho que só se estabeleceu no Rio porque calculou que este seria um trampolim melhor para sua grande ambição, a presidência da república. Brizola achava que estava garantindo eleitores fiéis ao liberar geral nos morros cariocas, mas só semeou o caos. Nem como estratégia política a demagogia funcionou: ele chegou em 3o. lugar na eleição presidencial de 89, e ficou fora do 2o. turno. Em 94 saiu-se pior ainda, e mais tarde sequer conseguiu se eleger senador. Pagou em vida pela mega-cagada que fez, mas pagou barato. Tomara que esteja ardendo no inferno, açoitado pelos gritos das centenas de vítimas da chuvarada desta semana.

IF I WERE YOU

A crítica mais frequente ao cinema brasileiro atual é que os filmes de sucesso não passam de versões ampliadas de programas de TV, com os mesmos atores que o público gosta de ver na telinha. Isto não é privilégio do Brasil, claro: as pessoas preferem o que lhes é familiar no mundo inteiro. "Uma Noite Fora de Série", por exemplo, é uma espécie de "Se Eu Fosse Você" americano. Não pelo roteiro, mas por trazer dois famosos atores de sitcom em papéis relativamente próximos a suas personas televisivas. A diferença é que, se aqui se amplifica, lá se reduz: o casal feito por Tina Fey e Steve Carrell neste fime é muito mais sem graça que a Liz Lemon de "30 Rock" ou o Michael Scott de "The Office". "Uma Noite..." pretende ser uma screwball comedy, uma daquelas comédias malucas de perseguição, mas comete o pecado mortal de trocar piadas verbais, o forte de seus astros, por tropeções, esbarrões e carros explodindo. A química entre Tina e Steve é impressionante, mas algo saiu bem errado quando os momentos mais engraçados de uma comédia estão nos erros de filmagem que aparecem durante os créditos.

ATENTADO AO PUDOR

Americano não tem mesmo o que fazer. O escândalo desta semana por lá é este vídeo da Erykah Badu para "Window Seat". Foi filmado na Daley Plaza, em Dallas, o mesmo lugar onde John Kennedy foi morto, num estilo meio desfocado que lembra de propósito o famoso "Zapruder film". Só isto já bastou para que muita gente reclamasse de desrespeito com o presidente assassinado. Mas Erykah foi além: fez um strip-tease total, até ficar nua em pelo e ser também abatida a tiros. Não dá para ver nenhum dos naughty bits porque a imagem foi convenientemente pixelada (o que talvez seja bom, porque ela não está mais com esse Badu todo), mas isto não lhe evitou um processo por atentado ao pudor. Agora, que preguiça que dão esses americanos, hein? Vão dançar na boquinha da garrafa para ver o que é bom pro tchan, vão.